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Você seria treinador do Cruzeiro? E jogador do Palmeiras?

Após ter empatado por 0 a 0 com o América-MG no último domingo (24) e ter sido eliminado do Campeonato Mineiro, o Cruzeiro anunciou a demissão do técnico Deivid. O Palmeiras caiu no Paulista no mesmo dia, superado nos pênaltis pelo Santos (empate por 2 a 2 no tempo normal). Não interrompeu o trabalho do treinador Cuca, que chegou ao clube com a temporada 2016 em andamento, mas já avisou que vai reforçar o elenco para o Campeonato Brasileiro – a equipe alviverde já havia caído na fase de grupos da Copa Libertadores. Há muito mais coincidências nessas histórias do que o fracasso em torneios estaduais. A principal é que ambas revelam uma enorme falta de convicção. E a comunicação, nesse caso, só reforça isso.
Deivid saiu do Cruzeiro com dez vitórias, cinco empates e duas derrotas em 17 partidas. O treinador tinha 68,6% de aproveitamento de pontos e ainda terminou a primeira fase do Campeonato Mineiro com a melhor campanha. No entanto, vinha sendo criticado por parte da torcida e tinha pouco estofo – o trabalho deste ano é o primeiro dele como treinador.
O Palmeiras foi o time que mais contratou jogadores no Brasil durante as duas últimas temporadas. Em 2016, investiu em nomes como Erik, egresso do Goiás, para o setor ofensivo. Ainda assim, encarou o Santos com Roger Guedes, 19, como titular no ataque – o jogador também chegou ao clube neste ano e entrou na vaga de Dudu, que estava lesionado.
Você treinaria o Cruzeiro hoje? Mesmo sabendo que não existe qualquer convicção sobre o trabalho e que pressões externas podem exercer enorme influência em qualquer análise sobre o contexto?
Você seria jogador do Palmeiras hoje? Mesmo sabendo que o time contrata em profusão, muitas vezes sem critério, e que seu espaço pode ser limitado pelo excesso de opções em algumas posições?
Sim, é possível que os dois casos sejam apenas revisão de curso. É possível que o Cruzeiro tenha avaliado que o estilo proposto por Deivid não era o ideal e que encontre um treinador para realizar um trabalho longevo no clube. É possível que o Palmeiras busque peças para poder parar de contratar. Mas não foi nada disso que a comunicação dos clubes mostrou.
Depois das eliminações do último domingo, Cruzeiro e Palmeiras se comportaram como se seus trabalhos fossem descartáveis. É isso que assusta.
O Cruzeiro poderia ter demitido Deivid, é claro. O Palmeiras pode julgar que necessita de mais reforços. Não são as decisões que estão em análise aqui, mas as conduções dos clubes nos dois casos.
O que mais falta no futebol brasileiro hoje é identidade. Da seleção aos clubes, existe uma carência gigante de ideias claras e que sejam disseminadas em toda a cadeia. É por isso que o Audax, finalista do Campeonato Paulista, é uma das grandes notícias do futebol brasileiro em 2015.
O Audax não é o Leicester, time que está perto de conquistar um surpreendente título inglês. Não é uma equipe de repertório curto, de comportamento acanhado ou de soluções mais simples. O técnico Fernando Diniz moldou uma filosofia de proposição de jogo, de controle da bola e de alternância de ritmo. Tudo é bem engendrado em um elenco que não tem ídolos ou referências técnicas, mas que sabe exatamente o que se espera.
Conta a favor do Audax o fato de não ter torcida gigante, é claro. É um time que tem tempo para trabalhar e espaço para tomar sustos. O que mais chama atenção, entretanto, não é o resultado: é o fato de eles terem uma identidade marcada.
Entre os grandes do futebol brasileiro, talvez só o Corinthians tenha algo similar. A formação, as movimentações e o comportamento precedem qualquer apresentação sobre o time montado por Tite.
Fernando Diniz e Tite podem não ser gênios da raça. Não é uma análise com superlativos. Mas eles são, de muito longe, os dois profissionais que mais sabem transmitir ao público a identidade que eles pretendem implantar. Comunicação é isso, afinal.

