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Quanto mais ideias de qualidade, mais jogos de qualidade

Quando falamos de esportes coletivos, falamos de equipe, uma união de jogadores com a finalidade de conseguir algo em comum. Todavia, cada jogador tenta alcançar o que é melhor para si, trabalhando no/e para o coletivo, assim como o coletivo tem que extrair o melhor de cada jogador para alcançar o seu propósito enquanto instituição. No intuito de pôr em ordem diversos jogadores, distintos objetivos (que podem se contrariar) e principalmente diferentes formas de interpretar, pensar e “gostar” do jogo de futebol, há a necessidade de organizar esse emaranhado de elementos que constituem o grande fenômeno futebol. Organizar no sentido de tomar forma regular. Equipe com um perfil frequente ao longo do jogo e dos jogos. Regularidade que advém dos hábitos da equipe e do jogador. Hábitos que se adquirem na prática (ecoando, aqui, algumas reflexões de uma coluna anterior).

Portanto, o que dá corpo a “organização” é o que acontece no treino. Contudo, primeiramente precisamos nos desvencilhar da interpretação convencional de “treino”. Devemos pensar o “treino” como prática, sobre o que fazemos diariamente, o que estamos nos habituando a fazer. Tudo aquilo que acontece antes do jogo, com o objetivo de se preparar para este jogo. E nisso entra os exercícios, as orientações, a comunicação (fator crucial), a convivência, as interações, dia a dia, etc. Podendo estes fatores serem arquitetados deliberadamente ou não. Premeditados pelo treinador (ou qualquer outro agente do meio) ou simplesmente fruto das interações dos jogadores (o hábito da convivência edifica, em certo nível, a organização do coletivo). Com essas peculiaridades, o que causa mais inquietação e indagação é a própria construção da organização. Por isso o treino é indispensável. Tudo que precisamos para estruturar uma organização (que pretendemos). Ao meu ver, neste fator que se encontra um dos grandes pontos a ser melhorado em nosso futebol, o treino. Precisamos nos dedicar mais para compreender melhor o treino. Precisamos treinar mais aquilo que queremos fazer no jogo. O treino faz a competição. Treinar de uma determinada forma para jogar desta maneira. Treinar para alcançar aquilo que queremos.

A organização da equipe vem do que ocorre no treino. Aquilo que acontece no treino vai definir a qualidade da organização. Se é oriundo das ordens (ideias pré-concebidas, principalmente pelo treinador) ou da espontaneidade das interações dos jogadores. Se pretendemos uma organização mais complexa (flexível e adaptativa) é preciso saber “consertar” esses convívios. Fazer com que cada jogador faça o seu melhor dentro de uma perspectiva coletiva. Caso se pretenda uma organização mais rígida, quanto mais “ordens”, principalmente de caráter terminante, melhor.

Não sou apologista de deixar “a reveria” o treino. Contudo, precisamos entender que ordens (ideias, princípios, etc.) limitam, coíbem, de uma certa maneira, o desregramento, a desordem. Esta que se manifesta na criatividade, autointerpretação, na tomada de decisão do jogador no jogo.  Não obstante, precisamos lembrar que o jogador deva tomar a melhor decisão para ele e o grupo. Pois, a decisão dele depende e é influenciada pela decisão do(s) outro(s) jogadores. Provavelmente essa seja a diferença entre “liberdade” e “libertinagem”.

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A importância da comunicação no futebol

Para quem acompanha diariamente o noticiário esportivo, sabe bem que a palavra “marketing” está cada vez mais presente nos textos, no rádio e na televisão. Muito se fala disso, muito se discute sobre, muito se estuda e muito se deturpa também. Como se o “marketing esportivo” fosse a solução para a gestão do futebol, ou de todos os problemas financeiros. Uma coisa é gerir, outra coisa é colocar um produto no mercado (‘marketing’) e outra terceira coisa é comunicar para que este produto chegue ao consumidor final, você torcedor.

