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Brasil: o país do futebol arte?

Olá, caro leitor! Após um período de férias, de maior dedicação do tempo à família e também de capacitação (curso da Licença B da CBF), retorno a este espaço para que sigamos trocando ideias e evoluindo, sempre no intuito de ampliar e contribuir com a “transformação pelo conhecimento”.

Neste período ausente dos treinos, pude ficar um pouco mais atento às notícias do mundo da bola nos diversos formatos de mídia, tive um pouco mais de tempo para assistir jogos, conversar com outros profissionais e, em especial, no curso da CBF, discutir métodos de treino… E nesse tempo, a partir destas vivências, um questionamento ganhou mais força em mim: o Brasil continua mesmo sendo o país do futebol arte?

O futebol tupiniquim é mundialmente reconhecido pela sua forma alegre, bonita, agradável e ofensiva de se jogar. Didi, Garrincha, Pelé, Zico, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Robinho, Neymar, entre tantos outros jogadores brasileiros são idolatrados por seus belos dribles e gols. Seleções como as de 70 e 82, as duplas Romário e Bebeto e “Ro-Ro”, o “quadrado mágico”, equipes como o Flamengo de 81, o São Paulo de Telê, o Santos de tantos anos e jogadores… As lembranças que essas equipes e atletas remontam são de um futebol vistoso, ofensivo, de muitos dribles e gols. Características marcantes de nossa forma de jogar e que também sempre encantaram o torcedor brasileiro.

Dentro destas experiências que tive em minhas férias, pude notar um forte pensamento que desassocia o “jogar bonito” do resultado, o que percebi é que muitos entendem que estas coisas são antagônicas e, se não declaram isso, a expressão de suas ideias de jogo/treino traduz isso. Será mesmo que para vencer é necessário abdicar de jogar? De buscar um jogo ofensivo, bonito, que condiz com a história de nosso país no futebol?

Infelizmente, em contraponto a nossa cultura e história de um futebol arte, existe também, a cultura do resultado, parece que só é bom aquele que vence. As análises são pautadas principalmente nos placares dos jogos, se fulano venceu faz um bom trabalho, se perdeu, não faz. A análise é muito rasa, com parâmetros que pouco traduzem a qualidade do futebol apresentado (falei um pouco disso na coluna: O que são “bons resultados”?) e que, muitas vezes, não vão de encontro à cultura do futebol brasileiro.

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Recentemente, pude acompanhar duras críticas à equipe do Audax (equipe da primeira divisão paulista), que ganhou notoriedade por sua característica de priorizar um futebol ofensivo, buscando envolver o adversário através das constantes trocas de passes e movimentações de seus jogadores. Após a boa campanha na série A1 do Paulista de 2016, a equipe não obteve os mesmos resultados representando o Oeste de Itápolis na série B do Brasileiro (em parceria com o Oeste de Itápolis, comissão e jogadores do Audax disputaram a competição), além disso, está tendo dificuldades no início do Paulista deste ano e foram eliminados da Copa do Brasil. Porém acompanhando alguns jogos da equipe, tanto na série B do ano passado, como no Paulista deste ano, percebe-se que a ideia de jogo ofensivo permanece. Nesta semana, acompanhei a partida entre Brusque e Corinthians pela Copa do Brasil, tive a feliz surpresa de ver a modesta equipe catarinense com uma proposta de jogo ofensiva, buscando construir as jogadas por meio de um jogo apoiado e criando muitas situações de risco para a equipe do Corinthians.

Duas equipes com orçamentos modestos, de pouca expressão no cenário nacional, mas que não se acomodam em um jogo de “fechadinho e contra”, que buscam agredir o adversário, que buscam o objetivo máximo do jogo (o gol!) de forma prioritária. Os mais ávidos por analisar placares, rapidamente irão dizer: “fizeram isso e perderam”. Concordo, porém, inúmeras equipes que optam em se defender prioritariamente, também perdem! Futebol não é uma conta exata: “faça isso e vença”, “não faça e perca”; os fatores que determinam o placar do jogo são muitos e também extrapolam as quatro linhas, não é tão simples de se mensurar.

 Sendo assim, por que se escolhe um jogo menos condizente com nossa cultura, pobre ofensivamente, ao invés de um jogo que tenha a busca pelo gol como prioridade, que possua maior harmonia com a nossa cultura de futebol?

“É mais fácil destruir que construir.”

Esse provérbio português diz uma grande verdade. Um prédio pode levar meses, até anos para ser construído, são necessárias pessoas altamente capacitadas para levantá-lo, mas em questão de segundos, e por alguém simplesmente mal intencionado, pode ser colocado abaixo. Construir uma equipe que pratique o nosso futebol arte, que priorize um jogo ofensivo, um jogo que encha os olhos do torcedor brasileiro, requer conhecimento, tempo e muito trabalho, e claro, bons jogadores também (mas diferente do que muitos pensam, não só eles, são inúmeras as experiências de times que possuíam excelentes jogadores em seus elencos e mesmo assim nada conquistaram), mas será que essa cultura de se analisar somente os placares dos jogos está contribuindo ou indo contra a história do futebol brasileiro?

Não estou aqui buscando uma utopia! É claro que vencer se faz necessário! As vitórias são muito importantes! Também é o que os torcedores, dirigentes, jogadores e comunidade do futebol busca. Mas por que buscam desassociar a ideia de jogar um futebol bonito da ideia de jogar um futebol competitivo e vencedor? Por que querem colocar estas ideias em lados opostos?

Será que na ânsia por placares positivos, na errônea e simplista associação de placar com qualidade, não se começou a dar muito mais ênfase em destruir do que construir? Vejo equipes bem estruturadas, compactas, linhas de marcação bem definidas, engajamento defensivo de todos, e tudo isso é muito bom! Porém, quando precisam propor o jogo, não possuem uma ideia definida, não há a participação efetiva de todos, e ficam à mercê de lampejos individuais de seus jogadores. Por que não pode haver um equilíbrio maior nisso?

