Ano: 2014
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O jogo é o produto final de todo clube de futebol. São os 90 minutos (ou menos, em partidas das categorias de base) mais importantes da semana e, na maioria das vezes, reflexos daquilo que se construiu durante os treinamentos.
Há alguns anos, quando ainda trabalhava no Paulínia FC, sob coordenação de Lucas Leonardo, o Departamento de Pedagogia do clube criou uma planilha com o objetivo de escancarar o desempenho de cada uma das categorias em competição. Se para muitos controles do clube como scouts qualitativos e quantitativos (obtidos através de relatórios, outras planilhas, softwares e/ou filmagens) o objetivo era analisar o desempenho de cada categoria nos quatro momentos do jogo, esta planilha preocupava-se com a divulgação de uma componente muito importante e, culturalmente, maior que qualquer aplicação de um Modelo de Jogo: o resultado.
Poder visualizar após as rodadas do final de semana o desempenho (de resultado) de cada uma das categorias através de um Placar Semanal era um procedimento simples, mas que tinha o intuito de fazer com que cada equipe se sentisse inserida e relevante no macroprojeto do clube.
Alguns anos se passaram e a Planilha ganhou algumas modificações. A principal delas se refere à distribuição de pesos diferentes para cada uma das categorias. Sendo assim, do sub-11 ao Profissional a distribuição dos pesos de acordo com a importância subjetiva de cada equipe se dá da seguinte maneira:
• Sub 11: Peso 1
• Sub 12: Peso 1,5
• Sub 13: Peso 2
• Sub 14: Peso 2,5
• Sub 15: Peso 3
• Sub 17: Peso 4
• Sub 20: Peso 5
• Profissional: Peso 10
Abaixo, um exemplo da planilha desconsiderando as Categorias sub-12 e sub-14, não oficiais na Federação Paulista de Futebol:
Os campos Jogos, Gols Pró, Gols Contra, Saldo de Gols, Pontos Disputados, Pontos Feitos, Aproveitamento e Total, são completados automaticamente a partir do preenchimento das células correspondentes aos placares das partidas. Em caso de vitória, ocorrerá a alteração automática das células referentes aos pontos feitos. O mesmo para os casos de empate e derrota.
Os demais campos (Vitórias, Empates, Derrotas, Data, Competição, Rodada, Adversário e Local) precisam ser devidamente preenchidos.
Na sequência, um exemplo da planilha preenchida após uma situação hipotética de rodadas do final de semana:
O resultado de campo nunca deve ser a única variável analisada em um clube de futebol. Da mesma forma, em hipótese alguma (inclusive na formação), ele deve ser negligenciado. Jogar, na sua mais pura essência, nada mais é que uma constante busca humana pelo prazer, pelo vencer!
Que a planilha publicada na entrada do clube, que também pode ser divulgada nos e-mails de toda diretoria, conselho, funcionários, imprensa e, por que não, para a torcida através das redes sociais ou do site do clube, seja mais que um amontoado de números que promovam uma competição intercategorias. Que seja uma ferramenta que atue como um motor interno, que motive todo e qualquer funcionário na busca pelas vitórias. Afinal, o que realmente importa nos clubes de futebol não dura mais do que 90 minutos.
Aos interessados, o modelo de planilha apresentado na coluna estará disponível por e-mail.
A sexta-feira santa reservou um dos episódios mais surreais e lamentáveis da história do futebol brasileiro.
Um oficial de justiça interrompeu a partida de abertura da Série B entre a Portuguesa e o o Joinville, em Santa Catarina, aos 17 minutos do primeiro tempo.
A situação decorreu de uma liminar deferida pela Justiça paulista obtida por um torcedor da Portuguesa que a recolocava na Série A.
Assim, aos 17 minutos do primeiro tempo, o delegado da partida, Laudir Zermiani, informou o quarto árbitro da existência da liminar e o técnico da Lusa, Argel Fucks, pediu para que os jogadores saíssem do campo.
Os atletas do Joinville, por seu turno, permaneceram em campo e, após 30 minutos, período máximo de paralisação regulamentar, a equipe paulista informou que não retornaria ao gramado.
Antes do final de semana terminar, a liminar foi cassada.
Sob o ponto de vista jusdesportivo, a Portuguesa pode ser punida por abandono de campo com a consequente exclusão da Série B. A equipe paulista teria violado o artigo 69 do Código Disciplinar da FIFA que prevê penas de exclusão vitalícia, rebaixamento e eliminação.
Artículo 69 [único]
1. El que intente influir en el resultado de un partido contraviniendo los principios de la ética deportiva será sancionado con la suspensión por partidos o la prohibición de ejercer cualquier actividad relacionada com el fútbol y una multa en cuantía no inferior a CHF 15,000. En los casos graves se impondrá la prohibición de ejercer de por vida cualquier actividad relacionada con el fútbol.
