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Plataformas de jogo

Não, senhores, não tenho essas respostas a vocês. Eu mesmo, neste ano, já utilizei 4 diferentes plataformas de jogo (termo mais utilizado por estudiosos do futebol em detrimento ao popular “sistema/esquema tático”), mas é claro, de forma proposital afim de mostrar algo aos atletas… Vamos refletir um pouco sobre o assunto.

É de praxe que algumas plataformas de jogo sejam estigmatizadas e reduzidas a uma ou outra característica de jogo, muito em função das abordagens, sobre este assunto, feitas por formadores de opinião do futebol brasileiro. Provavelmente você já deve ter ouvido, ou lido, algumas das seguintes “verdades”:

– “Esquema com três zagueiros é muito defensivo. ”

– “Coloca três atacantes para a equipe ficar mais ofensiva. ”

– “Com 5 jogadores na linha de meio, sua equipe domina o meio de campo. ”

– “Defender com 2 linhas de 4 é a melhor opção. ”

Além destas, devem existir outras verdades seguindo a mesma linha de raciocínio e, infelizmente, ao se corroborar com tais ideias, acabamos por engessar e minimizar um pouco jogadores e equipes. Uma equipe e/ou um jogador é muito mais que uma forma geométrica disposta no campo.

É claro que a plataforma de jogo de uma equipe é um norte para os jogadores, facilita a compreensão da sua principal área de atuação no campo, a de seus companheiros, e também as tomadas de decisão durante o jogo. Além disso, pensando na formação de jogadores na base, ela é também uma boa ferramenta pedagógica. A plataforma de jogo é componente importantíssimo de uma equipe, porém, não é ela quem determina seu comportamento no jogo.

Pep Guardiola, um dos treinadores mais vitoriosos da atualidade e de notório reconhecimento por sempre, na construção do jogo de suas equipes, priorizar um futebol ofensivo, consagrou-se no Barcelona utilizando muitas vezes uma plataforma com somente 3 jogadores na primeira linha da equipe, fato que repetiu no Bayern de Munique. Além disso, não compôs esta linha por zagueiros, o que seria o procedimento usual, mas sim por laterais e volantes, utilizou jogadores com características mais ofensivas e manteve a vocação ao ataque de sua equipe. Em nenhum momento, usar uma plataforma com 3 jogadores alterou o comportamento agressivo de suas equipes.

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No Brasil, com menores recursos financeiros e cobertura midiática, Fernando Diniz no Audax, também se utiliza da mesma ferramenta de Guardiola: poucos jogadores em sua primeira linha defensiva e sem zagueiros de origem. Não por acaso, na grande maioria de seus jogos, a equipe de Osasco obtém maior posse de bola e finalizações ao alvo adversário. Mesmos índices que Guardiola alcança com suas equipes.

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Estes exemplos desmistificam um pouco a ideia de que a plataforma é o fator determinante à característica de jogo de uma equipe. Muito mais que a disposição dos jogadores em campo, são suas atitudes e comportamentos durante o jogo que determinam a principal intenção da equipe, seja um jogo mais defensivo explorando os contra-ataques ou um jogo de proposição através da posse de bola. Estas estratégias ficarão evidentes por aquilo que os jogadores realizarem no campo e não pela plataforma de jogo.

Com os grandes avanços no campo da análise de desempenho, é possível visualizar a principal área de atuação de um jogador dentro de campo e em qual região do campo este jogador esteve mais atuante. Estes dados têm mostrado uma disposição dos jogadores no campo bem diferente da plataforma inicial. Vejamos alguns exemplos destes dados captados pela Opta:

 

Campeonato Brasileiro 2016
Campeonato Brasileiro 2016

Sevilla x Juventus - UEFA Champions League 2016/2017
Sevilla x Juventus – UEFA Champions League 2016/2017

Liverpool x Manchester United - Premier League 2016/2017
Liverpool x Manchester United – Premier League 2016/2017

Liverpool x Manchester United - Premier League 20162017
Liverpool x Manchester United – Premier League 2016/2017

Sporting x Real Madrid - UEFA Champions League 2016/2017
Sporting x Real Madrid – UEFA Champions League 2016/2017

Após o apito inicial do árbitro, a plataforma inicial da equipe rapidamente vai se alterando, se ajustando para responder aos problemas emergentes do jogo e a intenção da equipe para com a partida. Rinus Michels imortalizou a seleção Holandesa na Copa de 1974, realizada na Alemanha Ocidental, quando seus jogadores não possuíam posições fixas no campo, uma tremenda revolução tática para época (e talvez até atualmente) que gerou muita confusão nos adversários e repercute até hoje. Infelizmente (na opinião deste que vos escreve), esta equipe não se consagrou campeã, mas o que realizou, contribuiu (e contribui) para a constante transformação do jogo.


A lendária seleção brasileira de 1982, comandada por Telê Santana, é outro exemplo de equipe que transcendia o pragmático 1-4-4-2 (em quadrado), sua plataforma inicial. A constante movimentação dos seus jogadores de meio-campo, em nada condizia com um sistema que engessaria seus dois volantes.

Sem querer levantar a bandeira sobre essa ou aquela forma de jogar, a intenção deste texto é refletir um pouco sobre a relação de uma plataforma de jogo com o comportamento da equipe na partida. A plataforma dá indícios, porém, a equipe irá sempre se comportar de acordo com as características de seus jogadores aliadas às ideias de jogo do treinador. Essa fusão irá direcionar a forma de jogar da equipe e, consequentemente, de que maneira, efetivamente, esta irá ocupar os espaços do campo. Lembrando que o grande instrumento para se operacionalizar tudo isso é o treino.

