Categorias
Colunas

O treino que faz a competição

Somente pelo fato de que a maioria dos gols do Campeonato Brasileiro, atualmente, se dá por ataque rápido e transição, não quer dizer que essa seja a característica do nosso jogo ou até deste campeonato. Contrariando aquilo que quero dizer, o campeão brasileiro de 2016 teve, em seus gols feitos, 28% em ataque rápido e 18% em transição (contra-ataque) e apenas 9% em posse e circulação (os demais: 39% de bola parada). Já o vencedor da edição 2015 teve 28% dos gols feitos em ataque rápido e 24% em transição e 14% em posse e circulação (os demais: 33% de bola parada). Esta análise, mesmo que de forma superficial, nos oferece a impressão de um suposto perfil do campeonato e das equipes vencedoras. O que ao meu ver deve ser extremamente bem estudado o contexto e a interpretação desses números e de nossas impressões da equipe e do campeonato.

Contudo, devemos ter cautela nas conclusões que tiramos tendo em vista essas características. Perfil do campeonato? E qual a influência destas características nas equipes? O meu grande medo? Está em levar essas informações de forma exagerada para o treino e na orientação da equipe. Ou seja, deixar de nos importamos mais e melhor com a nossa equipe e em nosso potencial, em detrimento de jogar o jogo que iremos enfrentar na competição (jogo direto com ataque rápido e forte na bola parada). Desprezando, ao mesmo tempo, o potencial da equipe/jogadores e as fases do jogo (ofensiva/defensiva e transições). Penso que no futebol brasileiro a transição ofensiva e o momento defensivo não são grande problemas, estão relativamente “bem” estruturadas, mas claro que pode-se melhorar (e muito). E, aqui trago duas de minhas preocupações com o nosso jogo: a posse e a transição defensiva. Ainda não aprendemos treinar e organizar muito bem estas duas fases do jogo. Esses dois problemas, que independentemente da característica da equipe, são inerentes ao jogo e precisamos saber o que fazer nestas duas situações (o que tentei escrever em duas colunas atrás).

Não se sabe o que fazer, em sua grande maioria, quando se tem tempo e espaço para ter posse durante o jogo de futebol. E um exemplo claro, se encontra na construção ofensiva das equipes brasileiras (e muito de não saber o que fazer com a bola passa muito por esse início). A posse na iniciação ofensiva é precária. Não há construção ofensiva para que se chegue no último terço do campo em condições favoráveis de tempo e espaço, chega-se de forma rápida e sempre com o recurso da velocidade. Os atletas que iniciam a posse (e aqui são jogadores prioritariamente defensivos, zagueiros/volantes/laterais) se submetem facilmente a pressão do adversário. Claro, que ao mesmo tempo, o jogador que vai receber essa bola não se “mexe” muito e não facilita para o jogador que está com a bola (fazendo linha de passe ofensiva – cobertura ofensiva em mobilidade).

Na transição defensiva (quando a equipe sofre um contra-ataque) encontramos uma grande falha na construção e organização da equipe. Sem uma transição defensiva organizada e estruturada, fica mais “fácil” para a equipe adversária chegar a meta. Seria interessante pensar mais sobre isso.

Contudo, o mais imprescindível está em não interpretar a competição como se fosse ela a “norteadora” de todo o processo de construção e organização da equipe. O treino (e tudo que envolve ele) é que faz a competição que queremos jogar, e não ao contrário. Se quero jogar de determinada forma, preciso, necessariamente, treinar de determinada forma. Aliás, a porcentagem dominante dos conteúdos de treino, impõe a direção da adaptabilidade do processo que se vai realizar (jogo). E não achar que a competição é assim e somente assim chegaremos aonde queremos chegar.

Categorias
Colunas

A cultura organizacional no futebol

Filosofia: Amigo da sabedoria, ou amor pelo saber, estudo dos problemas fundamentais ligados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores morais e estéticos. Do grego Φιλοσοφία.

Para uma organização (esportiva ou não) implementar uma filosofia de trabalho (a verdade e os princípios morais dela), com base em sua missão, visão e valores, requer tempo. Ela é importante para a adaptação de um colaborador e o estabelecimento de uma rotina, assim como é um dos fatores responsáveis por proporcionar entrosamento em suas equipes, dentro e fora de campo. É a representação da cultura de uma instituição. Em muitos casos, a implementação de uma filosofia de trabalho vem acompanhada por uma cartilha de direitos e deveres do colaborador.

Em um primeiro momento parece “papo de administrador”, mas faz toda a diferença porque é conceito-chave em quaisquer organizações. Instituições centenárias, ou mais recentes porém sólidas, baseiam-se em uma cultura que se reforça ao logo do tempo.

