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A união faz a força?

Estabelecer padrões para discursos é uma das tarefas mais complicadas de qualquer organização. É fundamental que os porta-vozes reflitam não apenas unidade entre si, mas adequação com valores e metas da marca que eles representam. E tudo isso sem que eles pareçam pasteurizados ou falsos.

Nos últimos dias, o jogador Paulo Henrique Ganso e o técnico Muricy Ramalho têm oferecido vários exemplos disso. Eles não chegaram a discutir, mas mostraram que falta unidade ao discurso do São Paulo.

Por exemplo: em tom de brincadeira, Muricy cobrou Ganso publicamente no fim de fevereiro. O técnico comparou o time atual com o da época em que ele era jogador e disse que era melhor do que todas as opções de hoje.

“Neste time eu pegava [a camisa] oito e jogava o resto pra cima. Era uma distância enorme para o Ganso, e vocês não precisam ter dúvida disso”, disse o técnico do São Paulo em entrevista coletiva.

Questionado sobre as declarações, Ganso tergiversou e tentou contemporizar. Mas esse foi apenas o primeiro episódio de desacordo entre o meia e o treinador.

Ganso foi sacado do time titular que empatou por 2 a 2 com o Coritiba em jogo válido pelo Campeonato Brasileiro. E respondeu com a seguinte autoanálise: “Não tem no Brasil hoje um jogador que faça a mesma função que eu. Eu sei que eu sou um dos melhores armadores que nós temos”.

Quando Ganso entrou em campo, o São Paulo perdia por 2 a 1. Autor da assistência para Ademilson empatar, o meia criticou em entrevista coletiva o sistema tático que o time paulista adotou no início da partida.

“Aqui não tem Pato e não tem Ganso, mas tem grupo. Não são apenas 11, mas 30 que jogam”, respondeu Muricy no mesmo dia.

No último domingo, a relação conturbada entre técnico e camisa 10 teve mais um capítulo. Muricy evitou fazer elogios a Ganso, um dos destaques em um empate por 1 a 1 com o Corinthians, e enalteceu o desempenho coletivo.

“É o que ele tem de fazer, mas precisa participar mais. É a função dele. É quem faz a ligação”, opinou Muricy.

Ganso, em contrapartida, mostrou-se satisfeito com a atuação e preferiu dizer que o São Paulo precisa evoluir na parte coletiva: “Se queremos chegar ao título, temos muita coisa para crescer. Temos de rodar a bola, achar os espaços e fazer os gols”.

Ainda no clássico contra o Corinthians, Muricy invadiu o campo logo depois do apito final. O técnico correu na direção do meia-atacante Boschilla, cria das categorias de base do São Paulo, e vociferou reclamações. “Aqui não é Cotia”, disse o treinador em alusão à sede do centro de treinamento do futebol amador tricolor.

Muricy criticou Boschilla por desatenção e falta de compromisso com a parte tática. E só foi contido quando Ganso interveio e retirou o jogador da discussão. “Eu afastei o Boschilla para que eles pudessem continuar a conversa no vestiário”, relatou o camisa 10.

Em menos de dois meses, Ganso e Muricy discordaram publicamente sobre o esquema tático do time, a participação do meia, o nível de evolução da equipe e até o melhor ambiente para uma bronca em um jogador mais jovem.

Se tivessem sido no vestiário, longe dos holofotes, essas conversas entre jogador e técnico podiam ter sido importantes para estabelecer um meio-termo e ajudar no desenvolvimento da equipe. Do jeito que elas ocorreram, só conturbaram o ambiente.

Aí é que entra o desafio da comunicação: é importante que os discursos não sejam pasteurizados, mas esse nível de dissonância só cria repercussão ruim.

É por isso que grandes corporações têm departamentos de comunicação ativos, que não apenas planejam o que e quando aparecer na mídia. Esses setores também trabalham internamente para a criação de culturas unificadas e adequadas aos valores da instituição.

Isso é mais nítido em empresas que fazem grandes aquisições. O Grupo Pão de Açúcar fez um trabalho para mostrar a funcionários do Extra, por exemplo, quais são os valores da empresa, por que cada procedimento é adotado e por que o discurso deve seguir um padrão determinado.

A Hypermarcas, empresa acostumada a fazer aquisições, tem uma equipe apenas para garantir que as companhias absorvidas poderão se alinhar ao pensamento da corporação.

Ganso e Muricy são apenas um exemplo do quanto isso faz falta no futebol. A Fifa e o Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014 também são: trocas públicas de acusações e recados velados de ambas as partes.

É aí que entra a necessidade de um planejamento de comunicação que não pode ser apenas refratário. De uma forma geral, a cultura de atendimento a profissionais da imprensa já evoluiu drasticamente no futebol. A cultura de veículos oficiais também. O que falta é um trabalho institucional.

Luiz Felipe Scolari parece fazer isso de forma empírica com a seleção brasileira. Em 2002 e no time atual ele criou ambientes de “família”, colocou valores coletivos acima das metas individuais, trabalhou com objetivos claros e mostrou comprometimento com quem faz parte do grupo. São estratégias claras para a formação de um ambiente coeso.

Scolari tem muito a ensinar a times de futebol no Brasil. Na comunicação, principalmente. 

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Violência no futebol: mais do mesmo

Na última semana um torcedor morreu, no Recife, depois de ter sido atingido por um vaso sanitário arremessado durante uma briga de torcidas depois da partida entre o Santa Cruz e o Paraná, válida pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Duas privadas foram retiradas do banheiro, e atiradas de uma altura de 20 metros.

Ou seja, mais uma morte… mesmos discursos… e mesmo resultado… nenhuma medida efetiva.

Impressiona o fato de, ainda, debatermos temas superados em outros países como Inglaterra, Espanha e Estados Unidos.

Exemplos de sucesso no combate à violência pululam pelo mundo a fora, mas aqui no Brasil tentam “descobrir a roda” ao invés de se buscar um estudo das medidas implementadas em outros países.

Enquanto nosso Ministro dos Esportes vem a público explicar a violência, o presidente do Coselho Superior dos Esportes (CSD) (equivalente na Espanha), o advogado Miguel Cardenal, quando indagado sobre o clássico madrilenho que decidirá a Uefa Champions League, destacou que a Espanha é "un modelo en seguridad" na organização de grandes eventos esportivos.

Este paralelo demonstra o estágio de desenvolvimento de cada país.

Enquanto ainda nos preocupamos com torcidas organizadas e bebidas alcoolicas, Espanha e Inglaterra procuram as causas reais da violência a as atacam individualmente sem apontarem vilões.

Há uma série de medidas simples já adotadas com sucesso em outros países que sequer são aventadas no Brasil.

Na Europa, as pessoas que cometem atos de violência são realmente punidas e estes casos tronam-se exemplos a fim de desestimularem outros torcedores.

Ademais, ocorreu uma profunda remodelação de todos os estádios a fim de se conferir melhores condições de conforto e segurança.