A frase de Rinus Michel, sobre a Holanda de 1974, resume o que é mais importante para uma equipe:

“Trabalhei com eles durante três meses. Eu os motivei e passei a forma básica do funcionamento da equipe, baseada no conceito de ocupar todo o campo, ganhando a bola do rival mais próximo da trave dele, produzindo rapidamente o ataque com os homens necessários, sem distinguir o número da camiseta, e logicamente, fazendo as mudanças necessárias. O bom foi que os jogadores entenderam, convenceram-se e conseguiram os resultados. Vocês, os jornalistas, depois definiram isso tudo como ‘futebol total’”. (Futebol em Frases 1001 – Cláudio Dienstmann)

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Marcelo Oliveira e Celso Roth demitidos: faltou planejamento?

Nos últimos dias duas trocas de técnicos em grandes clubes pegaram de surpresa os torcedores. Primeiro, o Internacional, na luta pelo rebaixamento, demitiu Celso Roth faltando duas rodadas para o final do Brasileirão. Mais recentemente, após a derrota em casa por 3 x 1 para o Grêmio, na final da Copa do Brasil, o Atlético demitiu Marcelo Oliveira.

A gestão profissional moderna tem visto como boa prática o investimento na manutenção dos treinadores em projetos de maior prazo sem interferências passionais de resultados imediatos.

Um grande exemplo de sucesso é o Atlético Nacional da Colômbia, atual campeão da Libertadores que desde 2012 teve apenas dois técnicos e está há dois jogos de ganhar a Copa Sul-Americana e ser o primeiro clube a unificar os títulos.

O Internacional, que está a 3 pontos do Vitória na luta contra o rebaixamento, fará os dois jogos da vida para evitar a tragédia do rebaixamento e comprometer a temporada de 2017.

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O Atlético Mineiro, por seu turno, precisa de uma improvável vitória por 3 gols de diferença, em Porto Alegre para conquistar um título e entrar na fase de grupos da Libertadores, já que não alcançará o G3 do Brasileirão.

Estar na fase de grupos da Libertadores em 2017 é ainda mais importante, pois na pré-libertadores serão 16 equipes lutando por 4 vagas com grandes equipes argentinas e brasileiras que podem, inclusive, se cruzar antes em um dificílimo mata-mata.

O momento de “tiro rápido” das duas equipes faz com que a técnica seja menos importante que a motivação. Atlético-MG e Internacional possuem bom elenco e que não condiz com as atuações da equipe. Marcelo Oliveira tinha em mãos aquele que, para muitos, é o maior elenco do Brasil, mas não conseguiu resultado condizente com o plantel. Celso Roth, por seu turno, tinha um elenco razoável com potencial para brigar pelo G6, mas luta desesperadamente para não cair.

Grandes empresas, em situações pontuais, também trocam o seu gerente para motivar a equipe. Especialmente, na área de vendas, quando as metas precisam ser alcançadas e um experiente gerente de vendas não consegue bons resultados, apesar das boas práticas, um motivador pode conseguir um resultado em “tiro curto”.

Não se trata de mudança por falta de planejamento, mas por percalços que fazem parte de qualquer projeto.

O próprio Internacional tem uma experiência de sucesso quando, na Libertadores de 2010, trocou de treinador na reta final da competição e conquistou o bicampeonato.

Se Atlético-MG e Internacional terão sucesso, só o tempo irá dizer, mas o fato é que, a troca do comando da equipe era a única medida possível para motivar bons jogadores a conseguirem um resultado difícil, mas possível.  A busca pela motivação é a última saída para gaúchos e mineiros salvarem a próxima temporada.

Não há dúvidas da necessidade de se realizar um trabalho de longo prazo, mas há situações como as aqui aventadas, tão pontuais e extraordinárias que os dirigentes precisam ter coragem e agir.

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Decisões interativas

O coletivo é mais e “maior” que o atleta. Assim como o clube é mais importante que qualquer atleta. A filosofia da equipe está acima dos ideais do treinador e dos atletas. Porém, não podemos esquecer que é a soma de tudo isso que resulta no TODO. O coletivo é feito de indivíduos. Parece algo banal falar isso, quase que um clichê. Mas entra como uma condição indispensável para o entendimento da complexidade de tudo que envolve o mundo desse esporte.

Mas como treinador, falo que se não houver um esforço completo do atleta, a fim de se cumprir o proposto, o coletivo está fadado ao fracasso.

Se o “local” não for exigente, o “global” será exigido. Se o setor onde está a bola não quiser ficar com ela, ela poderá sair dali e ir para outro lado. Se o setor onde está a bola deixar, ela poderá causar estrago ali ou, como efeito “cascata”, no lado oposto.

A organização coletiva e/ou setorial de uma equipe somente faz sentido se a organização individual for bem executada, eficiente e eficaz durante o jogo, pois sofrerá com as frequentes situações (da própria equipe ou advinda do adversário) que colocam em prova sua organização. Precisa-se ter como preocupação a tomada de decisão de cada atleta em cada momento do jogo fazendo com que o atleta perceba que a sua decisão e a sua ação são extremamente importante, independente do local ou momento do jogo, para o bem da equipe, para que o desenvolvimento do jogo seja favorável à equipe, defensiva e ofensivamente. Nada além do que decisões interativas.

