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Confronto 1×1: um olhar para o alto rendimento e o treino

Olá, amigos!
A discussão nesta coluna é sobre um aspecto considerado um dos menores (porém não menos significantes) subprincípios do jogo: o confronto 1×1. Em tempos de evolução metodológica e tática, análise de equipes por meio de ferramentas tecnológicas modernas, encontramos uma imensa gama de debates sobre estratégias de jogo, linhas de marcação, princípios táticos, comportamentos coletivos, que contribuem para o desenvolvimento da modalidade. Mas o objetivo aqui é discutir um pouco mais das ações de enfrentamento entre um jogador com bola e seu marcador direto, especificamente, dando ênfase ao portador da bola.
Peço que observem os vídeos a seguir. Eles contêm lances de confronto 1×1 proporcionados recentemente por grandes jogadores do cenário mundial: Lionel Messi (BAR), Douglas Costa (BAY), Neymar (BAR) e Cristiano Ronaldo (MAD). Antes de seguir adiante, apreciem os lances e façam suas próprias análises sem serem influenciados por este texto. Cada vídeo tem de 2 a 3 minutos (assista-os completamente ou alguns momentos, como preferir).





Agora atente para a quantidade e variedade de situações de enfrentamento que apareceram nos vídeos. Eles foram recortados de jogos recentes destes atletas, e observados em situações distintas – drible com poucos toques, confronto com cobertura próxima ou distante, atacante distante ou próximo ao alvo, drible em velocidade, drible para a frente, drible para trás, busca por companheiro para passar a bola, decisões que deram certo ou não, entre outras.
A partir de diferentes problemas emergentes do jogo pode se trabalhar os conceitos que a comissão técnica e os jogadores julgarem pertinentes. Posicionamento do corpo, observação e leitura do adversário, visão periférica antes de a bola chegar, desmarcar-se, domínio direcionado, bola próxima do pé, decisão rápida, mudança de ritmo, mudança de direção, evitar (ou não) o contato com o adversário, ser imprevisível, aproximação de outros companheiros para realizar vantagem numérica, não perder o alvo de vista (a fim de ser objetivo), buscar zonas de alto risco para o adversário, enfim, são infinitas possibilidades a serem conceituadas e trabalhadas.
Em discussões recentes com companheiros de trabalho temos debatido sobre os graus de importância dados ao treino e utilização do 1×1 em jogos, e o quanto o treino e os feedbacks em relação a este subprincípio podem contribuir para o sucesso. Saliento que, o confronto 1×1 não acontece descontextualizado num jogo de futebol, pois sempre há todos os elementos do jogo envolvidos na situação problema, tais como bola, companheiro (s), adversário (s), alvo a atacar e defender, zonas de referência espacial, pressão de tempo-espaço, relação com o resultado do jogo, entre tantos outros. Chama-se este instante de um fractal do jogo, onde se observa uma “fatia” do mesmo que possui todos os seus elementos.
Se pretendemos melhorar o 1×1 que acontecerá no jogo, de maneira imprevisível e aleatória, logo necessitamos criar desafios em nossos treinos que contemplem tais possibilidades. Há muitas maneiras e muitos elementos para se cumprir a lógica do jogo. Fazer bom uso destes enfrentamentos sendo respeitadas as características das pessoas com quem se trabalha pode contribuir para a busca por êxito. Tendo o treino aspectos complexos sendo considerados o tempo todo, não podemos nos esquecer de melhorar nosso olhar sobre o indivíduo que o pratica.
Quando se tem bons jogadores no 1×1, é possível gerar muitos desequilíbrios na defesa adversária (favorecendo a busca pelo gol) e também contribuir para o espetáculo proporcionado aos torcedores.
Diante disso, deixo aqui algumas perguntas e reflexões para o debate: que importância você dá hoje para o enfrentamento 1×1 no seu treino e na maneira de jogar da sua equipe? Como você controla a oferta destas possibilidades nas suas sessões de treino e no planejamento? Que feedback você dá para o acerto e para o erro na tentativa destas jogadas? Como você vê o jogador brasileiro atualmente em relação aos jogadores de décadas passadas no que diz respeito ao uso desta ferramenta?
Escreva para rafael@universidadedofutebol.com.br e vamos debater!
Um grande abraço e até a próxima!

