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Acabou a notícia na seleção

A seleção brasileira está a duas semanas na África do Sul para a Copa do Mundo. E, agora, não resta mais nada para a imprensa do que rezar pela estreia do time brasileiro no Mundial. Porque notícia, de fato, não existe mais no Golf Park em que a equipe está hospedada.

O “quartel” que foi armado a pedido do técnico Dunga, e adotado pelos jogadores e diretoria de comunicação da CBF, tem feito com que a imprensa pressione cada vez mais os jogadores e o treinador da seleção.

Treinos fechados para a imprensa, entrevista coletiva com apenas dois jogadores e só. Esse é o roteiro da seleção brasileira na Copa do Mundo. Não muda nada. Todo dia é a mesma coisa. A insatisfação é total de quem participa da cobertura. Não é possível descobrir notícia nova, tudo é extremamente controlado e fechado. O jornalista não tem condição de apurar.

Do ponto de vista do gestor esportivo, apesar da geração de algumas crises, esse esquema ajuda a controlar a informação. Ninguém sai da linha, ninguém fala nada sem que os ouvidos da diretoria de comunicação da CBF estejam atentos para captar.

Ter o maior controle possível sobre a informação é uma das premissas da boa assessoria de imprensa. O problema é quando esse tipo de atitude é tomada em meio à cobertura de seleção brasileira, com cerca de 300 jornalistas diariamente nos treinos da equipe nacional.

Do jeito que está, os jornalistas não veem a hora de a bola rolar amanhã, contra a Coreia do Norte. Só assim a pauta vai conseguir mudar.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O que o Direito Administrativo ensina ao futebol

Como lá se vão muitos meses e muitas colunas, começo a ter devaneios sobre os temas abordados em meus textos – a preocupação é não repetir.

Mas, nesse caso, concedo-me a licença para tal, na largada de minhas palavras.

Administrar é tomar decisões, segundo um professor de pós-graduação que, perdoe-me, apenas isso trouxe de positivo no módulo ministrado.

Mas que, para mim, foi excelente, posto que resumiu, genialmente, o que molda um administrador na condução dos negócios.

Numa empresa multinacional. Numa padaria na esquina. Num clube de futebol.

E toda decisão administrativa gerará consequências – mais ou menos importantes, mais ou menos acertadas, geniais ou estúpidas.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

O conjunto disso irá se transformar na chamada experiência – que não se ensina nos livros ou nos bancos de faculdade.

Nesse sentido, aproximemos essa idéia sobre decisões administrativas analogamente a Teoria dos Atos Administrativos – essa sim, bem vivida nas tribunas da Faculdade de Direito – em convergência com o futebol.

Ato administrativo é o ato jurídico que concretiza o exercício da função administrativa do Estado. Como todo ato jurídico, constitui, modifica, suspende, revoga situações jurídicas.

No dia-a-dia, ainda que sem formalidade documental, tomam-se decisões nos negócios que também concretizam as funções administrativas privadas, constituindo, modificando, suspendendo ou revogando situações.

E um dos principais aspectos da Teoria, nesse contexto abordado, é a distinção entre ato administrativo discricionário e ato vinculado.

Os atos discricionários são atos realizados mediante critérios de oportunidade, conveniência, justiça e eqüidade, implicando maior liberdade de atuação do tomador de decisão.

Os atos administrativos vinculados possuem todos os seus requisitos definidos em lei, portanto não se discute o mérito da decisão. O tomador de decisão não tem liberdade de atuação e está vinculado ao que dispõe a lei.

Obviamente que, num clube de futebol, a grande maioria das decisões é tomada num ambiente discricionário – comum a entidades privadas, que não são geridas estritamente pelos ditames legais em sua administração.

Aqui mora também, a maior parte do perigo, que favorece descaminhos e corrupção administrativa.

Ora, se o tomador de decisão não precisa seguir preceitos legais ou regulamentares em seus procedimentos e decisões, a margem discricionária lhe protegerá.

Exemplo: um jogador de 16 anos é reprovado após um período de um mês em avaliação no clube. Pergunta-se o porquê, mas a resposta nunca virá de um relatório detalhado com as razões da decisão tomada, muito menos quem a tomou.

Joga-se esse peso nas costas da instituição, pois isso isenta de responsabilidade a pessoa investida naquele cargo respectivo.

Ainda pior, como não há decisão formal, não há qualquer possibilidade de recurso formal – diferente do que ocorre na Administração Pública, sendo o ato discricionário ou vinculado, ele deve ser formalizado, para ser passível de recurso, segundo o objeto do ato.

Quem já abriu empresa ou algo parecido sabe que, preenchidos os requisitos legais para a expedição de um alvará, a decisão para concedê-lo é obrigatória. Se for negativa, deve estar escrita e fundamentada, para dar margem a recurso administrativo ou judicial.

Não se trata de defender a transformação dos clubes em repartições públicas.

Apenas levantar a discussão sobre a falta de racionalidade administrativa e normativa que vigora em nosso futebol, no que tange aos procedimentos e sua consequência.

