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Dentro de campo o hexa não veio. Fora dele, o Brasil foi impecável

Pois bem, o Brasil foi derrotado pela Bélgica por 2 a 1 e deu adeus à Copa do Mundo. Não apontaram culpados, tampouco procuraram dar desculpas. Excelente sinal. Muitos colegas já foram cirúrgicos nas análises do excelente jogo belga que os conduziu para a vitória. Dentro de campo, um revés. Fora dele, êxito: gestão da equipe, marketing e comunicação. O envolvimento dos torcedores. O “Canarinho Pistola”. A euforia e empolgação que achávamos terminadas há quatro anos após o 7 a 1. A melhor preparação de sempre da seleção, muito longe dos bastidores, polêmicas e ruídos de comunicação como nas edições dos mundiais de 2006, 2010 e 2014.

No que diz respeito à comunicação, atualmente todos possuem uma central multimídia na palma da mão, que é um smartphone. Produzir conteúdos diversos que no movimento de um clique ganha grande projeção e repercussão mundial. Dentro de uma organização, é difícil manter controle sobre a informação e comunicação por ela gerada e produzida, que transmitem uma imagem percebida pela opinião pública. E é igualmente difícil fazer um filtro em relação àquela comunicação que vem de fora, que pode gerar suspeita, levantar inúmeras hipóteses diante dos mais diversos e não-verdadeiros cenários e, consequentemente, prejudicar uma organização. Eleva-se tudo isso à enésima potência se for uma equipe de rendimento de uma organização esportiva. Em outras palavras, uma seleção brasileira de futebol em uma Copa do Mundo. Com duzentos milhões de torcedores/consumidores só em casa, qualquer fagulho pode se tornar um grande incêndio.

No âmbito da comunicação estratégica, de uma maneira geral os jogadores da seleção manifestaram no discurso bastante humildade e mantiveram um tom de voz em sinal de respeito. Percebe-se uma disposição: há um motivo para seguirem esta linha de conduta, alinhada a um viés estratégico para o propósito desta organização: a transparência no tratamento das informações e o respeito à hierarquia, para o bom andamento das atividades a fim de se conquistar o objetivo máximo que é vencer a Copa. Ao perceberem-se pertencentes a esta organização, uma vez que se enxergam sendo tratados com respeito e transparência, seus membros (entre eles os jogadores) aderem a ela e passam a propagar – mesmo sem saber – este tipo de conduta. O que não vem de dentro pra fora (ou seja, não parte do atleta) pode acontecer de fora pra dentro, sob forma de sinergia construída. Ela se configura e se legitima. Ademais, chamar o atleta pelo nome – ou nome e sobrenome – e não pelo apelido – apenas os integrantes da organização se tratam pelos apelidos, como por exemplo o treinador, que mencionou o “Foguetinho” Willian – eleva a identidade acima dos personagens. Claro, existem exceções, como Fernandinho ou Marquinhos. Vão certamente dizer que os apelidos aproximam os jogadores do público. No entanto, não usá-los não significa manter distância.

Neymar e Tite em coletiva da seleção brasileira. (foto: Divulgação)

 

Portanto, é exemplo a intervenção do treinador Tite (ironicamente nos referimos pelo seu apelido) na resposta de Neymar na coletiva após a vitória sobre o México, depois de perguntado sobre o que o atleta do Paris Saint-Germain achava de algumas declarações polêmicas do técnico mexicano de algo do seu jogo. Tite tomou o microfone e disse que um jogador não responde para treinador porque era preciso respeitar uma hierarquia: só um treinador pode responder a um comentário de outro treinador. Gesto que busca evitar polêmicas e busca manter o futebolista concentrado em fazer declarações acerca daquilo que ele fez, somente: jogar futebol. Como disse uma pessoa bem próxima: “um gol atrás do outro na construção da imagem”.

 

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As ações individuais jogam a favor da organização coletiva e vice-versa