Isso sem falar na facilitação na compra de ingressos, na criação de uma polícia especializada, altamente qualificada e competente para lidar com as demandas dos torcedores e nas campanhas educativas.

O “Report Taylor” (Inglaterra), a Legislação espanhola e os regulamentos das Ligas Profissionais Norte Americanas estão aí, basta estudá-las e adaptá-las à nossa realidade.

Enquanto isso, infelizmente, continuaremos comentando e relatando novos casos de violência no desporto brasileiro. 

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O bem-estar do atleta

Começa mais um campeonato brasileiro se inicia e alguns clubes começam a sentir os efeitos da troca recente da sua comissão técnica e isso não será um luxo destes, pois ao longo do campeonato será inevitável que outros clubes troquem de comando à beira do campo.

Ao contrário do que eventualmente pensamos, os atletas sentem e sentem muito toda essa mudança constante e aumento de pressão por resultados a cada novo ciclo que se inicia pela mudança instalada. E se assim funciona, fica uma dúvida: como podemos contribuir para a manutenção do bem-estar do atleta nos diversos momentos de turbulência de uma temporada?

Compartilho com você leitor a teoria do bem-estar de autoria do Psicólogo Martin Seligman, na qual ele nos ensina que esta teoria é essencialmente uma teoria da livre escolha, sendo composta por cinco elementos que abrangem as coisas que as pessoas livres podem escolher.

Estes cinco elementos são:

• Emoção positiva – esta emoção é a base da teoria do bem-estar, trata-se da sensação de felicidade e satisfação com a própria vida, podemos traduzi-la como o prazer, o conforto, a alegria que sentimos e identificamos como felicidade;

• Engajamento – é quando nos envolvemos tão plenamente numa atividade e ponto de perdermos a noção do tempo;

• Sentido – Refere-se à quando nos dedicamos a causas maiores do que nós mesmos;

• Relacionamentos positivos – Nos cercarmos de pessoas é um ótimo antídoto para lidar com os problemas da vida, muito poucas coisas positivas são solitárias. A prática da bondade produz um aumento momentâneo em nosso bem-estar maior do que qualquer outro exercício que já foi testado.

• Realização – Por mais que o caminho até o sucesso e a vitória seja árduo, todos continuam buscando avançar até seus objetivos por causa da sensação de compensação em conquista-los. A realização envolve engajamento, traz emoções positivas e pode contribuir com um sentido à vida.

Nenhum destes elementos de maneira isolada promovem o bem-estar, porém todos contribuem de maneira conjunta para ele. Para a vida de um atleta o bem-estar é de tanto valor, quanto para a vida de qualquer outra pessoa.

No livro Florescer, Martin Seligman apresenta dois exercícios muito valiosos para promover a melhora no bem-estar das pessoas que acredito sem valiosos também para os atletas.

Um dele é o simples exercício da gentileza, no qual sugere que uma pessoa sendo atleta ou não, encontre uma coisa totalmente inesperada a fazer e que traga um impacto positivo para outras pessoas. Faça esta ação no dia seguinte e observe o que acontece instantaneamente com seu humor.

Outro exercício, muito valioso também é a visita da gratidão! Este é muito importante, pois a gratidão tem o poder de tornar nossas vidas mais felizes e satisfatórias. Quando sentimos gratidão, nos beneficiamos da lembrança agradável de um acontecimento positivo em nossa vida. Aqui o mais legal deste exercício, quando expressamos nossa gratidão aos outros, fortalecemos nosso relacionamento com as outras pessoas e a sensação de expressar gratidão de forma atenciosa e intencional tem um enorme poder de contribuir para o nosso bem-estar.

Cada atleta geralmente possui alguma ou algumas pessoas que foram de grande importância em suas vidas para que se tornasse atletas profissionais e a prática deste exercício pode contribuir diretamente com a vida do atleta em momentos de turbulência ou dificuldade.

Deve-se fazer o seguinte:

• Feche os olhos e traga à sua mente o rosto de alguém ainda com vida que anos atrás tenha feito ou dito algo que mudou sua vida para melhor; alguém que você não tenha agradecido da maneira que gostaria e que você pudesse encontra-la frente a frente nas próximas semanas;

• Escreva uma carta de gratidão à esta pessoa e entregue-a pessoalmente. A carta precisa ser concreta, com declaração específica sobre o que ela fez por você e como isso afetou sua vida. Deve relatar ainda o que você faz agora na vida e mencionar que se lembra com frequência do que ela fez por você.

• Ligue para a pessoa e marque uma visita, agora o exercício fica ainda mais poderoso caso faça uma visita de surpresa. Caso a pessoa more distante, ligue sem motivo aparente e diga a essa pessoa que deseja ler uma carta que escreveu para ela.

• Quando chegar o momento leia a carta para a pessoa, perceba suas reações e se ela o interromper diga-lhe que deseja ler a carta até o final.

• Ao terminar conversem sobre o conteúdo da carta e dos sentimentos que sentem um pelo outro. Você verá que é uma experiência sensacional!

Toda vez que relembro deste exercício, penso no benefício que ele traz e como os atletas poderiam se beneficiar desta experiência para poderem enfrentar seus momentos difíceis.

E você amigo leitor, que tal escrever uma carta hoje? 

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Não há nada de novo no futebol

