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Fair Play Financeiro Brasil

Um dos assuntos que mais tem norteado discussões e dúvidas no mercado do futebol europeu possui relação direta com o “Fair Play Financeiro” instituído pela Uefa. O projeto obriga os clubes filiados a seguirem determinados padrões de contabilidade e saúde financeira de maneira perene.

O processo teve início em 2009 e desde então os clubes vêm recebendo orientações de conduta sobre suas finanças, sendo que as mesmas seguem sob vigilância até a temporada 2013/14 para, a partir daí, serem aplicadas sanções legais e/ou esportivas àqueles clubes que não cumprirem alguns preceitos.

A ideia é buscar o saneamento financeiro dos clubes, obedecendo a regras de governança corporativa alinhadas com sua capacidade de pagamento e endividamento. A proposta é que não se contraia mais débitos que receitas no conjunto de três temporadas consecutivas*.

O exemplo europeu deveria ser modelo para voltarmos à carga uma discussão séria sobre as dívidas dos clubes brasileiros, que são tratadas como algo “absolutamente normal” pelo discurso e percepção dos dirigentes esportivos do país.

Aproveitando a onda dos megaeventos e a clemência por mais profissionalismo no esporte do Brasil, parece um excelente momento para levantar a bandeira de uma discussão séria sobre o assunto. E, ao contrário do que já se tentou anteriormente, que seria a pseudo responsabilização dos dirigentes pelo endividamento dos clubes (que, no final das contas, se protegem em cima de medidas cautelares e sob a guarda de outros aparatos de nosso moroso sistema judiciário), as medidas, tal e qual hão de acontecer na Europa, devem necessariamente passar por sanções esportivas.

Só a perda de pontos, o rebaixamento, a proibição de contratação de jogadores, a suspensão em campeonatos e outras soluções neste nível é que podem resultar em atitudes diferentes em relação à gestão de clubes de futebol no Brasil. Somente esta linguagem é compreensível para a opinião pública de uma maneira geral.

Enfim, o momento é mais do que oportuno para que as instituições do futebol atuem, pelo seu próprio bem, como entidades sociais que são. E que medidas sérias possam surgir, acompanhando a tendência regulatória proposta pela Uefa.

* Para mais informações sobre este movimento, recomendo acesso ao site Futebol Finance, parceiro da Universidade do Futebol:

http://www.futebolfinance.com/financial-fair-play-novas-regras-para-os-clubes-europeus

http://www.futebolfinance.com/novas-regras-de-controlo-financeiro-na-liga-espanhola?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+FutebolFinance+%28Futebol+Finance%29

http://www.futebolfinance.com/modelo-de-fiscalizacao-e-controle-das-financas-dos-clubes

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  

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Tecnologia: mesclando gerações

Duas notícias no portal Terra na última segunda-feira chamaram minha atenção. “Menina descobre falha em jogos móveis para Android e iOs” e “Há 20 anos, o mundo ‘ficou online’ pela primeira vez”.

A primeira traz a informação de uma menina de 10 anos que fez uma apresentação num evento de tecnologia no qual apontou falhas num dos games para dispositivos móveis (“celulares e tablets”). A matéria encerra com a afirmação de que cada vez mais jovens são os hackers e especialistas.

A segunda matéria fala sobre os 20 anos da internet. Trazendo imagens do primeiro site disponibilizado.

E o que isso tem a ver com futebol?

Pois bem, é justamente nesta perspectiva que temos que tomar nossas posições frente à utilização dos recursos na modalidade. Somos defensores de seu uso, sem dúvida alguma, porém não podemos ficar apenas no discurso cobrando, criticando e sonhando com o advento da tecnologia nos gramados e nos processos fora dele

É preciso ter noção do que é todo esse fenômeno, do que ele representa, e sobretudo dos impactos que ele causa no inconsciente coletivo da humanidade.

Desta forma, hoje tomo um lado diferente das críticas sem, no entanto, perder minhas convicções dos benéficos e da necessidade da utilização da tecnologia no futebol.

A questão é que alguns assumem uma postura de querer fazer a tecnologia descer “goela abaixo”, e entendo que essa não é a melhor forma.

