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Futebol é arte ou ciência?

Em uma de suas edições recentes, o podcast do globoesporte.com Minas Gerais, recebeu o professor Israel Teoldo, ilustre conhecedor das ciências do esporte e principalmente do futebol.
Foi uma conversa muito agradável e instrutiva, onde os jornalistas Rogério Correa e Henrique Fernandes souberam explorar algumas gotas do conhecimento científico do Doutor em esportes Israel Teoldo.
Dentre os vários temas debatidos, um despertou meu interesse:
– O futebol é arte ou ciência? 
Vou “meter minha colher”, porque esse assunto faz parte das minhas discussões no futebol brasileiro desde 1983, quando comecei profissionalmente a atuar na área.
“- A ciência é a sustentação da arte no futebol!.”..
…disse e bem o professor Teoldo, e eu complemento que sem a ciência teríamos uma arte empobrecida no jogo.
Futebol é ciência sob todos os aspectos, assim como tem arte em sua essência!
As ciências fisiológicas, do treinamento, das táticas, médicas, psicológicas, sociais, dentre muitas outras, interagem junto às virtudes dos jogadores e das equipes forjando um ambiente transdisciplinar, sempre na tentativa de dar sentido a complexidade do jogo.
Hoje é difícil distinguir a arte sem o contributo da ciência no futebol. Sempre foi assim, e com mais recursos para o desenvolvimento e avaliação das performances individuais e coletivas, fica quase impossível ver uma sem a influência da outra.
Onde estiver um ser vivo, a arte será objeto de relevância aos olhos sensíveis dos humanos.
Sem esquecer que somos humanos, seres vivos e protagonistas em quase todos os fenômenos dessa existência, não poderíamos excluir o jogo de futebol da galeria de eventos artísticos.
No entanto, sabemos distinguir um jogo com arte daquele que nem tanto. Sentimos isso, assim que batemos os olhos em uma partida de futebol.
Ainda que a plasticidade dos lances individuais não esteja presente nessa ou naquela partida, as táticas podem assumir o papel e aguçar a sensibilidade de quem assiste o jogo para manifestações diferentes da arte no futebol.
Hoje, conseguimos ver muita arte em um time que joga em conjunto. E não é preciso fazer força pra perceber isso. Flamengo, Grêmio, Athletico-PR, Bahia, Santos, Bragantino, Atlético-GO e Sport, principalmente, nos dão mostras disso. Com diferenças em seus perfis de jogo, como deve ser, todos estão apresentando a arte do jogo jogado.
No amistoso Brasil 1×1 Senegal, disputado em 10/10/2019, a exceção do gol brasileiro do Firmino, foi difícil ver arte nos noventa minutos daquele jogo.
O amistoso, por si só, tira muito das possibilidades de se ter algo interessante num jogo de futebol. As mentes dos jogadores e da equipe não estão “super-conectadas às exigências do jogo”. Quem melhor consegue ver a importância dos amistosos, em qualquer nível ou ocasião, são os treinadores e suas comissões técnicas. Jogos sem razão são invariavelmente sem tesão.
As ciências aplicadas ao desenvolvimento dos talentos indiscutivelmente trouxe mais arte ao jogo a partir do momento que contribuíram para a melhor formação atlética dos seus principais protagonistas.
A Alemanha deu mostras claras dessas influências quando mudou radicalmente sua iniciação esportiva no futebol desde os critérios de seleção de talentos até metodologia de treinos para o desenvolvimento dos seus craques.
Foi ciência pura o que os alemães fizeram. Trabalharam vários outros aspectos do espetáculo mas, para o nosso objetivo agora, o que fizeram em relação ao talento e o jogo era o que mais interessava.
Futebol é arte, instrumento de desenvolvimento social, inclusão, entretenimento… mas não esqueçamos jamais: – está embebido na dependência científica que o faz chegar a performances cada vez mais altas.
É lindo ver no jogo atual a velocidade, a força, a plasticidade individual e coletiva, as táticas, as respostas às avaliações das performances, o “circo” à volta do jogo, enfim tudo diretamente ligado às contribuições científicas.
Não dá pra viver o mundo moderno e o jogo moderno sem as ciências. A arte que nunca deixou de fazer parte deste jogo maravilhoso precisa apenas ser apreciada com olhos e sentimentos especiais.
Continuamos tendo jogadores geniais no jogo moderno, assim como em tempos passados quando praticávamos “um jogo diferente”, sem tanta ciência. Hoje, assim como antes, e como sempre será, teremos um número de jogadores fora de série bem inferior quando comparado àqueles ótimos, bons, regulares ou jogadores comuns, etc.
Por isso a arte que envolve a construção do jogo moderno, agora com maior protagonismo e/ou dependência dos treinadores, começa a se escancarar aos nossos olhos.
Seja bem-vindo, jogo moderno!
Não consigo me alienar desta discussão que de uns tempos pra cá faz parte do grande debate da sociedade esportiva brasileira: “o que é melhor e pior no jogo moderno e no jogo do passado no futebol”. Muita coisa está envolvida nesta discussão. A arte e a ciência, sem dúvidas ocupam considerável espaço no assunto.
Ainda falaremos mais sobre esse tema!
Até…