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Futebol: do lúdico inclusivo à prática socializada e restritiva

Acredito que estamos todos e todas fartos de ouvir que “futebol não é coisa de mulher”. A afirmativa tem perdido força, seja por constrangimento dos interlocutores ou por uma real mudança de paradigma. Não saberia dizer. De qualquer forma, ainda há muito a se percorrer para atingirmos um consenso que, em última instância, revelaria naturalidade às mulheres nas práticas do futebol.

Como ainda estamos no patamar da desconstrução e busca de espaços, inauguro minha participação nesta zona de debate com uma hipótese que é, antes de mais nada, uma interpretação do real. Digo isso por não embasar minha teoria em parâmetros científicos, mas sim em observações do cotidiano e experiências pessoais.

Sou mulher e desde a meninice vivo o futebol. No pátio de casa, na rua, nos video games, na escola, na escolinha de futebol (praticada ao lado de meninos), no álbum de figurinhas, nas arquibancadas e, mais recentemente, como formadora de opinião e militante pela voz feminina no esporte.

De tanto experienciar e observar eu saquei, como se diz na gíria, que a infância é livre de pré-conceitos e restrições na sua manifestação maior: o brincar/jogar. Meninos e meninas se misturam em seus entretenimentos sem relativizações. Se houver a pergunta sobre o motivo dessa interação nata, a resposta está no fato de que, nesta etapa, ainda é o lúdico quem domina, não os valores.

Tomemos por base que a infância perdura até a idade dos 12 anos, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente. Neste recorte de faixa etária, não raro vemos moleques e molecas jogando bola livremente e em igualdade. Mesmo o infante em condições psico-sócio-econômicas instáveis e/ou problemáticas tem na satisfação dos desejos básicos e do jogar (brincar) sua grande preocupação.

A ruptura se dá justamente no primeiro aparelho socializador, a escola. Prontamente as mentes em formação são preenchidas de preceitos da moral, contratos de conduta e punições que regerão essa existência a partir de então. Para além do caráter dócil e de obediência, aprendemos que, naturalmente, há coisas que são de meninos e as que são de meninas.

Há séculos a soberania masculina é o nosso modus operandi social e eu poderia me debruçar nesta desconstrução. Temas para aprofundar não me faltariam: sociedades matriarcais (ou de direito materno) x sociedades patriarcais (ou de direito paterno); propriedade privada e valorização do masculino em detrimento do feminino; construção de gêneros; histórico de restrições e lutas das mulheres e etc. Mas, por hoje, quero somente dizer que o ato de jogar futebol é prática do corpo, portanto, manifestação espontânea e natural do homo sapiens.

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Cito o futebol porque é ele o motivo de estarmos aqui e por ser esta a conduta esportiva master do nosso tempo. Mas minha afirmação, a da aptidão nata para a prática, vai além do jogo de bola com os pés. Me refiro à prática física como um todo, diretamente relacionada às necessidades químicas do organismo. Registros não me deixam mentir, mostrando indivíduos organizados individual ou coletivamente em formas distintas de disputas e jogos diversos em conjuntos sociais muito anteriores ao nosso modelo. Ou seja, jogo é jogo muito antes da institucionalização das coisas.

Dado o panorama, volto ao ponto central deste escrito, o de apontar novos prismas a nós educadores, familiares e demais agentes ativos na construção humana e social de crianças e adolescentes. Em que momento os pré-conceitos de gêneros são incutidos na menoridade e o quanto corroboramos? O quanto reproduzimos verdades sem questionar suas origens e precisão? Quanto assumimos, enquanto cidadãos, e dividimos com as instituições as responsabilidades na formação das novas gerações?

As perguntas são muitas, assim como o tema é imenso. Por mais que tenha tentado ser breve, é bastante difícil não se perder nos tantos meandros dessa conversa. De qualquer forma, espero ter contribuído com este espaço criado pela Universidade do Futebol e, generosamente, cedido a mim e à Bola que Pariu para incitar o debate. Para as respostas surgirem, creio que antes o importante é levantar novos pontos de vista acerca das dificuldades que as mulheres encontram ainda hoje para praticar livremente o futebol, que é, na sua essência, para todos e todas.

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Olhando a manipulação das regras para construção de exercícios com outra visão

A construção de exercícios é um assunto de grande debate dentro do processo organizacional do treinamento. Além da manipulação de regras, tema da coluna, outras dimensões estão inertes na construção de exercícios, como: o espaço da área do exercício, o tempo total do exercício, a quantidade de jogadores, a quantidade de equipes, as quantidades de balizas fixas e móveis e o perfil da intervenção.

O treinador como modelador do processo, concomitante ao controle dessa conexão entre regras dos exercícios e outros elementos, deve perceber que cada realidade é única, e necessita de estímulos singulares para potencializar a equipe, pois além da cultura local, os jogadores são únicos e carregam uma memória neuro-motora passada precisando de nova configuração. Por isso, diagnosticar o contexto, entender os problemas diários transformando em exercícios peculiares, é a grande tarefa do treinador.

Da mesma forma, vários debates são levantados acerca da construção de exercícios, quanto a sua Especificidade, Representatividade e Fidedignidade. O entendimento desses três critérios facilita a operacionalização do nível informacional e a manipulação de regras, que sem sombra de dúvidas, tornam o exercício mais contextual; especialmente por que alguns exercícios utilizados em outras realidades, outros momentos, copiados ou até mesmo criados, podem não ser verdadeiramente contextuais a realidade futura desenvolvida.

