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Estados emocionais em campo

Observando o futebol em geral, percebo que em muitas situações em campo as equipes podem apresentar diferentes estados emocionais. Isso vai desde as reações mais positivas de empolgação até as mais negativas como a percepção de incapacidade em realizar as mais básicas atividades em campo.

Hoje, em pleno Domingo e no meio de mais uma rodada do campeonato brasileiro de futebol, nós poderemos perceber um fato que acontece em muitas partidas, quando uma equipe é pressionada logo no início e durante uma grande parte da partida. Isso pode refletir não só na estratégia preparada para a partida, mas também no lado emocional dos atletas. Ser pressionado pode representar um estímulo a insegurança de alguns, o que em linhas gerais pode ocasionar um bloqueio parcial das atividades cognitivas dos atletas. Ou seja, alguns atletas podem ter dificuldade em tomar as melhores decisões em campo ou até para lembrar das jogadas amplamente treinadas com sua equipe.

A insegurança pode ter diversas fontes e mesmo que não percebamos, ela pode e invariavelmente deve estar presente na vida do atleta de futebol profissional. Ainda, os gatilhos que podem disparar a insegurança podem ir desde a citada pressão do adversário, passando pela cobrança da torcida ou até por uma má interpretação do juiz em uma jogada.

Tornar-se inseguro em campo, pode representar a diferença entre se conseguir ou não reagir a uma situação adversa numa partida. Já percebeu que em algumas situações, uma equipe sofre um ou dois gols logo no começo de uma partida e depois não consegue, de maneira organizada, se posicionar e atuar de forma segura no restante da partida? Imagine um jogador precisando arriscar um passe ou uma jogada mais elaborada, sem a devida crença de que é capaz de reproduzir tal desempenho? Isso é mais complicado do que pensamos.

Agora, o que não imaginamos é justamente de onde podem vir as origens da insegurança na vida de cada um de nós, inclusive dos atletas. Vou compartilhar com vocês, algumas fontes simples de insegurança e talvez com isso possamos despertar para esta reflexão a respeito do acompanhamento necessário que todo atleta de futebol deve possuir, para exercer na sua plenitude a sua atividade, seja nas divisões de base ou no profissional.

Como comentei, as fontes são diversas e Bernardo Stamateas, em sua publicação “Resultados Extraordinários”, cita alguns que acho importante conhecermos.

  • Pessoas com imaginação acima da média podem apresentar insegurança, isso porque elas potencializam fatos, que podem ou não serem do tamanho que realmente eles são.
  • Pessoas que foram criadas em famílias inseguras, elas são contagiadas por pessoas inseguras e tudo passa a ser perigoso ou imprudente quando envolvem correr riscos aparentes.
  • Pessoas que por alguns motivos foram magoadas, são mais suscetíveis a ativarem automaticamente a insegurança em sua maneira de agir por sua fragilidade sentimental momentânea. A dificuldade em acreditar novamente em outra pessoa, pode dificultar para que ela se sinta segura novamente e isso reflete em sua atividade profissional.

O melhor a fazer nesse sentido é lançar mão de técnicas que possam ajudar o atleta a renunciar toda sua insegurança, pois sabemos que ela poderá bloquear o que ele possui de melhor e tudo que ele treinou e se planejou a fazer em campo.

Recuperar a confiança é fundamental para que se possa atuar em alta performance no futebol, pois além da necessidade de confiar em si mesmo, existe a necessária e imprescindível prerrogativa de acreditar no outro, para que todos tenham o sucesso desejado e alcancem os melhores resultados.

E você amigo leitor, também acredita que seja necessário debelar a insegurança para uma carreira bem-sucedida no futebol?

Até a próxima.

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Tomar decisões: algo simples e complexo

Por que em situações semelhantes, alguns jogadores conseguem tomar decisões melhores e de forma mais rápida do que outros?

É notória a revolução causada pelos smartphones na vida das pessoas, a comunicação virtual ficou mais ágil e diversificada, é possível ter acesso a um número muito grande de informações em pouco tempo, e muitas outras possibilidades. Quero, entretanto, que se atentem à seguinte situação: quantas vezes você já viu uma pessoa (ou você mesmo) caminhando enquanto direciona seu olhar e atenção ao seu celular? Fazemos isso sem perdermos o caminho, trombar com outra pessoa ou um poste. Eu mesmo, no caminho de casa ao trabalho que faço a pé e em cerca de dez minutos, por diversas vezes vou lendo ou conversando com amigos no celular, sem me atentar ao trajeto. É uma tarefa complexa (manter-se no caminho certo, desviar do que obstrui passagem e, ainda, concentrar-se no que vê na tela do celular) que, de início, não se executa com tanta maestria, porém, após realizar tantas vezes e sempre com alguns elementos diferentes, nosso cérebro conduz nossas ações de forma cada vez mais eficaz. Somos capazes de usar o celular e percorrer o trajeto sem maiores problemas. Nosso cérebro é capaz de avaliar uma grande quantidade de informações e oferecer resposta a elas de forma praticamente instantânea.