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Lei do ato olímpico: a lei dos Jogos de 2016

Antes da Copa do Mundo, muito se discutiu sobre a “Lei Geral da Copa”, entretanto, sem muito alarde, em 01 de outubro de 2009, foi promulgada a Lei 12.035, que instituiu o Ato Olímpico, que equivale à “Lei da Copa” no que tange aos Jogos Olímpicos.
Conhecida como “Lei do Ato Olímpico”, a Lei 12.035/2009 tem a finalidade de assegurar garantias à realização, na cidade do Rio de Janeiro, dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016.
Tal como a “Lei Geral da Copa”, a “Lei do Ato Olímpico” legitima uma série de exigências do Comitê Olímpico Internacional.
Segundo a “Lei do Ato Olímpico”, ficam dispensadas a concessão e a aposição de visto aos estrangeiros vinculados à realização dos Jogos Rio 2016, considerando-se o passaporte válido, em conjunto com o cartão de identidade e credenciamento olímpicos, documentação suficiente para ingresso no território nacional, sendo, entretanto, vedado o exercício de qualquer outra função, remunerada ou não, além daquela ali estabelecida.
A permanência no país será restrita ao período compreendido entre 5 de julho e 28 de outubro de 2016, podendo ser prorrogada por até 10 (dez) dias.
O Poder Executivo poderá revisar contratos, permissões e concessões, que tenham por objeto a utilização de bens, de imóveis ou de equipamentos pertencentes à União e a suas autarquias, desde que sejam indispensáveis à realização dos Jogos Rio 2016, assegurada a justa indenização.
Por exemplo, o estádio Engenhão foi concedido ao Botafogo, mas, durante os Jogos Olímpicos, a referida concessão, por interesse dos Jogos, será suspensa e o clube terá que mandar seus jogos em outro local.
No que concerne às marcas e patentes, estas serão protegidas pelas autoridades federais que, no âmbito de suas atribuições legais, atuarão no controle, fiscalização e repressão de atos ilícitos que infrinjam os direitos sobre os símbolos relacionados aos Jogos Rio 2016.
Segundo a Lei, ficam suspensos, pelo período compreendido entre 5 de julho e 26 de setembro de 2016, os contratos celebrados para utilização de espaços publicitários em aeroportos ou em áreas federais de interesse dos Jogos Rio 2016, na forma do regulamento.
Esta prerrogativa de adquirir os referidos espaços publicitários poderá ser transferida pelo Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016 a quaisquer empresas ou entidades constantes do rol de patrocinadores e colaboradores oficiais do COI e do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016.
O Governo promoverá a disponibilização para a realização dos Jogos Rio 2016, sem qualquer custo: segurança; saúde; serviços médicos; vigilância sanitária; alfândega e imigração.
Fica assegurada às pessoas envolvidas no evento (comitês olímpicos, atletas, autoridades) a disponibilização de todo o espectro de frequência de radiodifusão e de sinais necessário à organização e à realização dos Jogos Rio 2016, garantindo sua alocação, gerenciamento e controle durante o período compreendido entre 5 de julho e 25 de setembro de 2016.
Inclusive, durante este período e para a finalidade de organização e realização dos Jogos Rio 2016, o uso de radiofrequências pelas entidades e pessoas físicas relacionadas às Olimpíadas será isento do pagamento de preços públicos e taxas.
Por fim, caso seja necessário, a “Lei do Ato Olímpico” autoriza a destinação de recursos públicos para cobrir eventuais déficits operacionais do Comitê Organizador dos Jogos Rio 2016, a partir da data de sua criação, desde que atenda às condições estabelecidas na lei de diretrizes orçamentárias e esteja prevista no orçamento ou em seus créditos adicionais.
Portanto, a aceitação de exigências não se restringiu àquelas da Fifa para a organização da Copa do Mundo, mas, apesar de não ter havido grande divulgação, o COI também realizou uma série de exigências que culminaram na Lei do Ato Olímpico.