Por que, sendo brasileiros e conhecendo nosso histórico, não ousar mais em atacar? Será que essa cultura de se analisar somente placares não vem minando nosso histórico de grandes jogadores, equipes memoráveis, dos artistas da bola? Todos os anos a FIFA realiza um evento onde premia os melhores do mundo do futebol (não necessariamente os que venceram mais) e uma das premiações vai para a seleção dos 11 melhores jogadores em cada posição, estes são eleitos por treinadores, jogadores e jornalistas. Nos últimos dez anos tivemos somente 3 jogadores de ataque eleitos, Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Neymar, e passamos um período de 6 anos sem nenhum jogador de ataque sendo eleito. Será que não estamos deixando um pouco de lado a nossa cultura de futebol arte? E já aqui refutei o argumento de que não tenhamos mais tão bons jogadores como antes (falei sobre isso na coluna “Crise técnica do futebol brasileiro”).

Caro leitor, não estou aqui dizendo que devamos ser todos irresponsáveis, esquecer de se defender e somente atacar, não é isso. Mas meu questionamento é: quanto nossas equipes têm evoluído ofensivamente? É notória nossa evolução defensiva, mas será que não temos perdido o protagonismo ofensivo que historicamente sempre foi nosso?

Aguardo sua opinião. Até a próxima!

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Micale, Ranieri e o resultadismo

É visível que o famigerado mundo moderno exige cada vez mais conquistas, êxitos e vitórias. Ganhar passou a ser sintoma de sobrevivência. E há diversas formas de ganhar, todas com suas particularidades que devem ser respeitadas. Mas nessa época, o que mais se tem aceitado é apenas ganhar, quase sempre sem saber o percurso construído para a vitória.

E no futebol isso fica escancarado. Há um choque entre os que querem construir um percurso para ganhar versus os que querem ganhar de qualquer forma e se viciam pela vitória mesmo sem ter nunca ganhado algo realmente. Para esses, ganhar basta para amenizar a tensão, não importa como, e se a vitória não acontecer, o mundo acaba, desaba e um terremoto com perspectiva de tsunami acontece até o próximo embate.

Nós como treinadores temos que nos acostumar com esse cenário, pois estamos no futebol para vencer, correto? Não podemos ser hipócritas ao ponto de desconsiderar a importância da vitória e do sustento anímico geral que ela proporciona. A questão fulcral é perceber que além da vitória visível a todos, existem outros níveis de vitórias quando um verdadeiro processo é construído, e o resultado final fica mais nítido, mais robusto. Mais que isso, apenas uma equipe pode ser campeã, mas várias podem atingir objetivos traçados que vão além do resultadismo momentâneo. Também se o processo for sustentado por uma lógica coletiva, nos momentos de dificuldade, a ideia tem a tendência de fortalecer.

Já virou praxe ver noticiários toda semana, e às vezes todos os dias, sobre treinadores destituídos de suas equipes sem eles mesmos saberem o motivo. E no meio desse enredo, semana passada dois treinadores saíram de suas equipes. Não sei se seria de forma injusta, mas desprezando um pouco o passado recente de êxitos expressivos; e foi de grandes êxitos, sim. No futebol existe lembrança? Micale e Ranieri levaram suas equipes a conquistas inéditas com duas formas de jogar distintas, com ideias e identidade, e olha o que aconteceu!

Menos de um ano depois ambos saíram de suas equipes. Micale com outros jogadores, outra categoria, necessitando criar uma identidade em pouco tempo. Ranieri com a mesma equipe, com alguns novos jogadores, carecendo reforçar e ajustar a identidade de jogo numa selva feroz que é a Premier League. Algo normal para o mundo do futebol e suas saídas. Mas a questão é que os dois vinham construindo processos interessantes, e como todos sabem, quando os resultados visíveis demoram um pouco, o caminho da rua é a melhor alternativa.

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Menotti, ex treinador e um sábio do futebol, numa entrevista sobre a equipe do Barcelona, disse algumas palavras interessantes para contextualizar um pouco isso:

“Quando o resultado não vem porque se perdeu a forma de jogar, se produz mais tristeza e maior desconcerto. E o único caminho possível é voltar ao início e reforçar a ideia”. 

Mas eles, como muitos treinadores, não conseguiram voltar e reforçar a ideia, por que a obviedade aconteceu. No futebol, não existe passado, memória e paciência. Todo treinador é descartável. Os diretivos, na sua grande maioria, com pouco preparo para gerir a derrota, preferem trocar os treinadores como trocam de marcas de carro, ao invés de redesenhar planos e objetivos. É claro, há fatores que são incontroláveis para um treinador no decorrer do processo, mas quase todos, na sua grande maioria, podem ser simplesmente reajustados. Mas ele, o resultado, seu dogmatismo, independentemente de como foi sua história, afeta demasiadamente as pessoas, especialmente se não tiver uma ideia comum entre todos pertencentes ao processo. E é isso que falta: comunicação, interação e ideias conjuntas.

Tal tendência, muito por conta dos fatos feitos, pré-fabricados pelos diretivos, imprensa e torcida, influenciam os treinadores pela luta diária para se manter empregados. Ganhar e ganhar e ponto final, com ideias ou sem ideias. No fim, esse temor faz poucos treinadores influentes e muitos influenciados pelo sistema.

Duvidar da vitória e da derrota, aprender em todos instantes, poucos sabem o que é isso. Nada pode substituir o lento e duro processo de trabalho. Mas quando não se sabe o que é processo, o que fazer?

O treinador de basquete do Valencia, Pedro Martínez Sánchez, na roda de imprensa após perder o título da Copa do Rei para o Real Madrid, disse algo interessante para refletirmos:

“Perdemos sendo fieis ao que queremos ser, a como treinamos e a como jogamos. Então eu prefiro se perder, perder assim, pois não adianta ganhar fazendo coisas que não servem para sermos melhores. E esse é o caminho”.

“Tudo se valoriza em função do resultado e eu entendo. Eu sei há muitos anos que quando se ganha tudo é maravilhoso e quando se perde não tanto. É assim. Porém há nível interno, de vestiário, eu creio que temos que lembrar algumas coisas. Estamos numa boa linha, temos que pensar em o que melhorar para a próxima vez estarmos um pouco melhor preparados, não muito melhor, só um pouquinho. Isso pode ser suficiente e passa pelo trabalho do dia a dia e por não entrar em pânico, por não desanimar”. 