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Entrevista

Há alguns dias participei do programa Encontro Esportivo. Comandado por Nelson Junior, respondi por cerca de uma hora perguntas relativas a minha trajetória profissional.
Por julgar que minhas experiências, de alguma forma, podem ser úteis aos profissionais do futebol (e aos que almejam trabalhar na área) que acompanham a coluna, resolvi disponibilizá-la na íntegra. Para acessá-la, basta clicar no link abaixo:

Para quem não tiver disponibilidade de acompanhar toda a entrevista, deixo também um roteiro por tópicos de interesse.
3m00s – O início no futebol e a trajetória como atleta.
6m50s – A escolha da carreira de treinador
8m10s – O primeiro clube: Paulínia FC
9m10s – O segundo clube: Grêmio Novorizontino
11m50s – O terceiro clube: a ida e as funções no Atlético Paranaense
13m15s – Explicando a função de coach
16m25s – O contexto da ida para o Coritiba FC
18m20s – Atlético Paranaense: um dos melhores clubes do futebol brasileiro
22m20s – O trabalho no Coritiba FC
26m45s – Os primeiros contatos com Fernando Diniz e sua equipe em 2012
31m25s – A reaproximação com Fernando Diniz em 2015
32m00s – A saída do Coritiba como treinador para ser auxiliar no Audax: um retrocesso?
34m00s – O que as equipes do Fernando Diniz têm de diferente?
41m20s – A minha capacitação no futebol e a relação entre teoria e prática
45m20s – A participação no Footecon
47m55s – Explicando o que é a Universidade do Futebol e seu idealizador
51m00s – Uma das melhores jogadas do Paulistão 2016 e sua correlação com o treinamento
55m15s – As diferenças entre o futebol brasileiro e europeu. A reação da torcida e imprensa quando as equipes recuam a bola para o goleiro.
1h01m10s – O Eduardo vai continuar com a forma de jogar do Fernando Diniz?
1h03m30s – O Audax classifica para a série D?
1h05m30s – Agradecimentos
Caso tenha alguma dúvida ou comentário, escreva-me. Abraços e até a próxima!

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Ba-Vi nos tribunais

Um dos clássicos de maior rivalidade do país, o Ba-Vi é conhecido nacionalmente pelos belos lances, festa da torcida e emoção.
A rivalidade, porém, suplantou os gramados e ganhou os tribunais desportivos. O motivo é o registro do atleta Victor Ramos, do Vitória.
O clube rubro-negro entende ser legítimo seu registro, uma vez que se trata de transferência nacional, já que o último time do jogador foi o Palmeiras.
O Bahia, por seu turno, defende que se trata de transferência internacional, pois o atleta está vinculado à equipe mexicana do Monterrey e que, portanto, o registro tenha se dado fora da janela.
Relevante destacar que o Victor Ramos pertence ao clube mexicano e estava no Palmeiras por empréstimo e que, após o final de seu contrato com o time paulista, foi emprestado ao Vitória.
Ou seja, o atleta saiu de um clube brasileiro para outro clube brasileiro, mas oriundo de um contrato com os mexicanos, que possuem direitos sobre o jogador. Em outras palavras: a transferência foi nacional ou internacional?
Caso a inscrição do atleta seja considerada ilegal, o Vitória será eliminado do Campeonato Baiano.
O imbróglio torna-se maior pelo fato de o jogador ainda estar vinculado ao Palmeiras no TMS (sistema da Fifa obrigatório para transferências internacionais), o que, ao menos do ponto de vista formal, indica uma transferência nacional.
Doutro giro, os regulamentos da Fifa estabelecem a obrigatoriedade da utilização do TMS para as transferências internacionais sob pena de nulidade, logo, Victor Ramos deveria retornar ao Monterrey para depois ser registrado, via TMS, no Vitória.
O TMS foi criado para conferir maior segurança nas transações internacionais e justamente por isto deve ser observado.
O que importa não é a localização geográfica do atleta, mas a escala contratual. Segue o enredo dessa história:
A – Contrato de empréstimo do Monterrey para o Palmeiras.
B – Fim do contrato de empréstimo e retorno dos direitos ao Monterrey
C – Novo contrato de empréstimo do Monterrey ao Vitória.
Parece preciosismo, mas um dos objetivos da Fifa com o TMS é controlar e fiscalizar as transferências de atletas menores de idade e, caso se entenda válida a operação Monterrey-Vitória, abre-se um perigoso precedente para os empréstimos de jovens e sua “circulação” livre entre os clubes do país da equipe que o recebeu por empréstimo.
Não punir o Vitória significa contrariar as normativas da Fifa e incluir situação excepcional não prevista, pois, caso fosse a intenção excluir da obrigatoriedade do TMS o novo empréstimo para outro clube do mesmo país, a entidade o teria feito expressamente.
Assim, infelizmente, Monterrey errou ao não registrar o fim do contrato de empréstimo com o Palmeiras no TMS e o Vitória embarcou nessa omissão que torna a transação nula.
Portanto, eventual decisão no sentido de não eliminar o Vitória do Campeonato Bahiano infringirá as normas da Fifa e o regulamento da competição que fixa a data para registro de atletas vindos do exterior.

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O time de futebol: um grupo ou uma equipe?

