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Regionalismo na Série A do campeonato brasileiro (2010-2019), uma análise sobre a participação de equipes e contratações de treinadores.

Crédito da imagem – SC Internacional/site oficial

A tabela abaixo apresenta a quantidade de equipes que representaram suas região entre as temporadas de 2010-2019:

Somadas as participações de todas as equipes da série A no período estudado, dividindo-as por regiões, temos o Nordeste com 28 participações, Centro-Oeste com 9, Sudeste com 108 e Sul com 55. Importante notar que a região Norte não possuiu nenhum representante no período estudado, sendo a última participação em 2005, quando o campeonato brasileiro possuía 22 equipes, tendo o Paysandu Sport Club como representante.

O gráfico abaixo apresenta a evolução das participações de equipes por região na série A do campeonato brasileiro de futebol.

De acordo com o gráfico apresentado, a elite do futebol brasileiro é marcada pela predominância de equipes do sudeste e sul do país.

As tabelas abaixo apresentam os resultados encontrados das participações de equipes por região, estado e os diferentes representantes por estado.

A participação nordestina na Série A, ficou restrita à participação de 8 equipes, sendo uma de Alagoas, duas da Bahia, duas do Ceará e três de Pernambuco. Importante frisar que nenhuma equipe esteve em todas as temporadas estudadas, e que de 9 estados que compõe a região nordeste, apenas 4 foram representados na elite do futebol brasileiro.

Sobre a região Centro-Oeste, temos a participação apenas de duas equipes, ambas do estado de Goiás. Essas, não conseguiram participar de mais da metade do período estudado. E em uma região com 4 estados, apenas 1 foi representado.

Responsável pelo maior número de equipes participantes, o Sudeste possui 4 estados, e apenas um não possuiu representante na elite do futebol brasileiro, o Espirito Santo. O estado de São Paulo obteve o maior número de diferentes representantes, 8 no total, algo que destaca a força do estado para o futebol nacional. O Sudeste é a região com mais equipes que participaram de todas as temporadas estudadas, 7. Fato que demonstra a consistência dessa região no futebol brasileiro.

A região Sul, é a segunda com mais equipes participantes, diferente de todos as outras regiões, todos os estados que a compõe tiveram representantes na elite do futebol brasileiro no período estudado. Com destaque para Santa Catarina que teve 5 representantes diferentes.

            Vamos analisar agora, a quantidade de participações nessas 10 temporadas por cada estado:

Parte 2: contratação de treinadores na série A, uma análise por regiões e estados

Sobre as contratações de treinadores, os dados foram coletados em sites de notícias esportivas, posteriormente armazenados em um arquivo de Excel, no qual foram analisados. Foi buscado a região e o estado de nascimento dos treinadores contratados, para que fosse realizado uma distribuição geográfica desses dados.

1. Brasil – A soma de “todas” as regiões

A tabela abaixo apresenta todas as contratações de treinadores realizadas pelas equipes da Série A durante todos os anos estudados.

No período de 10 anos, foram realizadas 423 contratações de treinadores de futebol pelas equipes da Série A. Os treinadores do sudeste foram os mais procurados pelas equipes brasileiras no período estudado (255), seguido pela região Sul (124), Nordeste (24), treinadores estrangeiros (14), e Centro-Oeste (6). Destaque que, a região Norte nesse período não teve um treinador que o representasse na elite do futebol brasileiro. O gráfico a seguir apresenta esses valores em percentuais.

A imagem a seguir trata de uma distribuição por região e estados de nascimento dos treinadores contratados no período estudado. É importante destacar que: Estes dados se referem a quantidade de vezes que um treinador é contratado. Por exemplo: em 2019, o treinador Zé Ricardo (Sudeste – RJ), foi contratado pelo Fortaleza e pelo Internacional, nesse caso, ele conta duas vezes para o estado do RJ.

Mas, se quisermos analisar quantos treinadores estiveram na elite do futebol brasileiro nesse período de 10 anos? A Série A do futebol brasileiro contou com a participação de 152 treinadores, no qual o Sudeste permanece liderando, com 81, destaque para o estado de São Paulo que foi responsável por praticamente metade dos números do sudeste; seguido pelo Sul (42); treinadores estrangeiros e nordestinos vêm na sequência, ambos com 12 representantes; a região do Centro-Oeste vem logo atrás com 5 representantes.

Obtemos até aqui, várias informações, mas é importante saber se elas se cruzam. Será que existe alguma correlação entre a quantidade de participações de por estado e a quantidade de vezes que os treinadores são contratados? Utilizando a linguagem Python e o Jupyter Notebook, foi utilizado a correlação de Pearson, tivemos o p com resultado de 0.95.

2. Analisando região por região

A tabela abaixo apresenta os resultados de todas as contratações realizadas. A leitura da tabela é feita desta forma: “Quantidade de vezes que treinadores das regiões (ou estrangeiro) foram contratados pelas equipes do:” Os dados estão divididos em valores absolutos e valores relativos (%).

As equipes do nordeste contrataram 1 estrangeiro (1%); 6 nordestinos (8%); 50 contratações de treinadores do sudeste (66%), e 18 do sul (24%), totalizando 76 contratações.

            As equipes do Centro-Oeste, não contrataram nenhum estrangeiro; 1 nordestino (4%); 2 do Centro-Oeste (7%); 23 do Sudeste (82%); e 2 do Sul (7%); total de 28 contratações.

            Com relação às equipes do Sudeste, contrataram estrangeiros e nordestinos 10 vezes cada, ambos representando 5% do total. Realizaram 124 contratações de treinadores do próprio sudeste (63%); e 52 do Sul (27%), total de 196 contratações.