Não raro, ouvimos isso no ambiente futebolístico brasileiro.
Concordo em parte!
Se considerarmos que as 17 regras continuam sendo as mesmas, apesar das novas determinações que ocorrem ano a ano; ainda são onze jogadores de cada lado; o número de substituições permanece inalterado há muito tempo; os pés e a cabeça são as principais ferramentas de manejo da bola, apenas o goleiro tem o privilégio de usar as mãos; noventa minutos, mais os acréscimos, continuam sendo o tempo de cada jogo. Tudo isso, e mais alguma coisa, realmente permanece sem mudanças. Agora, se partirmos para outra esfera de entendimento deste jogo, teremos vários quesitos em evolução a considerar.
O jogo hoje é mais rápido e mais tático. Nestes dois pontos se aglutinam as respostas das grandes transformações do jogo, quando comparado a trinta anos atrás. E se considerarmos o treinamento Ah! O treinamento! Quanta coisa interessante! Novas metodologias de treinos estão pipocando no “mundo da bola”. E são justamente estas novas formas de treinar, e o modo de interferência dos treinadores, os grandes responsáveis pela evolução do jogo atual. Somente aqueles diretamente envolvidos neste universo, os membros das comissões técnicas, podem detectá-lo, entender e atuar com ciência.
Pensando bem, e divagando um pouco, o bolo que a mamãe fazia, quando éramos pequenos, continua sendo o mesmo apesar da batedeira de bolos e da mudança na qualidade de alguns ingredientes. Mas, ainda assim, quando esquecemos alguma das técnicas de confecção daquele bolo ou um de seus ingredientes, apesar da batedeira, não fica igual ao de antigamente.
Com o jogo é mais ou menos a mesma coisa. Apesar dos componentes táticos e físicos que o incrementaram, é preciso respeito aos princípios que o forjam para continuar sendo o bom jogo de antigamente.
Tenho que admitir que construir um jogo bem jogado é mais trabalhoso que confeccionar um bolo. Mas a analogia é perfeita para não perdermos o fio da meada.
Quanto aos muitos “fazedores de bolos” e construtores de jogo atuais que não sabem a “receita”, negligenciam na inclusão ou dosagem dos ingredientes, ou ainda aplicam técnicas erradas, estes precisam se reciclar!
Dentre os princípios táticos básicos para a construção do jogo incluem-se os seguintes: compactação / posse de bola / jogadas pelos três corredores do campo / fair play / intensidade / ofensividade / táticas inteligentes de marcação / transições competentes /dentre outros.
As técnicas para a construção do jogo estão diretamente relacionadas à metodologia de treinos: como treinar para construir um jogo de futebol com as argumentações táticas relacionadas acima?
As propriedades que regem o jogo moderno são as mesmas de muitos anos atrás, apesar de ter ficado mais rápido e tático. Em decorrência da Copa do Mundo ser em nosso país, estamos tendo a oportunidade de ver muitos vídeos de jogos antigos nas TVs brasileiras. As edições dos vídeos são aceleradas, é verdade, mas percebemos muitas semelhanças com os jogos atuais. Isso nos induz a pensar que algo no ambiente do futebol brasileiro alterou a construção e a plástica dos jogos.
Hoje, somos mais exigentes enquanto torcedores; a mídia está mais competitiva, o que faz a guerra e ou pressa pela informação, informar mal em muitas ocasiões. O modelo político- administrativa dos clubes e federações não mudou apesar do grande desenvolvimento em várias áreas esportivas; os técnicos continuam não sendo profissionais regulamentados, dentre outros aspectos. Ou seja, alguma coisa mudou, mas outras coisas não, o que tem contribuído para que tenhamos um “jogo sem forma tática”, produzido pelas “oficinas brasileiras de futebol”. Em decorrência, os treinadores brasileiros são cobrados na contra mão do tempo mínimo razoável para construir um jogo.
Muitos “efeitos colaterais” surgem desse novo estado de coisas.
– Se o treinador é descartável, por que não descartá-lo?
– Como diz o prof. Paulinho, treinador do Sub-20 do Cruzeiro, o técnico do futebol brasileiro, no jogo de xadrez, está se transformando no “pião” – peça de menor valor no tabuleiro!
– Se o treinador não permanece um tempo razoável nos clubes como vamos ter ideia de jogo desenvolvida?
– Se não temos, regulamentada, uma escola de treinadores no Brasil, como vamos evoluir em uma “escola de jogo”?
– Se os nossos treinadores não têm uma profissão regulamentada, como vamos respeitá-los como profissionais?
– Quem são os bons treinadores do futebol brasileiro? Ninguém pode dizê-lo, pois o mesmo treinador que é campeão neste ano, cai com o mesmo clube no ano seguinte! Num ano ele é bom, e no outro é ruim?!
A ansiedade com que estamos tratando o futebol brasileiro tem nos levado a uma situação, que não nos deixa pensar noutra solução senão num grande trauma na esfera esportiva que nos faça retomar alguns caminhos da construção do jogo inteligente e com arte.
Poderia mencionar mais alguns itens extracampo que interferem negativamente e diretamente na construção do jogo. Vamos exercitar nossas mentes! Se trocarmos compulsivamente o gerente de um departamento técnico de qualquer empresa, teremos respostas parecidas com as que estamos tendo na qualidade do jogo brasileiro: muita confusão nas tomadas de decisões, respostas erradas na linha de produção e consequentemente queda do “valor do produto” no mercado. As empresas vão à “bancarrota”, assim como tem acontecido com muitos clubes brasileiros.
Digam com sinceridade: – Não seria o quadro atual do futebol brasileiro, um grande responsável pela descaracterização jogo, que parece ser igual ao de antigamente, mas que está muito diferente?! Quantos clubes brasileiros estão produzindo jogo de qualidade? Será que reside simplesmente na competência dos nossos técnicos o fato de não termos nenhum deles brilhando em clubes europeus de primeira linha? Não seria a gestão do nosso futebol, o que nos faz ser rejeitados em mercados de futebol mais evoluído?
As soluções técnicas para o nosso jogo estão no trabalho de campo e todos os intervenientes diretos deste ofício. Porém, não vamos construir um jogo de qualidade se o ambiente da gestão esportiva que nos cerca não for alterado. Não vou negar! Temos, sim, alguns lapsos de boa qualidade futebolística, apesar da confusão em que vivemos. Estes podem ser fruto das coincidências positivas que acontecem aqui e ali em qualquer área de interferência da engenharia humana. Num dado momento da história, um clube com bons dirigentes, boas condições de trabalho, bom elenco de jogadores, bom trabalho de campo, dentre outros pontos favoráveis, pode sim experimentar ciclos de alto rendimento e algumas glórias. Temos visto alguns destes exemplos em nosso cenário futebolístico.
Mais do que desabafo, convido a grande comunidade leitora do site Universidade do Futebol a refletir sobre o momento atual do nosso futebol. Não se constrói projetos de valor em ambientes anárquicos. Vamos pensar o futebol brasileiro como um todo. Vamos gerir este valoroso “trunfo da cultura brasileira” com mais profissionalismo em todos os seus segmentos. Temos muito a fazer neste sentido!
Em entrevista a um grande jornal esportivo brasileiro, fui mal interpretado numa analogia que fiz. Quero deixá-la exposta corretamente neste espaço, até porque tem muito a ver com o assunto aqui desenvolvido. Eu disse:
– Prefiro dirigir um clube de 4ª divisão brasileira, que um clube de 2ª ou até primeira em muitos outros países europeus! Continuo acreditando nesta afirmação.
– Por quê?
– Simplesmente, porque temos o jogador brasileiro a nos favorecer na construção de um jogo de muitos recursos! Se nós não estamos conseguindo construir jogos de valor, o problema não é simplesmente dos jogadores, como estamos nos acostumando a acreditar.
O jogador brasileiro continua sendo a referência do nosso futebol a nível internacional. Isso é tão verdadeiro, que mesmo com todas as dificuldades que estamos tendo, continuamos inundando o mundo com os nossos “produtos”, frutos da excelente “escola brasileira da habilidade”.
Que voltemos a ser o país do futebol e não somente o país do jogador de futebol!!
Desculpem-me pela extensão da crônica.

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De quem é mesmo a culpa?

Mais uma barbaridade. Mais uma história triste contada em inúmeros meios de comunicação (do Brasil e exterior) que remete ao nosso futebol. Novamente, o futebol brasileiro aparece nas páginas policiais. A morte do torcedor do Sport no jogo entre Santa Cruz e Paraná Clube na semana passada ao ser atingido por um “vaso sanitário” retirado do banheiro do Estádio do Arruda, em Recife, é mais uma que entra para as estatísticas perversas do futebol brasileiro.