Convido agora para que leiam os dois quadros abaixo:

                                                       abc       numeros

Provavelmente você leu o primeiro quadro como “A, B, C” e o segundo como “12, 13, 14”, porém se deu conta de que a letra “B” e o número “13” tem exatamente a mesma grafia? A grande maioria das pessoas não consegue notar isso, o que é natural, pois nosso cérebro traz uma resposta rápida aos problemas que somos expostos, a partir das informações que já possui e do ambiente em que nos encontramos. No primeiro quadro existe uma maioria de letras, enquanto, no segundo, de números. A nossa experiência de enxergar letras no contexto de letras, e números no contexto de números, nos conduz a ler os quadros desta forma. Este exemplo foi retirado do livro “Rápido e Devagar: duas formas de pensar” de Daniel Kahneman, que, a partir de anos de estudos, mostra a forma como nosso cérebro trabalha para tomar decisões.

Olhando para a capacidade de tomar boas decisões de alguns jogadores e refletindo a partir da nossa habilidade de identificar e responder a problemas, a partir do conhecimento adquirido por experiências prévias, podemos conceber que em uma partida de futebol os jogadores, prioritariamente, tomam as decisões baseados na leitura que conseguem fazer do ambiente no momento, consultando em seu cérebro todas as informações que possui armazenadas. Se ele não detém determinada informação, as chances de tomar uma decisão ruim, ou menos adequada, são extremamente consideráveis.

Os jogadores precisam, além de ser capazes de tomar boas decisões, responder motoramente de forma eficaz e, na maioria das vezes, fazer tudo isso em uma fração de segundos. Tomar a decisão e executá-la é simples, fazer isso de forma correta é complexo. Sabendo que os atletas precisam ter o máximo possível de informações armazenadas em seu cérebro e serem capazes de as executar de forma rápida e correta, não adianta cobrar determinadas ações deles nos jogos, se isso anteriormente não lhes foi oferecido nas sessões de treino. O atleta só vai ser capaz de responder de forma efetiva, para determinados momentos do jogo em que se encontra, se já tiver vivenciado alguma situação semelhante. Portanto, quanto mais se expor o atleta a situações que exijam identificar, discernir e executar de forma correta, ou seja, tomar e executar as boas decisões, maior será a quantidade de informações que ele terá armazenada para consultar.

Todos aqueles que acompanham o futebol e, principalmente, aqueles que trabalham diariamente com treinamento, já devem ter se deparado com situações bem discrepantes de tomada de decisão e execução dos jogadores, sejam eles de alta ou baixa capacidade técnica, tática, física ou psicológica (vertentes que são exigidas de forma indivisível em um jogo). Isso não é acaso, cada um responderá a uma determinada situação a partir da informação que detém. Caberá, então, à comissão identificar, dentro das ideias de jogo a que se propõem construir, que características os treinos deverão ter a fim de preparar seus jogadores para responder da forma mais correta possível a cada decisão que precisam tomar durante um jogo.

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Futebol também tem seus “Lochtes”

Durante a Olimpíada, os noticiários foram tomados pela notícia de que quatro nadadores dos Estados Unidos teriam sido abordados por criminosos que se identificaram como policiais aos saírem de uma festa na zona sul do Rio. Dentre os atletas estava o medalhista olímpico Ryan Lochte.

Entretanto, ao investigar o caso, a polícia carioca encontrou contradições que levaram à conclusão de que os nadadores poderiam não ter falado a verdade.

Situação semelhante já se deu no futebol. Em 2011, o atacante Somália do Botafogo forjou sequestro relâmpago para justificar atraso para o treino.

No mesmo ano, o atacante peruano Reimond Manco, do Atlante-México, foi expulso da equipe mexicana após chegar alcoolizado a um treino e inventar um sequestro. O atleta foi demitido.

Nesses casos, configura-se crime de falsa comunicação, previsto no art. 340 do Código Penal que assim dispõe: “provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado” e cuja pena é de detenção de um a seis meses ou multa.

