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O desafio da consistência

Amigo leitor, refletindo sobre o desempenho da seleção brasileira após a segunda e de certa forma decepcionante partida contra a seleção mexicana trago um momento de pausa para pensarmos sobre a consistência das atuações da seleção no mundial em disputa.

De acordo com Terry Orlick em seu livro "Em busca da excelência", um desempenho consistente em alto nível depende de uma concentração de alta qualidade por parte do atleta e isso passa por uma capacidade de concentração adequada para cada perfil de atleta. As pessoas e atletas que atuam consistentemente próximas ao seu potencial máximo aprenderam a fazer três coisas na vida de maneira extremamente eficaz:

• Direcionar e controlar seu foco;
• Canalizar suas emoções em direções positivas;
• Recuperar-se rápida e eficientemente das adversidades.

Este terceiro ponto citado pode ser bem explorado pela seleção brasileira para recuperar parte da confiança deixada para trás após a partida contra o México, sendo que as maneiras sugeridas abaixo são uma contribuição eficaz para se conseguir manter o controle e recuperar-se de maneira eficaz das adversidades, principalmente nas competições mais curtas aonde as oportunidades de treinamento são mais escassas e de curta duração.

• Relaxamento – É sugerido que o atleta procure relaxar fisicamente, acalmar-se. É necessário respirar fundo e sentir o corpo se soltar enquanto expira;

• Foco na correção – Sugere-se que o atleta dirija sua atenção para a correção dos erros e não para se aborrecer com eles. Sempre que um erro for cometido, o atleta pode repeti-lo mentalmente e corrigir os erros na sua própria mente antes de tentar novamente. Sempre que o treino for ótimo e sem erros, o atleta pode escrever as razões que foram fundamentais que levaram à ação bem sucedida e com isso ele sedimenta o aprendizado;

• Incentive-se – Sugere-se que o atleta evite dizer coisas do tipo “Seu incompetente, você nunca faz nada certo!” ou “Dessa forma nunca irei conquistar o título mundial”. Todo atleta precisa lembrar que sempre existirão fatos que lhe trazem a memória a informação de que ele consegue sim agir de tal forma bem sucedida e que num momento específico ele somente cometeu um erro, ao contrário de achar e começar a acreditar que tudo está errado em suas ações. Quando o atleta se elogia pelas coisas certas que fez, seu desempenho tende a melhorar sensivelmente.

Preparar-se para reagir da melhor forma às adversidades pode contribuir para um melhor desempenho na próxima partida e ainda contribui de forma eficaz no aumento da confiança de cada um em campo.

Penso que quando ações como as citadas acima estão aliadas com o espírito de equipe, comentado na coluna anterior, tudo torna-se menos complicado e qualquer equipe de futebol pode obter melhorias no seu desempenho individual e coletivo.

Que venha a seleção de Camarões e as demais partidas até a grande final do mundial!

Até a próxima. 

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As primeiras lições da Copa

Apesar de todos os folclores que se propala em torno da FIFA relacionados à Copa, sua imensa lucratividade e seus desmandos sobre a soberania nacional – alguns até verídicos, outros tantos que mais se assemelham a lenda urbana ou oportunismo de terceiros que buscam aparecer indevidamente –, temos que destacar e aprender com a gestão de um evento de excelência que nada mais faz do que proteger a sua marca e as marcas que compartilham com ela a sua presença na Copa:

1) O Cenário: mesmo favorecidos pelas modernas arenas construídas para a Copa, a transformação e a padronização dos estádios permite a criação de um ambiente único que facilmente remete a identificação ao evento. Parece simples mas não é. E vê-se como faz toda a diferença – basta ver as mesmas arenas em atividade em outras competições locais como a atmosfera que é criada é de fato distinta.

2) Os Patrocinadores: pela lente das câmeras percebe-se o cuidado com as marcas dos patrocinadores em painéis de LED de alta definição, que contribuem tanto para a visibilidade destes como a sua integração ao cenário, como comentado no item anterior. Isso torna a comunicação do patrocinador menos agressiva por não “poluir” visualmente o ambiente. Fora das lentes, a participação ativa das marcas na recepção aos torcedores antes da sua efetiva entrada no recinto esportivo com tendas temáticas, entretenimento (ainda que simples – como o Itaú, que montou uma espécie de salão para pintura do rosto dos torcedores com as bandeiras das respectivas seleções – mas que chamam a atenção do público) e lojas com produtos licenciados. Plenamente passível de aplicação dentro da nossa realidade com o intuito de aproximar os patrocinadores do consumidor.

3) O Tempo: o respeito aos horários, tanto de início quanto de intervalo das partidas, assim como a execução dos hinos nacionais, são tão simples mas que fazem uma enorme diferença para quem consome o produto.

Que estes aprendizados, resumidos sinteticamente em três, apesar de haverem tantos outros, sejam minimamente absorvidos para a continuidade futura das atividades do futebol no Brasil. 