Nas reportagens, o mesmo conteúdo, que tende a se repetir, infelizmente, por mais algumas vezes ainda neste ano nos campeonatos nacionais – sabe-se lá com que origem, com quais agremiações ou em qual cenário, mas com destino já sacramentado. Não se trata de uma previsão apocalíptica, apenas a constatação diante das atitudes que se costumam tomar.

Em termos de Justiça, a Desportiva é, de longe, a mais eficiente e rápida na punição a quem lhe cabe, que são os clubes (no caso citado, o Santa Cruz já perdeu mandos de campo e ainda poderá ser mais severamente punido com multas e outras sanções, seguindo os ritos processos do CBJD).

Mesmo assim, os clubes, diretamente interessados e afetados pelas barbaridades que ano após ano são acometidos em seus jogos (ou fora dele) parecem não se importar, ainda, com todo o circo que é montado sob sua marca e tutela pelas torcidas “organizadas” (ou marginais que se infiltram nestas entidades).

O mais impressionante de tudo isso é que, em pleno 2014, quem deveria zelar pela qualidade e entrega do espetáculo, bem como tentar evitar as consequências das punições que sofrem, não o faz. Já comentei, aqui na Universidade do Futebol, esta questão em outras situações no passado, da inércia dos clubes, que parecem ficar à margem de um problema tão complexo e crônico.

Como é comum, “terceiriza-se” o problema. Joga-se a culpa no governo e na polícia, que sabemos, não tem eficiência no tratamento de tantas outras questões que envolvem a segurança pública (enormemente demonstrada pelas estatísticas de criminalidade que assolam o país), quem dirá tratar com eficácia este tema igualmente complexo.

O mais impressionante é que, mundialmente, o tema segurança é tratado sim com enorme interesse por aqueles que “organizam e promovem o espetáculo esportivo”, em consonância, logicamente, com as leis e a Segurança Pública. Na sessão “The Big Debate” da revista Sport Business International (de março-2014, p. 74-75), há a explanação de ideias de especialistas e promotores de eventos para falar do assunto (na época, dialogando sobre a segurança ostensiva observada nas Olimpíadas de Inverno em Sochi). Por unanimidade, independente do tipo de evento, todos corroboram com a tese de que oferecer melhor segurança é fundamental para proporcionar uma atmosfera de evento mais positiva para o CONSUMIDOR.

Por aqui, ao tratarem como se o assunto “não pertencesse a eles”, parecendo ser “obra do acaso” ocorrer brigas generalizadas e mortes por força de uma partida de futebol, os clubes, ao negligenciarem um debate profundo, sério e definitivo sobre a violência, não deveriam ficar espantados com os números pífios de ocupação e frequência em seus estádios. Ora, para um espetáculo ruim e inseguro, quer se esperar uma atitude diferente de quem CONSOME?

Em síntese, não há como se terceirizar o problema. Há soluções já experimentadas em outras partes do mundo que servem de balizador no sentido de minimizar a violência em arenas esportivas, tendo sempre a colaboração e o interesse de quem organiza o espetáculo na construção de um projeto consistente. É preciso separar claramente as responsabilidades de “dentro do recinto esportivo”, pertencentes a quem promove o evento, para o que ocorre “do lado de fora”, que corresponde a ações regulares de segurança pública, somados a medidas de prevenção e de punição severa – ou melhor, o simples cumprimento da lei… 

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Futebol: a Uefa Champions League, as verdades absolutas, a posse de bola de Guardiola e os filósofos de Mourinho

A semana dos jogos de volta, da Uefa Champions League 13/14, foi muito interessante, especialmente pelas discussões geradas pelas derrotas e eliminações de Bayern de Munique e Chelsea FC.

Como é típico no futebol, a fronteira entre bons e maus, mestres e leigos, mitos e esquecidos, desapareceu quase que completamente em muitos dos debates construídos em função dos jogos Bayern vs Real Madrid, e Chelsea vs Atlético de Madrid.

Verdades sucumbem à novas verdades… “novas verdadeiras verdades” – por vezes nem tão novas, nem tão verdadeiras…

Pois bem.

Para escrever hoje sobre os jogos e alguns de seus personagens, e desenvolver a ideia central da redação que inicio aqui, vou recorrer a ajuda do trecho de um texto do professor Alcides Scaglia, publicado em 2007 na Universidade do Futebol (o título do texto é: “Quem diz a verdade no futebol?” – disponível em: https://universidadedofutebol.com.br/Coluna/7253/buscar ).

O trecho em questão, trata justamente da “VERDADE”.

Vejamos:

“Assim, imbuído sempre da atenção com o banal, a verdade (que é sempre banalizada no meio futebolístico), é algo que sempre me incomodou. Logo, só poderia mesmo me inquietar ao deparar-me com os três caminhos etmológicos da verdade.

O que se conhece por verdade possui três origens distintas: a grega, a latina e a hebraica.

ALETHEIA é verdade em grego, e diz respeito ao que não é oculto. Logo, ela é conhecida à medida que é desvelada. A verdade está posta, "determinada" por um padrão organizacional dependente da interação de suas estruturas internas. Cabe ao homem descobri-la, e entendê-la como ela é no mundo.

Em latim, verdade é VERITAS e significa o rigor do relato sobre alguma coisa. Desse modo, a verdade pode vir a ser conhecida por meio da rigorosidade do relato verdadeiro de um fato, ou seja, a verdade será corroborada após o fato.

Já, em hebraico, verdade é EMUNAH e diz respeito à confiança que uma pessoa tem em relação a fala de outra. Então a verdade é dependente de quem fala, e assim acredita-se que o fato relatado será verdadeiro, pois quem a professa é inquestionável.

Cada uma dessas três palavras traz um significado diferente, o que acaba "distorcendo" a verdade, evidenciando que a verdade verdadeira não existe, e que ela é sempre parcial”.

Pois bem.

Me pautando na ideia central do trecho do texto que separei, “a verdade verdadeira não existe”, “ela é sempre parcial”, e está enviesada por uma série de aspectos que nascem dos ambientes que vivemos, da cultura em que estamos imersos.

Então, é possível e provável, na observação de mesmos fenômenos pseudoparametrizados e de mesmos fenômenos não parametrizados, que diferentes observadores tenham diferentes percepções, conclusões e verdades.

O jogo de futebol é um fenômeno que apesar dos estudos, da disseminação de conceitos que o envolve, e também dos seus parâmetros (construídos lentamente), permite e incentiva culturalmente o empirismo, o sem número de percepções, conclusões e verdades.

E eu como não sou dono dela, mas podendo justificar possíveis erros em minhas conclusões por sua parcialidade (parcialidade da verdade) e pelo fato de que ela, a verdade, não existe, vou então me arriscar com algumas opiniões sobre os jogos de volta das semifinais da UEFA Champions League 13/14.