Um clube de futebol, uma federação ou uma confederação possuem vários produtos ligados à modalidade: a equipe, o jogo, o craque, o estádio, o bar, o restaurante. Obviamente, todos estes itens precisam ser geridos de acordo com os recursos financeiros disponíveis. Por exemplo, a gerência de um plantel ou gerir um estádio em um dia de partida ou de um treino. Não parece, mas estes itens já são parte do conceito do mix de marketing, são os produtos. Quanto mais “azul” for o caixa disponível, maior a possibilidade de se investir no time ou no recinto de jogo, a fim de colocar à disposição do público um produto mais atraente para ser consumido. Aí os respectivos gestores terão que saber lidar com as suas áreas. Os das equipes, com o trabalho dos agentes, com o “vestiário” ou as janelas de transferências para o exterior. Os dos estádios, em proporcionar o melhor conforto e segurança, ou seja, a experiência em frequentá-lo, cujo torcedor teve conhecimento do jogo através de uma comunicação abrangente e eficiente do clube, que chegou até ele e foi capaz de fazê-lo decidir em comprar a partida de futebol. Simultaneamente, as marcas vinculadas ao esporte nele se posicionam e se comunicam com o público-alvo. Quanto melhor comunicado, mais simpática será a mensagem, mais receptiva à vista do torcedor. E uma marca, associada a uma instituição esportiva, quer se comunicar através dela. Quanto mais barreiras e falta de transparência encontrar para expor sua marca, menor o interesse em associar-se ao produto esportivo.

Paixão faz parte do esporte, faz! Mas não é o quinto “P” do “marketing”! Assim como o esporte, também o clube, o craque, o estádio e outros produtos esportivos se comunicam com o público-alvo (o torcedor, o fã, o simpatizante), que é justamente o “P” de promover, da promoção, em se comunicar. Um exemplo disso, quando se aplaude e parabeniza ao se ver os mascotes das equipes se encontrando para promover um jogo. É um tipo de comunicação bem bacana para um produto interessante no mercado: a partida de futebol. O Manchester City bolou algo interessante: camarotes no túnel de acesso aos jogadores e árbitros (quem está no túnel não chega a ver quem está nos camarotes), para potencializar os rendimentos do clube. O preço por jogo para estar no túnel: R$1.200,00 (mil e duzentos reais).

Mascotes do São Paulo FC e do América FC em frente ao Mineirão. Foto: Divulgação
Mascotes do São Paulo FC e do América FC em frente ao Mineirão. Foto: Divulgação

 

Com tudo isso, o marketing é uma ferramenta da gestão que trabalha em cima do conceito dos quatro “Ps” (Produto, Preço, Praça e Promoção). O produto (um desses quatro “Ps”) deve ser muito bem elaborado para ser promovido (outro desses quatro “Ps”) em um competitivo mercado – com um leque imenso de opções de lazer e entretenimento – e só vai alcançar o consumidor através de um processo de comunicação estratégica, eficiente e efetiva, capaz de fazê-lo preferir este produto, não os outros.

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Gerindo mudanças no futebol

Tenho me questionado constantemente sobre como se pode auxiliar os clubes, durante os vários processos de mudanças que ocorrem durante uma temporada e entre as temporadas. São mudanças oriundas de questões técnicas e políticas, mas que invariavelmente geram impactos no desempenho dentro de campo e sendo assim, como potencializar os impactos positivos e minimizar os negativos?

Buscando respostas para esse questionamento, recentemente recorri ao tema Gestão de Mudanças Organizacionais, no qual tenho alguma vivência no mundo corporativo, e rapidamente me vi pensando na aplicação do conceito no futebol. E acreditem, faz todo sentido.

Com as grandes e necessárias mudanças que a gestão do futebol busca implementar nos clubes, estas deixam de ser meros acontecimentos esporádicos e se tornaram algo cada vez mais cotidiano.

Podemos conceituar uma mudança organizacional como uma adequação às exigências do cenário ou mercado, gerada por influência do ambiente externo ou do ambiente interno. Na prática, o uso da Gestão de Mudanças Organizacionais, objetiva a redução do tempo de adaptação de uma organização às mudanças impostas por novos projetos ou processos de negócio. Compreendendo o conceito, podemos ver claramente que o contexto no qual acontecem as mudanças não são uma exclusividade do mundo corporativo, mas sim, tem total aderência no mundo do futebol, onde as mudanças acontecem com uma frequência maior do que em muitos nichos de mercado. Basta imaginarmos a quantidade de projetos que são idealizados e iniciados nos clubes, por sua gestão administrativa e técnica, para alavancar o desempenho dentro e fora dos campos.