2., En caso de influir ilícitamente en el resultado de un partido a través de un jugador o un oficial, tal como se menciona en el apartado 1, se podrá imponer una multa al club o a la asociación a la que pertenezca el jugador o el oficial. En los casos graves se podrá sancionar al infractor con la exclusión de una competición, el descenso a una categoría inferior, la sustracción de puntos y la devolución de premios
Sob o ponto de vista procedimental, a súmula foi encaminhada à Procuradoria do STJD que deverá oferecer denúncia ao Tribunal Desportivo, que será o órgão responsável pelo julgamento.
O Regulamento da FIFA dispõe sobre influência ilegal no resultado, assim, caberá à Portuguesa convencer o Tribunal de que tinha a intenção de jogar, mas que abandonou a partida para atender à Justiça Brasileira.
Diante do exposto, percebe-se que a Justiça Desportiva ainda terá significativo protagonismo na temporada 2014 do futebol brasileiro.
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Liderando pela confiança
Começa mais um campeonato brasileiro se inicia e alguns clubes começam a sentir os efeitos da troca recente da sua comissão técnica e isso não será um luxo destes, pois ao longo do campeonato será inevitável que outros clubes troquem de comando à beira do campo.
Como os clubes podem lidar com isso? De que maneiras os novos comandantes podem acelerar o impacto de seu método de treinamento e de sua forma de jogar?
Penso que um dos níveis de liderança de John C. Maxwell seja especialmente valioso para promover um ambiente de mais confiança entre o treinador e os atletas: o 2º nível da liderança, denominado de permissão.
Este nível se baseia inteiramente nas relações humanas, aonde quando um líder atinge este nível ele será seguido pelas pessoas porque elas irão querer segui-lo. Quando um líder gosta das pessoas com quem se relaciona e as trata como indivíduos que possuem valor, este começa a desenvolver uma forte relação de confiança entre elas. O seu ambiente de trabalho fica muito mais positivo, assim são construídas relações fortes e duradouras.
Todo treinador enquanto líder pode e precisa estar atento a seguinte frase: “Você pode gostar das pessoas sem lidera-las, mas não pode lidera-las sem gostar delas”.
Quando um treinador consegue ir além da falsa percepção de poder que sua posição proporciona e aprende a funcionar no nível da permissão as relações humanas mudam. Os atletas fazem mais do que seguir uma orientação, pois na verdade começam a seguir o treinador porque passam a querer isso. Neste momento os atletas sentem-se mais queridos, cuidados, incluídos, valorizados e confiáveis, criando uma situação de trabalho em conjunto com o treinador e com os demais atletas.
Este nível de liderança traz benefícios ao treinador que utiliza-lo, tais como:
• Tornar o trabalho de todos mais gratificante;
• Aumenta o grau de energia do grupo;
• Abre os canais de comunicação entre as pessoas;
• Concentra-se no valor de cada atleta;
• Alimenta a confiança.
Existem alguns melhores comportamentos para conseguir atuar no nível da permissão e vou compartilhar um destes contigo agora.
O treinador precisa tornar-se o principal incentivador da equipe
Enquanto o treinador da equipe existe muito poder para incentivar as pessoas, isso pode contribuir para que se cause impacto positivo nos atletas, pois as pessoas em geral valorizam afirmações de incentivo vindas daquele que a lidera. Palavras como “estou contente por você trabalhar comigo”, ajudar sensivelmente para que se construa uma equipe incrivelmente valiosa, desde que isto tenha vindo de alguém que genuinamente tenha os melhores interesses nas pessoas.
Assim, se um treinador deseja que seus liderados tenham sempre uma atitude positiva este necessita incentivá-los e com isso o treinador contribuirá efetivamente para que todos consigam trabalhar empenhados num resultado comum e atendendo as expectativas positivas de todos.
Até a próxima e treinadores mãos à obra, que o Campeonato Brasileiro apenas começou e tem muito trabalho pela frente!
O Campeonato Brasileiro de 2014 começou sem o grito de gol de Luciano do Valle, um dos maiores comunicadores da história do esporte nacional. Entretanto, o Campeonato Brasileiro de 2014 não começou em silêncio. No lugar do luto, um dos piores tipos de barulho: a gritaria advinda dos tribunais, que ameaça a principal competição do país.
É significativo que a morte de Luciano do Valle tenha acontecido no primeiro fim de semana do Campeonato Brasileiro de 2014. Vítima de infarto, o narrador esportivo de 66 anos foi acometido por um mal súbito no sábado, quando viajava a Uberlândia para narrar Atlético-MG x Corinthians.
