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A formação complexa do ser que joga

Há algum tempo venho discutindo com vocês temas relacionados à formação de atletas.

Discutimos conteúdos, métodos, meios, atividades, o papel do jogo formal, a importância da integração com a equipe profissional, etc.

Mas será que estamos formando atletas de futebol? Será que estamos formando atletas para resolver os problemas do jogo em uma fração de segundos em um estádio lotado com uma pressão enorme em suas costas vestindo uma camisa de peso?

Será?

Vamos a algumas reflexões.

Um atleta de futebol na sua essência é um jogador do jogo, que resolve problemas circunstanciais em uma fração de segundos.

Para resolver o problema, o atleta leva em conta suas experiências de vida e as informações coletadas do meio.

Suas experiências de vida vão muito além de suas experiências de jogo; aliás, no jogo, ele reflete aquilo que ele é, não apenas aquilo que treinou ou jogou.

Cada ação do jogador tem um significado e releva sempre uma intenção.

Mas o que isso tem a ver com a formação do atleta?

Complexidade!

Não adianta ficarmos mais discutindo apenas princípios quando se fala em formação. Os atletas podem e vão aprender cada um deles, se o processo for adequado. Mas de que adianta formar um aluno de modelo se no momento em que 50 mil vozes cantam para apoiar ou criticar ele não sabe como resolver os problemas do jogo?

Os conteúdos são importantes?

Claro que são, mas não acaba por aí.

Formar um atleta significa criar um jogador de jogo que saiba muito bem resolver os problemas complexamente, onde suas ações deverão refletir uma intenção vencedora (não apenas voltada para o resultado, mas voltada para o desenvolvimento integral do ser).

Nada disso é filosófico, por mais que possa parecer!

Tudo isso é muito prático!

Precisamos formar atletas que não sintam a pressão, que nunca desistam, que busquem uma evolução constante, que tenham vontade de jogar o jogo, que resolvam problemas quase que instantaneamente.

Para fazer isso, precisamos criar um ambiente propício e estabelecer uma cultura ou uma filosofia que transcenda o campo, o treino e o jogo!

Nossos atletas precisam se identificar com aquele ambiente e ser submetidos a estímulos constantes que o farão evoluir como homem enriquecendo sua bagagem de vida.

Será que estamos fazendo isso?

Será que isso é possível?

Até a próxima!

Para interagir com o colunista: bruno@universidadedofutebol.com.br
 

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Algumas lições táticas da Eurocopa 2012: os centroavantes e os volantes

A observação e o estudo dos jogos da Euro-2012 são fundamentais para profissionais do futebol que almejam aperfeiçoar algumas das suas competências profissionais. Assistir a diferentes Modelos de Jogo, analisar as distintas intervenções de treinadores e acompanhar a opinião de especialistas são excelentes convites à reflexão do mais alto nível do futebol mundial.

E na recém-encerrada competição, dois temas permitem longos e saudáveis debates: primeiro, em relação à necessidade ou não de um centroavante para ganhar jogos e, segundo, sobre o volante central e suas características.

Enquanto, no Brasil, Tite é constantemente questionado pela ausência de um jogador de referência em sua equipe quando não joga Liédson, Del Bosque viveu problema semelhante ao ser questionado quanto à dinâmica do 1x4x3x3 espanhol com a falta de um jogador de área. Após o empate na estreia, inclusive Mourinho comentou que o ataque da Fúria perdia eficácia sem um atacante.

Já na seleção italiana, estruturada em 1x4x4x2 (losango), um território habitado muito tempo por Gattuso, mesmo que em outra estrutura, foi ocupado nesta Euro pelo volante central Pirlo.

Sobre o primeiro tema, felizmente a Espanha conquistou o título, pois, caso outra equipe tivesse sido campeã, a explicação para a derrota seria clara: faltava-lhe um centroavante.

E, de fato, uma equipe precisa de centroavante?

Sabemos que o futebol evoluiu muito nas últimas décadas e que existem milhares de estudos científicos acerca da modalidade. Ao estudar a evolução tática, o jogo, os princípios táticos e sistemas, não é possível afirmar que uma equipe, indispensavelmente, precisa de um jogador de área. O jogo de futebol e seus problemas são muito mais complexos que a presença ou não de uma posição no campo de jogo.

A preocupação com esta reflexão ao analisar uma equipe, seja você treinador, auxiliar, preparador físico, jornalista, comentarista ou torcedor, deve existir. O problema ocorre quando esta é a única reflexão feita.

Será que não existem outros elementos a serem considerados no processo ofensivo de uma equipe? Será que mesmo sem centroavante, algumas adequações/ajustes nos princípios de jogo ofensivos não podem potencializar a ocorrência de gols?