Hoje resolvi falar um pouco sobre a questão da integração e engajamento de atletas numa equipe de futebol.
Vemos com frequência os jogadores comentarem sobre o grupo, que fazem parte do grupo ou que o grupo está unido e por aí vai. Porém, se observarmos detalhadamente o desempenho de algumas equipes, poderemos perceber que algo não está plenamente encaixado dentro e/ou fora de campo. Em alguns momentos os desencontros são visíveis, sejam eles reflexos de uma jogada mal executada ou numa declaração desalinhada.
Com isso podemos refletir sobre o fato de que em alguns grupos ainda podemos não ter equipes estabelecidas de verdade. Quero dizer, times onde os atletas colaboram efetivamente uns com os outros, que saibam exatamente seus papéis e suas responsabilidades, bem como onde podem ir além em favor da equipe, para obterem os verdadeiros e valiosos resultados tão esperados por todos os envolvidos e interessados.
Então, agora trago rapidamente a questão do tal engajamento.
O engajamento profissional tem a ver com a coneção das pessoas com o seu trabalho e com a organização ou clube para a qual se dedicam. Profissionais engajados entendem seu papel no contexto dos objetivos comuns e, por isso, dão valor ao seu trabalho e garantem uma contribuição produtiva efetiva.
Podemos compreender que o engajamento está diretamente ligado à motivação, ou seja, ele não se compra. Agora, podemos também entender que o engajamento não é simplesmente um projeto de temporada com objetivos claros e um prazo final. O trabalho com engajamento nunca é “acabado”. É um processo contínuo, de melhoria contínua que pode permear várias temporadas.
O engajamento é importante para qualquer equipe, pois tem impacto direto na produtividade e performance que se traduz em resultados dentro e fora de campo.
Parece complicado promover esse tal engajamento? Vamos lá, temos algumas dicas que podem ajudar.
1. Conheça seu atleta: conhecer suas habilidades e competências é muito importante para saber como explorar seu potencial, para estimulá-lo a cumprir as atividades esportivas com eficiência e ter a certeza de que ele fará tudo de maneira mais confortável e estará confiante.
2. Acompanhe e reconheça: muitas vezes, a frustração do atleta pode estar relacionada ao não reconhecimento pelo bom trabalho que ele realiza. Por isso, os treinadores e gestores precisam monitorar e recompensar seus atletas, para que mais do que cumprir tarefas, eles queiram superar seus próprios limites!
3. Dê feedback: é com ele que se poderá alinhar a expectativa entre o que se deseja dele e o atleta.
4. Estabeleça metas e recompensas: é importante que o atleta compreenda as metas da equipe e como eles poderão alcançá-las. Além de saber exatamente quais recompensas lhe espera ao final da jornada.
5. Crie um significado: tem muito valor para uma atleta conhecer o significado e importância da atividade que desempenha, a importância do seu papel no todo.
6. Incentive o espírito de equipe: trabalhar em equipe é a melhor maneira de levar o time para uma única direção. Assim, a elevada consciência sobre a importância da coletividade contribuirá para que a percepção de importância dos resultados coletivos seja sempre maior do que aquela alcançada individualmente. De quebra ainda se promove um ambiente mais agradável para todos que dele participam.
Então, vamos construir mais equipes do que apenas grupos no futebol brasileiro?
Abraços e até a próxima.