A primeira rodada do Campeonato Brasileiro teve apenas 16 gols em dez partidas. É a pior média de um fim de semana inaugural desde 1994, quando o torneio registrou 1,37 gol por jogo na rodada de abertura.
A ausência de gols é uma espécie de homenagem a Luciano do Valle. Sem ele, os gols não teriam mesmo o sentido adequado. Ainda que tenha sofrido muitos problemas nos últimos anos, o narrador principal da TV Bandeirantes mudou a história do esporte na televisão brasileira.
Luciano do Valle mudou porque soube transmitir emoção em qualquer situação. Em qualquer jogo. Em qualquer competição. Uma das maiores contribuições dele foi abrir espaço para modalidades como basquete, futebol americano, vôlei e até sinuca na TV aberta.
Além de narrador, Luciano do Valle foi um empreendedor. Ele desenvolveu produtos como a seleção brasileira de másters e o futebol dente de leite, e ainda criou espetáculos como um jogo de vôlei no Maracanã.
“A rivalidade que existia entre mim e a Paula foi totalmente criada por ele. O Luciano soube aproveitar que as duas estavam no Brasil e usou isso para promover o basquete. Ele colocou nossos nomes na cabeça do público”, disse a ex-jogadora de basquete Hortência, um dos maiores nomes da modalidade no país, no velório do narrador.
“Ele era um realizador. Eu estive com o Luciano em tantas empreitadas que vocês nem fazem ideia. O Luciano sonhava durante a noite e realizava durante o dia”, completou o narrador esportivo Octávio Muniz.
Todos os jogos da primeira rodada do Campeonato Brasileiro tiveram um minuto de silêncio em homenagem a Luciano do Valle. Mas será que esse tempo foi suficiente para pensar no que ele ensinou para o esporte nacional?
Com um espaço na TV aberta, Luciano do Valle soube promover produtos que não eram exatamente populares. Soube transformar figuras como o pugilista Adilson Maguila em personagens populares.
A marca Maguila, aliás, foi registrada por Luciano do Valle e doada ao pugilista. “Ele foi bom para mim, e eu fui bom para ele”, resumiu o ex-atleta no domingo, durante o enterro do narrador.
O maior diferencial de Luciano do Valle como narrador sempre foi a emoção. Ele não foi um profissional de bordões ou de precisão técnica – na fase final da carreira, principalmente.
O maior ensinamento de Luciano do Valle, porém, não foi esse. Ele mostrou ao esporte nacional que produtos podem ser potencializados se tiverem a promoção adequada. Que há espaço para diferentes modalidades, campeonatos e ídolos se um trabalho adequado for realizado em torno disso.
Essa era a homenagem que o futebol brasileiro podia ter prestado a Luciano do Valle. A primeira rodada do Campeonato Brasileiro podia ter servido como marco para um modelo de promoção e de divulgação dos jogos.
Além disso, o Campeonato Brasileiro podia ser um pouco mais visto como um produto. Algo que perde valor quando é questionado ou ameaçado de diferentes lados. Algo que não dá espaço a contendas judiciais como as que se arrastam desde o ano passado.
No fim, é isso: não importa se a razão é a da Portuguesa ou da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Não interessa se a infração do Figueirense prescreveu ou se o Icasa tem direito de jogar a Série A. Não faz diferença em qual divisão deve estar o Betim. Em todas essas batalhas, quem perde é o futebol.
Enquanto o produto não for promovido de forma adequada e esse tipo de notícia ainda tomar espaço, o futebol brasileiro não vai ser grande. Não foi grande nem na voz de Luciano do Valle.
O futebol brasileiro tem uma história de momentos grandes, mas de realidade pequena. É uma oscilação que quase repete o roteiro de um jogo. E desde o último sábado, o país ainda tem um motivo a menos para esperar 90 minutos por poucos gritos de gol.
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Luciano do Valle
Fim de tarde à beira da praia em Porto de Galinhas. As pessoas reconhecem Luciano e acenam. Tiram fotos. Ele olha para mim com aquela piscada de olho longa que era toda dele. Responde assim à minha pergunta se não estava com saudade da correria paulistana:
– Toda vez que me bate uma vontade de voltar, penso neste horário, quase seis da tarde, na Marginal Tietê… Aí eu fico aqui mesmo, em Porto de Galinhas.
2003. Estávamos na TV Record. Já tinha trabalhado com Luciano de 1997 a 2001 na Band. Ele e Juca Silveira tinham me levado para lá. Onde estreei em Araçatuba. Corinthians em campo no SP-97. Depois da transmissão, me disse que narraria a Copa da França, em 1998. A Olimpíada de Sydney, em 2000. E penduraria o microfone que desde moleque era dele. E foi de poucos com tamanha qualidade, intensidade, paixão.