Pedem-se centroavantes por serem os jogadores que, por característica, dão profundidade à equipe e, logo, têm maiores possibilidades de ocuparem a zona de finalização. Mais uma vez simplificam o complexo futebol!

A questão não é ter ou não centroavante e sim como jogar com ou sem centroavante. Mudam-se as estruturas, respeitam-se as características do elenco para a atribuição de funções e buscam-se as inter-relações que possibilitem os gols.

Ocupar o espaço em que Messi aparece “rasgando” os defensores adversários com um homem de área? Abrir mão de Xavi, Iniesta, Fábregas ou Silva pela simples formalidade de ter um centroavante? Jogar com Liédson em má fase pelo mesmo motivo?

Os treinadores de Barcelona, Corinthians e da seleção espanhola encontraram a fórmula de como vencer sem centroavante. Lembrando, claro, que a do treinador brasileiro, por diversos motivos, faz menos gols.

Já a outra questão, do volante, refere-se à função exercida por Pirlo ao longo da competição. Vê-lo construindo as ações ofensivas com sua leitura de jogo e técnica invejáveis, além da clareza com que se posiciona defensivamente, é contrário a muito do que ouvi sobre a posição ao longo dos anos que estou no futebol.

Aprendi com vários dos meus ex-treinadores que volantes precisavam ser exímios em desarmes. Inclusive privilegiavam-se jogadores com esta característica mesmo que não apresentassem qualidade de passe.

Consequentemente, jogavam especialistas em desconstrução, tanto das ações ofensivas do adversário como das ações da própria equipe.

Pergunto: será que a realidade do futebol brasileiro está mudando? Se assistirmos aos milhares de jogos das categorias de base ou do futebol profissional espalhados pelo país, quais são os comportamentos individuais predominantes observados nos volantes?

A explicação para a escolha dos volantes “brucutus” resume-se ao fato dos mesmos protegerem bem o corredor central e impedir que o adversário seja criativo, nem que para isso princípios de jogo pouco requeridos no futebol moderno, como a marcação individual, sejam utilizados.

Mais uma vez, a questão não é a obrigatoriedade de jogadores com estas características. Prandelli conseguiu mostrar sua ideia de jogo, combinando comportamentos individuais e coletivos que permitiam Pirlo como volante central sem perder o tradicional poderio defensivo italiano.

Enfim, ter centroavante e/ou volante “brucutus” são apenas algumas das verdades absolutas existentes no futebol. Se, na vida, as verdades (com o avanço da ciência, do conhecimento, das pesquisas, da prática) mudam constantemente, no futebol a realidade não é diferente.

Que nossas cabeças estejam dispostas à mudança! Seria um grande passo para desfazermos outras verdades absolutas do futebol, como a simultaneidade do apoio dos laterais, ou então a altura mínima dos goleiros e dos zagueiros.

Quanto ao Mourinho, prefiro acreditar que ele gostaria de enfraquecer o futebol espanhol ao pedir um centroavante e, dessa forma, dar mais chances ao selecionado português. Lembrem-se que no futebol, e na vida, não existem verdades absolutas!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br
 

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Cadastro de torcedores: solução para a violência nos estádios?

A segurança corresponde a um direito individual e social do cidadão brasileiro previsto nos artigos 5º e 6º da Constituição Federal. Sendo assim, de fato, é um dever de todos assegurá-la, impedindo a violência.

A violência no esporte é uma das faces da ausência de segurança cotidiana na sociedade e justamente na atividade esportiva onde deveria haver sua sublimação. Famílias por diversas vezes evitam os estádios, pois os vêem mais como espaço violento, que palco de acontecimentos esportivos.

Neste esteio, a união de todos os envolvidos com a atividade esportiva é essencial para que o desporto brasileiro não faça mais vítimas como o jovem Alex Fornan de Santana, de 29 anos, torcedor do Palmeiras, morto em 21 de fevereiro de 2010 após partida entre Palmeiras e São Paulo válida pelo campeonato paulista, em confronto de torcidas. Este caso recente é apenas um dentre centenas de outros ocorridos pelo mundo.

Muitas medidas são aventadas, propostas e estudadas. O Estatuto do Torcedor, após as alterações introduzidas pela Lei 12.299/2010, passou a exigir o cadastro de torcedores por parte das torcidas organizadas e, ainda, criminalizou uma série de atos dos torcedores. Há quem defenda que o cadastro de torcedores não deve se restringir às “Organizadas”, mas que deve se estender à totalidade de torcedores.

É imprescindível destacar que a violência nos estádios não é característica exclusiva dos desportos brasileiros, cujo nascedouro é atribuído às torcidas organizadas.