Além disso, eventuais danos e violência também podem configurar crime.

Vale destacar que os crimes de detenção são aqueles que as penas iniciam nos regimes aberto ou semiaberto.

As autoridades devem atuar com agilidade, presteza e eficiência em todos os casos semelhantes a fim de que, não fique a sensação, que as investigações e punições se deram por se tratarem de atletas conhecidos.

Independentemente de classe social, nacionalidade e fama todo e qualquer crime deve ser investigado e os culpados punidos. Tais medidas são indispensáveis para que a sensação de segurança impere.

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Futebol também tem seus "Lochtes"

Durante a Olimpíada, os noticiários foram tomados pela notícia de que quatro nadadores dos Estados Unidos teriam sido abordados por criminosos que se identificaram como policiais aos saírem de uma festa na zona sul do Rio. Dentre os atletas estava o medalhista olímpico Ryan Lochte.

Entretanto, ao investigar o caso, a polícia carioca encontrou contradições que levaram à conclusão de que os nadadores poderiam não ter falado a verdade.

Situação semelhante já se deu no futebol. Em 2011, o atacante Somália do Botafogo forjou sequestro relâmpago para justificar atraso para o treino.

No mesmo ano, o atacante peruano Reimond Manco, do Atlante-México, foi expulso da equipe mexicana após chegar alcoolizado a um treino e inventar um sequestro. O atleta foi demitido.

Nesses casos, configura-se crime de falsa comunicação, previsto no art. 340 do Código Penal que assim dispõe: “provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado” e cuja pena é de detenção de um a seis meses ou multa.

Além disso, eventuais danos e violência também podem configurar crime.

Vale destacar que os crimes de detenção são aqueles que as penas iniciam nos regimes aberto ou semiaberto.

As autoridades devem atuar com agilidade, presteza e eficiência em todos os casos semelhantes a fim de que, não fique a sensação, que as investigações e punições se deram por se tratarem de atletas conhecidos.

Independentemente de classe social, nacionalidade e fama todo e qualquer crime deve ser investigado e os culpados punidos. Tais medidas são indispensáveis para que a sensação de segurança impere.

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A fim de atacar melhor

É de conhecimento de todos que existem diferenças muito significativas entre a marcação/defesa zonal e a marcação/defesa individual. Se na primeira temos como grande referência-alvo de marcação os espaços considerados valiosos, na segunda temos a movimentação dos adversários. Porém, sem muito embasamento teórico para isso, tem-se uma “impressão geral” que defesa zonal é uma forma passiva de marcação, o que não concordo. Além de não ser, este tipo de marcação te dá a possibilidade de atacar melhor. Estar em permanente equilíbrio posicional te traduz na ocupação cuidada e inteligente dos espaços no ataque, no sentido de permitir uma reação rápida e eficaz à perda ou ganho da posse de bola. Trata-se de assegurar a permanente gestão coletiva do espaço e do tempo no jogo, com vista ao domínio dos momentos de transição ofensiva.

De acordo com isso, levanto uma questão: se na defesa individual a movimentação do opositor é a grande referência defensiva de posicionamento e marcação, como fechar os espaços quando os adversários estão em constante movimentação, principalmente abrindo no campo para receber a bola no espaço ou para abrir a defesa (procuram ocupar os corredores e dar profundidade e amplitude ao jogo)?

Na resposta, estão as ideias basilares da “marcação/defesa zonal”, uma vez que a grande preocupação é “fechar como equipe” os espaços de jogo mais valiosos, o mesmo não podemos dizer da “defesa individual”, pois as referências defensivas são individuais e os espaços são subvalorizados. Ou seja, caracterizando-se essa forma de organização defensiva por uma soma de ações individuais com referências à movimentação dos oponentes (o tal “jogo dos pares” onde a equipe procura “encaixar” no adversário).

Alguns autores citam que joga-se melhor ofensivamente contra equipes que façam “marcação individual”, na medida em que isso nos permite levar os jogadores rivais para zonas que nos interessam e assim criar espaços livres. Afirmam também que, com essa forma de organização defensiva, estamos a dar uma vantagem à equipe adversária, pois em vez de sermos nós a oferecermos e bloquearmos os espaços, é o adversário que usa o espaço da forma que quiser, ou pelo menos tem a sua disposição essa possibilidade.