Durante a realização de um projeto, o ato de gerir mudanças organizacionais na prática envolve ações relacionadas a:

  • Avaliação de prontidão da organização à mudança
  • Gestão dos impactos organizacionais, devido ao projeto de mudança
  • Gestão de todas as partes interessadas no projeto
  • Gestão da comunicação envolvida, durante o projeto
  • Gestão de toda capacitação necessária, para implementar as mudanças que serão geradas pelo projeto

Cabe ressaltar que todos esses pontos de ação acontecem, de forma sequenciada e organizada, durante todas as fases de um projeto.

Então amigo leitor, pensando na dinâmica política dos clubes e nos necessários projetos que cada gestão necessita implementar para gerar os resultados que se esperam, acredito plenamente que a adoção de uma Gestão de Mudanças Organizacionais, nos clubes de futebol aqui no Brasil, pode colaborar fortemente para elevar a taxa de sucesso de implementação destes projetos.

Até a próxima.

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Pela volta do mata-mata

Desde 2003, o Campeonato Brasileiro é disputado no sistema de pontos corridos, ou seja, é declarado campeão o clube que, após disputar duas partidas com cada equipe (uma em casa e outra fora) somar mais pontos. Esse modelo é utilizado com muito sucesso na Europa.

Até 2003 o regulamento do Brasileirão previa uma fase de mata-mata (ou playoffs) na qual as equipes decidiam a classificação e título em confrontos diretos, normalmente, em dois jogos, um no campo de cada clube. Essa forma de disputa é adotada com extremo sucesso nos Estados Unidos.

Os defensores dos pontos corridos argumentam que é a forma de disputa mais justa, pois, coroará o clube mais organizado, com melhor planejamento e que mantenha a regularidade. Por outro lado, os amantes do mata-mata entendem que se trata da forma mais emocionante de disputa e que é vencida pela equipe mais apta a enfrentar a pressão e situações adversas.

De fato, na Europa, onde se joga o melhor futebol do mundo, o modelo de pontos corridos é utilizado há décadas e com bastante sucesso. Entretanto, este sucesso se deve a algumas peculiaridades do continente europeu.

Primeiramente, trata-se de países com área pequena. Das principais Ligas, a França é o maior país, com 547.030 Km2, menor que o Estado de Minas Gerais que tem 587,6 Km2. Dessa forma, torna-se fácil para o torcedor acompanhar sua equipe nos mais diversos cantos do país, razão pela qual os campos estão sempre cheios.

Além disso, é fácil e barato circular dentro dos países europeus. As estradas são boas, há trens e passagens aéreas baratíssimas nas empresas low cost. É possível, por exemplo, ir de Paris a Nice por 30 euros (pouco mais de cem reais).

Isso sem falar na segurança e na qualidade dos estádios.

Mesmo diante de tudo isso, a maior competição da Europa é a Champions League, cuja fórmula de disputa se dá por pontos corridos.

O Brasil é um país de dimensões continentais. Normalmente, 80% dos clubes do Brasileirão situam-se no eixo Sul-Sudeste, o que torna caro, custoso e cansativo para uma equipe do Norte e Nordeste ficar fazendo o “ping pong”. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais grandes equipes com torcidas fantásticas como Bahia, Vitória, Náutico, Sport, Santa Cruz, Remo e Paysandu não consigam se firmar no cenário nacional.

Ademais, a alma latina do brasileiro clama pela emoção, pela disputa acirrada e pelos herois. Quem não se lembra de Alex Alves da Portuguesa em 1997, do Alex Mineiro do Atlético Paranaense em 2001, do Robinho em 2002 ou, mais recentemente do goleiro Victor (na Libertadores) em 2013?

Infelizmente, o campeonato por pontos corridos traz a cada rodada dois, três jogos com algum interesse e sete jogos sem atrativos. Normalmente, uma equipe dispara na frente e a competição se torna uma briga por vaga na Libertadores, ou seja, pelo sexto (!) lugar.

Antes de 2003, os clubes brigavam ponto a ponto para ficar entre os oito primeiros colocados e depois começavam uma “nova competição” nos mata-matas. O campeão era a melhor equipe do país, ou seja, aquela que vencia segundo as regras de competição e que se preparava física e emocionalmente para a fase dos playoffs.