Contudo, cabe ao gestor de pessoas e do processo induzir, encaminhar, convencer e influenciar as ações dos atletas para o objetivo comum. Concomitante a isto, cabe a esse mesmo personagem organizar a equipe individualmente e coletivamente, no intuito de jogar “bem”, jogar melhor que outras equipes (que também contém esse emaranhado de sistemas) e vencer suas competições. Falei sobre o que é esse jogar “bem” em alguma coluna atrás. O treinador necessita compreender e desenvolver a ação tática no treino, que é uma interação funcional entre o(s) atleta(s) e o envolvimento do jogo, tendo em vista um determinado propósito COLETIVO. Tomar decisões é permitir mudanças ao longo de um curso de interação com o contexto, visando um objetivo. As mudanças na relação com o contexto podem ter origem predominantemente no atleta, mas resulta sempre da interação entre atleta e contexto.

Ações interativas.

Ação tática pretende acrescentar uma noção de dinâmica de uma sucessão interdependente de atos, ou de relações que se estabelecem numa competição para atingir um determinado objetivo.

Em um pensamento mais técnico: ação tática é sinônimo de comportamento decisional, ou seja, uma sequência interdependente de decisões e ações que devem ser tomadas em tempo útil, num contexto em mudança e para determinado fim.

O sucesso de um clube depende de suas vitórias, da classificação nos campeonatos e de títulos. E precisamos compreender que isso depende de todos os personagens que envolvem este “mundo”.

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As marcas em busca de seu diamante

Quando uma determinada empresa decide patrocinar uma figura pública expoente como são os atletas de alto rendimento, o principal objetivo é transferir os atributos pessoais do ídolo para a sua marca. Esse aspecto de atributos é tão relevante que, nos Estados Unidos, ao invés de utilizar a palavra “Sponsorship” (patrocínio), usam a palavra “Endorsement” (endosso). Ou seja, as celebridades emprestam a sua imagem para apoiar uma marca. Essa aposta mostra-se muitas vezes acertada, gerando um retorno bastante positivo e auxiliando a construção de personalidade da marca. Ao mesmo tempo, sempre haverá o risco de rejeição no caso desse suposto ídolo cometer algum equívoco que prejudique a sua imagem.

Nesse aspecto, vale uma reflexão envolvendo os atletas de todas as modalidades, não somente dentro do mundo do futebol. Assim, podemos entender casos com diversos significados. Se avaliarmos o ranking dos atletas mais bem pagos no mundo, realizado pela Forbes em 2016, vemos jogadores de futebol na liderança pela primeira vez na história e, pela segunda vez, um atleta de esportes coletivos, fato que somente ocorreu na década de 90 com a lenda  Michael Jordan.

A rivalidade entre os dois maiores jogadores do mundo é tão intensa que até mesmo nesse quesito estão em disputa. O português Cristiano Ronaldo lidera o ranking com rendimentos de US$ 88 milhões por temporada, enquanto o argentino Lionel Messi aparece na segunda colocação com rendimentos de R$ 81,4 milhões. São contabilizados aqui os valores recebidos entre salários e patrocínios.

Quando olhamos somente os valores obtidos com patrocínios, excluindo os salários, o líder do ranking é o tenista suíço Roger Federer com rendimentos anuais na casa de US$ 60 milhões. A imagem de multicampeão, atleta exemplar, bom pai, bom marido e cidadão responsável são atributos perfeitos que garantem esse enorme apelo para marcas como Nike, Rolex, Mercedes-Benz, Credit Suisse e Lindt. Sem dúvida, esse é um caso exemplar de um craque gigantesco em seu esporte que extrapola os horizontes e torna-se um ídolo venerado até mesmo por quem entende pouco sobre tênis.

Trazendo para o futebol, o primeiro jogador no ranking de patrocínios é o português Cristiano Ronaldo que aparece somente na 10ª posição, seguido por Messi (13ª posição) e Neymar (15ª posição). Ainda em ascensão, o brasileiro possui um perfil bastante midiático que lhe rendeu US$ 23 milhões no ano somente em patrocínios, apesar de ser questionado por parte dos torcedores por algumas atitudes.

Existe uma linha tênue entre o céu, quando as marcas conseguem alavancar seus resultados com o endosso de atletas, e o inferno, quando esse atleta passa por momentos conturbados que acabam manchando a sua imagem e trazendo ruídos negativos para as marcas patrocinadoras. Vemos esses fatos ocorrendo cotidianamente.

Um caso recente e explosivo aconteceu durante a realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O nadador americano e campeão olímpico Ryan Lochte mentiu sobre um suposto assalto após uma noite de festa e perdeu todos os seus patrocinadores, gerando um prejuízo ao atleta estimado em US$ 10 milhões.

O caso mais conhecido aconteceu com o americano Tiger Woods. Considerado um fenômeno do golfe, celebrado pelos fãs, mídia e marcas, possuía uma das imagens mais fortes entre todas as celebridades mundiais por representar um talento mestiço de pai afro-americano e mãe tailandesa que conquista o topo do sucesso em uma sociedade com a elite majoritariamente branca. O fenômeno era tão grande ao ponto de torná-lo o atleta mais bem pago do mundo durante 12 anos. Em 2009, uma série de escândalos sexuais tomaram conta dos noticiários não somente esportivos, mas de outros diversos segmentos, tornando o até então queridinho da América em um grande vilão e levando junto a confiança de seis patrocinadores que resolveram rescindir os seus contratos. Juntou-se a isso os fracassos esportivos nos anos seguintes, com falta de resultados expressivos do golfista desde então. O mais incrível é que, mesmo após tantas quedas, Tiger Woods ainda é o 4º atleta que mais rendimentos conquistou com patrocínios no ranking de 2016, atingindo o valor de US$ 45 milhões. A força do personagem e a necessidade de se ter ídolos possui uma subjetividade bastante complexa.

