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Decidindo sobre uma nova carreira

Tenho escrito algumas vezes sobre a importância da gestão da carreira dos atletas e como isso é um tema valioso para os nossos debates atuais. Um fato recente colocou em prova a necessidade desta discussão: a demissão do cargo de treinador do ídolo São Paulino, Rogério Ceni.

Será que um adequado planejamento para transição de carreira, demonstra-se estratégia importante frente aos desafios da uma nova carreira para os atletas profissionais dentro do futebol brasileiro?

Podemos começar essa reflexão reforçando um ponto importante para um bom e adequado planejamento visando uma efetiva transição de carreira: as decisões fora das quatro linhas. Elas podem ser tão ou mais delicadas, do que aquelas tomadas dentro de campo e esse cenário traz a necessidade de cada atleta conhecer brevemente as fases de uma carreira no esporte e os impactos de uma decisão infundada.

Existem formas de apoio para que um atleta possa tomar as decisões mais adequadas, para sua carreira, fora do campo. Vamos relembrar uma delas: A análise do campo de forças. Este é um modelo baseado no trabalho de Kurt Lewin’s – “Teoria dos Campos”, que descreve o campo de forças ou pressões agindo em um evento particular num determinado momento. Essencialmente, a teoria sugere que forças que agem para mudar uma situação são balanceadas com forças que agem para resistir a mudança.

Na prática funciona desta maneira: um coach avalia junto ao coachee (atleta) quais são as forças que impulsionam e as forças contrárias em relação a uma determinada situação, cenário ou objetivo desejado. Ou seja:

  • Define-se a situação atual da carreira do atleta;
  • Define-se o objetivo do atleta (resultado desejado);
  • Identifica-se todas as possíveis forças impulsionadoras;
  • Identifica-se todas as possíveis forças contrárias;
  • Realiza-se uma análise das forças concentrando-se em:
    • Redução das forças contrárias a resistência;
    • Fortalecimento ou adição de forças impulsionadoras e favoráveis ao processo.

Tendo em mãos estas reflexões o atleta tem maiores e melhores condições de perceber se o cenário avaliado é o que mais se adere aos seus objetivos de carreira e aos seus desejos pessoais. A partir deste cenário, deve-se elaborar um plano de ação para atender os itens que fortaleçam e impulsionem a realização do cenário escolhido.

E aqui então, temos um grande e importante ponto de atenção, muitas vezes o atleta ainda não tem realizada todas as etapas e ações que são sugeridas no referido plano, e nestes casos ele pode cair numa armadilha de uma rápida transição, através de um promissor convite ou de uma repercussão positiva que sua carreira anterior tem sobre alguma instituição esportiva.

Isto posto, temos a possibilidade de analisar, frente ao acontecido com o ídolo São Paulino, se realmente as técnicas para um bom planejamento visando a transição de carreira são ou serão realmente efetivas, tendo em vista o contexto imediatista do nosso futebol, no que se refere ao cenário de uma carreira técnica dentro do esporte.

Até a próxima!

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Mas você é mulher

“Mas você é mulher!” – Quantas vezes nós, mulheres, já ouvimos essa frase? Quantas vezes você, leitor e leitora, proferiram esta frase? E nós, mulheres que gostamos de futebol, podemos multiplicar por vinte a quantidade de vezes em que a ouvimos.

Quando queremos ir ao estádio ou ao bar sozinha assistir ao jogo do time do coração, quando pensamos em profissões relacionadas à futebol… Ah, e se chegamos lá e cometemos algum deslize a frase muda um pouquinho para a clássica “mas tinha que ser mulher!”, mas continua ali, limitando, tachando e impondo regras que não existem ou, ao menos, não deveriam existir.

Certa vez fui ao bar sozinha assistir a um jogo do Palmeiras. Era final de campeonato, verdão brigando pelo título, domingo de sol típico para um barzinho… e eu não passei vontade, fui! A única mulher com camisa de time, a única mulher sentada sozinha em uma mesa, a única mulher que, aparentemente, estava acompanhando o jogo que passava em todos as televisões de todos os estabelecimentos. Essa deveria ser uma cena normal, mas não parecia ser! O que parecia era ser um convite para alguém sentar ao meu lado, parecia que eu esperava por algum convite, parecia que cada um queria dar a sua opinião e que todo o mundo parecia olhar – surpreendido.

“Mas ela é uma mulher sozinha em um bar, assistindo futebol”! Sim, uma mulher, em um bar, assistindo futebol, sozinha, torcendo, vibrando, roendo as unhas, tomando cerveja e que levanta, sozinha, paga a conta e vai embora.

Parece simples, parece intimidador, parece afronta, parecem tantas coisas, mas no fundo é apenas uma mulher fazendo o que quer.

“Mas você é mulher!”

“Sim, graças a Deus!”

