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O que faz um bom jogador? – Parte I

Trent Alexander-Arnold: um pouco de indisciplina para fugir à norma. (Foto: Reprodução/futebolstats.com.br)

 
Na segunda quinzena de dezembro, não me lembro ao certo a data, assistia às semi-finais do Mundial de Clubes da FIFA, Liverpool e Monterrey. Vocês se lembram que apenas por volta dos 30 minutos do segundo tempo, Jurgen Klopp colocou em campo este exímio lateral que é Trent Alexander-Arnold, que estava no banco até então (provavelmente por resguardo físico). Cinco minutos depois, Arnold deu uma assistência obscena para o gol de Roberto Firmino (você pode ver aqui, a partir de 1:35), que garantiria a classificação dos ingleses à final.
Naquele mesmo dia, lembro de ter escrito em algum lugar que uma assistência daquela só pode vir de um jogador indisciplinado. Mas vejam bem, não digo indisciplinado de um ponto de vista negativo. Digo indisciplinado do ponto de vista do pensamento. Um sujeito que pensa de maneira demasiado disciplinar, organizada, linear, jamais veria o espaço nem tomaria a decisão que o Arnold tomou naquele lance. É preciso um grau de subversão muito grande para dar asas à criatividade.
Neste texto, que divido em duas partes, gostaria de conversar um pouco melhor sobre isso, e trabalhar com vocês algumas dessas características que nos dizem o que faz um bom jogador. Não pretendo falar das coisas que já sabemos (técnica, tática e etc), mas de outras coisas, que talvez estejam antes delas. Vejamos.

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Como escrevi naquele dia, acho que de fato uma das características centrais do bom jogador (e pense neste bom jogador em todos os níveis, desde a iniciação até o rendimento) seja exatamente uma certa indisciplina, uma indisciplina do pensamento. O bom jogador é aquele que é tão treinado na arte de pensar e sentir o jogo, na arte de fazer agir por si mesmo, tão autônomo na sua ação, que acaba criando soluções que talvez os outros não vejam, soluções que estão para muito além da média, da capacidade de percepção média. Como eu li outro dia, num desses livros do Jorge Larrosa (Nietzsche & a Educação, Editora Autêntica), é preciso uma certa disciplina da indisciplina – neste caso, uma certa regularidade na arte de pensar fora da curva.
Só que isso presume, da mesma forma, que haja um certo grau de liberdade, concordam? E quando falo em liberdade, neste sentido, me refiro especialmente ao processo de treino. Nós vivemos um tempo em que nos é vendida, de maneira explícita ou não, uma certa ilusão de controle (principalmente para nós, que nos aventuramos como treinadores e treinadoras), uma terrível ilusão de controle sobre o jogo, como se fosse possível e/ou desejável amarrar uma coleira ao jogo jogado e dominá-lo como bem quiséssemos. Aliás, sinto que isso ocorre, dentre outros motivos, por uma interpretação ligeiramente equivocada do jogo de posição espanhol (posso retomar este tema num outro momento). O fato é que, na tentativa de controlar a posição, de exigir dos atletas que guardem determinadas localizações no campo, inclusive na iniciação esportiva (onde o foco principal deveria ser deixar as crianças jogarem), podemos acabar ferindo, às vezes com violência, justamente a criatividade dos nossos artistas (em potencial), podemos tirar deles a capacidade de inventarem novas soluções por si, e desenvolvendo atletas muito dependentes das instruções do treinador, não fazemos muita coisa além de alimentar nosso próprio ego, enquanto matamos exatamente a indisciplina do pensamento, que poderia fazer com que eles fossem ainda mais do que já são.

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Da mesma forma, sinto que o bom jogador tem um certo grau de negação. Deixem-me explicar melhor. Lembro daquela frase do enorme filósofo que foi o Albert Camus, que dizia que ‘o homem é o único ser que se nega a ser o que é’. De fato, nós nunca estamos satisfeitos, como se estivéssemos em uma busca constante de ser mais e melhores do que já somos. O que talvez não fique tão claro, mesmo que sutilmente, é que talvez só seja possível fazer mais e melhor se negarmos, de alguma forma, o que existe. Mas não é uma negação rancorosa e frustrada, é uma negação que deseja, basicamente, afirmar o mundo de outra maneira. Daí que o bom jogador aceite o presente, mas não se conforma inteiramente, ele quer mais, ele deseja ser mais e melhor, como se fosse um daqueles animais famintos, à procura do instante do bote.
Por isso este traço de negação, este certo traço de negatividade, não deve ser visto como algo necessariamente ruim e, digo mais, ele pode ser estimulado justamente pelo processo de treino. Em uma outra oportunidade, citei aqui este ótimo intelectual que é o Byung-Chul Han, que tem alertado para a nossa vertigem pela positividade, as nossas ferozes tentativas de fugir do negativo e do incômodo da vida, em nome de uma alegria às vezes tão infértil, ou uma alegria um tanto quanto aparente, que pode servir apenas como maquiagem. Mas o treino, não sei se vocês concordam, é precisamente o espaço no qual também apresentamos, à nossa forma, o papel do negativo, do erro, do desconforto, das possibilidades que surgem exatamente pelo desconforto – e não apesar dele -, as possibilidades de superar-se a si mesmo.
E este tipo de negação, essa tentativa de negar para afirmar, de negar o normal em nome do original (como fez o Arnold naquele lance), também parece uma característica que distingue o bom jogador.