E cada realidade oferece manifestações e potencialidades pedagógicas próprias, seja para abastecer ou limitar determinada aprendizagem com suas consequências estruturais e funcionais. Dessa forma, que tipo de regras pode-se manipular em cada atividade? Quais são mais significativas? Regras em excesso podem mecanizar os jogadores e a forma de jogar? Até que ponto a regra tira a direção e o sentido do jogo e do jogar? Há tipos de regras mais propícias para um determinado período do ano ou um perfil de jogar pretendido? Como atingir um equilíbrio dinâmico utilizando regras? E quais os estilos de regras mais utilizados?

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Nesse sentido, alguns estilos de regras são apresentados abaixo:

Regras Técnicas: limitações em quantidades de passes, passes com determinadas superfícies do pé e limitações com demais fundamentos gerais do jogo (condução, recepção, dribles, finalizações, desarmes ou interceptações).

Regras de Espaço tradicional: espaços demarcados como zonas e faixas que os jogadores ficam presos ou espaços marcados para que os jogadores realizem tarefas distintas.

Regras de Tempo tradicional: limitação na quantidade de tempo para execução de uma determinada interação, seja para concluir ao gol, para retirar a bola de um espaço, ganhar espaço com saídas setoriais do bloco, recuperar a bola ou reorganizar o bloco defensivo.

Regras de conceitos: na construção do exercício, é delimitado que toda interação aconteça com o objetivo de desenvolver um determinado conceito com liberdade decisional, ou um determinado conceito restrito, obrigando os jogadores a realizarem as mesmas interações e mesmo exercício indicando outras probabilidades.

Regras de relações forçadas: criação de relações grupais ou inter-setoriais que fazem os jogadores no exercício desenvolver apenas uma determinada situação. Também pode ser num contexto fechado ou liberto.

Regras de superioridade: exercícios que utilizam superioridade numérica internamente ou externamente ao exercício podendo ser muito variada.

Regras de pontos a serem atingidos: objetivos traçados no treinamento, por mecanismos criados, que ao serem cumpridos, são colocados pontos de recompensa para os jogadores irem somando individualmente ou por equipe.

Vendo algumas possibilidades das regras acima, alguns questionamentos são realizados: como achar o equilíbrio e não condicionar a equipe com a manipulação das regras? O excesso de regras pode mecanizar e fixar a construção dos exercícios, o que automaticamente mecaniza a forma de jogar?

É notório que dentro do jogo, as relações construídas, as oposições do adversário, vão além da manipulação das regras de um exercício. O jogo é muito maior que isso. O jogo geral já possui regras pela sua natureza, e o jogar pretendido também possui interações que já arrastam suas regras naturais. Dessa forma, não seria de maior relevância treinar pelo jogo que se pretende jogar criando regras interativas e não apenas pelas regras isoladas?

Com as regras bem contrabalançadas, direcionadas para interações construídas para o jogar pretendido, pode-se ter ganhos consideráveis e exercícios realmente contextuais. Em contrapartida, o excesso de regras, a rigidez, podem tirar as interações naturais dos jogadores, a independência, a capacidade de decidir e criar um jogo fantasioso/mecanizado.

É do entendimento de todos que o excesso de regras pode dificultar a realidade do jogo e o aprendizado dinâmico. Ainda mais, se o cenário de aprendizado criado indicar situações iguais. Isso limita a tomada de decisão, que ao final faz o jogador entender muito bem o discurso, mas quase nada do percurso. O ambiente de caos-organizado que é o jogo pede diversidade de decisão e probabilidades.

Uma perspectiva para encontrar esse equilíbrio, é criar exercícios pela interação do tempo-espaço, transformando essas dimensões em movimentos intencionais curtos, médios e grandes, com a manipulação correta dos exercícios. Essa ideia cria condições com regras interativas nos jogadores, na equipe, referenciando critérios bem delineados. Portanto, organizar condições manipulando regras, é distinto de usar regras condicionantes para manipular situações.

Resumindo, o equilíbrio na manipulação das regras, permite a modelação da forma de jogar, juntamente com alternativas naturais dos jogadores e das conjunturas criadas. Como falado anteriormente, a rigidez na construção de um exercício pode tirar graus de liberdade imperativos que o jogo solicita. Isso fortalece que a única regra é ter cuidado com as regras. Que as regras não sejam o inicio, o meio e o fim, mas apenas o inicio das probabilidades do exercício e do jogo que a equipe ambiciona.

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O menino Jesus

A chegada de Gabriel Jesus ao Manchester City superou qualquer expectativa. E olha que as expectativas eram altas desde a confirmação da contratação do jovem brasileiro de 19 anos por 32,75 milhões de euros, a 3ª maior transferência da história de jogadores do Brasil para a exterior.

Em 4 jogos pela Premier League, anotou 3 gols e deu 1 assistência, sendo que no primeiro jogo entrou nos minutos finais, nos dois jogos seguintes foi considerado o melhor jogador em campo e no jogo dessa segunda-feira saiu machucado aos 14 minutos do primeiro tempo. A torcida já abraçou o brasileiro e é clara a esperança que se torne o maior ídolo desse clube multimilionário.

Fonte: John Sibley Livepic/Reuters
Fonte: John Sibley Livepic/Reuters

Gabriel Jesus talvez não seja o jogador mais cerebral, o mais criativo ou o típico goleador, mas tem características de um grande meia, é destaque atuando como atacante mais aberto pelos lados do campo e tem conquistado grande destaque sendo o principal homem dentro da área com gols e assistências.