Em uma de suas várias mensagens significativas nesse aspecto, Bilesa também numa roda de imprensa deixou um recado:

“Não permitam que o fracasso deteriore a autoestima. Quando ganha, a mensagem de admiração é tão confusa, estimula tanto o amor para você mesmo que te deforma. E quando perde, acontece o contrário, há uma tendência murchosa, sem prestígio, que te ofende, só porque perde. Em qualquer tarefa se pode ganhar ou perder, o importante está na nobreza dos recursos utilizados, isso sim é o importante; o importante é o trânsito, a dignidade com que recorre o caminho na busca do objetivo. O outro é história para vendermos uma realidade que não é a tal”

“Isso será por que Bielsa entende que ganhar nem sempre é dar a volta olímpica. Seu triunfo passa por manter vivo seu orgulho, seu procedimento, mais que sair em um pôster de campeão”, disse Marcelo Sotille em um de seus artigos sobre Bielsa.

Nada mais claro nas palavras de Oscar Cano treinador Espanhol:

“Como gostaria que alguma vez falássemos bem de quem não ganha, e que deixemos de inventar capacidades a quem obtém a vitória”.

No fim, algumas reflexões para fechar:

Micale e Ranieri foram vitoriosos, mas agora não são mais?

Eles não serão os primeiros e nem os últimos a vivenciarem isso, correto?

Seja para os resultadistas ou para os idealistas, o futebol é resultado, não é?

Essa é a realidade do futebol?

Cada um tem sua visão de futebol, não podemos mudar, mas o que avaliar no resultado realmente?

Respeito e ideais, palavras cada vez mais órfãs nesse meio, como a derrota, correto Micale e Ranieri?

Abraços e até a próxima!

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A águia de Lisboa

Hoje, dia 28 de fevereiro, o Sport Lisboa Benfica completa 113 anos. Conquistou o topo do futebol português na década de 50 e 60, desbancando o seu rival Sporting, clube mais popular nos primórdios do futebol local.

Não é exagero também dizer que o Benfica foi o maior clube europeu durante a década de 60. Após 5 conquistas consecutivas do Real Madrid nas 5 primeiras edições da Liga dos Campeões da UEFA iniciada na temporada 1955-56, o Benfica reinou nos anos 60 ao conquistar o bicampeonato e ser vice-campeão em outras três edições.

Liderados por Eusébio, o maior ídolo da história do clube, o time era composto somente por jogadores nascidos em Portugal ou nas colônias portuguesas. Grandes expoentes desse time nasceram na África. Eusébio e Mário Coluna em Moçambique, José Águas em Angola. O Benfica também foi a base da seleção portuguesa que participou da Copa de 1966 e terminou em 3º lugar.

Para um país pequeno como Portugal, com pouco mais de 10 milhões de habitantes, ter clubes tão representativos na história do futebol europeu é motivo de grande orgulho para o seu povo. Além do Benfica, o Porto também já conquistou o maior torneio da Europa por duas vezes e o Sporting orgulha-se de ser o único time do mundo a formar até hoje em sua base dois jogadores eleitos como melhores do mundo pela FIFA, sendo eles Luís Figo e Cristiano Ronaldo.

Estima-se que os encarnados, como são chamados carinhosamente por seus “adeptos” (torcedores), possuam cerca de 5 milhões de torcedores em Portugal, apesar do crescimento do FC Porto a partir de meados da década de 80. Segundo relatório da UEFA divulgado em 2012, o Benfica era o clube europeu com maior percentual de torcedores concentrados em um país, representando 47% dos cidadãos portugueses.

Um número que impressiona bastante diz respeito à quantidade de sócios do clube. Em 2014, foi divulgado inclusive pela FIFA, que o Benfica era o clube com maior número de sócios do mundo, alcançando a marca de 235.000 sócios. Por regra estatutária do clube que obriga a realizar a revisão dos sócios adimplentes a cada dez anos, esse número caiu para os atuais 157.000 sócios, colocando o clube em 3º lugar, atrás de Bayern de Munique e Arsenal. Apesar dessa queda, o número surpreende para um clube situado em um país de pequenas proporções e também por não ter o alcance global de outros gigantes bilionários europeus como Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Liverpool ou PSG.

O Benfica faz parte dos clubes patrocinados pela companhia aérea Emirates Airlines, ao lado de Real Madrid, Arsenal, Milan, PSG, Hamburgo e Olympiacos. Uma das ativações mais criativas e que alcançou uma enorme repercussão ao redor do mundo foi feita entre a patrocinadora e o Benfica. O vídeo está disponível no final dessa publicação.

Portugal já foi um país com grande protagonismo na história mundial ao ser a maior potência econômica e política nos séculos XV e XVI durante a Era dos Descobrimentos e Grandes Navegações. A força da marca Benfica, ao lado de seus dois principais rivais lusitanos, também representa o orgulho de uma nação de dimensões pequenas, mas de uma força gigantesca. O escudo do clube, com a águia de asas abertas significa exatamente a autoridade, a força, a vitória e o orgulho de seu povo.

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Ampliando o potencial de aprendizado do atleta

Todos nós sabemos que a rotina de um atleta de futebol profissional é muito pesada, muitas vezes estressante e desgastante. O que eventualmente não sabemos é que a rotina pode ser prejudicial ao cérebro humano e dificultar a capacidade do cérebro em se manter ativo ao máximo e uma máquina de aprender.

Então, como potencializar a capacidade de aprendizado do atleta, num contexto de rotina extrema? Isso pode ser possível?

As respostas a estas inquietudes podem ser obtidas através de Neuróbica, termo já abordado em colunas anteriores, mas que endossa muito bem a necessidade que temos de manter o cérebro mais vívido do que nunca, para podemos ter excelência na capacidade de aprendizado.

Em resultados de pesquisas recentes sobre o cérebro, foi possível apurar que novos métodos que podem ser incorporados às atividades diárias contribuem com o desenvolvimento e a manutenção das conexões cerebrais de todos nós. Sendo assim, é valioso conhecer sobre a Neuróbica, pois tal e qual os exercícios físicos contribuem para a manutenção da forma física, os exercícios para o cérebro podem nos ajudar a melhorar nossa capacidade mental.

Para todo e qualquer ser humano, atleta profissional ou não, é possível aplicar a Neuróbica em diversas situações cotidianas, potencializando ainda mais o desenvolvimento da capacidade mental.

Falando sobre as rotinas, devemos compreender que elas não são ruins, de forma alguma, pois até pouco tempo atrás o mundo era imprevisível e a raça humana necessitava procurar por comida e abrigo constantemente, sendo esta atividade sempre de muito risco e perigo. Porém, com o passar do tempo, nosso comportamento passou a ser mais previsível e essa previsibilidade trouxe consequências para nossa vida, pois os comportamentos de rotina tem a característica de serem quase subconscientes e acabam sendo executados com o mínimo de energia cerebral. Então, hoje temos a necessidade de exercitar cada vez mais o cérebro para podermos mantê-lo vivo e ativo. Com o atleta profissional isso não é diferente e sua capacidade de aprendizado também é impactada pela rotina do mundo moderno e da sua própria profissão.