O grande passo para melhorar os níveis de execução, decisão e organização é entender que isto somente é possível reconhecendo e rejeitando alguns mitos. O primeiro é aquela crença de que as habilidades de um jogador nasceram com ele. Como em qualquer área, com o tipo de prática adequado, podemos configurar nosso próprio potencial.
O segundo diz que se praticarmos pelo tempo suficiente (a tal das 10 mil horas) iremos melhorar. Não é por aí, pois se fazemos sempre a mesma coisa, na mesma intensidade, não sairemos da zona de conforto e por isso o resultado tende a ser a estagnação.
O terceiro mito é aquela afirmação de que você só precisa se esforçar para melhorar. É evidente que o esforço é necessário para melhorar, mas se o objetivo é o desenvolvimento em algo específico, como é o caso do futebol, a utilização de uma prática organizada pode te levar além do que somente por esforço.
Resumidamente, se não melhoramos é porque não praticamos da forma correta.
Pensando em organizar a prática no futebol, João Quina e Amândio Graça, publicaram um artigo muito interessante em 2011. O estudo aborda as situações de aprendizagem/treino de uma forma bem simples destacando que a competência tática dos jogadores e da equipe se desenvolve na prática e os treinos devem ser organizados de forma a potencializar o desenvolvimento de capacidades como a de decisão, eficácia motora e comunicação/cooperação. Seguindo esta lógica, os autores adotaram um modelo que busca evidenciar três tipos de contextos diferentes: 1) Tarefas Baseadas no Jogo, 2) Formas Parciais de Jogo e 3) Formas Básicas de Jogo.
1) Tarefas Baseadas no Jogo: são exercícios simples, com o objetivo de aplicar os princípios fundamentais do jogo e as respectivas ações técnico-táticas de suporte.
2) Formas Parciais de Jogo: são três estruturas diferentes de aprendizagem para exercitar e assimilar os princípios de organização coletiva da equipe.
Finalizar vs Impedir a Finalização: neste tipo de situação pretende-se resolver questões relacionadas à recepção ativa e orientada, noção de enquadramento à baliza, proteção da bola, momento de remate, técnicas de remate, deslocamentos e posicionamento em função da bola, dos colegas e dos adversários.
Criar Situações de Finalização vs Impedir a Criação de Situações de Finalização: pretende-se promover de forma dominante a assimilação (A) dos princípios específicos da organização ofensiva da equipe nos setores ofensivo e do meio campo ofensivo, tendo em vista criar situações de finalização; (B) dos princípios específicos da organização defensiva da equipe nos setores defensivo e do meio campo defensivo, tendo em vista anular situações de finalização e recuperar a bola; (C) dos princípios específicos da organização coletiva relativos às transições defensiva e ofensiva nos setores supracitados.
Construir o Ataque vs Impedir a Construção do Ataque: nesta categoria, pretende-se promover a assimilação (A) dos princípios específicos da organização ofensiva da equipe nos setores defensivo e do meio campo, tendo em vista a progressão no campo de jogo e a entrada com a bola controlada no setor ofensivo; (B) dos princípios específicos da organização defensiva da equipe nos setores ofensivo e do meio campo, de forma a impedir a progressão da equipe adversária e recuperar a bola; (C) dos princípios específicos da organização coletiva relativos às transições defensiva e ofensiva nos setores supracitados.
3) Formas Básicas de Jogo: são versões simplificadas do jogo formal, construídas a partir de alguns elementos da estrutura formal e funcional, conservando sempre (A) a ideia do jogo; (B) a estrutura e os objetivos do jogo; (C) o fluxo normal do jogo; (D) as relações de cooperação/oposição e de espaço/tempo. Em suma, constituem um contexto adequado de identificação e correção dos problemas relacionados aos princípios específicos e estruturais de organização coletiva da equipe.
Pensando num contexto mais semelhante ao jogo e na tentativa de consolidar os comportamentos desejados em cada momento do jogo, devemos introduzir os jogadores em conceitos de jogo de maior complexidade quando os mesmos já dominam os conceitos mais simples. O jogo precisa da organização coletiva e o jovem necessita conhecer os conceitos básicos do jogo coletivo desde o primeiro momento. Com esta ideia os conteúdos do processo de ensino/treino se repetem durante a vida desportiva do futebolista.
Por esta razão, a planificação das sessões de treino merece um maior cuidado, ou seja, a organização, o tempo e a qualidade da prática são fatores determinantes para o desenvolvimento dos jogadores. Lembrando ainda que, através das progressões já mencionadas, a aprendizagem torna-se gradual e sistemática, incrementando gradativamente o nível de dificuldade das situações de exercitação, em aproximação às exigências do jogo.
 

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Entre o Brasil e a Bola Fora

Bem-vindos ao nosso mês de julho aqui no “Entre o Direito e o Esporte”! Nesse mês nós vamos conversar sobre aquele assunto da pelada de final de semana. Nesse mês nós vamos dar uma olhada naquela parte do ano que faz a gente ficar de olho o tempo todo nos sites do futebol brasileiro. Nesse mês a gente vai ver mais sobre…

Divulgação: Instagram oficial da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia

 
É, não… não vamos falar mais sobre a Copa do Mundo! Sei que isso ainda está rolando pela televisão por aí, só que agora vamos focar no que já começou a milhão e, assim que virar o dia 15 de julho, vai ser o dia a dia de toda seção de esporte do jornal na banca mais próxima – ou na internet! Vamos falar sobre o mercado de transferências dos atletas profissionais de futebol.
E, para deixar tudo mais organizado, já deixo aqui o que vamos ver juntos nessas próximas semanas: na sexta-feira 13 vamos conversar sobre o “início” de uma transferência (tipo o que vem antes, o ovo ou a galinha?); já na semana do dia 20 de julho vamos dar uma olhada no “intermédio”, ou seja, o que acontece depois do acordo (só lembra disso: TMS); e fechamos o mês com um “novo começo” (ou quando o atleta é liberado para jogar pelo seu time).
Bora lá?
Dia de semana, você no trabalho. Você no trabalho tem que escolher um novo “campeão” para “mudar os rumos” da sua empresa. Você na sua empresa cuida do tal dos recursos humanos. Vem pessoa que você procura: currículo incrível, líder nata, e com um histórico impecável. Quais são seus próximos passos? Isso mesmo! Saber se ela trabalha em algum outro lugar, saber como vai ser para ela sair desse outro lugar, e saber como você vai convencer ela a sair desse outro lugar.
Essa época do ano é a mesma coisa para quem trabalha com futebol – ainda mais com a pausa para a Copa do Mundo FIFA®. É quando o cara responsável pelo seu time busca os caras para mudar a cara do campeonato. E para fazer isso vai se fazer três perguntas quando achar qualquer jogador profissional: 1.) Ele tem contrato?; 2.) Se tem, qual proposta eu faço para o clube dele?; 3.) Se o clube aceitar, qual a proposta que eu faço para ele?
É bem isso que vamos ver nessa próxima semana aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. O início dessa negociação entre um clube e um atleta que muitas vezes envolve ainda: outro clube, ao menos um intermediário e um advogado (geralmente “alguns”), uma associação de futebol (local, nacional…), e até “alguém com dinheiro sobrando”.
Imagina agora que deu tudo certo. Você conseguiu contratar aquela pessoa para a sua empresa. E aí, o que passa pela sua cabeça antes de comemorar? Aham! Fechou o acordo, quando pode começar? E tem alguma burocracia dentro e fora da sua empresa para que tudo aconteça de um jeito redondo?
Pois é! É a mesma coisa no seu clube, sabia? O cara do seu time tem que fechar o acordo (e acredite, isso dá um trabalho do cão – transformar a realidade em um contrato nem sempre é simples), fechar a transferência (que pode acontecer em qualquer momento, embora tenha a tal “janela”), e fechar toda a burocracia envolvendo esse acordo e a transferência (de novo, só lembra de TMS, tá?).
Esse é o tema do dia 20 de julho aqui na nossa coluna. Ou seja, todo esse “intermédio” que acontece entre a proposta oficial e o registro do jogador pelo seu time! E, te garanto, tem muita coisa aí que pode levar do “tenho certeza que rola” a um “ups…”.
Passando por todo esse caminho cheio de pedras, você se prepara para abrir a champanhe. Hoje sim, hoje sim, hoje não… calma! Antes desse “novo começo” da sua empresa, ainda tem que fazer o registro daquela pessoa na sua empresa. Esse registro pode levar a alguns desafios (ai meu deus se a pessoa for “de fora”). E esse registro tem umas burocracias interessantes e necessárias.
No nosso futebol é assim também! O cara do seu time ainda tem que registrar o atleta na Federação que o seu clube faz parte. Esse registro leva a alguns desafios (até, por exemplo, o visto de trabalho de atleta estrangeiro e o limite de “não brasileiros” atuando pelo seu time em campo ao mesmo tempo). Esse registro tem uma burocracia “quase única” que é o tal do BID (ou Boletim Informativo Diário) da Confederação Brasileira de Futebol.
Aí é o nosso fechamento do mês de julho, quando vamos dar uma olhada em todo o caminho entre o “fim” e o “novo começo” que é quando qualquer jogador pode estrear por um novo time – nesse caso, o seu.
Como a gente sabe, tudo que fica entre o seu clube e o atleta e entre o seu clube e o intermediário aparece no dia a dia do nosso futebol. E nesse caminho que a gente acha o que aparece “entre o Brasil e a bola fora”. Em outras palavras, o também direito desportivo dá as caras quando o seu clube quer trazer alguém ou quando o seu ídolo quer “novos ares”. O mercado de transferência do futebol profissional é mais um tema que fica “Entre o Direito e o Esporte”.
Espero que estejam aproveitando a Copa do Mundo FIFA®de 2018 na Rússia, e convido vocês a continuar no “Entre o Direito e o Esporte” para começar devagarinho a falar do nosso “pós Copa” aqui comigo! É isso por hoje, e nos vemos na próxima sexta-feira para dar uma olhada nesse “início”. Feito? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Até a sexta-feira 13!

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Futebol alemão em crise?