Apesar desse sucesso, o jogador ainda não possui um assédio frenético de patrocinadores, algo que certamente mudará com a sua ida à Europa e com a aproximação da Copa do Mundo de 2018. O grande nome da seleção brasileira deverá ser Neymar, mas nesse início da Era Tite, o destaque tem sido o menino Jesus. Foram 5 gols e 4 assistências em 6 jogos disputados. Somente Pelé, o Deus do futebol, supera os números de Jesus.

O ranking dos jogadores de futebol mundial que mais faturam com patrocinadores pessoais é liderado pelo português Cristiano Ronaldo. Em 2016, recebeu 32 milhões de dólares, seguido por Messi com 28 milhões de dólares e Neymar com 23 milhões de dólares. O argentino Aguero, companheiro de time de Gabriel Jesus no City, aparece em 5º nesse ranking e faturou 7,5 milhões de dólares. Detalhe que o argentino perdeu a titularidade justamente para Jesus.

Segundo dados da Academia Store, loja oficial do Palmeiras, Gabriel Jesus foi o jogador que liderou a venda de camisas customizadas com o nome de jogador em 2016. Imagine então o potencial que terá com o Manchester City alcançando projeção mundial, especialmente no mercado europeu, norte-americano e asiático.

A grande pretensão do Citizens é conquistar o inédito título da Champions League. Gabriel Jesus pode ser fundamental para que o time convença dentro de campo, algo que é colocado em dúvida desde a chegada de Pep Guardiola. Muitos jogadores chegaram por cifras milionárias junto com o treinador catalão, mas os resultados dentro de campo não foram satisfatórios.

Obviamente, em sua carreira, Gabriel Jesus será crucificado quando não render o esperado dentro de campo e poderemos ver como ele lidará com essa pressão. Absolutamente todos os grandes ídolos, em qualquer modalidade esportiva, passaram por momentos de dificuldades e as maiores lendas sempre conseguiram se levantar ainda melhores do que antes. O potencial de Gabriel Jesus dentro e fora de campo é gigantesco!

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Já acabou o amor?

O futebol brasileiro tem capacidade singular, possivelmente única, de se equilibrar entre o imediatismo absoluto e a resiliência ludista. Trata-se de um ambiente em que às vezes é impossível dissociar euforia e tragédia, mas que sustenta uma estrutura morosa, destinada a manter o status quo. O mesmo esporte que cria heróis e vilões em menos de 90 minutos sofre para propor qualquer modelo alternativo a questões aflitivas há anos, como a falta de segurança nos estádios.

O avião que levava a delegação da Chapecoense para a decisão da Copa Sul-Americana caiu há menos de três meses. Desde então, acabaram as homenagens e terminou a paciência da torcida, que no último fim de semana já começou a cobrar o clube. Aceitamos, basicamente. E a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), diretamente responsável pelas atrocidades cometidas em viagens pelo continente, fez apenas uma mudança significativa: criou um dispositivo no regulamento da Copa Libertadores que a exime de culpa em casos similares.

Em menor escala, o São Paulo de Rogério Ceni, decepção na rodada inaugural do Campeonato Paulista, virou o jogo em sete dias: Contratou Jucilei e Lucas Pratto, lotou o Morumbi e goleou a Ponte Preta. O time não é tão ruim quanto sugere a primeira imagem ou tão bom quanto nos diz a segunda.

Há outras certezas em menos de dois meses. O Corinthians errou na montagem do elenco, o Atlético-MG melhorou, o Cruzeiro tem um meio-campo excelente, o Flamengo evoluiu, o Vasco retrocedeu, o Palmeiras vai sentir saudade do técnico Cuca, o Grêmio vai sentir saudade do meia Douglas, o Internacional vai sentir saudade do tempo em que contava com um elenco mais forte…

Seguimos buscando rótulos. Seguimos ignorando processos. Seguimos ignorando que o futebol é um jogo disputado por pessoas e que pessoas têm mais camadas do que os resultados de dois meses podem sugerir.

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Em contrapartida, não há imediatismo em questões verdadeiramente relevantes. No segundo mês de 2017, oito torcedores foram hospitalizados e um morreu após confronto de torcedores antes do clássico Botafogo x Flamengo, válido pelo Estadual do Rio de Janeiro.

A violência não é um problema apenas no futebol – ao contrário, como costuma dizer o sociólogo Mauricio Murad, esse é apenas um microcosmo que repercute questões sociais. No entanto, o que chama atenção nesse caso é o quanto convivemos bem com a inércia. Não há qualquer projeto ou iniciativa para mudar drasticamente o cenário. Não há qualquer cobrança por isso.

É extremamente difícil discutir a questão da violência envolvendo torcedores de futebol. No Brasil, por exemplo, há anos o problema é maior fora do que dentro dos estádios. As arquibancadas são mais seguras do que imediações e meios de transporte, por exemplo. Nem os horários dos conflitos tem relação necessária com a marcação das partidas.

Até pelo tamanho do problema, contudo, é inaceitável a falta de coordenação. Passou da hora de o Brasil ter um plano complexo, que envolva o poder público, as entidades esportivas e a iniciativa privada. Passou da hora de pensarmos em ações realistas, focadas, que tenham efeito prático na diminuição do problema.

