Uma das principais discussões em relação ao futebol brasileiro está relacionado ao fato dos torneios serem organizados pela CBF e as suas federações estaduais, ao invés dos próprios clubes serem a parte central como detentores de suas ligas, algo que ocorre com sucesso na Europa.
O que mais chama atenção é que a CBF, “dona” do Campeonato Brasileiro, parece não entender o quanto deveria valorizar o seu produto principal destinado aos clubes. A grande prova está no calendário falho e sufocante, que obriga os grandes clubes a um número excessivo de jogos, enquanto que, na outra ponta, os clubes locais de menor expressão fecham as suas portas por um semestre inteiro sem campeonatos para participar.
A CBF tem se esforçado em desenvolver uma embalagem mais elaborada ao seu produto, com a criação de protocolos de jogos que agregam certo valor ao evento. Porém, por ter que entregar a temporada dentro do prazo, faz com que o seu produto Campeonato Brasileiro conflite com a sua outra propriedade, a Seleção Brasileira. Essa questão faz com que se perca a principal característica que qualquer produto deve priorizar: a sua qualidade.
Como exemplo, em outubro a seleção jogará duas partidas pelas Eliminatórias Sul-Americanas, na chamada data FIFA, onde as seleções de todo o mundo disputam as suas competições continentais ou amistosos preparatórios. Nenhum clube europeu das grandes ligas terá jogos oficiais nesse período, pois o calendário é programado para que os clubes tenham sempre o seu elenco completo à disposição, haja visto serem eles os responsáveis pelo alto custo de suas contratações e pagamentos mensais de salários.
Nesse período em que a seleção brasileira jogará, não teremos jogos do Campeonato Brasileiro, o que parece um avanço. Porém, teremos nada menos que a final da Copa do Brasil e a final da Primeira Liga, sendo que esse segundo perdeu grande parte de seu prestígio nessa sua segunda edição. Sem dúvida, as finais ocorrerão nessas datas por não haver qualquer outra possibilidade disponível.
Na minha visão, a forma mais coerente de conseguirmos ver por aqui um calendário equilibrado, onde as datas FIFA sejam respeitadas e os clubes tenham maior tempo de recuperação e de treino, é repensando ainda mais sobre os campeonatos estaduais. Apesar da importância histórica, clubes e torcedores hoje não dão o mesmo valor que davam há duas décadas atrás. Ao mesmo tempo, seria uma pena se esses campeonatos simplesmente acabassem.
Hoje, qualquer grande mudança no calendário dos torneios existentes esbarra em interesses enraizados em nossa cultura. Porém, para pensarmos na sobrevivência do nosso futebol no dia de amanhã, é essencial que a prioridade esteja na qualidade do espetáculo, não mais na quantidade de jogos.