O Bayern foi no placar, “atropelado” pelo Real Madrid.
Bayern de Guardiola e de muitos talentosos jogadores, contra o Real Madrid de Carlo Ancelotti e outros tantos “craques”.

Do lado do time espanhol, mudanças na organização defensiva e ofensiva da equipe, com relação a maneira de jogar do ex-Real de Mourinho. Mais maleável sob o ponto de vista estrutural e com referências zonais diferentes, o Real Madrid de Ancelotti sofreu pouco contra o time alemão. Teve pouco a bola sob sua posse efetiva ou transitória, mas quando a teve cuidou bem dela.

Até aí, tudo muito óbvio.

O não óbvio foi a derrota tão avassaladora e a dificuldade de criar jogadas de perigo por parte do Bayer de Munique.

E por mais que me digam, contrariamente, que até isso foi óbvio, vou me permitir discordar.

Assisti a todos aos jogos do Bayer que foram transmitidos pela TV nessa temporada 13/14. E foram muitos! E talvez sim, nos últimos 8 jogos especialmente, a equipe alemã tenha gastado muito mais energia para construir sequências ofensivas que potencializassem suas chances de marcar um gol, do que no início da temporada – mesmo assim, vinha de certa forma conseguindo.

A posse de bola com fim nela mesma (ainda que eu discorde disso! – ela jamais deve ter fim nela mesma!) apresentava alternativas de risco contra os adversários – tanto que fazer gols, até então, não vinha sendo um grande problema.

Vencer ou perder faz parte do jogo, e sob o ponto de vista estratégico, o próprio Pep Guardiola na coletiva de imprensa pós segunda partida, admitiu ter falhado.

E ter falhado como treinador sob o ponto de vista estratégico não significa, evidentemente, abrir mão daquilo que considera essencial sob o ponto de vista organizacional, para sua equipe jogar: ter a bola.

E nisso teremos, querendo ou não, que concordar: não na essencialidade da posse da bola, não; mas no fato de que o treinador Josep Guardiola, conseguiu de certa forma, operacionalizar o jogar de sua equipe de acordo com aquilo que acredita ser essencial!

Não podemos negar que o Bayer de Munique atual assumiu características do Barcelona de Guardiola.

E por mais que não pareça, isso é fantástico, especialmente porque muitas vezes somos convencidos pela ideia de que grande parte dos aspectos das partidas de futebol são orientados pelo acaso!

O próprio Guardiola, muitas vezes, foi colocado em dúvida quando treinava o FC Barcelona – “qualquer um poderia fazer aquele time jogar daquela maneira” (desmerecendo o trabalho do treinador) – e pudemos acompanhar o que aconteceu…

O que quero dizer, com isso tudo é que podemos questionar as estratégias assumidas pelo Bayern para enfrentar o Real Madrid; podemos questionar o modelo de jogo concebido como ideal por Josep; mas que o “efeito treinador” construiu um novo (e não necessariamente melhor) jogar para a equipe alemã, penso que não podemos questionar.

E qual o mérito nisso?

O de que o trabalho faz diferença!

Parece óbvio? Mas acreditem, no futebol não é!

Isso vale para Carlo Ancelotti e Real Madrid, Diego Simeone e Atlético de Madrid, e José Mourinho e Chelsea FC.

Treinadores bem preparados e com estrutura de pessoal, de clube e de calendário para treinar, farão diferença para seus jogadores e para suas equipes! E talvez isso, n
esse momento é o que está “pesando” contra José Mourinho.

De “herói” da imprensa especializada por montar defesas impenetráveis, à vilão, da mesma imprensa, incapaz de compreender porque um time caro e com bons jogadores, “abdica” do jogo para se aproveitar de contra-ataques.

Também, na essência, não sou capaz de compreender, mas por um motivo fácil de aceitar: não estou no dia-a-dia do Chelsea FC, vivendo seus treinos, seus problemas e suas virtudes.

Porém, em minha lógica de percepção, na minha parcial verdade, não posso esquecer que estamos falando de um treinador muito bem sucedido, em países diferentes, com jogadores de culturas diferentes e em diferentes competições (que deve ter uma excelente percepção daquilo que faz).

Não posso me esquecer que o contra-ataque também é do jogo, e não uma “abdicação” do mesmo.

Então, ainda em minha lógica de percepção, é mais fácil aceitar (minha verdade) que José Mourinho deve estar considerando coisas que não podemos observar – não por incompetência, mas por estarmos “fora do círculo” Chelsea FC.

Não estou eu aqui, a defender José Mourinho e/ou Josep Guardiola; afinal de contas o que vale no futebol é a vitória, e tanto um, quanto o outro perderam.

Estou aqui a defender a ideia de que nossas percepções podem falhar… Não por nossa “culpa”, mas sim por causa das nossas verdades, que por vezes sem nos darmos conta, nem nossas são…

Por isso estou quase certo: é só esperamos a próxima vitória, e tudo, mais uma vez, deverá mudar… 

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Entrevista Tática – Guilherme Almeida, zagueiro do Verdy Tokio-JAP

Com o auxílio do treinador Rodrigo Bellão, companheiro de trabalho e com muita experiência em categorias de base, publico a coluna desta semana.

O atleta entrevistado teve boa parte de sua formação na Portuguesa-SP e, atualmente, defende o Verdy Tokyo pela segunda divisão do futebol japonês.

Ao longo da entrevista, algumas informações que confirmam aquilo que recorrentemente discutimos, como a importância do futebol de rua para a formação e a velocidade de jogo em outros centros, superior ao jogo brasileiro. Confira:

1 – Quais os clubes que você jogou a partir dos 12 anos de idade? Além do clube, indique quantos anos tinha quando atuou por ele.
Aos 13 comecei a jogar na Portuguesa-SP e fiquei lá até aos 17, quando me transferi para o Palmeiras-SP e joguei por dois anos. Com 19 anos fui para o São Paulo-SP e com 20 para o Avaí-SC. Hoje estou com 21 anos e jogo no Verdy Tokyo, do Japão.

2 – Para você, o que é um atleta inteligente?
Creio que existem vários conceitos para ser um atleta inteligente. Um deles é ter a mentalidade que nunca sabemos de tudo, que precisamos aprender a cada dia. Aquele que consegue absorver o máximo de aprendizado de cada dia de trabalho e no nosso caso a cada dia de treino.

3 – O quanto o futebol de rua, o futsal ou o futebol de areia contribuiu para a sua formação até chegar ao profissional?
O futebol de rua com certeza me ajudou muito, pois a minha infância toda foi ralando os dedos no asfalto. Isso me deu uma “malandragem” boa no “mundo da bola”. Já o futsal foi onde comecei a dar os primeiros passos até descobrir que era no campo que ia me encontrar como jogador.