Na América Latina, especialmente na Argentina, os torcedores violentos são conhecidos como Barra Brava que correspondem a um tipo de movimento de torcedores que incentivam suas equipes com cantos intermináveis e fogos de artifício que, ao contrário das torcidas organizadas não possuem uniformes próprios, estrutura hierárquica e muitas vezes nem mesmo associados.

Na Europa, os torcedores violentos são conhecidos como hooligans, em especial a partir da década de 1960 no Reino Unido com o hooliganismo no futebol.

A maior demonstração de violência dos hooligans foi a tragédia do Estádio do Heysel, na Bélgica, durante a final da Taça dos Campeões Europeus de 1985, entre o Liverpool da Inglaterra e a Juventus da Itália. Esse episódio resultou em 39 mortos e um elevado número de feridos.

Os hooligans ingleses foram responsabilizados pelo incidente, o que resultou na proibição das equipes britânicas participarem em competições européias por um período de cinco anos.

A escalada de violência nos estádios do Reino Unido foi tamanha que começou a afetar não apenas os residentes locais, mas também a ter consequências para a Europa continental.

Por este motivo, o hooliganismo arranhou a imagem internacional do Reino Unido, que passou a ser visto por todos como um país de violentos arruaceiros, cujo ápice se deu com a tragédia de Heysel.

Insuflada por esse acontecimento, a então primeira-ministra britânica Margareth Thatcher entendeu que o hooliganismo havia se tornado problema crônico e que alguma providência deveria ser tomada.

Entendendo que o aumento do controle estatal minimizaria a violência, a “Dama de Ferro” sugeriu a criação da carteira de identidade dos torcedores de futebol (National Membership Scheme) no Football Spectators Act (FSA), em 1989.

Alguns meses após a divulgação do FSA, ocorreu a maior tragédia do futebol britânico. Na partida válida pelas semifinais da FA Cup entre Liverpool e Nottingham Forest, no estádio de Hillsborough, do Sheffield Wednesday, 96 torcedores do Liverpool morreram, massacrados contra as grades que separavam a arquibancada do campo.

A fim de apurar os motivos da tragédia, o governo britânico iniciou investigação cuja conclusão foi de que o problema não seria os torcedores, mas as estruturas que os atendiam. Muito pior que os hooligans, era a situação dos estádios britânicos naquela época. Não seria possível exigir que as pessoas se comportassem de maneira civilizada em um ambiente que não oferecia as menores condições de higiene e segurança.

Para evitar que novas tragédias se repetissem a investigação realizada, em sua conclusão, estabeleceu uma série de recomendações como, por exemplo a obrigação da colocação de assentos para todos os lugares do estádio, a derrubada das barreiras entre a torcida e o gramado e a diminuição da capacidade dos estádios. Dentre as recomendações estava o cancelamento do projeto da carteira de identificação dos torcedores, eis que havia o receio de que o cadastramento aumentasse o problema da violência, e não o contrário.

Além dos questionamentos sobre a real capacidade dos clubes conseguirem colocar em prática um sistema confiável de cadastro, controle e seleção de torcedores e, ainda, sobre a confiança na tecnologia que seria utilizada, o argumento se baseava na ideia de que a carteira de identidade para torcedores não seria uma ação focada na segurança, mas na violência e as tragédias nos estádios não seriam questão de violência, mas de segurança. Inclusive, a polícia inglesa, que poderia ser beneficiada com a carteira, rejeitou o projeto, que, acabou sendo abandonado.

Em razão das novas exigências, os clubes ingleses se organizaram e na temporada 1992/1993 criaram a “Premier League” que atualmente é o campeonato de futebol mais valioso do mundo.

Além do índice técnico, um dos requisitos para que um clube inglês dispute a “Premier League” é a existência de estádio com boa infra-estrutura aos torcedores.

É fato que no Brasil o problema da violência é grande, mas muito pior é o problema da insegurança. Muitas tragédias como o buraco nas arquibancadas da Fonte Nova, só aconteceu porque o estádio estava em condições ruins, caso em que a carteirinha de identificação não teria salvado as vítimas, mas melhor fiscalização nas reais condições do espaço e o fornecimento de uma estrutura apropriada para o público, certamente teria evitado a tragédia.

Destarte, apesar dos avanços conquistados, especialmente com o advento do Estatuto do Torcedor, o consumidor dos eventos esportivos no Brasil ainda não é respeitado.

Estádios com infraestrutura precária, venda de ingressos e acesso a estádios tumultuados são alguns dos problemas enfrentados rotineiramente pelos torcedores brasileiros.