Basta vermos os profissionais que estão na gestão do futebol. Com certeza não viveram como a menina de 10 anos da primeira matéria citada – suas infâncias recheadas de dispositivos móveis e tecnológicos. Isso deixa evidente que a facilidade e costume com os recursos são de gerações mais novas, e quanto mais ambientado, mais fácil para uma geração extrair benefícios dos recursos, embora isso não os impeçam de desenvolver capacidades e habilidades tecnológicas, mesmo que tenham profundidade diferente das de quem nasce e vive intensamente essas mudanças.

Por outro ponto, não podemos colocar uma criança de 10 anos para gerir um clube; antes que alguns achem que essa seja a solução, não podemos desfazer das experiências e competências adquiridas, como também temos que ter noção de que muitos dos impactos que podem chegar ao futebol são relativamente recentes. Algumas soluções tecnológicas de gerenciamento, compartilhamento de informação e gestão de conhecimento partem da premissa de acesso remoto e compartilhado de informações que dependem da internet. Como vimos , esse é um recurso de pouco mais de 20 anos, ou seja, ainda um jovem adulto.

Com isso conseguimos compreender um pouco da resistência que existe para o advento da tecnologia no futebol. Ao contrário daqueles que têm interesse em não perder o controle e não abrir informações obscuras que infelizmente ainda existem, esses aspectos têm um caráter que transcende o futebol, são inerentes ao ser humano.

Em tempo, ainda é importante que a vivência pré-tecnologia – se é que podemos dizer assim – tenha seus significados, pois provavelmente a menina de 10 anos não saiba (pelo menos por enquanto) solucionar um problema quando a tecnologia falhar. É como ir num banco hoje e o gerente falar que é impossível fazer uma transação porque o sistema está fora do ar. O amigo mais experiente perguntaria: “oras, mas como não é possível se antes de existir o sistema se faziam tais transações?”.

O mundo tecnológico evolui rapidamente, numa velocidade incomensurável, porém, como lidar com ele e tirar o melhor proveito depende de nós, principalmente mesclando as novas vivências de quem tem as facilidades de explorá-las, com a de quem consegue enxergar mais além, com base nas suas experiências vividas.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Fumaça branca

Quando da escolha de um novo Papa, na Igreja Católica, o Conclave dos cardeais se reúne para deliberar e, principalmente, votar naquele que será o novo líder religioso.

Reunidos no Vaticano durante o tempo que for necessário para a escolha do sucessor do Papa falecido, buscam a maioria simples do colégio eleitoral, composto por 120 cardeais do mundo todo.

Enquanto não for alcançada a maioria, a fumaça saída da chaminé do Vaticano será cinza. Se o resultado final não indicar o novo Papa, a fumaça será negra.

Porém, ao se decidir pelo novo Papa, a fumaça será branca, símbolo do consenso e da pureza do processo eleitoral.

A fumaça é produzida pela queima das cédulas de votação, juntamente com produto especial que lhe dá a cor devida.

O processo de escolha dos líderes de uma organização é fascinante, pois a sedução pelo poder expõe as pessoas aos olhos de todos, ainda que não queira, pois a força de suas ações ou omissões é maior que sua influência para controlá-las.

São muitas as articulações de bastidores, os acordos colaterais, as coalizões, a corrupção, a troca de favores, a violência e crueldade.

Acompanho e recomendo a série Os Bórgias, estrelada por Jeremy Irons, no papel de Rodrigo Bórgia, cardeal espanhol que comandou o processo de sucessão do Papa Inocêncio, tendo sido acusado de vários crimes – envenenamento, roubo e simonia (venda de “favores divinos”).

Nela, retrata-se a história da família Bórgia. Sim, o cardeal possuía família, algo que era um tanto comum aos líderes religiosos da época, embora não permitidos pela Igreja oficialmente.

Rodrigo Bórgia, que se tornaria Papa Alexandre VI, comanda os filhos e a mulher na expansão e manutenção do poder secular e religioso, a qualquer preço.

Fico imaginando o escárnio que deve acontecer na CBF, na Fifa, nos clubes de futebol no Brasil e no mundo, quando das eleições.

Até mesmo nas escolhas do novo treinador, cuja figura, em alguns clubes, representa o Papa que o conduzirá aos céus.

O problema é quando se esquece que o inferno também existe e pode ser o destino traçado por más escolhas administrativas.