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Sobre política

O Brasil vive atualmente um dos momentos políticos mais conturbados de sua história. O governo federal está fragilizado por um jogo que aceitou jogar durante anos, e as concessões que a oposição tem admitido mostram o quanto o compromisso com o poder é maior do que qualquer projeto de futuro para o país. O cenário tem servido como mote para que sejam despejados preconceitos que estavam engasgados durante a última década, e a repercussão de tudo isso ainda é extremamente difícil de ser medida. E não houve um time de futebol sequer do país que tenha se manifestado sobre tudo isso – a exceção foi o Corinthians, que fez um post extremamente infeliz em redes sociais sobre a coincidência de datas entre o protesto “contra a corrupção” e o embate contra o Botafogo-SP (a ideia da mensagem era relacionar a luta pela democracia e os dois times defendidos por Sócrates, um dos líderes da “democracia corintiana”, mas a repercussão negativa levou a equipe a apagar a postagem logo depois).
A Fifa vive atualmente um dos momentos políticos mais conturbados de sua história. Uma investigação liderada pelo FBI relacionou dirigentes da entidade a uma série de malfeitos e derrubou a cúpula liderada pelo suíço Joseph Blatter, que havia sido reeleito. Ele e nomes como Jérôme Valcke, que até outro dia estavam entre os mais poderosos do esporte mundial, hoje estão exilados do futebol e tentam escapar da cadeia. Outros, como o brasileiro José Maria Marin, já foram condenados. E não houve um time de futebol sequer do Brasil que tenha se manifestado sobre tudo isso.
A CBF vive atualmente um dos momentos políticos mais conturbados de sua história. José Maria Marin, ex-presidente da entidade, foi preso na Suíça e hoje vive regime domiciliar nos Estados Unidos. Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero, outros que passaram pelo comando da instituição, também foram citados na investigação do FBI e só não estão atrás das grades porque escondidos no Brasil. E não houve um time de futebol sequer do país que tenha se manifestado sobre isso.
Pior ainda, no caso da CBF: os times brasileiros elegeram o coronel Nunes, vice-presidente defendido por Del Nero apenas por ser o mais velho, que se valeu dessa prerrogativa para ocupar o comando da entidade quando o presidente se afastou para se defender. Não houve quem votasse contra ou defendesse qualquer projeto diferente do nome apresentado pela situação.
Corinthians e Palmeiras jogaram no Pacaembu no último domingo (03) como se fosse um dia qualquer, ainda que torcedores organizados das duas equipes tenham entrado em conflito em diferentes partes da cidade horas antes da partida e que um senhor que não tinha qualquer relação com o duelo tenha sido assassinado por uma bala perdida. E não houve um time de futebol sequer no Brasil que tenha se manifestado sobre isso.
Já passou da hora de os times brasileiros entenderem que são partes de um todo. Já passou da hora de admitirem que não podem ver o mundo passar como se o futebol fosse um universo à parte e não tivesse qualquer relação com o que acontece em outros segmentos da sociedade.
Nenhum time precisa marcar posição ou tem obrigação de participar de todas as discussões. No entanto, é importante que as instituições entendam o peso que elas têm para a sociedade e o quanto podem contribuir para um debate saudável.
O silêncio às vezes incomoda muito. É o caso do que aconteceu sobre as brigas de torcida. Corinthians e Palmeiras podem dizer que são grupos que não mantêm relações com os clubes, mas isso é apenas fugir do debate.
A verdade é que torcidas organizadas usam símbolos dos clubes e fazem dinheiro com isso, mas não pagam qualquer valor pelo direito dessas imagens. Ainda que a relação fosse lícita e que não incluísse subserviência ou benesses como ingressos ou ônibus, essa cessão de imagem configuraria financiamento.
Portanto, mesmo se a relação não envolver dinheiro, clubes sustentam torcidas organizadas. E independentemente disso, se eles não se preocupam com quem usa a imagem ou o distintivo da equipe para matar outra pessoa, com o que eles se preocupam? Que tipo de abalo institucional isso pode causar?
Ficar em silêncio é fácil. É simples fazer o jogo do covarde, votando no coletivo para evitar conflitos políticos com a CBF ou silenciando sobre a política do futebol ou do país. Difícil é entender sua essência, participar do debate e mostrar a cara. É disso que o futebol brasileiro precisa, afinal.

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Justiça Desportiva e e-mails vazados

Na semana que passou foram publicados documentos apreendidos pela Polícia Federal que apontam supostos e-mails trocados pelo Procurador Geral de Justiça do STJD e dirigentes da CBF, nos quais a entidade pedia a punição ao Atlético em razão de mosaico contra a CBF estampado por sua torcida no Campeonato Brasileiro de 2012.
A Constituição Brasileira, em seu artigo 217, assegura a autonomia e independência da Justiça Desportiva. A escolha de seus membros é estabelecida pelo Código Brasileiro de Justiça Desportiva, que determina a indicação de nove auditores do Tribunal Pleno pelos clubes (2), atletas (2), OAB (2), confederação (2), árbitros (1).
Os recursos financeiros necessários para a instalação e operacionalidade da Justiça Desportiva são oriundos da Confederação e/ou Federação a que ela se vincula. Por exemplo, no futebol as despesas são pagas pela CBF.
A Justiça desportiva tem a função de julgar atletas, dirigentes, clubes, federações, dentre outros personagens do evento esportivo.
Além dos auditores que julgam os processos disciplinares, a Justiça Desportiva possui procuradores que são os responsáveis por fiscalizar a aplicação do Código Brasileiro de Justiça Desportiva e apresentar os pedidos de condenação aos tribunais desportivos.
No caso em comento, a CBF, administradora do futebol no Brasil e organizadora do Campeonato Brasileiro da modalidade, encaminhou e-mail ao Procurador Geral pedindo rigor na denúncia. Natural o interesse da CBF na punição, eis que a torcida do Atlético estava, justamente, criticando-a.
Além disso, como organizadora do evento, é de se esperar que a entidade busque punições rigorosas em caso de atos de indisciplina de atletas a fim de evitar lesões e de viabilizar uma competição menos violenta e mais atrativa.
Da mesma forma que a CBF escreveu ao Procurador Geral, qualquer clube ou atleta pode fazê-lo, sendo importante destacar que a Procuradoria não julga, mas apenas denuncia o ato de indisciplina e pede a punição.
Vale dizer que é prática comum no direito brasileiro conversas informais com promotores e até julgadores, como, inclusive, fazem os advogados em seus processos quando querem “despachar” com o juiz.
Sem entrar no mérito se é a melhor linha de atuação, no incidente estampado nos e-mails, percebe-se que a Procuradoria atuou de forma coerente com a linha adotada em todas as demandas que patrocina, ou seja, de forma rigorosa e pedindo punições severas e elevadas.
Estudiosos do direito desportivo, clubes, atletas, dirigentes e imprensa invariavelmente questionam a parcialidade da Justiça Desportiva por ser custeada pela CBF, por haver membros no cargo há muitos anos, dentre outras razões.
Entretanto, o fato da primeira instância ter absolvido o Atlético e a segunda ter aplicado pena de multa irrisória para os padrões do futebol e não a interdição do estádio, como queria a CBF, demonstra justamente o contrário, demonstra o compromisso da Procuradoria em efetuar as denuncias de forma severa e a independência dos auditores para decidirem de acordo com seu entendimento legal.00