O fato é que as autoridade e as entidades organizadoras de eventos esportivos ao invés de aumentar a exigência dos torcedores, devem passar a tratá-los com respeito atentando-se ao estabelecido no Estatuto do Torcedor e nos direitos básicos como segurança e organização dos eventos esportivos.

Referências bibliográficas

http://www.cidadedofutebol.com.br/Jornal/Colunas/Detalhe.aspx?id=10782, acessado em 13 de novembro de 2010.

https://universidadedofutebol.com.br/2010/10/1,14853,A+IMPORTANCIA+DO+DIREITO+DESPORTIVO.aspx?p=4, acessado em 13 de novembro de 2010.

http://esporte.ig.com.br/futebol/2010/02/22/confrontos+entre+torcidas+deixam+1+morto+e+20+feridos+9404363.html, acessado em 13 de novembro de 2010.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Cidade-sede: São Paulo

Estádio que terá a abertura da Copa do Mundo 2014, o Itaquerão, cria polêmica desde sua estátua no entorno do equipamento. Com uma obra acelerada, o estádio inova em ideias e uma postura adequada ao futebol, mas que, sem planejamento pode trazer problemas financeiros ao clube.

Dentre as polêmicas, estão: a estátua do “Cavaleiro da Fiel”, o mega telão e os incentivos fiscais. A obra de arte, inicialmente, ganhou repercussão por ser uma estátua de São Jorge, o que mobilizou o público evangélico que não acredita em imagens; posteriormente, o Corinthians se defendeu falando que é um “Cavaleiro da Fiel” e que não tem nada de religioso.

O mega telão, por sua vez, pode garantir rendas comerciais ao clube, se não for impedida pela Lei Cidade Limpa, o que é bastante provável. O clube só conseguirá manter o telão se voltado para dentro da arena ou se conseguir autorização para informações turísticas, história do clube, mas sem intuitos comerciais.

Já os incentivos fiscais, não foram concedidos somente à arena de São Paulo, e nem mesmo por ser o Corinthians ou por ser a Copa. Na região de Itaquera, ganham incentivos fiscais aqueles que propuserem desenvolvimento ao bairro. A polêmica girou em torno das proporções desses valores por serem grandes, mas está tudo conforme o planejado pelo urbanismo.

As arquibancadas removíveis para atender as regras de abertura da Copa do Mundo serão colocadas com dinheiro público, mas vale lembrar que quem ganhará com a abertura será o comércio local, hotéis de São Paulo, e o turismo da cidade, que, sem ela, teria visibilidade, mas nem tanta. Ou seja, o dinheiro retorna, de outras formas, para a cidade. Acaba sendo um investimento público que volta direto para os cidadãos.

Mas, voltando agora para o projeto, vamos para sua arquitetura. Com um novo conceito de segurança e diminuição da violência, o estádio pretende ter banheiros climatizados, o que, teoricamente, diminui o stress dos torcedores, minimizando o furor da torcida e os casos de violência. A fachada do estádio é envidraçada com brises (hastes que barram parte da luz), permitindo a iluminação natural; mas, também, diminuindo a ventilação.

Sob estes dois pontos (banheiros e fachada), vemos que sustentabilidade da arquitetura não é o maior ponto de preocupação da arena de São Paulo, embora as questões tenham suas vantagens. O ideal é que a arquitetura tivesse, já em fase de detalhamento de materiais e estrutura, funções econômicas.

De forma a minimizar esses impactos e suprir os gastos extras, em sua cobertura, o estádio terá células fotovoltaicas para captação da luz solar e geração de energia própria, que será complementada pela rede convencional. Também terá três geradores para casos de emergência – como comparador, o Pacaembu tem um gerador somente para a parte do Museu do Futebol.

Localizado em terreno com desnível, parte do estádio se apoia no terreno, assim como o Pacaembu, como a Fonte Nova, em Salvador, e alguns outros. Isso facilita o acesso em nível, ou seja, um acesso direto à arquibancada, garantindo facilidade de acessibilidade para pessoas com deficiências de locomoção. Essas características podem ser observadas nos cortes abaixo:

Na sequência, podemos ver o acesso em nível, escadas para nível inferior e as rampas de acesso para o anel superior. Dentro da caixa de vidro, também tem rampas de circulação, o que é um ponto forte do estádio, pois garante maior facilidade, maior liberdade para propor assentos de cadeirantes por toda a parte e garantir a facilidade de circulação para posteriores visitas guiadas mesmo com falta de energia. Na caixa envidraçada há também escadas rolantes.