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Outro ponto importante que podemos conhecer, é o fato de que o cérebro tem fome por novidades! Quando reagimos a uma novidade, a atividade cortical aumenta em mais e variadas áreas do cérebro, isso acaba por fortalecer ainda mais as conexões sinápticas, ligar áreas diferentes em novos padrões e acelerar a produção de neurotrofinas (uma família de proteínas que induzem a sobrevivência, desenvolvimento e a função dos neurônios).

Daí a Neuróbica surge com uma boa opção de atividade para manter o cérebro do atleta vivo e ativo, potencializando sua capacidade de aprendizado e seu desempenho dentro da sua atividade profissional em campo. Cabe reforçar que a Neuróbica é um programa que tem base científica e propõe ajudar as pessoas a modificar o comportamento para a promoção de um cérebro vivo.

Um cérebro ativo é saudável, e isso por si só já pode trazer as conclusões necessárias sobre a importância que todo profissional de alto desempenho tem em buscar por uma vida que lhe proporcione um cérebro mais ativo possível e, um cérebro ativo, convive com as novidades e está muito mais propenso em aprender cada vez mais e melhor!

Até a próxima.

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Goleiro Bruno sai da prisão: entenda

Após 7 anos preso, o goleiro Bruno teve seu pedido de soltura concedido pelo Supremo Tribunal Federal. Bruno foi preso de forma preventiva antes de seu julgamento que ocorreu em março de 2013, quando o júri popular formado por cinco mulheres e dois homens o condenou, no Fórum de Contagem/MG a 22 anos e 3 meses pelo assassinato e ocultação de cadáver de Eliza Samudio e também pelo sequestro e cárcere privado do filho Bruninho.

Os advogados do atleta recorreram da decisão, o que significa que tecnicamente, Bruno ainda é inocente, eis que, segundo o Princípio da Inocência previsto na Constituição Brasileira, o réu somente se torna culpado com o trânsito em julgado da condenação, ou seja, no momento em que não existam mais recursos pendentes.

No ordenamento jurídico brasileiro, a prisão somente se justifica de forma temporária, preventiva ou, após o trânsito em julgado.

A prisão temporária é regulamentada pela Lei 7.960/89, possui prazo de duração de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco e ocorre durante a fase de investigação do inquérito policial. Sua função é permitir que a polícia ou o Ministério Público colete provas para, depois, se for o caso, pedir a prisão preventiva do suspeito em questão. Portanto, em geral, é decretada para assegurar o sucesso de uma determinada diligência.

A prisão preventiva, por seu turno, prevista no Código de Processo Penal, não possui prazo pré-definido, pode ser decretada em qualquer fase da investigação policial ou da ação penal, desde que existam indícios que liguem o suspeito ao delito. Seu objetivo é, via de regra, proteger o inquérito ou processo, a ordem pública ou econômica ou a aplicação da lei.

Portanto, não havendo risco ao processo, ao inquérito, à ordem pública, econômica ou aplicação da lei, a prisão preventiva é ilegal. E este é exatamente o caso do goleiro Bruno, eis que é inocente (ainda há recurso pendente) e sua prisão possuía natureza preventiva.

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Diante da ausência de requisitos para a prisão preventiva, a defesa de Bruno impetrou Habeas Corpus, conhecido como remédio constitucional utilizado nos casos de prisão ilegal, no STF.

No Habeas Corpus, a defesa apontou a inexistência de risco ao processo, à ordem pública ou econômica ou à aplicação da lei, bem como o fato de haver excesso de prazo de pena preventiva.

O Ministro Marco Aurélio justificou a decisão favorável por entender que houve “inversão da ordem do processo-crime”, e que o princípio de não culpabilidade foi ferido e que “colocou-se em segundo plano o fato de o paciente ser primário e possuir bons antecedentes. (…) A esta altura, sem culpa formada, o paciente está preso há 6 anos e 7 meses. Nada, absolutamente nada, justifica tal fato”.

A liberdade concedida ao goleiro Bruno está condicionada à “necessidade de permanecer na residência indicada ao Juízo, atendendo aos chamamentos judiciais, de informar eventual transferência e de adotar a postura que se aguarda do cidadão integrado à sociedade”.

Analisando o arcabouço legislativo brasileiro, trata-se de decisão correta, uma vez que, no Brasil, a prisão antes do trânsito em julgado da condenação é medida extrema que somente deve ser utilizada em casos excepcionalíssimos.

Possivelmente, não fosse caso de atleta famoso e grande repercussão, a liberdade já teria sido concedida anteriormente, pois prisão preventiva por sete anos afronta fortemente dispositivos constitucionais e do Código Penal.

O atleta poderá agora retomar a carreira, entretanto, necessitará de autorização judicial para eventuais viagens, o que espera ser concedido a fim de que se atinja a ressocialização tão eloquentemente desejada nos tempos atuais.

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Entendendo algumas nomenclaturas do Morfociclo Padrão

Após o primeiro artigo que contextualizava uma pequena introdução da Periodização Tática, dúvidas brotaram nos leitores, especialmente em algumas nomenclaturas da última versão do Morfociclo que o Prof. Frade criou com sua sabedoria peculiar. Isso prova, cada vez mais, que a Periodização Tática é uma metodologia que não está estacionada. Ela se transforma para saltos qualitativos constantemente, e como o Morfociclo é o núcleo duro do processo, que dá ritmo e morfologia diária e semanal para desenvolver a construção do jogar, seu correto entendimento é crucial.

Quando a Periodização Tática começou a alavancar e avançar nos quatros cantos do mundo, muitas opiniões foram levantas acerca do Morfociclo. Automaticamente vários modelos foram passados e criados sem fidedignidade à lógica processual, ocasionando assim diversos desvios conceituais.