E tudo isso se resume a um lema incorporado à instituição, que serve como ‘slogan’. Um exemplo disso é o “mais que um clube” (“més que un club”, em catalão), do Barcelona. Todo um conceito de comunicação e imagem é construído e transmitido para as categorias de base e comissões técnicas até o plantel principal. É passado aos jovens atletas e aos que são incorporados ao longo da temporada uma filosofia de trabalho que influencia na atuação dos seus funcionários, sejam eles ou não atletas. É uma das hipóteses que explica o porquê de o Guardiola ter sido bem sucedido como treinador da equipe. No São Paulo Futebol Clube, o Centro de Treinamento em Cotia tinha poucos funcionários terceirizados, pelo mesmo motivo (funcionários do clube se identificam com ele, têm a essência do clube).

Talvez este seja um dos problemas do futebol no Brasil. A busca a qualquer custo e com pouco tempo por resultados e títulos compromete o planejamento de longo prazo, que praticamente não existe. Patrick Vieira (hoje técnico do New York CFC, do mesmo grupo do Manchester City/ING), não quer ser treinador na Liga Inglesa porque acredita não terá tempo suficiente de implementar uma cultura de trabalho. Ele declarou à revista “FourFourTwo”: “It’s all about winning. There’s so much pressure” (Tudo é questão de vitória. É muita pressão).

RiverFFT

“Mas algo se destaca, a coisa mais importante foi filosofia. Nós voltamos às nossas origens, desde as categorias de base até a equipe principal, de respeitar o estilo que nos tornou grandes e a nossa maneira de se jogar futebol”. 

(tradução nossa, revista ‘Four Four Two’, Julho/2016)

O River Plate (Buenos Aires/ARG) foi rebaixado no campeonato nacional em junho/2011. Fora de campo, afundado em dívidas. Realizaram eleições e assumiu um novo presidente – remunerado e de dedicação integral -, responsável por criar uma equipe de gestores que daria a volta por cima com o clube anos mais tarde, e conquistaria a Taça Libertadores de 2015. Algumas das mudanças mais significativas foi o resgate da filosofia do clube e o estabelecimento de uma cultura e ética de trabalho.

Contratou-se para treinador Marcelo Gallardo, alguém com enorme identificação com o clube capaz de relembrar suas origens e maneira de jogar, e replicar isso em todos os seus escalões. Resgatar os seus valores (ganhar, divertir e golear). Muitos dizem que o River Plate, sendo River Plate, foi o principal responsável pela guinada que a instituição deu ao longo da década.

Impossível dissociar a pressão do ambiente do futebol profissional. No entanto, é preciso se perguntar: onde quer estar o clube daqui a 30 anos? Como a organização esportiva quer ser reconhecida dentro da sua área de atuação? Tudo isso deve ser indagado a fim de um crescimento com solidez e sustentabilidade. Há algumas décadas o mercado do futebol não demandava estas perguntas de partida. Entretanto, a sua indústria desenvolveu-se de tal maneira que hoje é preciso fazer estes questionamentos e trabalhar para essas respostas.

Com tudo isso, é cada vez mais necessária a formação especializada em gestão dos profissionais ligados ao futebol, porque infelizmente – como diz o Professor Doutor Gustavo Pires, no esporte muitos projetos têm origem nos resultados e não os projetos que dão origem aos resultados.

Categorias
Colunas

Cuca e os erros de comunicação do Palmeiras

A despeito de ter investido mais de R$ 100 milhões em reforços apenas para esta temporada, o Palmeiras foi eliminado precocemente no Campeonato Paulista, na Copa do Brasil e na Copa Libertadores, que era o principal objetivo do clube no ano. Também está a 14 pontos do Corinthians, que tem uma partida a menos e lidera o Campeonato Brasileiro. É um roteiro ascendente entre aporte, expectativa e frustração. A construção dessa espiral negativa tem a ver com uma série de erros de gestão, é claro, mas também foi permeada por decisões questionáveis do ponto de vista de comunicação. E nesse aspecto específico, o técnico Cuca tem sido um dos principais problemas da equipe alviverde em 2017.

Cuca foi campeão brasileiro com o mesmo Palmeiras no ano passado. Deixou o clube no fim do ano, quando estava em alta com torcida, diretoria e mídia, e priorizou questões pessoais no primeiro semestre de 2017. Foi substituído por Eduardo Baptista, profissional de natureza absolutamente distinta, e funcionou como uma sombra para o sucessor.