Muita gente no Brasil vibrou com a eliminação da Alemanha da Copa. Esses se sentiram vingados, ou parcialmente vingados, pelos 7 a 1 do mundial anterior, mas há inúmeras discrepâncias entre o vexame alemão de 2018 e a humilhação brasileira de 2014.
A derrota do Brasil há quatro anos simbolizou tudo o que há de errado em nosso futebol. Não foi o ‘time de Felipão’ que foi humilhado. Foi o futebol brasileiro que ali teve a sua inferioridade global mostrada a todo o planeta. Estamos doentes faz muito tempo. Mas no Mineirão em 2014 foi aberta uma enorme ferida que ficou evidente para todos o tamanho e a profundidade da nossa péssima saúde.
E entenda que aqui não há nenhum complexo de vira-lata. Muito menos oportunismo. Não foi porque ganhamos em 2002, por exemplo, que tudo estava perfeito. Pelo contrário. Já estávamos envolvidos com inúmeras CPIs e acusações. Mas um título mundial sempre causa a falsa impressão de que está tudo bem. Muitas vezes o torcedor compra a ideia de que seleção e futebol brasileiro são a mesma coisa. Mas não. São coisas completamente diferentes. O nosso time é e sempre será um dos melhores do mundo. Porém ele não representa em sua totalidade o futebol do país. Falo aqui de dirigentes, calendário, renda dos clubes, condições de trabalho, qualidade do campeonato nacional e uma serie de outras coisas.
Você acha que se o Brasil de Tite ganhar a Copa estará tudo bem? O atual e últimos presidentes da CBF são gênios? Estamos em nossos campeonatos locais praticando um futebol de qualidade? Tenho dúvidas.
A Alemanha mesmo tendo sido um fiasco na Copa da Rússia segue no caminho certo. O planejamento estabelecido após o vice-campeonato de 2002 segue adiante normalmente. Os alemães entenderam naquele momento que estavam muito arraigados no futebol jogado no século passado. E revolucionando a formação dos jogadores, técnicos e fortalecendo o campeonato nacional mudaram completamente sua filosofia de jogo.
Outro exemplo que corrobora com isso: a seleção da Inglaterra não ganha nenhuma Copa desde 1966. Mas eles tem a melhor liga do mundo. Compreende a diferença entre gestão do futebol e o que representa a seleção do país?
O torcedor brasileiro tem todo o direito de comemorar a desclassificação da Alemanha. Mas eles estão no caminho certo. Já nós…mesmo ganhando a Copa estamos na segunda, caindo para a terceira divisão mundial.
 

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O jogo tem razões que a própria razão desconhece

Não é preciso muito esforço para observar como nós, treinadores ou meros admiradores do futebol, costumamos argumentar sobre o jogo a partir da lógica do controle. ‘Queremos ter o controle do jogo’, diria alguém. ‘O jogo estava sob controle, mas nós nos desconcentramos’. A impressão é de que o jogo está sempre sob o nosso domínio, uma espécie de animal a ser domesticado pelos humanos.
Me parece que não. O mundo do jogo não é desprovido de racionalidade: tem uma racionalidade própria, diferente da nossa. A racionalidade própria do jogo funciona como funcionam as batidas de um coração: por motivos próprios, à revelia da vontade humana. Blaise Pascal, aliás, afirmou certa vez que o coração tem razões que a própria razão desconhece– um dos mais belos aforismos já escritos, especialmente verdadeiro para quem já amou ao menos uma vez na vida (além de deixar implícita uma certa primazia das paixões sobre a razão). Me parece coerente admitir que o mesmo acontece no jogo: o jogo também tem razões que a própria razão desconhece.
Em linhas gerais, vejo a ideia de controle baseada em dois pilares importantes: a razão e os sentidos. No primeiro caso, temos uma tendência a superestimar as potencialidades da razão humana, a fantasiá-la maior do que ela é, o que geralmente nos faz flertar com os sonhos, com o imaginário, mas não necessariamente com o real. Assim, não raro criamos expectativas absolutamente incoerentes com as nossas reais possibilidades. Quando lutamos pela humanização do treino e do jogo, lutamos pelo mais sincero reconhecimento dos nossos limites, pois reconhecê-los na sua inteireza é um requisito obrigatório para que possamos ultrapassá-los. Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.
No segundo caso, os sentidos também nos enganam. Repare que os sentidos (especialmente a visão) são a nossa porta de entrada para a experiência, o que não significa que eles sejam plenamente confiáveis. Afinal, os sentidos estão sob a influência das paixões e, além disso, os sentidos captam apenas as aparências de um certo objeto, mas não necessariamente a sua essência (a sua verdade). Ou seja: se baseamos a maioria absoluta das nossas conjecturas sobre futebol nos sentidos (o que não é errado), talvez precisemos admitir que podemos ter ótimas hipóteses, mas não alcançamos necessariamente o real. Não há controle, se você preferir.
No domingo à tarde, li e ouvi vários colegas indignados com a Espanha de Fernando Hierro, que teria sido preguiçosa e esnobe, especialmente quando estava em vantagem no placar contra a Rússia. O empate e a derrota nos pênaltis seriam uma punição, um castigo dado pelo jogo à equipe que deveria fazer mais e não fez. Mas este não me parece o ponto: a Espanha de Hierro não fez mais porque não quis. Não fez mais porque não conseguiu. Porque enfrentou suas próprias limitações e porque enfrentou um adversário inteligente, que conhecia a si mesmo e ao outro e que, por isso, defendeu-se em uma linha de cinco e baixou o bloco. Porque um dos melhores zagueiros do mundo fez um pênalti absolutamente impensável. Porque essas nuances nos escapam. Interpretar o jogo como uma relação de causa/consequência a partir da racionalidade humana é o exemplo clássico do que falamos até agora: uma ilusão disfarçada de verdade. Me parece o extremo oposto das leis que regem o jogo. Elas têm razões próprias.
Mas se não é possível controlar, o que devemos fazer? Em primeiro lugar, treinadores e treinadoras precisam deixar ir. É preciso adotar uma postura realista, que investe a totalidade das energias naquilo que pode ser controlado (nós mesmos) ao mesmo tempo em que admite a existência de uma face do jogo desconhecida, oculta – algo próximo do que os estoicos chamavam de ataraxia. Em segundo lugar, talvez o caminho não esteja no controle, mas na adaptação. Ao invés de tentar adestrar o jogo, como se adestra um animal qualquer, o treinador constrói um processo realista (é mais fácil o jogo domesticar o jogador) e, exatamente por isso, cria estratégias adaptativas, cria problemas que permitam dançar a dança do jogo a partir do repertório, das ideias e do conhecimento – de si e dos outros. Por isso, aliás, faz tanto sentido pensar que o treino é jogo e o jogo é treino.
Se você preferir, o treinador é como um médico, que faz uma anamnese da sua paciente (a equipe) e que, a partir dos recursos que têm, estabelece um tratamento razoável. À medicação principal, que resiste ao longo do tempo, nós chamamos de modelo de jogo. Ao mesmo tempo, são importantes medicações secundárias, ajustes, estratégias e ideias para tratar das moléstias específicas de cada jogo. Ao treinador, cabe avaliar diariamente os efeitos causados pelo tratamento escolhido. Assim como o médico escolhe uma dada intervenção, mas não a reação do organismo à ela, o treinador escolhe o modelo e as ideias, mas não escolhe se elas serão aceitas pelo jogo. Se não forem, cabe ao treinador adaptar-se, como faz um médico quando o tratamento inicial não dá resultados.
Porque as razões do jogo são outras e porque nós dependemos dela mais do que o contrário.
 