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Copa do Mundo: palpite nada científico

Antes: escrevo este texto no dia 10 de junho (ou seja, antes do início dos jogos).

Nesta época de Copa do Mundo de futebol, muitos “bolões” andam circulando por aí. Como não participei de nenhum, resolvi aqui, dar meus palpites. E vejam, meus palpites não têm nenhuma sustentação científica, nada de pressentimento ou intuição. São apenas o que são: uma opinião solta e intrometida (afinal, ninguém me perguntou quais eram meus palpites!).

Então vejamos.

No grupo A, México e França serão os classificados. México em primeiro e França em segundo (mas vou torcer mesmo é para a África do Sul, quem sabe os franceses escorregam e pagam a conta daquele lance polêmico que os levaram à Copa).

No grupo B, Argentina em primeiro e pasmem, a Coréia do Sul em segundo (acho, e achar não é Ciência, que Nigéria e Grécia não terão boa “sorte”).

No grupo C, Inglaterra e EUA, com os ingleses passeando… Serão eles os primeiros colocados do grupo, seguidos da seleção norte-americana.

No grupo D, a Alemanha, desacreditada vai ficar em primeiro lugar. Em segundo… Em segundo a seleção de Gana.

No grupo E, Holanda em primeiro e Japão em segundo (será que vou errar feio?).

No grupo F, a Itália deve ter dificuldades com o Paraguai… Então, Paraguai em primeiro lugar e Itália em segundo.

No grupo G, a seleção brasileira vai ser a primeira colocada, seguida por Portugal.

No grupo H, um super “chute” para a segunda vaga, porque a primeira colocada vai ser a Espanha… Em segundo o Chile (com um pé zebrado na Suíça).

Nas oitavas, o México cai para a Coréia do Sul, a Inglaterra passa fácil pela seleção de Gana, a Holanda bate a Itália, o Brasil passa fácil pelo Chile, a França perde para a Argentina, os EUA perdem para a Alemanha, o Japão cai diante do Paraguai, e Portugal volta para casa depois de perder para a Espanha.

Nas quartas de final, se classificam Inglaterra, Holanda, Argentina e Espanha (claro que vou torcer para o Brasil vencer a “freguesa” Holanda – mas palpites são palpites…).

Nas semifinais, os espanhóis passam fácil pelos argentinos e a Inglaterra bate a Holanda. Resultado: na final, Inglaterra vs Espanha…

Para fechar, Inglaterra campeã, Espanha frustrada em segundo lugar, Holanda em terceiro e Argentina em quarto…

Acho (e apenas acho…), que é isso…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Previsões para a Copa

Se fosse para eu fazer uma previsão, eu diria que você fez uma previsão sobre quem vai ganhar a Copa. E se não fez por conta própria, a fez por que alguém pergunto pra você quem você acha que vai ganhar a Copa.

Todo mundo tem uma previsão sobre quem vai ganhar a Copa, porque quem está interessado nela tem opinião sobre quem é mais forte e quem é mais fraco. Ao não ter uma opinião pessoal sobre quem vai ganhar a Copa, ou você não está nem aí pra ela ou você não confia na sua capacidade intuitiva, que é o caso deste que lhe escreve.

A sua opinião sobre quem pode ou não ganhar a Copa se baseia em concepções em geral individuais influenciadas pelo sentimento coletivo. Afinal, se todo mundo tá dizendo que a Espanha é favorita, ela deve ser favorita mesmo. Ao mesmo tempo, tudo depende daquilo que você acha que influencia na qualidade de um time. Se você gosta de times que jogam pra frente, você vai achar que a Argentina é favorita porque o ataque tem um monte de atacantes famosos. Se você acha que ataque é bom mas o que manda é a defesa, você pode acreditar que o Brasil tem chances, uma vez que todo mundo diz que o Brasil tem a melhor zaga de todas.

No fundo, é tudo uma questão de metodologia. Justo aquela aula que você matava na faculdade porque, assim como OSPB, nunca serviu para muita coisa.

Como todo mundo tem um palpite, um monte de banco de investimento resolveu publicar sua própria previsão sobre quem vai ganhar a Copa. Afinal, se essas empresas conseguem prever quem vai ganhar a Copa, elas também podem prever qual é o melhor investimento para o nosso minguado dinheirinho. Pelo menos esse é o plano.

Tudo começou com o banco suíço UBS, que sempre divulga um estudo antes da Copa que é dividido em três partes: 1) Uma análise sobre a economia do país sede; 2) um estudo estatístico sobre quem vai ganhar a Copa; e 3) uma análise sobre a futura evolução da economia do país sede da próxima Copa. Para o UBS, o favorito ao título é o Brasil, com 22% de chances, seguido por Alemanha, Itália e Holanda, com 18%, 13% e 8% respectivamente. Seguindo uma metodologia que usa desempenhos históricos, o fato do time ser ou não país sede e a performance do time três meses antes da Copa, eles acertaram o vencedor da Copa passada, 50% dos semifinalistas, 75% dos times das quartas de final e 81% dos times das oitavas.