Eu tinha um tipo assim em casa. Eu sabia que agora tinha mais um ídolo. Mestre. Colega. Amigo. Do mesmo jeito.
Apenas ri do comentário do Luciano. Eu e Osvaldo Pascoal já tínhamos ouvido isso. Ouviríamos algumas vezes em Copas do Mundo e América. Do Brasil. Brasileiro. Série A e B. Estaduais. De todas as divisões. Libertadores. Mercosul. Sul-Americana. Campeonato Italiano. Espanhol. Liga dos Campeões. Mundial de Clubes. Futebol feminino.
Tudo isso eu comentei ao lado dele. Muito, mas muito mais ele fez. Pelo vôlei. Basquete. Indy. Tantos esportes. Esporte total. Narrador total. Empresário total. Apaixonado total. Brasileiro total. Aquele cara que um dia narrou numa noite de sábado, 21h45, em Porto Alegre, um jogo de série A e, logo depois, madrugada adentro na churrascaria de POA, mal dormiu e, 11 da manhã de domingo, depois de pouso em Araraquara, narrou segunda divisão paulista em Matão. Com o pique que o comentarista dele (eu) não tinha.
Coloco aqui algumas das tantas lembranças pessoais por ser Luciano aquele sujeito que há mais de 40 anos frequenta nossa casa na hora do lazer e prazer. Todos têm momentos de alegria e tristeza trazidos pela linda voz de Luciano. Ele é da família. Ele nos contou quando fomos campeões. Ele narrou quando perdemos. Ele nos confortou quando apenas empatamos nesta vida que ele tanto venceu. Também por saber virar algumas derrotas.
Ele não parou em 2000. Não parou naquela tarde de 2003. Nem quando voltou para a Band, em 2006. Quando mal conseguia superar problemas de saúde para levantar da cama. E ainda assim levantava a audiência só de falar gol. Cesta. Ponto. Recorde. Record. Band. Bandsports. Globo. SBT. As rádios onde começou. As televisões onde implantou equipes de esporte. Onde criou ou recriou esportes. Onde inventou narradores, comentaristas, apresentadores, repórteres. Onde foi tão generoso com quem começava. Onde foi tão competitivo com quem tentava ser igual a ele.
Não conseguiram.
Ou, se dessem certo, ouviriam dele o respeitoso silêncio. Luciano era elegante. Quando discordava, silenciava. Quando gostava, gritava como se fosse gol.
Por isso ele é e será sempre referência. Merece ter toda transmissão da Band a ele dedicada. Ao menos um gol de Luciano por jornada esportiva. Um dos estúdios da Band em SP merece o nome dele. O do Show do Esporte, por exemplo, precisa ser chamado estúdio Luciano do Valle. Para não dizer ao menos um estádio. Um ginásio. Uma praça esportiva.
Luciano era o esporte. Qualquer esporte. Ele conseguiria inventar o Beach Basket. Ele narraria futebol de botão na TV. Ele faria qualquer coisa. Por saber fazer de qualquer coisa algo.
Sem bordão. Apenas emoção.
A mesma que, depois daquela conversa em Porto de Galinhas, por outros tantos motivos, o levou de volta aos centros mais agitados. Luciano não conseguia viver pelos ares.
Foi nos ares que sentiu o coração de tantas paixões. Pouco antes da Copa que tanto ele queria ver no Brasil. Não do jeito que será. Até por ter perdido muito da graça sem Luciano. Outro craque que deixa um mundial órfão. Como foi a Copa-06 sem Fiori, que foi dias antes. Como Pedro Luiz, mestre e descobridor de Luciano, nos deixou horas depois da final de 1998.
Como Luciano do Valle deixa órfão o microfone da Band. Ainda bem que os queridos Teo José, Nivaldo Prieto, Ulisses Costa, Oliveira Andrade, Carlos Fernando, Heverton Guimarães podem dar conta do recado.
Mas é claro que Luciano é o primeiro e único. Foi ele que fez da emissora o que ela é até quando ela não quis ser.
Bandeirantes, o Canal do Esporte. Tudo na conta de Luciano.
Esporte, o Canal de Luciano do Valle.
*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.
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Os conteúdos de formação – parte I
É consenso que a boa formação é uma das soluções para o desenvolvimento do futebol brasileiro nos próximos anos. Para isso, investir nas Categorias de Base em todos os âmbitos, da capacitação profissional às melhorias de infraestrutura, do trabalho interdisciplinar às ricas experiências competitivas, é a opção que os clubes têm encontrado para valorizar seus atletas, agregar valor à marca e se destacar no cenário nacional.