Primeiramente, as pessoas devem entender que o Morfociclo é uma espécie de fractal de todo o processo. E é uma coisa relativamente simples, mas lida e levada às últimas consequências, é extraordinariamente complexa, porque aquilo é uma representação.1

A Periodização Tática desde o primeiro dia da temporada se preocupa com a aquisição de um jogar, visando a habituação paulatina de um coletivo a uma invariância conceitual (macro) e metodológica (Morfociclo Padrão). (Maciel).4 É está habituação que possibilita que a equipe estabilize os seus desempenhos sem os cristalizar, mesmo quando a densidade competitiva se acentua, visto que existe um fio condutor (um sentido com sentido que dá sentido a equipe) ao longo de todo o processo. E daí eu lhe dizer que o que você tem que fazer logo na primeira semana é o Morfociclo ser idêntico ao de todas as outras semanas.4

E o Morfociclo é levado a efeito, portanto, com o quê? Com os princípios metodológicos. Os exercícios, o jogo no início, não é começar a jogar de uma forma menos complexa, é não ser possível a máxima qualidade, mas que isso vá acontecer ao longo de todas as outras semanas, portanto não é primeiro que temos que ganhar resistência, etc, etc.1

Isso resulta da conjugação sistemática na atuação dos três princípios metodológicos, que funcionam num padrão de conexão. Padrão de conexão que é salvaguardado pela presentificação semanal do Morfociclo. Ora, o padrão de conexão ou de utilização destes três princípios é que leva a concretização metodológica da especificidade, isto é, a presentificação semanal ininterrupta do Morfociclo.1

A presentificação sistemática dos princípios metodológicos se assume como uma invariância metodológica, no caso da Periodização Tática a repetição sistemática é fundamental, e esta se consubstancia pela presentificação continuada do Morfociclo.4

O Morfociclo é o núcleo duro de todo o processo, uma espécie de representação micro da metodologia de treino que lhe está subjacente. Visa criar, pela repetição sistemática da sua forma, uma adaptabilidade concreta, específica do jogar que se pretende.2 É concomitante o responsável pela articulação de sentido entre a ideia e o processo, tendo como fim o alimentar do crescimento de uma forma de jogar positiva, e o garantir da concreta dinamização da relação desempenho recuperação, para que a equipe se apresente fresca e espontânea em cada momento de competição.2az

O entendimento do que é o Morfociclo e o porquê de ser padrão é condição fundamental para que se consiga mergulhar a fundo num enquadramento conceitual e metodológico que rompe claramente com o convencional.2

Sabendo de todos os níveis e dimensões que estão dentro dele, que acendem um escopo complexo de informações para dominar e colocar em prática na operacionalização diária, o correto entendimento das nomenclaturas usadas pelo Prof. Frade pode ajudar mais ainda. Evidente que apenas saber a nomenclatura e não ter a divina proporção aliada a divina sabedoria e a divina sensibilidade na hora de operacionalizar de nada adianta. É preciso entender a lógica.

Dessa forma, após alguns comentários dos leitores, solicitei a opinião do meu amigo Miguel Lopes para pautar ainda mais o meu entendimento e sanar essas dúvidas geradas em cima dos termos “Agilização Analítica”, “Agilização Jogada”, “Fundamental Jogo” e Densidade 3/4 e 1/4. Miguel Lopes é atual Treinador adjunto do FC Vizela da II Liga Portuguesa.

Abaixo o Morfociclo e os conceitos:

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(Imagem retirada dos textos do Prof. Frade)

 

Agilização Analítica: refere-se a movimentos que levem ao alongamento do músculo em condições semelhantes ao jogo. O jogo anterior e o que se faz no treino leva a um encurtamento do músculo como mecanismo de defesa da integridade do mesmo, portanto, perda de amplitude articular, perda de agilidade também e a realização desses alongamentos dinâmicos como forma de restituir funcionalidade e prevenir encurtamento crônico.

Agilização Jogada: são os exercícios de treino. Em função do dia da semana. Mas é uma agilização entendida não no plano estritamente físico/fisiológico. Daí agilização JOGADA. Recuperas a fazer a mesma coisa, mas com proporções diferentes de tempo e de recuperação. Seja num 11×11 seja num meinho ou num pé-vólei. Repara, mesmo na recuperação… Imagina que fazes um pé-vólei no primeiro treino da semana. Se a rede tiver 1 metro de altura ou 1,5 metro, é completamente diferente. Com 1,5 metro e se, por exemplo, só for permitido jogar com os pés (sem peito, coxa ou cabeça) joga-se em largura, profundidade e volume. Os pés andam muitas vezes acima do nível da anca. Ora, isto comporta uma certa amplitude nos movimentos. Se a rede for mais baixa já é diferente, e pode-te interessar em certas alturas…

Fundamental Jogo: se prende com a necessidade de recuperar em circunstâncias o mais semelhante possível ao jogo. Mas com garantia de uma incidência ajustada. Porque repara. Se recuperas, por exemplo, como eu faço muitas vezes, com um torneio de 3×3 com dois jokers na profundidade é por algumas razões. Primeiro, escolho 3×3 porque é o número de jogadores em que a distribuição das solicitações de cada um é mais aproximada e é ao mesmo tempo mais variada. Se for 4×4 há um que joga mais por trás e os seus deslocamentos são sobretudo lateralizados, depois os que jogam aos lados mais à frente e atrás… Num 3×3, e sobretudo com joker na profundidade os “esforços” distribuem-se muito mais homogeneamente e com grande variedade (frente, esquerda, diagonal, direita, atrás…). E como sou eu que faço o calendário do torneio (todos contra todos), os que jogaram mais tempo no fim de semana recuperam mais tempo entre jogos (se for 30 segundos cada jogo recuperam por exemplo 3 minutos),isto é, há sempre duas jornadas entre cada vez que jogam, ou sejam, jogam, descansam, descansam, jogam, descansam, descansam, jogam… Se “perderem” 30 segundos na entrada/saída dos jogadores do campo entre cada jogo, consegues perfazer os tais 3 minutos de recuperação entre jogo… E os que não jogaram têm os jogos mais seguidos, por exemplo, jogam, descansam, jogam, descansa,, jogam, jogam… Só para dar um exemplo…