Fumaça branca, no futebol, é algo bastante raro.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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O treinamento de goleiro: para todos da comissão técnica

O goleiro é um jogador com ações distintas dos demais atletas no futebol. Ele é o único que pode tocar a bola com as mãos e que tem a difícil missão de proteger a meta das investidas do adversário.

Contudo, sua ação se resume a proteção à meta?

Com o objetivo de responder a pergunta acima fiz um estudo sobre a ação do goleiro dentro do jogo. Neste estudo, analisei todos os jogos de dois jogadores desta posição no Campeonato Brasileiro de 2009.

O fato foi que me surpreendi um pouco com os resultados. Vou apresentar de forma resumida alguns dados encontrados.

Os dados gerais me mostraram que o goleiro A agiu em média 37 vezes durante o jogo, (contando apenas ações com bola); já o goleiro B agiu 28 vezes, nove ações a menos. As equipes tiveram um desempenho parecido ao longo do campeonato e não houve diferença significativa nas finalizações sofridas em ambos, então comecei a refletir sobre os motivos que levavam essa diferença numérica de ações entre os jogadores.

Para análise, dividi as ações em “Habilidades Específicas” (ações de proteção à meta), “Reposições” e “Passes”.

Ambos os goleiros tiveram a reposição como a ação de maior incidência dentro do jogo, seguido dos passes e por último, acreditem, ficaram as habilidades específicas.

Resolvi ir a fundo em cada uma das ações.

Nas habilidades específicas, cada um agiu em média sete vezes durante as partidas e a saída é a ação de maior incidência nesse aspecto.

Nas reposições, os dados me mostraram que o goleiro A tinha um aproveitamento de 65,9% e o goleiro B, 43,3%.

Nos passes, essa discrepância era maior ainda: 73,5% contra 46,8%. O goleiro B recolocava a bola em jogo e fazia o passe mais para a equipe adversária do que para sua própria equipe.

Em meio a esses dados observei que o goleiro A, além de ter um aproveitamento maior nos passes, participava mais neste quesito. Enquanto o goleiro B realizava seis passes em média por jogo, o goleiro A realizava 15. Sendo assim, a diferença “estatística” entre os goleiros estava na participação com os pés dentro do jogo.

Com esses dados podemos levar a discussão para inúmeros caminhos, contudo quero discutir a especificidade do treinamento e a participação deste atleta no Modelo de Jogo da equipe.

Para o treino ser específico, ele precisa se apropriar da realidade encontrada no jogo. No jogo, observei que esses atletas específicos agem relativamente pouco em ações de proteção a meta, logo, o treino deve levar em consideração esse fato. Senão corro o risco de preparar o goleiro apenas para essas “sete ações” de proteção a meta dentro do jogo.

A realidade desta posição não se resume a essas ações, contudo as ações de proteção a meta são emergências, aleatórias e requerem uma resposta adequada para que o adversário não marque o gol. Para dar as melhores respostas, este jogador precisa ser treinado de forma adequada e não de forma exaustiva, pois isso não representa a especificidade do jogo.

Um goleiro no jogo dificilmente fará quatro defesas no mesmo lance: ele terá que defender bem apenas uma bola durante um longo intervalo de tempo; às vezes durante todo o jogo. Para defender essa única bola ele precisa analisar, tomar a melhor decisão e agir da melhor maneira possível.

Durante o restante do tempo de uma partida o goleiro precisa estar inserido na organização coletiva da equipe! Essa inserção não é nada fácil, e os treinos precisam ser elaborados para tal.

Visto que o goleiro B parece não estar integrado no Modelo de Jogo da equipe e não possui uma boa relação com bola com os pés. Essa não integração não atinge apenas o goleiro, mas toda a equipe, pois se esse jogador recoloca a bola em jogo ou faz um passe mais de 50% das vezes de forma errada toda vez que a equipe precisa se organizar rápido para recuperar a bola ou para impedir que o adversário chegue até o gol.

Já o goleiro A é um exemplo de goleiro integrado no modelo da equipe e vem se destacando por isso há algum tempo. Ele é um jogador como outro qualquer antes mesmo de ser goleiro. Em muitos jogos ele participou da manutenção da posse de bola, fez coberturas, cortou lançamentos, etc. Várias de suas ações realizadas com os pés evitaram que a equipe adversária chegasse a sua meta.