Os Estados Unidos que possui dimensões continentais como o Brasil tem as Ligas esportivas mais valiosas do mundo e todas elas são disputadas no sistema de mata-mata.

O modelo brasileiro cultural e geográfico é muito mais próximo do americano do que do europeu.

A média de público do Brasileirão por pontos corridos e mata-mata, tem sido muito próxima, mas, indiscutivelmente a emoção caiu e o produto Campeonato Brasileiro se tornou menos atrativo.

Tudo isso se torna mais claro quando nos deparamos com jogos sensacionais na reta final da Copa do Brasil.

O grande ponto negativo do mata-mata que seria o fim de temporada prematuro para as equipes não classificadas, pode ser resolvido, por exemplo, com um playoff paralelo decidindo vagas nas competições sul-americanas como se deu, por exemplo, no Brasileirão de 1999.

Enfim, o debate é bastante complexo e há medidas que podem ser interessantes como a criação de “conferências” como ocorre nos EUA, mas, independente da conclusão individual, clamo pela volta dos grandes jogos, da expectativa de uma grande final e do surgimento dos mitos nos jogos decisivos.

#PelaVoltadoMataMata

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Saber dosar

No futebol temos várias dimensões que devem ser levadas em consideração para a organização de um processo de treino-competição. Se alguns aspectos não forem dosados adequadamente, resíduos processuais podem ser acumulados e prejudicar a equipe.

Dosar significa medir com cautela o que está sendo feito, o que está sendo observado e o que está sendo aplicado. E nisso algumas perguntas podem ser levantadas: O que dosar? Como dosar?

O que dosar seria, dentre várias dimensões, a modificação do contexto, a progressão dos princípios de jogo, os exercícios a serem aplicados, os minutos, as repetições, a fadiga complexa (central/periférica), horários de treinamento, possíveis concentrações antes de jogos, liberação de jogadores para saírem em grupos, tempo com a família, alimentação e etc. Enfim, todos os fatores dentro e fora do campo que perfazem o modelo de jogo do treinador, o contexto, a cultura, os costumes.

Ao modelarmos um contexto, temos que ter muita sensibilidade e compreendermos tal complexidade deste processo. Algumas vezes ficamos obcecados por implantar algumas ideias e alguns treinamentos que fogem daquele determinado momento e acabamos colocando doses acima da recepção ideal e sadia para os jogadores. Isso aos poucos vai gerando uma desconfiança, que pode fazer com que os jogadores não acreditem no que se está fazendo. Por isso a dosagem do que é feito e do que pode ser feito é um dos requisitos principais. A modificação brusca e o excesso de algumas coisas serão sempre prejudiciais.

Nesse aspecto, uma das primeiras questões, quando uma equipe inicia um trabalho novo, troca de treinador, é o excesso de informação. O excesso de informações conceituais pode gerar um lapso cognitivo, que mais que ajudar o jogador a assimilar as novas estruturações criadas, arrastará uma estranha sensação do jogador não reconhecer mais o jogo e o seu jogo.

Também, o excesso de treinamentos, a famigerada obsessão pelo volume de treino ou excesso de treino organizacionais em campo aberto, pode ocasionar uma fadiga acumulativa que também mais que ajudar vai atrapalhar no dia do jogo.

Outra questão também é a concentração em hotéis. E será que isso é um fator tão importante assim, a ponto de não deixar os jogadores passarem horas a mais com filhos, esposa e amigos? Isso exige um olhar muito aguçado do treinador e de sua comissão, para que nada seja para mais ou para menos. Esses três exemplos são apenas simbólicos das variâncias que estão inertes ao futebol e sua dosagem.

Bem, se temos que ter equilíbrio da dosagem em tudo que perspectivamos, o fator “como dosar”, que depende primeiramente das estratégias criadas para lidar com questões que corriqueiramente estão no futebol, entra no plano principal.  E, esse entendimento é ajustável a cada realidade e a cada momento.

Por isso, nada deve ser feito pelo poder ou pelo autoritarismo dentro de um processo com regras pré-definidas. É idêntico às relações de trabalho dentro de uma empresa. Se existe uma dosagem contextual entre todos, as coisas tendem a andar da melhor forma possível. Os jogadores ficam felizes e com alegria trabalham em prol sempre do clube e do grupo que pertencem. Isso é dosar, é dividir para depois somar com sensibilidade.

