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O treinamento de goleiro: para todos da comissão técnica

O goleiro é um jogador com ações distintas dos demais atletas no futebol. Ele é o único que pode tocar a bola com as mãos e que tem a difícil missão de proteger a meta das investidas do adversário.

Contudo, sua ação se resume a proteção à meta?

Com o objetivo de responder a pergunta acima fiz um estudo sobre a ação do goleiro dentro do jogo. Neste estudo, analisei todos os jogos de dois jogadores desta posição no Campeonato Brasileiro de 2009.

O fato foi que me surpreendi um pouco com os resultados. Vou apresentar de forma resumida alguns dados encontrados.

Os dados gerais me mostraram que o goleiro A agiu em média 37 vezes durante o jogo, (contando apenas ações com bola); já o goleiro B agiu 28 vezes, nove ações a menos. As equipes tiveram um desempenho parecido ao longo do campeonato e não houve diferença significativa nas finalizações sofridas em ambos, então comecei a refletir sobre os motivos que levavam essa diferença numérica de ações entre os jogadores.

Para análise, dividi as ações em “Habilidades Específicas” (ações de proteção à meta), “Reposições” e “Passes”.

Ambos os goleiros tiveram a reposição como a ação de maior incidência dentro do jogo, seguido dos passes e por último, acreditem, ficaram as habilidades específicas.

Resolvi ir a fundo em cada uma das ações.

Nas habilidades específicas, cada um agiu em média sete vezes durante as partidas e a saída é a ação de maior incidência nesse aspecto.

Nas reposições, os dados me mostraram que o goleiro A tinha um aproveitamento de 65,9% e o goleiro B, 43,3%.

Nos passes, essa discrepância era maior ainda: 73,5% contra 46,8%. O goleiro B recolocava a bola em jogo e fazia o passe mais para a equipe adversária do que para sua própria equipe.

Em meio a esses dados observei que o goleiro A, além de ter um aproveitamento maior nos passes, participava mais neste quesito. Enquanto o goleiro B realizava seis passes em média por jogo, o goleiro A realizava 15. Sendo assim, a diferença “estatística” entre os goleiros estava na participação com os pés dentro do jogo.

Com esses dados podemos levar a discussão para inúmeros caminhos, contudo quero discutir a especificidade do treinamento e a participação deste atleta no Modelo de Jogo da equipe.

Para o treino ser específico, ele precisa se apropriar da realidade encontrada no jogo. No jogo, observei que esses atletas específicos agem relativamente pouco em ações de proteção a meta, logo, o treino deve levar em consideração esse fato. Senão corro o risco de preparar o goleiro apenas para essas “sete ações” de proteção a meta dentro do jogo.

A realidade desta posição não se resume a essas ações, contudo as ações de proteção a meta são emergências, aleatórias e requerem uma resposta adequada para que o adversário não marque o gol. Para dar as melhores respostas, este jogador precisa ser treinado de forma adequada e não de forma exaustiva, pois isso não representa a especificidade do jogo.

Um goleiro no jogo dificilmente fará quatro defesas no mesmo lance: ele terá que defender bem apenas uma bola durante um longo intervalo de tempo; às vezes durante todo o jogo. Para defender essa única bola ele precisa analisar, tomar a melhor decisão e agir da melhor maneira possível.

Durante o restante do tempo de uma partida o goleiro precisa estar inserido na organização coletiva da equipe! Essa inserção não é nada fácil, e os treinos precisam ser elaborados para tal.

Visto que o goleiro B parece não estar integrado no Modelo de Jogo da equipe e não possui uma boa relação com bola com os pés. Essa não integração não atinge apenas o goleiro, mas toda a equipe, pois se esse jogador recoloca a bola em jogo ou faz um passe mais de 50% das vezes de forma errada toda vez que a equipe precisa se organizar rápido para recuperar a bola ou para impedir que o adversário chegue até o gol.

Já o goleiro A é um exemplo de goleiro integrado no modelo da equipe e vem se destacando por isso há algum tempo. Ele é um jogador como outro qualquer antes mesmo de ser goleiro. Em muitos jogos ele participou da manutenção da posse de bola, fez coberturas, cortou lançamentos, etc. Várias de suas ações realizadas com os pés evitaram que a equipe adversária chegasse a sua meta.

Será então que quanto mais integrado o goleiro menos ele agirá nas ações de defesa à meta?

Claro que a resposta não é nada simples e cada comissão deve pensar em seu Modelo de Jogo e em como o goleiro deve participar do mesmo.