Baptista foi demitido em maio, depois de o Palmeiras ter caído no Estadual. Com a saída dele e o retorno de Cuca, a ideia da diretoria era reencontrar o elã da temporada anterior a tempo de salvar a campanha na Copa Libertadores. Em menos de três meses, porém, a mudança serviu mais para expor problemas do que para perseguir soluções.

Há o caso Felipe Melo, por exemplo. Titular na Copa do Mundo de 2010, o volante foi um dos principais reforços do Palmeiras para este ano. Foi contratado como um acréscimo técnico e como uma liderança, apesar do histórico comportamental. Cuca julgou que o meio-campista não se encaixaria em algumas premissas táticas que ele considerava inegociáveis – a marcação individual, por exemplo. Também considerou que o jogador poderia se tornar um problema se fosse preterido.

O episódio culminou com o afastamento de Felipe Melo, que acionou o Palmeiras na Justiça. O que poderia ser uma decisão técnica/tática, ainda que questionável, virou um problema de tribunais e jogou pressão sobre todo o restante do elenco.

A eliminação na Libertadores mostrou que não foi um caso isolado. O Palmeiras caiu nos pênaltis, e a TV Globo flagrou o zagueiro Luan e o atacante Deyverson, que não bateram, conversando com Cuca antes das cobranças. Depois do jogo, em entrevista coletiva, o técnico criticou a omissão de alguns de seus atletas e novamente criou um problema maior do que a situação existente.

Deyverson foi achincalhado por torcedores depois do jogo. O caso dos pênaltis transformou o centroavante, que foi contratado neste ano e tinha bons números com a camisa alviverde, em um problema para o Palmeiras administrar.

O mesmo vale para Egídio. Cuca expôs o lateral, que passa longe de ser unanimidade entre os torcedores, e o manteve entre os titulares com as mesmas orientações de marcação individual e proposição (?) ofensiva. O pênalti perdido foi apenas o epíteto de uma relação que já vinha sendo minada havia tempos.

No domingo (13), em empate contra o Vasco, Cuca tirou Egídio do time titular. Disse que estava tentando preservar o lateral, responsável pelo pênalti que eliminou o Palmeiras da Libertadores, um dos mais cobrados pela torcida. Todavia, em que essa decisão foi positiva para o atleta? Que tipo de preservação é essa?

Falta maturidade à comunicação de Cuca no Palmeiras. O técnico age de forma rasa, procurando vilões e entregando culpados para individualizar problemas que são muito mais densos. A discussão sobre as questões coletivas foi sobrepujada nos últimos dias pelos jogadores que rechaçaram cobranças de pênaltis ou o lateral que errou e acabou preterido.

Erros acontecem em qualquer ambiente e são parte fundamental em um planejamento bem concebido. Um projeto de sucesso depende do quanto está preparado para lidar com o que sai do roteiro – improviso é uma virtude, mas até para improvisar é preciso ter repertório e preparação.

O Palmeiras não soube reagir ao que saiu do roteiro. Em vez disso, tomou o caminho que Cuca escolheu: apontou culpados, anunciou deficiências no elenco e foi ao mercado. A diretoria segue achando que resolverá com reforços um problema que não é de peças, mas de cultura.

Havia uma chance de o mercado aproveitar os percalços do Palmeiras e evoluir. Havia uma chance de os insucessos do clube gerarem debates que ultrapassassem a superfície. Do jeito que Cuca e a diretoria conduziram as coisas, porém, o que fica é apenas a certeza de que o imediatismo que dominou o clube neste ano só vai se tornar mais latente.

Categorias
Colunas

Posição tática ou função tática?

O Grêmio-2017, do Renato Gaúcho, faz um excelente Campeonato Brasileiro.

Com vários jogos observados, não há como contestar: os tricolores do sul estão jogando muito bem.

Um ponto que nos chama a atenção é como um “onze”, quase sempre formado por quatro volantes, e um centroavante que não obedece aos padrões da posição, consegue dar fluência a um jogo tão eficiente. Defendem e atacam com naturalidade e/ou leveza, além de muita qualidade.

Esmiuçando o detalhe da escalação do Grêmio, constatamos uma grande quebra de paradigma tático no futebol brasileiro. No conceito popular jogar com três volantes sempre foi sinônimo de postura defensiva. Isto já causou desemprego a muitos treinadores. Imagina um time jogando com quatro volantes. É muito para a cabeça do brasileiro!

O convite que eu faço é que caminhemos rumo a reflexão da grande mudança tática conceitual que traz essa nova forma de pensar e agir sobre o jogo: POSIÇÃO ou FUNÇÃO, como abordar o jogo e escalar jogadores nos espaços e ações em campo?