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Até agora, portanto, falamos de um certo grau de indisciplina e um certo grau de negação. Fiquem à vontade para dizer o que pensam nos comentários.
Continuamos em breve.
 

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Material Escolar

É tradição as compras de material escolar acontecerem em janeiro, já que o ano letivo começa no mês seguinte. É comum cadernos, pastas e mochilas terem fotos e desenhos de vários temas, dentre eles, os esportivos: surfe, skate e basquete. Dentro desta gama nesta última modalidade há artigos ainda mais específicos, de franquias da mundialmente conhecida liga da NBA.
De uns anos para cá o futebol tem ocupado espaço nas papelarias, com os mesmos produtos supracitados, no entanto são os grandes clubes europeus que disputam as prateleiras. Paris, Real Madrid, AC Milan e Manchester United são alguns. Esgotam-se rapidamente. Clubes brasileiros, nenhum. Causa estranheza. Afinal, são as crianças brasileiras que se interessam pelo futebol de clubes de fora ou são os clubes de fora que se interessam pela criançada daqui?
A coluna fica com a segunda opção. É a “avalanche” de artigos e conteúdo de mídia à disposição, somada a outros fatores como ídolos e qualidade do jogo – a elencar apenas alguns -, que fazem as mães comprarem cada vez mais produtos alusivos às instituições das principais ligas da Europa. Quer seja o que fazem ou não fazem os departamentos de marketing dos clubes daqui, acabam por se esquecer por uma parcela do mercado consumidor que tem grande poder de decisão na hora de consumir.
Artigos escolares são relativamente baratos e de uma difusão sem igual. É o caderno que carrega as lembranças dos alunos, as anotações. A mochila que o estudante ostentará com orgulho e se sentirá parte de algo maior. Este algo maior pode significar um vínculo para toda a vida e passar de geração para geração.

Estojo do Paris Saint-Germain. (Foto: Reprodução/Divulgação)

 
Diante disso, imagina-se que os clubes brasileiros queiram ganhar muito nos acordos com as empresas de artigos escolares, como se fossem lobos famintos por…migalhas! Quem vem de fora, não pensa assim. É mais que na hora que neste ano de 2020 essa ambição desmedida seja posta de lado e acordos comerciais aconteçam, para que no ano seguinte as mães comprem mais material escolar que carreguem símbolos e referências alusivas aos clubes de futebol do Brasil.
Precisa-se disso (também)!

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Em tempo: o autor desta coluna possui um carinho com o Olympique de Marselha (OM) por conta de uma camisa desta equipe comprada pelo pai dele em 1990. Não sabendo do que se tratava, o pai só a levou para o filho porque estava, segundo ele, absurdamente barata. A loja a havia adquirido e as vendas não foram tão boas, afinal naqueles tempos pouco se sabia sobre o futebol internacional de clubes. O garoto foi atrás de informações e pegou gosto do “OM”, mantido até hoje.
Em tempo ainda, mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:

“Habilidade é o que você é capaz de fazer. A motivação determina o que você faz. A atitude determina o quão bem você vai fazer isso”.
Lou Holtz, treinador de futebol americano

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Quanto vale o “produto futebol brasileiro”?