O fato é que a integração é complexa e as atividades devem ser elaboradas a fim de atingir os objetivos relacionados às “habilidades específicas”, “reposições” e “passe” do goleiro.

A atividade abaixo ilustra como uma atividade pode ajudar na integração do goleiro na organização coletiva da equipe e desenvolver sua habilidade com os pés. Lembre-se que essa atividade é utilizada para fins didáticos e não pode ser entendida e aplicada de forma isolada, mas sempre contextualizada ao Modelo de Jogo da equipe e ao processo de treino.

Descrição
– Atividade é composta por duas equipes de quatro jogadores mais um goleiro.

Pontuação
– Equipe marca três pontos se fizer o gol.
– Equipe marca um ponto se trocar cinco passes utilizando o goleiro.
– Equipe marca cinco pontos se trocar cinco passes utilizando o goleiro e fizer o gol.
 


 

Lembre-se: nada é receita de bola, ou bolo…

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br  

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Você vai montar o seu treino? Não esqueça (e cuidado com) o princípio das propensões

Pensar a semana de treinamento é tarefa das mais trabalhosas. Das situações hipotéticas para os pós-graduandos da disciplina que ministro às conversas com o treinador com o qual trabalho, as discussões, reflexões, questionamentos e definições de atividades duram, pelo menos, uma hora.

Na situação hipotética, não existe a transferência real para a prática, porém, nas discussões com meu companheiro de trabalho atual (e nas centenas de reuniões de planejamento já realizadas com outros profissionais), diversos pontos são considerados, pois interferem diretamente no jogo seguinte.

O desempenho da equipe na última partida, o nível de aplicação do Modelo de Jogo, o Modelo que se pretende, o desempenho individual, as “baixas”, problemas extra-campo e o próximo adversário, são algumas das questões que norteiam a discussão da próxima semana de treinamento.

Na definição das atividades, o aprendizado teórico-prático adquirido ao longo dos anos é o que fundamenta as opiniões emitidas durante a reunião. O aprendizado teórico, obtido em leituras sobre complexidade, teoria dos jogos, ensino dos JDC, treinamento desportivo, treinamento em futebol, periodização tática, entre outros assuntos (a partir de livros, teses, monografias, artigos, vídeos e até ouvidas em arquivos de áudio conseguidos com um companheiro de profissão), complementa a longa vivência prática como atleta e a ainda curta, mas relevante, experiência como treinador/treinador adjunto.

E, de toda corrente teórica que baliza as opiniões para a discussão de um dia da sessão de treinamento, a coluna desta semana destacará um dos princípios metodológicos da Periodização Tática e sua importância na elaboração de um determinado jogo.

O pressuposto metodológico em questão se refere ao Princípio das Propensões. De acordo com ele, numa determinada atividade de aquisição de princípios, sub-princípios ou sub-princípios dos sub-princípios de jogo, a densidade do que se pretende treinar precisa acontecer em um valor significativo de modo que determinados comportamentos esperados para aplicação do Modelo de Jogo tornem-se hábitos.

Em uma análise rápida do princípio e do seu significado, uma maneira de tornar propensa a finalização em um determinado exercício é elevar a quantidade de alvos. Outro exemplo, agora para tornar propenso o fechamento de linhas de passe, é criar um exercício de troca de passes em que uma equipe em inferioridade numérica a impede. E, para aperfeiçoar a circulação da posse com ampliação de campo efetivo de jogo, um 11×0, respeitando a distribuição espacial da plataforma de jogo, pode ser uma opção.

Posto isso, eis o embate: nem todo exercício criado de acordo com o que preconiza a Periodização Tática é jogo e nem todo jogo, criado por quem o utiliza como método, fundamenta-se no Princípio das Propensões.

O resultado: treinamentos distantes do jogo que se quer jogar!

Para adeptos da Periodização Tática, alguns exercícios têm coerente relação com o Modelo de Jogo, mas significativa distância do próprio jogo, ou seja, do futebol. Na elaboração da atividade, elementos básicos que deveriam caracterizá-la como jogo são ignorados. Logo, na repetição sistemática de determinado princípio, sub-princípio ou sub-princípio do sub-princípio do Modelo de Jogo adotado, é comum a observação de atividades que, na prática, não são desafiadoras, não geram desequilíbrios, não permitem a representação e, acima de tudo, não são imprevisíveis. Este é um grande problema para quem objetiva a especificidade e que precisa proporcionar o “estado de jogo”, já abordado semanas atrás.