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Os mitos fundadores da Modernidade

No início histórico da sua prática, o desporto sempre foi uma regalia, quer da nobreza, quer da burguesia que, na sociedade classista ocupou o lugar daquela, Isto não quer dizer que o burguês do século XIX, nas suas horas de ócio, se tenha convertido no caçador, ou no cavaleiro, como o nobre em largo troço da História.

A sociedade evoluíra; o progresso técnico aumentava; o capitalismo assenhoreava-se, progressivamente (e pela força das armas), do mundo todo – o burguês, mais do que nobre, interessa-lhe passar por gentleman, com uma visão da sociedade, alicerçada no “laissez faire, laissez passer” e procurando semear esta floresta de enganos, donde ressalta a ideia que a democracia participativa e o liberalismo económico sempre coexistem. O Doutor Mário Soares já o disse claramente, no seu livro Dois Anos Depois (Editorial Notícias, Lisboa, 1998, p. 105): “Acrescente-se que não é legítimo estabelecer uma conexão necessária entre economia de mercado e democracia. Se é certo que não há exemplo de democracias plenas, sem economias de mercado (foi a lição que o Mundo tirou do colapso generalizado dos países comunistas) a inversa não é verdadeira, visto que há casos de ditaduras que conseguem obter apreciáveis índices de crescimento económico, pelo menos a curto prazo”.

Mas o Doutor Mário Soares poderia explicitar quais os países onde há “democracia plena”, visto que a democracia económico-social e a democracia participativa e directa não se sabe onde existam, por esse Mundo além. Por isso, a economia está aí ao serviço dos imperativos do mercado e não ao serviço das necessidades de todos e cada um dos cidadãos. A finança desregulamentada trouxe consigo a incontrolada “tirania dos mercados”. E, assim, subordinada à vigilância e à sanção dos mercados, a solidariedade social morre, por maior que seja a boa vontade de alguns governantes.

Como se sabe, os USA são, hoje, o bastião do neo-liberalismo e do famigerado free market global. Ora, a América do Norte é um país marcado e corroído, por insanáveis contradições estruturais. Ao lado do peso crescente dos neo-conservadores e da sua predisposição para uma sociedade classista e para a guerra imperialista (veja-se a guerra do Iraque), a sociedade americana enfrenta, hoje, uma cada vez maior insegurança na economia, que resulta em desemprego e em emprego precário e no aumento espantoso das desigualdades.

Como Le Monde Diplomatique já o acentuou: ”nos USA, o aumento da criminalidade, proveniente do fosso que se vem cavando entre ricos e pobres, faz do Estado norte-americano um Estado carcereiro, ou seja, a população dos condenados a prisão, por homicídios e roubos, cresce assustadoramente”. Ainda que o Sr. Obama porfie em aparentar o contrário. Precisamos, pois, de forma imperiosa e urgente, rever os mitos fundadores da Modernidade, incluindo aquela doutrina da Democracia Representativa, como nova religião, quando sabemos que ela não finda com as desigualdades. Digamo-lo, sem receio: porque os governantes estão, normalmente, ao serviço, mesmo que o não pensem, dos “grandes interesses”, as políticas (uncluindo as desportivas) visam, em primeiro lugar, o lucro e só depois as pessoas. Demais, em total cumplicidade com os governos, a Igreja Católica ainda não varreu da sua doutrina a tese: “Omnis potestas a Deo” (todo o poder vem de Deus), o que leva, sem se dar por isso, à divinização do Poder, aqui e além constituído por verdadeiros adversários da democracia participativa. Aliás, os governos do fundamentalismo islâmico dizem o mesmo, com os resultados que todos conhecemos…

Na Europa, a partir da Idade Moderna, foram o experimentalismo demiúrgico e as revoluções científicas que predominaram, em desfavor das transformações sociais. Mesmo no desporto, o que mais se aplaude não é um verdadeiro desporto-para-todos, decorrente de uma sociedade-para-todos. Mas os recordes e os desempenhos espantosos, grande parte deles empoleirados na prática habitual do “doping”.

É verdade: o desporto que admiramos, embevecidos, é, aqui e além (não sempre, evidentemente) uma verdadeira mentira. Quando, em 1988, o treinador de Ben Johnson (conhecido pelo Químico) asseverou, em pleno tribunal, que a maioria dos atletas norte-americanos competiam dopados, anteviu o que, anos depois, é verdade insofismável: na alta competição, o doping é praticado por muitos atletas que nela participam. De facto, há um esteróide sintético que não só aumenta a massa muscular e reduz a fadiga, mas também ainda é indetetável por qualquer controlo anti-doping. Daí, as vitórias espantosas de alguns atletas, nos Mundiais e nos Jogos Olímpicos!

É preciso rever os mitos fundadores da modernidade… incluindo no desporto. Aceito, com naturalidade, que se recuse, como interpretação verosímil, o que venho de escrever. A sociedade do espetáculo, que é a nossa, queda-se no espetáculo, isto é, no fenómeno, e quase nunca desce à essência. Como canta o poeta: “Ver as coisas por fora / é fácil e vão. / Por dentro das coisas / é que as coisas são”.

 

*Manuel Sérgio é antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia. 