O Goldman Sachs, responsável por inventar o termo BRIC, faz uma análise detalhada de país por país e usa uma metodologia baseada no ranking da FIFA e em estatísticas de apostas para concluir, assim como o UBS, que o favorito é o Brasil, com 13,8% de chances. Em seguida vem Espanha, com 10,5%, Alemanha, 9,4%, e Inglaterra, 9,4%. É apenas a segunda vez que o Goldman Sachs faz esse tipo de estudo e não disse qual foi a margem de acerto em 2006, o que sugere que ela não deve ter sido muito boa.

O JP Morgan também usa dados de apostas e o ranking da FIFA para fazer sua previsão, adicionando tudo a uma fórmula matemática bem longa que leva em conta também a opinião de analistas, tendências do ranking da FIFA e da expectativa de resultados e os confrontos que o time terá na tabela. Tudo isso pra dizer que a Inglaterra será campeã numa final contra a Espanha e que a Holanda ficará em terceiro depois de ganhar a disputa com a Eslovênia. É. Eslovênia.

Simon Kuper e Stefan Szymanski, que são dois dos mais respeitados economistas na área do futebol, também divulgaram um estudo, que considera o tamanho da população de cada país, o PIB per capita, a experiência internacional e o fator de jogar em casa para concluir que o campeão será o Brasil em uma final contra a Sérvia, que terão eliminado Alemanha e Espanha nas semifinais, respectivamente.

É claro que tudo isso é chute. Os bancos de investimento não conseguiram nem prever a quebra do mercado de títulos imobiliários podres nos Estados Unidos e querem acertar quem é que vai ganhar a Copa. Não dá. É muito, muito complicado. Afinal, as variáveis são absurdas. Além disso, as metodologias utilizadas desconsideram falhas de juízes, escalações erradas, desarranjos alimentares e flertes com mulheres alheias. E isso tende a ter mais influência no resultado do que eu, você, ou qualquer fórmula matemática consegue imaginar.

Mas como é tudo chute mesmo, qualquer um pode dar, inclusive eu. Aqui vai, portanto, a minha leitura de até onde pode cada país ir:

Grupo A

África do Sul: Joga em casa, tem as vuvuzelas a favor e a retranca do Parreira. Bons ingredientes para passar da primeira fase em um grupo equilibrado. Vai até as quartas.

França: Geração fenomenal que começou em 1998 está chegando ao fim. Sem Zidane e com um técnico meio pinel, não passa da primeira fase.

México: Melhor seleção mexicana da história, fruto da explosão de popularização e estruturação do futebol no país pós-Copa de 1994. Chega às quartas.

Uruguai: Quase perdeu a vaga para a Costa Rica, que era treinada pelo René Simões. Não passa da primeira fase.

Grupo B

Argentina: Talvez o time mais desequilibrado de todos. Tem atacante de sobra, e quem ficar no banco vai reclamar e jogar zica nos outros. O meio-campo vai ficar sobrecarregado no Mascherano, que já vem de uma temporada pesada no Liverpool, e no Verón, que deveria ter se aposentado do futebol internacional há tempos. Como a zaga é velha e tem o Heinze, fica nas oitavas.

Coréia do Sul: A empolgação de 2002 está menor. Fica na primeira fase.

Grécia: Deu azar de pegar um grupo com dois ataques bem fortes. Talvez possa passar pra oitavas no lugar da Nigéria. Mas fica por aí.

Nigéria: Joga quase que em casa e vai mais na empolgação do que no juízo. Se bobear, perde a vaga pra Grécia. Fica nas oitavas.

Grupo C:

Argélia: Deu azar com o grupo. Vai na raça e pode incomodar a Inglaterra, mas deve ficar na primeira fase.

Eslovênia: Retranca é quase tudo em uma Copa. Quase. Fica na primeira fase.

EUA: Pode ser uma das grandes surpresas da Copa, com a primeira geração formada a dedo no pós-Copa de 1994. Não será absurdo se ganhar da Inglaterra e classificar em primeiro. Também não será absurdo se chegar à semifinal.

Inglaterra: Até tem um time razoavelmente bom. Mas a quantidade de jogos da temporada inglesa acaba com qualquer um. Não aguenta o tranco e fica nas oitavas.

Grupo D:

Alemanha: Transição de geração é sempre um problema. Basta ver que o Podolski pode ser titular. Não passa da primeira fase.

Austrália: Promete para 2014. Em 2010, deu azar no grupo. Fica na primeira fase.

Gana: Joga quase em casa e está acostumada com correria, vuvuzela e cartórios esquisitos. Se tivesse o Essien, ia longe. Como não tem, cai nas oitavas.

Sérvia: A Sérvia é o país que mais tem jogador profissional na Europa, depois de Brasil, França e Argentina. Passados mais 10 anos do Kosovo, é a primeira grande geração dos balcãs pós guerra. Deve surpreender bastante. Pode chegar à final.