4 – Em sua opinião, o que é indispensável numa equipe para vencer seu adversário?
Acredito que todos os jogadores, independentemente se titulares ou reservas, terem a mesma vontade, o mesmo entendimento tático, todos (como usamos no mundo do futebol) “comprarem a ideia do treinador”, se dedicarem a ela, e acreditarem que vai dar certo se tiver o entendimento e a entrega do grupo todo. Os talentos individuais, que decidem uma partida, só aparecem se o time estiver bem durante um jogo.

5 – Quais são os treinamentos que um atleta de futebol deve fazer para que alcance um alto nível competitivo?
Acho que individualmente treinar ao máximo em cima das dificuldades. Digo por mim que tinha dificuldades para usar a perna esquerda e me dediquei a treinar e hoje tenho facilidade para usar a mesma. Essa questão também se enquadra em uma das perguntas anteriores sobre ser um atleta inteligente. Trabalhar em cima dos “defeitos” também é uma qualidade de jogadores inteligentes!

6 – Para ser um dos melhores jogadores da sua posição, quais devem ser as características de jogo tanto com bola, como sem bola?
Ao meu ver, para ser um bom zagueiro é preciso ter uma boa saída de bola, conseguir sair da pressão com qualidade de passe e ter um bom cabeceio. Sem a bola ter uma boa recomposição e entender bem as movimentações das linhas, tanto a de trás como a da frente. E, é claro, ter o extinto de defensor: de se entregar na marcação para evitar a dádiva do futebol que é o gol.

7 – Quais são seus pontos fortes táticos, técnicos, físicos e psicológicos? Explique e, se possível, tente estabelecer uma relação entre eles.
É sempre difícil falar de si, mas por ter jogado de meio-campista e volante por um bom tempo tenho uma boa qualidade de passe. Taticamente, consigo entender bem as movimentações e mudanças de posição. Como não sou um zagueiro de força supro isso com a inteligência, concentração e outros quesitos.

8 – Pense no melhor treinador que você já teve! Por que ele foi o melhor?
Eu tive vários treinadores bons, mas teve um que marcou pois ele ajudou muito no meu crescimento. Ele me apontava os defeitos, me fazia trabalhar em cima deles e me ensinou a usar a minha inteligência ao meu favor. Ele era calmo, não usava palavrões, não gritava e não usava essas “armas” que normalmente são usadas por treinadores e que são comuns no futebol. Mesmo assim ele tinha o grupo nas mãos! Fez um time que não era tão bom tecnicamente, se entregar na parte física e tática e chegar a uma semi final de campeonato, onde poucos acreditariam que chegássemos

9 – Você se lembra se algum treinador já lhe pediu para desempenhar alguma função que você nunca havia feito? Explique e comente as dificuldades.
Na minha trajetória já joguei em varias posições. Comecei de meia, depois volante e hoje zagueiro. Nunca tinha jogado de lateral direito e teve um jogo que precisei fazer essa função. Nosso lateral foi expulso, tínhamos feitos as três substituições e precisei jogar. Com um jogador a menos mais defendi do que ataquei, mas por orientar demasiadamente o meu lateral direito quando jogo de zagueiro eu sei o que ele tem que fazer. Então não tive muita dificuldade para exercer essa função, só fiquei um pouco mais cansado, pois lateral corre demais.

10 – Qual a importância da preleção do treinador antes da partida?
A preleção é de suma importância, pois são acertados detalhes sobre o que faremos dentro de campo principalmente taticamente. Muitos confundem preleção com motivação. Eu discordo, pois se um jogador está no vestiário pronto pra entrar em campo e está desmotivado ele não é um jogador de futebol. Creio que não é preciso motivar nenhum jogador de futebol para jogar!

11 – Quais são as diferenças de jogar em 4-4-2, 3-5-2, 4-3-3, ou quaisquer outros esquemas de jogo?
Na minha posição muda a movimentação da linha, o jeito de se fazer coberturas, muda o modo de fechar para ser atacado, muda o jeito de subir a linha e dar o apoio para que outro jogador saia para dar combate.

12 – Comente como joga, atualmente, sua equipe nas seguintes situações:
• Com a posse de bola;
• Assim que perde a posse de bola;
• Sem a posse de bola;
• Assim que recupera a posse de bola;
• Bolas paradas ofensivas e defensivas

Com a bola somos muito agressivos e sempre procuram o jogo pra frente. Quando perdemos a bola a pressão é muito forte sobre a bola independente em que parte do campo ela se encontra. Quando recuperamos a posse, o primeiro objetivo é sempre pra frente, sempre procurar o gol.

Pecamos um pouco nas bolas paradas no começo do campeonato, mas estamos treinando forte em cima disso e já houve melhoras nos últimos jogos.

13 – O que você conversa dentro de campo com os demais jogadores, quando algo não está dando certo?
Procuramos achar o erro para acertar, pois quando conseguimos diagnosticar o que está err
ado é mais fácil acertar. Complica quando não conseguimos achar o erro, ou então, quando conseguimos achar tarde demais e o placar já está desfavorável.

14 – Como você avalia seu desempenho após os jogos? Faz alguma reflexão para entender melhor os erros que cometeu? Espera a comissão técnica lhe dar um retorno?
Eu sou um jogador que me cobro muito e procuro sempre corrigir o que errei e trabalhar em cima do que acertei para continuar acertando. Normalmente eu vou atrás dos DVD’s dos jogos para que eu tenha a visão de quem está de fora, que é totalmente diferente da nossa que estamos lá dentro.

15 – Para você, quais são as principais diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu? Por que existem estas diferenças?
Vou comparar com o futebol japonês que é onde estou hoje. O futebol brasileiro é mais cadenciado, mais técnico, é um futebol mais bonito e mais clássico. Aqui no Japão o jogo é muito corrido, é o tempo todo em velocidade e com muita pressão sobre a bola. Não sei falar ao certo o porquê exatamente existem estas diferenças. Temos muito que aprender com eles e com certeza eles têm muito mais que aprender com nós, brasileiros, pois somos o pais do futebol independente de qualquer coisa.

16 – Se você tivesse que dar um recado para qualquer integrante de uma Comissão Técnica, qual seria?
Eu acho que comissão técnica tem que ser um amigo e não um inimigo do atleta. Tem que saber separar as coisas, saber a hora de cobrar severamente e a hora de conversar e saber o que está passando na cabeça do jogador. Ser jogador de futebol é uma mistura de sentimentos muito grande. Eu não vejo outra profissão que tenha esta mistura, pois você se sente ansioso, feliz, triste, motivado, preocupado, nervoso, tranquilo, cobrado, etc. Esta mistura de sentimentos às vezes atrapalha se não tiver pessoas para dar o suporte necessário. Nem sempre o jogador de futebol entende as coisas através de gritos, broncas e palavrões. As vezes uma conversa individual com um jogador pra mostrar onde ele pode evoluir é muito mais produtiva. Gostaria de dizer também que se a ele entregamos a confiança de conduzir nosso trabalho, esperamos que ele nos ajude a evoluir para que juntos possamos crescer, pois quando se ganha todos ganham e quando se perde todos perdem, inclusive a comissão.