O time do Liverpool, treinador e jogadores, ainda não sabia nada sobre o Flamengo. Isso há poucos dias do Mundial de Clubes no Catar.
Quer dizer que o rubro-negro carioca é pequeno e/ou de pouca significância no mundo?
– Não! Mas algumas considerações podemos fazer a cerca disso.
Quanto vale o produto futebol brasileiro aos olhos do mundo? O quê estamos fazendo com o nosso jogo e nossas competições para ganhar ou resgatar prestígio internacional?
Por questões óbvias, Portugal sempre foi o país europeu que dispensou mais atenção às coisas brasileiras. Hoje, no futebol, os portugueses estão mais atentos ainda, porque Jorge Jesus está aqui.
Um amigo português, Rui Souza, ex-analista de desempenho do América-MG, me disse que o futebol brasileiro nunca teve tanta visibilidade em Portugal como agora. Logicamente porquê estão cobrindo a trajetória competente e surpreendente do seu conterrâneo.
A elite européia do futebol só tem olhos, assim como sempre foi, para o “produto jogador brasileiro”. Os nossos talentos, apesar de tudo e de todos, continuam sendo grandes sonhos de consumo dos clubes europeus!
Por isso também foi frustrante ver e ouvir o treinador e os jogadores do Liverpool respondendo ao repórter brasileiro da ESPN sobre o time e o jogo do Flamengo. Não sabiam nada e até se constrangiam ao ter que falar “sobre algo tão distante e desconhecido”.
– Eu sei que o Ronaldinho “Gaúcho” já jogou lá! Disse um jogador.
Isso não é de hoje que acontece. Guardiola, quando treinador do Barcelona, ao ser entrevistado no Japão sobre o Mundial de Clubes de 2011 em que venceram o Santos de Neymar e Robinho, dizia que estavam chegando ao Oriente para se divertir também e aprender sobre a nova cultura. Mal falavam do jogo.
Luiz Henrique, também quando treinador do Barça, desdenhou do Santos quando perguntado sobre o embrolho da transferência do Neymar Jr.:
– Quem disse isso?! O Presidente de qual clube?! Do Santos?! Ah, bem!!
Numa nítida demonstração de desrespeito para com o gigante brasileiro, o Santos!
Não por acaso, somos vistos desta forma, ou mesmo nem vistos, no primeiro mundo do futebol!
Aceitar isso e querer melhorar já seria um ótimo gatilho para repensarmos nosso presente e futuro. O futebol brasileiro, no dia a dia que vivemos e conhecemos há décadas, nos apresenta problemas estruturais passíveis de resoluções, mas persistentemente continuam nos atormentando. No entanto, sem “arregaçarmos as mangas” não avançaremos!
Na maioria das vezes não damos conta de cumprir com o óbvio na gestão do nosso esporte. Paulo Assis, superintendente de futebol do América Mineiro,  em uma das grandes e instrutivas resenhas que tivemos, disse: – muitas vezes não conseguimos fazer o óbvio!
Acho que Pep Guardiola e Jurgen Klopp, quando diminuem o valor do mundial de clubes em favor dos campeonatos nacionais que disputam nos dão mais uma lição. A importância dos nossos campeonatos nacionais devem ser assumidas primeiramente por nós mesmos. Não apenas com escalações de times mais titulares e etc., mas começando pela reestruturação do nosso calendário e da grade de competições que temos.
Só pra ficarmos em uma das muitas incoerências do nosso futebol, acabamos de disputar os regionais ao final de abril de cada ano e uma semana depois já temos o início dos campeonatos brasileiros .Nossos melhores clubes, via de regra, sempre chegam às finais dos seus respectivos campeonatos regionais e são obrigados a começarem as competições mais importantes do país com equipes desgastadas emocional e fisicamente e consequentemente perdendo pontos preciosos nas primeiras rodadas dos nacionais. Sem falar nos muitos treinadores que caem por não terem sido campeões regionais, o que faz tudo começar do zero em seus clubes! Impensável tecnicamente!
Que não levemos para o coração a mágoa de sermos desdenhados pelos europeus. As coisas são como são, já dizia o filósofo!
Vamos aproveitar a deixa das lições aqui apresentadas e fazer dos “Campeonatos Brasileiros” um produto de excelência, a altura dos talentos e muitas possibilidades que temos.
Que o mundo queira ver o jogo brasileiro também e não somente os nossos craques! Flamengo, Athletico Paranaense, Santos, Grêmio, Bahia e outros poucos, mas importantes clubes brasileiros mostraram coisas muito boas em campo em 2019. Deram mostras claras da revolução que podemos fazer com o que temos em potencial.
Somos um Brasil que pode ser bem melhor no futebol e em outros segmentos! Isso dependerá obrigatoriamente dos brasileiros!
Até a próxima!!

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O estilo Corinthians

Clubes são identificados por diversos fatores ao redor do mundo: sabemos diferenciar bem, por exemplo, o Real Madri do Barcelona, o Boca Juniors do River Plate, por aqui o Corinthians do Palmeiras, que é diferente do São Paulo e por aí vai…diversos elementos criam uma faceta para determinado clube: a história, o jeito de jogar, a maneira com que as maiores conquistas foram alcançadas…enfim, um pouco de cada ingrediente faz com que tenhamos o chamado DNA de um clube de futebol.
O Corinthians foi extremamente vitorioso após cair para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro em 2007 com uma cultura de jogo bem definida. A torcida aceitava e diretamente validava uma ideia que, de maneira geral, tinha um bloco de marcação médio, linhas bem compactas, marcação zonal muito bem definida, transições defensivas e ofensivas rápidas e poucas ações para chegar ao gol adversário. Os três técnicos expoentes desse modelo – Mano Manezes, Tite e Fábio Carille – ganharam tudo e mais um pouco. Quando a direção corintiana tentou mudar o rumo trazendo técnicos com outras ideias, não funcionou. É claro que a tática é apenas uma das vertentes do jogo de futebol. E as próprias competências de Oswaldo de Oliveira, Cristovão Borges e Osmar Loss estavam um patamar abaixo do que era exigido hoje para a função. Porém, romper drasticamente com uma fórmula que comprovadamente foi vitoriosa é algo desafiador, além de perigoso, e exige muita habilidade de todos os envolvidos.
Eis, então, o desafio de Tiago Nunes, novo técnico do Corinthians. Ele foi contratado para ser o contraponto de um modelo que foi vitorioso. Até porque o final de Fábio Carille no clube já mostrou algo desgastado e previsível. Tiago deverá ser extremamente hábil para construir novos comportamentos de jogo, mas preservando o DNA corintiano. Tenho dúvidas, por exemplo, se uma equipe que toque demais a bola, com passes predominantemente para o lado e para trás, agradaria a torcida. Ou então uma equipe muito exposta e que não coloque pressão e intensidade nos movimentos defensivos…
O corintiano, como todo torcedor, quer ganhar. É claro que a conquista de um troféu age sempre como uma borracha para apagar as coisas ruins e como um pincel para colorir o que funcionou. Sem um modelo dá para ganhar uma vez. Já para ganhar sempre, para construir uma era vencedora, para deixar um legado é preciso fincar bases bem mais sólidas. Tiago Nunes terá que tirar vantagem do que está arraigado no clube e melhorar isso, criar variações, aumentar o repertório da equipe com e sem a bola. Se ele quiser mudar tudo de uma vez, alterar da água pro vinho, creio que não será algo nem muito inteligente e nem muito eficaz. A torcida tem que saber o padrão que será apresentado, o menino das categorias de base que vai subir tem que saber o perfil do time profissional…tudo isso, o Corinthians teve nos últimos anos. A palavra agora, então, deve ser aprimorar. E não mudar.
 