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O risco de rebaixamento para o torcedor

A história se repete sem que vejamos mudanças concretas serem discutidas. O clássico entre Vasco e Flamengo foi mais um capítulo da triste história que vivemos há décadas nos estádios espalhados pelo país, com uma confusão generalizada ocorrida após o apito final.

O que é necessário acontecer para que o cenário mude? Virou rotina ver no noticiário a briga entre torcidas a cada rodada. E o que de fato acontece com esses criminosos?

De um lado, temos os clubes, que alegam não ter responsabilidade e que o problema é da polícia militar. De outro, temos a polícia, muitas vezes despreparada e que também corre grande risco por sempre estar em menor número. Temos também o poder público, incapaz de criar normas que efetivamente punam os responsáveis que se infiltram nas torcidas em busca de confusão. E, por um último, temos o torcedor.

Esse é quem mais perde e o único que não tem culpa. Cada vez mais afastado ou extremamente corajoso em arriscar a sua vida e de seus familiares para aproveitar 90 minutos da paixão que nutre pelo seu clube e pelo futebol.

Vasco confusão

A tendência, como de costume, é que o estádio de São Januário seja interditado por um número razoável de jogos. O clube merece uma punição? Sem dúvida que sim, porém não pode pagar o preço sozinho ou, ao menos, ver que a punição não mudará em absolutamente em nada a cultura enraizada.

Jogos com portões fechados, clássicos com torcida única, barreiras enormes para dividir as torcidas adversárias. Não chegaremos a nenhum lugar com essas medidas paliativas e sem sentido. E as brigas continuam, dentro do estádio ou bem distante deles.

E o torcedor? Esse só perde. Melhor assistir pela TV mesmo, carregando a tristeza ao ver um estádio vazio pela tela e segurando a vontade de estar lá vibrando, comemorando, se divertindo. Perde também o clube, salvo raras exceções, com receitas pífias de bilheteria. Perde o vendedor de pipoca, de bebida, o ambulante do churrasquinho. Perde o patrocinador, que não vê motivo para realizar ativações de matchday.

São tantas perdas que o caminho não pode ser outro do que a queda de divisão. Se é que ainda há formas de o torcedor ser mais rebaixado!

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E a Alemanha segue dando exemplo

Nas últimas semanas, o futebol alemão mais uma vez deu exemplo de que o trabalho sério e fundamentado (na ciência e não nos achismos), pode render valorosos frutos. A Alemanha sagrou-se campeã da Euro Sub-21 e da Copa das Confederações, batendo Espanha e Chile respectivamente, pelo mesmo placar de 1×0. A equipe que disputou a Copa da Confederações ainda possui uma particularidade, foi composta por jogadores jovens (na média de 23 anos) e jogadores que não são comumente convocados, a competição serviu de experiência para o treinador Joachim Löw observar jogadores, visando a convocação para a Copa da Rússia de 2018.

E estas conquistas do futebol alemão não são ao acaso, vem para complementar o título mundial conquistado no Brasil em 2014 e a medalha de prata nas Olimpíadas, também do Brasil, em 2016, resultados expressivos, fruto de uma reestruturação que o futebol alemão passou, e que teve início nos anos 2000, após eliminação ainda na primeira fase da Eurocopa.

Desde então a Alemanha investiu pesado na formação de jogadores. Cerca de 1 bilhão foram investidos na construção de centros de treinamentos para jovens espalhados pelos país, e que são abertos ao público, sem ligação com os clubes. A federação alemã passou a exigir que todos os clubes das séries A e B da Bundesliga possuíssem centros de excelência para suas categorias de base, uma “cartilha” de conduta para clubes foi criada, dentre outras exigências, onde além de manterem estruturas para as categorias menores, os clubes devem ainda cumprir com questões administrativas, como não poder gastar mais do que arrecadam. Os gastos com salários não podem ultrapassar 50% das receitas, não podem vender 100% de suas ações, sendo que 51% delas ficam com os torcedores. Esporadicamente os clubes são fiscalizados, e caso não consigam comprovar que estão cumprindo com as regras, podem sofrer sanções pesadas, chegando a poder ser rebaixado de divisão.

Ações como essa ajudaram a fortalecer o futebol alemão, além das recentes conquistas de importantes troféus, sua liga nacional tem a melhor média de público do mundo, cerca de 45 mil pessoas por jogo, só o Borrusia Dortmund tem média de 80 mil espectadores por partida! A média do Brasileirão gira em torno de 15 mil pessoas, menor que da segunda divisão alemã que é de 17 mil pessoas.