Abraços e até a próxima quarta!

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Qual a importância da posse?

Penso que temos que tomar cuidado ao indicar ou dar importância a determinado fator do jogo de futebol. Como tentei relatar, a posse de bola é um componente inerente ao jogo de futebol. Em todos os jogos existirão momento de posse, defesa, transição, bola parada, etc (enfatizei esse assunto na coluna anterior). O que faremos em cada um destes momentos é de escolha: própria, coletiva, imposta “empiricamente” pela cultura do clube e uma particularidade de cada partida.

Qual a importância da posse? Toda. Para o jogo, toda. Para a equipe, toda (porém, vista de diversos modos). A posse é um problema que teremos que resolver durante o jogo. Com a máxima importância, tanto quanto os demais momentos. Todavia, podemos tratar esse problema da posse como algo simples; simplesmente pelo fato de se preocupar mais com outros aspectos do jogo, como defesa, transição, bola parada, etc.

Talvez, pelo fato de se estar com a bola e sabendo que o futebol é um jogo de imposição, costuma-se dar a culpa ao individualismo do jogador quando não se consegue ultrapassar a defesa do adversário. A famosa “jogada individual”. Falta “jogada individual” para “quebrar” a defesa! Falam por ai (diversos “comentaristas”). Evidente que a criatividade individual, em prol do bem comum, vai trazer algo de produtivo. Contudo, ela por si só não resolve nada. Nunca vi com bons olhos o fato de tentarmos resolver um problema coletivo com uma solução individual.

Falamos tanto da criatividade individual, mas e a criatividade coletiva? Em alguns casos, as equipes têm aprimorado cada vez mais o momento defensivo. Os treinadores, cada vez mais, têm percebido a importância da marcação zonal. Eles têm tentado treinar e organizar melhor esta forma de defender (que possui por essência a gestão do espaço de forma inteligente). Corroborando com isso, temos o velho e bom princípio, que talvez sirva quase sempre para todos, de voltar o mais rápido possível para “reorganizar-se” defensivamente. E é neste ponto que precisamos nos desligar da ideia de que quem tem a bola, é quem controla o jogo. O espaço a ser ocupado se torna o artifício primordial para controlar (ou tentar) o jogo. Se a equipe não consegue gerir o espaço com a bola, então, talvez, seja melhor ficar o menor tempo com ela. E esse conseguir pode ser: preferir, não saber, não gostar, etc. Como também, pode ser algo cultural, como já falamos (algo que emerge da filosofia da instituição). O espaço a ser ocupado é o mais importante para “controlar” o jogo, até o momento de saber jogar o jogo. Aquele jogo.

Pois, cada jogo tem sua própria característica peculiar, ao ponto de dizermos que não há 2 jogos iguais. Essencialmente o próprio jogo, com sua devida particularidade, vai ditar o ritmo da partida. O jogo de futebol  é um jogo de imposição. Aproveitar as fragilidades do adversário e tentar superar, da melhor forma, as vantagens do mesmo. Sendo que o adversário vai tentar fazer o mesmo com a sua equipe. Caso não consigamos resolver os problemas do jogo e da partida (com seu adversário “único”), não conseguiremos colocar o que temos de melhor individualmente e coletivamente.

Precisamos antes de tudo analisar o contexto e (tentar) perceber tudo aquilo que envolve cada jogo e cada equipe. Temos que ter cuidado para não ser reducionista como qualquer outro “pensador” analítico. Não devemos separar as coisas. Parece que a cada ano que passa, procuramos separar e analisar isoladamente cada variável que compõe o futebol. Quando chegarmos ao ponto de perceber que não devemos separar as coisas, nomeadamente, quando estamos avaliando e analisando os resultados, começaremos o longo caminho da compreensão do futebol.

O problema “posse” não passa somente por saber sua importância. Pois isso, já sabemos, a importância é toda. Começaremos a entender e a resolver esse problema quando soubermos qual a intencionalidade quando se tem posse? O que quero e o que vou fazer quando estou com ela? E em cada situação do jogo? Lembrando que todo o problema inerente ao jogo é um problema para cada atleta/equipe/treinador/clube e, também, da(s) partida(s).