Porém, para quem já utiliza o jogo enquanto método de treinamento o problema é outro. É comum que na definição das regras do jogo se esqueça o Princípio das Propensões e sua relevância na evolução do jogar da equipe. Como consequência, a definição de regras que criam uma Lógica do Jogo não condizente com os comportamentos que se pretende treinar. Exemplificando, ao criar um jogo para aperfeiçoar a organização defensiva da equipe no que tange a flutuação, a simples regra “dois toques na bola no campo de ataque”, não irá favorecê-la. Dar um ponto a equipe se ela estiver “flutuando bem”, é igualmente equivocado. Onde estão as regras do jogo que definirão se, de fato, a equipe está flutuando bem?

Para otimizar o desempenho de sua equipe, é indispensável que uma sessão de treinamento seja a todo momento, para todos os jogadores, a resposta tática-técnica-física-emocional para os problemas que você criou. Os problemas criados têm que ser jogo e o jogo tenderá ser vencido por quem melhor cumprir suas regras.

São estas regras que devem orientar a equipe para o cumprimento da Lógica do Jogo. E, além disso, devem obrigatoriamente, considerar o Princípio das Propensões para que a densidade de problemas que surjam no jogo evidencie a necessidade das respostas coletivas adequadas para vencê-lo.

Sendo assim, é possível tornar propensos: a finalização sem necessariamente aumentar o número de alvos (e assim não se distanciar da Lógica do Jogo de futebol), o fechamento de linhas de passe sem reduzir o número de defensores e a ampliação do campo efetivo num jogo de 11×11.

Pensar a semana de treino é tarefa das mais trabalhosas. Mãos à obra!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Ausência

Caro leitor,

Excepcionalmente nesta sexta-feira não teremos a coluna de Cézar Tegon. O colunista estará em recesso até 11 de agosto, voltando com seus textos semanais no dia seguinte.

Um grande abraço,

Equipe Universidade do Futebol

Leia mais:
Veja as últimas colunas de Cézar Tegon na Universidade do Futebol

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Há vantagem de se jogar "em casa"?

Passado o primeiro terço da Série A do Campeonato Brasileiro para a maioria dos clubes, dos 134 jogos realizados até aqui, o número de vitórias com mando de campo é de 48%, contra 27% sem mando.

Mas se o importante é somar o maior número de pontos, será que adquiri-los dentro ou fora de casa faz alguma diferença?

A tabela abaixo mostra o aproveitamento dos quatro primeiros colocados no campeonato, em que observamos aproveitamento superior aos 60% em todos os clubes.


 

É possível observar que até o momento, apesar de serem as melhores equipes do campeonato, o comportamento de cada é bem diferente em relação aos jogos com ou sem mando de campo.

O Palmeiras, por exemplo, embora seja o que tem maior aproveitamento em jogos como mandante (90,47%), é a equipe que apresenta-se com a quarta colocação em função do mal aproveitamento dos jogos realizados fora de casa (33,33%). Já o Flamengo é a equipe que apresenta maior equilíbrio tanto fora quanto em casa (71,42% para cada), assim como o Vasco, que segue a mesma tendência.

Muitos estudos já comprovaram que há vantagem de se jogar em casa independente do esporte praticado (Pollard e Pollard, 2005). No futebol, esse fenômeno não é diferente e já foi documentado em Espanha, (Sánchez et al. 2009), Turquia (Seçkin e Pollard, 2008), França (Dosseville 2007), Austrália (Clarke 2005), Escócia (Nevill et al. 1996), Inglaterra (Thomas et al. 2004) e em várias competições européias e sul-americanas (Pollard 2006).

Recentemente, um estudo realizado com o futebol brasileiro (Silva et. al. 2010) verificou não somente a vantagem de se jogar em casa, mas também as diferenças entre times de alta e baixa qualidade. Após analisar o desempenho de equipes brasileiras nos campeonatos que ocorreram entre 1998 e 2007, os autores encontraram taxa de aproveitamento de 32,60±5,62% para os times de baixa qualidade; 50,60±2,31% para equipes medianas e 66,60±2,79% para equipes de ponta (p<0,001). Com o levantamento, os autores concluíram que o fator local do jogo pode ser atributo de vantagem nos confrontos do Campeonato Brasileiro da primeira divisão, sendo mais pronunciada quando a qualidade do clube é maior.

Apesar dos achados, os fatores que justificam tal aproveitamento ainda não são claros ou não se reproduzem em todos os países.