Os treinadores na Alemanha passam por um criterioso processo de formação, o que qualifica o trabalho dentro das quatro linhas. Vejamos a imagem que explica isso:

Fonte: https://daiotega.files.wordpress.com/2014/07/piramide_alemc3a3.png
Fonte: https://daiotega.files.wordpress.com/2014/07/piramide_alemc3a3.png

 

Os números alemães impressionam, porém, para todos os que levam o futebol a sério, e não somente com paixão, entendem que são marcas que o futebol brasileiro poderia também alcançar, ainda mais por termos mais que o dobro de território e população em relação a Alemanha. Mas, para isso, é preciso sair do comodismo e achismo que muitos insistem em permanecer, coisa que deveriam ter acontecido mais do que depressa após o fatídico 7×1 (que faz aniversário hoje, aliás). A máxima que “o futebol é assim, não vai mudar”, não cabe mais nos dias atuais.

Olhando para as duas últimas conquistas alemãs, podemos notar que todo esse trabalho vem dando resultado, é possível encontrar algumas semelhanças na forma de jogar da seleção sub-21 e da principal “B”. Claro que ambas enfrentaram situações bem distintas, a principal enfrentou o atual bicampeão sul-americana, o Chile, enquanto a sub-21 enfrentou a Espanha, de reconhecida competência na formação de jogadores. Para não estender muito, e até também pelos rumos que as partidas tomaram, a análise irá se ater à fase defensiva alemã, vejamos as semelhanças encontradas:

Imagem2
Sub-21

https://vimeo.com/224701535

Principal "B"
Principal “B”

https://youtu.be/2tKQRlm7HnQ

Estas são apenas pequenas amostras dos frutos que a Alemanha, após 17 anos do início de sua reestruturação, obteve. O projeto alemão segue a todo vapor e agora no mundial sub-17 poderemos ver aqueles que já iniciaram sua vida futebolística neste novo contexto, criado nos anos 2000. Vale a pena conferir o desempenho da equipe sub-17 e torcer para que nossos dirigentes, mesmo sendo medalhistas de ouro e pentacampeões mundiais, saibam se espelhar em nossos companheiros alemães, por enquanto, somente tetracampeões mundiais.

 

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Jogo de localização

O jogo de localização é um termo criado pelo treinador espanhol Juanma Lillo, atual treinador do Atlético Nacional da Colômbia. Procurei me aprofundar em algumas referências, escrever algumas inquietudes e compartilhar algumas ideias de reflexões que tive com meus amigos Willian Batista de Almeida (ex-treinador do Atibaia sub-17 de São Paulo) e Kevin Vidaña (atual treinador do Atarfe sub-19 da Espanha), ambos conhecedores do tema. A ideia da coluna é desbravar globalmente essa forma de entender o jogo para em futuras publicações pormenorizar alguns aspectos.

Crédito: Higuita e Lillo no Atlético Nacional da Colômbia| Reprodução: Twitter
Crédito: Higuita e Lillo no Atlético Nacional da Colômbia| Reprodução: Twitter

 

Bem, no futebol há várias formas de jogar e enxergar o jogo. Nenhuma melhor que a outra, apenas com ideias e convicções distintas. O jogo de localização é uma delas e tem seus ideais excêntricos. Primeiramente, entende que o jogo é dos futebolistas, e os futebolistas não atuam simplesmente, eles inter-atuam, se inter-relacionam formando uma unidade coletiva. Isso cria uma linguagem intencional-interativa que permite uma comunicação dinâmica entre todos.

Em seu artigo “A lógica interna e o jogo de localização”, Kevin Vidaña deixa claro que “o jogo de localização tem suas bases estruturais e funcionais na lógica interna do jogo, que não suporta mais ideologia que a sua própria. É um conjunto de normas conexas entre si, a fim que seus propósitos de atividades não se produzam de forma isolada, dispersa ou fracionada, e nos indiquem a intencionalidade do jogar”.

De forma geral, o termo localização vem de uma fusão entre posição e situação. Investigando no dicionário, percebemos que o termo posição tem uma relação sinônima com postura, já o termo situação tem a ver com circunstância calhada de algum lugar ou para algum lugar. Ambas se relacionam invariavelmente, e uma coisa sucede a outra previamente-posteriormente e positiva-negativamente.

Assim, um jogador pode estar fora de posição mas em boa situação, ou pode estar na posição em uma situação ruim, por alguns motivos invisíveis e outros visíveis, tais como: variabilidade do jogo, oposição do adversário e leitura individual. Mesmo com isso, pode ainda ter vantagem naquele instante. Porém, uma coisa sucede a outra, e a verdadeira pujança só acontece com o domínio da relação entre posição e situação e isso acaba delineando e desenhando a energia varonil do jogo de localização.

Então, de nada adianta um jogador estar bem situado ou em uma determinada posição, seja ela no recomeço a frente da linha, entre os jogadores da linha, no lado forte ou contrário da linha ou nas costas da linha, se não existir intencionalidade coletiva cinética, e especialmente liberdade organizada entre todos os jogadores, seja no jogador que intervém e nos outros 10 jogadores, para que possam simplesmente interagir uns com os outros, com a bola, o tempo, o espaço, superando o oponente e provocando uma conjecturada superioridade.