***
PS: mudando de assunto, repare em todo o movimento de Romelu Lukaku no lance que deu a vitória à Bélgica contra o Japão. Me parece um vídeo de almanaque. Qualquer garoto que almeja ser centroavante um dia deveria ver isso:

https://twitter.com/EnricSoriano_/status/1013878435452784641
 
 

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Análise do Jogo: Brasil 2-0 México

Confira a análise dos gols da partida (o vídeo acima contém imagens da emissora Cuatro e FIFA).

 
Frente à forte seleção mexicana e após 30 minutos de muito equilíbrio, o Brasil mostrou porque é a principal candidata ao título mundial. Conseguiu ter um desempenho ainda melhor que nos jogos anteriores, controlou um grande adversário, criou muitas chances de gol e sofreu poucas.
Talvez a palavra que mais traduza a seleção brasileira até agora na Copa do Mundo é o equilíbrio. O Brasil tem sido uma seleção que sofre muito pouco em sua defesa (Alisson é o goleiro que menos defesas fez na competição) e no ataque não apenas cria, mas finaliza no alvo e marca gols.
É uma seleção que coloca a imensa qualidade dos seus jogadores em favor do coletivo, da organização de jogo, numa relação em que tanto jogadores como equipe se beneficiam, já que também a boa organização de jogo favorece o aparecimento das individualidades. Mérito inegável de Tite e sua comissão técnica.

Jogo extremamente coletivo da seleção brasileira contra o México, com muitos jogadores sendo importantes, como comprova o gráfico de influência. Fonte: Opta / Stats Zone

 
México impõe seu plano de jogo nos primeiros 30 minutos:
Juan Carlos Osório disse que sua equipe não iria se acovardar diante do Brasil e de fato foi isso o que ocorreu, principalmente durante os primeiros 30 minutos do jogo.
Ora com pressão alta, ora a partir da intermediária, o México marcou a saída de bola do Brasil sempre que possível e impôs ao Brasil um tipo de jogo que ainda não havia enfrentado na competição.
Com Rafa Márquez de titular, o México povoou seu meio-campo, fazendo uso de encaixes de marcação (somente na zona da bola) e uma reação pós-perda muito rápida e agressiva. Com boa intensidade, a seleção mexicana fechava as linhas de passe e deixava o Brasil desconfortável para sair jogando, impedindo a seleção brasileira de tocar a bola da maneira em que está habituada a fazer.

Para ler a análise na íntegra, clique aqui.

 

 

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Rafa Márquez e a isenção da imagem

O zagueiro mexicano Rafa Márquez é um dos maiores de sempre em sua posição no futebol mundial. Jogou em grandes clubes pelo mundo e é um dos poucos que disputaram cinco Copas do Mundo. Jogar ao lado de outros grandes futebolistas, a manter um alto nível em meia dezena de mundiais, ou seja, por aproximadamente vinte anos. Um atleta em potencial para eventualmente atrair um patrocinador. Muitas marcas podem estar em negociação com ele.

Ledo engano. Podem até estar. Entretanto Rafa Márquez enfrenta um processo da justiça norte-americana por envolver-se em lavagem de dinheiro de um narcotraficante do seu país natal. Em função disso nenhuma marca de origem estadunidense pode se envolver com ele. Ademais, a organizadora da Copa do Mundo, a FIFA, proibiu quaisquer pronunciamentos do atleta durante o mundial em coletivas de imprensa ou entrevistas exclusivas. Em princípio, a fornecedora de uniformes do México é alemã, alguns patrocinadores são mexicanos sendo um deles mexicano-americana e uma marca de bebidas, americana, o que impediria o defesa a ostentar a logo nos equipamentos de treino. Porém, a federação local optou por não ostentar nenhum apoiador no material usado por Rafa Márquez, a fim de preservá-lo esportivamente e as empresas, de maneira legal.