Fatores como viagem, motivação, auto-confiança, postura da equipe, pressão da torcida e interferência da arbitragem podem explicar parte desse fenômeno e necessitam de maior investigação.

Com isso, é importante que cada equipe conheça suas forças e limitações tanto dentro quanto fora de casa para traçar estratégias que possam melhorar seu desempenho geral afinal três pontos em casa valem a mesma coisa do que três pontos fora.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

Referências bibliográficas

Pollard R, Pollard G. Long-term trends in home advantage in professional team sports in North America and England (1876-2003). J Sports Sci. 2005 Apr;23(4):337-50.

Sánchez PA, García-Calvo T, Leo FM, Pollard R, Gómez MA. An analysis of home advantage in the top two Spanish professional football leagues. Percept Mot Skills. 2009 Jun;108(3):789-97.

Seçkin A, Pollard R. Home advantage in Turkish professional soccer. Percept Mot Skills. 2008 Aug;107(1):51-4.

Dosseville FE. Influence of ball type on home advantage in French professional soccer. Percept Mot Skills. 2007 Apr;104(2):347-51.

Clarke SR. Home advantage in the Australian Football League. J Sports Sci. 2005 Apr;23(4):375-85.

Nevill AM, Newell SM, Gale S. Factors associated with home advantage in English and Scottish soccer matches. J Sports Sci. 1996 Apr;14(2):181-6.

Thomas S, Reeves C, Davies S. An analysis of home advantage in the English Football Premiership. Percept Mot Skills. 2004 Dec;99(3 Pt 2):1212-6.

Pollard R. Worldwide regional variations in home advantage in association football. J Sports Sci. 2006 Mar;24(3):231-40.

Silva CD, Medeiros NC, Silva ACD. Vantagem em casa no campeonato brasileiro de futebol: efeito do local do jogo e da qualidade dos times. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum 2010, 12(2):148-154.

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A dança dos treinadores 2

Há um ano escrevia nesta Universidade do Futebol sobre a constante troca de treinadores por parte dos clubes, que é tratada por estas organizações como a “solução de todos os problemas”. Ora, “futebol é resultado”, afirma a grande maioria ao justificar este tipo de mudança.

Em 2011 o fenômeno se repete e não se vislumbra uma correção de rumo consistente para as próximas temporadas do futebol. Sempre reflito sobre o assunto e me pergunto o porquê de tentarem sistematicamente a mesma solução e esta incrivelmente não funcionar: seria culpa apenas dos gestores dos clubes?

Até pouco tempo eu acreditava que sim, que o problema estava centrado unicamente na gestão. Contudo, ao conversar com amigos, professores e treinadores que estão no mercado é possível afirmar que tudo isso não passa de algo cultural. Tudo bem, novamente nenhuma novidade!

Mas é muito estranho perceber que os próprios treinadores aceitam a instabilidade do seu cargo como algo absolutamente normal. Não parece existir uma luta para que as coisas mudem e deem certo na próxima vez. Que se faça uma reanálise constante dos pontos positivos e negativos de seu histórico como treinador e procure um processo de mudança.

A desculpa sempre recai no senso comum: “futebol é resultado e três derrotas seguidas, independente da forma como elas aconteceram, são mais do que justificáveis para a demissão”. Olha-se apenas para o domingo e não para o trabalho que é realizado ao longo da semana.

A verdade é que os treinadores saem de um clube a outro repetindo seus próprios erros. A persistência de ambos, dirigentes e treinadores, em relação às mesmas atitudes é o que inibe o desenvolvimento e o crescimento do conhecimento neste mercado.

E mudar este cenário é possível?

Cultura é uma das coisas mais difíceis de serem mudadas. Apenas a renovação dos agentes envolvidos somado a uma educação maciça aos que hoje labutam no processo parece ser a melhor solução para minimizar erros e transformar os processos de tomadas de decisão no futebol em algo mais técnico e não tão pautado no senso comum.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  

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Filosofia

Normalmente, não costumamos ser explícitos na revelação de nossas fontes de inspiração para escrever uma dada coluna.

Porém, quebro o protocolo e digo que a vontade de falar sobre filosofia e futebol veio após assistir ao jogo entre Internacional e Barcelona, pela Copa Audi, disputada na Alemanha.

E, segundo minha limitação a respeito do tema, nem sei qual preposição deveria utilizar ao levar adiante o texto: filosofia do futebol, filosofia no futebol, filosofia de futebol.