Grupo E:

Camarões: Joga quase em casa e tudo mais. Mesmo com Eto’o arrebentado, pode ir até as quartas.

Dinamarca: Com Bendtner no ataque, imita o Arsenal. Fica no quase. Não sai da primeira fase.

Japão: O time até tem jogadores bons, mas parece estar em transição de gerações. Também fica pra 2014. Não passa da primeira fase.

Holanda: Se ninguém se quebrar, o que é comum, pode ser campeã pela primeira vez. Apesar de Robben e Sneijder terem passado por uma temporada bem pesada, Van Persie ficou meio tranquilão com uma lesão. Se tiver recuperado, tem tudo para ser o cara da Copa.

Grupo F

Eslováquia: Tem Skrtel e Hamsik, dois dos caras mais tatuados do futebol mundial. Deve se jogar no ataque. E quem faz isso em Copa tende a quebrar a cara. Fica na fase de Grupo.

Itália: O time era velho em 2006. Como conseguiu ganhar a Copa, um monte de gente ficou, e o time ficou ainda mais velho. Nã
o aguenta o tranco e fica nas oitavas.

Paraguai: Foi bem nas eliminatórias e vai bem na Copa. Só que fica nas oitavas.

Nova Zelândia: Só foi pra Copa porque o jogo político da FIFA mandou a Austrália pra AFC. Vai representar o resto do futebol da Oceania. Se não vale nada no War, tem poucas chances na Copa. Se fizer um gol, tá no lucro.

Grupo G

Brasil: Classifica fácil mas vai sofrer mais pra frente. Os principais jogadores estão desgastados e a arbitragem deve pesar contra. Fica nas quartas, onde deve pegar a Holanda e se complicar.

Coréia do Norte: Se o time não tiver sido criado num laboratório nuclear enfiado 300 metros pra baixo do solo, vai passear. Pelo menos uma vez na vida, os jogadores vão poder fazer isso. E vão se dar por satisfeitos.

Costa do Marfim: Se o Drogba se recuperar da lesão a tempo, vai longe. Se não, vai incomodar mesmo assim. Joga quase em casa e quase chega à final. Fica na semi.

Portugal: Deu azar de cair num grupo forte e de perder o Nani. Sem ele, o time enfraquece. C. Ronaldo sozinho não consegue levar um time velho pra frente. Cai na primeira fase.

Grupo H

Chile: Bielsa é maluco e o grupo é relativamente fácil. Se não bobear contra a Suíça, passa de fase, mas fica nas oitavas contra o Brasil.

Espanha: Nenhum time que ganhou a Eurocopa conseguiu ganhar a Copa do Mundo seguinte. A Espanha não vai ser diferente. O pico da geração passou. Cai contra a Costa do Marfim nas oitavas.

Honduras: Como ninguém sabe como é que ela conseguiu chegar até aqui, daqui um tempo ninguém vai conseguir se lembrar que ela participou da Copa. Fica na primeira fase.

Suíça: O time foi formado pra não passar vergonha na Euro 2008. Passou. Apesar de ser o time da casa do Blatter, fica na primeira fase.

Em 2006 eu também fiz uma projeção. Acertei que a Itália seria campeã, mas apostei forte em Togo e achei que o Brasil chegava à final. Ou seja, a probabilidade eu errar é grande. Depois da Copa eu retomo a análise.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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Impactos da Copa 3D: a compreensão do jogo

Olá amigos. Na última semana discutimos os impactos da Copa 3D sobre os pontos de vista da sociabilidade.

No texto de hoje, gostaria de refletir com enfoque na percepção e identificação das imagens como ferramentas que podem ser úteis para a formação de jogadores.

Visão:

Para os atletas, a visualização das imagens 3D podem se configurar numa eficaz ferramenta de feedback, auxiliando na compreensão do jogo e consequentemente nos ajustes a aprimoramento de desempenho.

Todo trabalho, em qualquer segmento que seja, necessita ser avaliado para direcionamento dos rumos e ações futuras. No esporte não é diferente. Aliás, o papel desta avaliação é de extrema importante.

O feedback no futebol pode ser feito de diferentes maneiras, todas elas não excludentes, pelo contrário, a complementaridade entre as formas de análise permitem um aprofundamento proveitoso do processo.

O feedback mais imediato que ocorre é o do próprio atleta (Franks, 1996), no qual obtém uma percepção sensório-motora das ações realizadas, e ele próprio consegue identificar alguns possíveis pontos para melhoria.

É imprescindível que o atleta seja estimulado para tirar proveito desse feedback. (em um texto futuro abordaremos a questão do feedback mais especificamente).

Existe ainda o feedback dos colegas de equipe, que identificam e verbalizam sejam em formas de cobranças ou de orientações.

O feedback do técnico, é uma das formas de avaliação imprescindível para a busca do aprimoramento e ele pode ser feito de diferentes maneiras, seja com orientações sobre pontos de vistas técnicos, seja por posicionamento frente a ações extra campo. Enfim, podem se encaixar com as ditas filosofias de trabalhos de cada treinador.