Neste aspecto uma excelente vantagem da defesa a zona, é a manipulação defensiva do oponente (aqui algumas pessoas falam sobre “jogar no erro do adversário”, ou pelo menos se explicam assim). Neste tipo de marcação a preocupação é o espaço a ser ocupado e não a movimentação dos atletas adversários. Espaço que podemos controlar sem a bola, ou seja, podemos influenciar aquele que está com ela e aquele que irá recebê-la, assim o é, pois temos o controle do espaço, do território a ser ocupado, ou pelo menos podemos tê-lo.

Quando estamos a defender, temos que, quem tem a bola, mais quer o espaço para progredir. E quem defende deve gerir/reduzir/tirar esse espaço. Porém, ás vezes, é melhor dar determinado espaço para que possamos atrair o adversário, para que ele vá aonde queremos que ele vá. O que pretendo exemplificar com o exemplo abaixo (percebe-se claramente que o adversário oferece a linha de passe e induz o portador a passar a bola. Com isso intercepta-se o passe e retoma a posse de bola):

Manipular é a palavra-chave de defender bem, e todas as equipes de alto nível sabem e o fazem constantemente. O atleta que está fazendo a cobertura defensiva daquele que está realizando a pressão ao adversário com a posse; ou uma cobertura ofensiva sobre aquele que está fazendo cobertura defensiva daquele que está fazendo a pressão, pode oferecer uma linha de passe ao adversário, mas uma linha de passe que ele sabe que tem a total condição de interceptar a trajetória da bola, e obtê-la com o menor “custo energético”.

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Sinceridade

Há duas imagens especialmente emblemáticas de Neymar na decisão do torneio de futebol masculino dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. O dono da camisa 10 e da faixa de capitão da seleção brasileira anotou um gol de falta no empate por 1 a 1 com a Alemanha e executou com perfeição a cobrança que definiu a vitória de seu time por 5 a 4 nas cobranças de pênaltis, mas não são essas as cenas mais relevantes que ele protagonizou no Maracanã. Os feitos do jogador em campo podem dizer muito sobre seu repertório técnico, mas a faixa usada na comemoração e uma discussão com um torcedor revelam traços de personalidade muito mais densos.

Neymar tem 24 anos. É pai, é jogador de seleção há pelo menos seis temporadas e já esteve entre os três melhores do mundo em eleição realizada pela Fifa. Defende o Barcelona, clube que está entre os maiores faturamentos do planeta, e representa marcas que igualmente se encaixam entre as mais poderosas do mundo. É um dos rostos de empresas como Nike, Ambev, Procter & Gamble, Panasonic e Unilever. O comportamento dele representa muito mais do que atitudes individuais.

Por tudo isso, é injusto avaliar as ações de Neymar como se ele fosse qualquer outra pessoa de 24 anos. Neymar não é apenas um moleque ou apenas um homem imaturo. É alguém que carrega enorme responsabilidade – e que é muito bem pago por isso, diga-se. Muitas apostas de empresas e instituições estão alicerçadas na imagem do atacante.

Quando foi comemorar o maior título que ele já conquistou com a seleção brasileira, contudo, Neymar ignorou todo esse repertório. Colocou na cabeça uma faixa com a inscrição “100% Jesus” e ficou com o adereço durante toda a festa no Maracanã. Toda personalidade – e toda pessoa, aliás – tem direito de ter suas crenças e professá-las como achar mais conveniente. A discussão aqui não é sobre liberdade religiosa, mas sobre representatividade: quando está ali, Neymar não é apenas um indivíduo; representa os ideais e os valores de marcas e instituições que apostaram nele. E nem todas essas marcas são 100% Jesus.

A religião, porém, foi apenas uma das facetas de Neymar após o ouro olímpico. A outra foi uma discussão acalorada com um torcedor na saída de campo. Exaltado, o atacante ofendeu e ameaçou alguém que estava na arquibancada do Maracanã. Ao contrário dos palavrões ditos pelo camisa 10, os motivos para isso não ficaram claros.

Neymar não é obrigado a ser uma personalidade laica. Tampouco assumiu compromisso de ouvir calado os impropérios de todo mundo e de reagir com sorrisos a todo tipo de provocação. Neymar é humano, e como humano ele pode ter reações individualistas e desconectadas do contexto.

Nesse aspecto, o grande problema é a falta de sinceridade. Não é por acaso que uma série de bad boys do esporte “vende” melhor do que o principal jogador da seleção brasileira. A questão aqui é que a blindagem de clubes, instituições e marcas em torno do jogador cria uma imagem de que ele está evoluindo ou de que existe da parte dele um compromisso com os fãs.