Densidade 1/4 e 3/4: tem a ver com os tempos de execução-recuperação. Como são dias de incidência “individualizada” tens de criar as condições para garantir esse rácio. Se dura 10 segundos, recupera, pelo menos, 30. Na quinta não existe um referencial porque não é um dia que “contemple” a recuperação do que se fez antes. É um dia que, sendo menos do que um jogo, tem uma solicitação muito semelhante. Agora, é tudo seguido, sem pausas? Não. Mas penso que não faz sentido estabelecer um tempo mínimo tal como acontece nos dias de incidência “individualizada” porque contemplam o lado da recuperação do que se fez antes, seja do jogo (ao domingo), seja do treino (de quinta). Nesses dias, se assim não for, com esse tempo mínimo, comprometes a recuperação e logo, a equipa vai vacilar! Isso quer dizer que, na quarta e na sexta, 3/4 do treino é virado estritamente para a recuperação. Como? Jogando/ agilizando. Mas é importante que na agilização jogada não criares situações de grande desgaste. E, sobretudo, apelando muito ao tal espírito de “futebol de rua” com o prazer e a afetividade muito presentes. Porquê? Porque também sabemos que num contexto de prazer o teu corpo recupera “das feridas” mais rapidamente. Isso tem a ver com o teu sistema imunitário. Para permitir a recuperação do jogo (na quarta) ou a recuperação do treino de quinta (no caso da sexta). O 1/4 é o lado aquisitivo da sessão. Na quarta-feira é criares uma situação que te garanta que cada um deles individualmente é solicitado na máxima extensibilidade/tensão do músculo. Mas com a máxima extensibilidade tens de ter muito cuidado. Poucas repetições e não é a mesma coisa eu fazer 4 ou 5 vezes a agora ou fazer 2 agora e duas mais tarde com uma agilização jogada pelo meio (que é o que o professor sugere). Na sexta-feira, a mesma coisa mas com situações que levam o jogador à máxima velocidade.

A compreensão das nomenclaturas e sua operacionalização, que através de uma força vinculante com outros elementos, não meramente programática e pragmática, orienta relações e dirige condutas dando seguridade, expectativa, fluidez e ritmo ao processo, originando cenários ideais de desempenho-recuperação.

Portanto, é um desempenho caracterizado pelo processo, o que não é um futebol qualquer, mas com determinadas características. Ou seja, um ciclo com conteúdo concreto relativo a cada jogar, preenchido com formas nos diferentes dias que presentifica diariamente sua intencionalidade.3 

 
 
BIBLIOGRAFIA:
1 – FRADE, VITOR. Periodização Tática: fundamentos e perspectivas. Entrevista realizada a Paulo Henrique Borges. Conexões, 2015.
2 – AMIEIRO, NUNO. Os exercícios de treino aos Olhos do Enquadramento Conceptual e Metodológico da Periodização Táctica. Textos Professor Vitor Frade, 2017.
3 – MACIEL, JORGE. À volta e às voltas com a noção de Modelo de Jogo…Complexo e em Complexidade. Curso UEFA A: Tese Final, 2016.
4 – MACIEL, JORGE. Estratégia?! A minha avô sempre me dizia: “cuidado não confundas o com as calças”. Textos Prof. Vitor Frade, 2017.

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Direitos e deveres de transmissão

Temos hoje no Brasil uma ampla oferta de futebol distribuído entre diversas emissoras de TV aberta e fechada. Além da gigante nacional Globo, também proprietária do SporTV, e que comanda os direitos de transmissão do futebol brasileiro há décadas, também temos grandes grupos globais de mídia, como ESPN (Disney), FOX e Esporte interativo (Turner), transmitindo os principais campeonatos disputados ao redor do planeta.

Na Europa, essa disputa proporciona cifras cada vez mais bilionárias aos clubes. O contrato da Premier League gera uma receita estimada em 10,4 bilhões de libras, algo em torno de 40 bilhões de reais. O novo contrato da Bundesliga renderá 4,64 bilhões de euros, aproximadamente 15,2 bilhões de reais. Como parâmetro, o Aston Villa, último colocado da temporada 2015/16 na Premier League, faturou 66 milhões de libras, mais de 250 milhões de reais. Nenhum clube do Brasil conseguiu faturar a metade do que o pior time da 1ª divisão inglesa.

Mesmo assim, o Campeonato Brasileiro também terá um incremento razoável em suas receitas de direitos de TV. Em 2016, o mercado se movimentou com negociações iniciadas pelo Esporte Interativo com cada clube, impulsionado pelo investimento do Grupo Turner. Alguns clubes optaram por fechar acordo com o Esporte Interativo, como Palmeiras, Santos, Internacional, Atlético Paranaense, Coritiba e Bahia. Outros acertaram novos contratos com a Globo, como Corinthians, São Paulo, Flamengo, Fluminense, Cruzeiro e Atlético Mineiro, sendo que a empresa precisou subir o patamar de valores para não perder os direitos para o seu novo concorrente.

Esses contratos só passam a valer a partir de 2019 e são válidos apenas para os direitos de transmissão de jogos em TV fechada, os chamados canais por assinatura. Os direitos de TV aberta prometem novos capítulos de disputa e, mais do que isso, não temos parâmetros do que ocorrerá nos próximos anos com a entrada de novos e gigantes players como Facebook, Twitter, Netflix e outros que surgem a cada novo dia.

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Foto: Reprodução/Youtube/ Fonte: zh.clicrbs.com.br

Já vemos claras demonstrações da entrada dessas novas mídias no esporte mundial. O Twitter já possui acordos para transmissão online com a NFL, MLB, NHL, além de realizar um programa exclusivo com a NBA. Fora dos Estados Unidos, o Twitter divulgou recentemente que transmitirá para a França o Torneio Six Nations de Rugby, tradicional torneio que reúne a elite desse esporte.

No futebol, o Facebook começou a transmitir jogos de menor expressão e, na semana passada, anunciou que transmitirá a Liga MX, principal campeonato mexicano. Inicialmente, os jogos serão transmitidos na página do Facebook, do canal de TV Univision.

No último domingo, o maior clássico do Paraná entre Atlético Paranaense e Coritiba, teria uma transmissão histórica pelo canal Youtube dos clubes de forma independente e gratuita, após ambos rejeitarem a proposta da TV Globo pelos direitos de transmissão do Campeonato Paranaense. Para assistir ao jogo, os torcedores precisariam somente se cadastrar na conta do Youtube de algum dos dois clubes.

Porém, antes do início do jogo realizado na Arena da Baixada com boa presença de público, a transmissão foi proibida pela Federação Paranaense, alegando que os profissionais responsáveis pela transmissão não eram credenciados. Após 45 minutos de espera, o jogo foi cancelado e os jogadores se uniram no centro do gramado para saudar os torcedores que aplaudiram a decisão de seus clubes em não jogar sem a liberação da transmissão.