No que diz respeito a distribuição das “peças” em campo – o que sempre deu nome aos sistemas táticos de jogo – surge uma nova concepção, um novo modo de pensar e agir: as “posições táticas” de origem dos jogadores não são mais importantes que as “funções” a serem desempenhadas em campo num dado modelo de jogo.

O jogo, de alguns anos para cá, passou a ser construído ao invés de intuído! Passou a ser algo novo e único, ao invés do antigo “acomodar de qualidades” (características) dos jogadores em um sistema para esperar o encaixe. Nesse modo tradicional de jogar, o máximo que se consegue em termos de inovação, é dar um pouquinho mais do mesmo nas táticas de um jogo tão complexo!

Apesar de ainda haver grande bagagem intuitiva como pano de fundo nas exibições dos times em campo, o jogo assumiu características personalizadas muito mais evidentes e necessárias que antigamente.

Além disso, treinar hoje em dia no futebol, representa construir formas de jogar que elevam prioritariamente a abordagem tática como a grande protagonista do contexto. Há duas ou três décadas atrás tínhamos semanas recheadas de treinos físicos e técnicos comandando o foco dos conteúdos ministrados.

Baseado em conceitos e princípios táticos, parte da abordagem moderna do jogo, cada treinador constrói a sua forma de postar e atuar em campo. Tudo que se usava antigamente continua sendo útil aos treinadores, mas como complementos a uma engenharia mais complexa e que leva em consideração, principalmente a natureza complexa do próprio jogo.

Enquanto isso, voltando ao exemplo do Grêmio, a “posição tática de origem” tem menos relevância no jogo moderno que o “desempenho tático” que os jogadores realmente podem produzir em campo. Parece a mesma coisa, mas faz muita diferença. O futebol de alto nível no mundo já pratica isto com mais naturalidade e há mais tempo.

Se levarmos em consideração estes novos conceitos, teremos muitas surpresas positivas. Os exemplos de goleiros que hoje são convidados a participar do início da construção do jogo das suas equipes são claras evidências deste fenômeno. Portanto, não será o maior número de jogadores desta ou daquela posição que determinará a característica de cada jogo. Os jogadores, em seus espaços, ou no espaço em que melhor adaptam suas características, entram em campo com propósitos de desempenhar funções que fazem fluir um determinado modelo de jogo.

O professor Victor Frade, ilustre figura mundial em metodologia de treinos para o futebol, disse certa vez: “às vezes me perguntam o que é inteligência de jogo. Quando vês um jogo, vês logo se está lá ou não”. Quer dizer, “ideia de jogo” é algo que se sobrepõe ao poder das individualidades no futebol.  Isto é, e sempre foi, a principal chancela para análise do jogo de uma equipe!

Costumo externar a amigos: – o bom de se trabalhar no futebol brasileiro é que há tudo por fazer sempre! Quando conquistamos algum progresso, seja em qualquer âmbito ou clube, é corriqueiro ter que reconquistar terreno, pois as coisas se perdem muito facilmente no ambiente futebolístico brasileiro. Quem é brasileiro sabe do que estou falando!

Quanto ao Grêmio do Renato Portaluppi, fica a certeza que a equipe, jogando como está, obedece a um modus operandi especial para a construção do seu jogo. São muitos conceitos táticos modernos que ilustram em campo sua dinâmica. Construindo e ou escalando o seu time, o treinador gaúcho desenvolveu um perfil de jogo de muita qualidade.

E o Corinthians, do Fábio Carille?

Calma! Este é um assunto para daqui a pouco!!

Até a próxima!!

Categorias
Colunas

Refletindo sobre a troca de comando técnico

Atualmente ainda convivemos, dentro do futebol brasileiro, com as rotineiras trocas de comando técnico nos clubes. A incorreta percepção de que trocar o técnico resolve os problemas atuais de desempenho, ainda é prática comum na atuação de muitos dirigentes dos clubes de futebol.

Porém, será que realmente eles acreditam nessa prática como a forma mais adequada para buscar o melhor desempenho de suas equipes dentro de campo?

Bem, eu acredito muito que a escolha de um comando técnico, poderia ser encarada como um processo seletivo profissional, onde seriam considerados vários aspectos para uma melhor seleção do profissional que comandará uma determinada equipe, tais como, por exemplo:

– Perfil comportamental do técnico;

– Experiência profissional;

– Aderência de valores do profissional com os valores do clube;

– Crença do profissional no projeto apresentado pelo clube.

Mas apenas esses parâmetros na seleção seriam suficientes para se esperar o elevado desempenho em campo? Acredito que não, pois penso que se deve dar alguns passos antes da referida seleção do profissional que comandará tecnicamente o time. A gestão pode e deve ter elaborado um ou mais projetos para o futebol do clube, com definição de objetivos de curto, médio e longo prazos, para os quais serão associadas metas a serem atingidas ao longo do desenvolvimento do trabalho em si.