 

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Copa do Mundo: Brasil vs México

Esta semana, Brasil e México disputam a liderança do grupo e quem vencer dará um passo importante para a classificação.

Se não houver vencedor na outra partida do grupo, entre Croácia e Camarões, uma vitória simples de uma das equipes é suficiente para garantir uma das vagas da chave nas oitavas de final da Copa do Mundo.

O México, protagonista contra a seleção de Camarões, apresentou bons comportamentos de jogo que, se aplicados contra o Brasil, podem proporcionar um confronto de sistemas (e não somente de esquemas) bastante interessante. Na sequencia serão discutidos alguns deles:

Organização Ofensiva

 

Em Organização Ofensiva contra a equipe de Camarões, o México abriu o campo e optou pelo jogo construído.

Com passes curtos dos três defensores a bola chegava ao campo de ataque com facilidade, pois a pressão no portador da bola feita pela seleção camaronesa iniciava somente a partir da sua intermediária defensiva.

Para gerar desequilíbrio nas linhas de defesa, Vásquez foi opção de passe para trás para mudar o corredor de jogo e Giovani dos Santos era o principal jogador a receber entre linhas e jogar a um toque.

Os cruzamentos pelo setor direito com Aguilar e as tabelas no corredor central com a participação de Giovani foram, com bola rolando, as ações mais perigosas da equipe de Miguel Herrera.

 

Uma nítida diferença que poderemos observar em relação ao jogo anterior será a linha de marcação da seleção brasileira. Com pelo menos 35 metros mais adiantada do que a de Camarões, fica a expectativa se a seleção mexicana sob maior pressão de espaço e tempo tentará propor o jogo a partir da posse de bola.

Segundo estatísticas da FIFA, Contra Camarões o México trocou quase 600 passes e foi efetivo em 484 (81%).

Outro elemento interessante do jogo, relativo à organização ofensiva mexicana e defensiva brasileira diz respeito aos jogadores que irão pressionar os zagueiros. Se estas regras de ação forem feitas exclusivamente por Fred e Neymar, Oscar e Hulk irão compor as duas linhas de quatro sem bola e dificultar a descida pelos lados de Layún e Aguilar como mostra a figura abaixo:

 

Com o lado oposto negligenciado pela seleção brasileira, correta indução de Fred ao zagueiro portador da bola para não permitir a circulação e o fechamento da linha de passe ao volante central, a Organização Ofensiva mexicana pode ficar encurralada e ser forçada ao passe longo; pouco utilizado no jogo contra Camarões.

Neste caso, o sucesso da fase de construção dos mexicanos dependerá da abertura de linha de passe e da rápida circulação no campo de defesa para, do lado oposto aproveitar a superioridade numérica.

Outra possibilidade para a seleção brasileira é subir a marcação também com o extremo do lado da bola e, dessa forma, tentar forçar o erro adversário e/ou a recuperação da posse no campo de ataque. Para isso, as regras de ação supracitadas geram maiores riscos do lado da bola se não forem corretamente aplicadas:

 

Com mais jogadores no campo de ataque, pode ficar mais difícil para a seleção mexicana realizar a circulação.

Com a pressão do atacante do lado da bola no zagueiro mexicano, provavelmente os laterais brasileiros (também do lado da bola) deverão subir uma linha de marcação para evitar a superioridade numérica do adversário. Caso isso aconteça, abrem-se espaços nas costas dos laterais para diagonais de Herrera, Guardado e Peralta.

Tais movimentações não foram observadas contra Camarões, pois, como mencionado, a seleção africana baixou suas linhas (permitindo cruzamentos e o jogo apoiado na entrada da área).

Organização Defensiva


 

Uma das grandes expectativas em relação à equipe mexicana e seu 1-3-1-4-2 incide no posicionamento sem bola de Aguilar e Layún. Subirão para impedir o jogo de Marcelo e Daniel Alves ou, assim como muitas seleções têm apresentado nesta Copa do Mundo, formarão uma linha de 5 (juntamente com Rafa Marquez, Moreno e Rodriguez)?

A linha de marcação estabelecida contra Camarões foi feita a partir da intermediária ofensiva. Se assim permanecer, alas adiantados no lado da bola deve ser a opção escolhida. Se não quiserem propor o jogo, a segunda opção deverá ser observada. Nas imagens abaixo, as duas opções:

Ala adiantado no lado de bola e ala oposto compondo a linha de defesa

Bloco baixo e a linha de 5 numa proposta mais defensiva

Que Brasil vs México seja mais um dos belos jogos desta Copa! Quais são suas expectativas? Aguardo sua opinião por e-mail.

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Quem joga em casa, afinal?

O Rio de Janeiro foi invadido. Belo Horizonte e Cuiabá também. A primeira rodada da Copa do Mundo de 2014 ainda nem acabou, mas dois aspectos já chamam atenção na competição realizada no Brasil: a presença expressiva de torcedores oriundos de países da América do Sul e o barulho proporcionado por esse público.