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O caso Fred e o tamanho dos nossos ídolos

O Fluminense venceu o Volta Redonda por 2 a 0 no último domingo (10), em jogo válido pela fase de classificação do Estadual do Rio de Janeiro. Principal referência ofensiva e capitão da equipe tricolor, o centroavante Fred, 32, não estava em campo. Um dia antes, em reunião com seus representantes e a diretoria do clube, o camisa 9 reclamou do tratamento que tem recebido do técnico Levir Culpi e disse que não atuará mais sob o comando dele. E esse racha tem muito a ver com o atual momento do futebol brasileiro.
Fred tem contrato com o Fluminense até 2018 e recebe R$ 800 mil mensais. Após ter rejeitado proposta do futebol chinês no início do ano, cobrou da diretoria um aumento de 25% nos vencimentos. Além disso, reclamou de questões táticas de Levir e por ter sido substituído em quatro dos cinco jogos que fez com o técnico.
Questionado pela “TV Globo” sobre o episódio antes do jogo contra o Volta Redonda, Levir tentou aplacar a crise. O treinador enalteceu Fred, disse que ainda não havia conversado com o atacante e ponderou que o diálogo é o melhor caminho para um desfecho menos traumático em situações assim. O fato de o chamado para um debate ter sido feito na câmera da principal emissora de televisão do país, contudo, só mostra o quanto a lógica dessa situação toda foi atropelada.
Contratado pelo Fluminense em 2009, Fred foi protagonista dos momentos mais marcantes da equipe tricolor na década. É um centroavante letal, com poder de definição raro no futebol brasileiro, e hoje também representa uma das principais referências entre os elencos nacionais. Talvez só Victor (Atlético-MG), Fabio (Cruzeiro) e Jefferson (Botafogo) tenham com seus clubes um grau de identificação tão grande.
O bom desempenho técnico e a identificação com o clube colocaram Fred em um ambiente confortável demais. O centroavante foi valorizado financeiramente e ganhou poder. Sobretudo porque os últimos técnicos contratados pelo Fluminense foram nomes menos badalados do que ele, que representou a seleção brasileira em duas edições da Copa do Mundo (2006 e 2010). O racha que ocorreu com Levir Culpi poderia ter sido antes se ele tivesse comandantes com mais estofo do que Ricardo Drubscky, Enderson Moreira ou Eduardo Baptista.
O que acontece agora, portanto, é um reflexo de como o Fluminense lidou com a idolatria que Fred construiu. O jogador teve privilégios e participação na vida política do clube a ponto de se sentir maior do que a hierarquia.
Também é um reflexo de como os jogadores são tratados atualmente. Fred tem um exército de aduladores em volta, como qualquer grande atleta do mundo nos dias de hoje, e também é mimado pelas pessoas que o cercam.
Certa vez conversei com o responsável pela gestão financeira de um dos principais jogadores brasileiros do planeta. Ele disse que o atleta tinha um cartão de crédito sem limite e que usava apenas para abastecer o tanque do carro. O tal ídolo não sabia sequer quanto recebia por mês.
Não sei se Fred tem esse nível de desprendimento da realidade. Não sei se ele tem noção de quanto ganha ou de como controla o dinheiro. No caso dele, porém, esse ambiente de pouca responsabilidade se traduziu em sensação de domínio do ambiente.
Fred é apenas um exemplo do quanto alguns dos nossos ídolos têm problemas com responsabilidade. É uma das principais marcas da geração dele no futebol brasileiro – Adriano e Ronaldinho Gaúcho são outros exemplos. E isso não é uma comparação entre os casos, bem entendido, mas uma constatação de que nenhum deles tem um posicionamento adequado ao macro.
Qual grande jogador brasileiro tem noção de contexto e se posiciona sobre temas que lhe são caros? Qual atleta nacional é referência de comportamento crítico ou consegue lidar com assuntos além dos próprios contratos?
O caso de Fred é apenas mais um exemplo de como formamos atletas que são cada vez menos preparados para entender o contexto. Quando rachou com o treinador e criticou Levir apenas por questões pessoais, o centroavante mostrou uma postura que foi imediatamente rechaçada pela maioria da torcida. Não por acaso, o público que estava na arquibancada da partida contra o Volta Redonda gritou o nome do treinador e xingou o atacante.
Mais do que discutir quem está certo, o que aconteceu no Fluminense é uma oportunidade para pensarmos em como estamos formando nossos ídolos e quais são as mensagens que os jogadores do futebol brasileiro podem transmitir. Afinal, que tipo de entendimento esses atletas têm sobre comunicação e relação com o público que os acompanha?
A pergunta é sobre Fred, mas poderia ser sobre qualquer um. A deterioração da relação entre torcedores e jogadores do Brasil (também) tem relação direta com a falência do modelo de ídolo.