Sob o viés da componente técnica da modalidade os avanços são cada vez mais significativos. Se há cerca de 10 ou 15 anos, as competências trabalhadas na formação centravam-se no desenvolvimento dos diferentes fundamentos técnicos do jogo, atualmente, clubes de ponta do futebol brasileiro têm currículos de formação bem definidos com conteúdos específicos a serem ensinados nas diferentes categorias.
Neste espaço, em outras publicações, foi discutida uma proposta curricular com Conteúdos e Temas relativos ao desenvolvimento de jogadores mais completos, inteligentes e que atendam às demandas do futebol moderno. Para lembrá-los, os Conteúdos são os seguintes: Lógica do Jogo, Competências Essenciais do Jogo, Referências do Jogo, Nível Estratégico-Tático do Jogo, Funções no Jogo e Relação com Companheiros. Além disso, é válido mencionar também que o Jogo (em sua essência e complexidade) é o método de ensino utilizado em todas as sessões de treino.
Nesta semana, a proposta da vez consiste na distribuição destes conteúdos com algumas especificações em relação aos temas e sub-temas nas diferentes faixas etárias e categorias.
Fase de Transição Esportiva / Categorias Sub 11, 12 e 13
Por se tratar das categorias iniciais do trabalho de formação, as atividades nas equipes de transição esportiva podem fugir à lógica do jogo de futebol (sem alvos, com excesso de alvos, com regras “anti-lógicas”, com exclusividade de uso do membro não dominante).
Nestas categorias os atletas precisam aprender alguns conceitos gerais sobre o que é jogar bem a modalidade. Para isso, vivenciar em ambiente de jogo as competências essenciais (relação com a bola, estruturação do espaço e leitura de jogo) é fundamental. Então, nos diferentes jogos que os atletas estiverem submetidos, recorrentemente eles deverão ser questionados se estão aplicando bem as competências essenciais do jogo. Em caso de resposta negativa, provavelmente, o jogo aplicado estará num nível anárquico, correspondente a um baixo entendimento coletivo, natural para estas categorias.
Conceitos como aprender a jogar longe da bola, procurar por espaços vazios e ter a própria meta como referência defensiva precisam ser amplamente estimulados. Espera-se que quanto melhores os estímulos, mais qualificadas fiquem as escolhas e antecipações das ações para as diferentes situações-problema.
Nesta faixa etária, julga-se importante o conhecimento de algumas referências do jogo de futebol. Sendo assim, a vivência das plataformas de jogo básicas, 1-4-4-2, 1-3-5-2 e 1-4-3-3, a aprendizagem das zonas de risco (favoráveis às finalizações e cruzamentos), das faixas e linhas do terreno de jogo, o mecanismo de abertura do campo quando em posse e fechamento quando sem bola, devem ser competências adquiridas no treino. É necessário também fazer reconhecer e estimular, didaticamente, que o jogo de futebol possui dois momentos que, estatisticamente, definem os jogos: os contra-ataques (ou transições se optarmos por dificultar a linguagem).
Nestas idades, os meios táticos devem ser vivenciados progressivamente com a ciência de que alguns deles (pressing, ultrapassagem, mobilidade com trocas de posição,) ainda não conseguem ser aplicados em ambiente específico devido ao nível de desenvolvimento dos jogadores e a compreensão que têm do jogo. Ainda assim, os jogos conceituais devem ser utilizados para o aprendizado dos diferentes meios táticos ofensivos, defensivos e de transição. Ênfase aos meios táticos apoio, desmarque, mobilidade sem trocas, fintas e dribles, equilíbrio, compactação, recomposição, flutuação. No período final da transição esportiva, já na categoria sub 13, tabelas, amplitude, profundidade, penetração, retardamento, balanços defensivo e ofensivo devem ser aprendidos.
É tema de trabalho neste período da formação a aprendizagem defensiva a partir de múltiplas referências. O fato de jogadores chegarem ao início da especialização sem conceitos básicos de defesa como a organização coletiva para a marcação a partir da bola, dos adversários, do local do terreno e dos companheiros, justifica a necessidade da compreensão (e aplicação) destes conceitos.
As bolas paradas decidem jogos. Ainda mais nas categorias de base em que, infelizmente, disputam-se partidas em dimensões oficiais. Como o cumprimento da lógica do jogo de futebol é o norte de todo o processo de formação, criar maneiras de manter ou recuperar a posse, proteger ou atacar o alvo a partir das diferentes situações de bola parada e reposições são temas a serem treinados. Jogadas ensaiadas e possibilidades de reposição de acordo com as diferentes circunstâncias do jogo devem ser estimuladas para evitar situações de perigo do adversário e potencializar as da própria equipe.