Argentina e Colômbia jogaram, respectivamente, contra Bósnia e Grécia, dois times que enviaram menos torcedores ao Brasil para a Copa. Chile e Austrália anunciaram oficialmente o mesmo tamanho de turistas no país do Mundial – cada nação disse ter enviado cerca de 20 mil pessoas. Ainda assim, o grupo de chilenos parecia ser muito mais numeroso e barulhento. O hino nacional cantado à capela na Arena Pantanal não deixou dúvidas.

Mesmo a Argentina, que em tese tem a maior torcida contra na Copa de 2014, jogou contra a Bósnia no Maracanã como se o estádio carioca fosse em Buenos Aires. Tingido de alviceleste, o estádio que abrigará a decisão da Copa de 2014 viu os gritos de apoio aos sul-americanos sobrepujarem com folga o apoio dos locais à seleção da Bósnia.

Em parte, a festa dos sul-americanos no país da Copa se assemelha ao que aconteceu em 2010. Nas quartas de final do Mundial, quando Gana passou a ser o único representante da África, a maioria da população da África do Sul adotou a seleção. Os uruguaios eram minoria absoluta no duelo mais emocionante daquela competição – com direito a pênalti cometido por Suárez no último lance da prorrogação, desperdiçado por Asamoah Gyan, e vitória celeste nos tiros livres.

O ambiente daquele jogou tornou ainda mais monstruosa a vitória do Uruguai. O jogo foi disputado no estádio Soccer City, que recebeu 84.017 espectadores. Os sul-americanos não passavam de mil. Ainda assim, só eles romperam o silêncio que se seguiu o pênalti perdido por Asamoah Gyan.

A diferença entre as Copas de 2010 e 2014 é a relação do público com a seleção local. Na África do Sul, o povo abraçou realmente a equipe local. A despeito de terem sido o primeiro anfitrião eliminado na primeira fase em toda a história dos Mundiais, os sul-africanos foram celebrados e impulsionados pelas arquibancadas durante a campanha.

O Brasil pode repetir nas próximas partidas o que se viu entre os sul-africanos em 2010, mas é pouco provável. A começar pela relação do público local com a seleção canarinho – bem menos passional e entusiasmada. Além disso, há uma questão do comportamento nos estádios: a sede de 2014 não tem vuvuzelas, coreografias para a seleção ou gritos que vão além do “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”.

Vá lá, a estreia do Brasil na Copa de 2014 aconteceu em São Paulo, e o público paulista é historicamente menos entusiasmado com a seleção. Mas não há como não notar o contraste entre o ambiente que cercou a seleção – mesmo com hino cantado à capela pelo público – e o que se viu nos jogos de outros sul-americanos.

O ambiente da Copa do Mundo tem confirmado um dos maiores problemas da preparação do Brasil para o evento: o país gastou mais de US$ 15 bilhões para receber a competição, mas investiu pouco em comunicação.

Esse é um dos grandes motivos, por exemplo, das vaias a diferentes políticos brasileiros em estádios da Copa – o caso que repercutiu mais, evidentemente, foi o da presidente Dilma Rousseff, que ouviu apupos e xingamentos no Itaquerão durante a abertura da Copa. Não tenho pretensão de discutir os motivos sociológicos ou o que representou politicamente o comportamento do público – muitas pessoas já fizeram isso –, mas esse é um exemplo de um ambiente que não estava totalmente comprometido com o jogo.

Os torcedores que vaiam e xingam políticos podem não ser os mesmos que reclamam por Neymar usar cueca com publicidade nos jogos ou reatar um namoro às vésperas da Copa, mas é curioso que o comprometimento dos atletas seja monitorado por um público que não é exemplo de entrega ou relação apaixonada com a seleção.

Os brasileiros podem até festejar vitórias, reunir famílias e sofrer com os jogos da equipe nacional, mas a questão aqui é outra: quanto eles representam de apoio nos estádios? Quanto é possível sentir que a seleção canarinho joga em casa?

Até aqui, a Copa de 2014 criou um enorme ponto de interrogação sobre isso. Por não ter usado estratégias simples de comunicação e por não ter trabalhado para construir um ambiente favorável, o Brasil corre o risco de ser forasteiro numa competição jogada em casa.

E aí não adiantam narrações ufanistas ou coberturas midiáticas que tentam mascarar problemas. O Brasil tem pontos positivos, é claro, mas as coisas ruins sempre chamam mais atenção. É assim em qualquer lugar e em qualquer evento.

A questão é que uma comunicação adequada poderia amenizar isso. Ou poderia ao menos criar um ambiente mais favorável para a seleção brasileira. A Copa de 2014 já serviu para torcedores locais mostrarem que sabem festejar e sabem ser acolhedores. Só ainda não serviu para mostrar que eles sabem ser uma torcida verdadeiramente impactante. 

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Informação para vencer: a Copa do Mundo Fifa de Futebol

O fenômeno da Globalização fez com que nas últimas duas décadas as fronteiras do conhecimento e da informação quase que desaparecessem.

Tudo que demorava para viajar de um lado para o outro do planeta passou a ficar disponível de um minuto ao outro.