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Confronto 1×1: um olhar para o alto rendimento e o treino

Olá, amigos!
A discussão nesta coluna é sobre um aspecto considerado um dos menores (porém não menos significantes) subprincípios do jogo: o confronto 1×1. Em tempos de evolução metodológica e tática, análise de equipes por meio de ferramentas tecnológicas modernas, encontramos uma imensa gama de debates sobre estratégias de jogo, linhas de marcação, princípios táticos, comportamentos coletivos, que contribuem para o desenvolvimento da modalidade. Mas o objetivo aqui é discutir um pouco mais das ações de enfrentamento entre um jogador com bola e seu marcador direto, especificamente, dando ênfase ao portador da bola.
Peço que observem os vídeos a seguir. Eles contêm lances de confronto 1×1 proporcionados recentemente por grandes jogadores do cenário mundial: Lionel Messi (BAR), Douglas Costa (BAY), Neymar (BAR) e Cristiano Ronaldo (MAD). Antes de seguir adiante, apreciem os lances e façam suas próprias análises sem serem influenciados por este texto. Cada vídeo tem de 2 a 3 minutos (assista-os completamente ou alguns momentos, como preferir).





Agora atente para a quantidade e variedade de situações de enfrentamento que apareceram nos vídeos. Eles foram recortados de jogos recentes destes atletas, e observados em situações distintas – drible com poucos toques, confronto com cobertura próxima ou distante, atacante distante ou próximo ao alvo, drible em velocidade, drible para a frente, drible para trás, busca por companheiro para passar a bola, decisões que deram certo ou não, entre outras.
A partir de diferentes problemas emergentes do jogo pode se trabalhar os conceitos que a comissão técnica e os jogadores julgarem pertinentes. Posicionamento do corpo, observação e leitura do adversário, visão periférica antes de a bola chegar, desmarcar-se, domínio direcionado, bola próxima do pé, decisão rápida, mudança de ritmo, mudança de direção, evitar (ou não) o contato com o adversário, ser imprevisível, aproximação de outros companheiros para realizar vantagem numérica, não perder o alvo de vista (a fim de ser objetivo), buscar zonas de alto risco para o adversário, enfim, são infinitas possibilidades a serem conceituadas e trabalhadas.
Em discussões recentes com companheiros de trabalho temos debatido sobre os graus de importância dados ao treino e utilização do 1×1 em jogos, e o quanto o treino e os feedbacks em relação a este subprincípio podem contribuir para o sucesso. Saliento que, o confronto 1×1 não acontece descontextualizado num jogo de futebol, pois sempre há todos os elementos do jogo envolvidos na situação problema, tais como bola, companheiro (s), adversário (s), alvo a atacar e defender, zonas de referência espacial, pressão de tempo-espaço, relação com o resultado do jogo, entre tantos outros. Chama-se este instante de um fractal do jogo, onde se observa uma “fatia” do mesmo que possui todos os seus elementos.
Se pretendemos melhorar o 1×1 que acontecerá no jogo, de maneira imprevisível e aleatória, logo necessitamos criar desafios em nossos treinos que contemplem tais possibilidades. Há muitas maneiras e muitos elementos para se cumprir a lógica do jogo. Fazer bom uso destes enfrentamentos sendo respeitadas as características das pessoas com quem se trabalha pode contribuir para a busca por êxito. Tendo o treino aspectos complexos sendo considerados o tempo todo, não podemos nos esquecer de melhorar nosso olhar sobre o indivíduo que o pratica.
Quando se tem bons jogadores no 1×1, é possível gerar muitos desequilíbrios na defesa adversária (favorecendo a busca pelo gol) e também contribuir para o espetáculo proporcionado aos torcedores.
Diante disso, deixo aqui algumas perguntas e reflexões para o debate: que importância você dá hoje para o enfrentamento 1×1 no seu treino e na maneira de jogar da sua equipe? Como você controla a oferta destas possibilidades nas suas sessões de treino e no planejamento? Que feedback você dá para o acerto e para o erro na tentativa destas jogadas? Como você vê o jogador brasileiro atualmente em relação aos jogadores de décadas passadas no que diz respeito ao uso desta ferramenta?
Escreva para rafael@universidadedofutebol.com.br e vamos debater!
Um grande abraço e até a próxima!