            Já as equipes do Sul, contrataram estrangeiros por 3 oportunidades (3%); nordestinos 7 vezes (6%); treinadores do Centro-Oeste por 3 vezes (2%), totalizando 123 contratações.

            Quais reflexões podemos tirar com esses números? O treinador nordestino representa 8% das contratações realizadas pelas equipes do próprio nordeste, enquanto o Sudeste contém 66% das contratações e o Sul 24%. Quando comparamos em números absolutos, equipes do Sul e Sudeste contratam mais nordestinos (7 e 10, respectivamente) que as equipes do nordeste (6). Porém, em números relativos (%), equipes do nordeste contrataram mais que as demais regiões (8% do Nordeste; 5% do Sudeste e 5% do Sul), apesar que a diferença percentual é muito pequena.

            Com relação às equipes do Centro-Oeste, esta é a que menos contratou “dos seus”, com duas contratações (7% do total). E foi a que mais contratou treinadores do sudeste, 23 (82%), nem mesmo as equipes do sudeste contrataram tanto “dos seus” quanto as equipes do Centro-Oeste.

            Sobre as equipes do Sudeste, temos a região que mais contrata estrangeiros em números absolutos e percentuais. Também é a região que mais contratou nordestinos em números absolutos. Foi a segunda região que mais contratou treinadores sulistas em números absolutos e relativos.

            As equipes do Sul contrataram treinadores de todas as regiões (exceto do Norte). Assim como todas as outras regiões, treinadores do sudeste foram maioria das contratações, porém, vale destacar que, as equipes do Sul foram as que mais contrataram sulistas em valores relativos (42%) e em valores absolutos (52), empatando com a região sudeste. Vale também destacar que elas foram as que menos contrataram treinadores do sudeste em valores relativos (47%) quando comparadas com as equipes das outras regiões.

            Terminada a pesquisa, vale refletir sobre tudo que foi exposto, equipes do Nordeste e Centro-Oeste valorizam muito pouco a mão de obra local. Os números poderiam ser ainda menores, visto que, por duas vezes equipes do nordeste colocaram treinadores para terminar o campeonato falta 1 ou 2 rodadas, visto que a equipe já não teria mais o que almejar na competição.

            Como relato pessoal, no Maranhão existe um grande problema na estruturação do futebol de base, ele simplesmente não existe. Um profissional que deseja trabalhar com futebol inicia pelas várias escolinhas que aqui temos, porém, não existe um próximo passo. Aqui temos, escolinhas e o futebol profissional. Competições de base existem, mas são montadas às pressas faltando dias da competição. Logo, não existe um processo de formação/maturação profissional de treinadores, auxiliares, analistas de desempenho, preparadores físicos… A solução já em um mercado restrito é sair em busca de emprego em outros estados, porém, qual clube de outro estado daria emprego à profissionais do futebol sem experiência ou apenas com experiência em escolinhas de futebol?

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A complexidade que envolve o problema do São Paulo

Crédito da imagem – Rubens Chiri/São Paulo FC

No futebol e na vida nunca é só um fator que explica tanto o sucesso como o fracasso. Soluções milagrosas do tipo “passe a fazer isso e sua vida mudará incrivelmente pra melhor” tendem a não funcionar. Assim como a ‘caça as bruxas’, que leva um único indivíduo ou uma única situação a explicar todo um fracasso também não corresponde a verdade. Prefiro uma visão mais global, sistêmica, integrada e transdisciplinar para me aproximar de respostas mais conclusivas.

Por tudo isso não dá pra reduzir o problema atual de desempenho do São Paulo a um único elemento. Fernando Diniz, Daniel Alves, Luciano, Raí, Júlio Casares, enfim, todos que compõem o clube tem sua parcela de culpa no revés.  Olhar o todo e não as partes isoladas costuma ser mais eficaz para entender o problema em sua raíz e encontrar soluções. Sobretudo no futebol profissional.

Nesse mesmo espaço, no mês passado, coloquei que a força mental do time estava em patamares elevadíssimos E que era essa força a responsável por potencializar a maioria dos jogadores para que em campo houvesse a impressão de que ao invés de onze, o São Paulo tinha quatorze, quinze atletas em campo, tamanho era o encaixe tático e técnico da equipe.

Eventos são emblemáticos em qualquer jornada. E a queda na Copa do Brasil para o Grêmio trouxe fantasmas passados, mas não é só isso. A mudança de diretoria tirou algumas peças e colocou outras no dia a dia do grupo. A deficiência do elenco ficou escancarada com a lesão de Luciano. Os anos sem conquistas e o passado recente de fracasso desse grupo vem à tona mais rapidamente do que elencos mais acostumados com conquistas. E nunca dá para tirar da análise que a partir do momento que se atinge um status de líder todos os adversários vão estuda-lo com mais afinco e buscar neutralizar suas forças e explorar as fraquezas.

O são-paulino não consegue ver luz no fim do túnel porque há poucos elementos para acreditar em uma reviravolta. Se nas eliminações das outras competições havia o alto número de rodadas restantes do Brasileirão para ganhar fôlego, agora o fim da temporada se aproxima. Que o São Paulo aprenda com os erros. Que não troque tudo, como foi em anos anteriores, que também tiveram a marca da derrota impregnada. Um fracasso nunca é inútil se dele as lições são aprendidas e usadas como alicerce para a construção de projetos de sucesso. Cada vez mais, o torcedor tricolor vai se acostumando com a derrota…. 

*As opiniões dos nossos autores parceiros não refletem, necessariamente, a visão da Universidade do Futebol