A dependência dos clubes brasileiros pela receita de TV, muitas vezes realizada de forma antecipada para pagamento de suas dívidas, criou uma relação doentia e que possibilita decisões autoritárias como essa que arranham ainda mais a imagem do nosso futebol, visto como amador e desorganizado.

Por outro lado, a atitude tomada pelos dois grandes rivais paranaenses reacende a esperança que a união dos clubes seja a solução para o futebol brasileiro se tornar um produto melhor. O objetivo deve ser o trabalho em conjunto para assuntos de interesse mútuo.

A rivalidade deve existir dentro de campo e com a disputa sadia entre as torcidas. Fora dele, quanto mais unidos forem, mais forte serão individualmente.

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O jogo que não existiu

O jogo mais importante do futebol brasileiro em 2017 não aconteceu. Atlético-PR e Coritiba fariam clássico válido pelo Campeonato Paranaense no último domingo (19), na Arena da Baixada, mas a bola jamais chegou a rolar. As duas equipes, sem acordo com a TV Globo, resolveram transmitir a partida no Youtube e em seus sites oficiais. No entanto, a FPF (Federação Paranaense de Futebol) rechaçou a ideia e impediu o início do duelo. Aí seguiu-se a cena histórica: os atletas de ambos os times entraram em campo, fizeram uma saudação aos torcedores presentes e se retiraram.

Segundo a FPF, os jornalistas contratados pelas equipes para a transmissão não tinham credenciamento adequado. A presença de alguém não autorizado representaria uma ameaça à liturgia e à segurança do clássico, e havia um prazo mínimo de 48 horas de antecedência para a liberação dos profissionais. O confronto seria inicialmente narrado por uma equipe de uma rádio local, mas o Esporte Interativo liberou um time em cima da hora.

Aí começa a celeuma que motivou o cancelamento do clássico: o Esporte Interativo, turbinado pelo dinheiro do grupo de comunicação Turner, é hoje o principal rival da Globo na luta por direitos de transmissão do futebol brasileiro. Os dois grupos procuraram os principais clubes do cenário nacional, que negociam individualmente e fecharam com quem julgaram ser mais conveniente.

O Flamengo chegou a ameaçar não fechar com a Globo para a transmissão do Estadual do Rio de Janeiro. Atlético-PR e Coritiba bateram o pé e rejeitaram a oferta da emissora carioca – R$ 1 milhão para cada, ou um quarto do valor líquido que o canal paga ao Madureira-RJ na mesma temporada.

Existem duas brigas aí, portanto. Há uma questão Esporte Interativo x Globo, dois canais que brigam por um mercado similar e que tentam evitar uma inflação exacerbada nos valores praticados no futebol nacional. Também deve ser considerado um desgaste na relação entre os times paranaenses e o canal carioca. A Globo ofereceu R$ 6 milhões por todo o Campeonato Paranaense em 2017, 20 vezes menos do que paga pelo Estadual do Rio de Janeiro.

O Esporte Interativo, vale lembrar, diz não ter qualquer relação com o que aconteceu no último domingo. Segundo o canal, seus profissionais são normalmente liberados para trabalhos extraordinários e foi apenas coincidência que toda a equipe envolvida no clássico tivesse relação com a empresa. A Globo também se eximiu de responsabilidade – o editorial lido por Tadeu Schmidt no hebdomadário “Fantástico” foi o exemplo mais claro disso.

Em meio a isso, o papel mais patético foi o da FPF. O presidente da entidade, Helio Cury, deu uma série de entrevistas atribuindo aos jornalistas não credenciados a não realização do clássico. Disse que não podia permitir a realização de um evento sem que todos os profissionais presentes tivessem participação regulamentada e que a equipe não respeitou o prazo necessário para isso.

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Nas entrevistas, Cury deu aulas de intolerância, apreço pela burocracia e absoluta falta de talento para o debate. Em vez de conversar, expor argumentos e explicar a situação, o dirigente tentou criar um “nós x eles” e se mostrou constantemente pronto para atacar as pessoas em vez de se focar nos discursos.

Também chama atenção a reação do quarto árbitro do jogo. Em vídeo publicado pelo portal UOL Esporte, Rafael Traci informou a representantes dos clubes que o impedimento do jogo havia sido determinado por Cury e que era impossível permitir a realização de uma transmissão assim sem anuência da Globo.

As palavras de Traci desmontam grande parte dos argumentos de Cury e expõem o que já estava claro: não havia preocupação lícita ou qualquer senso de proteção. A FPF só optou por uma solução drástica, sem diálogo, para não comprar uma briga com um parceiro.

Pior ainda é a total ausência de posicionamento da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que até o momento não fez qualquer comunicação sobre o que aconteceu no Paraná. É uma crise grave, que envolve dois dos principais clubes do país e pode ter repercussão nos outros. Em vez de demonstrar preocupação, a entidade responsável pelo futebol em âmbito nacional se cala e finge que não é com ela.

De certa forma, todos os papéis nessa história emulam o que acontece em outros âmbitos. Os clubes, mesmo quando se unem, têm pouca força e esbarram no status quo. As federações, totalmente subjugadas, usam o jogo político para tolher a liberdade de seus filiados. E a CBF, de longe, finge que nada está acontecendo ou que o futebol nacional é um paraíso.

Tudo que aconteceu em Curitiba é reflexo de um dos principais problemas do futebol basileiro atual: falta unidade e inexiste coordenação nas ações de mercado das equipes nacionais. Seria muito mais simples resolver a questão se a venda de direitos de mídia fosse feita de forma coletiva, priorizando a competição em detrimento de marcas individuais. Seria tudo mais rápido se houvesse uma mesa em que todos os envolvidos pudessem sentar para debater a melhor solução para todos.

A crise no futebol brasileiro é política, mas também é de comunicação. Mesmo num momento em que dois rivais históricos conseguem mostrar unidade e pensam no bem comum, toda a estrutura envolvida no jogo mostra que o que vale é o individual. Cada um que brigue pelo seu.

No caso específico do clássico, também é triste que o arcabouço de problemas do futebol brasileiro jogue contra uma inovação mais do que necessária. A evolução do esporte – e de qualquer segmento – passa necessariamente pelo momento em que os clubes vão assumir o controle de suas mídias e vão se enxergar como produtores de conteúdo. O primeiro passo nessa direção poderia ter sido dado em Curitiba.