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Copa do Mundo: tem que dar certo

Há 7 anos quando o Brasil (pediu) e conquistou o direito de organizar a Copa do Mundo de Futebol, o povo comemorou e o coração do brasileiro se encheu de ufanismo.

Eu nunca imaginaria que há menos de 50 dias para o Mundial, o pessimismo e o anticlímax nos roubassem o orgulho e o ufanismo.

Pululam movimentos e manifestações sob o slogan “não vai ter Copa”.

Esses movimentos estão sete anos atrasados, eis que eventuais manifestações contrárias deveriam ter sido realizadas quando o país se candidatou e não agora.

Naquele momento todos os movimentos sociais estavam animados com a ascensão ao Poder de um metalúrgico e estimulados pelo crescimento econômico-social quedaram inertes.

Agora, sete anos depois, criticam a Fifa como culpada pelo Brasil ser sede, pelos atrasos, pelos gastos, enfim, por tudo…

Se é que há um culpado, este culpado é o Governo Lula que teve índices recordes de aprovação e reelegeu sua, até então desconhecida, candidata.

Que precisamos de hospitais, escolas, segurança e infraestrutura não é novidade. Aliás, já era conhecido em 2007, mas, naquele momento, sobraram aplausos.

O Brasil que pediu à Fifa para organizar o Mundial, não houve imposição e as exigências legitimadas na Lei Geral da Copa foram aceitas pelo país ao candidatar-se, repita-se, por opção, no livre exercício do seu Poder Soberano de escolha.

Sob o ponto de vista jurídico, nos termos do artigo 6º da Constituição da República, o lazer é tão direito social quanto educação, moradia, saúde ou segurança.

Agora, deixemos de falar da metade vazia do copo e passemos à parte cheia.

A Copa do Mundo desencadeou a implementação da infraestrutura aeroportuária e de mobilidade urbana. As doze cidades que receberão os jogos tornaram-se um verdadeiro canteiro de obras.

O Brasil passou a ser notícia no mundo em virtude de seu potencial turístico. O “The New York Times”, por exemplo, tem veiculado matérias com atividades em 36 horas nas cidades-sede. Uma publicidade turística sem precedentes.

Temos um enorme potencial turístico adormecido, especialmente, se levarmos em consideração que a cidade de Cancún, no México, sozinha, recebe mais turistas que todo o Nordeste brasileiro.

O Mundial aumentou em 88% o turismo na Alemanha e, na África do Sul, 94% dos turistas mudaram sua concepção do país e recomendaria a visita.

Ademais, a Copa do Mundo injetou R$ 7 bilhões na economia alemã e R$ 22,3 bilhões na África do Sul, sendo que, no país africano o evento significou o acréscimo de 1% em seu PIB.

Ou seja, o Mundial pode devolver os investimentos realizados, basta que o Poder Público faça uma boa gestão dos seus resultados.

E para isso, mais importante do que criticar o evento, o cidadão brasileiro deverá dispor da maior ferramenta democrática, o voto, em outubro.

Movimentos contrários à Copa do Mundo neste momento não terão qualquer efeito prático, eis que o Mundial irá acontecer com ou sem eles.

O nosso papel agora é criar uma onde verde-amarela positiva, pintar o rosto, a rua, a casa, encher o peito e o coração de orgulho porque organizaremos o maior evento esportivo do Mundo.

A cada dia a expectativa aumenta e o coração bate mais forte e com todos os problemas existentes, temos que realizar um evento magnífico.

Não há mais tempo para volta, a palavra está empenhada e os investimentos foram feitos. Agora, batalhemos para colher os frutos.

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Um dos legados de Senna

Hoje esta coluna traz de certa forma uma homenagem e um reconhecimento a um atleta que apesar de não ser do futebol, foi ídolo nacional: Ayrton Senna.

Seu legado é maravilho, tanto no aspecto profissional quanto no aspecto social.

Quero comentar sobre um estado de plenitude que o atleta pode alcançar e que Ayrton conseguiu atingir durante sua carreira. Podemos perceber isso claramente numa declaração sua após um treino de classificação para o Grande Prêmio de Mônaco em 1998. Após ter feito algumas voltas de classificação absurdamente rápidas, Ayrton Senna deu a seguinte declaração:

“Eu já estava na pole e continuava a andar cada vez mais rápido. Uma volta atrás da outra, cada vez mais rápido. Em certo momento eu estava na pole, então tirei meio segundo, e então um segundo, e eu continuava assim. De repente eu era dois segundos mais rápido que todos os outros, inclusive meu companheiro de equipe com o mesmo carro. E de repente percebi que não estava mais pilotando o carro conscientemente.

Eu estava pilotando meio que por instinto, mas eu estava numa dimensão diferente. Era como se estivesse em um túnel. Não apenas no túnel debaixo do hotel, mas o circuito inteiro era um túnel. Eu continuava pilotando, cada vez mais. Eu estava muito além do limite mas eu ainda conseguia encontrar algo a mais.”

Essa sensação ricamente relatada por Ayrton é um exemplo real do que podemos definir como um estado de Flow. Um de seus legados foi a sua capacidade de estar em Flow e como este estado lhe proporcionou sempre atuar em alta performance e obter resultados extraordinários no esporte.

No futebol, pode-se aprender com esse exemplo real do estado de Flow. Esclarecendo um pouco mais, este é um estado mental de operação em que a pessoa está totalmente imersa no que está fazendo, caracterizado por um sentimento de total envolvimento e sucesso no processo da atividade. Proposto pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, este conceito tem sido utilizado em uma grande variedade de campos, inclusive no esporte.

Mihaly afirmava que “você fica em um estado de êxtase de tal modo que sente que nem se quer existe mais.” Em suas pesquisas ele entrevistou diversas pessoas e percebeu que existem elementos comuns que indicam como atingir este estado de foco absoluto: envolvimento completo no que se faz, sentimento de êxtase, sensação de estar fora da realidade, clareza interna sobre o que e como fazer, sensação de serenidade e motivação.

O estado de fluxo pode ser reconhecido facilmente quanto estamos concentrados numa tarefa, que muitas vezes nem prestamos atenção no que acontece ao nosso redor. Ao atingir este estado o atleta apresenta uma performance que pode traduzir como a excelência de toda sua capacidade. Quando estamos em Flow a experiência que temos pode-se comparar com o que os orientais definem como “Nirvana”, tomamos decisões eficazes e eficientes, utilizando adequadamente todos os recursos que possuímos.

Para obter um bom estado de Flow é necessário o ajuste adequado entre a complexidade da atividade, a nossa capacidade e o valor que atribuímos ao nosso trabalho. Na prática o Flow pode ser identificado quando o atleta sente-se num estado de:

• Absorção pela tarefa/situação;
• Motivação intrínseca;
• Energia positiva;
• Felicidade;
• Sintonia entre corpo e mente;
• Ausência de noção de tempo;
• Conscientização e sucesso;
• Sentimento de recompensa.