No futebol, muito proveito pôde e pode ser tirado disso.

Envolvidos com ele em diferentes níveis, com diferentes objetivos e em distintas áreas de atuação puderam organizar processos de captação da informação, e fazer do tratamento dela, combustível para manter a competitividade no mercado.

Dentro do jogo propriamente dito, a “queda das fronteiras” deu possibilidade para evolução do jogar, profundidade para as propostas organizacionais e estratégicas de treinadores e equipes, e acima de tudo passou exigir dos envolvidos maior dedicação, perícia e cumplicidade com o trabalho e com o conhecimento.

O arsenal tecnológico para obtenção de dados e informações de jogadores, treinadores, equipes e árbitros por exemplo, permitiu (e vem permitindo) ao longo das duas últimas décadas um entendimento sobre o jogo, que antes, não se imaginava como possível ter.

Quando antes tínhamos ideias sobre distâncias percorridas e suposições sobre tipos de deslocamentos de jogadores e equipes em campo, hoje temos um Raio-X (ou melhor, uma “Ressonância Magnética”) do comportamento físico-fisiológico-bioquímico-biomecânico, técnico-tático-cognitivo, psicológico-sociológico capaz de “destrinchar” e “intervir” sobre detalhes inimagináveis do jogo.

A queda da fronteira do conhecimento lançou todo o Mundo a um novo nível, a um novo paradigma, onde o trato com a informação e com sua aplicação e aplicabilidade exigiu, e continua a exigir também uma habilidade maior.

E novos conhecimentos levam a outros novos conhecimentos, que levam a novas exigências!

Vencer e estar em primeiro lugar nesse contexto significa ou “largar na frente”, ou aumentar a capacidade e a velocidade de receber e tratar das informações.

O planeta está vivendo mais uma vez uma Copa do Mundo FIFA de futebol.

Seleções muitas vezes, mais “estrangeiras” do que “nacionais” em suas composições nunca souberam como hoje como se armar ou como se preparar para enfrentar seus adversários!

A maioria das principais seleções tem um “staff” de analistas de desempenho, membros de comissão técnica, supervisão, coordenação e logística maior do que o próprio número de jogadores que foram convocados.

Pessoas que muitas vezes nem aparecem, mas que contribuem decisivamente para o melhor desempenho de suas equipes.

Ter mais informações, interpretá-las mais acertadamente, saber melhor o que fazer com elas, olhar para a direção correta…

Para estar à frente não se trata mais de onde buscar a informação somente… Ela está por aí, e os recursos para obtê-la e tratá-la também estão à disposição.

Para estar à frente é necessário que as perguntas certas sejam feitas!

Então, hoje no futebol globalizado, saber o que perguntar pode ser determinante para o sucesso!

E com a resposta, saber operacionalizá-la pode ser decisivo!

Por isso na Copa da Informação e da Tecnologia, é possível, que tenham mais chances (e não menos dificuldades) de chegar longe, aqueles países (seleções) que tratarem de todo processo, da maneira mais eficaz!

E como o tempo de preparação é relativamente pequeno para uma Copa do Mundo FIFA de futebol – levando em conta especialmente que na maior parte dos casos, jogadores da mesma seleção vêm de um grande número de times distintos (que jogam de maneiras diferentes) – é preciso entender que a definição de estratégias e a operacionalização prática da informação depende, depois das perguntas certas, do lastro geral complexo atualizado de jogadores e equipe.

Isso quer dizer, em outras palavras, que na Copa do Mundo da Informação e Tecnologia, não basta a melhor captação de informação, e tão pouco somente saber fazer as perguntas corretas e/ou ter os melhores atletas.

É necessário que se conheça a fundo sobre a experiência prévia dos jogadores e da equipe com determinados conteúdos, conceitos e práticas – e a partir daí conceber estratégias, meios e métodos para operacionalizar a informação.

O desempenho de uma equipe só será maior do que a soma dos desempenhos individuais dos jogadores que a compõe, se todo o processo que determina sua formação, estiver constantemente adequado as suas peculiaridades (dos indivíduos e do Todo).

Em uma Copa do Mundo de futebol, alguns erros organizacionais de jogo podem ser comuns, esperados e até aceitáveis, em se tratando de seleções nacionais e não de times disputando um campeonato nacional.

Por isso, entender o trato da informação, bem como o processo que a transforma em seu final, nos treinamentos (ações pedagógicas) – que modularão comportamentos coletivos e individuais para a formação de uma equipe – pode não só, evitar que os erros “não esperados” não aconteçam, como também minimizar a incidência daqueles “comuns” que poderiam vir a ocorrer.

Por hoje é isso…

Na semana que vem, o primeiro texto da Série “A Tática na Copa”…

Até lá…
 

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Copa do Mundo: condições de acesso dos torcedores

Milhares de torcedores frequentarão os estádios nas 64 partidas da Copa do Mundo e para tanto é importante saberem que há requisitos a serem seguidos para acesso e permanência nos locais dos eventos esportivos.