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Cruzeiro e Universidade do Futebol celebram parceria para categorias de base

Atento à formação dos profissionais de suas diversas áreas, o Cruzeiro anunciou, na tarde desta terça-feira, uma parceria com a Universidade do Futebol. A iniciativa tem o objetivo de aprimorar os conhecimentos dos profissionais das categorias de base do Clube, proporcionando um espaço de reflexão e discussão dos problemas e desafios do futebol.

Com a proposta de discutir os elementos centrais para o desenvolvimento de programas de iniciação e especialização no futebol, o curso “Currículo de Formação no Futebol” contará com a participação de 24 profissionais dos times sub-14, sub-15 e sub-17 do Maior de Minas. Os profissionais terão a oportunidade de elaborar e aperfeiçoar um currículo orientador de formação de acordo com cada realidade.

De acordo com Antônio Assunção Almeida, Superintendente de Futebol de Base, a parceria tem o objetivo de contribuir com a melhoria do trabalho realizado no dia a dia no Clube.  “A parceria com a Universidade do Futebol foi a decisão mais apropriada para provocar um ciclo de renovação interna sobre o entendimento do futebol moderno, visto que algo precisa ser feito para recuperarmos o protagonismo na formação de atletas em nível mundial”, comenta.

A iniciativa convidará os profissionais cinco estrelas a refletirem sobre como sistematizar os elementos de pedagogia de rua para os ambientes de aprendizagem como escolas e categorias de base.

O Diretor Comercial Robson Pires destaca que o investimento em seus profissionais é um dos principais pilares do Cruzeiro. “Entendo que essa parceria é o primeiro passo para que o Cruzeiro Esporte Clube e a Universidade do Futebol construam diversas alianças, fortalecendo a visão de vanguarda do clube. Tudo isso é feito em prol do Cruzeiro e do aperfeiçoamento dos nossos colaboradores”, afirma.

“A categoria de base no futebol brasileiro foi um dos setores que mais avançou nos últimos dez anos, com profissionais preparados para as demandas do futebol global e que buscam equilibrar a prática com o conhecimento científico. Trabalhar com profissionais do Cruzeiro Esporte Clube, auxiliando no processo de qualificação científica, é uma honra e um privilégio para nós e certamente aprenderemos muito”, conta Eduardo Tega, CEO da Universidade do Futebol.

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Quebra de paradigmas na gestão do futebol

A coluna da semana passada falou sobre cultura e filosofia de trabalho, baseado em missão, visão e valores que condizem com o planejamento estratégico da organização esportiva, neste caso específico, um clube de futebol. A demanda por resultados e a pressão – tanto interna quanto externa – afastam boas práticas da gestão do esporte, conduzem ao imediatismo e afunda o futebol em dívidas astronômicas que comprometem seu crescimento e desenvolvimento. Entretanto algumas mudanças acontecem e sinalizam um outro cenário.

Em primeiro lugar, os clubes que pertencem a uma empresa. Não aquelas empresas que assumem o departamento de futebol de algum clube, mas sim um conglomerado empresarial que tem o futebol de rendimento como um dos seus produtos, que está mais preocupado e atento a boas práticas de gestão – baseados em um planejamento estratégico – do que propriamente o resultado. Claro, ele também é importante, mas será atingindo mediante processos previamente definidos e, acima de tudo, respeitados.

Foto: Divulgação
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Uma segunda mudança aconteceu com o Figueirense, de Florianópolis. Transformou-se em sociedade anônima recentemente e trabalhará com o futebol do clube nos próximos vinte anos. Pelo contrato, os novos gestores têm que terminar o ano no “azul” e querem passar longe de depender das receitas de televisão, venda de jogadores e depender de estatuto. Querem criar o próprio conteúdo e maximizar os rendimentos.

O terceiro exemplo vem de algumas federações de futebol que passam a estabelecer no regulamento de alguns torneios a permanência da comissão técnica de uma temporada para a outra. Em um primeiro momento pode ser visto com desconfiança, mas na verdade isso permite um trabalho planejado.

Onde se quer chegar com tudo isso? Todas estas iniciativas levam o esporte no Brasil – e especificamente o futebol – a um direcionamento para encontrar uma filosofia e cultura de trabalho baseada em valores e princípios que, a prazo irão atuar de maneira a deixar clara e evidente a essência do futebol deste país. É uma realidade ideal, mas não a atual. A pressão por resultados, sem importar os meios, existe e é enorme. No entanto é preciso quebrar paradigmas – como os exemplos acima – para crescer.