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Armadilhas do baixo desempenho esportivo

Tenho ouvido muito falar sobre os problemas cotidianos dos clubes de futebol.
Convivemos com as famosas trocas de treinadores, dispensas e contratação de atletas e o desempenho geral muitas vezes não se altera para melhor, como esperam os gestores envolvidos no ambiente esportivo.
Pois bem, tenho feito palestras nas organizações sobre um tema chamado satisfação e plenitude profissional e me parece que este assunto se torna bem adequado para o universo corporativo.
Hoje vivemos numa situação em que poucas vezes percebemos uma sensação de satisfação ou plenitude profissional ao final dos nossos dias de vida. Deitamos a noite no travesseiro e poucas vezes nos sentimos plenos, parece que sempre nos falta algo e predomina a sensação de que estamos aquém do desempenho que um dia já apresentamos em nossas atividades profissionais.
No esporte me parece acontecer algo semelhante na atualidade, pois os clubes conseguem em muitos casos obter atletas de desempenho reconhecido para incorporar ao elenco a qualidade desejada, mas na prática tudo não acontece como se espera. E aí, na sequência, se dispensa o jogador ou a comissão técnica.
Eu acredito que algumas armadilhas que impedem o melhor desempenho estão cada vez mais presentes no dia a dia do esporte, isso por consequência impede que os envolvidos percebam a sensação de satisfação e plenitude profissional. O pior é que eventualmente os atletas podem ficar perdidos nas armadilhas por longos períodos de tempo, fazendo com que sua performance caia cada vez mais e com isso sua confiança nas capacidades profissionais chega quase a zero.
As armadilhas que percebo são:
Repetição de comportamentos
Fazer sempre as mesmas coisas nos condiciona que repetir estas ações podem garantir a nossa sobrevivência. Por isso chegamos até onde chegamos em termos de sobrevivência da espécie humana. Isso se exemplifica na metáfora dos animais, dos mamíferos principalmente, pois quando eles descobrem uma fonte de água por exemplo, não procurarão mais outra a não ser que ela seque! Não correrá riscos de ser agredido por um predador ao procurar outras fontes de água. Somos programados para repetir comportamentos. E para mudar precisamos ter uma energia a mais, ou seja, necessitamos estabelecer uma meta ou um objetivo.
Dar poder excessivo ao outro
Nós eventualmente passamos a dar mais poder aos outros do que a nós mesmos. Muitas vezes nós deixamos de realizar algo ou nos limitamos pela crítica do outro, dando a ele um poder para decidir sobre o que devo ou não fazer e realizar. Um atleta que deixa de se empoderar para empoderar ao outro pode ficar com suas capacidades esportivas seriamente comprometidas, tendo em vista que deixa de ser criativo e arriscar durante a prática esportiva. Com isso se deixa de materializar muitas coisas pelo simples fato de ter medo de não conseguir a adesão desejada às nossas ideias, sonhos ou desejos.
Contrariar a natureza humana
O ser humano possui uma essência criativa, inventiva, sonhadora e cooperativa por natureza. Porém, quando nos limitamos pela repetição de comportamentos ou pelo poder excessivo dado ao outro, acabamos por contrariar essa natureza e deixamos de ter ou compartilhar nossas ideias ou sonhos. Ficamos restritos a concordar com os demais e eventualmente discordar, mas nunca com coragem ou capacidade suficiente pãoara irmos além. E esta limitação mental no esporte pode ser fatal para a carreira de qualquer atleta.
Não assumir responsabilidade
Como consequência das armadilhas anteriormente citadas, acabamos por não assumir algumas responsabilidades e deixamos de protagonizar em nossa vida. Preferimos por assumir posturas mais vitimadas nas quais podemos nos proteger do outro. Para um atleta de alta performance, o protagonismo é condição essencial para o seu desempenho profissional, não existe espaço para a baixa performance e para a falta de confiança que permitiria a aparição do lado extraordinário dos talentos esportivos.
Ou seja, amigo leitor, quando os atletas ou qualquer um de nós permanecemos envolvidos nessas armadilhas, o ciclo vicioso da não plenitude se fecha em nós, pois repetimos comportamentos (bons e ruins), damos poder demais ao outro, o que nos faz contrariar nossa natureza humana de criatividade e cooperação, e passamos a não ser mais protagonistas de nossas vidas, seja na face profissional ou pessoal.
Então, cuidado com essas armadilhas e vamos buscar uma vida mais plena e satisfatória no universo esportivo! Até a próxima.