Umas das possibilidades que podem ser dirigidas pelo treinador, mas que não dependem dele unicamente e talvez esse seja um dos pontos no qual o futebol brasileiro precisa evoluir (jogadores mais autônomos em relação aos seus técnicos, mas isso também é assunto para outro texto), é o feedback através das imagens.

E talvez aí as imagens em 3D podem trazer contribuições significativas para que os atletas visualizem com mais precisão as ações desempenhadas ou pretendidas por ele e/ou equipe e comissão técnica.

A imagem em 3D oferece uma perspectiva importante para que o atleta possa se visualizar, no fato em análise, sem a famosa dúvida que fica quando os técnicos mostram imagens e rabiscos em pranchetas cheias de informações não compreendidas.

A noção 3D permite uma vivência mais próxima das imagens do jogo, podendo resgatar feedbacks sensoriais importantes, lembrando o que diz McLuhan: os primeiros impactos das imagens são sempre sensoriais e depois somente tornam-se racionais, mas esse ciclo é o que permite a racionalização com compreensão.

Na próximo texto daremos sequência aos impactos da Copa 3D tratando das dificuldades de compreensão das imagens. Se por um lado elas podem ajudar enquanto feedback para o atletas, que dificuldades podem surgir?
 

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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A alegria contagiante dos sul-africanos

Essa é a primeira impressão que se tem do país da Copa. Nada da frieza e racionalidade alemã, da formalidade oriental ou da indiferença de franceses e americanos. Após quase 20 anos, a Copa do Mundo volta a ser disputada num país que tem uma idolatria pelo futebol. E, para melhorar, o fato de ser um Mundial inédito no continente africano deixa a história ainda mais colorida, cheia de vida e de coisas para contar. É uma alegria que contagia a todos.

Confesso que achava uma propaganda enganosa o discurso ensaiado da Fifa de que a Copa precisava ir para a África para fazer a alegria de um povo tão castigado e maltratado em sua história. Mas, a julgar pelas primeiras horas em solo sul-africano, não é tanta falácia da Fifa e de Joseph Blatter essa tal de alegria transbordante do africano pela bola.

O clima de Copa geralmente é aquela coisa que prende, que motiva quem é apaixonado por bola desde que se conhece por gente. Todos, afinal, estão ali por um motivo único e muito, mas muito nobre. Mas na África dá para sentir que a coisa é diferente. Se, na Alemanha, tinha quem criticasse a Copa ou a Fifa por “invadirem” o seu cotidiano, agora essa reclamação não se repete.

Todo sul-africano quer falar de futebol, quer saber de Copa do Mundo, quer descolar ingressos para jogos, quer encontrar Ronaldinho e Ronaldo (até agora, aliás, essa é a primeira resposta que tem de ser dada quando se descobre que somos brasileiros).

Essa alegria que contagia é um bem para o futebol. E um risco, claro, para a manipulação das massas. Mas, na Copa de 2014, o Brasil terá de se esforçar para aparentar um clima parecido com o dos sul-africanos. Um povo que sabe que o Mundial é uma forma de reforçar sua origem, de mostrar para o mundo a sua existência, de celebrar a vida e a bola.

Condições para isso não faltam ao Brasil. Se o cenário se repetir, coitado de quem for receber o direito de abrigar a Copa de 2018. Pela lógica política que se avizinha, a Inglaterra tem boas chances de ser a escolhida. Provavelmente a Fifa não terá a menor dor de cabeça com o pré-Mundial. Mas que está com cara de que vai faltar um tempero nessa festa, isso é cada vez mais claro…

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A cavernada

– Quando vai acontecer o jogo de vocês contra a caverna de baixo? – perguntei ao meu amigo morcego.

A morcegada andava muito acesa com o torneio de fruitbol entre cavernas, que foi criado este ano e que eles estão chamando de Cavernada. Aqui na região temos umas doze cavernas. Oito delas praticam fruitbol, aquele jogo que já descrevi anteriormente, jogado de asa em asa, de boca em boca de morcegos, com uma frutinha redonda no papel de bola.

– Vai ser na semana que vem, na terça. Arnaldo pediu que os jogos finais sejam aqui na nossa caverna, para que ele possa ouvir a confusão – disse Oto, o morcego.

Arnaldo ouvia nossa conversa. O bagre cego é um legalista. Queria que os morceguinhos fizessem um estatuto e registrassem o torneio na CBF. Segundo ele, havia grandes chances de ser o fruitbol reconhecido pela entidade máxima do futebol brasileiro. Arnaldo acredita que o presidente da CBF, sempre atento aos movimentos do esporte brasileiro, certamente incluiria o fruitbol na confederação.

– Deixa de bobagem Arnaldo. Você acha que a CBF vai se preocupar com um joguinho de morcegos? – disse Oto, irritado com o bagre.

– Bobagem agora, que temos só oito equipes praticando Fruitbol. Mas se a coisa pegar, serão milhões de morcegos espalhados por milhares de cavernas no Brasil. Um prato cheio até para a televisão – enfatizou Arnaldo.