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Entre a razão e as intuições ofensivas

Romário: um gênio da razão ou da intuição na ocupação do espaço? (Foto: Reprodução/Trivela)

 
Não são poucas as vezes em que esbarro, em uma leitura ou outra, especialmente na literatura do início do século pra cá (já sob o efeito do furacão que foi José Mourinho), com a ideia que dá título à conversa que gostaria de propor hoje: que é preciso, especialmente no ataque, ocupar os espaços de forma ‘racional’, que é preciso ‘racionalizar os espaços’, que quanto mais os espaços ofensivos forem ‘racionalizados’, melhor será a qualidade dos ataques.
Sendo bastante honesto, este termo não me agrada muito. Na verdade, acho que traz consequências negativas em potencial, não apenas do ponto de vista das ideias, como especialmente do ponto de vista do treino. Por isso, vou deixar algumas impressões que me ocorrem abaixo. Seguimos a conversa nos comentários.

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Vejam bem, a primeira coisa que fica subentendida nessa racionalização dos espaços é que o espaço, no jogo de futebol, pode ser usado, o espaço pode ser utilizado como uma coisa, e pode ser um meio para alguma outra coisa. Não acho que seja uma ideia de todo errada (posso tratar disso num outro momento), mas acho importante traçarmos uma linha aqui: uma coisa é o tipo de espaço que gostaríamos de ocupar em condições ideais, mas outra coisa, completamente diferente, são os espaços que ocupamos no jogo real, no jogo que se joga, de fato. Se levarmos em conta uma premissa básica do jogo, que é a imprevisibilidade (Johan Huizinga, Roger Caillois), podemos dizer que é até possível imaginarmos que a probabilidade de ocorrência de uma dada situação existe (vide o trabalho dos amigos analistas de desempenho), mas não sabemos quando vai ocorrer, não sabemos ao certo onde estarão nossos companheiros, onde estarão os adversários, onde estará a bola… sabemos bem menos do que gostaríamos de saber. Ou seja, de alguma forma, a decisão que tomamos no jogo jogado, assim como a decisão que nossos atletas tomam no jogo jogado, é uma decisão reativa – mas não reativa do ponto de vista do adversário, mas reativa do ponto de vista do jogo. Nós passamos geralmente mais tempo respondendo aos problemas colocados pelo jogo, e não o jogo respondendo a problemas colocados por nós. Uma vez que o jogo não pode ser previsto (pre-visto, visto em antecipação) e sabendo que os problemas do jogo exigem respostas imediatas, como podemos dizer que as melhores resposta serão exatamente ‘racionais’? Percebem o problema?
Em segundo lugar, também fica subentendido que o uso racional do espaço, exatamente por ser racional, é um uso melhor. Este é um problema sério – que talvez nem os nossos colegas da neurociência consigam responder com segurança. Veja bem, é como se houvesse usos irracionais do espaço (das equipes mais ‘anárquicas’, digamos assim) e, de outro lado, usos mais racionais do espaço (supostamente o uso das equipes chamadas de organizadas). Daí que as equipes que usam o espaço de maneira ‘racional’ são aquelas que supostamente pensaram mais e melhor o jogo, pensaram o jogo com antecedência, criaram cenários e mais cenários (especialmente durante o processo de treino) de modo que essa suposta racionalização fique mais clara. De novo, não acho que seja um entendimento de todo equivocado, porque no processo de treino de fato tentamos nos preparar em antecipação aos problemas que já ocorreram e aos problemas que podem vir a ocorrer no jogo jogado. Mas também gostaria de colocar um contraponto importante.
Pense um exemplo comigo: as pessoas racionais são e serão necessariamente melhores do que as pessoas emotivas? É claro que há graus e graus de sujeitos racionais, mas se partirmos daquela premissa, que escrevi ali em cima, quando apresentei o que parece subentendido na racionalização dos espaços, que quanto mais racional, melhor, então poderíamos concluir que o mesmo vale para os sujeitos que jogam o jogo e que vivem a vida vivida, que quanto mais racionais elas forem, melhores serão. Muito bem, isso se sustenta do ponto de vista humano? Porque há sujeitos que exercitam demasiado a razão, que exercitam tanto a ponto de esconderem as emoções, ou mesmo a ponto de negá-las. Será que esses sujeitos, que eventualmente se tornam obsessivos, controladores, manipuladores, eventualmente narcisistas (sendo narcisista o sujeito que precisamente ameniza ou nega as emoções), será que esses sujeitos realmente serão melhores, do ponto de vista humano? Pois se não, se o caminho estiver no meio, numa tentativa de equilíbrio e harmonia entre razão e as paixões, de exercício da razão e do pensamento ao mesmo tempo em que nos damos o direito de sentir, de nos abrirmos ao mundo, de deixarmos que o mundo nos toque, que a vida nos passe na mesma medida em que passamos por ela, se este for o caminho então vocês haverão de convir comigo que a racionalização tem limites, que ser ou estar mais racional pode deixar de ser saudável e passar a ser patológico e que isso pode valer tanto em nível individual quanto para uma equipe de futebol, por exemplo. Percebem como as fronteiras entre o jogo jogado e a vida vivida são menores do que se supõe?
Não me surpreende, portanto, que vez por outra fiquemos entediados assistindo um jogo ou outro de futebol, porque às vezes há uma tentativa tão grande de ‘racionalizar os espaços’, há uma obsessão tão grande e incontornável pelo controle do espaço e do jogo, que as vias intuitivas, o pensamento rápido (que, nos disse Daniel Kahnemann, é o pensamento intuitivo) vai ficando murcho, vai se tornando flácido, e aí não admira que nosso futebol também fique flácido, que perca potência, que nossa conduta seja tão paranoica e pretensiosa que agora só nos resta olharmos para nós mesmos, esgotados e frustrados, porque o jogo escorre pelas nossas mãos, contra a nossa vontade.
Tudo isso é importante por um motivo, em particular: como já escrevi em outros momentos, defendo um olhar humanizado do jogo de futebol. Por olhar humanizado, vamos entender aqui um olhar realista, que entenda as potencialidades do humano, mas também entende que ela tem limites, limites esses que escapam da própria razão.