Passou da hora de sermos tão imediatistas quanto as análises sobre o desempenho dos times. Se cobrássemos autoridades como fazemos com treinadores, a perspectiva poderia ser diferente há tempos.

Essa reação é um exercício de comunicação. Da definição das estratégias à prestação de contas de cada etapa, precisamos urgentemente de um plano que seja convergente e que tenha rápida aplicação. O futuro não imediato do nosso futebol depende disso.

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Alavancando as mudanças

Somos pessoas envolvidas em contextos de mudanças, isto é um fato em nossas vidas. No futebol essa questão tem igual importância para os atletas e, partindo desse pressuposto, como nos prepararmos minimamente para as mudanças que precisamos empreender em nossas carreiras para ter sucesso?

Falando em mudanças, de acordo com o Dicionário Aurélio, uma mudança pode ser definida como: “o ato ou efeito de mudar, alterar ou modificar. Sendo que uma mudança ou transformação pressupõe uma alteração de um estado, modelo ou situação anterior, para um estado, modelo ou situação futuros, por razões inesperadas e incontroláveis, ou por razões planejadas e premeditadas”.

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Neste instante é importante perceber a importância desta definição! Quando um atleta é impactado por uma mudança, qual fato gerador você acha que é mais fácil para ele se adequar e responder de forma satisfatória: algo inesperado e incontrolável ou algo planejado e premeditado? Acredito que talvez tenha respondido algo planejado e premeditado, certo? As duas irão acontecer na vida de um atleta, porém em proporções diferentes.

Se o atleta não se acostuma a fazer suas escolhas de acordo com seus valores, crenças e propósitos de vida, ele provavelmente estará sendo levado pela vida. Assim, o número de mudanças inesperadas e incontroláveis será predominante e ele terá a sensação de que sua vida não pertence a ele mesmo. Seguindo uma vida na qual o atleta toma as decisões, assume os riscos pelas suas escolhas e as faz de forma consciente, ele provavelmente poderá vivenciar um número muito maior de mudanças planejadas, o que poderá contribuir muito para a sua realização pessoal e profissional, pois sentirá o prazer de pilotar sua própria vida.

Um fato adicional que impacta o contexto de mudanças que acontecem para todos nós, está na situação de que todos queremos a mudança de alguma situação, mas contraditoriamente vivemos uma vida inteira na expectativa de que esta mudança comece pelos outros ou de fora para dentro, isto gera uma situação de estagnação e lamentação com a vida. Neste momento, tanto o atleta quanto cada um de nós precisaremos de mudanças nas atitudes e comportamentos para obter novos resultados.

Aí então, fica a pergunta: como promover mudanças positivas e sustentáveis na vida de um atleta? A resposta pode estar na mudança de comportamento! Para esclarecer, podemos enfatizar alguns aspectos do comportamento e da aprendizagem, existentes no processo de mudança comportamental, que podem nos transmitir a percepção de que este processo funciona na prática:

  • Grande parte do nosso comportamento humano é aprendida;
  • Todo comportamento resulta em uma consequência positiva ou negativa para o indivíduo e aqueles que o cercam;
  • Com o processo de mudança comportamental é possível:
    • Definir o status atual do indivíduo e seu progresso de desenvolvimento em seus comportamentos e não através de traços e estilos de personalidade;
    • Especificar o comportamento desejado;
    • Medir o comportamento desejado;
    • Explorar os valores principais, motivação, crenças e emoções, que possam resultar numa mudança comportamental significativa;
    • Avaliar comportamentos escondidos (crenças limitantes, ansiedade etc.) e sua relação com atitudes percebidas (ex. dificuldade para falar em público);
    • Descobrir e avaliar eventos emocionais;
    • Avaliar eventos ambientais e suas interações com o comportamento e o ambiente;
    • Empregar técnicas comportamentais validadas;
    • Fornecer estratégias de monitoramento e sustentabilidade da mudança.

Para finalizar, é importante lembrar que toda e qualquer mudança ou transformação nas pessoas só realmente acontecem quando geramos compromissos com a mudança, o que pode acontecer através do valor percebido por ela no estado futuro desejado.

Até a próxima!

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Pré-temporada e suas repercussões

Abordar essa temática, independentemente do cargo da comissão técnica ocupado, é sempre uma boa reflexão. Por isso, como treinador e curioso (quem só sabe de futebol, de futebol pouco sabe), me sinto desafiado em entender melhor as repercussões da pré-temporada. Convidei para me ajudar na confecção do texto dois profissionais de grande nível (Wanderley Brilhante Júnior e Dênis de Lima Greboggy), ambos com conhecimento de fisiologia e metodologias de treinamento. Também colhi a opinião de três grandes profissionais e preparadores físicos (Marcos Cézar, Eduardo Frazilli e Fernando Rossini) para balizar com mais propriedade a coluna.

A famosa pré-temporada é o inicio da época fundamentada na distribuição das sessões de treinamentos iniciais durante um período de 20-30 dias. Esse tempo é disponível para as equipes no Brasil, haja visto o calendário apertado, em que, comissões técnicas se mobilizam para difundir seus conteúdos, proporcionando condições adequadas para o inicio das competições.

Num passado não muito distante, ainda atual, as pré-temporadas eram idealizadas como campos de guerras que visavam apenas preparar fisicamente os jogadores para o restante da temporada. Dois a três turnos por dia, trabalhos de atletismo e halterofilismo, realmente, um grande campo de guerra. Muitos trabalhos realizados sem controle, com possibilidade de inúmeras lesões, e até mesmo problemas de saúde geral. Resumindo, uma preocupação obsessiva com a dimensão física, buscando provocar um “lastro físico” que “seria suficiente” para sustentar a temporada toda.