E a implicação dessa superioridade é simples: visa desorganizar a defesa adversária. E há um paradigma em cima disso. O jogo de localização é muito maior que simplesmente gerar superioridade numérica, tocar a bola, trocar de faixa ou corredor. Também não é uma simples sucessão de passes ou apenas realizações de passes. Ele envolve interações com passes, conduções, enganos, dribles, transportando consigo maiores probabilidades de eliminar adversários com criatividade contextual. Assim realmente vai gerar desequilíbrios vantajosos e dinâmicos.

Tais interações são geradas por uma intencionalidade fulgente, com conteúdos, com uma série de condições estruturais e funcionais, que ditam o jogo de localização, garantindo o momento posterior ou o contínuo do jogo. O local onde estou, para onde vou, onde quero estar, onde devo estar, onde meu companheiro está, para onde vai, se sou beneficiado ou devo beneficiar o companheiro, evidenciam a situação e a posição agindo como uma fluidez unitária, uma transcendência funcional que se ordena organizadamente e espontaneamente desordena o adversário através do contínuo do jogo, por meio da transformação dos espaços e os ajustamentos naturais dos jogadores.

E, essa forma de jogar, os jogadores devem saber o que fazer e também devem criar o que fazer. Se há um processo de início, progressão e finalização, com referências comuns, como distâncias de relação, escalonamentos, perfilamento corporal, fixações dos adversários, há muitos pormenores que a forma de desenvolvimento do jogo de localização pode enriquecer o jogador e a inteligência da criação liberta. E o interessante também é que a relação entre o estar situado e o estar posicionado por mais próxima que pareça ideal, ao mesmo tempo é imprevisível, já que não existe o ideal, pois muitas interações apenas acontecem e são eficazes para aquele instante. Por isso, saber o que é a essência do grande jogo e sua lógica interna, é imprescindível para o jogo de localização.

Saída em primeiro momento do Barcelona – foto retirada do artigo “A lógica interna e o jogo de localização” de Kevin Vidaña
Saída em primeiro momento do Barcelona| Reprodução: foto retirada do artigo “A lógica interna e o jogo de localização” de Kevin Vidaña

 

Para o treinador espanhol, Oscar Cano, profundo entendedor do jogo de localização, “todas as interações com bola, seja em condução, passe ou drible, fazem-se para atrair o adversário. Uma temporização de 2,3 segundos prendendo a bola às vezes deixa a priori o adversário organizando, mas libera alguém livre para ser um futuro receptor. É uma referência contínua para desajustar e separar o rival e que o rival libere espaços para a equipe progredir, receber atrás das linhas de pressão e quebrar linhas com rupturas curtas e longas pelos desajustes conseguidos. Perceber onde os companheiros estão e suas repercussões, atendendo aos movimentos, as fixações, como vão movendo a defesa para buscar o companheiro melhor condicionado, viajando todos juntos, toda equipe, formando um bloco ofensivo, gerando superioridade, é o segredo dessa forma de enxergar o jogo”.

Então não se trata de posicionar para apenas gerar uma suposta superioridade estática em alguma região do campo, ou seja, não se trata posicionar por posicionar, da mesma forma que não se trata de passar a bola por passar, de movimentar excessivamente por movimentar; trata-se de estar bem localizado, e estar bem localizado é estar no momento e no timing certo dentro do espaço, no tempo certo sem estar cedo demais ou atrasado. É dar um sentido para todos os movimentos sem mecanizar, pois ao mecanizar supostas vantagens e espaços, pode-se tirar a essência coordenativa das interações naturais que fluem dentro das transformações dos espaços onde a vantagem realmente ocorre em cima do oponente.

E falar de interações naturais mais proveitosas pode ser uma “anti-tese”, pois a natureza não entende de interesses e aproveitamentos, desconhece a concepção “eu”, desconhece o significado de “utilidade”. Como saber o que é verdadeiramente útil ao jogo?

Por isso, a chave do jogo de localização é simples: conhecer a lógica interna do jogo, a natureza do jogo, estar bem situado e estar bem posicionado no timing certo, fazendo a bola mover-se de diferentes formas para novas localizações evitando o uso excessivo de movimentos mecanizados, especialmente de aproximação e apoio, reconhecendo a verdadeira hora de aproximar, afastar, parar, correr, frear e acelerar. Isso vai proporcionar aos jogadores relações para que identifiquem o manejo individual do tempo, espaço e da velocidade para cada instante. Isso fará com que cada jogador se conheça melhor e conheça melhor seu companheiro, o que vai fazer o jogo ficar singularmente coletivo e transcender a visão da troca excessiva de 650 passes curtos por jogo ou usar a posse de bola para apenas passar a bola.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

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O Touro Vermelho e Verde

Na semana passada, a tradicional Portuguesa de Desportos, a querida Lusa, protagonizou o ápice de seu declínio ao ser desclassificada logo na primeira fase da Série D do Campeonato Brasileiro, a última divisão da competição nacional. Com esse resultado, o clube não tem assegurada a sua participação na edição em 2018, somente se for campeã da Copa Paulista nesse segundo semestre.