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Entrevista

Há alguns dias participei do programa Encontro Esportivo. Comandado por Nelson Junior, respondi por cerca de uma hora perguntas relativas a minha trajetória profissional.
Por julgar que minhas experiências, de alguma forma, podem ser úteis aos profissionais do futebol (e aos que almejam trabalhar na área) que acompanham a coluna, resolvi disponibilizá-la na íntegra. Para acessá-la, basta clicar no link abaixo:

Para quem não tiver disponibilidade de acompanhar toda a entrevista, deixo também um roteiro por tópicos de interesse.
3m00s – O início no futebol e a trajetória como atleta.
6m50s – A escolha da carreira de treinador
8m10s – O primeiro clube: Paulínia FC
9m10s – O segundo clube: Grêmio Novorizontino
11m50s – O terceiro clube: a ida e as funções no Atlético Paranaense
13m15s – Explicando a função de coach
16m25s – O contexto da ida para o Coritiba FC
18m20s – Atlético Paranaense: um dos melhores clubes do futebol brasileiro
22m20s – O trabalho no Coritiba FC
26m45s – Os primeiros contatos com Fernando Diniz e sua equipe em 2012
31m25s – A reaproximação com Fernando Diniz em 2015
32m00s – A saída do Coritiba como treinador para ser auxiliar no Audax: um retrocesso?
34m00s – O que as equipes do Fernando Diniz têm de diferente?
41m20s – A minha capacitação no futebol e a relação entre teoria e prática
45m20s – A participação no Footecon
47m55s – Explicando o que é a Universidade do Futebol e seu idealizador
51m00s – Uma das melhores jogadas do Paulistão 2016 e sua correlação com o treinamento
55m15s – As diferenças entre o futebol brasileiro e europeu. A reação da torcida e imprensa quando as equipes recuam a bola para o goleiro.
1h01m10s – O Eduardo vai continuar com a forma de jogar do Fernando Diniz?
1h03m30s – O Audax classifica para a série D?
1h05m30s – Agradecimentos
Caso tenha alguma dúvida ou comentário, escreva-me. Abraços e até a próxima!