Neymar é hoje o principal garoto-propaganda do esporte brasileiro. Ainda assim, também tem um nível de rejeição assustador para alguém com tantas conquistas em tão pouco tempo de carreira. E essas restrições à imagem do atacante têm relação direta com a falta de sinceridade na comunicação.

Ninguém é obrigado a ser uma personalidade modelo ou cumprir todos os pontos da cartilha de um porta-voz ideal. Ninguém é obrigado a pensar em contexto, pesar cada atitude e fazer as coisas de acordo com valores das marcas que representa. O problema, no caso de Neymar, é passar uma falsa impressão disso.

Seria muito mais genuíno se Neymar assumisse os problemas de personalidade e se comportasse como alguém moldado por esses aspectos. Se lidasse melhor com a imagem de alguém falível e evitasse a falsa ideia de que pode ser o líder que tantos cobram dele. Depois dos Jogos Olímpicos, o camisa 10 da seleção deu um importante passo nessa direção ao abdicar da faixa de capitão.

É possível comunicar qualquer tipo de personagem ou marca. É possível obter sucesso com perfis absolutamente dicotômicos, desde que exista sinceridade na transmissão dessas mensagens. Neymar tem uma série de virtudes, mas ainda precisa de maturidade para admitir esses traços de personalidade. As frustrações sobre Neymar são quase sempre resultantes de expectativas que não são condizentes com o que ele realmente apresenta.

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“Seja mais político”

Esta é uma expressão/conselho que provavelmente você já ouviu (direcionada ou não a você) no ambiente do futebol. Para dar sequência ao texto solicito, primeiramente, um breve exercício:

Registre, como e onde quiser, 10 palavras ou expressões associadas à política e/ou aos políticos brasileiros.

Peço, em seguida, uma reflexão:

Como você se sentiria se a imagem que o mercado do futebol tem sobre você fosse composta por todas essas palavras/expressões ou, ao menos, por boa parte delas?

O mesmo exercício proposto a você foi feito também com alguns companheiros de profissão. Corrupção, injustiça, desonestidade e malandragem foram termos comuns mencionados por eles.

A coluna desta semana pretende trazer alguns apontamentos sobre a conduta e a convivência no complexo ambiente do futebol, repletas de relações e interações humanas em todos os seus níveis.

Da comunicação com a comissão técnica e jogadores, ao posicionamento perante à diretoria, o profissional do futebol está sujeito à situações que deve expor sua opinião e/ou tomar decisões que evidenciam sua personalidade e a forma com que lida com os problemas do cotidiano.

Para tentar deixar mais tangíveis as reflexões, proponho, agora, mais um exercício. Peço que imagine, de acordo com a sua função (exercida ou almejada) qual seria sua conduta em cada um dos problemas hipotéticos listados a seguir:

  • Um dos principais jogadores do time, vinculado a um grande empresário, tem apresentado um comportamento individualista e egoísta
  • A diretoria quer intervir no seu programa de treinamento
  • Um membro da sua comissão técnica tem se dedicado menos do que o ideal em sua opinião
  • No clube, tem surgido algumas fofocas/conversas em relação a sua pessoa e as suas atitudes
  • Você discorda de um posicionamento da diretoria
  • Lhe oferecem uma boa quantia em dinheiro para a aprovação de um jogador no elenco
  • Você quer se manter no cargo e percebe que para isso precisa bajular algumas pessoas

Para quem está no dia-a-dia do futebol, seguramente, já deve ter vivenciado situações semelhantes ou, inclusive, mais complexas que as supracitadas. Também seguramente, suas respostas a estes problemas devem ter seguido seus princípios e valores. É momento, então, para outra reflexão: sua conduta segue o ritmo/status quo das pessoas e do ambiente que você está inserido ou você tenta, de alguma forma, transformá-los?

A transformação (propósito da Universidade do Futebol) é uma palavra com imenso significado para os contextos político e futebolístico atuais. Ela não vem, no entanto, sem estar somada às altas doses de debates, divergências, conflitos, trocas de conhecimento e opiniões.

Por isso, mais do que direcionarmos o foco das mudanças nas coisas (nos métodos, nas estruturas, nas competições ou nas instituições), deveríamos direcioná-lo às pessoas, principais responsáveis pela transformação da política, do futebol ou de qualquer outro produto da sociedade.

E quando a imagem predominante da política brasileira for marcada por expressões como transparência, revolução, oportunidade, competência, honestidade, crescimento, desenvolvimento, coragem, igualdade e justiça, indubitavelmente será prudente, para sua conduta no futebol (e na vida), seguir o conselho como o do título do texto.