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Embora pareça apenas uma questão semântica (lembre-se da conversa que tivemos semana passada, sobre o jogo de palavras), sinto que este é um problema que ultrapassa a linguagem e vai exatamente para o campo – e por isso me interessa tanto. Alguns dos melhores jogadores e das melhores equipes que conheci fazem e fizeram exatamente o contrário, não era tanto uma racionalização, mas uma intuição do espaço, uma intuição que não é sinônimo de anarquia, mas é aceitação das paixões, um saber que não se sabia de onde vinha, mas que era exatamente o que fazia daquelas equipes e jogadores inteligentes como eram e, ao mesmo tempo, que os faziam precisamente humanos.
O coração, como nos disse o Pascal, tem razões que a própria razão desconhece. E talvez possamos tratar mais disso no jogo jogado.
 

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Clube-empresa solução para o futebol do interior

Terminar o mês ou o ano “no azul” dentro da indústria do futebol é desafio cada vez mais difícil. Mesmo aqueles clubes e federações com recursos disponíveis, em função dos desafios e imprevisibilidade do mercado, obedecem cada vez mais critérios a fim de que estas organizações não fujam da estratégia e do planejamento de toda uma temporada. Equipes com numerosa base de torcedores são capazes de se planejar financeiramente de maneira mais confortável do que a grande maioria dos clubes brasileiros. Afinal, nos tempos de hoje torcedor é consumidor e, assim, fonte de receitas.
Mas esta não é a realidade. Nem todas as instituições do futebol brasileiro possuem tantos torcedores e potencializam este poder de consumo. Para seguirem existindo ficam refém de “aventureiros” no futebol e, em muitos casos, mecenas que não os conduzem com boas práticas de gestão e levam o clube para um caminho insustentável. Como resultado, muitos deles deixam de existir, simplesmente.
A indústria do futebol caracteriza-se também pela baixa regulamentação. Não há controle financeiro, punição para quem não cumpre normativas ou a existência de um teto salarial para que os gastos sejam moderados. Estes são apenas alguns fatores que tornam este mercado bastante instável.
A regulamentação das atividades de um clube-empresa é capaz de dar uma alternativa ao futebol de clubes do Brasil a fim de levantar recursos e potencializar receitas. Para existir e seguir, a empresa precisa ser lucrativa e terá que obedecer uma série de regulamentações externas e internas se quiser operar no mercado. Uma delas, por exemplo, é o próprio limite salarial. A coluna não diz que ele tem que ser baixo, mas por exemplo aumentar conforme melhorar o desempenho do clube.
O futebol de clubes do interior do Brasil, repleto de história mas também de exemplos de má gestão, e em meio à crescente capitalização do esporte e às mudanças do mercado pode receber um fôlego ao atrair investidores, que levarão em consideração as instalações, a localização o palmarés e interferência nula de conselheiros ou torcedores no cotidiano da instituição. Ao mesmo tempo, algumas cidades e regiões também poderão captar investimentos de grupos interessados a começar um novo clube, desde o que conhecemos como sendo o “zero”.

O então Clube Atlético Bragantino fez a “Final Caipira” do Paulistão de 1990 contra o Novorizontino. (Foto: Divulgação/Reprodução)

 
Com tudo isso, a regulamentação do mercado, a regularização do clube-empresa é sem dúvida uma sobrevida para o futebol de clubes do interior do Brasil e a sua sustentabilidade dependerá das boas práticas de gestão.