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Quão sistêmico tem sido seu olhar?

Olá, caro leitor. Você já, alguma vez, parou para refletir sobre isso? Até onde a sua visão sistêmica vai?

Assim como outros termos (integrado, agudo, atualizado, etc), o termo sistêmico tem sido muito utilizado no meio futebolístico nos últimos tempos, podemos dizer que “está na moda” dizer que se tem uma visão sistêmica do jogo.

Não tenho pretensão alguma de adentrar aqui na discussão do que é a visão sistêmica, o pensamento complexo. Tal missão o Prof. Dr. Alcides Scaglia já cumpriu com imensa maestria em coluna de 2007! Segue o link: universidadedofutebol.com.br/futebol-e-complexidade/. Grosso modo, de forma tosca, podemos dizer que ter uma visão sistêmica é buscar “enxergar o todo”.

Dentro disso, muitos acreditam que ter uma visão sistêmica se resume a enxergar “o jogo como um todo”, que o treinador deva conhecer/dominar aspectos fisiológicos, ou o preparador físico e treinador de goleiros entender de questões técnico táticas. Isso é um passo, um bom passo, mas só isso, ainda está de longe de uma postura de que alguém que possui uma visão sistêmica.

Esteja você em clube profissional, projeto social, escolinhas de futebol e afins, você conhece o organograma de onde está inserido? Minimamente sabe quem são as pessoas que estão inseridas no seu ambiente de trabalho e quais suas funções? Entende a dinâmica de funcionamento da sua empresa? Estando em um clube profissional, onde no Brasil, a grande maioria tem forte conotação política em sua administração, consegue lidar bem com essa esfera do clube?

No que diz respeito aos jogadores, com o aporte tecnológico dos dias atuais, é possível saber se estes estão bem nutridos e hidratados, se tiveram uma boa noite de sono (fisiologicamente falando), qual distância percorreram em um treino e/ou jogo, quanto desta distância foi em alta, média ou baixa intensidade, quantas ações técnicas corretas e erradas executaram, enfim, são muitas as possibilidades que hoje se oferecem. Recentemente vi um estudo que mensurou quantas vezes o Xavi Hernández virava a cabeça para enxergar o campo, companheiros e adversários, durante um jogo. Tudo isso é visão sistêmica! Mas não só isso!

Entendendo que os jogadores estão totalmente imersos no sistema jogo, o que nos faz levantar tantos e tantos dados sobre eles (se fazendo extremamente necessário saber como utilizar todos estes dados), é também preciso entender melhor todo o contexto que o afeta. O quanto realmente se conhece do meio social de onde ele veio? Do seu ambiente familiar? De suas reais capacidades cognitivas (que vai muito além de saber ler e interpretar um texto)? Tantas outras questões dos jogadores que extrapolam o campo de jogo, mas que tem influência direta sobre sua atuação dentro dele.

Muitas destas informações são, por diversas vezes, negligenciadas por comissão técnica e clube, às vezes, se restringem apenas às pedagogas(os) e psicólogas(os) dos clubes (isso quando se tem estes profissionais atuando), e que nem sempre tem total autonomia e poder de atuação. Se um jogador de ataque fica dois ou três jogos sem marcar um gol, grande preocupação aflige a todos, porém, alguém se preocupa se este jogador está há muito tempo sem ver os pais ou participar de uma atividade na escola com os filhos? Não seriam estes também fatores importantes a se considerar para avaliar sua boa ou má performance? Qual o contato que a comissão tem, sobretudo nas categorias de base, com os familiares dos jogadores? Muitos clubes reclamam (e com total razão) da atuação dos “empresários” com seus jogadores, “empresários” que buscam ter grande proximidade com os familiares dos jogadores, neste cenário, será que muitos problemas não poderiam ser evitados se clubes e profissionais não tivessem um olhar sistêmico para com a relação com os familiares?

E os resultados dos jogos? Estão sendo positivos? Ainda que a equipe tenha vencido as partidas, a forma como tem vencido, é uma forma significativa a todos? É forma que permite uma expressão individual e coletiva? Que dê projeção aos jogadores?