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Invasões bárbaras

Historicamente, a expressão “invasões bárbaras” refere-se aos ataques sofridos por territórios dominados pelo Império Romano no século IV. O termo “bárbaro” era usado de forma genérica para todos os que não tinham capacidade de assimilar a língua e os costumes dos romanos, e vários povos foram atraídos por uma combinação entre terras férteis e defesas insuficientes – o sucesso das incursões dos romanos criou um império vasto, mas dificultou sobremaneira o controle das fronteiras.
O cineasta Denys Arcand tomou a expressão emprestada em 2003, quando lançou o filme “As invasões bárbaras”. A obra acompanha os mesmos personagens de “O declínio do império americano”, até então o longa mais famoso do diretor. Após um hiato de 15 anos, o professor de história Rémy está hospitalizado em Quebec (Canadá). O tratamento de um câncer o reaproxima do filho, Sébastien, e essa retomada de contato serve como estopim para discussões que são cotidianas apenas na primeira camada. Mais do que o estranhamento de parentes distantes, a história reflete um choque de gerações e de culturas.
O futebol brasileiro tem vivido um período de invasões bárbaras. Na última semana, torcedores de Flamengo, Palmeiras, Ponte Preta e Portuguesa entraram nos treinos de seus times e cobraram jogadores. Em alguns casos, a cobrança evoluiu – ou regrediu? – para agressões. O ônibus que levava o elenco alviverde foi apedrejado, e o elenco da equipe de Campinas foi ameaçado.
Em primeiro lugar o absurdo: qualquer profissional, independentemente da categoria, tem direito a um ambiente seguro para trabalhar. Isso influencia na tomada de decisão e no rendimento, e o que os torcedores fizeram em todos os clubes listados só pode jogar contra o desempenho das próprias equipes. A tática do “joga no amor ou joga no terror” não é apenas ultrapassada, mas ineficaz – e que bom que seja, aliás.
Invasões de torcedores em treinamentos não são novidade no futebol brasileiro, infelizmente. São fatos recorrentes, que muitas vezes contam com a conivência da diretoria, da comissão técnica ou de funcionários das equipes. São táticas que muitas vezes refletem acordos espúrios ou que simplesmente servem para eximir algumas pessoas de responsabilidade. Ao abrir o clube e criar um canal direto entre torcedores e atletas, a cobrança passa a ser direcionada.
A invasão bárbara que está em jogo no Brasil atual, contudo, se assemelha mais à guerra tácita do filme de Arcand. Ainda que os torcedores, quase sempre oriundos de organizadas, tenham táticas de terror psicológico e cobrem apenas como ameaça, esses episódios lamentáveis mostram diferenças de perspectivas e a dificuldade que temos para lidar com isso.
Vivemos um momento de polarização atualmente. Uma polarização que é mais bem retratada no contexto político, mas que permeia quase toda a formação de senso crítico. Desde a década de 1990, quando o Google popularizou o uso de algoritmos para identificar o comportamento do usuário e personalizar a experiência web, cresceu constantemente a sensação de que as pessoas vivem em bolhas de ressonância. Diversas pesquisas comportamentais mostram que esse contato limitado a pessoas que concordam com você contribui para aumentar o extremismo. O incremento do extremismo, por sua vez, amplia a busca por opiniões que sejam condizentes com isso. É um ciclo, portanto.
Em sociedades maduras, com grau suficiente para discutir, esse ciclo cria apenas polarização ideológica. No Brasil atual, esse é o cerne do “se não for como eu quero, não pode ser”. Não há ideias ou defesa de posição; há apenas um combate ao que não faz parte da bolha.
Sem querer fazer nenhuma análise sociológica ou extrair da equação os reflexos de anos de desigualdade em diferentes âmbitos, mas o surto de torcedores tem tudo a ver com falta de capacidade de diálogo. Se for analisada apenas como uma ação passional, a invasão é apenas um grito de discordância em relação ao que é apresentado pelos atletas em campo.
Torcedor quer se sentir representado. Treinadores e jogadores cansam de repetir lugares comuns sobre a essência de cada clube ou a necessidade de entregar isso ao público que frequenta as arquibancadas. Mas qual é a forma mais correta para cobrar quando o retorno não acontece?
Está aí a responsabilidade do clube nesse processo. Não é novidade dizer que vivemos num contexto de polarização. Não é novidade dizer que temos histórico paupérrimo de diálogo ou de discussão em alto nível. Não é novidade dizer que o torcedor quer se sentir representado. Por que isso não acontece, então?
Porque os clubes não conseguem criar projetos futebolísticos que retratem sua essência, e aí reside um erro de conceito. Sabemos de cor o estilo do Barcelona e sabemos dizer que isso jamais funcionaria no Real Madrid, historicamente acostumado a ser mais agudo e contundente. E no Flamengo, o que seria mais adequado? Como jogaria o Grêmio dos sonhos? O Cruzeiro ideal trocaria passes ou seria um time de contragolpes?
Para entender a essência ou para medir o retorno do que é apresentado aos torcedores, clubes precisam promover diálogo. Não durante os treinos, não com ar de terror, mas é fundamental ouvir o que os torcedores têm a dizer. Um ambiente de conversa só tem a acrescentar.
Vivemos as “Invasões Bárbaras” de Arcand porque temos choques culturais latentes e não sabemos lidar com isso. Evoluímos em uma série de aspectos – o jogo ficou mais corrido, a medicina tem procedimentos mais precisos e todo mundo tem noções táticas mais claras, por exemplo. Ainda assim, contudo, não soubemos medir se a evolução está ocorrendo no sentido que a essência nos pede.
Afinal, essência é isso: mais do que refletir o que fizemos no passado, diz as rotas mais adequadas para o futuro. E se quisermos conhecer a essência, precisamos conversar mais. Não há necessidade de invasão para isso.