Se faz fundamental que o clube saiba gerenciar muito bem as expectativas de todos, quanto aos projetos planejados, bem como, sobre os resultados esperados para o clube. Não gerenciar as expectativas é algo complicado, pois coloca em situação delicada toda a estratégia de gestão e invariavelmente acarreta numa pressão desnecessária na comissão técnica, a qual responde pelo desempenho do time dentro de campo.

Mas é claro que, além da gestão do clube fazer o que lhe compete, o técnico ao ser selecionado também tem sua parcela de contribuição efetiva para buscar promover uma rápida assimilação do seu trabalho e da sua forma de liderança, junto ao grupo de jogadores. Ele poderá construir uma relação de confiança e empatia, para poder promover ou estabelecer um ambiente de alta performance, no qual ele possa apoiar o desenvolvimento da equipe, bem como desafiá-la, nas doses certas ao longo do trabalho realizado. Então, para esse trabalho do técnico, dois passos são importantes para que se conquiste a confiança:

  1. Criar uma genuína e autêntica relação um-para-um com os atletas;
  2. Conseguir empatia através de um olhar incondicional sobre a realidade do time e dos atletas.

Assim, penso que podemos compreender a troca do comando técnico como apenas uma pequena parcela de incongruência da gestão esportiva, visto que antes da própria seleção em si, precisamos definir e divulgar qual ou quais projetos serão executados para o futebol, bem como reconhecer os valores do clube e alinhar as expectativas de todos os envolvidos. Para então buscar um profissional que possa ser uma parte integrada, engajada e efetiva na execução do(s) projeto(s) que irão levar o clube ao patamar desejado, no contexto do futebol nacional e mundial.

Até a próxima.

Categorias
Conteúdo Udof>UdoF na Mídia

Responsabilidade social: Bahia adere a programa do UNICEF/Universidade do Futebol

O Bahia anunciou na manhã desta sexta-feira (28) uma ação visando o lado cidadão do clube. Na Arena Fonte Nova, o presidente Marcelo Sant’Ana assinou a adesão ao programa “Jogue limpo, jogue bem”, do Unicef e da Universidade do Futebol, que busca reforçar o trabalho de responsabilidade social com os atletas da divisão de base. “Mais uma iniciativa do nosso clube referente à responsabilidade social. Demos o primeiro passo em outubro de 2015 com as Obras Sociais Irmã Dulce, que tem nos dado muitas alegrias de retribuir o carinho dos baianos. Com o programa ‘Jogue limpo, jogue bem’, daremos uma atenção aos nossos garotos da divisão de base, melhorar a formação enquanto cidadão. É a minoria desses jogadores que vão chegar na equipe profissional”, declarou o presidente.

“É ter esse trabalho para nos desenvolver como clube e instituição. Não adianta apenas se preocupar com o time profissional, que são os onze que entram em campo. Temos que nos preocupar com o clube e o clube envolve todos os jogadores que a gente sabe que na formação não vão chegar. No elenco profissional do Bahia, hoje temos Jean, Rodrigo, Eder, Feijão, Juninho, Douglas e Júnior Brumado. Nenhum desses chegou ao Bahia com 14 anos, talvez Feijão. Esses são os que chegaram ao profissional. E os outros? Como preparamos para uma vida fora do futebol? É essa preocupação que a gente tem”, indicou.

Segundo Sant’Ana, o projeto vai atingir 40% dos funcionários do clube. “Atinge 40% dos funcionários, cerca de 120 a 130 pessoas, sendo que temos 290 funcionários. Trabalho de dimensão grande. Objetivo grande é ter excelência na formação de atletas. A gente vai ser o primeiro clube avaliado. A gente vai começar a ter uma métrica melhor”, explicou.

Fonte: www.bahianoticias.com.br

Categorias
Colunas

A posse como um dos “problemas”

Como tentei relatar na coluna anterior, a posse de bola é um problema do jogo pois está  inerente a sua prática. Em alguns momentos tua equipe vai tê-la e se torna fundamental saber o que fazer com ela (individualmente/coletivamente). Como também, em alguns momentos tua equipe vai ter que defender, e é preciso saber o que fazer (individualmente/coletivamente). E, isso equivale para cada situação ao longo do jogo. Talvez, seja neste ponto que está a diferença entre futebol de alto nível para os demais. Saber o que fazer, de forma individual e coletiva, o que é um dos objetivos mais difíceis de se alcançar. Ainda mais quando se tem a bola, algo que todos querem. Saber ter a posse e conseguir criar espaços na estrutura defensiva do adversário, exige muita sincronização e inteligência coletiva. Requer tempo para se aprimorar.