Pré-temporada do Internacional/ Fonte: Arquibancadacolorada.com.br
Pré-temporada do Internacional/ Fonte: Arquibancadacolorada.com.br

 
 
Time do Grêmio em pré-temporada (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)
Pré-temporada do time do Grêmio (Foto: Eduardo Moura/Globoesporte.com)

Algumas novas formatações, com trabalhos físicos mesclados com a bola para gerar um efeito placebo, foram aparecendo mas ainda muito focados na dimensão física e na expectativa que a pré-temporada só sobrevivia com estímulos físicos agressivos ou com a sobre-solicitação das vias energéticas, especialmente a aeróbica. Um pouco mais a frente, trabalhos com bola em formato de jogos reduzidos ganharam popularidade, aliados com outros trabalhos um pouco mais próximos do jogo, mas ainda voltados para medir parâmetros físicos gerais, o que de certa forma mantém a ideia fracionada.

Foto: Alexandre Vidal - Fla Imagem/ Maiortorcida.com
Foto: Alexandre Vidal – Fla Imagem/ Maiortorcida.com

Isso traz a tona uma questão já amplamente discutida: a dissociação das dimensões do jogo, priorizando a dimensão física exageradamente neste inicio de época.

Desse panorama, alguns questionamentos são feitos: pode apenas adaptações físicas garantir o rendimento da equipe ao longo da temporada por meio da pré-temporada? Caso garantam, em que momento as ideias de jogo atuam?

Várias respostas podem ser dadas, mas está claro que ao treinar apenas fisicamente desde o primeiro dia, se negligencia outras relações e interações preponderantes.  E o que se vê, especialmente nos dois primeiros meses, são equipes desorganizadas, e que, ironicamente e invariavelmente, se cansam. Mas porque, se os jogadores treinaram 20 dias fisicamente?

Por exemplo, estudos têm mostrado que o músculo esquelético possui os chamados mionúcleos e células satélites, que ajudam a acelerar o processo de ganho de massa muscular após períodos de destreinamento. Então, o excesso pode ser prejudicial? Será que pode gerar adaptações funcionais e estruturais em todos os níveis e relações do jogar treinando menos e treinando a forma de jogar desde o primeiro dia? Poderia esse argumento auxiliar na pré-temporada dos clubes?

A dimensão física é apenas a expressão das ações que faço, quem sabe a mais visível e palpável. E o treino físico geral cria acomodações para determinada ação (corridas intervaladas ou contínuas, por exemplo), melhora os estoques de fosfagênios, as respostas enzimáticas, as concentrações de metabólitos, entretanto, o jogo é muito mais que isso, e o jogar que se pretende, se existir uma ideia, também.

Então, a quantidade e variabilidade das interações do jogar e do jogo em ambiente de caos-organizado-interno-externo modifica totalmente o cenário, trazendo fadiga precoce, queda de desempenho (diminuindo a capacidade de manter ações em quantidade e qualidade), muito em função da falta de desenvolvimento da forma de jogar desde o primeiro dia da época. É uma questão de habituação e adaptabilidade. Assim, a dimensão física específica, que nada mais é que uma habituação da forma de jogar balizada pelas ideias de jogo, garante a eficiência, eficácia e fluidez de todas essas ações por mais tempo e com qualidade durante todo jogo.

Existem diversas possibilidades oriundas de metodologias de treinamento alicerçadas sob o pensamento complexo, não fragmentando treinamentos para determinadas dimensões, mas relacionando a adaptabilidade que se pretende, relevando momento (inicio de época), objetivos (introdutório de conteúdos) e metas (tempo para alcance da adaptabilidade estrutural-funcional e fisiológicas, ex. estrutural-funcional – construção da complexidade nas interações de determinado grupo de jogadores na organização ofensiva, ex. fisiológico – adaptações progressivas metabólicas e neuromusculares para provocar a variabilidade de ações ao atingir um jogar mais complexo).

Dentro dessa ideia, pode-se perceber o entendimento dos preparadores físicos abaixo:

Atualmente, entendo que ao ter uma equipe nova, esse período vai servir para conhece-la como um todo. Agora, se a equipe se manter, com poucas modificações, você vai dar continuidade àquilo que você vinha implantando e fazer os ajustes necessários. Diferente do que se pensava, não cabe mais a visão reducionista de pré-temporada, onde segmentava as dimensões. Hoje, desde o primeiro dia de trabalho, as atividades devem estar elaboradas para desenvolver o modelo de jogo, a filosofia de jogo que o treinador quer. Por isso, eu entendo que o preparador físico deve ter uma relação muito próxima do treinador, ter entendimento da dimensão tática e de metodologias diferentes. Também, se o atleta tiver desequilíbrios, embasados nas avaliações iniciais, pode-se individualizar alguns treinos complementares. Não consigo entender a pré-temporada como o período que os atletas carregam as baterias para época toda. É impossível construir qualquer tipo de desempenho apenas nesse período. Isso vai sendo adquirido durante toda temporada e os ajustes são feitos de forma semanal interagindo com o treinador. (Marcos Cézar, Preparador Físico da Categoria Profissional da Chapecoense)