Uma crise como a que aconteceu no Paraná também é uma chance de reflexão. Todos os segmentos envolvidos no futebol brasileiro (clubes, atletas, treinadores, profissionais, torcedores, jornalistas e dirigentes, por exemplo) podem usar o clássico como provocação para tentarem entender seu papel no jogo e como podem contribuir para que isso não se repita. Ou podem apenas aceitar que é assim que a roda gira, mas terão de conviver com outros clássicos sem a bola rolando no futuro.

Já passou da hora de entendermos que as coisas precisam mudar (também) no futebol brasileiro. Já passou da hora de sermos menos permissivos. Se não servir para alterar toda a cadeia de relações no esporte, que o jogo que não existiu funcione ao menos como chamada ao debate.

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Comando efetivo na prática

Em todo início de temporada, podemos observar alguns clubes realizando suas apostas com a contratação de um novo comandante para seus times. Mas como aumentar as chances de resultado positivo em campo, apenas com uma mudança de comando e pouquíssima reformulação de elenco?

Acredito sinceramente que as competências técnicas dos treinadores dos principais clubes do Brasil, estão minimamente niveladas. Respeitando-se o nível de experiência em campo, que tem uma variação maior, até pela entrada de novos talentos no campo do treinamento do futebol, a questão do conhecimento em si, está bem equilibrado, no meu ponto de vista.

Então, o que me parece bem pertinente, é observarmos que o fator humano pode ser o grande diferencial entre os desempenhos dos times de futebol no Brasil.

O treinador que reconhece seu papel enquanto líder de pessoas, passa a ter a devida atenção com a necessidade de gerir esses talentos humanos, para cada vez mais poder extrair o que cada um pode dar de melhor no seu desempenho esportivo. Ignorar o diferencial do relacionamento humano enquanto gestor de pessoas, é deixar aberta uma lacuna importante e que pode levar ao baixo desempenho dos seus comandados, dentro de campo.

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John Maxwell, em seu livro Os 5 Níveis da Liderança, fornece informações valiosas para que os líderes de pessoas possam ter uma liderança efetiva dos seus liderados. E estas lições podem ser amplamente aplicadas no contexto do futebol.

Para colaborar com a nossa reflexão sobre o papel do treinador, enquanto líder de pessoas, vou compartilhar brevemente sobre os níveis apresentados por Maxwell.

  • Nível 1 – Posição. Este nível é o mais baixo, é o nível de entrada no jogo, onde a única influência do líder tem a ver com o título do cargo que ocupa.
  • Nível 2 – Permissão. Este nível se baseia totalmente nas relações, as pessoas seguem o líder por que querem.
  • Nível 3 – Produção. Este nível se baseia em resultados, aqui os líderes ganham mais influência e credibilidade e as pessoas passam a segui-lo por causa do que eles fazem para o resultado do negócio, esportivo ou não.
  • Nível 4 – Desenvolvimento de pessoas. Neste nível os líderes se tornam grandes, não pelo poder, mas devido a sua habilidade em capacitar as pessoas ao seu redor.
  • Nível 5 – Pináculo. Este nível é o mais alto nessa escala e o mais difícil de se alcançar. Neste nível, todo esforço é dedicado para desenvolver as pessoas a tornarem-se outros líderes de nível 4. Sendo que conseguir isso, exige uma dose de muito esforço e talento para elevar o patamar de seus liderados em suas escalas de liderança.

Bom, para nós, fica a reflexão sobre como nossos treinadores ainda podem ir além, nas suas capacidades de liderança, fazendo com que obtenham o diferencial competitivo que desejam ver de suas equipes, dentro de campo!

Até a próxima.

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Manipulação de resultados

O esporte se tornou uma grande indústria capaz de movimentar milhões de dólares e encantar multidões dispostas a consumir os produtos dos seus esportes e equipes favoritas. Uma das grandes forças que move essa “indústria da paixão” é a emoção gerada pelo inesperado.

Um problema capaz de levar essa indústria à falência e a perda de credibilidade do esporte em razão da manipulação de resultados que, na maioria dos casos, se dá por conta da máfia de apostas ilegais em um sistema globalizado.

Não há números oficiais, mas especialistas avaliam em um trilhão de euros o faturamento global das apostas, sendo que 85% são ilegais que corresponde mais do que o dobro do tráfico de drogas (400 bi, de acordo com a ONU).

A manipulação não se dá somente no resultado final das partidas, mas em “pequenos gestos” como levar um cartão amarelo, ceder um escanteio, perder um game específico.

Em regra, os corruptos são atletas frágeis, que aceitam até perder de propósito apenas para ganhar um upgrade numa passagem de avião, como já aconteceu com jovens tenistas de segunda categoria.

No escândalo do tênis, por exemplo, a mídia britânica mencionou montantes de no mínimo 50.000 dólares prometidos a jogadores que aceitariam manipular um jogo.

No futebol, ‘Calcioscommesse’, as ‘tarifas’ eram de 40.000 a 80.000 euros para uma partida de terceira divisão, e 250.000 a 400.000 euros para um jogo de Série A, segundo a procuradoria de Cremona.

A manipulação de uma partida de futebol pode custar de 2 a 5 milhões de euros, levando em conta a propina em si e os intermediários, para um lucro podendo chegar a 15 ou 20 milhões.

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Trata-se de uma luta difícil conseguir provas da culpabilidade dos envolvidos e a ausência de legislação específica, principalmente nos países asiáticos, dificultando ainda mais o trabalho das autoridades.

No intuito de combater a manipulação de resultados, a FIFA formou contrato com a Sportradar, empresa especializada na prevenção de manipulação de resultados, e utilizará seu sistema para identificar e analisar padrões ou comportamentos suspeitos nas apostas efetuadas em competições esportivas nacionais e internacionais de todo o mundo.

Segundo a entidade que administra o futebol no mundo, as atividades de vigilância serão realizadas em vários torneios, incluindo a Copa do Mundo e as Eliminatórias, a Copa das Confederações, os torneios olímpicos de futebol e todos os torneios de base, assim como vários campeonatos nacionais e competições do âmbito das confederações.

Será realizado, ainda, um trabalho didático-pedagógico de conscientização de jogadores, treinadores e comissão técnica, em um aplicativo a fim de que compreendam a importância de proteger a integridade do futebol e as repercussões das atividades fraudulentas, além de denunciar qualquer suspeita de maneira confidencial e anônima.

A luta está começando, mas as entidades administradoras do esporte estão atentas e, seguramente, encontrarão meios para extirpar a manipulação de resultados de nossos estádios, arenas, quadras e ringues.