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Em tempo mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:

“Qualquer um pode saber. Mas nem todos podem entender”.
Albert Einstein

 

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O inteligente Palmeiras de 2020

O fato de o Palmeiras não ter anunciado nenhum reforço até aqui pode deixar alguns palmeirenses ressabiados. Até porque eles estavam acostumados com caminhões de reforços em todo final/começo de ano. Mas seja por contenção de gastos pura e simples ou por uma questão mais ampla e filosófica, me agrada o que vem acontecendo pelos lados do Palestra Itália.
Contratar muito não é sinônimo de contratar bem. Quantidade difere muito de qualidade. Um elenco inchado te traz mais problemas de relacionamento do que soluções dentro de campo. Todas essas frases corroboram e validam o noticiário palmeirense que carrega apenas saídas de jogadores até esse momento.
Um ponto importantíssimo: o Palmeiras não negociou nenhum jogador titular. Todos ficaram. Apenas saíram aqueles que não atuavam com frequência. Dessa forma, jovens da tão falada categoria de base terão espaço na equipe profissional, de maneira natural.
É claro que o Palmeiras precisa contratar. Faltou força na reta final da temporada passada. Todos notaram! Mas essa força não virá de muitos jogadores medianos no plantel. A mescla da base titular com reforços pontuais e o oxigênio vindo dos meninos da base pode render frutos. Agora está nas mãos do técnico Vanderlei Luxemburgo. Essa grande oportunidade, que talvez nem ele esperasse mais, vai se confundir e se misturar com um enorme desafio de criar um bom time com todos esses elementos que eu trouxe. Creio que Luxa dará conta, ele está muito motivado.
Acredite: estou mais otimista com o verdão agora do que em anos anteriores em que as notícias só davam conta de jogadores chegando.
 

 

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Onde está o futebol moderno? – Parte I

Garrincha e as pernas tortas: hoje seria ponta, extremo ou externo? (Foto: Reprodução/Blog do Gil)

 
Não são apenas as pessoas que precisam de alimento, o tempo também quer ser alimentado. E cada período é alimentado pelos seus mantras, pelas suas crenças, cada período tem um certo espírito que sobrevive pela repetição – repetição de palavras, por exemplo.
Hoje, começo uma pequena série em que escrevo sobre uma dessas palavras, na verdade um desses termos, que está mais do que naturalizado no nosso vocabulário: isto que se convencionou chamar de ‘futebol moderno’. Em linhas gerais, haveria um futebol antigo, ultrapassado, retrógrado, descartável, desnecessário. De outro lado, haveria um futebol novo, que cheira como novo, revigorado, intocado, irresistível e etc etc.
Neste texto, que divido em algumas partes (e que não tem nenhuma pretensão de definição nem nada disso), gostaria de colocar algumas dessas coisas sobre a mesa, para que possamos nos alimentar melhor e entender um pouco melhor do que se fala quando se fala deste ‘futebol moderno’.

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Muito bem, a origem da palavra moderno está no latim modernus (atual, pertencente aos nossos dias), que por sua vez deriva das palavras modo (agora, de certa maneira) e modus (medida, maneira). Ou seja, aquilo que é moderno corresponde a uma certa medida ou maneirismos de um tempo particular – no caso, o tempo presente.
O fato de ser algo pertencente aos nossos dias não é exatamente uma novidade. Quando alguém se refere ao ‘futebol moderno’, logicamente está se referindo ao futebol que se pratica hoje em dia, que alimenta o espírito do nosso tempo e que, sendo especificamente deste tempo, teria perdido uma parte ou todo o vínculo com o tempo passado, deixou os traços do passado, ou mesmo desfez os laços com o passado. Não por acaso, às vezes colocar-se do lado do ‘futebol moderno’ também significa uma certa grife, que sutilmente rebaixa (ou eventualmente exclui) quem está associado ao antigo, inclusive como uma forma de sobrevivência. Quem não fala ou pratica características supostamente modernas, estaria fora.
Muito bem, mas quais são essas características? Talvez aqui o bicho pegue, porque trata-se de uma pergunta mais difícil do que parece. E por um motivo, em especial: algumas das características que atribuídas ao futebol chamado ‘moderno’, podem não ser exatamente ‘modernas’. Deixem-me dar um exemplo: certamente alguém diria que a intensidade (seguramente um dos termos mais banalizados hoje em dia) é uma característica central do ‘futebol moderno’. ‘Basta comparar os jogos de hoje com os antigos, eram muito lentos!’, alguém diria. Bom, eu pediria truco: não seria este um argumento anacrônico? Será realmente coerente fazer esse tipo de comparação sabendo que o futebol de quinze ou vinte anos atrás simplesmente não tinha a percepção ou as medidas de ‘intensidade’ de hoje em dia? Ou, se você preferir: talvez o futebol fosse sim ‘intenso’, mas intenso ao seu modo, coerente com o seu tempo. E, por mais paradoxal que pareça, talvez uma parte da intensidade daquele jogo estivesse exatamente precisamente na pausa, na harmonia entre a velocidade e a sua ausência, enquanto que a intensidade de hoje está não apenas na negação da pausa, como em uma outra característica importante, sobre a qual escrevo no próximo texto desta série.
Por isso, durante este texto e os próximos, gostaria de especular exatamente algumas dessas características, que estão associadas ao futebol dito ‘moderno’. A partir delas, acho que podemos pisar em terreno mais seguro, ao invés de deixarmos palavras e ideias jogadas ao ar.