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Reflexões sobre remuneração e promoção às comissões técnicas nas categorias de base

Alguns paradigmas demoram para serem quebrados no futebol. Um deles, sem dúvida, se refere às promoções e remunerações das comissões técnicas das categorias de base do futebol brasileiro.
Sob a perspectiva do crescimento vertical, quanto menor a categoria menor o salário do profissional. Outrossim, diz respeito ao crescimento dentro da instituição que, na grande maioria dos clubes, obedece uma progressão hierárquica sequencial. Sob este viés, um funcionário do clube que almeja chegar ao cargo de treinador da equipe sub-20 deve ter passagens como comandante das categorias menores. Exceções feitas às contratações.
Quem acompanha o mercado das categorias de base do país pode se certificar do que fora mencionado e, provavelmente, terá exemplos concretos de profissionais que vivenciaram ao menos uma destas situações.
O objetivo da coluna desta semana será trazer algumas reflexões sobre este modelo vigente, que se mal coordenado pode trazer impactos negativos importantes para toda a estrutura formativa do clube e, consequentemente, ao futebol profissional.
Logicamente não se pretende ignorar a complexidade dos elementos nos processos decisórios que envolvem as composições das comissões técnicas, tampouco desconsiderar o contexto técnico-político-administrativo que compreende cada clube e influencia as decisões. Pelo contrário, pretende-se trazer mais argumentos e ponderações para serem inseridos e debatidos pelos responsáveis por gerenciar as categorias de base dos clubes brasileiros.
Se, de fato, acreditamos no processo de formação, deveríamos relativizar a importância que se dá as diferentes categorias, do sub-11 ao sub-20. Pois, se de um lado o trabalho com a categoria mais velha é fundamental dada à proximidade e semelhança dos conteúdos em relação ao profissional, de outro, o trabalho com as categorias mais novas é indispensável para desenvolver o potencial cognitivo dos jovens jogadores. Quando se trata de formação, um trabalho de qualidade inferior a ideal em quaisquer etapas do processo traz consequências negativas significativas. Para exemplificar, se é praticamente consenso a queda de performance de Renato Augusto pela seleção brasileira (que tem recebido estímulos nos últimos meses de um futebol muito menos competitivo daquele que o levou à primeira convocação), o que dizer de um jovem de 15 anos recebendo maus estímulos ao longo de uma temporada inteira?
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Muitas vezes as diferenças de salário (que indiretamente estabelecem importância à função) entre os profissionais das categorias supracitadas são astronômicas. Desta forma, o clube corre o risco de estimular os treinadores de resultado. Sob um objetivo oculto de ser melhor remunerado, o treinador pode adotar a prática da vitória a qualquer custo, avessa a boa formação. Isso ocorre pois o treinador entende que uma das únicas formas de ser melhor remunerado pelo clube é subindo de categoria. Além disso, o cenário está montado para o pouco envolvimento dos profissionais inter-categorias. Afinal, o insucesso de uma categoria pode garantir a promoção do profissional da categoria imediatamente abaixo.
E é justamente sobre as promoções nas categorias de base que continuaremos as reflexões. Será que uma progressão sequencial é a melhor das alternativas para estimular um ambiente de melhoria contínua, produtividade e comprometimento com a instituição, maiores do que o envolvimento com uma única categoria?
Quais as justificativas para um profissional poder ser contratado no mercado para a categoria sub-17 mas um profissional do próprio clube, que exerce a função de auxiliar técnico da categoria sub-15, não poder ascender, desde que capacitado, diretamente para tal função?
Será que a promoção que privilegia uma ordem hierárquica não gera uma acomodação nos profissionais da instituição?
Esforço, dedicação, comprometimento, didática, planejamento e qualidade dos treinos são elementos que permitem análise e, minimamente, podem oferecer vantagem competitiva ao profissional que busca ascensão.
Para concluir, serão deixadas alternativas para os problemas apresentados. A primeira, que diz respeito à remuneração, sugere a definição de um piso para o cargo de treinador ou então qualquer outra função da área técnica de campo do clube. A partir dele, o salário será complementado em função de uma série de competências que o profissional pode possuir (curso de treinador, idioma, experiência como ex-atleta, graduação, especialização, mestrado, nível de jogo apresentado pela equipe, participação em congressos, etc.). Em linhas gerais, quanto mais competências o treinador possuir, melhor será a sua remuneração, independentemente da categoria.
Já em relação à promoção, sugere-se um acompanhamento detalhado da performance de cada um dos profissionais do clube ao longo da temporada. Para as categorias de base, o resultado de campo é apenas uma das variáveis que compõem as análises. Caso um profissional das categorias menores tenha se destacado o suficiente, vale a sua promoção. E tal promoção não está necessariamente relacionada à dispensa do outro profissional.
A evolução do futebol brasileiro pede mudanças em todos os seus segmentos. Na gestão das categorias de base estão muitas delas. Por um futebol sem “muros” entre as categorias, que privilegie a competência e com melhor distribuição dos recursos!
Aguardo a sua opinião…