Um caso diferente aconteceu muito recentemente com o piloto mexicano Sergio Peres, da Fórmula 1. Após seu patrocinador Hawkers MX, fabricante de óculos de sol, postar uma piada infeliz relacionando o choro dos mexicanos com a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, o piloto tomou a iniciativa de romper o contrato por considerar uma falta de respeito com o seu país. Trata-se de algo inusitado e, ao mesmo tempo, demonstra a postura do atleta em também cuidar de sua imagem, sem se importar exclusivamente com o seu bolso a curto prazo.

Para fechar e mostrar a força de um atleta para a construção de marca, voltemos ao final da década de 30, aqui mesmo em nosso país. Após uma grande performance durante a Copa de 1938, o nosso maior craque Leônidas da Silva, apelidado de Diamante Negro pela forma elegante e magistral que exibia dentro de campo, recebeu uma proposta inusitada. Em troca de 3 mil réis, Leônidas cederia o seu apelido e a sua imagem para rebatizar o nome de um chocolate da Lacta até então chamado de Chocolate ao Leite com Crocante Lacta. Passados quase oitenta anos, o Diamante Negro ainda é um dos produtos mais vendidos entre os chocolates no país e, mesmo sem planejar, tornou-se um dos maiores sucessos de relação entre atletas e marcas de toda a história.

diamante negro 1939

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O que o torcedor quer

“É possível dividir o Campeonato Brasileiro em três fases: na primeira, as equipes ainda estão tentando entender o que elas querem para a temporada; na segunda, há um marasmo total; quando os objetivos ficam claros e a competição afunila, aí a disputa fica emocionante”. Foi assim que Casagrande, comentarista da TV Globo, reagiu no último domingo (20), durante a transmissão de Palmeiras x Botafogo, quando notou que o segundo tempo vinha sendo disputado em ritmo extremamente acelerado. E isso diz muito sobre o tipo de produto que é a principal competição do esporte mais popular do país.

A reta final do Campeonato Brasileiro escancara erros em processos de comunicação que foram cometidos durante todo o ano. É o fim das máscaras usadas por equipes que passaram meses ignorando sua verdadeira vocação na temporada, mas também é uma demonstração inequívoca de quanto a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e seus parceiros (incluindo os veículos de mídia que dão espaço ao torneio) se satisfazem com poucos meses de emoção em um universo que oscila entre “irregular” e “arrastado”.

O Palmeiras de 2016 talvez seja o melhor exemplo do que é o plano de comunicação do Campeonato Brasileiro. O time comandado por Cuca teve bons momentos no primeiro turno, mas não será lembrado pela excelência técnica ou pelas boas apresentações. Passa longe de ser pragmático, mas tampouco domina as ações em suas partidas. No último domingo, no tal duelo elogiado por Casagrande, esteve perto de perder para o Botafogo em vários momentos. Venceu por ter sido mais letal e resolvido quando teve oportunidade.

O desempenho reflete um pouco o sentimento do torcedor do Palmeiras, clube que não vence o Brasileiro desde 1994. Há enorme carga de tensão em torno da equipe, sobretudo por um histórico recente de decepções – o maior exemplo é a derrocada de 2009. Pergunte a qualquer torcedor alviverde se existe preocupação com o desempenho ou o estilo de jogo da equipe. A resposta invariavelmente vai ser algo como “a preocupação é o título”.

No todo, o Palmeiras é um time que começou o Brasileiro sem ter convicção de suas pretensões a despeito do discurso enfático do técnico Cuca. Depois, engrenou e aglutinou boas alterações. E no fim, quando a briga pelo título já havia se tornado palpável, a preocupação passou a ser “entregar”. É um pouco como uma metáfora do plano de comunicação do próprio Campeonato Brasileiro, um produto amorfo, que tem bons momentos e que no fim vive apenas de concluir o que foi proposto.

O Campeonato Brasileiro podia ser um produto preocupado com maneiras para encantar o consumidor e aumentar o alcance do produto. Em vez disso, porém, CBF mostra apenas os efeitos da ausência de um plano de comunicação que seja eficiente, abrangente e focado no médio/longo prazo. O sistema de pontos corridos foi implantado em 2003, e até hoje isso não foi suficiente para que os responsáveis pelo evento entendam a temporada como um roteiro que pode ter seguidos momentos de emoção.

Se houvesse um plano focado em todo o Campeonato Brasileiro, a “fase do marasmo” poderia ser mais atraente a diferentes tipos de público. A dúvida no futebol nacional, contudo, é até anterior a isso: afinal, qual é o público?

A verdade é que os responsáveis pelo Campeonato Brasileiro não conhecem seus consumidores e ignoram as faixas em que o produto pode se desenvolver mais. Faltam informações básicas sobre perfil, hábitos e preferências, e isso acaba tendo como reflexo a ausência de foco.

Essa talvez seja a grande diferença entre as histórias do Palmeiras e do Campeonato Brasileiro. O time paulista pode adotar um estilo mais pragmático e pensar apenas no título porque é esse o grande anseio de seus torcedores; a CBF não sabe sequer quais são os consumidores da principal competição que ela organiza, e sem saber não há como planejar ações para esse grupo ou direcionar o foco para outros segmentos.