Abraços e até a próxima!

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"Seja mais político"

Esta é uma expressão/conselho que provavelmente você já ouviu (direcionada ou não a você) no ambiente do futebol. Para dar sequência ao texto solicito, primeiramente, um breve exercício:
Registre, como e onde quiser, 10 palavras ou expressões associadas à política e/ou aos políticos brasileiros.
Peço, em seguida, uma reflexão:
Como você se sentiria se a imagem que o mercado do futebol tem sobre você fosse composta por todas essas palavras/expressões ou, ao menos, por boa parte delas?
O mesmo exercício proposto a você foi feito também com alguns companheiros de profissão. Corrupção, injustiça, desonestidade e malandragem foram termos comuns mencionados por eles.
A coluna desta semana pretende trazer alguns apontamentos sobre a conduta e a convivência no complexo ambiente do futebol, repletas de relações e interações humanas em todos os seus níveis.
Da comunicação com a comissão técnica e jogadores, ao posicionamento perante à diretoria, o profissional do futebol está sujeito à situações que deve expor sua opinião e/ou tomar decisões que evidenciam sua personalidade e a forma com que lida com os problemas do cotidiano.
Para tentar deixar mais tangíveis as reflexões, proponho, agora, mais um exercício. Peço que imagine, de acordo com a sua função (exercida ou almejada) qual seria sua conduta em cada um dos problemas hipotéticos listados a seguir:

  • Um dos principais jogadores do time, vinculado a um grande empresário, tem apresentado um comportamento individualista e egoísta
  • A diretoria quer intervir no seu programa de treinamento
  • Um membro da sua comissão técnica tem se dedicado menos do que o ideal em sua opinião
  • No clube, tem surgido algumas fofocas/conversas em relação a sua pessoa e as suas atitudes
  • Você discorda de um posicionamento da diretoria
  • Lhe oferecem uma boa quantia em dinheiro para a aprovação de um jogador no elenco
  • Você quer se manter no cargo e percebe que para isso precisa bajular algumas pessoas

Para quem está no dia-a-dia do futebol, seguramente, já deve ter vivenciado situações semelhantes ou, inclusive, mais complexas que as supracitadas. Também seguramente, suas respostas a estes problemas devem ter seguido seus princípios e valores. É momento, então, para outra reflexão: sua conduta segue o ritmo/status quo das pessoas e do ambiente que você está inserido ou você tenta, de alguma forma, transformá-los?
A transformação (propósito da Universidade do Futebol) é uma palavra com imenso significado para os contextos político e futebolístico atuais. Ela não vem, no entanto, sem estar somada às altas doses de debates, divergências, conflitos, trocas de conhecimento e opiniões.
Por isso, mais do que direcionarmos o foco das mudanças nas coisas (nos métodos, nas estruturas, nas competições ou nas instituições), deveríamos direcioná-lo às pessoas, principais responsáveis pela transformação da política, do futebol ou de qualquer outro produto da sociedade.
E quando a imagem predominante da política brasileira for marcada por expressões como transparência, revolução, oportunidade, competência, honestidade, crescimento, desenvolvimento, coragem, igualdade e justiça, indubitavelmente será prudente, para sua conduta no futebol (e na vida), seguir o conselho como o do título do texto.
Abraços e até a próxima!

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Rogério Micale

Há uma década, mais ou menos, um pensar novo começou a atuar efetivamente no futebol brasileiro. A porta de entrada das boas ideais foram principalmente as Categorias de Base dos nossos clubes.

Frequentada por uma geração de profissionais curiosos e pesquisadores, uma avalanche de conhecimentos invadiu a formação de talentos e a ciência da construção do jogo no futebol brasileiro. Há pelo menos vinte anos o mundo respira novas formas de conceber o treinamento e as táticas no futebol. No Brasil, foi principalmente a “meninada da Base” quem correu atrás!

Como os setores de formação dos clubes brasileiros são sempre mal falados, o futebol dos adultos ficou meio distante deste novo pensar. Não raro, achamos aqui no Brasil que o talento nasce pronto e os formadores são quem os “estragam”. Por isso também os departamentos de Base e Profissional ficam de costas um para o outro em seu modo de gerir o projeto futebol nos clubes. Infelizmente, ainda continua assim em grande parte deles. São raríssimas as exceções!

Só se fala em Categorias de Base no Brasil quando mais um jovem craque desponta em nossa vitrine. Mesmo assim, valorizando somente o talento e não considerando a bagagem de trabalho realizada para que o craque chegasse àquele ponto.