Até onde vai o futebolista em atividade, recordista de mundiais e com um incomparável palmarés e começa o que fora de campo é relacionado a um crime? É uma delicadíssima questão. Coloca em cheque os valores e princípios de todas as partes envolvidas. De maneira inteligente mas também levado a esta opção, Rafa Márquez optou pelo silêncio durante o desenrolar do processo jurídico. Simultaneamente a federação mexicana optou por não expor quaisquer patrocinadores na camisa de treinamento. Por associação, a impressão que se tem de um atleta pode também ter uma marca e, para quebrar uma boa imagem ou relação de confiança, basta um mínimo deslize.

Rafa Márquez (E) em treinamento pela seleção do México, sem os patrocinadores (foto: Divulgação)

 

Com tudo isso, antes de tudo um futebolista profissional – sobretudo o de uma seleção que joga uma Copa do Mundo – é um exemplo para a sociedade: é talvez a configuração máxima da meritocracia, algo tão pouco observado publicamente em nossa sociedade – e digo a brasileira. Ou seja, se alguém está “lá” (no Mundial de futebol) é porque merece, fez por onde. Até agora nada foi provado contra ele e, por isso, pode e merece estar lá.

 

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O jogo que queremos

O meio-campista Paulinho, 29, titular da seleção brasileira que disputa a Copa do Mundo de 2018, contou no site “The Player’s Tribune” uma história que deveria ser obrigatória para todos que trabalham com futebol. Aconteceu em 2015, quando ele teve uma oportunidade de trocar o Tottenham, time em que vinha sendo pouco aproveitado, pelo chinês Guangzhou Evergrande.
“Meus amigos pensaram que eu tinha ficado maluco. Eles me escreveram dizendo: ‘China? O que você vai fazer na China?’. Eu respondi: ‘China, cara. Vamos ver’. Eu vivo de acordo com o que o Dani Alves uma vez me disse, quando eu estava passando por um momento difícil na minha vida. Ele falou: ‘Nós somos apenas moleques brincando na chuva, cara. Se der errado, e daí?! É o fim do mundo?! Não, cara. A gente encontra outro lugar para brincar’.”
A evolução do futebol em diferentes âmbitos mudou radicalmente o processo de tomada de decisão no jogo. Nas últimas décadas, cada passo de um atleta em campo tem sido sustentado por uma carga de estudo que abarca segmentos como preparação física, psicologia, pedagogia, fisioterapia, medicina e os próprios fundamentos do jogo. Ver uma partida de dez ou 20 anos atrás é suficiente para entender a alteração na dinâmica, na velocidade e nas demandas técnicas do esporte. Mas isso não muda um princípio basilar: por mais científico, sério e cheio de alternativas oriundas de diferentes áreas, o futebol é e sempre vai ser um jogo. No fim, aqueles atletas correndo atrás de uma bola são, como disse Daniel Alves, crianças brincando na chuva.
A comparação, importante frisar, não tem nada a ver com seriedade. Daniel Alves pode defender que jogadores não são nada além de crianças brincando na chuva, nunca usou essa lógica para ser irresponsável. Ao contrário: detém o currículo mais vitorioso da história do esporte. Respeitar o futebol também é saber levá-lo com alegria e tratá-lo como o entretenimento que é.
Entender essa lógica é parte fundamental de qualquer análise sobre desempenho de grandes seleções na Copa do Mundo de 2018. Sobretudo num momento em que há um debate extremamente polarizado sobre o estilo da Espanha, eliminada pela Rússia nas oitavas de final.
Forjada a partir da Euro 2008, a Espanha consolidou nos anos seguintes um perfil de troca de passes e valorização da posse de bola. Uma geração influenciada pelo Barcelona de Pep Guardiola, alicerçada no dueto entre Xavi e Andrés Iniesta no meio-campo. Foram dois títulos continentais e uma Copa, sempre a partir de um estilo.
No entanto, o futebol de hoje não é o de 2010. A média de passes trocados pela Espanha na Copa deste ano supera em quase 200 a quantidade de toques que os jogadores da Fúria distribuíram na campanha do título da África do Sul. A posse de bola continuou, mas as defesas evoluíram a ponto de isso não ser suficiente para encontrar espaços. O desafio que se apresentou a eles foi conciliar a valorização da posse de bola com o sentido mais agudo e mais capaz de decidir.
O estilo da Espanha é fundamental como marca e como identidade, mas a seleção se afastou do contexto durante os anos. E ao fazer isso, tornou-se um produto pouco afável a diferentes públicos – ainda existe um grande número de seguidores do que a equipe representa, mas o perfil também gerou um grupo significativo de detratores. Essa dicotomia é uma das marcas da Copa do Mundo de 2018.
Numa competição marcada por fracassos de times como Alemanha e Espanha e pelo ocaso de estrelas como Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e o próprio Iniesta, uma das marcas mais evidentes do Mundial da Rússia é a distribuição de questionamentos sobre o jogo enquanto produto de entretenimento.
Como produto de entretenimento, o futebol tem uma missão de divertir. Ganhar é parte fundamental do jogo, mas o encantamento é uma vitória ainda maior na relação com o público consumidor. A Espanha da Copa de 2018 aqueceu novamente um debate sobre isso.
Há outros debates sobre a Copa de 2018 que partem da mesma lógica. O comportamento de Neymar, a falta de gols de Gabriel Jesus, as seleções que Messi e Cristiano Ronaldo não conseguem carregar nas costas: no limite, todas as discussões são sobre o futebol que o público gostaria de ver e não consegue.
A Copa do Mundo de futebol é o maior evento de entretenimento do planeta. Nada consegue atingir uma audiência tão massiva ou despertar tantas reações de impacto ao redor do planeta. Até por seu gigantismo, também é um exemplo de que o jogo real nem sempre é o que as pessoas querem ver.
Esse é um enorme problema de comunicação, aliás. A Copa pode ser gigante, movimentar orçamentos gigantes e chegar a públicos gigantes, mas o sucesso do futebol tem relação com sua essência: afinal, são apenas meninos brincando na chuva.