O Campeonato Brasileiro de 2016 não será lembrado como um torneio de nível técnico baixo. Contudo, ainda é possível cortar muita “gordura” da competição. No todo, há uma fase muito grande em que os times sofrem com indefinição, falta de foco ou apenas questões de foco.

Essa postura dos responsáveis pela organização do Campeonato Brasileiro reforça um dos principais problemas de análise de futebol no país. Seguimos pensando apenas em retratos pontuais e ignorando o todo. Seguimos pensando em retalhos.

Atlético-MG e São Paulo são bons exemplos disso. O time mineiro é comandado por Marcelo Oliveira, que foi bicampeão brasileiro com o Cruzeiro e venceu a Copa do Brasil com o Palmeiras. Tem hoje o elenco mais caro do país, mas não embalou em momento algum do Campeonato Brasileiro. Pode fechar o ano como campeão da Copa do Brasil, mas isso é suficiente para uma análise sobre o trabalho?

E o que dizer de Ricardo Gomes? O técnico tem menos qualidade à disposição, é verdade, mas não conseguiu incutir no São Paulo as ideias que a diretoria e a torcida almejavam. Ainda assim, conseguiu uma goleada por 4 a 0 sobre o Corinthians e afastou o risco de queda para a segunda divisão. O saldo é positivo ou negativo?

Enquanto pensarmos apenas em questões pontuais ou em retratos de momentos, seguiremos com uma análise enviesada sobre o que acontece no futebol. Enquanto fizermos isso, seguiremos admitindo a inexistência de um plano de comunicação na principal competição de futebol do país. Enquanto tivermos essa visão fragmentada, seguiremos sem pensar no que o torcedor realmente quer.

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Ainda há tempo para mudar e melhorar

Mesmo chegando ao final de uma temporada, vários times ainda buscam suas metas para fecharem bem o ano de 2016. Mas será que podemos considerar as poucas rodadas restantes, como oportunidades para atingir objetivos e melhorar ainda mais o que já está se fazendo atualmente?

Na minha opinião a resposta para a pergunta acima é SIM! Ainda há tempo para evolução e em alguns casos ela é quase uma necessidade básica, para que se conquiste alguns resultados. Mas, talvez você se questione, como assim ainda há espaço para mudanças e estas são importantes, mesmo nessa reta final do ano?

Essa questão torna-se mais clara quando nos colocamos na direção da melhoria contínua e consideramos a premissa que tudo está em mudança permanentemente. Isso é uma verdade tão presente, que se observarmos os clubes que estão no topo da tabela, provavelmente iremos perceber que estes estão constantemente buscando formas de surpreender os adversários através de novas situações de jogo e inovações em pequenos detalhes que possam gerar resultados positivos.

Nessa proposta de reflexão, cabe comentar sobre dois conceitos importantes que nos facilitará na compreensão do fato de que as mudanças acontecem, desejemos elas ou não. Um desses conceitos é o da lei do obsoleto e o outro conceito é o de que as mudanças que não transformam a mente humana, não são mudanças verdadeiras. Ambos conceitos foram descritos por Bernardo Stamateas, em seu livro Resultados Extraordinários.

A lei do obsoleto, traz o conceito de que aquilo que já foi criado já passa a estar obsoleto, justamente porque tudo está em constante mudança. Nós precisamos ter uma mentalidade dinâmica para que possamos ter consciência de que a cada nova jogada ou tática criada, esta já passa ao estado inicial de obsolescência após ser colocada em prática. Os outros times passam a conhecer cada vez mais as últimas variações táticas e jogadas ensaiadas, até o ponto em que elas passam a não ter mais efeito. Assim, todos devem se empenhar ao máximo, para que novas variações sejam treinadas constantemente, visando trazer mais inovações que possam permitir atuações de elevado desempenho.

Quanto às mudanças efetivas, que transformam a mente, estas tratam a necessidade de termos consciência elevada de que o sucesso pode entorpecer e nos colocar em estado de relaxamento que gera baixo desempenho e por este motivo todos necessitam estar alinhados com o conceito do aperfeiçoamento contínuo. Este ponto é uma grande chave para o sucesso no futebol e fora dele. Ter consciência elevada de que cada treino pode ser melhor, cada partida pode ser melhor e cada desempenho pode ser melhorado, faz com que haja um estímulo constante ao aperfeiçoamento do atleta. E, quando isso se reflete em resultados em campo, conseguimos ver um círculo virtuoso entrando em prática no futebol. E cá entre nós, quando isso não é genuíno, não parte internamente do atleta, nada acontece de efetivo.

Para fechar essa reflexão, trago algumas dicas de técnicas simples que podem contribuir para o alcance do aperfeiçoamento contínuo.

1 – Faça as coisas muito bem-feitas desde o começo, cada movimento feito da melhor forma desde a primeira vez o tornará excelente no que faz em campo.

2 – Qualidade deve se tornar um estilo de vida para você, procure fazer suas atividades com extrema qualidade sempre.

3 – Cuide e fique atento aos detalhes, muitas vezes uma partida de futebol pode ser decidida num pequeno detalhe, que por muitas vezes não se dá importância.

4 – Procure melhorar seu desempenho permanentemente, torne isso um hábito. Desta forma, você poderá se tornar um atleta

5 – Esforce-se sempre ao máximo, seu empenho diferenciado pode levá-lo a construção de um hábito positivo de alta performance.

Então amigo leitor, também concorda comigo que mesmo nessa reta final de competição, muito ainda pode ser feito para mudar uma situação desfavorável ou para confirmar uma temporada de elevado desempenho e, em ambos os casos, promover a devida conquista dos resultados esperados?