Como todos nós sabemos, existem diversas formas de jogar o jogo, isso tanto para atacar como para defender. Contudo, para cada forma há uma estruturação diferente de ideias. Ou seja, as ideias para o ataque rápido não são as mesmas para a posse e circulação de bola. Como também as ideias da marcação zonal não são as mesmas para a marcação individual. Aliás, mais importante que o modelo de jogo a ser seguido, são as ideias que o constitui. Sendo elas emergentes de um processo previamente elaborado (deliberado) ou nascidas por geração espontânea através da interação dos próprios agentes envolvidos (atletas). Independentemente, os comportamentos individuais e coletivos somente alcançarão a perfeição com a prática (algo que sempre escutei). E o tempo é a única ferramenta de aperfeiçoamento do comportamento. Pouco ou muito tempo? Depende da sapiência de quem gerencia este processo e/ou da qualidade da interação dos atletas. Hábito da posse, hábito que advém da prática. Talvez, seja por isso que Aristóteles alerta que a excelência é um hábito.

Uma das grandes dificuldades da posse e circulação de bola está no gerenciamento do espaço, previamente já ocupado pela marcação do adversário. Ou seja, fazê-lo sair da posição para que a equipe em posse da bola possa progredir. O que requer uma inteligência coletiva a fim de manter/progredir a bola e ao mesmo tempo consiga manipular o adversário sem a bola para criar espaço na sua estrutura defensiva. O que difere do ataque rápido e da transição ofensiva (contra-ataque), que se abdica de preservar o controle da bola, arriscando sua posse em troca de chegar a meta o quanto antes.

Ideias mais complexas levam mais tempo, como também a recíproca se torna verdadeira. E, por tudo que envolve o mercado futebol, e muito também por algo que nos “acostumamos” a sofrer, não há tempo. A escassez de tempo não te dá o mínimo direito da dúvida, de desafiar a capacidade de conseguir algo mais elaborado (complexo) no futebol brasileiro. Almejar, talvez chegar ao ponto que difere as equipes alto nível das demais: saber o que fazer nos diversos e diferentes momentos do jogo de futebol. Nossas ações são frutos também da influência do meio. Nossas escolhas são influenciadas pelo meio em que estamos. Influenciadas, não determinadas.

Como vídeo exemplo, trago uma das virtudes necessárias para a construção da posse no campo do adversário, ter confiança em não se submeter a pressão/pressing do adversário.

Categorias
Colunas

Montagem e desmontagem de grupos

Como treinadores criamos crenças pessoais e individuais que nos fazem ter maior ou menor sensibilidade na avaliação, análise, contratação, evolução, involução ou dispensa dos jogadores. É natural que essas crenças inibem ou estimulam emoções, sonhos e expectativas diariamente nos jogadores que convivemos onde passamos.

No futebol, há questões que são de praxe em todos os contextos, apesar de algumas diferenças processuais. Apesar de muitas coisas acontecerem pelos estímulos serem diferentes de uma realidade para a outra, numa ordem cronológica, desde a chegada do jogador ao clube, seus treinamentos, sua titularidade, seu crescimento formativo, seu entendimento da filosofia de jogo, sua subida para o profissional depois de anos na base, sua dispensa ou venda, nada acontece de muito diferente nesse ciclo natural visível para o jogador. Mas essa estrada para alguns tem muitos buracos e curvas traiçoeiras.

E, nisso tudo, o que não se pode negligenciar, é que apesar de alguns processos serem mais claros que outros no nível de conceituação macro, a individualidade de cada ser humano, de cada treinador, faz perceber de forma diferente o jogador e especialmente o futebol. Isso influencia positiva ou negativamente na montagem de um grupo, na continuidade de um jogador ou na dispensa. Logicamente, as convicções influenciam um panorama de escolhas por mais que algumas interferências possam acontecer.

Definir grupos, montar grupos e dispensar jogadores não é uma tarefa tão fácil como parece. Muitos erros acontecem. A natureza complexa do jogador e do jogo faz isso calhar sem aviso prévio. Por mais que as preferências declaradas pelos perfis de jogadores evidenciem a ordem e a interação pretendida pelos treinadores, o dia a dia dos comportamentos, atitudes, resultados, conquistas e a qualidade evolutiva influenciam na efetividade das escolhas; pois o jogo é um jogo de escolhas e de verdades individuais nos bastidores que também posteriormente serão vistas dando certo ou não no grande jogo. E cada montagem de grupo carrega essas verdades individuais.