Será então que quanto mais integrado o goleiro menos ele agirá nas ações de defesa à meta?

Claro que a resposta não é nada simples e cada comissão deve pensar em seu Modelo de Jogo e em como o goleiro deve participar do mesmo.

O fato é que a integração é complexa e as atividades devem ser elaboradas a fim de atingir os objetivos relacionados às “habilidades específicas”, “reposições” e “passe” do goleiro.

A atividade abaixo ilustra como uma atividade pode ajudar na integração do goleiro na organização coletiva da equipe e desenvolver sua habilidade com os pés. Lembre-se que essa atividade é utilizada para fins didáticos e não pode ser entendida e aplicada de forma isolada, mas sempre contextualizada ao Modelo de Jogo da equipe e ao processo de treino.

Descrição
– Atividade é composta por duas equipes de quatro jogadores mais um goleiro.

Pontuação
– Equipe marca três pontos se fizer o gol.
– Equipe marca um ponto se trocar cinco passes utilizando o goleiro.
– Equipe marca cinco pontos se trocar cinco passes utilizando o goleiro e fizer o gol.
 


 

Lembre-se: nada é receita de bola, ou bolo…

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br  

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Você vai montar o seu treino? Não esqueça (e cuidado com) o princípio das propensões

Pensar a semana de treinamento é tarefa das mais trabalhosas. Das situações hipotéticas para os pós-graduandos da disciplina que ministro às conversas com o treinador com o qual trabalho, as discussões, reflexões, questionamentos e definições de atividades duram, pelo menos, uma hora.

Na situação hipotética, não existe a transferência real para a prática, porém, nas discussões com meu companheiro de trabalho atual (e nas centenas de reuniões de planejamento já realizadas com outros profissionais), diversos pontos são considerados, pois interferem diretamente no jogo seguinte.

O desempenho da equipe na última partida, o nível de aplicação do Modelo de Jogo, o Modelo que se pretende, o desempenho individual, as “baixas”, problemas extra-campo e o próximo adversário, são algumas das questões que norteiam a discussão da próxima semana de treinamento.

Na definição das atividades, o aprendizado teórico-prático adquirido ao longo dos anos é o que fundamenta as opiniões emitidas durante a reunião. O aprendizado teórico, obtido em leituras sobre complexidade, teoria dos jogos, ensino dos JDC, treinamento desportivo, treinamento em futebol, periodização tática, entre outros assuntos (a partir de livros, teses, monografias, artigos, vídeos e até ouvidas em arquivos de áudio conseguidos com um companheiro de profissão), complementa a longa vivência prática como atleta e a ainda curta, mas relevante, experiência como treinador/treinador adjunto.

E, de toda corrente teórica que baliza as opiniões para a discussão de um dia da sessão de treinamento, a coluna desta semana destacará um dos princípios metodológicos da Periodização Tática e sua importância na elaboração de um determinado jogo.

O pressuposto metodológico em questão se refere ao Princípio das Propensões. De acordo com ele, numa determinada atividade de aquisição de princípios, sub-princípios ou sub-princípios dos sub-princípios de jogo, a densidade do que se pretende treinar precisa acontecer em um valor significativo de modo que determinados comportamentos esperados para aplicação do Modelo de Jogo tornem-se hábitos.

Em uma análise rápida do princípio e do seu significado, uma maneira de tornar propensa a finalização em um determinado exercício é elevar a quantidade de alvos. Outro exemplo, agora para tornar propenso o fechamento de linhas de passe, é criar um exercício de troca de passes em que uma equipe em inferioridade numérica a impede. E, para aperfeiçoar a circulação da posse com ampliação de campo efetivo de jogo, um 11×0, respeitando a distribuição espacial da plataforma de jogo, pode ser uma opção.

Posto isso, eis o embate: nem todo exercício criado de acordo com o que preconiza a Periodização Tática é jogo e nem todo jogo, criado por quem o utiliza como método, fundamenta-se no Princípio das Propensões.

O resultado: treinamentos distantes do jogo que se quer jogar!