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Ba-Vi nos tribunais

Um dos clássicos de maior rivalidade do país, o Ba-Vi é conhecido nacionalmente pelos belos lances, festa da torcida e emoção.
A rivalidade, porém, suplantou os gramados e ganhou os tribunais desportivos. O motivo é o registro do atleta Victor Ramos, do Vitória.
O clube rubro-negro entende ser legítimo seu registro, uma vez que se trata de transferência nacional, já que o último time do jogador foi o Palmeiras.
O Bahia, por seu turno, defende que se trata de transferência internacional, pois o atleta está vinculado à equipe mexicana do Monterrey e que, portanto, o registro tenha se dado fora da janela.
Relevante destacar que o Victor Ramos pertence ao clube mexicano e estava no Palmeiras por empréstimo e que, após o final de seu contrato com o time paulista, foi emprestado ao Vitória.
Ou seja, o atleta saiu de um clube brasileiro para outro clube brasileiro, mas oriundo de um contrato com os mexicanos, que possuem direitos sobre o jogador. Em outras palavras: a transferência foi nacional ou internacional?
Caso a inscrição do atleta seja considerada ilegal, o Vitória será eliminado do Campeonato Baiano.
O imbróglio torna-se maior pelo fato de o jogador ainda estar vinculado ao Palmeiras no TMS (sistema da Fifa obrigatório para transferências internacionais), o que, ao menos do ponto de vista formal, indica uma transferência nacional.
Doutro giro, os regulamentos da Fifa estabelecem a obrigatoriedade da utilização do TMS para as transferências internacionais sob pena de nulidade, logo, Victor Ramos deveria retornar ao Monterrey para depois ser registrado, via TMS, no Vitória.
O TMS foi criado para conferir maior segurança nas transações internacionais e justamente por isto deve ser observado.
O que importa não é a localização geográfica do atleta, mas a escala contratual. Segue o enredo dessa história:
A – Contrato de empréstimo do Monterrey para o Palmeiras.
B – Fim do contrato de empréstimo e retorno dos direitos ao Monterrey
C – Novo contrato de empréstimo do Monterrey ao Vitória.
Parece preciosismo, mas um dos objetivos da Fifa com o TMS é controlar e fiscalizar as transferências de atletas menores de idade e, caso se entenda válida a operação Monterrey-Vitória, abre-se um perigoso precedente para os empréstimos de jovens e sua “circulação” livre entre os clubes do país da equipe que o recebeu por empréstimo.
Não punir o Vitória significa contrariar as normativas da Fifa e incluir situação excepcional não prevista, pois, caso fosse a intenção excluir da obrigatoriedade do TMS o novo empréstimo para outro clube do mesmo país, a entidade o teria feito expressamente.
Assim, infelizmente, Monterrey errou ao não registrar o fim do contrato de empréstimo com o Palmeiras no TMS e o Vitória embarcou nessa omissão que torna a transação nula.
Portanto, eventual decisão no sentido de não eliminar o Vitória do Campeonato Bahiano infringirá as normas da Fifa e o regulamento da competição que fixa a data para registro de atletas vindos do exterior.

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O time de futebol: um grupo ou uma equipe?

Hoje resolvi falar um pouco sobre a questão da integração e engajamento de atletas numa equipe de futebol.
Vemos com frequência os jogadores comentarem sobre o grupo, que fazem parte do grupo ou que o grupo está unido e por aí vai. Porém, se observarmos detalhadamente o desempenho de algumas equipes, poderemos perceber que algo não está plenamente encaixado dentro e/ou fora de campo. Em alguns momentos os desencontros são visíveis, sejam eles reflexos de uma jogada mal executada ou numa declaração desalinhada.
Com isso podemos refletir sobre o fato de que em alguns grupos ainda podemos não ter equipes estabelecidas de verdade. Quero dizer, times onde os atletas colaboram efetivamente uns com os outros, que saibam exatamente seus papéis e suas responsabilidades, bem como onde podem ir além em favor da equipe, para obterem os verdadeiros e valiosos resultados tão esperados por todos os envolvidos e interessados.
Então, agora trago rapidamente a questão do tal engajamento.
O engajamento profissional tem a ver com a coneção das pessoas com o seu trabalho e com a organização ou clube para a qual se dedicam. Profissionais engajados entendem seu papel no contexto dos objetivos comuns e, por isso, dão valor ao seu trabalho e garantem uma contribuição produtiva efetiva.
Podemos compreender que o engajamento está diretamente ligado à motivação, ou seja, ele não se compra. Agora, podemos também entender que o engajamento não é simplesmente um projeto de temporada com objetivos claros e um prazo final. O trabalho com engajamento nunca é “acabado”. É um processo contínuo, de melhoria contínua que pode permear várias temporadas.
O engajamento é importante para qualquer equipe, pois tem impacto direto na produtividade e performance que se traduz em resultados dentro e fora de campo.
Parece complicado promover esse tal engajamento? Vamos lá, temos algumas dicas que podem ajudar.
1. Conheça seu atleta: conhecer suas habilidades e competências é muito importante para saber como explorar seu potencial, para estimulá-lo a cumprir as atividades esportivas com eficiência e ter a certeza de que ele fará tudo de maneira mais confortável e estará confiante.
2. Acompanhe e reconheça: muitas vezes, a frustração do atleta pode estar relacionada ao não reconhecimento pelo bom trabalho que ele realiza. Por isso, os treinadores e gestores precisam monitorar e recompensar seus atletas, para que mais do que cumprir tarefas, eles queiram superar seus próprios limites!
3. Dê feedback: é com ele que se poderá alinhar a expectativa entre o que se deseja dele e o atleta.
4. Estabeleça metas e recompensas: é importante que o atleta compreenda as metas da equipe e como eles poderão alcançá-las. Além de saber exatamente quais recompensas lhe espera ao final da jornada.
5. Crie um significado: tem muito valor para uma atleta conhecer o significado e importância da atividade que desempenha, a importância do seu papel no todo.
6. Incentive o espírito de equipe: trabalhar em equipe é a melhor maneira de levar o time para uma única direção. Assim, a elevada consciência sobre a importância da coletividade contribuirá para que a percepção de importância dos resultados coletivos seja sempre maior do que aquela alcançada individualmente. De quebra ainda se promove um ambiente mais agradável para todos que dele participam.
Então, vamos construir mais equipes do que apenas grupos no futebol brasileiro?
Abraços e até a próxima.