Durante a semana passada, um assunto que fez grande barulho circulando pela internet foi a ideia de alguns torcedores incentivando a fusão da Lusa com o clube de futebol Red Bull Brasil, fundado pela marca austríaca há exatos 10 anos. Apesar de ter conseguido uma rápida ascensão à elite do futebol paulista, o clube também foi eliminado logo na primeira fase da Série D do Brasileiro desse ano.

Essa ideia encontra razão como forma desesperada de dar sobrevida ao clube de origem portuguesa. Além do terrível retrospecto de 2013 para cá, o clube está afundado em dívidas, que contribuíram de forma devastadora para a situação atual. Porém, dificilmente a ideia encontrará respaldo racional e que se concretize em um negócio sustentável.

Em seus áureos tempos, a Lusa era admirada por conseguir brigar de cabeça erguida com os gigantes Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos. A fórmula do sucesso estava em sua capacidade de revelar grandes jogadores do porte de um Denner, da influência da comunidade portuguesa na gestão e, principalmente, pela força de seu clube social, que possuía mais de 100 mil sócios adimplentes. Hoje, o futebol de base não possui nenhuma condição estrutural para revelar algum novo craque, a comunidade portuguesa cansou dos desmandos ocorridos e, os sócios, seguindo o que ocorreu com outros tradicionais clubes sociais da cidade, desapareceram.

Crédito: Reprodução
Crédito: Reprodução

A empresa de energéticos Red Bull construiu uma relação muito próxima com o esporte mundial, criando eventos diferenciados e ultrarradicais, ao mesmo tempo em que apostou no futebol com um modelo inovador ao dar nome a diversos clubes espalhados por países como Áustria, Estados Unidos e Alemanha, onde conquistou inclusive o vice-campeonato da Bundesliga nessa temporada. Aqui no Brasil, os resultados ainda são tímidos, porém a imagem de inovadora e de gestão eficiente fez com que os lusitanos arregalassem seus olhos ao pensar na ideia dessa fusão.

A empresa, de forma inteligente e divertida, aproveitou essa situação para lançar mensagens com seu mascote em “territórios” portugueses, degustando os pratos tradicionais dessa rica culinária, como o bolinho de bacalhau e o pastel de Belém.

Enfim, ideias não custam nada. Como seria essa junção entre a tradição e a modernidade? Entre o conservador e a inovação? Apesar de pouco provável, vale acompanhar os desdobramentos. É melhor nunca duvidar da força de um touro, da obstinação de um português e, principalmente, do que o futebol é capaz de inventar.

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Continuamos precisando rever o calendário do futebol brasileiro

Uma das principais discussões em relação ao futebol brasileiro está relacionado ao fato dos torneios serem organizados pela CBF e as suas federações estaduais, ao invés dos próprios clubes serem a parte central como detentores de suas ligas, algo que ocorre com sucesso na Europa.

O que mais chama atenção é que a CBF, “dona” do Campeonato Brasileiro, parece não entender o quanto deveria valorizar o seu produto principal destinado aos clubes. A grande prova está no calendário falho e sufocante, que obriga os grandes clubes a um número excessivo de jogos, enquanto que, na outra ponta, os clubes locais de menor expressão fecham as suas portas por um semestre inteiro sem campeonatos para participar.

A CBF tem se esforçado em desenvolver uma embalagem mais elaborada ao seu produto, com a criação de protocolos de jogos que agregam certo valor ao evento. Porém, por ter que entregar a temporada dentro do prazo, faz com que o seu produto Campeonato Brasileiro conflite com a sua outra propriedade, a Seleção Brasileira. Essa questão faz com que se perca a principal característica que qualquer produto deve priorizar: a sua qualidade.

Como exemplo, em outubro a seleção jogará duas partidas pelas Eliminatórias Sul-Americanas, na chamada data FIFA, onde as seleções de todo o mundo disputam as suas competições continentais ou amistosos preparatórios. Nenhum clube europeu das grandes ligas terá jogos oficiais nesse período, pois o calendário é programado para que os clubes tenham sempre o seu elenco completo à disposição, haja visto serem eles os responsáveis pelo alto custo de suas contratações e pagamentos mensais de salários.