São muitos os questionamentos a serem feitos. Se ter um trabalho sistêmico é realmente seu objetivo, é impossível limitar seu raio de atuação. O sistema está em constante mutação, ele não é finito, portanto, finita também não deve ser a atuação daqueles que estão inseridos nele (sejam comissões técnicas, jogadores, gestores, etc.), cada um dentro de sua particularidade, pode contribuir de alguma forma para o crescimento do próximo e consequentemente para bem comum.

Até a próxima!

fim

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Homofobia no esporte

O Brasil é o país que mais mata homossexuais no mundo, razão pela qual, a constatação do discurso homofóbico no esporte há de ser, no mínimo, objeto de consternação.

A cada 28 horas um homossexual é assassinado no Brasil em decorrência direta da repulsa violenta a sua orientação sexual.  O país é líder no ranking da ONU.

Em 2013, 44% dos assassinatos de homossexuais registrados globalmente se deu no Brasil. Em 2014, houve um aumento de 4% em relação a 2013.

Apesar disso, o projeto de lei que buscava a criminalização específica da homofobia no país (PLC 122/2006) foi arquivado pelo Senado Federal.

Como é de se imaginar, a manifestação homófoba no esporte não se dá por meio de assassinatos, mas utiliza-se da via da violência verbal, manifestada em diversos momentos pela torcida ou pelos atores envolvidos no contexto desportivo. Neste sentido, observa Marco Bettine Almeida:

Essa consideração contém a ideia de que a homofobia não se dá somente pela agressão física diretamente direcionada contra o homossexual, mas pode se firmar de maneira sutil e até imperceptível. Essa expressão da violência chamada simbólica compreende a agressão verbal, moral e toda forma velada e não física produtora de lugares minoritários e reprodutores da lógica dominação-exploração materializada em discursividades homófobas. (ALMEIDA, Marco Bettine. O futebol no banco dos réus: caso da homofobia. Movimento. Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 301-321, jan./mar. de 2012.)

O preconceito não para por aí, como acentua Regina Navarro Lins:

“Uma pesquisa realizada pelo IBOPE em 1993 ouviu duas mil pessoas e concluiu que a metade deles já admite que convive com homossexuais em seu bairro, local de trabalho ou clubes que frequenta. Entretanto, de todos os entrevistados, 36% não contratariam um homossexual para sua empresa, mesmo que fosse o mais qualificado; 47% mudariam seu voto caso descobrissem que seu candidato é homossexual; 79% ficariam tristes se tivessem um filho homossexual e 8% seriam capazes de castigá-los por isso”. (NAVARRO LINS, Regina. A Cama na Varanda: Arejando nossas ideias a respeito do amor e sexo. [S.l.: s.n.])

Não obstante, a legislação desportiva brasileira não empreende esforço para a prevenção da homofobia, uma vez que inexiste qualquer disposição singular que vise coibir especificamente a homofobia.

Os preceitos que mais se aproximam desta finalidade são aqueles que busquem garantir a dignidade da pessoa humana ou a segurança e integridade física e moral do participante.

O art. 2º da Lei 9615/1998 (Lei Geral do Desporto) assim dispõe:

Art 2º – O desporto, como direito individual, tem como base os princípios:

(…)

XI – da segurança, propiciado ao praticante de qualquer modalidade desportiva, quanto a sua integridade física, mental ou sensorial.

De seu turno, o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/2003) fixa, em seu art. 13-A:

Art. 13-A. São condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei: 

(…)

IV – não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo;

V – não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos; 

Percebe-se que o Estatuto do Torcedor dedicou-se a coibir explicitamente o racismo e a xenofobia, mas absteve-se da homofobia, que pode se inferir compreendida na disposição abrangente das mensagens ofensivas e cantos discriminatórios.

Positivamente destaca-se a atuação da Justiça Desportiva brasileira que, em 2011, com base no art. 243-G, do Código Brasileiro de Justiça Desportiva, condenou o Sada Cruzeiro ao pagamento de multa no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) em razão das manifestações homofóbicas da torcida mineira contra o atleta Michael, da equipe adversária.

De toda sorte, é triste constatar que a legislação desportiva brasileira, tal como a legislação geral do país ignora o vocábulo “homofobia”, a despeito de vivermos no país que mais extermina homossexuais em todo o planeta.

Que essa realidade seja alterada e rápido!!!!