Como podemos ver, sua cobertura é uma das mais bem sucedidas em termos de qualidade a ser proporcionada ao gramado. Pela ausência de anel superior atrás dos gols, a cobertura neste setor é esbelta, e também não tem barreiras laterais de fechamento, o que garante maior incidência de luz natural no gramado ao longo do dia. Isso pode reduzir custos de manutenção do campo e a necessidade de iluminação artificial. Além disso, buracos, falhas e pragas no gramado serão muito menores, mantendo sua qualidade ideal. O estudo da iluminação artificial, fixada na cobertura, está sendo desenvolvida em Nova Iorque e promete ser a melhor do mundo, segundo o escritório carioca responsável.

A acessibilidade ao estádio tem potencial para ser basicamente por transporte público. A intenção é que muitas pessoas cheguem de metrô, trem, ônibus, a pé ou de bicicleta, mas para isso, a cultura de usar o carro e a Radial Leste tem que ser diminuída até a Copa. O Itaú disponibilizará bicicletas e, de repente, seria interessante oferecer benefícios financeiros, como descontos no ingresso, para quem comprove que chegou via esse meio de transporte ou de metrô. A venda direta de ingressos junto a bilhetes pode ser uma forma de incentivo.

Para uma arrecadação financeira, o estádio deve contar com bares temáticos, salão de convenções e museu, mas lembro que precisa de muito estudo sobre a programação dos mesmos para garantir renda ao longo do ano todo, já que o estádio tem uma posição muito boa quanto a não receber shows musicais, o que é muito coerente com a ideia de manter um bom gramado.

 


 

Quanto à visibilidade, o intuito é trabalhar da mesma maneira que os estádios europeus, colocando fim aos alambrados e barreiras verticais – que, de uma forma ou outra, são agressivas em algum ponto das arquibancadas. A intenção é manter barreiras horizontais, como as ‘cat’s cradles’ de Wembley, também usadas no Soccer city, sede da Copa do Mundo em 2010.

 

Acima, Wembley e seus cat’s cradles, e abaixo, o mesmo sistema no Soccer City, na África do Sul


 

O entorno é ainda bem pobre em termos de paisagismo, o que pode aparecer mais adiante, com mais detalhamento. Por ora, tudo que tem divulgado é um grande deserto de estacionamentos, com poucas partes permeáveis. No entanto, imagino que seja o estágio em que o projeto se encontra. Espero gostar mais futuramente do entorno do que gosto hoje, o que tem acontecido cada vez mais com a arena em si.

Infelizmente, detalhes específicos do estádio não estão sendo divulgados, como nos outros. Provavelmente ainda nem estão completos devido ao atraso da cidade de São Paulo para se decidir quanto à sede oficial.


 

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br

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A desconfiguração tática do jogo brasileiro

Salta aos olhos: o futebol brasileiro carece de táticas que organizem o seu jogo!

Há alguns anos estamos praticando um futebol ansioso, solto e amorfo. Em um jogo, essencialmente coletivo, costumamos responsabilizar individualmente cada jogador por todas as consequências do campo. O protagonista do jogo coletivo, que deveria ser o conjunto das táticas, passou a ser a cabeça e os pés das individualidades.

Não há sincronia de ações coletivas regida por uma ideia de jogo. Somos mais uma soma de individualidades em campo, o que é muito diferente.

Os jogadores, responsáveis pelas tarefas em campo, deveriam ter as responsabilidades que lhes cabem, em espaços e funções de um modelo de jogo que transcende a importância das individualidades. A qualidade com que cada jogador executar suas tarefas dará o destaque individual que merece. Os craques serão sempre craques, mesmo jogando taticamente o jogo.

Na forma de jogar do brasileiro assistimos a um constante empurrar de bola para frente na expectativa de que o homem que a recebe resolva os problemas da equipe. Quando se tenta fazer posse de bola, lateralizando o jogo em busca de melhores caminhos para o ataque, achamos que estamos fazendo um jogo sem objetividade. E tome vaias e críticas!

Se assim continuar, quando aprenderemos as lições do Barcelona? Esta pergunta sempre terá de vir às nossas mentes para que nos atentemos às necessidades do nosso jogo.

É incrível como adormecemos quanto às demandas táticas do jogo! O processo foi se desencadeando de tal forma que hoje é preciso retomar as lições lá do começo. As individualidades brasileiras foram assumindo importância singular num jogo que deveria primar pelas ações coletivas.

Nós nos perdemos na paixão pela plástica dos lances individuais e ansiedade pelo jogo ofensivo, o que nos afastou da essência do jogo. Talvez, não sei se estou certo, o desdenho às táticas tenha se assumido quando o Brasil começou a entender e aplicar táticas com o intuito de marcar o jogo. O fenômeno “enfeiou” e burocratizou tanto o jogo brasileiro que o repúdio às táticas foi geral.