Até a próxima.

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Copa do Brasil decidida em campo neutro?

No Brasil, conforme disposição do art. 217 da Constituição, a Justiça Desportiva tem a competência para processar e julgar as questões disciplinares.

A fim de garantir o direito ao duplo grau de jurisdição, a Justiça Desportiva é composta por duas instâncias.

A primeira, chamada comissão disciplinar, é composta por 5 auditores (juízes) e a segunda, o Tribunal Pleno, é composta por 11 auditores.

A referida composição é essencial na busca por decisões justas, eis que garante a sua reanálise e revisão.

Houve grande repercussão à decisão da Comissão Disciplinar, portanto primeira instância, que tirou o mando de campo do Grêmio para a final da Copa do Brasil em razão da invasão de campo da filha do treinador Renato Gaúcho.

O fundamento para a decisão está no art. 213, do CBJD, que prevê a pena de perda de mando de campo quando a desordem, invasão ou lançamento de objeto for de elevada gravidade ou causar prejuízo ao andamento do evento desportivo.

No caso em tela, Carol Portaluppi teria adentrado ao gramado minutos antes da partida terminar como convidada de seu pai e sem qualquer maior gravidade e/ou interferência na partida.

Diante disso, parece desproporcional a decisão da Comissão Disciplinar que, provavelmente será revista e alterada pelo Tribunal Pleno.

O rigor da primeira instância indica preocupação em conferir caráter pedagógico ao fato e evitar situações semelhantes no futuro.

Portanto, a decisão que retirou o mando do Grêmio não é definitiva e a finalíssima da Copa do Brasil tem tudo para ocorrer na casa do clube gaúcho.

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Treino enquanto processo de ensino-treino

O processo de treino deve ser integrado e não analítico (embora reconhece-se que este modo é de difícil execução e compreensão). O treino deve contemplar processos que complemente funções específicas necessárias no futebol. Assim, por exemplo, um treino de resistência integrado com situações de jogo, é uma excelente forma de (fisiologicamente) complementar algumas necessidades dos jogadores de futebol, dentro do jogo de futebol.

Esta necessidade ganha particular relevância quando os jogadores, principalmente de elite, sentem a necessidade de fundamentos que o tornaram mais aptos para a realização do jogo com um bom desempenho. Então, todos os quesitos ligados ao futebol devem ser lembrados no jogo de forma a não esquecer as suas particularidades, e complementar o jogador tanto tecnicamente, mas também taticamente, fisicamente, psicologicamente, etc. Claro, se a conceção do treino leva em consideração essa segmentação.

É evidente que este treino tem enorme dificuldade devido a se trabalhar com grandes grupos. Este trabalho é árduo. Por isso, o treinador deve estar atento com as cargas usadas e o tempo despendido de forma a trabalhar o grupo, a respeitar acima de tudo as individualidades dos jogadores. Pois, sabe-se que cada um tem a sua capacidade, tem o seu potencial, originado pela sua carga genética e sua relação com o meio (sujeito a processos culturais), sendo então por isso, um sujeito extremamente delicado para umas coisas e forte para outras. Lembrando que no alto rendimento, muitas vezes não há tanto espaço para estas considerações, ou o jogador é apto (capaz) ou inapto (incapaz) de realizar (suportar) toda a carga do treino, mas nunca é demais considerar, mesmo neste âmbito, certas particularidades quando, por exemplo, deparam-se com casos raros.

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Estes casos raros são aqueles de jogadores com enorme talento, mas cuja integridade motora (provocada por vários fatores) não lhe permite grandes concentrações do treino de forma a não suportar uma determinada intensidade ou volume do treino como os seus colegas de equipe normalmente o fazem, sem um risco maior de lesão (apesar de esta carga refletir situações de jogo). Está dentro da competência de cada treinador ter uma grande atenção (muito a alcançam com a experiência) em reconhecer esta lacuna do jogador (também a sensibilidade do treinador é importante e muitas vezes de forma empírica) e adequar as suas capacidades (tirando assim melhor proveito do seu talento) preservando a sua integridade no que se diz respeito, por exemplo, a determinados treinos físicos.

Todo o processo de treino evidentemente respeita certos aspectos importantes para a sua realização. Como dias da semana e também horários de duração.

Todo o treino é preparado antecipadamente respeitando as cargas e o processo de recuperação como algo fulcral para tirar e melhorar o rendimento do jogador em todos os sentidos. Por exemplo, muitos treinadores seguem como princípios (em termos de carga horária) 1h 30 min. de treino no máximo, obedecendo o tempo real de um jogo de futebol a nível profissional.

Esse aspecto torna o treino algo particularizado, respeitando assim todo o jogo e a sua imensa vastidão de situações. Mesmo sabendo que, este tempo não é nem de perto, nem de longe, um tempo total em atividade. Dentro deste tempo de treino existe o tempo de recuperação (o que torna o treino descontínuo), transmissão de informação, tempo de transição de uma atividade para a outra e o tempo de jogo/exercícios realizados nele e outros. E, por isso, é necessário ter em conta que os jogadores não passam este tempo todo em atividade e, ainda existe em muitos momentos, uma certa rotatividade respeitando todo o tempo despendido em atividade pelo jogador.

Acima de tudo, o aspecto do jogo (o jogo) está em primeiro lugar, pois desconsiderar o nível tático, por exemplo, é uma forma de entrar em campo derrotado, sendo que a sua equipa não terá organização para derrotar uma equipa de nível superior por exemplo. Nunca se deve descurar do jogo, porque “ao esquecer dele é esquecer do futebol em si e da sua particularidade” (Vitor Frade).