Para adeptos da Periodização Tática, alguns exercícios têm coerente relação com o Modelo de Jogo, mas significativa distância do próprio jogo, ou seja, do futebol. Na elaboração da atividade, elementos básicos que deveriam caracterizá-la como jogo são ignorados. Logo, na repetição sistemática de determinado princípio, sub-princípio ou sub-princípio do sub-princípio do Modelo de Jogo adotado, é comum a observação de atividades que, na prática, não são desafiadoras, não geram desequilíbrios, não permitem a representação e, acima de tudo, não são imprevisíveis. Este é um grande problema para quem objetiva a especificidade e que precisa proporcionar o “estado de jogo”, já abordado semanas atrás.

Porém, para quem já utiliza o jogo enquanto método de treinamento o problema é outro. É comum que na definição das regras do jogo se esqueça o Princípio das Propensões e sua relevância na evolução do jogar da equipe. Como consequência, a definição de regras que criam uma Lógica do Jogo não condizente com os comportamentos que se pretende treinar. Exemplificando, ao criar um jogo para aperfeiçoar a organização defensiva da equipe no que tange a flutuação, a simples regra “dois toques na bola no campo de ataque”, não irá favorecê-la. Dar um ponto a equipe se ela estiver “flutuando bem”, é igualmente equivocado. Onde estão as regras do jogo que definirão se, de fato, a equipe está flutuando bem?

Para otimizar o desempenho de sua equipe, é indispensável que uma sessão de treinamento seja a todo momento, para todos os jogadores, a resposta tática-técnica-física-emocional para os problemas que você criou. Os problemas criados têm que ser jogo e o jogo tenderá ser vencido por quem melhor cumprir suas regras.

São estas regras que devem orientar a equipe para o cumprimento da Lógica do Jogo. E, além disso, devem obrigatoriamente, considerar o Princípio das Propensões para que a densidade de problemas que surjam no jogo evidencie a necessidade das respostas coletivas adequadas para vencê-lo.

Sendo assim, é possível tornar propensos: a finalização sem necessariamente aumentar o número de alvos (e assim não se distanciar da Lógica do Jogo de futebol), o fechamento de linhas de passe sem reduzir o número de defensores e a ampliação do campo efetivo num jogo de 11×11.

Pensar a semana de treino é tarefa das mais trabalhosas. Mãos à obra!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Ausência

Caro leitor,

Excepcionalmente nesta sexta-feira não teremos a coluna de Cézar Tegon. O colunista estará em recesso até 11 de agosto, voltando com seus textos semanais no dia seguinte.

Um grande abraço,

Equipe Universidade do Futebol

Leia mais:
Veja as últimas colunas de Cézar Tegon na Universidade do Futebol

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Há vantagem de se jogar “em casa”?

Passado o primeiro terço da Série A do Campeonato Brasileiro para a maioria dos clubes, dos 134 jogos realizados até aqui, o número de vitórias com mando de campo é de 48%, contra 27% sem mando.

Mas se o importante é somar o maior número de pontos, será que adquiri-los dentro ou fora de casa faz alguma diferença?

A tabela abaixo mostra o aproveitamento dos quatro primeiros colocados no campeonato, em que observamos aproveitamento superior aos 60% em todos os clubes.


 

É possível observar que até o momento, apesar de serem as melhores equipes do campeonato, o comportamento de cada é bem diferente em relação aos jogos com ou sem mando de campo.

O Palmeiras, por exemplo, embora seja o que tem maior aproveitamento em jogos como mandante (90,47%), é a equipe que apresenta-se com a quarta colocação em função do mal aproveitamento dos jogos realizados fora de casa (33,33%). Já o Flamengo é a equipe que apresenta maior equilíbrio tanto fora quanto em casa (71,42% para cada), assim como o Vasco, que segue a mesma tendência.

Muitos estudos já comprovaram que há vantagem de se jogar em casa independente do esporte praticado (Pollard e Pollard, 2005). No futebol, esse fenômeno não é diferente e já foi documentado em Espanha, (Sánchez et al. 2009), Turquia (Seçkin e Pollard, 2008), França (Dosseville 2007), Austrália (Clarke 2005), Escócia (Nevill et al. 1996), Inglaterra (Thomas et al. 2004) e em várias competições européias e sul-americanas (Pollard 2006).