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Acredito no viés sistêmico, em que todos os componentes são levados em consideração de forma conjunta e unigênita, servindo de base para o adquirir de um jogar específico e modelado que irá sustentar o modelo de jogo da equipe ao longo da temporada competitiva. Penso que a pré-temporada apresenta apenas este fim, uma vez que a tão sonhada “base fisiológica” fornecida pela pré-temporada que, de acordo com alguns serviria para a manutenção do desempenho do restante da temporada, não se aplica, tendo em vista os princípios da progressividade, especificidade e destreinamento inerentes ao processo da temporada competitiva. (Eduardo Frazilli, Preparador Físico da Categoria Sub 17 do Desportivo Brasil)

A primeira semana é adaptativa. Isso quer dizer que reduziremos o volume, mas a intensidade relativa será sempre máxima. As semanas ao longo do ano têm uma estrutura padrão bem semelhante. Mas por trás desta estrutura padrão teremos importantes progressões das cargas complexas de jogo. Trabalhamos após os testes inicias, desde o primeiro dia de treino do ano, atividades com bola que buscam sempre potencializar nossa forma de jogar. Estas atividades seguirão uma periodização ao longo do ano. O treino físico, técnico, tático estão juntos e ao mesmo tempo. Usamos atividades sem bola apenas no inicio do treino, como forma de ativação e duram em torno de 10 minutos, e nas sessões de força na academia, que geralmente são realizadas duas vezes na semana, desde a primeira semana de trabalho. (Fernado Rossini, Preparador Físico da Categoria Sub 20 da Ponte Preta)

Não existe certo ou errado no futebol, tão pouco se quer questionar metodologias de treinamento alicerçadas apenas sobre a premissa biológica, e muito menos diminuir a dimensão física, pois ela é sim importante. Sem dúvida, se for encarada de uma forma específica, sustentará o desempenho específico da equipe ao longo da época.

Ao longo dos últimos anos, as pré-temporadas vêm sofrendo evoluções qualitativas buscando se adequar ao calendário apertado, ao pouco tempo e as novas tendências do futebol. A busca e o entendimento de novas metodologias automaticamente respaldam novas intervenções.

Esse pensamento conecta o todo a tudo (complexidade) e exige sintonia fina entre o treinador e preparador físico. Então, antes de elaborar a pré-temporada, olhar para a forma de jogar, ver como ela se expressa e se desenvolve, é um bom caminho. Essa identificação capital favorecerá a otimização dos treinamentos, possibilitará melhores e mais consistentes adaptabilidades, e todos ganham no desenvolvimento desse processo, especialmente os jogadores e a fluidez da equipe precoce.

Abraços e até a próxima quarta.

 
 

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O lado oposto da bola

O continente africano vive assolado pela pobreza e explorado pelo chamado primeiro mundo, apesar da importância fundamental da África no processo evolutivo da raça humana e pela riqueza natural e cultural produzida para todo o planeta. Esse mesmo retrato é similar quando olhamos para o futebol.

Apesar de ter sido sede da Copa do Mundo da África do Sul em 2010 e haver a expectativa de alguma seleção africana conquistar um título mundial nas últimas três décadas, ainda não pudemos assistir esse sucesso se concretizar, sendo que nenhum país do continente jamais chegou a fase semifinal em uma Copa do Mundo da FIFA.

A organização do futebol nos países africanos é muito precária e amadora. De lá, saem grandes jogadores de extremo talento que ganham muito destaque nas principais ligas europeias, mas que praticamente não geram nenhuma receita financeira aos clubes e campeonatos locais.

Nesse último domingo foi realizada a final da Copa Africana de Nações entre os dois países com maior número de títulos, Camarões e Egito. A seleção de Camarões conquistou o seu 5º título com a vitória de virada por 2 x 1, enquanto o Egito permanece como o maior campeão com 7 troféus conquistados.

O torneio é cercado de polêmica por ser jogado no início do ano e que coincide com a metade da temporada europeia, então é comum ver jogadores importantes da Premier League, Bundesliga,  La Liga e demais ligas do continente europeu desfalcarem seus times por algumas semanas para representarem as suas seleções, bem como ver jogadores recusarem a convocação de seu país para permanecer no clube que investiram em seu potencial e que garantem a qualidade de vida que muitos jamais imaginaram existir.

O evento não teve transmissão de nenhum canal de televisão brasileiro e isso reflete um pouco a falta de importância e destaque dado por todo o mundo. Também houve pouco interesse de empresas na competição, sendo que somente foram negociadas duas cotas de patrocínio.

A francesa petroquímica Total foi a principal patrocinadora. A empresa é a quarta maior do mundo em seu segmento e possui interesse estratégico no continente africano pelo fato do território ser responsável pela produção da maior quantidade de petróleo da companhia entre todas as regiões em que está presente no mundo.

A outra patrocinadora é a empresa de telecomunicações Orange, também de origem francesa e que possui maior presença em países do continente africano do que na própria Europa. A Orange era a principal patrocinadora do torneio até a edição passada realizada em 2015, na Guiné Equatorial. A empresa está presente em 19 países africanos, número maior do que na própria Europa, onde atua em 13 territórios.

Hoje é impossível imaginar qualquer desenvolvimento esportivo em uma região onde a maioria dos países não possuem nem mesmo a mínima condição de subsistência. As preocupações prioritárias em busca de uma condição mínima de bem-estar social passam por cima de qualquer outra necessidade. Permanece, particularmente, o sonho de assistir a África e a sua alegria contagiante também conquistar um papel de destaque no futebol e esporte mundial, digno de sua importância para a história de todos nós.