Penso que o futebol é repleto de situações nas quais os atletas podem atuar de maneira tão concentrada a ponto de atingirem o estado de Flow, as situações são cada dia mais estressantes devido à pressão por bons resultados constantemente e por conquistas em todas as competições que os clubes disputam.

Esse legado da prática de sua atividade esportiva no máximo de sua capacidade e excelência serve de inspiração para os atletas de futebol busquem atingir seus estados de Flow e um bom Coach pode contribuir fortemente com a aplicação de um processo que promova o aprendizado e o desenvolvimento de novos estados de Flow por parte dos atletas profissionais.

Até a próxima e obrigado Ayrton Senna! 

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Saudoso Pacaembu e sofredor, graças a Deus!

Foi fim de abril. Dia 28. Mas de 1940.

Zico, Agostinho, Jango, Sebastião, Brandão, Dino, Lopes, Servílio, Teleco, Joane e Carlinhos foram escalados por Del Debbio para entrar pela primeira vez no gramado do estádio Municipal paulistano. O Bailarino Servílio marcou o primeiro gol alvinegro no campo de todos os paulistanos. Um pouco mais de todos os corintianos que ali viram os grandes times da primeira metade dos anos 1950. Deram a volta olímpica no IV Centenário da capital, no Paulista de 1954. Deram fim ao tabu sem vitórias em Paulistas contra o Santos, em 1968. Deram muitos murros no concreto. Derrubaram grades. Amaldiçoaram traves. Imaginaram sapos, porcos, peixes, todos os bichos enterrados. Viram uma fila do tamanho do amor ao Corinthians tirar outras voltas olímpicas até 2009. Quando o torcedor comemorou invicto o título paulista. Quando pôde, enfim, celebrar um estádio que foi “dele” por usucapião. Uso campeão mesmo sem título.

Quer algo mais corintiano?

O Pacaembu. Esse é mais que corintiano.

Mais que o velho campo da Ponte Grande. Que o Parque São Jorge. Que a Arena de Itaquera. O Paca é Corinthians. É “Saudosa Maloca” que vai tocar neste fim de semana contra o Flamengo. De despedida de uma casa que será sempre um pouco mais alvinegra.

Outro rival ganhou mais títulos no estádio. Mas pergunte a cada canto do mais lindo estádio de espírito do Brasil. A cada porta estreita que não tem cabimento para tanta paixão: quem é o “dono” daquilo ali?

Até quem não quer saber sabe. Ele vai dizer que não “pode” ser “dono” do Pacaembu quem ficou de 1954 a 2009 sem dar volta olímpica no estádio Paulo Machado de Carvalho (nome de enorme são-paulino…). Fato. Mas, desde que o Corinthians voltou a ser Timão, em 1977, foi na casa tricolor que o alvinegro encontrou o lar de conquistas brasileiras (três das cinco). As Copas do Brasil foram celebradas fora de São Paulo. O último Rio-São Paulo também foi no Morumbi. Os Paulistas, até 2009, fora do Pacaembu. Os Mundiais, fora.

Mas a Libertadores tinha mesmo de ser dentro. Lá onde todos diziam que “nunca serão” eles foram. E, mesmo se fosse do Boca para fora, ainda assim os corintianos seriam no Pacaembu o que eles são pela vida. Vencedores sem títulos necessários. Campeões por serem apenas o que são. Sem os dentes. Feios. Sem educação. Sem um monte de coisa, como adoram falar os rivais.

Mas com algo que é deles de tão público. Algo que é do povo que é tão deles. Vão dizer que Itaquera tem muita ajuda de todo o povo – e tem mesmo. Vão dizer que o Pacaembu também foi apropriado mas é de todo munícipe – e é mesmo.

Mas também por isso o povo é Corinthians. É público. É popular. É Pacaembu. É Corinthians.

Que as autoridades e movimentos de moradores que impediram o melhor negócio para todos que seria remodelar o estádio para ser eternamente corintiano agora convivam com o barulho silencioso da ausência de Corinthians no Pacaembu.

Os domingos serão mais tranquilos e seguros. O odor do filé miau das churrasqueiras de calçadas será outro. Aquela onda sonora de gols e uuuus! irá cessar. Aquela horda humana de gente de todos os credos e cores (ou melhor, apenas uma fé e duas cores) não estará mais pelas ruas que sobem e descem como a vida e o Corinthians.

Estará tudo mais pacífico. Harmonioso.

Menos vivo. Menos humano. Menos corintiano.

É o último jogo antes de o Corinthians ter, enfim, uma casa quase do seu tamanho.

É o primeiro jogo de uma saudade imensa de dias ali vividos, logo, sofridos.

Vai ficar em cada canto do campo um elástico de Rivellino, um calcanhar de Sócrates, uma sentada na bola de Luizinho, uma cabecinha de ouro de Baltazar, um cruzamento de Cláudio, uma antecipação de Domingos, uma falta de Marcelinho, uma celebração de joelho de Neto, uma gota de suor de Zé Maria, uma gota de sangue de Wladimir, uma bolada em Palhinha, uma ordem de Brandão, um dedo no time de Luxemburgo, uma mão na boca de Tite, uma ponte de Gilmar, uma espalmada de Ronaldo, um pênalti defendido por Dida, aquelA defesa do Cássio, aquela cabeçada do Paulinho, aquela mordida do Sheik, um desarme de Gamarra, um toque de Belangero, um lançamento de Zenon, um passe de Rincón, uma risada de Vampeta, uma careta de Tévez, uma chuteira branca de Casagrande, uma celebração de Viola, um coração de Idário, um gol de Teleco, o fenômeno Ronaldo, um pé de Basílio, um voto da Democracia Corinthiana. Um pouco de todo corintiano.

Um muito da vida desse bando que leva a loucura para Itaquera. Mas deixa na maloca do Pacaembu o que Adoniran escreveu com o coração alvinegro que tinha, e a sensibilidade de todas as cores. Um bardo que bradava pelas coisas de São Paulo. Uma voz que saberia preservar eternamente o Pacaembu.

Como cantou em “Saudosa Maloca”:

 

Si o senhor não “tá” lembrado
Dá licença de “contá”
Que aqui onde agora está
Esse “edifício arto”
Era uma casa véia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímo nossa maloca
Mais, um dia
Nóis nem pode se alembrá
Veio os homi c’as ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
“Deus dá o frio conforme o cobertor”
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.

 

Onde o corintiano passou dias felizes da vida. Até mesmo os infelizes.

Dia de pegar a páia nas gramas do jardim e plantar o coração na nova casa.

Que ninguém deixe ninguém mandar derrubar o Pacaembu.

Que todos mantenham o Pacaembu no lugar que ninguém vai tirar: aqui dentro.

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.