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Formação de atletas: versatilidade ou especialização na posição?

Olá amigos!
Convido-lhes para mais uma discussão sobre um tema intrigante aqui neste espaço. Quem vive o ambiente de formação sabe que, invariavelmente, por motivos diversos, deparamo-nos com o problema exposto no título desta coluna. Atento ao fato de que, novamente, não irei propor simplesmente a defesa de uma das ideias, e sim provocá-los a mergulhar (fugindo da superfície) numa análise mais aprofundada.
Primeiramente, nosso principal papel é contribuir com a formação de pessoas. Pessoas estas que podem vir (assim imaginamos) a se tornar futebolistas de alto nível. Penso que aqui cabe a primeira observação: a especificidade do jogador de futebol é jogar futebol! E isso passa por entender o jogo, conseguir jogá-lo e fazê-lo bem.
Olhemos para o futebol de alto nível, e perguntemo-nos: como se joga o futebol hoje? Se buscarmos referência nas principais equipes do mundo, poderemos enumerar diversos jogadores que fazem mais de uma posição em campo (inclusive em diferentes setores), e isso torna-se uma virtude na resolução de problemas de uma ou mais partidas. Pep Guardiola faz esta manipulação com maestria, tanto no Barcelona quanto no Bayern, trazendo volantes e laterais para o centro da defesa (ou primeiros atacantes) afim de melhorar o processo de construção ofensiva; no Barcelona trouxe Mascherano para trás, utilizou Lionel Messi em várias funções (inclusive de “falso 9”), também alterou constantemente o posicionamento de Iniesta, entre outros. Poderíamos citar aqui uma grande quantidade de outros atletas (no Brasil e na Europa) que foram muito bem aproveitados em mais de uma função em campo – Lucas Leiva, David Luiz, Alaba, Di Maria, Philip Lahm, Zé Roberto, Jadson, Danilo, Renato Augusto. Em contraponto, alguns atletas foram, ao longo de sua carreira, especialistas em somente uma posição – Ibrahimovic, Ronaldo, Adriano.
Voltemos nosso olhar para a formação de atletas. Quando pensamos em formar para o alto nível (lembrando que o topo da pirâmide é restrito a pouquíssimos), obviamente estamos pensando em atletas que vão se destacar por algum ponto forte, muito claro aos olhos dos espectadores. Porém, os motivos para oferecermos a versatilidade na formação são mais relevantes. Lidamos com pessoas e, como professores, temos a obrigação de oferecer um ambiente rico de possibilidades, além de incentivar o desenvolvimento da autonomia. Proporcionar variadas vivências durante treinos e jogos na formação permitirá um desenvolvimento rico do repertório essencial para se jogar futebol (relação com bola, leitura de jogo, estruturação de espaço) e também contribuirá para que o atleta pense, crie, erre e vá se tornando cada vez mais autônomo nas decisões necessárias para resolver os problemas do jogo. A partir destas vivências, naturalmente, ao longo do processo ele tenderá a contribuir em melhor rendimento em um leque menor de posições no campo – salvo exceções. Saliento aqui que estimular diferentes vivências nos treinos e jogos não elimina orientações voltadas para regras de ação predominantes para cada posição.
Ao final do processo de formação devemos ter atletas que compreendam e joguem em alto nível o jogo de futebol, da maneira mais inteligente possível. Muitos são os exemplos de jogadores que ganham grandes oportunidades durante contratações ou trocas de técnico nas equipes principais, atuando em outras funções, e isto só é possível a partir de uma formação realmente enriquecedora para o seu repertório de jogo. Acredito ser inadmissível que um atleta transite da formação para a equipe principal tendo passado todos os anos anteriores jogando só numa função. Nós, formadores, não somos “deuses” para determinar tão cedo o que é e o que fará aquele ser humano. Portanto, proponho que constantemente façamos reflexões sobre o quanto nosso treino e nossas escolhas em jogos estão sendo favoráveis para criar um ambiente rico e desafiador, visando o desenvolvimento de cada um dos nossos atletas.
E você, leitor, o que acha deste tema? Escreva para rafael@universidadedofutebol.com.br e vamos debater!
Um grande abraço e até a próxima!