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O peso da camisa amarela

Não, o tema não é a seleção brasileira de futebol, apesar da esperança renovada com os últimos resultados e pelo novo rumo tomado desde o anúncio de chegada do técnico Tite.

Estamos falando do Ballspiel-Verein Borussia 1909 ou, como é popularmente conhecido, o Borussia Dortmund. O clube pode não ostentar a mesma tradição de gigantes europeus como Real Madrid, Barcelona, Juventus, Manchester United ou Bayern de Munique, mas até por isso merece um reconhecimento diferenciado pelas conquistas sólidas obtidas dentro e fora de campo.

O clube autodefine o seu DNA em quatro palavras: intensidade, autenticidade, coesão e ambição. A intensidade está na energia e emoção profunda que carrega, ilustrada nas suas fortes e intensas cores amarelo e preto. A autenticidade é a forma que a sua história está conectada com a sua cidade natal Dortmund, representando os valores dos cidadãos dessa região do país. A coesão possui relação direta ao amor incondicional de seus fãs que enxergam o clube como extensão de suas casas e famílias. E a ambição transmite a crença de trabalhar para que o clube obtenha sucesso e conquiste títulos que honrem a paixão de seus torcedores. Todas as ações realizadas pela gestão e marketing do clube são baseadas nesses quatro pilares.

A história do Borussia Dortmund tem início em 1909. Os primeiros êxitos de maior expressão ocorreram nos anos 50 e 60, passando por fases conturbadas durante as duas décadas seguintes, período que transitou pela segunda divisão alemã. A década de 90 marca a entrada do clube no seleto grupo de grandes clubes mundiais, conquistando 3 Campeonatos Alemães, 1 Champions League e o troféu da Copa Intercontinental.  Foi nesse momento que o clube  apostou na ampliação e reforma do Westfalenstadion para que esse se transformasse no maior estádio da Alemanha (hoje é chamado de Signal Iduna Park em referência ao nome da empresa que adquiriu o naming rights do estádio até 2021).

Os altos investimentos realizados foram responsáveis por uma grave crise financeira no início desse século, quando muito se falou até em falência do clube. Ao mesmo tempo, enfrentar a turbulência ajudou na construção do que o clube é hoje, com um modelo de gestão moderno, eficiente e focado em manter o seu DNA junto aos fãs.

O Borussia Dortmund foi o primeiro clube da Bundesliga a entrar na Bolsa de Valores em 2000. Apesar das oscilações, conseguiu alcançar boa estabilidade após o saneamento financeiro das dívidas.

No último estudo “Football Money League” realizado pela Deloitte, o clube aparece como o 11º no ranking, totalizando receita de €280 milhões, o dobro do que havia obtido em 2011. Já no estudo “The Business of Soccer” da Forbes, também aparece na mesma 11ª posição.

O número mais impressionante é, sem qualquer dúvida, a média de público em seus jogos. Na última temporada 2015/16 alcançou surpreendentes 81,1 mil pessoas por jogo, a maior média de público no futebol europeu em uma cidade com 600 mil habitantes (claro que essa paixão traz cada vez mais interessados em conhecer essa magia de todos os cantos da Alemanha, Europa e mundo).

O clube conhece profundamente os seus fãs e transforma isso em uma grande marca. A torcida é famosa pela festa que faz a cada jogo e o clube não mede esforços para atendê-los, adaptando o estádio conforme as exigências do campeonato que participa. Para os jogos da Bundesliga, uma parte do estádio tem suas cadeiras retiradas para que a Muralha Amarela, apelido dada à torcida que fica no Setor Sul do estádio, possa ficar em pé e vibrar com maior liberdade e afinco. Já durante os jogos da Champions League, o regulamento da UEFA exige que todos os lugares disponíveis tenham cadeiras, portanto há toda atenção logística para que tudo funcione, pois muitas vezes o time joga no sábado pela Bundesliga e, logo na outra terça-feira, disputa uma partida decisiva da Champios League com o estádio remodelado.

Todo esse trabalho tem reflexo direto no crescimento de sua torcida. O Borussia Dortmund possui hoje a segunda maior da Alemanha, ficando somente atrás do gigantesco Bayern de Munique e superando clubes com torcidas muito tradicionais, como o seu maior rival, Schalke 04.

Segundo dados da pesquisa realizada pela Sport + Markt em 2013, o clube possui cerca de 6 milhões de torcedores, números discretos se comparados ao que temos aqui entre os maiores clubes do país. Porém, além da frequência altíssima do público em todos os jogos, também possui um número bastante representativo de sócio-torcedores, alcançando 130 mil contribuintes e sendo o 6º clube no mundo nesse ranking, além de um ótimo nível de engajamento nas redes sociais, com 15 milhões de curtidas no Facebook, 3,1 milhões de seguidores no Instagram e 2,38 milhões no Twitter.

Esse nível de envolvimento traz reflexo direto para o sucesso comercial do clube. Hoje são 30 marcas parceiras em diferentes categorias de patrocínio que contribuem com €144 milhões para investimentos necessários em uma equipe competitiva que tenha condições de enfrentar de frente as grandes potências europeias.

Para que esse sucesso individual do clube conquiste tamanha proporção, é necessário que o campeonato que participa tenha um ótimo nível de qualidade. Nesse aspecto, o Borussia Dortmund está bem respaldado, uma vez que a Bundesliga (Liga Alemã) é um modelo de referência a ser seguido, pois garante todas as ferramentas necessárias para que os clubes extraiam o máximo de seu potencial dentro e fora de campo.