Ainda nesta fase um tema que não pode ser esquecido é a aprendizagem de uma posição. Detectar o perfil do jogador que está inserido no processo de formação do clube e estimulá-lo principalmente em uma função não significa que o mesmo estará submetido à especialização precoce.
Neste período, enquanto o atleta aprende a fazer uma função e é estimulado numa gama de regras de ação que amplie seus recursos individuais de participação no jogo, detecta-se o potencial de desenvolvimento do atleta para o exercício de outras funções, cobradas num outro momento ao longo do processo.
Para concluir, o último conteúdo preconiza uma ampla utilização de jogos em pequenos grupos, de até 3 vs 3 jogadores. Somente na categoria sub-13, as situações de treinamentos devem proporcionar uma maior utilização de jogos em médios grupos, até 7 vs 7 jogadores. Quanto menos elementos, menos imprevisibilidade e complexidade no sistema. Como todos os jogadores estão em níveis iniciais de aprendizagem da modalidade, jogar em menor complexidade facilita a compreensão além de aumentar a densidade de ações técnicas, que estão em período sensível para serem aperfeiçoadas em especificidade.
Na próxima coluna que trate o tema, a proposta de conteúdos para a Especialização Esportiva, do sub-14 ao sub-17.
Agu
ardo sugestões, críticas e comentários. Abraços e até a próxima semana.
Circulou o mundo a imagem de Neymar após a partida contra o Atlético de Madrid pelas semi finais da Champions League exibindo elástico de sua cueca com a marca Lupo. Tal atitude trouxe imensa publicidade gratuita para a marca brasileira.
Há algumas décadas os organizadores dos grandes eventos esportivos tem buscado privilegiar seus patrocinadores oficiais coibindo o chamado marketing de emboscada.
Marketing de emboscada consiste em estratégia publicitária para divulgar a marca de uma empresa em um evento não patrocinado por ela.
Para a Copa do Mundo de 2014 uma das exigências da FIFA é a proteção aos seus parceiros comerciais.
Diante disso, a Lei Geral da Copa criminaliza durante o evento ações de marketing de emboscada, conforme se apreende pela leitura dos artigos abaixo:
Marketing de Emboscada por Associação
Art. 32. Divulgar marcas, produtos ou serviços, com o fim de alcançar vantagem econômica ou publicitária, por meio de associação direta ou indireta com os Eventos ou Símbolos Oficiais, sem autorização da FIFA ou de pessoa por ela indicada, induzindo terceiros a acreditar que tais marcas, produtos ou serviços são aprovados, autorizados ou endossados pela FIFA:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, sem autorização da FIFA ou de pessoa por ela indicada, vincular o uso de Ingressos, convites ou qualquer espécie de autorização de acesso aos Eventos a ações de publicidade ou atividade comerciais, com o intuito de obter vantagem econômica.
Marketing de Emboscada por Intrusão
Art. 33. Expor marcas, negócios, estabelecimentos, produtos, serviços ou praticar atividade promocional, não autorizados pela FIFA ou por pessoa por ela indicada, atraindo de qualquer forma a atenção pública nos locais da ocorrência dos Eventos, com o fim de obter vantagem econômica ou publicitária:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano ou multa.
Diante disso, eventual atitude semelhante à do Neymar em partida válida pela Copa do Mundo poderá levar o atleta à prisão, sem prejuízo a eventuais punições disciplinares.
Diante disso, eventual atitude semelhante à do Neymar em partida válida pela Copa do Mundo poderá levar o atleta à prisão, sem prejuízo a eventuais punições disciplinares.
Portanto, torcedores, atletas e publicitários devem ficar bastante atentos para que eventual ato promocional não termine na justiça criminal.
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Melhorando o aprendizado no futebol
Numa coluna anterior eu abordei a questão do feedback e sua importância para os treinadores dentro do futebol.
Hoje quero compartilhar com vocês uma questão relacionada a como melhorar o aprendizado ou como conseguir promover o ciclo do aprendizado no futebol. Os treinadores passam a utilizar o feedback como forma de reforçar o comportamento positivo do atleta ou para orientar na melhoria do comportamento apresentado pelo atleta em determinada situação presenciada.
Mas, isso de maneira isolada ou esporádica não garante e nem contribui para o alto rendimento. Acompanhar o desempenho do atleta, com o reforço de comportamentos positivos e orientação de comportamentos que necessitam melhorar, são ações cotidianas do líder e que constroem uma relação de confiança com os atletas.
Para se conseguir melhorar de maneira contínua e consistente, faz-se necessário que o treinador perceba o comportamento e tenha interesse genuíno pelo desempenho atleta, com isso pode-se promover nele reflexão sobre sua expectativa, ou estado futuro desejado, e sua situação real no momento.