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Sobre política

O Brasil vive atualmente um dos momentos políticos mais conturbados de sua história. O governo federal está fragilizado por um jogo que aceitou jogar durante anos, e as concessões que a oposição tem admitido mostram o quanto o compromisso com o poder é maior do que qualquer projeto de futuro para o país. O cenário tem servido como mote para que sejam despejados preconceitos que estavam engasgados durante a última década, e a repercussão de tudo isso ainda é extremamente difícil de ser medida. E não houve um time de futebol sequer do país que tenha se manifestado sobre tudo isso – a exceção foi o Corinthians, que fez um post extremamente infeliz em redes sociais sobre a coincidência de datas entre o protesto “contra a corrupção” e o embate contra o Botafogo-SP (a ideia da mensagem era relacionar a luta pela democracia e os dois times defendidos por Sócrates, um dos líderes da “democracia corintiana”, mas a repercussão negativa levou a equipe a apagar a postagem logo depois).
A Fifa vive atualmente um dos momentos políticos mais conturbados de sua história. Uma investigação liderada pelo FBI relacionou dirigentes da entidade a uma série de malfeitos e derrubou a cúpula liderada pelo suíço Joseph Blatter, que havia sido reeleito. Ele e nomes como Jérôme Valcke, que até outro dia estavam entre os mais poderosos do esporte mundial, hoje estão exilados do futebol e tentam escapar da cadeia. Outros, como o brasileiro José Maria Marin, já foram condenados. E não houve um time de futebol sequer do Brasil que tenha se manifestado sobre tudo isso.
A CBF vive atualmente um dos momentos políticos mais conturbados de sua história. José Maria Marin, ex-presidente da entidade, foi preso na Suíça e hoje vive regime domiciliar nos Estados Unidos. Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero, outros que passaram pelo comando da instituição, também foram citados na investigação do FBI e só não estão atrás das grades porque escondidos no Brasil. E não houve um time de futebol sequer do país que tenha se manifestado sobre isso.
Pior ainda, no caso da CBF: os times brasileiros elegeram o coronel Nunes, vice-presidente defendido por Del Nero apenas por ser o mais velho, que se valeu dessa prerrogativa para ocupar o comando da entidade quando o presidente se afastou para se defender. Não houve quem votasse contra ou defendesse qualquer projeto diferente do nome apresentado pela situação.
Corinthians e Palmeiras jogaram no Pacaembu no último domingo (03) como se fosse um dia qualquer, ainda que torcedores organizados das duas equipes tenham entrado em conflito em diferentes partes da cidade horas antes da partida e que um senhor que não tinha qualquer relação com o duelo tenha sido assassinado por uma bala perdida. E não houve um time de futebol sequer no Brasil que tenha se manifestado sobre isso.
Já passou da hora de os times brasileiros entenderem que são partes de um todo. Já passou da hora de admitirem que não podem ver o mundo passar como se o futebol fosse um universo à parte e não tivesse qualquer relação com o que acontece em outros segmentos da sociedade.
Nenhum time precisa marcar posição ou tem obrigação de participar de todas as discussões. No entanto, é importante que as instituições entendam o peso que elas têm para a sociedade e o quanto podem contribuir para um debate saudável.
O silêncio às vezes incomoda muito. É o caso do que aconteceu sobre as brigas de torcida. Corinthians e Palmeiras podem dizer que são grupos que não mantêm relações com os clubes, mas isso é apenas fugir do debate.
A verdade é que torcidas organizadas usam símbolos dos clubes e fazem dinheiro com isso, mas não pagam qualquer valor pelo direito dessas imagens. Ainda que a relação fosse lícita e que não incluísse subserviência ou benesses como ingressos ou ônibus, essa cessão de imagem configuraria financiamento.
Portanto, mesmo se a relação não envolver dinheiro, clubes sustentam torcidas organizadas. E independentemente disso, se eles não se preocupam com quem usa a imagem ou o distintivo da equipe para matar outra pessoa, com o que eles se preocupam? Que tipo de abalo institucional isso pode causar?
Ficar em silêncio é fácil. É simples fazer o jogo do covarde, votando no coletivo para evitar conflitos políticos com a CBF ou silenciando sobre a política do futebol ou do país. Difícil é entender sua essência, participar do debate e mostrar a cara. É disso que o futebol brasileiro precisa, afinal.