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Aliás, talvez aí esteja uma primeira característica deste tempo e do futebol que praticamos hoje em dia. Tenho a impressão, não sei se vocês concordam, que o primeiro jogo que se joga no futebol dito ‘moderno’ é um jogo de palavras. E, em razão disso, o que está em jogo, em primeiro lugar, é um conflito de ideias. De fato, existe uma questão fundamental no futebol de hoje em dia, que mora na linguagem, e portanto tornou-se obrigatório pagar determinados pedágios, acatar determinadas ideias e/ou palavras que nos façam dar a aparência de que estamos sempre antenados ou atualizados, de que estamos sempre em dia, é preciso estar sempre correndo, que saibamos e usemos as palavras e as ideias da moda, ainda que elas (as ideias) possam não ser exatamente novas ou ainda que elas (as palavras) sejam notadamente estrangeiras – mesmo havendo sinônimos em português.
Por exemplo, lembro-me de ter lido, não faz muito tempo, alguém que escreveu que as marcações individuais eram um problema, e que ninguém no futebol europeu (leia-se, no ‘futebol moderno’) faz esse tipo de coisa. É mais ou menos desse conflito de que estou falando. Primeiro, é um erro associar um determinado tipo de marcação (zonal) com a modernidade e associar o seu oposto ao passado, não apenas porque ambas as formas de marcação existem há muito tempo, mas porque dá-se uma impressão (equivocada) de evolução, de superação de uma forma para outra mais sofisticada – mas não é exatamente disso que se trata quando falamos de referências defensivas. Depois, porque há várias e várias equipes marcando (e bem) de maneira individual no mais alto nível europeu. Escrevi recentemente sobre isso aqui e aqui.
Perceba que o uso de ‘novas’ palavras, em si, não é um problema. Na própria vida cotidiana, nós mesmos nos habituamos a falar dos smartphones, dos wi-fi’s, de uma série de termos (especialmente estrangeiros) que nos tomam de assalto independentemente da nossa vontade. Os problemas, a meu ver, são outros. Estão em saber até que ponto o uso de novas palavras reflete de fato uma evolução, do ponto de vista dos nossos saberes, ou se servem apenas como uma espécie de maquiagem, máscaras que precisamos usar para nos mostrarmos atualizados, ainda que isso não nos faça melhores, de fato. O mesmo vale para os conceitos que se dizem ‘modernos’ e que, tentando anular os ‘antigos’, podem acabar nos fazer menores do que éramos antes.
E talvez daí nasça um segundo problema, que também é bastante importante: a ideia de que os profissionais ‘antigos’ não saibam, ou não entendam, aquilo que se passa no ‘futebol moderno’ simplesmente quando não usam as palavras e as ideias do ‘futebol moderno’. Ora, se um treinador fala do ponta, ao invés de falar do extremo, ele não está necessariamente desatualizado, ou desconhece o termo, mas ele simplesmente prefere falar ‘ponta’ ao invés de falar ‘extremo’. Percebem como também é um jogo linguístico? Reparem quantos maneirismos fomos introduzindo na nossa linguagem, que às vezes fala do extremo, às vezes fala do box-to-box, às vezes fala do pivote – e poderíamos dar muitos exemplos mais. Isso não significa, em hipótese alguma, que devamos nos acomodar no passado ou recusar o movimento do tempo, não é disso que se trata. O que estou propondo é diferenciarmos o que é, de fato, um passo adiante, do ponto de vista dos nossos saberes práticos, daquilo que pode acabar sendo apenas uma maquiagem, que nos deixa no mesmo lugar (como é este assistente de vídeo, por exemplo).

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Portanto, um primeiro traço, que acho característico deste futebol que se diz ‘moderno’, é um conflito de palavras e de ideias. Criamos e estamos criando novas linguagens, que nascem da academia, das mídias sociais e da experiência, e tudo isso tornou-se corrente nas nossas conversas de futebol. Quais são as consequências práticas, neste caso? Nos vemos usando outros termos e conceitos, mas é possível (ainda que isso desagrade alguns colegas, especialmente da imprensa) que alguns dos novos termos e conceitos não necessariamente representam um saber novo – podem ser o mesmíssimo saber, com outras palavras.
Seguimos em breve.

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Para não incomodá-los no Natal e no Ano Novo, esta coluna tirou um pequeno recesso e retorna hoje. Ainda que essas coisas dependam mais da vida do que de nós mesmos, desejo a todos e todas um novo ciclo de muitas realizações e progressos – não apenas no futebol.
 

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Os “Jotas" e a internacionalização do futebol do Brasil

Treinador galardoado com uma Ordem em seu país de origem. Reconhecimento internacional. Aumento expressivo pelo mundo da audiência da série A do campeonato brasileiro, no ano passado, por conta do fenômeno que tem sido Jorge Jesus como técnico do Flamengo. Pela presença de atletas e treinadores dos nossos países vizinhos, o futebol de clubes do Brasil é conhecido regionalmente, no contexto da América do Sul. É comum os programas esportivos da Argentina, Chile ou Colômbia mostrarem os gols de cada rodada do Brasileirão. No entanto, desta vez um oceano foi “navegado” e vislumbra-se, de maneira mais consistente, uma internacionalização deste futebol de clubes.