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Entre a FIFA e o mundo na Rússia

Bem-vindos ao fechamento do nosso especial Copa do Mundo” aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Nessa última coluna do mês de junho aqui na Universidade do Futebol vamos conversar sobre o que o torcedor pode e não pode fazer nos estádios da Copa do Mundo FIFA®de 2018 na Rússia. Ou seja, vamos dar uma olhada juntos no “Código de Conduta para os Estádios” lá do outro lado do mundo.
E, para deixar tudo em ordem antes de começar, já deixo aqui a linha do nosso dia de hoje: vamos começar com o que é e para que serve esse “Código de Conduta”; depois vamos ver o que os torcedores não podem levar ao estádio; e vamos dar uma olhada em algumas coisas que os torcedores não podem fazer nos estádios. A regra geral aqui vai ser sempre a mesma: o que o torcedor pode fazer em um estádio na Rússia.
Bora lá?
Afinal, o que é mais esse código? O “Código de Conduta para os Estádios” serve como um guia para o torcedor na Copa do Mundo FIFA®de 2018 na Rússia. Lá o torcedor vai achar seus direitos e suas obrigações– em inglês. E todo torcedor que vai ao estádio assistir a uma partida reconhece que leu (mesmo quando não leu), que entendeu (mesmo quando não entendeu), e que aceitou (mesmo quando não aceitou) as regras e condições que estão nesse código.
Em outras palavras, o torcedor tem que seguir e saber todo esse manual antes, durante e depois de um jogo de Copa do Mundo. E aí a gente vai achar um pouco de tudo. E nesse “um pouco de tudo” vamos começar pelo começo. Ou seja, como os torcedores entram em um estádio lá na Rússia.
O checklist do torcedor tem que incluir um jeito de ir para o estádio (se vai precisar de estacionamento lá ou não), uma hora para chegar no estádio, quais documentos precisa levar e o que não pode levar. O torcedor pode entrar no estádio até 3 horas antes do início da partida e no estacionamento do estádio até 4 horas antes da bola rolar. Até aí, tranquilo!
Uma vez lá, se parou no estacionamento precisa dos documentos do veículo (moto, carro, charrete…) e passar por revista pessoal e do veículo. Agora, se foi de transporte público ou a pé direto para o estádio, vai precisar passar pela revista pessoal também (e por outros “procedimentos de segurança necessários” – aqueles detectores de metal e por aí vai). De qualquer jeito, o torcedor precisar ter em mãos o seu ingresso e a sua Fan-ID.
Basicamente isso aqui:

Divulgação: FIFA e Fan-ID

 
Agora, é só ter isso e pronto? Quase lá, amigo! Nessa revista pessoal tem algumas coisas que o torcedor não pode levar para dentro dos estádios russos. A regra geral do que não pode levar é simples: “qualquer coisa que possa ofender ou coloque outra pessoa em perigo – torcedor ou não.
Beleza, na prática, o que o torcedor não pode levar lá para dentro do estádio? A lista é gigantesca (sério), então vou trazer alguns exemplos que vão do óbvio (como sinalizadores e drones) até o mais curioso (pau de selfie e bicicletas). Que tal? Aliás, e para facilitar, vou deixar em fotos de dentro desses estádios durante os jogos da Copa do Mundo FIFA®o que a gente não pode (aham) levar (piscadinha).
Os torcedores não podem levar “instrumentos musicais que produzam sons altos”
Divulgação: Flickr Lucas Figueiredo/CBF)

 
Os torcedores não podem levar “nenhum tipo de roupa ou acessório que cubra o rosto”
Divulgação: Instagram oficial da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia

Os torcedores não podem levar “materiais de protesto”
Divulgação: Associated Press via Indian Express