Acertaram que as semifinais e a final seriam realizadas na nossa caverna, no salão central, onde fica o lago habitado pelo bagre. Combinaram que o regulamento seria feito por Aurora. Eu teria que falar com ela, claro, porque os morcegos tinham pavor da coruja. Apesar de ser minha amiga e a pessoa mais sensata que já conheci, eu também não confiava nela nessa questão dos quirópteros. Seus instintos falavam mais alto quando se tratava de morcegos, ratos e outros bichinhos do gênero. O bagre ainda insistia na ideia de registrar o torneio na CBF. Em algumas coisas ele tinha razão. Se a coisa pegasse e se espalhasse pelo Brasil todo, talvez nossa entidade máxima do futebol realmente se interessasse. Além disso, era preciso considerar as incríveis semelhanças entre o fruitbol e o futebol. Com um pouco de aperfeiçoamento, seriam mais parecidos ainda.

O torneio começou. Nosso primeiro jogo foi contra a caverna de baixo. Perdemos! Feio! Nove a um! Nosso time era super defensivo, mas mesmo assim, tomamos nove gols. O segundo jogo ganhamos: magro um a zero. Fizemos um a zero no início do jogo e nossa defesa conseguiu segurar o avanço adversário até o fim. Carecíamos de contra-ataques. O terceiro empatamos, mantendo as chances de classificação. A caverna de baixo revelou-se o assombro do torneio. Nove a um contra nós, seis a zero contra a caverna de cima, sete a um contra a caverna da várzea.

À noite teve reunião. Era preciso mobilizar todos os recursos para manter as chances de classificação. Arnaldo dirigia a reunião, Oto, nosso técnico, e todos os jogadores estavam presentes, mais os conselheiros, que eram os morcegos anciãos, e, algo com o que não concordei, representantes de três outras cavernas. A caverna de baixo era o perigo, o inimigo a ser batido. Talvez por desespero, um acontecimento excepcional: Aurora foi convidada, desde que ficasse ao meu lado, presa ao meu braço por uma cordinha, caso a coruja caísse em tentação. Pediram que ela falasse.

– Se não mudarmos nosso modo de jogar, o time da caverna de baixo leva o campeonato fácil, fácil – disse Aurora.

– E o que é que eles têm que nós não temos? – perguntou Oto.

– Disciplina, regulamento, estatuto – afirmou Arnaldo.

– Eles gostam de jogar, são divertidos, jogam pra frente, são corajosos e habilidosos. Brincam com a bola – respondeu Aurora.

– Não podemos mudar nosso modo de jogar – disse Oto, – treinamos o ano todo desse jeito e só sabemos jogar na defesa.

O representante da caverna da várzea disse que o time da caverna de baixo não era imbatível. Só sabiam jogar no ataque. Se anulassem seus principais atacantes, eles não fariam mais nada.

– Concordo – disse Oto. – Mas como faríamos isso? Ninguém consegue segurar aqueles meninos da frente!

– Vai ter que ser na pancada – disse o representante da caverna da várzea. – Na fruta não dá mesmo, a gente sabe. Só que precisamos bater de uma maneira que o juiz não nos expulse. É só chegar antes, deslocar com o corpo, bater de ombro, que eles não param em pé.

Tive que interferir. Não me conformava com as ideias de Oto e seus amigos morcegos. Aurora me cutucou e disse que queria ir embora, aquilo não servia para ela, adepta que era do futebol bonito, do futebol arte. Não teve jeito, combinaram que seria mesmo na retranca e na pancada. Na fruta não conseguiriam parar os craques da caverna de baixo. Era tentar um gol isolado e segurar o resultado.

Depois de sete jogos, deu a lógica: o time da caverna de baixo ficou em primeiro, ficamos em segundo, a caverna da várzea se classificou em terceiro lugar, e a caverna do morro terminou na quarta colocação. A segunda etapa do torneio seria jogada entre os quatro melhores times, o primeiro contra o quarto e o segundo contra o terceiro. Tudo na nossa caverna.

A plateia era imensa, milhões de morcegos. O barulho das asas era insuportável. Arnaldo vibrava. Cego, o que o excitava era o barulho. Pelos sons era capaz de acompanhar até jogos de futebol pela TV. Nossa caverna foi decorada com lanternas para a primeira noite das semifinais. Ficou muito bonita. Aurora preferiu não assistir; disse que veria outros tipos de jogos no canal Z33 de sua TV. O juiz veio de fora, da Argentina, especialmente para a segunda etapa do torneio e a grande final.

No primeiro jogo da noite enfrentaram-se o time da caverna de baixo e o time da caverna do morro. Foi um massacre. Mesmo jogando na retranca, os do morro tomaram seis gols e só fizeram um. Não fomos mal, ganhamos da caverna da várzea por dois a um. Portanto, a final seria entre nós e a garotada da caverna de baixo, uma semana depois. Oto apostava na pressão da torcida, esmagadoramente a nosso favor, e no esquema da retranca e de parar na pancada os adversários mais habilidosos.