O Estatuto do Torcedor estabelece as regras para as competições nacionais, a saber:

– estar na posse de ingresso válido;

– não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência;

– consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança;

– não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo;

– não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos;

– não arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto esportivo;

– não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos ou produtores de efeitos análogos;

– não incitar e não praticar atos de violência no estádio, qualquer que seja a sua natureza;

– não invadir e não incitar a invasão, de qualquer forma, da área restrita aos competidores

– não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros fins que não o da manifestação festiva e amigável.

A Lei Geral da Copa, por seu turno, traz em seu art. 28, as condições de acesso e permanência para os jogos da Copa do Mundo, veja:

– estar na posse de Ingresso ou documento de credenciamento, devidamente emitido pela FIFA ou pessoa ou entidade por ela indicada;

– não portar objeto que possibilite a prática de atos de violência;

– consentir na revista pessoal de prevenção e segurança;

– não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, de caráter racista, xenófobo ou que estimulem outras formas de discriminação;

– não entoar xingamentos ou cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos;

– não arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto esportivo;

– não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos ou produtores de efeitos análogos, inclusive instrumentos dotados de raios laser ou semelhantes, ou que os possam emitir, exceto equipe autorizada pela FIFA, pessoa ou entidade por ela indicada para fins artísticos;

– não incitar e não praticar atos de violência, qualquer que seja a sua natureza;

– não invadir e não incitar a invasão, de qualquer forma, da área restrita aos competidores, Representantes de Imprensa, autoridades ou equipes técnicas; e

– não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros fins que não o da manifestação festiva e amigável.

Pela leitura dos dois dispositivos percebe-se que a redação é praticamente a mesma, com pequeníssimas alterações mais de ordem técnica do que de ordem prática, sendo que, durante a Copa do Mundo, deve-se respeitar o que estabelece tanto a Lei Geral da Copa, quanto o Estatuto do Torcedor.

Importante destacar que o descumprimento do que estabelece a Lei Geral da Copa ou o Estatuto do Torcedor além de impedir o ingresso no recinto esportivo, ou, se tiver ingressado, afastar o torcedor, poderá implicar em responsabilidade civil e até criminal.

Portanto, torcedor, faça a festa nos estádios, mas esteja atento às normas de acesso e permanência para evitar que a alegria se transforme em problemas. 

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Hora do espírito de equipe

Hoje será iniciada mais uma Copa do Mundo e desta vez a competição será no Brasil.

Só pelo simples fato da Copa ser em nosso país já significa pressão maior em nossos atletas que disputarão o mundial. E aqui compartilho a importância de cultivar o espírito de equipe em qualquer seleção que almeje ter um bom desempenho na curta disputa.

Sabemos que no esporte coletivo não se ganha nada sozinho e que uma grande meta que as equipes devem ter é justamente não prejudicar o do desempenho individual dos membros. Conquistar essa mete na verdade significa que cada atleta deve fazer seu trabalho da melhor forma possível e deixar que os demais façam o trabalho deles também da mesma maneira.

Terry Orlick, em seu livro Em Busca da Excelência, comenta sobre algumas sugestões dos próprios atletas para que se promova a interação positiva entre os atletas de uma mesma equipe:

• Conheça bem seus companheiros;
• Converse com os companheiros;
• Ouça seus companheiros;
• Evite as críticas destrutivas;
• Incentivem-se mutuamente.

Podemos compreender que uma equipe só será realmente uma equipe na prática se todos os atletas atuarem como uma verdadeira equipe. E como isso é possível? As dicas a seguir podem contribuir para este verdadeiro espírito de equipe se estabelecer.

Sigas as melhores práticas de concentração, como por exemplo:

• Concentre-se nas oportunidades e não nos obstáculos;
• Concentre-se nos aspectos positivos e não nos negativos;
• Concentre-se em apoiar os outros e não em criticá-los destrutivamente.

Busque a excelência pessoal, como por exemplo:

• Decida ser melhor, como atleta, companheiro de equipe e pessoa;
• Lidere pelo exemplo;
• Assuma um compromisso de aprendizado e melhoria contínua.

Estimule e apoie seus colegas de equipe, como por exemplo:

• Lembre-se de que todos os membros da equipe desejam vencer;
• Estimulem seus colegas de equipe a serem tudo que podem ser.

Tenha prazer em sua atuação, como por exemplo:

• Aprecie os prazeres simples e as oportunidades que surgem todos os dias;
• Saiba se alegrar com os menores passos e os sucessos aparentemente simples;
• Reserve um tempo para descansar e se recuperar;
• Ajude seus companheiros a manterem a paixão pela busca do sucesso.

Então amigos leitor, chegou a hora! Que a seleção brasileira possa exercer em campo e fora dele seu espírito de equipe e que com isso eles possam conquistar mais um título mundial de futebol para o Brasil!

Até a próxima!
 