Recentemente, um estudo realizado com o futebol brasileiro (Silva et. al. 2010) verificou não somente a vantagem de se jogar em casa, mas também as diferenças entre times de alta e baixa qualidade. Após analisar o desempenho de equipes brasileiras nos campeonatos que ocorreram entre 1998 e 2007, os autores encontraram taxa de aproveitamento de 32,60±5,62% para os times de baixa qualidade; 50,60±2,31% para equipes medianas e 66,60±2,79% para equipes de ponta (p<0,001). Com o levantamento, os autores concluíram que o fator local do jogo pode ser atributo de vantagem nos confrontos do Campeonato Brasileiro da primeira divisão, sendo mais pronunciada quando a qualidade do clube é maior.

Apesar dos achados, os fatores que justificam tal aproveitamento ainda não são claros ou não se reproduzem em todos os países.

Fatores como viagem, motivação, auto-confiança, postura da equipe, pressão da torcida e interferência da arbitragem podem explicar parte desse fenômeno e necessitam de maior investigação.

Com isso, é importante que cada equipe conheça suas forças e limitações tanto dentro quanto fora de casa para traçar estratégias que possam melhorar seu desempenho geral afinal três pontos em casa valem a mesma coisa do que três pontos fora.

Para interagir com o autor: cavinato@149.28.100.147

Referências bibliográficas

Pollard R, Pollard G. Long-term trends in home advantage in professional team sports in North America and England (1876-2003). J Sports Sci. 2005 Apr;23(4):337-50.

Sánchez PA, García-Calvo T, Leo FM, Pollard R, Gómez MA. An analysis of home advantage in the top two Spanish professional football leagues. Percept Mot Skills. 2009 Jun;108(3):789-97.

Seçkin A, Pollard R. Home advantage in Turkish professional soccer. Percept Mot Skills. 2008 Aug;107(1):51-4.

Dosseville FE. Influence of ball type on home advantage in French professional soccer. Percept Mot Skills. 2007 Apr;104(2):347-51.

Clarke SR. Home advantage in the Australian Football League. J Sports Sci. 2005 Apr;23(4):375-85.

Nevill AM, Newell SM, Gale S. Factors associated with home advantage in English and Scottish soccer matches. J Sports Sci. 1996 Apr;14(2):181-6.

Thomas S, Reeves C, Davies S. An analysis of home advantage in the English Football Premiership. Percept Mot Skills. 2004 Dec;99(3 Pt 2):1212-6.

Pollard R. Worldwide regional variations in home advantage in association football. J Sports Sci. 2006 Mar;24(3):231-40.

Silva CD, Medeiros NC, Silva ACD. Vantagem em casa no campeonato brasileiro de futebol: efeito do local do jogo e da qualidade dos times. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2010, 12(2):148-154.

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Há vantagem de se jogar "em casa"?

Passado o primeiro terço da Série A do Campeonato Brasileiro para a maioria dos clubes, dos 134 jogos realizados até aqui, o número de vitórias com mando de campo é de 48%, contra 27% sem mando.

Mas se o importante é somar o maior número de pontos, será que adquiri-los dentro ou fora de casa faz alguma diferença?

A tabela abaixo mostra o aproveitamento dos quatro primeiros colocados no campeonato, em que observamos aproveitamento superior aos 60% em todos os clubes.


 

É possível observar que até o momento, apesar de serem as melhores equipes do campeonato, o comportamento de cada é bem diferente em relação aos jogos com ou sem mando de campo.

O Palmeiras, por exemplo, embora seja o que tem maior aproveitamento em jogos como mandante (90,47%), é a equipe que apresenta-se com a quarta colocação em função do mal aproveitamento dos jogos realizados fora de casa (33,33%). Já o Flamengo é a equipe que apresenta maior equilíbrio tanto fora quanto em casa (71,42% para cada), assim como o Vasco, que segue a mesma tendência.

Muitos estudos já comprovaram que há vantagem de se jogar em casa independente do esporte praticado (Pollard e Pollard, 2005). No futebol, esse fenômeno não é diferente e já foi documentado em Espanha, (Sánchez et al. 2009), Turquia (Seçkin e Pollard, 2008), França (Dosseville 2007), Austrália (Clarke 2005), Escócia (Nevill et al. 1996), Inglaterra (Thomas et al. 2004) e em várias competições européias e sul-americanas (Pollard 2006).