O contraveneno que apresentamos foi, aos poucos, dar liberdade irresponsável ao jogo e aos jogadores. Os treinadores, pressionados cada vez mais, optaram por “soltar suas equipes” ao ataque. Aos poucos, estes mesmos treinadores foram perdendo o “controle” do jogo e a responsabilidade em construí-lo. Nós nos limitamos a escalar nossas equipes em sistemas táticos temporões – às vezes dura um jogo, às vezes meio tempo, em busca do encaixe do “onze”. Se não der certo a culpa é do sistema ou dos jogadores.

E a dinâmica do jogo? Quem constrói? Não seria o treinador? Talvez, por isso mesmo, as táticas coletivas aparecem muito superficialmente em nosso jogo.

O interessante nesse estado de coisas é que os treinadores, a crítica e toda a comunidade da bola em geral sabem idealizar um jogo de qualidade. O pior é que ainda não conseguimos transformar este ideal em realidade. O peso cultural que este vício adquiriu é muito grande. Não está sendo fácil sair desta fase, mesmo porque existem fatores extracampo muito particulares que também interferem no nosso jogo.

Por tudo isso, uma importante alternativa de qualidade para o jogo brasileiro pode ser começar a dar crédito às táticas que o constroem com a certeza que o jogo com elas é mais eficiente (bem jogado) e eficaz (com resultado).

Precisamos desmistificar a importância das táticas como sendo só argumento de marcação para o jogo. São tão ricas para defender quanto para atacar. Posse de bola ofensiva, ataque com as linhas compactadas, triangulações, ultrapassagens, ações de contra-ataque, dentre muitos outros, são argumentos táticos ofensivos treináveis e que devem fazer parte de um jogo organizado. Vide o Barcelona e outras grandes equipes mundiais que empregam muito bem estes conceitos de ataque. A Eurocopa nos deu ótimas mostras destes argumentos.

Organizar as táticas do jogo não significa negligenciar os outros conteúdos que o compõem. Para que isso não ocorra, basta que tenhamos a verdadeira dimensão do que demanda o desenvolvimento do talento e do jogo nas várias categorias de competição.

A partir dos 12 anos de idade em média, até os 18 anos, também limite médio, o desenvolvimento do jogo e dos jogadores requisitam um foco de conteúdos. A partir dos 18 anos o foco é outro. Enquanto para a primeira faixa etária as táticas individuais e de grupo são prioridade, para a segunda as táticas coletivas são as mais necessárias. Todas, em conjunto, compõem grande parte das exigências táticas do jogo, mas quanto ao foco de desenvolvimento é importante e necessário haver esta distinção. Jogadores e equipes se completarão em suas necessidades de formação ao final do processo.

Mas o que seriam táticas individuais, de grupo e coletivas? Sintetizando neste pequeno espaço, eu poderia dizer que seriam as “tomadas de decisões” individuais, em grupo e coletivas (acima da relação do 3X3 – convenção) que os jogadores e ou equipes assumem nas situações que o jogo oferece.

Nos vários espaços do campo e circunstâncias do jogo: o que fazer? Como fazer? Quando fazer? Por que fazer? Estas são tarefas sistematizáveis e desenvolvidas em treinamentos inteligentemente programados. Todas fazendo parte de um modelo de jogo especificamente.

Assim como para fazer um bolo existe a receita, para jogar o jogo é preciso regras. Quais seriam os princípios e ou conceitos táticos que regem o jogo de futebol? Jogar compacto, abrir espaços para atacar, agrupar para defender, usar os flancos, explorar a troca de passes, dentre muitos outros, são regras e ou leis que constroem o jogo de futebol. Portanto, é óbvio que os conteúdos e métodos de treinamentos deverão ser norteados por estes conceitos.

E será que somente os conteúdos táticos desenvolveriam o jogo de futebol? Eu diria que sim! Se o fizermos sob a metodologia do treinamento global, já falamos nisso em resenhas anteriores, o “pacote do desenvolvimento das táticas” trabalhará também os conteúdos físico, técnico e psicológico. O treinar em forma de jogo tem este poder.

Atenção: não vamos encher a semana com “joguinhos” em forma de treino, que não resolve muita coisa. É preciso haver sintonia entre o treino e a “coisa” a ser desenvolvida, relacionando os dois com o jogo (11X11) propriamente dito. Quando se fala em treinamento, não sei dizer o que seria mais importante: o conteúdo tático a ser treinado ou a forma com que o desenvolvemos!