Nesse período em que a seleção brasileira jogará, não teremos jogos do Campeonato Brasileiro, o que parece um avanço. Porém, teremos nada menos que a final da Copa do Brasil e a final da Primeira Liga, sendo que esse segundo perdeu grande parte de seu prestígio nessa sua segunda edição. Sem dúvida, as finais ocorrerão nessas datas por não haver qualquer outra possibilidade disponível.

Na minha visão, a forma mais coerente de conseguirmos ver por aqui um calendário equilibrado, onde as datas FIFA sejam respeitadas e os clubes tenham maior tempo de recuperação e de treino, é repensando ainda mais sobre os campeonatos estaduais. Apesar da importância histórica, clubes e torcedores hoje não dão o mesmo valor que davam há duas décadas atrás. Ao mesmo tempo, seria uma pena se esses campeonatos simplesmente acabassem.

Hoje, qualquer grande mudança no calendário dos torneios existentes esbarra em interesses enraizados em nossa cultura. Porém, para pensarmos na sobrevivência do nosso futebol no dia de amanhã, é essencial que a prioridade esteja na qualidade do espetáculo, não mais na quantidade de jogos.

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A diferença é a cultura

Vários pontos chamaram atenção na entrevista coletiva que o técnico Rogério Ceni concedeu no último domingo (25), no estádio do Morumbi, pouco depois de o São Paulo ter empatado por 1 a 1 com o Fluminense. O resultado fez com que a equipe paulista chegasse a cinco partidas consecutivas sem um resultado positivo no Campeonato Brasileiro e fez da zona de rebaixamento uma possibilidade real para as próximas rodadas, o que deflagrou uma onda de reclamação de torcedores. Houve vaias nas arquibancadas e protesto em frente ao portão que dá acesso aos vestiários.

Diante de ambiente tão conturbado, Ceni disse que “não vai se entregar”, mas já admitiu que suas ambições estão mais direcionadas à próxima temporada. Lembrou que o São Paulo ainda está se movimentando para definir o elenco – na última semana, por exemplo, houve negociações como a transferência do zagueiro Maicon, que rumou para o Galatasaray, e as contratações do defensor Arboleda, do meia Jonathan Gómez, do volante Matheus Jesus e do meio-campista Petros. Outros nomes, como o zagueiro Aderlan, ainda podem ser anunciados nas próximas horas.

O que mais chamou atenção, no entanto, foi outro ponto: sem querer, Ceni ofereceu uma das explicações mais contundentes sobre o bom momento do Corinthians, que somou 26 pontos em 30 possíveis e lidera o Campeonato Brasileiro – no domingo, o time comandado por Fabio Carille bateu o Grêmio, segundo colocado, em Porto Alegre.

Questionado sobre o que tem faltado ao São Paulo, Ceni recorreu ao equilíbrio do futebol nacional. Disse que há uma equidade de forças e que sua equipe tem feito bons jogos, mas acumulado placares adversos. Citou partidas contra Cruzeiro, Ponte Preta e Corinthians, reveses, para dizer que seu time esteve muitas vezes perto de resultados diferentes.

O São Paulo é, segundo o serviço de estatísticas Footstats, o time com mais posse de bola no Campeonato Brasileiro. Também é o quinto na lista dos que mais precisam de finalizações para balançar as redes – são 9,3 chutes a cada gol, quando o Corinthians precisa de apenas 2,3 em média.

Tem sentido a ideia de Ceni, portanto. O São Paulo tem argumentos para dizer que propõe o jogo e que controla as partidas em alguns setores do campo. Falta eficiência, o que pode ser corrigido apenas com um pouco mais de tranquilidade. É o famoso “quando a bola começar a entrar…”.

No entanto, a teoria do comandante são-paulino também expõe um dos motivos para a atual fase do São Paulo. Existe uma notória questão de tranquilidade, e as finalizações são apenas reflexo disso, mas o time tricolor em 2017 é um exemplo do que proporciona a ausência de uma cultura futebolística.

É aí que o Corinthians serve como contraexemplo. O time de Fabio Carille emula hoje todas as características que forjaram vitórias em temporadas passadas, nos períodos em que Mano Menezes e Tite trabalharam no Parque São Jorge. Exceção feita ao segundo semestre de 2013, todos os momentos ruins do time alvinegro desde 2008 aconteceram quando a diretoria ignorou esse perfil e contratou treinadores dispostos a impingir rupturas culturais – Adilson Batista, Cristóvão Borges e Oswaldo de Oliveira.

O Corinthians de Carille é sóbrio, prioriza a defesa, tem um nível extraordinário de atenção e coordenação na última linha e consegue aliar a esse perfil uma gigantesca eficiência no ataque. Sofre pouco, vê poucas bolas rondando o gol defendido por Cássio e sabe aproveitar os espaços oferecidos por rivais que tentam furar esse bloqueio.