Recentemente, um estudo realizado com o futebol brasileiro (Silva et. al. 2010) verificou não somente a vantagem de se jogar em casa, mas também as diferenças entre times de alta e baixa qualidade. Após analisar o desempenho de equipes brasileiras nos campeonatos que ocorreram entre 1998 e 2007, os autores encontraram taxa de aproveitamento de 32,60±5,62% para os times de baixa qualidade; 50,60±2,31% para equipes medianas e 66,60±2,79% para equipes de ponta (p<0,001). Com o levantamento, os autores concluíram que o fator local do jogo pode ser atributo de vantagem nos confrontos do Campeonato Brasileiro da primeira divisão, sendo mais pronunciada quando a qualidade do clube é maior.

Apesar dos achados, os fatores que justificam tal aproveitamento ainda não são claros ou não se reproduzem em todos os países.

Fatores como viagem, motivação, auto-confiança, postura da equipe, pressão da torcida e interferência da arbitragem podem explicar parte desse fenômeno e necessitam de maior investigação.

Com isso, é importante que cada equipe conheça suas forças e limitações tanto dentro quanto fora de casa para traçar estratégias que possam melhorar seu desempenho geral afinal três pontos em casa valem a mesma coisa do que três pontos fora.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

Referências bibliográficas

Pollard R, Pollard G. Long-term trends in home advantage in professional team sports in North America and England (1876-2003). J Sports Sci. 2005 Apr;23(4):337-50.

Sánchez PA, García-Calvo T, Leo FM, Pollard R, Gómez MA. An analysis of home advantage in the top two Spanish professional football leagues. Percept Mot Skills. 2009 Jun;108(3):789-97.

Seçkin A, Pollard R. Home advantage in Turkish professional soccer. Percept Mot Skills. 2008 Aug;107(1):51-4.

Dosseville FE. Influence of ball type on home advantage in French professional soccer. Percept Mot Skills. 2007 Apr;104(2):347-51.

Clarke SR. Home advantage in the Australian Football League. J Sports Sci. 2005 Apr;23(4):375-85.

Nevill AM, Newell SM, Gale S. Factors associated with home advantage in English and Scottish soccer matches. J Sports Sci. 1996 Apr;14(2):181-6.

Thomas S, Reeves C, Davies S. An analysis of home advantage in the English Football Premiership. Percept Mot Skills. 2004 Dec;99(3 Pt 2):1212-6.

Pollard R. Worldwide regional variations in home advantage in association football. J Sports Sci. 2006 Mar;24(3):231-40.

Silva CD, Medeiros NC, Silva ACD. Vantagem em casa no campeonato brasileiro de futebol: efeito do local do jogo e da qualidade dos times. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2010, 12(2):148-154.

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A dança dos treinadores 2

Há um ano escrevia nesta Universidade do Futebol sobre a constante troca de treinadores por parte dos clubes, que é tratada por estas organizações como a “solução de todos os problemas”. Ora, “futebol é resultado”, afirma a grande maioria ao justificar este tipo de mudança.

Em 2011 o fenômeno se repete e não se vislumbra uma correção de rumo consistente para as próximas temporadas do futebol. Sempre reflito sobre o assunto e me pergunto o porquê de tentarem sistematicamente a mesma solução e esta incrivelmente não funcionar: seria culpa apenas dos gestores dos clubes?

Até pouco tempo eu acreditava que sim, que o problema estava centrado unicamente na gestão. Contudo, ao conversar com amigos, professores e treinadores que estão no mercado é possível afirmar que tudo isso não passa de algo cultural. Tudo bem, novamente nenhuma novidade!

Mas é muito estranho perceber que os próprios treinadores aceitam a instabilidade do seu cargo como algo absolutamente normal. Não parece existir uma luta para que as coisas mudem e deem certo na próxima vez. Que se faça uma reanálise constante dos pontos positivos e negativos de seu histórico como treinador e procure um processo de mudança.

A desculpa sempre recai no senso comum: “futebol é resultado e três derrotas seguidas, independente da forma como elas aconteceram, são mais do que justificáveis para a demissão”. Olha-se apenas para o domingo e não para o trabalho que é realizado ao longo da semana.

A verdade é que os treinadores saem de um clube a outro repetindo seus próprios erros. A persistência de ambos, dirigentes e treinadores, em relação às mesmas atitudes é o que inibe o desenvolvimento e o crescimento do conhecimento neste mercado.

E mudar este cenário é possível?