E o Rogério Micale? Onde ele se encontra nesta reflexão? Afinal de contas é o personagem principal do nosso post.

Pois bem, o professor Micale se mostra ao Brasil e ao mundo como grande representante da nova, já bem experiente, geração de treinadores e formadores do talento nacional brasileiro. Rogério Micale com seus dez a quinze anos de treinador de categorias de base, saiu do seu “humilde espaço” para contribuir nobremente com a conquista brasileira do ouro Olímpico do futebol. Eu sempre digo, que quando quero aprender algo diferente e moderno no futebol me recorro à “garotada da Base”, treinadores e outros profissionais. Não me arrependo nunca!

Para mim, Rogério Micale é a prova inequívoca que o futebol de Base brasileiro é competente e uma grande escola formadora de profissionais. Nem pareceu que ele nunca tinha sido treinador de equipes adultas. Conduziu com sabedoria a grande missão que lhe foi atribuída. Seu perfil de treinador faz parte da nova geração que poderá representar a virada em campo dos “7X1” que nos incomoda!

Não serei injusto com os “coroas”, treinadores brasileiros mais experientes, que também abraçaram essa linha de pensamento e trabalho que concebe o futebol moderno.

Tite talvez seja o mais destacado representante desse grupo seleto de treinadores do nosso mercado. Não parou no tempo e não se conteve a uma visitinha ao território europeu como “estágio profissional”. Fez um ano de profundos estudos para argumentar seu inovador método de trabalho. Além disso, ele sabe, assim como os profissionais da base, que a literatura moderna está ao alcance de todos, e pelo que percebemos, mostra ser um assíduo degustador desse saber.

Rodrigo Leitão disse certa vez: não é preciso atravessar o Atlântico para saber como o Barcelona joga e/ou constrói a sua forma de jogar. Jorge Sampaoli construiu um Chile rico em conceitos táticos modernos, praticamente sem sair da América do Sul.

As ideias e a fala do professor Tite são sempre compatíveis à qualidade de jogo das suas equipes. Para o bem do futebol brasileiro, tomara que o novo treinador da Seleção Canarinho consiga bons resultados para fazer valer a importância desses pensamentos que povoam a nossa escola.

Outros nomes importantes da nova geração, além de Micale e Tite, merecem ser citados: Róger Machado, João Burse, Eduardo Baptista, Enderson Moreira, Osmar Loss, Adilson Batista, Fernando Diniz, José Ricardo, Paulo de Castro, Sandro Fórner, Lucas Macorin, Leo Condé, Rodrigo Leitão, Felipe Surian, Gustavo Silva, Diogo Giacomini, Max Sandro, Maurício Barbieri, Carlos Amadeu, Paulo Autuori, Jorginho, Doriva, Marquinho Santos, Ney Franco, Dado Cavalcanti, Bruno Pivetti, Ricardo Gomes…, dentre outros.

A maioria deles com passagens pela Base em seus currículos. Estes profissionais, acompanhados de todas as necessidades subjacentes à construção do jogo moderno, são e/ou serão grandes protagonistas do alavancar do futebol brasileiro nos próximos anos. Me desculpem outros nomes que fazem parte desse grupo especial e que não deixam de ser tão importantes por não terem sido citados neste espaço.

Aos leitores que não conhecem o passado dos treinadores que mencionei, não há distinção entre eles quanto à formação que tiveram. Temos ex-atletas e acadêmicos, todos com ótimos perfis para o mercado do futebol moderno. A competência é que deve regular a trajetória destes profissionais, assim como acontece em todas as profissões. Uma coisa é certa: a maioria deles, senão todos, passaram ou estão passando pelos cursos de formação de treinadores da CBF. Será que o Brasil está se encontrando em uma nova fórmula de reimplantar Escola Brasileira de Futebol?

Parabéns aos amigos da comissão técnica que participaram competentemente da conquista do ouro Olímpico, especialmente ao Rogério Micale, um grande comandante! Parabéns aos jogadores que neste torneio já jogaram um jogo brasileiro parecido às necessidades do futebol moderno! E isso sem perder traços importantes da escola brasileira. Estamos no caminho!