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Os riscos da primeira impressão

É extremamente difícil evitar a euforia ou lutar contra os rótulos em um ambiente como o futebol. Um lance pode mudar drasticamente a percepção em torno de um jogador ou de um time inteiro. No início da temporada 2017, há vários exemplos que colocam isso em pauta: como definir quais impressões superficiais podem servir como parâmetro?

Um exemplo perfeito sobre essa esquizofrenia é o São Paulo. A temporada começou com goleadas em amistosos e com o título da Florida Cup, competição amistosa disputada nos Estados Unidos. No último domingo (05), contudo, a estreia no Campeonato Paulista não foi nada auspiciosa: derrota por 4 a 2 para o Audax, resultado que levantou uma série de questões sobre o time e o início do trabalho do agora técnico Rogério Ceni.

Afinal, o São Paulo é o time que goleou nos primeiros jogos ou o time que foi goleado no domingo? A resposta, como costuma acontecer em discussões assim, é algo entre os dois extremos. O trabalho de Ceni ainda é incipiente demais para ser avaliado, e ainda que fosse consolidado mereceria algo além de uma análise tão binária.

Ceni tenta incutir no São Paulo uma proposta diferente de jogo, e mudar conceitos sempre demanda uma série de adaptações. Esse processo jamais ocorre sem percalços, e é fundamental que todos os envolvidos (jogadores, comissão técnica, dirigentes, jornalistas e torcedores, por exemplo) entendam isso.

A lógica também pode ser aplicada ao Grêmio, ao Atlético-MG, ao Vasco, ao Palmeiras, ao Corinthians, ao Santos ou a tantos outros times que têm oscilado muito no início da temporada. Não é possível tirar qualquer parâmetro do que tem acontecido nas primeiras rodadas dos estaduais ou dos regionais.

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Tampouco é possível admitir empolgação. O Flamengo e o Fluminense, times de bom início em 2017, são apenas isso: times de bom início. É possível que ambos evoluam a ponto de se tornarem equipes equilibradas e de bom nível, mas também é possível que algo dê errado no meio do caminho.

É a lógica que acontece com Gabriel Jesus, atacante de 20 anos que tem sido a grande notícia do futebol brasileiro em 2017. Revelado pelo Palmeiras e negociado com o Manchester City em agosto do ano passado, o camisa 33 debutou na equipe inglesa e rapidamente se tornou um dos principais xodós do elenco. No último domingo, marcou dois gols e decidiu a vitória sobre o Swansea.

Torcedores, jornalistas e até o técnico Pep Guardiola, já fizeram elogios efusivos a Jesus. O atacante realmente chama atenção pelo repertório técnico e pela postura – parece não se deslumbrar ou se incomodar com as coisas que acontecem rapidamente em sua carreira.

É impossível não lembrar de Alexandre Pato, atacante que foi craque antes de ter sido. No dia em que estreou entre os profissionais do Internacional, o jogador foi cercado por um batalhão de gente e tratado como estrela sem sequer ter tocado na bola. A situação ficou ainda mais insólita depois de ele ter sido o grande destaque em uma vitória sobre o Palmeiras.

Aquela tarde em São Paulo criou um Alexandre Pato que nunca existiu. O atacante jamais deixou de ser um jogador de talento, mas também não se tornou o astro que algumas pessoas correram para dizer que existia ali. Talvez os holofotes tenham atrapalhado, mas há uma série de outras possibilidades. Quem pode dizer com exatidão o que vai acontecer no futuro de um jovem que tem menos de 20 anos?

No fim, a lição que todos esses exemplos oferecem é a mesma: a vida pode ter muitos desvios e não depende apenas de aspectos como talento ou dedicação. Tudo (absolutamente TUDO) pode influenciar no desempenho de um atleta ou na construção de uma carreira.

Por isso é tão difícil fugir dos rótulos. Existe uma tendência natural de enxergar a vida com uma perspectiva maniqueísta, de separar pessoas entre boas e ruins, de taxar atletas como craques ou imprestáveis. Isso permeia o processo de construção de comunicação, evidentemente, e perpassa todas as etapas – dos atletas, dos times e dos campeonatos, por exemplo.

Evitar rótulos é um desafio, mas também define um processo alicerçado e bem fundamentado. Os times brasileiros não são apenas o retrato do que aconteceu nos dois meses de 2017. Gabriel Jesus não é apenas o que aconteceu nos primeiros jogos dele com a camisa do Manchester City. Ninguém é tão linear ou tão raso. A temporada 2017 mal começou, mas já é possível aprender muito com o que tem acontecido.

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Dificuldades formação dos atletas

Tenho refletido a respeito sobre a importância das transições entre as fases da carreira esportiva e sobre o quanto de influência os pais e responsáveis pelos atletas podem interferir em situações do cotidiano de uma carreira.

Relembrando uma das fases da carreira, a fase de desenvolvimento representa uma opção do atleta amador por uma determinada modalidade esportiva, com isso, os jovens passam a participar de competições regulares e o nível de comprometimento passa a ser crescente, o que demanda maior organização da rotina do atleta.

É nessa fase que o papel dos pais pode ser um diferencial, tanto para o bem do atleta, quanto para o mal, mesmo de maneira involuntária, pois estes passam a exercer uma influência que pode levar o atleta ao baixo desempenho na prática esportiva, devido a cobranças excessivas ou a orientações equivocadas que vão na direção contrária do que os membros de uma comissão técnica estão programando.