É o sucesso do Corinthians um dos principais motivos para o futebol brasileiro estar acompanhando atualmente uma explosão de times que abdicam da posse de bola. Construir jogo demanda e tem uma série de riscos, e os paulistas mostraram que é possível vencer com menos emoção.

São apenas dez rodadas de Campeonato Brasileiro, é claro, e em pouco mais de um quarto de competição é impossível dizer que o Corinthians segurará a toada até o fim da temporada. Contudo, já é possível dizer que a equipe alvinegra reencontrou com Carille a cultura futebolística que moldou seus momentos mais prolíficos na década, e entender que sua essência é um dos pilares para qualquer trabalho de construção.

No futebol brasileiro de hoje, talvez só Santos e Fluminense tenham questões culturais tão arraigadas. São times alicerçados em revelações e em jogos de velocidade proporcionado pelo ímpeto dos moleques – sim, causa e efeito muitas vezes se confundem nesse processo.

Rogério Ceni tem poucos meses como treinador e ainda carece de maturidade na nova profissão que escolheu. Pode até ter identificado bem o equilíbrio vigente no Campeonato Brasileiro em 2017, mas falhou ao tentar diagnosticar por que o Corinthians tem se mantido acima do bolo. Existe uma cultura que funciona ali – e que também funciona em Santos (quinto colocado) e Fluminense (oitavo colocado), times que superaram momentos claudicantes quando definiram um perfil em que apostar.

O São Paulo pode dar impressão de estar perto de amealhar resultados melhores do que o retrospecto recente, mas existem outras questões sobre o trabalho de Rogério Ceni. O comandante neófito ainda não conseguiu dar uma cara ao time – e ele não é o único responsável pela ausência de cultura, é bom que se diga. Enquanto a equipe não tiver uma cara pronta ou uma essência, sempre vai estar um pouco mais distante do sucesso.

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Detecção de Talentos – Parte II

Olá, leitor!

No texto anterior introduzi o tema que dá título à coluna, detecção de talentos, trazendo uma visão geral de como este processo normalmente ocorre em nosso país. Como mencionado anteriormente, são diversas as oportunidades de avaliação – observadores técnicos pelo Brasil a fora, competições, avaliações internas e externas, etc. – porém, é baixa a demanda de vagas – são muitos candidatos para poucas vagas, visto que nem todos os clubes possuem categorias de base e nem todos possuem as categorias menores (sub-11 e sub-13) – sendo assim, este processo de detecção pede muito rigor e reflexão.

Dado este cenário, num primeiro momento, pode até parecer simples o trabalho daqueles que avaliam os candidatos, dentre os muitos meninos que desejam ingressar nos clubes, basta colocar pra jogar e selecionar os melhores. Mas, o que quer dizer esse “melhores”?

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Vejamos um exemplo de uma das atividades que tenho utilizado nos últimos anos, nas avaliações que ministrei para jogadores das categorias sub-10 a sub-15:

Uma atividade de confrontos aleatórios em igualdade, inferioridade e superioridade numérica, o treinador dá um sinal e indica a quantidade de jogadores por rodada, estes partem para a disputa da bola, quem vencer a disputa ganha o direito de tentar fazer o gol, quem perde a disputa tenta proteger o alvo, a rodada termina quando ocorrer o gol ou o desarme por parte do defensor, ou após um limite de tempo pré-estabelecido. Dinâmica simples, onde se pode avaliar técnica de drible, passe, domínio, finalização e desarmes, todas competências que um jogador deve executar bem, e que com certeza são levadas em consideração nesta atividade. Porém, será que são somente estas as competências possíveis a se avaliar?

No desenrolar desta atividade, além das competências mencionadas, busco observar também alguns pontos que julgo extremamente importantes, dentre eles, a coragem. E como avalio isso? Basicamente observo quais jogadores, após a primeira dividida pela bola, continuam acelerando ao máximo para a disputa da mesma em todas as oportunidades, e quais jogadores desaceleram ou já adotam uma postura defensiva no intuito de evitar o choque da dividida. Que jogadores continuam tendo uma postura ofensiva, em vencer a disputa para fazer o gol. Será esse um critério e um olhar interessante para a análise? Podemos ainda notar um jogador que busca criar linhas de passe e desmarcar-se quando está sem bola, ou um que consegue ser muito produtivo dando somente um toque na bola, etc. Não seriam estes aspectos a se levar em consideração? Imagine que você trabalha em um clube que é historicamente reconhecido pela raça, por ter equipes vitoriosas que foram muito aguerridas, não seria então a coragem uma determinante característica a ser levada em conta para a toma de decisão?