Cultura é uma das coisas mais difíceis de serem mudadas. Apenas a renovação dos agentes envolvidos somado a uma educação maciça aos que hoje labutam no processo parece ser a melhor solução para minimizar erros e transformar os processos de tomadas de decisão no futebol em algo mais técnico e não tão pautado no senso comum.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  

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Filosofia

Normalmente, não costumamos ser explícitos na revelação de nossas fontes de inspiração para escrever uma dada coluna.

Porém, quebro o protocolo e digo que a vontade de falar sobre filosofia e futebol veio após assistir ao jogo entre Internacional e Barcelona, pela Copa Audi, disputada na Alemanha.

E, segundo minha limitação a respeito do tema, nem sei qual preposição deveria utilizar ao levar adiante o texto: filosofia do futebol, filosofia no futebol, filosofia de futebol.

Sei, sim, que Platão e Aristóteles, via Wikipédia, alentaram minha busca pela razão ao escolher o assunto.

Diz Platão: “A admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a filosofia”.

Aristóteles ratifica: “Os homens começam e sempre começaram a filosofar movidos pela admiração”.

O FC Barcelona destes tempos recentes me deixa admirado. Percebe-se que também a equipe incorporou o lema Mais que um clube.

Isso se reflete dentro de campo, pois o time reserva foi campeão do torneio, enquanto o Internacional, sôfrego, tentava equilibrar o jogo com o time titular.

E este time de reservas era composto, em sua maioria, de jogadores formados e revelados pelo Barça. Ou seja, todos os valores filosóficos da instituição – que faz questão de exaltá-los – estão incorporados no DNA desde a base.

O reflexo acaba sendo a coesão da equipe dentro de campo, pois fora dele também existe uma cultura corporativa bem gerida.

No Brasil, tentamos melhorar a “treinabilidade” das equipes com Tite. Ou “implantar a filosofia” com Luxemburgo.

Confesso que ainda não aprendi os dois conceitos. E não consigo ver, no horizonte próximo, algo parecido com os grandes clubes europeus, cujo peso institucional forma equipes históricas, tal qual o Barça, Real Madrid, Manchester, Liverpool, Milan, Bayern.

Em minha sanha de conhecimento, tropeço na resenha do livro Filosofia do Futebol, do ilustre Prof. Manuel Sergio, bem aqui, ao meu lado, no maior portal do conhecimento sobre futebol, a Universidade do Futebol.

Prega a sabedoria em não tentar melhorar aquilo que já é perfeito, quando se reconhece a perfeição. Por isso, transcrevo o texto, nos excertos pertinentes à minha inquietude:

Após uma breve apresentação e o prefácio, Manuel Sérgio começa respondendo a primeira grande questão: Para quê [serve] a filosofia? Ao destacar a importância da reflexão para a filosofia, lamenta que “nos dias em que vivemos refletir parece-nos algo de perfeitamente inútil”. Logo adiante, ao justificar um programa para uma disciplina de Filosofia do Futebol afirma: “A filosofia não dialoga apenas com o saber das ciências, mas com todas as formas de conhecimento e de pensamento e de práticas. Daí, a filosofia do futebol.”

De forma provocativa chega a questionar a necessidade de um “preparador físico” tradicional na comissão técnica de uma equipe, na medida em que entende não ser possível preparar o “físico” de nenhum atleta de forma isolada, separado das demais dimensões humanas (psicológicas, sociais, culturais) e aspectos do treinamento (técnicos, táticos, emocionais).

Numa de suas mais contundentes considerações o mestre-filósofo afirma que a principal interrogação que o treinador deve fazer a si mesmo é “Que tipo de homem quero eu que nasça do treino, ou da competição, que vou dirigir?”. Sem dúvida uma questão fundamentalmente filosófica!

O capítulo seguinte é dedicado a um tema que tem sido caro dentro de suas proposições de mudanças paradigmáticas no esporte e procura justificar que “para saber de futebol é preciso saber mais do que futebol“.

Arrisco-me: “Papai” Joel Santana deve ser o melhor técnico do Brasil. Ele sabe “tratar o jogador com carinho” e com sabedoria, ser humano que é.

E como sabe mais do que futebol, poderia treinar o Barça, mais que um clube.

Leitor, não leve a sério minhas conclusões lógico-filosóficas. Minhas premissas podem não ser as mais apropriadas.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br