O assunto é muito vasto e conectado a várias circunstâncias, por isso a cada encontro abordaremos detalhes diferentes. Não abro mão das táticas no jogo das equipes que dirijo. Ao contrário do que muita gente pensa e fala, isso só facilita o trabalho e a fluência do jogo. As táticas, quando bem aplicadas, transmitem inteligência e organização ao jogo. O futebol brasileiro precisa aprender isso, com urgência!

Nós, treinadores, temos a importante missão de começar a fazer as coisas acontecerem em campo para disseminá-las à comunidade esportiva. Nossa principal função, no quesito armação das equipes adultas, é dar sincronia às ações de campo com o emprego, principalmente, das táticas coletivas. Nossos times têm de agir coletivamente e não dependentes única e exclusivamente das individualidades.

Nas categorias de base, as táticas individuais e de grupo prepararão os jogadores e setores do time para o jogo coletivo inteligente e eficaz no futuro. Assim fazendo, nossos craques estarão mais seguros para aflorarem seus talentos. E pode parecer contraditório, mas o jogo jogado coletivamente faz brilhar a luz do talento individual com mais intensidade!

Até a próxima resenha.

Para interagir com o autor: ricardo@149.28.100.147
 

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Camarotes do Grêmio

Muito se fala e se argumenta sobre os benefícios e as complicações em se ter um estádio próprio para mandar seus jogos. Alguns entes preferem o aluguel de estádios, por não perceber custos fixos mensais, o que pode ser uma boa vantagem para clubes com um baixo fluxo de caixa.

Casos mundiais como o compartilhamento de estádio feito em Milão pela Inter e pelo Milan são um exemplo disso, ao criarem estratégias de marketing conjuntas para melhor rentabilizar o equipamento.

No Brasil, os estádios públicos fazem frente a boa parte da demanda em cidades de grande e médio porte. Mas chama a atenção algumas iniciativas que trazem para o ambiente do clube uma plataforma interessante de negócios, envolvendo não só o futebol, mas também um mercado paralelo, que agrega valor ao patrimônio.

Destaca-se, portanto, a nova Arena do Grêmio, que deverá ser inaugurada em dezembro e já teve todos os camarotes vendidos, representando um faturamento na ordem de R$ 20 milhões, somente com a propriedade. O montante equivale a algo próximo a 14% do faturamento do clube, se comparado com números de 2011.

O valor unitário anual dos camarotes variava entre R$ 134 e R$ 373 mil, o que também é um indicador que desmitifica um pouco o fato de o torcedor não querer gastar com o clube, deixando uma margem de que, na realidade, o mesmo procura novas experiências ligadas ao futebol.

Enfim, o registro serve para percebermos que o potencial que os novos estádios no Brasil tem são enormes. Basta os clubes pensarem em um desenvolvimento orgânico e, quando for o caso, firmar boas parcerias com o poder público para efetivamente ativar o maior número de receitas possíveis visando o incremento do faturamento e a melhoria da qualidade do espetáculo.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br
 

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Analista de desempenho e analista de dados: junção de esporte e tecnologia tem de acompanhar a tendência

“Uma adolescente vai ao supermercado e, ao passar no caixa, recebe um folheto informativo sobre gravidez. Ela ainda não sabe, mas, a partir da listagem de produtos comprados, foi identificada a probabilidade de gestação, confirmada semanas depois”.

Tomo a liberdade de reproduzir o início do texto de Déborah Oliveira na íntegra para seguirmos na reflexão.

Com Mano Menezes na seleção brasileira, a função do analista de desempenho surgiu com força no cenário do futebol nacional, como bem discutiu recentemente nosso colega Bruno Baquete.

Esse crescimento e a projeção dessa função no futebol não vem sem nexo e não surge do nada. Ela acompanha a tendência mundial da era da informação.

Numa reportagem recente do IDG NOW, foi comentado que a função de analista de dado é uma das mais promissoras funções no setor de tecnologia da informação.

A lapidação de dados na sociedade atual visa buscar informações, cruzar características e perfis específicos para determinar potenciais comportamentos. E assim, com essas possibilidades, antecipar ações e intervenções.

Isso para o futebol é mais lógico do que se imagina, porém gostaria de atentar aqui a importância da interação entre os profissionais envolvidos.

A figura do analista de desempenho é relativamente nova no futebol e está se consolidando e construindo seu escopo de trabalho.

O analista de dados já está há mais tempo em atuação, muito embora hoje suas competências e habilidades estejam mais apuradas e cada vez mais seguem a tendência do mundo moderno, caracterizando-se pelo dinamismo e efemeridade característicos do setor de inovação.

Assim, é importante que se crie um diálogo, pois ambos necessitam um do outro. Parece óbvio o discurso, mas trago um pouco das vivências no setor para alertar os cuidados entre os perfis.