O que estamos observando no jogar de nossos jogadores? Somente os momentos em que estes detêm a bola são determinantes nas avaliações? Outro ponto que julgo extremamente importante e determinante quando avalio jogadores, é a progressão de entendimento que estes apresentam. Numa avaliação, seja ela de um dia ou de uma semana, busco criar atividade de treino que sejam gradativas em complexidade, e assim, ter alguns subsídios para analisar a capacidade de adaptação dos jogadores, o potencial de entendimento e evolução que apresentam. O que é mais vantajoso, captar jogadores que possam resolver hoje os problemas da categoria (ex: jogadores muito maturados que resolvem os problemas só com a força) ou jogadores que demonstrem alta capacidade de adaptação e compreensão às necessidades do jogo? Quem conseguirá evoluir mais e passar por todo o processo da base? Nesse sentido, trago um exemplo de algumas das experiências práticas que vivi.

globoesporte.com
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Lucas Lima e Fabinho |Reprodução
Lucas Lima e Fabinho |Reprodução

 

Tive a oportunidade de vivenciar a formação destes dois jogadores, Fabinho – com quem pude trabalhar – e Lucas Lima – a quem pude enfrentar – ambos campeões nos clubes onde jogam, de reconhecido valor no âmbito nacional e internacional, Fabinho ainda tendo sido eleito um dos melhores jogadores da última edição da UEFA Champions League. O que tem em comum? Na infância e adolescência, não passaram pela base de nenhum dos grandes clubes do futebol brasileiro. Lucas Lima passou por diversos clubes do interior de São Paulo, e Fabinho fez toda a sua formação de base no modesto Paulínia Futebol Clube (coordenado metodologicamente pelo Prof. Dr. Alcides Scaglia) antes de ir para o juniores do Fluminense. Mesmo assim alcançaram o sucesso no futebol, chegando até a Seleção Brasileira. Como estes reconhecidos jogadores não foram selecionados por nenhum dos grandes clubes do Brasil?

Captar jogadores é muito mais do que simplesmente “olhar a parte técnica”, analisar se ele tem “um bom biotipo”, ou se tem “faro de gol”, o jogador é um personagem complexo, que depende de várias competências para obter sucesso, olhá-lo de forma simplista, minimalista, não dando a devida atenção a aspectos importantes, como sua parte cognitiva e emocional, podem acarretar em erros de tomada de decisão que irão onerar o clube e gerar frustrações desnecessárias. É claro que os erros irão acontecer, todo ser humano é passível de erro, o que proponho é que se observem os jogadores em sua totalidade, no que podem vir a se tornar (quando bem estimulados), e não somente no momento em questão, que se criem parâmetros para avaliar isso, não tenho dúvidas que poderemos assim, qualificar ainda mais o nível dos jogadores que atuam em nosso futebol e minimizar os erros nesse complexo processo de detecção de talentos.

Até a próxima!

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TJMG condena município por discriminação a treinador cadeirante

Dentre as várias nuances e objetivos do Direito Desportivo está a inclusão social. Neste sentido, o Município de Pirapetinga, interior de Minas Gerais, foi condenado a indenizar o treinador cadeirante em R$ 5 mil por danos morais porque ele foi barrado quando tentava entrar em um campo de futebol onde era disputado um campeonato amador, organizado pela prefeitura. A decisão em segunda instância é da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) que modificou a sentença de primeira instância que isentou o Município de responsabilidade.

O cadeirante, que treinava uma das equipes, propôs a ação contra o Município pedindo indenização por danos morais, uma vez que que teve sua honra violada por um agente municipal.

Conforme consta nos autos do processo, o autor da ação assistia a uma partida de futebol no Ginásio Poliesportivo de Pirapetinga, quando foi convidado pelo técnico de um dos times para auxiliá-lo, entretanto teve seu acesso ao campo de jogo impedido pelo agente municipal que teria, ainda, proferido palavras discriminatórias.

A desembargadora Sandra Fonseca, relatora do recurso, vislumbrou a existência de ofensa à honra do cadeirante e ainda ressaltou que o regulamento da competição permitia que cada técnico escolhesse um auxiliar, ou seja, o autor da demanda foi impedido de assumir função legalmente permitida.

Considerando que o desporto constitui uma manifestação cultural com enormes potencialidades na aproximação das pessoas, das culturas e das nações, através da dinamização de sociabilidades, decisões como essa orientam a ação desportiva para a inclusão e o combate a qualquer tipo de discriminação.

Ressalta-se que, por inclusão social no desporto, considera-se a existência real de igualdade de oportunidades no seu acesso, através de boas práticas para a promoção da prática desportiva generalizada, e a presença de pessoas tendencialmente excluídas na sociedade no exercício das atividades dirigentes e técnicas, sem que haja qualquer discriminação por motivos raciais, étnicos, religiosos, deficiência, gênero, orientação sexual, classe social ou outros.

Parabéns à Justiça Mineira e que este exemplo se alastre pelo país.