Bielsa, com suas crenças, idealista, na sua roda de imprensa no Lille da França, por meio de sua sagacidade filosófica, entrou nesse tema de forma brilhante:

Expressar respeito ao jogador é dizer-lhe claramente se tem possibilidades reais de ser útil dentro de um projeto. Eu nunca faço avaliações do nível dos jogadores. Quando elejo e tomo decisões, as decisões tomo em função se um jogador vai poder ser útil para o desenvolvimento de minhas ideias, as ideias que quero transmitir a equipe. Para um jogador parece ser incomodo inicialmente não ser/fazer parte da equipe, mas é muito pior incluí-lo no grupo sabendo que não vai ter oportunidades. Eu observei toda temporada passada e elegi os jogadores que me pareceram harmonizar com o que eu vou propor, com o desenvolvimento do que eu vou propor. Mas de nenhuma maneira eu me expresso sobre o valor do jogador que não considero. Muito menos quando os jogadores têm uma história no passado pelo clube tão importante. Temos a obrigação, temos que decidir, de eleger. Eleger significa descartar e incorporar.  Descartar um jogador ou não considerar um jogador não é uma expressão sobre seu valor, senão a necessidade que alguém imagina para sua equipe. E, manter um futebolista se alguém não o considera necessário, é muito sofrido para todos. Isso é uma explicação sincera e que tem lógica. Isso não quer dizer que eu tenha elegido bem. Eu quando elejo sei que corro muito risco de acertar e de me equivocar. Não pensem que todas minhas decisões são certas. O que sei é que faço todos os esforços que estão ao meu alcance para tratar de não equivocar-me. Mas sempre tenho dúvida se a decisão foi acertada ou não.” 

Bielsa dignificada a nossa profissão.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

Categorias
Colunas

O pensar global do futebol do Brasil

Olá a todos!

Esta coluna vai tratar de diversos temas relacionados à gestão, marketing e comunicação do futebol brasileiro e internacional, e suas implicações tanto no Brasil quanto no mundo. O objetivo é fomentar a discussão destes temas para, à sua medida, contribuir rumo a um futebol melhor. Desde já quero agradecer ao amigo Carlos Pereira e à equipe da Universidade do Futebol por este espaço.

Este primeiro texto lembra a apresentação do Neymar Jr em Paris. Essa transferência do clube catalão para a Cidade-Luz rendeu inúmeros debates de diversas temáticas, mas tratamos da que é a internacionalização de uma marca do esporte, no caso a de um clube de futebol. Com a globalização e desenvolvimento das telecomunicações, isso é cada vez mais evidente. A equipe francesa nos faz lembrar quando Raí foi lá jogar em meados dos anos 90. Os clubes das ligas espanhola e italiana, já fazem isso há mais tempo. A comunicação do futebol inglês pelo mundo todo impressiona. Nessa linha de pensamento, a Liga Norte-Americana (MLS) caminha neste sentido: quem não se lembra do Beckham em Los Angeles? Percebe-se a presença cada vez maior de torcedores de equipes estrangeiras em nosso país, que se encontram aos sábados e domingos pela manhã para assistirem – pela TV ou internet – os jogos dos seus times preferidos. Teriam os clubes brasileiros – caso queiram isso – capacidade de tornarem os seus produtos mais globais?

Foto: C. Gavelle/PSG
Foto: C. Gavelle/PSG

 

A resposta é sim! O trabalho leva tempo e deve se concentrar em como a entidade esportiva (o clube) se comunica, no que diz respeito à disponibilidade de informação para o público estrangeiro que é potencial consumidor do seu produto (os jogos pela TV via satélite ou internet, os “lives” com o ídolo pelas redes sociais com tradução simultânea). Ao mesmo tempo isso dependerá em certa medida das relações comerciais do Brasil com diferentes regiões do planeta, ao passo que quanto maior for a aceitação por produtos brasileiros no exterior, também será com o futebol dos clubes do país. Por analogia, as telenovelas daqui possuem essa abrangência.

Para tudo isso é preciso que o produto esportivo seja atraente tanto para o público local e, em um segundo momento, global: bons jogos, torneios competitivos, detecção e manutenção de grandes talentos em casa e potencializar os rendimentos dos nossos clubes, a fim de que os recursos sejam direcionados aos elementos mais importantes do esporte: o atleta e o torcedor. Daí a importância na especialização de treinadores e integrantes das comissões técnicas e do profissionalismo dos gestores do esporte. Este trabalho, a prazo, é capaz de competir com outras ligas estrangeiras de futebol e fazer os clubes do Brasil reconhecidos internacionalmente, não apenas serem lembrados de maneira pontual.