Imprensa estrangeira (portuguesa) destaca conquista de clube brasileiro através do trabalho de treinador conterrâneo. (Foto: Divulgação/Reprodução)

 
Não há dúvidas de que Jorge Jesus e os êxitos do Flamengo contribuíram em muito para isso. A vinda de um outro jota, Jesualdo (Ferreira), é capaz de colaborar com este processo. Mas não depende apenas disso. Não são poucos os treinadores europeus que por aqui passaram. Não conquistaram títulos expressivos ou não tinham renome em seus países. Um processo de internacionalização passa por isso também, afinal são elementos que atraem a mídia de outras partes e geram conteúdo. Ademais, lá fora deu-se mais atenção ao fato de o treinador ser estrangeiro, do que propriamente o triunfo do clube em si, como revela acima a reprodução da capa de diário esportivo de Portugal “O Jogo”. Certamente isso não teria acontecido se o Flamengo não tivesse conquistado os títulos do segundo semestre de 2019, tampouco se o técnico fosse outro, sem o recheado currículo do mister rubro-negro. Jesualdo possui um semelhante.
Ao mesmo tempo, o futebol do Brasil (federações, ligas e clubes) deve estar preparado para esta internacionalização. Estão sendo vistos mais lá “fora” e as oportunidades de negócio, naturalmente, aumentam mais. Não apenas para vender futebolistas, mas para que a base de fãs estrangeiros aumente e, por exemplo, simplesmente mais camisas sejam vendidas. É necessário saber comunicar-se com o mundo, quer seja em outros idiomas ou desafios de logística para que os seus produtos estejam ao alcance de todo o globo.
Com tudo isso, é importante – sem dúvida – a presença de atletas e técnicos de outros países. Mas comunicar-se com o mundo não depende disso. A globalização é algo muito antigo e o esporte é há muito tempo uma indústria internacional em um mercado cada vez mais profissional e competitivo. Já dizia Chacrinha: “quem não se comunica, se trumbica”.

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Em tempo mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:

“Esforce-se não para ser um sucesso, mas sim para ser de valor”.
Albert Einstein

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As expectativas para 2020!

O futebol é o esporte com mais apaixonados mundo afora muito por conta da sua imprevisibilidade. Assistir um jogo tem sempre uma dose de emoção por conta de não necessariamente sabermos se o melhor time vai vencer. Veja que eu me referi a um jogo. Durante 90 minutos tudo pode acontecer. Mas quando abrimos o leque e olhamos para algo mais macro, como um campeonato, a conversa muda. Vão chegar nas cabeças das competições aqueles clubes que forem mais competentes nas esferas técnicas, financeiras, administrativas, jurídicas, etc. Os amadores ficarão pelo caminho. Independente da aleatoriedade do jogo, dentro das quatro linhas.
É normal os torcedores renovarem suas esperanças em um ano novo. Todos consideram que os seus respectivos clubes são os maiores do mundo e cada um tem motivos plausíveis para essa afirmação. Respeito cada argumento. Mas acabo não concordando muito porque no final das contas todos os motivos são muito parecidos entre si.
A paixão, porém, deve ficar de lado e basta uma reflexão simplória para ver que apenas alguns clubes têm brigado efetivamente por títulos. Na Europa, há muitos anos isso acontece. No Brasil, é um fenômeno mais recente. Mas que já é uma realidade. Teremos oito times brasileiros na Libertadores deste ano. Mas nem todos brigarão efetivamente pelo título. Vinte clubes vão disputar a Série A do Campeonato Brasileiro. Destes, mesmo já em janeiro, coloco apenas três ou quatro na briga real pelo caneco.
Longe de mim querer ser estraga prazer no meu primeiro texto de 2020. Entretanto, pegue aí, torcedor: qual título relevante seu clube ganhou nos últimos três anos? Isso vai dizer muito sobre como serão as próximas temporadas…
O objetivo aqui é ser genérico pois entendo que dessa forma consigo abordar melhor a relação gestão x resultado, mas vou me permitir abrir alguns parenteses. Por exemplo, o Cruzeiro foi bicampeão da Copa do Brasil e na sequência rebaixado no Brasileirão. O Corinthians vem “apenas” de dois títulos estaduais depois ganhar o campeonato nacional em 2017. Cada caso é um caso, um bem diferente do outro, mas no fundo vamos voltar no que coloquei lá no primeiro parágrafo sobre competências nas esferas técnicas, financeiras, administrativas e etc e etc…agora, no outro lado do espectro, vamos olhar para a solidez de Flamengo, Palmeiras, Grêmio e Atlético-PR…não tenho a menor dúvida que esses clubes terão um ano com chances reais de protagonismo.
Não vou engessar minha análise. Posso errar redondamente. Quem sabe o Cruzeiro não protagoniza a maior reviravolta e ganha tudo o que disputar, incluindo a necessariamente dura Série B? Ou quem sabe o Flamengo não seja rebaixado em todos os campeonatos que disputar (falando, claro, dos que têm rebaixamento!)?! Exageros a parte, o tal futebol globalizado, que uns amam e outros odeiam, tem vários efeitos colaterais. Um deles é a separação de quem trabalha com profissionalismo daqueles que se apagam, amadoramente, apenas às glórias do passado.