Durante a semana, só se falou nisso. Oto queria mandar emissários para convidar gente de fora. O jovem João Paulo seria o convidado de honra. Arnaldo queria fazer convites especiais para o presidente da CBF e do COB. Fui contra, bati o pé e acabei com aquilo. Seria só entre nós.

A grande noite chegou, uma terça-feira. Caverna toda enfeitada. Milhões e milhões de morcegos. A noite ficou mais escura que o habitual. A caverna era pequena para tanto bicho. O jogo começou. Duro, o juiz deu logo um amarelo para nosso volante. Mas a pancadaria seguia solta, porque era mais à base de encontrões que de agressões explícitas. Nossos jovens jogadores, treinados por Oto, aprenderam a bater sutilmente. E a retranca era forte, os meninos da caverna de baixo não conseguiam entrar na nossa defesa. O primeiro tempo terminou zero a zero. A torcida vibrava, fazia a maior pressão e era quase toda nossa. Aos doze minutos do segundo tempo, numa cobrança de falta, fizemos um a zero. Era preciso segurar por trinta e três minutos os adversários, que se atiraram como loucos ao ataque, não tinham medo de se arriscar, faziam jogadas fantásticas, mas tudo terminava nas asas de nossos zagueiros ou de nosso goleiro. Foi um drama. Mais de um morcego idoso da plateia teve que ser atendido por sentir-se mal.

Enfim, o argentino trinou o apito final, sem descontos, talvez intimidado pelos guinchos dos morcegos hematófagos, convidados de última hora, sem que eu soubesse, para reforçar nossa torcida. Não éramos a melhor equipe, mas éramos os campeões. O esquema montado para vencer o torneio funcionou. A festa entrou pelo dia. Eu nunca tinha visto morcegos em revoada às dez da manhã. Aurora fechou-se em sua toca. Tirei a manhã para dormir, já que os quirópteros, muitos deles bêbados, tão cedo não voltariam.

*Bernardo, o eremita, é um ex-torcedor fanático que vive isolado em uma caverna. Ele é um personagem fictício de João Batista Freire.

Para interagir com o autor: bernardo@universidadedofutebol.com.br  

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O retrato de Dorian Gray: o futebol brasileiro confrontando sua imagem e a realidade

Assisti ao excelente filme O Retrato de Dorian Gray, de 1945, baseado no livro do famoso escritor irlandês Oscar Wilde.

Reconheço que – ainda – não o li, mas o longa-metragem em preto-e-branco, recomendo sem nenhuma dúvida, pois está à altura do que ajudou a tornar célebre Wilde.

Numa época de desencanto, um jovem e belo aristocrata inglês, Dorian Gray, teve seu retrato pintado por um amigo artista. Ao olhar a perfeição da figura ali retratada, ele se deu conta pela primeira vez da sua extraordinária beleza.

Ao mesmo tempo, percebeu também que o tempo seria implacável e que, em alguns anos, o que era belo se tornaria decrépito.

Mas, a pintura imortalizou aquele momento e estaria disposto a oferecer a própria alma para que, em vez de seu corpo, fosse aquela imagem no quadro que envelhecesse e recebesse todas as mazelas que a vida lhe tinha reservado.

O protagonista, Dorian Gray, é moralmente corrupto. Os anos passam e sua beleza e juventude continuam a ser mantidas. O retrato seu que ele mantém para si, escondido de olhos alheios, guarda seus segredos – à medida que os anos vão passando, o retrato vai exibindo sua feiúra interior.

Aos poucos, porém, suspeitas começam a acontecer com relação a seu comportamento e vitalidade, culminando até mesmo num assassinato.

O filme retrata como a vaidade humana torna as pessoas reféns das impossibilidades, como imortalidade, perfeição estética, eterna juventude.

Este romance de Oscar Wilde marcou um período literário conhecido como Decadentismo, no qual algumas obras abordavam a deturpação de valores sociais na Era Vitoriana no Reino Unido. No final do século XIX, essa corrente abordava o pessimismo para com o ser humano e seu comportamento, como matéria-prima.
 


 

Ver fotos de Adriano, o Imperador, com armas em punho e exaltando símbolos de grupos criminosos ratifica que estamos vivenciando no futebol do Brasil nosso Decadentismo.

Nossos melhores e maiores ídolos, onde estão, para dar exemplo positivo a partir do maior esporte nacional?

E o que dizer de nossas instituições e entidades do futebol, que não conseguem superar modelos arcaicos de gestão, baseados na vaidade e egocentrismo dos dirigentes, em detrimento da competência e know-how de profissionais de cada área do conhecimento vinculado ao esporte?

E esse cenário já está a caminho da Copa 2014 em nossas terras. Mais nefasto ainda quando se mistura política, interesses públicos e privados, no umbigo chamado futebol.

Fato é que temos muitos Dorians Gray espalhados pelo Brasil.

Adriano é apenas um deles.