Entrando ainda mais nessa questão, podemos observar o modelo desenvolvimentista de Wylleman e Lavalle (2004), já comentado por mim em outra coluna, que faz uma integração da vida esportiva com a vida não esportiva do atleta, conforme a figura abaixo.

Modelo desenvolvimentista da carreira esportiva (adaptado de Wylleman & Lavalle, 2004)
Modelo desenvolvimentista da carreira esportiva (adaptado de Wylleman & Lavalle, 2004)

 
 

A percepção integrada da carreira esportiva e não esportiva contribui para que os pais possam compreender melhor a vida de um atleta com um todo e a importância de considerar outras demandas que vão além da vida esportiva. A partir desta compreensão, todos podem se tornar mais conscientes que cada transição entre as fases é um processo que resulta numa mudança de percepção do atleta sobre si mesmo e o mundo, o que passa a requerer uma mudança de comportamento e nos relacionamentos pessoais do atleta. Por esse ponto de vista, vou compartilhar as características de duas transições que impactam a fase de desenvolvimento.

Transição da iniciação para o desenvolvimento – momento no qual o atleta passa por adaptações no estilo de vida, devido ao aumento da carga de treinamentos. A influência do treinador aumenta, bem como a convivência mais intensa com os colegas de equipe.

Transição do desenvolvimento para a excelência – etapa de total dedicação, especialização do treinamento e muitas vezes oportunidade de profissionalização. Nesta transição, a orientação dos treinadores e demais profissionais do meio esportivo é fundamental para que o atleta possa lidar positivamente com esse momento.

Após este esclarecimento sobre essas transições, fica mais claro que os pais vão deixando de protagonizar o contexto esportivo do atleta, fazendo com que os profissionais envolvidos passem a ter um papel mais expressivo junto ao atleta e influenciando positivamente para os caminhos da alta performance.

Para finalizar, como podemos facilitar para que os pais possam compreender esse cenário, sem que fiquem com a sensação de falta de prestígio junto ao atleta?! Acredito que um alinhamento, entre os pais, atletas e comissão técnica, dos objetivos do atleta e das metas de curto e longo prazo estabelecidas, pode ser fundamental no papel da definição de responsabilidades e com isso fazer com que os pais possam assumir apenas o papel que lhe cabem, muito valioso nesse processo, sem que despercebidamente entrem em outras esferas do desenvolvimento da carreira de seus filhos enquanto atletas!

Até a próxima.

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Super Bowl: exemplo para o futebol

Ainda em fase de desenvolvimento no Brasil, o futebol americano é uma verdadeira febre nos Estados Unidos. Desde os anos 90, quando ultrapassou o “baseball”, o “football”, como é conhecido nos EUA, se tornou o esporte mais popular do país.

A National Football League (NFL) é a maior liga de futebol americano do mundo. Organizada em duas conferências (Americana- AFC e Nacional-NFC) a NFL é a maior liga de esportes na América do Norte e uma das maiores do mundo.

Os campeões de cada Conferência disputam a finalíssima chamada de Super Bowl e decide o campeão da temporada.

O Super Bowl disputado desde 1967, após a união das duas principais ligas do país (NFC e AFC), é o maior evento desportivo e a maior audiência televisiva do país, assistido anualmente por milhões de pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo. Em 2016, a transmissão  da partida entre New England Patriots e Seattle Seahawks, teve a maior audiência de televisão registrada nos Estados Unidos, com cerca de 114 milhões de telespectadores. No mundo, o Super Bowl só perde em audiência para a final da UEFA Champions League.

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Além disso, O Super Bowl possui a publicidade mais cara da televisão americana. Para se ter uma ideia, em 2016, a CBS vendeu 30 segundos de propaganda por cinco milhões de dólares (cerca de 17 milhões de reais). O valor se torna ainda mais significativo quando se observa que na sua primeira edição, em 1967, o anúncio custava 268 mil dólares, valor que não pagaria 2 segundos em 2016.

No próximo domingo ocorrerá a 51ª edição do Super Bowl em partida disputada entre o New England Patriots, Campeão da Conferência Americana (AFC) e o Atlanta Falcons, Campeão da Conferência Nacional (NFC). O jogo será disputado em Houston e o já tradicional show do intervalo ficará a cargo de Lady Gaga. Enfim, um mega evento que monopolizará toda a mídia norte americana e trará retorno financeiro astronômico às equipes, emissoras e patrocinadores.

O Super Bowl (e os formatos das ligas americanas) é um exemplo colossal para o futebol brasileiro. Além de sermos um país de dimensões continentais como os EUA, o povo brasileiro é tão apaixonado pelo futebol, quanto o americano pelo “football”. Seria incrível uma grande final do campeonato brasileiro em estádio previamente definido, ou ao menos uma Supercopa do Brasil entre os campeões do Brasileirão e da Copa do Brasil abrindo ou fechando a temporada.

O esporte se tornou um grande negócio e no Brasil explora-se muito pouco o mega potencial das marcas dos clubes e da paixão pelo futebol. E, ainda, sobre o Super Bowl, domingo será uma baita oportunidade para conhecer o esporte e, ainda, curtir o show da Lady Gaga e ver o Tom Brady (principal jogador dos Patriots e marido da Gisele Bündchen) em ação.