Quando o atleta está numa situação em que sua realidade não é igual a sua expectativa, caracteriza-se um problema ou uma diferença de estado percebida para qual o atleta pode elaborar, com o apoio de um coach ou um treinador com essa competência, um plano de desenvolvimento para atingir a equivalência entre a sua expectativa e a sua realidade. Nos momentos em que isso acontece, o feedback deve ser de orientação para promover a mudança de comportamento, que gera aprendizado e evolução do atleta.
Complementando este ponto, devemos ter em mente que é importante trazer à superfície o propósito real do atleta em relação a esta expectativa, pois com propósito genuíno o atleta se prontificará a iniciar o movimento de mudança em direção aos seus objetivos.
Na mesma medida, quando a realidade do atleta corresponde de maneira equivalente a sua expectativa o treinador, atento aos comportamento positivos apresentador pelo atleta, deve promover o feedback positivo, reforçando tal comportamento e dessa maneira contribuindo com a manutenção de seu estado de evolução.
Agora, para que este ciclo de aprendizado aconteça é necessário que se estabeleça um ambiente de confiança entre o treinador e os atletas para que as orientações e os reforços positivos sejam eficazes junto aos atletas. Aos treinadores que chegam em suas novas equipes (isso mesmo novas equipes pois mesmo ainda estando no mês de abril muitos clubes do futebol brasileiro andam em suas rotinas de trocas de comando técnico) compartilho que para se construir um relacionamento de confiança um bom começo é conseguir promover ao menos três feedbacks positivos ou seja reforçar três comportamentos positivos de seus atletas, para somente depois promover um feedback de orientação. Isso contribuirá na construção do ambiente de confiança adequado que possibilitará desenvolver um eficaz ciclo de aprendizagem nos atletas.
Até a próxima!
Quero crer que, escondida no meio dos meus inúmeros defeitos, se encontra em mim uma virtude: dá-me prazer o ato de admirar o que verdadeiramente deve ser admirado, por outras palavras: o que é mesmo admirável. Entre o pouco que sou ou valho, deixem-me então distinguir uma qualidade: na minha indispensável atitude judicativa de “aprendiz de filosofia”, de tudo o que me parece um trabalho honesto e competente me aproximo, com a boa fé suficiente, para aplaudir, para julgar, para aprender. Este sentimento de admiração o senti diante do livro Filosofia e Futebol: troca de passes (Editora Sulina, Porto Alegre, 2012) da autoria de Luiz Rohden, Marco Antonio Azevedo, Celso Cândido de Azambuja e outros.
É um livro de prosa pujante e significativa cujo colorido e graça, bem brasileiros, dão uma agradável tonalidade de originalidade e frescura ao aparato das ideias. Trata- se, portanto, de uma obra de intelectuais brasileiros, simultaneamente “torcedores” do futebol. E assim o seu estilo vivo e castiço é um nítido espelho onde se reflete o que o futebol (nomeadamente o brasileiro) é e o que vale. Nela se descobre uma citação de Hilário Franco Júnior, a qual sublinha que, no Brasil, o “futebol é bastante jogado e insuficientemente pensado”. Mas o mal, que os autores e o Hilário Franco Júnior lastimam, não o surpreendemos tão-só no Brasil. Por esse mundo fora, há muita gente, estudiosa e imaginosa, que se ocupa do futebol, espiolhando até o que de mais escondido tem a sua originalidade. Mas muitas vezes o seu pessimismo demolidor e negativista não é acompanhado do realce das enormes virtualidades em que o futebol (no meu entender: o fenómeno cultural de maior magia, no mundo contemporâneo) se desentranha, na sociedade hodierna. Os agentes do futebol têm defeitos? É evidente, pois são seres humanos! Por isso, os defeitos do futebol estão nele… por contágio de cada um de nós!
No futebol, como em qualquer atividade humana, assoma uma primeira constatação: ele não encontra em si mesmo a sua plena inteligibilidade, porque não pode conceber-se fora da totalidade social e cultural que o sustenta. Não há futebolistas, porque há futebol, mas há futebol, porque há futebolistas. Lá volto eu a uma ideia que defendo, há 40 anos: o futebol não é só uma atividade física, mas uma atividade humana. Com as qualidades e os defeitos de qualquer atividade humana! Ruy Carlos Osterman assinala o futebol como modelo de solidariedade. “A sociedade é muito mais individualista, é muito mais fechada em si mesma e nos seus valores de consumo do que gregária, unida, solícita, colaboradora (…). O futebol não é apenas uma metáfora da vida real. Ele é, na verdade, a reprodução idealizada da vida real, embora em outros termos – o que é diferente de uma metáfora.