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A Copa pede passagem

Véspera de Copa do Mundo e o clima começa a esquentar em torno da expectativa do maior evento esportivo da principal modalidade do planeta. E a sensação que fica no ar tem relação com um sentimento coletivo que mistura um “poxa, poderíamos ter aproveitado melhor esse clima agradável de receber o mundo no Brasil” com “será que não fomos duros demais com a Copa?” ou até aqueles que devem estar pensando: “conseguimos melar um pouquinho a festa”.

Apesar das gírias e contraposições, esta percepção passa pela compreensão de três enfoques que não poderiam deixar de ser citados em razão de todo o contexto que foi criado em torno da Copa do Mundo:

1) Da política: de fato, a discussão que se aflorou nos últimos 18 meses sobre a responsabilidade dos gastos públicos é um dos primeiros indícios do fortalecimento da nossa democracia. Há um longuíssimo caminho para percorrer neste sentido, ainda. Existem inúmeras barreiras culturais e sociais que precisam ser derrubadas para fortalecer a política enquanto instituição respeitável. Apesar de tudo o que ocorreu em relação aos gastos com os estádios (sendo seguidos por comentários tanto de “rebeldes sem causa” como de outros que apresentam bons argumento, com alguma razão e ponderações bem estruturadas), fica a primeira semente para debatermos com melhor consciência tudo o que se trata de gestão de recursos públicos, que é o grande mal que assola o desenvolvimento do Brasil. Mesmo com as suspeitas, a Copa pode ter contribuído para que este assunto não saia mais da pauta de todos os grandes noticiários e veículos de imprensa do país.

2) Da gestão: por ora encabeçado pelo Poder Público (as Sedes e o respectivo amparo Municipal e Estadual, somado aos subsídios federais), os donos de estádios (públicos e/ou privados), o Comitê Organizador Local e, naturalmente, a própria FIFA. A sensação de que poderíamos ter administrado melhor as expectativas de cada stakeholder e as respectivas entregas para a população. Apesar da visão minimalista de alguns críticos sobre um processo tão complexo, fica o aprendizado de que a gestão do esporte no Brasil ainda precisa melhorar muito para se ter a clara compreensão do “fenômeno” que são os grandes eventos. Somado a isto, o nosso desejo por um futebol melhor no Brasil ainda não virá de forma consistente no 2º semestre de 2014, como sonhávamos em 2007 quando o Brasil foi escolhido sede da Copa. Mas seguirá também seu caminho (lento mas) evolutivo até o final desta década, tendo agora parâmetros sobre o que é uma entrega com qualidade para torcedores, patrocinadores e mídia.

3) Da Copa: que, apesar de depender das duas primeiras, na sua essência, não tem nada a ver com isso. É verdade!!! Esse clima “bacana” de Mundial, em que jogadores alemães dançam com índios, craques da Holanda visitam o Cristo e mergulham no mar de Ipanema e estrelas inglesas visitam a Rocinha são a cara do evento. Os pequenos gestos e símbolos de um megaevento, tal e qual víamos de longe e na madrugada direto da Coréia/Japão em 2002, ou nas Copas subsequentes na Alemanha e na África do Sul, cada qual com características únicas e marcantes, formam um conjunto verdadeiramente diferente de tudo aquilo que estamos acostumados a falar, imaginar e vivenciar. É o evento em que os astros milionários se mostram mais “humanos” aos olhos do senso comum. É a relação de sonhos divididos entre seleções poderosíssimas com outras de menor expressão, encontrando o ponto comum que as tornam únicas simplesmente pelo fato de celebrarem um acontecimento ímpar com o mundo.

Todos os inúmeros mitos e valores intangíveis da Copa do Mundo que foram sinteticamente descritos no item três foram acobertados pelos dois primeiros, infelizmente. A expectativa gostosa de viver uma Copa do Mundo se aproximando meses antes foi minimizada por todos estes fatos já enormemente narrados por inúmeros veículos de comunicação (sensacionalistas ou não), embora ainda existam muitos temas que não foram totalmente esgotados da agenda evolutiva que o Brasil necessita.

Apesar de tudo, como estamos em um país democrático e, portanto, deve respeitar também os mais de 70% da população que tem o futebol como sua modalidade preferida, que nos reservemos o direito de aproveitar aquele que, talvez, será o único mundial de futebol que vivenciaremos de fato em nosso país – digo isso tendo em vista a minha geração.

A efervescência da Copa não é feita apenas pelos 22 jogadores que entram em campo, mas também, por todo o clima positivo que é gerado em seu favor. E vale lembrar que este é um ano importantíssimo para as mudanças do país – elas ocorrerão no dia 03 de outubro, independente do Brasil ser hexacampeão ou não!!! 

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Clima de Copa

Morumbi, 6 de junho. A seleção brasileira enfrenta a Sérvia no último amistoso de preparação para a Copa de 2014. Uma semana antes de abrir a competição contra a Croácia, na mesma São Paulo. Até por isso, o jogo é lento no primeiro tempo. E a torcida da capital paulista, conhecida por ser exigente, vaia o time nacional. Vaia. Uma semana antes de a equipe local sediar um Mundial pela primeira vez desde 1950.

