Duras críticas têm sido feitas ao futebol brasileiro nos últimos tempos. Como afirmou o zagueiro corintiano Paulo André, estamos numa encruzilhada, tentando observar as engrenagens dos motores holandeses, espanhóis, portugueses e alemães. As críticas são feitas, pois sabemos o enorme potencial que temos, porém, que é subaproveitado por inúmeros fatores culturais, administrativos e técnicos.
Diante disto, a busca por um bom futebol passa necessariamente pelo acompanhamento de jogos do continente europeu, mais especificamente do melhor campeonato de clubes do mundo. E numa semana de clássico pela Uefa Champions League 2011/2012 entre Milan e Barcelona, acompanhar as prévias para este jogo seria a atitude mais racional.
No entanto, como estas equipes são mais comumente analisadas pelos resultados conquistados e, por isso, estão em maior evidência, o meu olhar se volta ao Olympique-FRA que, juntamente ao Apoel-CHI, é a surpresa das quartas de final da competição.
Para isso, a observação dos jogos da equipe francesa contra a Inter-ITA, válidos pelas oitavas de final, foi feita para compreender alguns princípios de jogo ofensivos e estimar o desempenho dos comandados por Didier Deschamps na sequência da competição.
É importante mencionar que a coluna foi iniciada antes do confronto contra o Bayern-ALE, porém, encerrada após o conhecimento (sem acesso às imagens) da derrota por 2 a 0.
O Olympique-FRA está estruturado na plataforma 1-4-2-3-1, como pode ser observado na figura abaixo:
O elenco que participou da primeira partida, vencida pelos franceses por 1 a 0 foi: Mandanda; Azpilicueta, Diawara, N’Koulou e Morel; Diarra e Cheyrou; Amalfitano, Valbuena e Ayew; Brandão.
No jogo de volta, em que os italianos venceram por 2 a 1, Cheyrou e Brandão deram lugar a Mbia e Remy, respectivamente.
O início da construção ofensiva do Olympique-FRA impressiona: amplia muito bem o espaço efetivo de jogo, tem boa circulação e chega com a bola dominada com progressão em velocidade no último quarto do campo. E é nesta parte do terreno, onde deveria impor comportamentos de jogo que são tendências nas equipes de alto nível do futebol mundial, que a equipe de Marselha simplifica (e banaliza) seu bom futebol.
As características dos jogadores permitiriam uma sequência de combinações ofensivas bem diferentes das que foram predominantemente observadas durante os jogos analisados.
Azpilicueta poderia manter a circulação da posse com os volantes e com Valbuena; Morel poderia aproveitar suas movimentações em diagonal e se aproximar dos setores de finalização, Valbuena poderia potencializar seus recursos técnicos no corredor central com tabelas, dribles e assistências em penetrações de Amalfitano, Ayew ou Remy.
Com os apoios constantes dos laterais, as movimentações dos meias abertos poderiam ser mais efetivas se gerassem superioridade numérica em setores mais perigosos ao adversário. Ainda é possível mencionar a possibilidade de maior participação dos volantes neste momento (e terreno) do jogo, o recuo entre linhas de Brandão para dificultar a marcação adversária e um maior aproveitamento de Remy, que sai bem da área, porém, não é acionado.
O que se viu nos dois jogos nos últimos 25 metros do campo se resume nos vídeos abaixo:
Apesar de apresentarem bons princípios de jogo para os demais momentos e até para boa parte da organização ofensiva, a maneira que o Olympique-FRA busca cumprir a Lógica do Jogo não condiz com o bom e belo futebol.
Como o jogo é imprevisível, pode ser que um chutão despretensioso termine em gol, como o que Brandão fez e classificou a equipe francesa para as quartas de final.
Para terminar, menciono o comentário de Vítor Frade em uma de suas aulas (daquelas que tenho gravadas) que ouço com regularidade.
Ele afirma que em alguns jogos de futebol parece que colocaram a seguinte placa na área penal: “É proibido tocar a bola no chão”.
Será que Deschamps a colocou e eu não a vi? Como vemos, não são só as equipes brasileiras que precisam rever alguns conceitos.
Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br