 
É nos estádios da Copa do Mundo FIFA®de 2018 na Rússia que a gente vê os efeitos desse “Código de Conduta”, onde um monte de coisa que faz parte do nosso dia a dia de futebol deixa de fazer parte (pelo menos de maneira “oficial”) do espetáculo. Faz parte do jogo um guia obrigatório para o torcedor, agora nem tudo que está lá deveria ficar fora desse espetáculo!
Ainda mais quando a gente vê em um mesmo lugar uma explosão de cores, línguas, e culturas diferentes que são a base do nosso futebol. Essa diversidade de todos num mesmo lugar em harmonia. Essa diversidade que é onde a gente aprende lições para trazer para casa depois. Essa diversidade de lições que dão bons exemplos a todos, como nesses dois jogos da primeira rodada dessa Copa do Mundo:
Divulgação: ChinaSmack via Says e TyC Sports via Daily Times

 
Essas “boas ações” que poderiam se tornar cotidiano no nosso futebol são exemplos do que o torcedor pode fazer durante o campeonato mundial organizado pela FIFA, que nem sentar no local demarcado no ingresso e não jogar objetos em campo, em outros torcedores, e no banco de reserva – coisas que não vemos por aqui, né?
Aliás, entre as “obrigações” do torcedor dentro dos estádios da Copa do Mundo FIFA®de 2018 na Rússia está a máxima confirmada pelas fotos da torcida do Japão e do Senegal: “tratar todos os torcedores e demais participantes do evento com respeito”, e não só as pessoas como as coisas (a mochila do amigo do lado, as cadeiras do estádio e a toalete).
Essa ideia de respeito e de harmonia dentro dessa diversidade que essa competição mundial traz para as nossas casas de quatro em quatro anos pode ser resumida com algumas fotos dessa Copa do Mundo que resumem esse “Código de Conduta para os Estádios” russos em 2018. E termino o nosso mês de julho com esses três últimos exemplos de respeito e harmonia dentro e fora de campo:
Divulgação: Fonte: Instagram oficial da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia

 
Divulgação: Galeria de fotos no site oficial da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia

 
Divulgação: Galeria de fotos no site oficial da Copa do Mundo FIFA de 2018 na Rússia

 
Espero que tenham gostado do nosso especial sobre a Copa do Mundo FIFA®de 2018 na Rússia no “Entre o Direito e o Esporte”! Fico por aqui hoje, e nos vemos na próxima sexta-feira para começar um novo mês, o mês das transferências no futebol. Combinado? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Até mais!
 

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Análise do Jogo: Brasil 2-0 Sérvia

https://vimeo.com/277646322

Confira a análise dos gols da partida (o vídeo acima contém imagens da emissora Mediaset e FIFA)

 
O último jogo da seleção brasileira na fase de grupos seguiu a tendência dos anteriores: defensivamente sofreu poucos sustos, neutralizando os pontos fortes do adversário e ofensivamente criou várias chances de gol (seja em ataque organizado, contra ataque e bola parada), frente à uma seleção que precisava vencer para ir às oitavas de final.
Não foi um jogo de domínio avassalador como contra a Costa Rica, de ataque contra defesa. No primeiro tempo houve uma leve vantagem na posse de bola a favor do Brasil (58%) e mais chances reais de gol para os brasileiros. No segundo tempo, a seleção sérvia cresceu e principalmente com jogadas de fundo e cruzamentos, encurralou o Brasil por cerca de 10 minutos, fazendo Alisson trabalhar pela primeira vez na Copa do Mundo.
A substituição de Tite, colocando Fernandinho no lugar de Paulinho aliado ao 2º gol de Thiago Silva, fez com que o panorama do jogo mudasse completamente, com a Sérvia perdendo força e capacidade para agredir um Brasil melhor postado e mais intenso defensivamente. Assim, após o 2º gol, o Brasil dominou completamente o adversário, não sofreu riscos e poderia ter marcado o terceiro gol.
Atacando as costas da Sérvia:
 

A seleção sérvia marcou posicionada no sistema 4-4-1-1, dando a Ljajic a tarefa de fechar as linhas de passe pelo meio (mantendo posicionamento por trás do centroavante) e, quando necessário, se somar ao Mitrovićpara fazer uma pressão mais adiantada num 4-4-2.
Embora tenha adiantado sua marcação para apertar a saída de bola do Brasil nos tiros de meta, o padrão de marcação foi um bloco médio, pressionando a seleção a partir de sua intermediária, com boa compactação, protegendo seu espaço entre-linhas, mas deixando espaços nas costas da defesa, artigo de luxo nesta Copa do Mundo para as grandes seleções.
Os espaços que deixava nas costas de sua linha defensiva passaram a ser um problema, especialmente quando os meias e atacantes não conseguiam exercer uma boa pressão no homem da bola e a linha de trás permanecia alta.
Diante deste cenário, o Brasil passou a lançar a bola neste espaço, com os atacantes movimentando, “fazendo o facão” e pedindo a bola no ponto futuro.
O primeiro gol do jogo aconteceu desta forma, mas poderia ter surgido em três ocasiões similares: duas com Paulinho e uma com Gabriel Jesus, conforme mostra o vídeo abaixo.

Para ler a análise na íntegra, clique aqui.