O analista de dados tem a formação em tecnologia, algum foco em negócios e estatística. Porém, a chave para o seu sucesso é compreender a lógica do mercado em que atua, fazendo isso através de informações, conversas, análises dos profissionais envolvidos, etc.

Por outro lado, o analista de desempenho é o profissional que conhece esse meio e precisa transformar seu conhecimento e experiência em dados para que o primeiro possa ajudar a analisá-los.

Infelizmente, o que se vê no futebol ainda é um engatinhar tanto de um como de outro. O analista de desempenho, por estar em fase de definição de seu escopo de trabalho, ainda é visto como secundário e supérfluo, enquanto que o analista de dados acaba sendo confundido como um suporte técnico em informática que ajuda a fazer planilhas e consertar equipamentos.

Assim, além da valorização que o tempo dará aos dois profissionais no meio do futebol, é importante acrescentar a necessidade de estabelecer conexão entre ambos, pois a lógica de pensamentos dos dois é por diversas vezes diferente e até mesmo num primeiro momento contraditória, o que numa relação de desenvolvimento exige dos envolvidos uma capacidade interpessoal importante.

O texto desta semana discute essa questão com a premissa de que tanto na formação do analista de dados, como na formação do analista de desempenho, os conhecimentos devem ser cruzados na medida do possível.

O da tecnologia deve ter assuntos relacionados ao esporte, à performance, à lógica do jogo, tanto quanto o do esporte deve compreender processos e lógicas de programação.

É evidente que ambos não se aprofundarão na área alheia, porém, o mínimo de interface ajudará no diálogo e na eficácia do que será desenvolvido: sugestão para os futuros cursos de TI no esporte e de analista de desempenho que com certeza ganharão força num espaço curto de tempo.

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Ali, aqui no Brasil?

Muhammad Ali.

Era Cassius Marcellus Clay.

Enfrentou grandes adversários dentro dos ringues, assim como resistências e dificuldades fora deles – na família, na sociedade segregacionista dos EUA e na relação, como cidadão americano, ante o beligerante Tio Sam e sua Guerra do Vietnã.

Converteu-se ao islamismo e recebeu o nome que o consagrou.

Venceu os adversários.

Derrubou Sonny Liston, Floyd Patterson, Joe Frazier e George Foreman.

Contra este, protagonizou a maior luta de boxe de todos os tempos, no Zaire, cujo episódio foi retratado no documentário “Quando éramos reis”.

Na luta, Ali foi aclamado pelo povo africano como representante da causa negra, em contraponto à figura de Foreman, vinculado ao establishment social e político dos EUA de então.

Conquistou, ao longo de sua vida e carreira, liberdade, independência, admiração e respeito, não só pelo desempenho esportivo, mas também pelo ativismo social contra o racismo, contra o preconceito social e a alienação política.

Afrontou o Governo dos EUA que o queriam combatendo no Vietnã. Negou-se a ir. Correu risco de ser preso por cinco anos, mas foi absolvido pela Suprema Corte. Com isso, perdeu o título de campeão e o direito de lutar por quase 4 anos.

Voltou em grande estilo do banimento esportivo e recuperou o cinturão de campeão.

The greatest, como ficou conhecido no boxe, construiu um grande legado socioesportivo, que está muito bem administrado e estruturado no Muhammad Ali Center, a fundação criada para esse fim. 

“Por muitos anos, sonhei em criar um lugar para compartilhar, ensinar e inspirar as pessoas para o melhor de si e para que pudessem perseguir seus sonhos”, diz a frase no site oficial do Ali Center.

Confiança, Respeito, Convicção, Dedicação, Doação, Espiritualidade, são coisas pelas quais vale a pena lutar. E são formas de se encontrar a grandeza interior.

A isso se dedica o Ali Center. Aos valores e a missão de Muhammad Ali como atleta e protagonista da transformação da sociedade por meio do esporte.
 


 

Ali, aqui no Brasil, encontra ressonância em seus pares?

Sócrates e a Democracia Corintiana, Raí, Leonardo, Pelé, Atletas pela Cidadania, são valiosos exemplos de engajamento e desenvolvimento social por meio do esporte.

Será suficiente, num país marcado por déficit social imenso – democracia, igualdade entre os sexos, distribuição de renda, acesso a serviços públicos de qualidade?

Precisamos aumentar essa corrente do bem. Sem medo, como sempre pregou Ali:

“Impossível é apenas uma palavra grande jogada ao redor por homens pequenos que acham mais fácil viver no mundo que lhes foi dado do que explorar o poder que têm para mudá-lo. Impossível não é um fato. É uma opinião. Impossível não é uma declaração. É um desafio. Impossível é potencial. Impossível é temporário. Impossível é nada.”

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br