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Justiça Desportiva e e-mails vazados

Na semana que passou foram publicados documentos apreendidos pela Polícia Federal que apontam supostos e-mails trocados pelo Procurador Geral de Justiça do STJD e dirigentes da CBF, nos quais a entidade pedia a punição ao Atlético em razão de mosaico contra a CBF estampado por sua torcida no Campeonato Brasileiro de 2012.
A Constituição Brasileira, em seu artigo 217, assegura a autonomia e independência da Justiça Desportiva. A escolha de seus membros é estabelecida pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que determina a indicação de nove auditores do Tribunal Pleno pelos clubes (2), atletas (2), OAB (2), confederação (2), árbitros (1).
Os recursos financeiros necessários para a instalação e operacionalidade da Justiça Desportiva são oriundos da Confederação e/ou Federação a que ela se vincula. Por exemplo, no futebol as despesas são pagas pela CBF.
A Justiça desportiva tem a função de julgar atletas, dirigentes, clubes, federações, dentre outros personagens do evento esportivo.
Além dos auditores que julgam os processos disciplinares, a Justiça Desportiva possui procuradores que são os responsáveis por fiscalizar a aplicação do Código Brasileiro de Justiça Desportiva e apresentar os pedidos de condenação aos tribunais desportivos.
No caso em comento, a CBF, administradora do futebol no Brasil e organizadora do Campeonato Brasileiro da modalidade, encaminhou e-mail ao Procurador Geral pedindo rigor na denúncia. Natural o interesse da CBF na punição, eis que a torcida do Atlético estava, justamente, criticando-a.
Além disso, como organizadora do evento, é de se esperar que a entidade busque punições rigorosas em caso de atos de indisciplina de atletas a fim de evitar lesões e de viabilizar uma competição menos violenta e mais atrativa.
Da mesma forma que a CBF escreveu ao Procurador Geral, qualquer clube ou atleta pode fazê-lo, sendo importante destacar que a Procuradoria não julga, mas apenas denuncia o ato de indisciplina e pede a punição.
Vale dizer que é prática comum no direito brasileiro conversas informais com promotores e até julgadores, como, inclusive, fazem os advogados em seus processos quando querem “despachar” com o juiz.
Sem entrar no mérito se é a melhor linha de atuação, no incidente estampado nos e-mails, percebe-se que a Procuradoria atuou de forma coerente com a linha adotada em todas as demandas que patrocina, ou seja, de forma rigorosa e pedindo punições severas e elevadas.
Estudiosos do direito desportivo, clubes, atletas, dirigentes e imprensa invariavelmente questionam a parcialidade da Justiça Desportiva por ser custeada pela CBF, por haver membros no cargo há muitos anos, dentre outras razões.
Entretanto, o fato da primeira instância ter absolvido o Atlético e a segunda ter aplicado pena de multa irrisória para os padrões do futebol e não a interdição do estádio, como queria a CBF, demonstra justamente o contrário, demonstra o compromisso da Procuradoria em efetuar as denuncias de forma severa e a independência dos auditores para decidirem de acordo com seu entendimento legal.00