Vale  a pena conferir o vídeo que mostra a conexão entre o time e a torcida. No início do ano, após um triste episódio com o falecimento de um torcedor em decorrência de um ataque cardíaco dentro do estádio, os jogadores participam da homenagem emocionante ao som de “You´ll never walk alone”: (Fonte: Bundesliga)

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Como o sucesso comunica

Não foi apenas o desempenho da seleção brasileira que mudou desde que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) contratou Tite para o lugar outrora ocupado por Dunga. As cinco vitórias em cinco jogos com o novo técnico transformaram drasticamente a percepção popular sobre a geração, o time e o nível do futebol nacional. Existe um ambiente positivo em torno da equipe canarinho, e isso é maior do que qualquer resultado do campo. Tite alicerçou seu trabalho em boas práticas de gestão e comunicação, mas também tem servido de exemplo de como o sucesso pode ser uma boa ferramenta de comunicação.

Há um bom exemplo no jogo contra a Argentina, disputado na última quinta-feira (10): a despeito de ter atuado em casa, a seleção brasileira abriu mão do controle da bola no início da partida. Recuou as linhas de marcação e ofereceu o domínio aos visitantes, que não conseguiram ir além de uma posse estéril e fizeram pouco para desestabilizar o sistema defensivo armado por Tite. Como definiu o meia Renato Augusto, os mandantes “souberam sofrer”.

Se a Argentina tivesse encontrado espaço entre as linhas do Brasil ou tivesse aproveitado melhor o momento de maior controle, a análise sobre o início do clássico teria sido outra. Como o time comandado por Tite fez 2 a 0 no primeiro tempo e venceu por 3 a 0, contudo, o que poderia ser inferioridade acabou virando armadilha.

Temos uma tendência de avaliar futebol com a lógica do controle. Costumamos dizer que o melhor time é quem mais tem a bola ou o que atua em uma faixa mais avançada do campo. Ignoramos muitas vezes as nuances desse cenário.

Em sua última passagem pelo São Paulo, Muricy Ramalho montou um time que controlava a bola. A equipe paulista era um exemplo perfeito de domínio estéril: trocava mais passes do que qualquer adversário, passava muito tempo no campo de ataque e sofria para transformar isso em chances de balançar as redes.

Foi essa a principal questão em torno de Pep Guardiola no início do trabalho do técnico em Barcelona. Os catalães tinham a bola, gostavam de controlar o jogo, mas o estilo moroso nem sempre era eficiente para criar espaços.

Em outras modalidades, a lógica do domínio do jogo é bem mais maleável do que no futebol. No basquete ou no handebol, por exemplo, o time que se defende bem e que trabalha estrategicamente com contragolpes não é visto como “inferior”. Há uma noção mais clara de que as ações ofensivas podem ser construídas a partir de diferentes naturezas e que nem sempre é preciso controlar as ações para ter superioridade no todo.

É o que acontece no xadrez, para falar de um exemplo mais distante: se o que vale no jogo é derrotar o rei adversário, nem sempre a melhor estratégia é tirar peões e outras peças do tabuleiro. É perfeitamente plausível a ideia de atrair um adversário e oferecer algumas de suas armas para encontrar um caminho específico para o triunfo.

O sucesso de Tite é um exemplo de que há diferentes caminhos para o bom futebol. A seleção hoje não é um time que pretere a bola; em vez disso, é uma equipe preparada para diferentes situações que o jogo pode oferecer. O elenco comandado pelo treinador soube construir vitórias a partir de forte pressão sobre a saída de bola do adversário (contra a Venezuela, por exemplo) ou tocar a bola para diminuir o ritmo (foi assim diante da Colômbia). Não há qualidade maior para um grupo do que repertório.

Em cinco jogos, a seleção brasileira fez mais do que mostrar que há diferentes caminhos para a eficiência e que nem sempre o pragmatismo precisa ser sinônimo de covardia ou de mau futebol: Tite investiu na criação de um ambiente positivo, baseado em boas práticas de comunicação e gestão de pessoas.

A seleção brasileira tem hoje uma realidade favorável, e os resultados são apenas parte (ou consequência) disso. Não é por ter vencido cinco jogos em cinco que o trabalho de Tite tem méritos, mas esses resultados confirmam o que tem sido feito.

O ambiente favorável serve até para amenizar a crise institucional vivida pela CBF. A entidade que comanda o futebol nacional não deixou de ter problemas e tampouco melhorou em seus processos de gestão, mas agora tem um esteio mais consistente.

Sim, Tite acabou virando um importante escudo para a gestão que poucos meses atrás ele mesmo havia condenado em abaixo-assinado. No documento, o treinador e outras figuras relevantes pediam mudanças no comando do esporte mais popular do país e cobravam a saída de Marco Polo del Nero, presidente da CBF, denunciado pelo FBI por corrupção.

Tite não precisa ter aberto mão de suas convicções para entender que é possível trabalhar numa empresa sem concordar com tudo que acontece em escalões superiores. A contribuição do treinador para um futebol melhor poderia ter sido incrível se ele tivesse rejeitado o convite da CBF, mas também é grande ao usar o sucesso para ensinar a relevância de bons processos de comunicação e gestão.

O caminho pode ser menos radical ou menos intenso, mas a ruptura nem sempre é o único jeito de ensinar ou de estabelecer novos parâmetros. Os primeiros jogos da seleção mostram isso.