Forte abraço e até breve…

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Da estratégia ao comportamento, da posição a função

Como relatei na coluna anterior, fazendo uma análise superficial dos sistemas estratégicos, na estreia da Premier League (13/08), das 20 equipes: 7 no 1-4-3-3 (Chelsea, West Ham, Liverpool, Bournemouth, Man.City, Swansea, Hull City), 6 no 1-4-2-3-1 (Arsenal, Man.United, Cristal P., Tottenham, Middlebrough, Stoke), 4 no 1-4-4-2, 2 linhas (Sunderland, Burnley, Bromwich e Leicester), 1 no 1-3-4-3 (Everton), 1 no 1-4-3-1-2, losango (Southampton) e 1 no 1-3-5-2 (Watford).

Comumente tem se falado que o Sistema Estratégico de uma equipe de futebol não diz como ela vai se comportar em campo. O que não concordo inteiramente! Penso que isso seria um conclusão errada, também simplista, da forma como enxergamos e de como tratamos o Sistema Estratégico no futebol (uma forma geométrica de ocupar o espaço de jogo, o problema que esquecemos das variáveis tempo, velocidade e adversário).

Esta simples e superficial análise demonstra (“superficialmente”) que o jogo nos aspectos físicos (principalmente, por enquanto) e técnico (talvez, de um “jeito” raso) vai cada vez mais ficar semelhante, ou pelo menos, várias equipes tendem a usar o mesmo “caminho” durante o jogo. Ao meu ponto de vista, o Sistema Estratégico, influencia determinado comportamento em determinada posição em campo: fechar a linha, cobertura defensiva, largura/profundidade, fechamento de espaço vertical/horizontal, etc. (Ps: estes exemplos partem do pressuposto de pensarmos de uma forma mais sistêmica do que linear (coletiva e não individual / racional e não energética/emocional).

O Sistema Estratégico se caracteriza por ser um precursor, um ponto inicial, de tudo que envolve o comportamento da equipe. Um ponto de partida para os comportamentos que idealizam e caracterizam a equipe. Comportamentos estes, colocados pelo treinador, que por sua vez precisa verificar a validade e a eficácia destes a partir da posição dos atletas em campo. Corroborando com isso, se torna necessário identificar as valências do atleta antes de coloca-lo em determinada posição em campo. Neste mesmo sentido, temos a diferenciação entre posição e função, determinado jogador com determinadas características (pode) ocupa(r) uma determinada posição, que prioritariamente não é a “dele”.

Sistema Estratégico é um facilitador, ou um “prejudicador” do processo. Não nos diz tudo que vai acontecer, mas nos diz alguma coisa. Se pretendemos determinado comportamento, temos que ter em mente que certo posicionamento em campo vai te ajudar a alcançar este objetivo, como também, determinada condição técnica e física do jogador. Sendo uma forma geométrica (uma disposição em campo) cada atleta, em cada posição, deve cumprir determinados requisitos tático/técnicos (função) a fim de se cumprir “bem” certas ações inerentes a posição dele no estabelecido sistema estratégico. Penso que devemos entender que cada Sistema, independente de qual seja (1-4-4-2, 1-3-5-2, etc.), tem sua virtudes e falhas estruturais intrínsecas, desde o nível mais baixo de rendimento ao mais alto. O que pretendo mostrar no vídeo abaixo:

Não podemos (não deveríamos) seguir e “adotar” determinados “princípios” (comportamentais ou não) somente por serem “belos e atraentes” (moda), ou pior, por terem dado “certo” (aqui podemos relembrar a coluna que falei sobre “o real valor da vitoria”). Este é um exemplo crasso das padronizações das ideias sobre o futebol. Se todos pensarmos as mesmas coisas sobre o jogo, treino, etc, jogaremos da mesma maneira. Podemos colocar aqui a equivocada interpretação dos tais “princípios”. A minha preocupação em demonstrar isto, está na padronização de uma determinada forma de jogar (“negativa” ou “positiva”).

Ao meu ver o que devemos olhar e observar é como tem-se evoluído o processo para se chegar em determinado lugar (ideia envolvida). Não simplesmente adotar uma estratégia (posição) ou tática (função), somente por ter dado “certo”. O porque determinada equipe/pessoa de TOP faz aquilo que faz? Pensar mais no processo do que no resultado. Devemos evoluir mais no treino cognitivo, na tomada de decisão, no pensar sobre o fazer, na leitura e interpretação do treino/jogo, na relação direta e indireta com o adversário. Pensar de uma forma mais aberta as relações das variáveis entre si. Ter uma organização de jogo mais complexa, do que rígida. Observar o jogo de uma forma original, eleger e criar os próprios exercícios e levar em conta a personalidade dos atletas, a cultura do clube e as expectativas. Assim criar uma forma de jogo própria.