Não adianta tentar conservar uma imagem jovial e bela – nem vendendo a alma -, pois o quadro pintado sobre nós, pelas linhas da História, um dia aparecerá e revelará toda nossa faceta interior.

A seleção brasileira e o que tem alcançado, com muita competência, diga-se, a CBF, estão em dissonância cognitiva com a realidade do futebol brasileiro.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Compactação ofensiva

Na “vídeo coluna tática” desta semana, vamos debater sobre o conceito de “compactação” em equipes de futebol, como princípio estrutural também de ataque.

É comum escutarmos que fora do Brasil, e especialmente na Europa, as equipes jogam em faixas de 30 a 40 metros do campo de jogo, com linhas de apoio e de marcação bastante próximas umas das outras.

Vejamos, então, o que isso significa, como pode se estruturar esse princípio, e quais são as referências táticas que ajudam na boa compactação ofensiva.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A Fifa e o poder

No dia 24 de maio de 2010, pouco mais de uma semana atrás, houve eleições gerais em Trinidad & Tobago, que resultou na eleição de Kamla Persad-Bissessa como primeira-ministra do país e colocou seu partido, o United National Congress, novamente no poder, coisa que havia perdido em 2001.

A princípio, esse fato não tem nada a ver com o mundo do futebol. Entretanto, sob uma análise mais profunda, tem tudo. É, na verdade, um dos fatos mais importantes da geopolítica do futebol nas últimas décadas.

Isso porque o novo ministro dos transportes de Trinidad & Tobago acabou de ser nomeado: Austin ‘Jack’ Warner, uma das figuras mais influentes do UNC, que calha de ser o presidente da Concacaf desde 1990 e um dos vice-presidentes da Fifa. O mandato de Jack Warner acaba em 2011 e, com o novo cargo de ministro dos transportes de Trinidad & Tobago, tudo indica que ele deixará por fim a confederação continental.

Jack Warner é uma das figuras mais importantes, e controversas, do futebol mundial. Afinal, ele controla como poucos uma região que pode não ser muito importante para o cenário competitivo do futebol, mas tem um papel político fundamental. Afinal, a Concacaf é formada por 35 países, na maior parte minúsculos, o que faz com que eles dependam muito da confederação e, portanto, aceitem votar em bloco. Ou seja, Jack Warner controla 35 dos 208 votos do Congresso da Fifa -um papel fundamental em qualquer votação realizada na entidade, principalmente na eleição para presidente.

Ser presidente da Fifa deveria ser um dos cargos mais almejados do planeta. Afinal, você comanda o futebol mundial e é recebido com honras de chefe de Estado em qualquer lugar que vá. Cerimonial, condecoração, tapete vermelho, jantar de gala, guarda imperial e tudo mais, mesmo sem ser de fato presidente de país algum. Sensacional.

Curiosamente, porém, você raramente vê uma corrida presidencial na Fifa. Em 106 anos, ela só teve oito presidentes, o que dá em média quase quatorze anos de mandado pra cada um. Obviamente, em uma organização que tem um colégio de mais de 200 eleitores, isso não é fácil. Para chegar e, principalmente, se manter no poder, é preciso ter uma grande desenvoltura política. Daí, portanto, coisas como rodízio de continentes para sediar a Copa do Mundo e ampliação do número de times participantes na competição. É preciso agradar o maior número possível de pessoas. Caso contrário, a oposição ao seu poder cresce e sua vida fica mais complicada.

Daí, portanto, a importância de Jack Warner para o mundo do futebol. Daí, também, a tolerância que a Fifa sempre teve com o personagem que foi centro de uma série de escândalos de corrupção, como revenda ilegal de ingressos para a Copa de 2006 e o recebimento pessoal de pagamento por amistoso da seleção do seu país. Por conta disso, a saída de Warner da Concacaf será um alívio para a Fifa, que deverá colocar em seu lugar algum outro presidente que continuará a representar o voto em bloco da confederação. Ainda assim, isso é incerto, uma vez que qualquer mudança na estrutura do poder pode representar um futuro enfraquecimento do establishment.

O Congresso da Fifa dos próximos dias deve manter Blatter no poder pelos próximos quatro anos. Mas ao que tudo indica, este deve ser o último mandado do presidente, já que com 74 anos o ritmo não é mais o mesmo. Isso significa dizer que deverá haver uma mudança de presidência em junho de 2014 e que a competição será acirrada entre diversos candidatos. Aparentemente, existe muita gente querendo o cargo máximo do futebol mundial.

Uma eventual quebra do bloco da Concacaf pós-Warner pode ser determinante na eleição. Uma união dos países europeus e asiáticos, também. Ao que tudo indica, a disputa será ferrenha. Negociações serão realizadas. Favores serão cedidos e cobrados. Mudanças deverão acontecer. Inclusive, no número de seleções que disputarão a Copa de 2014, pulando de 32 para 36. Essa me parece bem possível. Com mais uma vaga para a Uefa, uma para a AFC, uma para a CAF e, claro, mais uma para a Concacaf.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br