A metáfora é uma ideia no lugar de outra ideia. Mas aqui é um fato no lugar de outro fato” (p. 123). Luiz Rohden, associando, com mestria, a filosofia ao futebol, escreve: “A filosofia precisa ser posta em jogo sempre, faz parte da sua natureza estar em jogo, jogar com o real. Disso decorre o pressuposto segundo o qual ela vive do diálogo incessante com outras áreas do conhecimento e nisso ela tem sua razão plena de ser” (p. 181). No entanto, “há alguns povoados e vilarejos do Brasil que não têm igreja, mas não existe nenhum sem campo de futebol” (Alex Bellos, Futebol, o Brasil em campo, Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 2003, p. 10). Ou seja, no Brasil, o futebol é filosofia e a filosofia é futebol. Neste caso (e no meu modesto entender) o futebol de Pelé e Garrincha e Didi e Sócrates e Tostão e Zico e Ronaldo, o fenómeno, e Romário e Ronaldinho Gaúcho e Neymar, etc., etc. diz respeito a uma atitude filosófica brasileira resultante do modo-de-ser do homem brasileiro.
O sentimentalismo incontido, a sensibilidade ardente, a emotividade, de preferência à frieza e ao intelectualismo e racionalismo doutras culturas formam um corpo de doutrina que os futebolistas e os filósofos traduzem, cada um à maneira que lhes é própria. Há uma filosofia brasileira, como há um futebol brasileiro. A filosofia é um conhecimento apátrida, pela sua metafísica, pelo plano lógico em que se coloca. Mas, enquanto pesquisa, num lugar e num tempo, ela nacionaliza-se, espacializa-se, temporaliza-se. Do futebol poderíamos dizer outro tanto: pelas instituições e pelas regras, não tem pátria; pelo caráter, personalidade e linguagem corporal dos jogadores, o futebol tem alma. Há pois um laço profundo entre o futebol e a filosofia e uma reciprocidade tão profunda que uma rutura entre ambos é absolutamente impossível. Recordo as minhas conversas, na Unicamp, com o João Batista Freire, naqueles irrequietos anos de 1987 e 1988, onde tudo se discutia, do futebol à filosofia e à política. Era ele, um homem de ternura e de bondade incomparáveis, acudindo de pronto às minhas dúvidas, que me dizia: “O futebol brasileiro é também a consciência da nossa historicidade como povo, com alma própria. Por isso, o nosso estilo de jogar futebol é inconfundível. É artístico, como nenhum outro o é”. Para Luiz Rohden, com o extenso horizonte dos seus olhos fascinados pelo futebol, “a produção do jogo belo fascina e continuará a cativar os amantes do futebol. Garrincha é exemplo eterno disso; é a encarnação do paradoxo segundo o qual é possível jogar a sério, visto que jogar é caçoar, é gracejar (…). Enfim, no futebol-arte estão conjugados dois elementos básicos: por um lado, possui regras e requer técnicas repetitivas, aplicáveis universalmente, que são produtivas e eficientes; por outro lado, participam dele a criação, a improvisação e também a beleza” (p. 189). Do futebolista de recursos técnicos e físicos e táticos invulgares, emerge quase sempre trabalho e beleza, há portanto muito para uma objetiva análise de índole filosófica e futebolística.
Celso Cândido de Azambuja (mais um dos autores deste magnífico livro) afaga, com deslumbramento, o futebol brasileiro e sustenta que “no Brasil, o futebol não é simplesmente uma alienação, como pretendem alguns críticos de estirpe (…). Para outros, muitos, o futebol é uma verdadeira benção, um caminho, uma esperança, uma salvação (…). Faz parte da saúde física e mental do povo brasileiro” (p. 261).
O livro Filosofia e Futebol: troca de passes é uma oportuna chamada de atenção para o respeito que o futebol, como atividade humana, nos merece – atitude de respeito tantas vezes substituída pela absolutização do mercado e pela ditadura do lucro. O ser humano ocupa uma posição privilegiada, pois que é nele que a natureza se faz consciência. Parece-me, por isso, imperioso e urgente uma reflexão antropológica, no futebol, como treino e como competição e como espet&aa
cute;culo. O futebol, pela sua inigualável popularidade e até pela sua atitude normativa, tem condições únicas de assumir a tarefa específica de apontar caminhos para uma organização solidária e fraterna das relações sociais. O futebol tem de viver-se como valor, como experiência de comunhão e de humanização. É isto, no meu pensar, o que o futebol tem o dever de cultivar. O perigo que nos espreita, no futebol e no mais, não é o choque de civilizações, mas a ausência de valores compartilhados. Parabéns aos autores e ao editor deste livro – que vai ser, tenho a certeza, um ponto de partida, para novas reflexões filosóficas, sobre o futebol, se possível mais atuais e mais atuantes.
*Manuel Sérgio é antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.
Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.