O clima de São Paulo sintetiza muito do que o Brasil tem vivido às vésperas da Copa do Mundo de 2014. Na semana que precede o evento, a cidade tem vivido um caos por causa de uma greve dos metroviários. Marco Polo del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) e futuro mandatário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), minimizou a situação: “Se tiver greve até o dia da abertura da Copa, vamos de carro”.

Em junho de 2013, os protestos populares foram uma das principais marcas da Copa das Confederações realizada no Brasil. Não deve ser diferente em 2014, e a Copa do Mundo deve servir como mote para uma série de manifestações.

Grandes eventos atraem isso. É normal que algo do tamanho da Copa do Mundo seja cercado por manifestações que tentam aproveitar de forma lícita os holofotes. Foi assim com a Copa da África do Sul, em 2010. Foi assim nos Jogos Olímpicos de Londres-2012.

O caso no Brasil não é a existência de protestos. O caso é que uma manifestação realizada em São Paulo no último fim de semana, o penúltimo antes da Copa, tinha cartazes contra Ronaldo, maior artilheiro da história dos Mundiais e membro do Comitê Organizador Local (COL) de 2014.

A despeito de ser um dos responsáveis por colocar a Copa de pé, Ronaldo já admitiu que está “com vergonha”. Também disse, em sabatina do jornal “Folha de S.Paulo”, que “a Fifa está arrependida” e que “jamais veremos outra Copa por aqui”.

As manifestações populares não são causadas pela Copa. Não podiam ter sido evitadas e não podem ser reduzidas a oportunismo. Para entendê-las é necessário entender de forma mais abrangente a população brasileira. As vaias para a seleção brasileira, as críticas de Ronaldo e as reações às declarações dele, contudo, refletem um dos maiores problemas do Mundial no Brasil: a ausência de um plano de comunicação competente.

O público não vaiou a seleção brasileira apenas porque o jogo contra a Sérvia estava empatado por 0 a 0 ou porque reprovou a atuação da equipe nacional. Vaiou porque houve um distanciamento entre torcida e time, e isso foi causado, entre outras coisas, por uma sensação de “não pertencimento”. É como se as pessoas que estão na arquibancada não fizessem parte da Copa.

Talvez seja esse um dos motivos de existir uma sensação geral de que não há clima de Copa no Brasil até agora. Estou em Cuiabá para acompanhar a primeira fase da competição, e aqui apenas o comércio tem qualquer alusão ao evento. Com exceção de alguns carros decorados, é difícil imaginar que a cidade sediará a principal competição esportiva do planeta.

Quando o Brasil recebeu a Copa do Mundo de 1950, a TV ainda engatinhava. A internet não era sequer um sonho distante. Portanto, o torneio deste ano será o evento mais midiático da história do país. Nunca os olhos do mundo estiveram tão voltados para cá.

O risco que o Brasil corre é não conseguir aproveitar isso. Sem o tal “clima de Copa” e sem ensinar à população local a importância do evento, a competição pode ser apenas um torneio de futebol. Com um plano adequado, há potencial para muito além disso.

A Copa pode ser um sucesso a despeito dos protestos populares, ou pode ser um fracasso também por causa deles. O fato é que, sem uma estratégia de comunicação para todo o evento, toda a sorte da organização está nas mãos do que acontecer dentro de campo.

E o problema não é apenas organização. O Brasil está atrasado, e muitas das obras que o país havia planejado para a Copa simplesmente não vão ficar prontas. A discussão aqui é sobre a comunicação de um evento.

Nos Estados Unidos, a liga profissional de basquete (NBA) teve casos bizarros neste ano. Nos jogos de playoff em San Antonio, houve registros de uma cobra nos vestiários e de falha no ar condicionado. A organização de um evento pode falhar em qualquer lugar do planeta.

Agora, tente ir a qualquer lugar dos Estados Unidos e perguntar quais são os times que disputam a decisão da NBA. Tente perguntar as datas dos jogos. Tente perguntar os locais. A promoção é o primeiro aspecto que diferencia a cultura deles e a nossa.

Esse é um dos principais problemas que cercam a Copa do Mundo de 2014. O evento ainda nem começou, mas o Brasil já dá claros sinais de que não saberá explorar todo o potencial. O que fazer com audiência e com os turistas? O que fazer com as pessoas que conhecerão o país? O que fazer com o dinheiro arrecadado?

Até 1990, a Copa do Mundo era disputada em poucas sedes e concentrava os jogos em regiões do país-sede para facilitar a logística. Isso mudou em 1994, nos Estados Unidos, e a competição foi “nacionalizada” para fomentar viagens internas dos turistas.

A Copa do Mundo de 2014 terá 12 sedes. Foram quase 3 milhões de ingressos vendidos. E qual é o incentivo que um turista que chega a Salvador, por exemplo, tem para visitar outras capitais? Qual é a comunicação que alguém recebe em Porto Alegre para conhecer Curitiba ou Natal?

A Copa do Mundo ainda não começou, mas o Brasil já tem em andamento um jogo extremamente complicado. O placar está adverso, e uma virada parece extremamente improvável. Não há nem clima para isso.