Com tudo isso, o processo de internacionalização do futebol de clubes do Brasil é totalmente pertinente. No entanto, é preciso que isso seja feito com muita organização, mais interessante em um primeiro momento ao público local, para depois, de uma maneira articulada com outros setores da atividade econômica, buscar novos mercados pelo mundo. O interesse dos árabes com o Neymar Jr em Paris vai além do projeto esportivo, cujo processo não está distante do futebol de clubes do nosso país.

Categorias
Colunas

Neymar: decisão certa ou errada?

Nesta semana muito foi falado sobre a ida de Neymar para o PSG, deixando a super equipe do Barcelona. E, no momento que vejo a enxurrada de opiniões e debates a respeito do assunto, me pergunto: estamos sendo apenas observadores do fato ou entramos na questão do julgamento sobre as decisões que envolvem esta transferência de clube?

Penso que comentar e expor nossas opiniões, deve ser acompanhado de imparcialidade e bom senso. Para embasar tal questão e a conversa sobre ela, relembro algumas considerações feitas em colunas anteriores sobre as tomadas de decisão, fora das quatro linhas, exploradas por mim.

Um fator importante em toda tomada de decisão é o processo de autoconhecimento. Este muitas vezes é dificultado pelo estímulo ao atleta de olhar mais para fora de si, do que para dentro. Um baixo autoconhecimento, pode mascarar os objetivos reais da carreira e impedir que o atleta realmente alcance o que deseja. Assim, lançar mão de ferramentas que apoiem o atleta num constante processo de autoconhecimento, pode favorecê-lo em momentos de tomada de decisão fora do campo.

Outro ponto importante é compreendermos as consequências potenciais de toda e qualquer decisão e sobre como elas podem levar o atleta a caminhos diferentes e distantes daquele que ele realmente deseja ou aproximá-lo dos objetivos perseguidos. Sobre essas consequências, relembro uma pesquisa de mais de cinquenta anos realizada pelo Dr. Edward Banfield, da Universidade de Harvard, que chegou à conclusão de que a “perspectiva de longo prazo” pode ser mais importante para determinar o seu sucesso na vida e na carreira, do que a origem familiar, a educação, a raça, a inteligência, as suas relações ou praticamente qualquer outro fator isolado. E, em termos bem práticos, quando o atleta necessita, se torna possível promover reflexões que o leve a considerar as consequências de nossas decisões, exemplificado abaixo.

  1. 1. O pensamento em longo prazo melhora a tomada de decisões em curto prazo.

Possuir uma ideia clara sobre o que você deseja para si mesmo em longo prazo, na sua carreira, torna mais fácil tomar decisões sobre suas prioridades em curto prazo. Sendo assim, antes de começar a fazer alguma coisa, você pode sempre se perguntar: “Quais são as consequências, em potencial, de tomar essa decisão”?

  1. 2. As resoluções para o futuro frequentemente determinam as ações do presente.

Quanto mais claras forem as resoluções para o futuro, maior será a influência que a clareza terá sobre o que se vai realizar num determinado momento. Esta visão de longo prazo mais clara trará mais capacidade de avaliar uma atividade ou tomada de decisão no presente e poderá aumentar a certeza de que ela será consistente com o objetivo que se deseja alcançar.

Ou seja, se existem formas de apoiar o atleta em momentos de mudança, como as comentadas acima, e partindo do ponto que acredito que todo atleta de ponta já se utilize delas para decisões que possam mudar radicalmente o rumo de sua carreira, esta mudança de clube promovida pelo atleta Neymar, já deve ter sido exaustivamente debatida e refletida por ele e por todos que estão envolvidos na gestão da sua carreira.

Ainda, mesmo levando em consideração todas as reflexões possíveis e ferramentas que podem ser utilizadas para promovê-las, talvez seja injusto julgarmos se decisão foi correta ou não. Nosso ponto de vista, externo a situação do atleta, ficamos limitados e talvez não tenhamos como considerar os reais valores e crenças que ele possui e que potencialmente embasaram sua tomada de decisão. Sendo assim, do ponto de vista do atleta e das pessoas relacionadas a ele, certamente essa decisão foi a melhor a ser tomada neste momento, com todo o direito que ele possui de fazer suas escolhas de carreira.

Por isso, acredito particularmente que nos caiba ampliar o debate para diversos outros aspectos da transferência, tais como por exemplo a possibilidade de crescimento ou não da sua carreira ou um potencial crescimento ou não do seu desempenho técnico, com suas prováveis consequências desta mudança, do que predominantemente explorarmos sobre os reais motivos ou motivações que o levaram a esta decisão recente.

Até a próxima.