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A saída de Fábio Carille do Corinthians

Julgar a decisão de qualquer profissional de sair ou permanecer em um trabalho, é impossível. Cada ser humano carrega uma bagagem, uma história de vida e um modelo de mundo que nortearão suas tomadas de decisão.
Fábio Carille decidiu sair do Corinthians. Optou por encerrar sua trajetória de dez anos no Coringão. Preferiu ir para o Al Wehda, da Arábia Saudita. Respeito a decisão. Entendo a opção. E tento encontrar os argumentos que tomaram conta do diálogo interno dele em uma decisão tão complexa.
Primeiro, a questão financeira. Venhamos e convenhamos que nenhum clube da Arábia Saudita irá projetar Carille para a nata do futebol mundial. Mas o pagamento mensal em dólar será muito bom. O ex-técnico corintiano ainda não ficou rico no futebol. A chance é agora.
Depois penso no momento atual do Corinthians: atual campeão brasileiro e bi-campeão paulista. Carille apontado como o ‘cara’ dessas conquistas. Arriscar esses troféus buscando um bi do Brasileiro e mais uma Libertadores ou se resguardar pelas conquistas já realizadas? Ótima questão, já que há quem garanta que o atual presidente do Corinthians Andrés Sanchez não morre de amores por ele.
Em terceiro penso sobre o futuro promissor que Carille terá quando quiser sair da Arábia. Ele poderá escolher o clube que quiser para trabalhar. Todos os grandes do Brasil estarão o esperando de braços abertos. Ele voltará com outro status. Definitivamente, retornará como um técnico top. E isso independentemente de como forem seus resultados na Arábia.
Enfim, compreendo a lógica desses argumentos e imagino que todos são plausíveis e possam, de um jeito ou de outro, ter passado pela mente de Carille. Mas finalizo com minha maneira de ver e encarar o mundo: eu teria ficado no Corinthians. Não me importaria com os dólares. Buscaria ganhar tudo e mais um pouco com essa camisa. Para, na sequência, ambicionar seleção brasileira e/ou futebol europeu. Porém cada um é cada um.
Que Deus te abençoe, Carille.
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Por dentro dos padrões de jogo do Liverpool


*Créditos: BeanyMan Sports
Arséne Wenger (então treinador do Arsenal)gosta de jogar futebol, de ter a posse da bola… É como uma orquestra, mas é uma música silenciosa. Eu gosto mais de heavy metal. Eu não posso treinar o Arsenal porque sou um cara diferente. Se você me olhar durante um jogo, eu comemoro quando pressionamos o adversário e a bola vai para fora. (…) Se o time do Barcelona (do Guardiola) fosse o primeiro que eu vi jogar quando tive quatro anos de idade… ganhando de 5 a 0, 6 a 0… eu teria jogado tênis. Desculpe, mas isso não é o suficiente para mim. Não é o meu esporte. Eu não gosto de ganhar com 80% de posse de bola.
Treinadores vão dizer que não é importante para o time deles correr mais e preferem fazer os jogos da maneira certa. Eu quero fazer jogos somente no jeito certo e correr 10 quilômetros a mais. Se você não precisa dar tudo e ainda ganha, o que seria isso? Você não gosta desse jogo? É como se fosse assim (Klopp boceja). Não é a estatística mais importante, mas eu adoro ler que corremos mais que o adversário. Você pode obter o respeito se fizer isso e você tem mais chance de ser bem sucedido”.
Poucas entrevistas definem tão bem um treinador e uma filosofia quanto esta que Jürgen Klopp concedeu, quando ainda era treinador do Borussia Dortmund, em 2013[1].
No Liverpool, Jürgen Klopp dirige jogadores que se encaixam e conseguem dar vida ao seu estilo de jogo heavy-metal: uma linha defensiva sólida e agressiva (Van Dijk, Lovren, Robertson e Arnold); um trio de meio-campistas de incansáveis trabalhadores (Milner, Wijnaldum e Henderson) e um ataque simplesmente avassalador composto por Salah, Firmino e Mané, que já entraram para a história da Liga dos Campeões por serem o trio de ataque mais goleador de sempre (29 gols até o momento). O Liverpool ainda conta com o melhor ataque da competição com 40 gols marcados (contra 30 do Real Madrid), sofrendo 13 (contra 15 do Real Madrid).

Jogando um futebol agressivo, de poucas pausas, verticalidade e muitos gols, o Liverpool leva o caos aos seus adversários de diferentes maneiras, sendo capaz de estar nas zonas de finalização após trocar apenas 3 ou 4 passes.
Baseado numa posse de bola curta, busca agredir os espaços centrais e as costas da linha defensiva adversária no menor tempo possível, com ataques rápidos e diretos: tanto pelo chão, tanto com bolas longas, utilizando a velocidade do seu trio ofensivo, o preenchimento de espaços e a capacidade física do seu trio de meio campistas.
Mestre em contra-atacar após recuperar a bola estando organizado defensivamente, Klopp deixa mesmo sua marca nas transições defensivas – extremamente agressivas e sufocantes que visam recuperar a bola no menor tempo possível: o chamado gegenpressing.
Gegen, em alemão, significa “contra”. Em uma tradução livre, podemos definir como “contrapressing”, uma pressão ao contra-ataque adversário.
Quando o Liverpool perde a posse da bola, a intenção da equipe é, sempre que possível pressionar prontamente o portador da bola, no intuito de recuperá-la no menor tempo possível. Em caso da recuperação ocorrer, logo após a própria perda, teoricamente apanhará o adversário saindo em contra-ataque, ou seja, haverá espaços para contra-atacá-lo imediatamente. Em termos práticos, esta é a essência do Gegenpressing para Jürgen Klopp.
Por visualizar sempre o contra-ataque, a equipe de Klopp busca na organização defensiva uma maneira de potencializar o seu trio de ataque para este momento, fazendo com que, na medida do possível, eles não precisem voltar tanto para marcar, especialmente Salah.
Assim, há momentos em que conseguem ter solidez defensiva e um bom contra-ataque após roubar a bola. Porém, há momentos em que, por conta do papel que os extremos exercem, assumem alguns riscos e podem se expor defensivamente.
Outra arma do Liverpool são as bolas paradas, com destaque para o escanteio ofensivo, com bons cabeceadores e bons cobradores.
Após longos 11 anos de espera, e sem protagonismo no cenário europeu, o Liverpool voltará a disputar uma final de Liga dos Campeões. Isso por si só, já é um motivo de sobra para tentarmos entender como esta equipe joga.
Por isso, eu e Jorge Sáez[2], após analisarmos os jogos das quartas-de-final e semi-final, preparamos um material mais detalhado, com mais informações, fotos e vídeos que ilustram nossas percepções sobre os padrões de jogo da equipe treinada por Jürgen Klopp.

Clique aqui para ter acesso ao material completo.

Foto: Reprodução Web

 
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[2]Jorge Sáez: Mestrando na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (Portugal), com ênfase em Futebol Alto Rendimento.
[1]http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/futebol-alemao/noticia/2013/11/klopp-diz-que-futebol-do-borussia-e-como-heavy-metal-e-critica-barcelona.html