Sei, sim, que Platão e Aristóteles, via Wikipédia, alentaram minha busca pela razão ao escolher o assunto.

Diz Platão: “A admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a filosofia”.

Aristóteles ratifica: “Os homens começam e sempre começaram a filosofar movidos pela admiração”.

O FC Barcelona destes tempos recentes me deixa admirado. Percebe-se que também a equipe incorporou o lema Mais que um clube.

Isso se reflete dentro de campo, pois o time reserva foi campeão do torneio, enquanto o Internacional, sôfrego, tentava equilibrar o jogo com o time titular.

E este time de reservas era composto, em sua maioria, de jogadores formados e revelados pelo Barça. Ou seja, todos os valores filosóficos da instituição – que faz questão de exaltá-los – estão incorporados no DNA desde a base.

O reflexo acaba sendo a coesão da equipe dentro de campo, pois fora dele também existe uma cultura corporativa bem gerida.

No Brasil, tentamos melhorar a “treinabilidade” das equipes com Tite. Ou “implantar a filosofia” com Luxemburgo.

Confesso que ainda não aprendi os dois conceitos. E não consigo ver, no horizonte próximo, algo parecido com os grandes clubes europeus, cujo peso institucional forma equipes históricas, tal qual o Barça, Real Madrid, Manchester, Liverpool, Milan, Bayern.

Em minha sanha de conhecimento, tropeço na resenha do livro Filosofia do Futebol, do ilustre Prof. Manuel Sergio, bem aqui, ao meu lado, no maior portal do conhecimento sobre futebol, a Universidade do Futebol.

Prega a sabedoria em não tentar melhorar aquilo que já é perfeito, quando se reconhece a perfeição. Por isso, transcrevo o texto, nos excertos pertinentes à minha inquietude:

Após uma breve apresentação e o prefácio, Manuel Sérgio começa respondendo a primeira grande questão: Para quê [serve] a filosofia? Ao destacar a importância da reflexão para a filosofia, lamenta que “nos dias em que vivemos refletir parece-nos algo de perfeitamente inútil”. Logo adiante, ao justificar um programa para uma disciplina de Filosofia do Futebol afirma: “A filosofia não dialoga apenas com o saber das ciências, mas com todas as formas de conhecimento e de pensamento e de práticas. Daí, a filosofia do futebol.”

De forma provocativa chega a questionar a necessidade de um “preparador físico” tradicional na comissão técnica de uma equipe, na medida em que entende não ser possível preparar o “físico” de nenhum atleta de forma isolada, separado das demais dimensões humanas (psicológicas, sociais, culturais) e aspectos do treinamento (técnicos, táticos, emocionais).

Numa de suas mais contundentes considerações o mestre-filósofo afirma que a principal interrogação que o treinador deve fazer a si mesmo é “Que tipo de homem quero eu que nasça do treino, ou da competição, que vou dirigir?”. Sem dúvida uma questão fundamentalmente filosófica!

O capítulo seguinte é dedicado a um tema que tem sido caro dentro de suas proposições de mudanças paradigmáticas no esporte e procura justificar que “para saber de futebol é preciso saber mais do que futebol“.

Arrisco-me: “Papai” Joel Santana deve ser o melhor técnico do Brasil. Ele sabe “tratar o jogador com carinho” e com sabedoria, ser humano que é.

E como sabe mais do que futebol, poderia treinar o Barça, mais que um clube.

Leitor, não leve a sério minhas conclusões lógico-filosóficas. Minhas premissas podem não ser as mais apropriadas.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Como treinar o passe?

O passe é caracterizado pela transmissão da bola entre dois jogadores da mesma equipe. Para a realização do passe, o jogador pode utilizar qualquer parte do corpo, exceto braço, antebraço e mão. Isso tudo é óbvio, mas como treinar esse fundamento que é o de maior incidência no jogo de futebol?

Para iniciarmos essa discussão vamos a alguns fatos…

Na Copa do Mundo de 2010 o jogador espanhol Xavi foi quem mais realizou passes durante toda a competição, contabilizando 669 ações neste fundamento. Esse jogador participou de todas as sete partidas da Espanha jogando 636 minutos, ou seja, realizou pouco mais de um passe por minuto e teve um aproveitamento de 81%.

Podemos dizer que esse jogador atingiu a maestria no ato de passar a bola. Essa maestria ocorreu devido a diversos estímulos provenientes do treinamento e dos jogos ao longo dos anos.

Contudo, o gesto motor é que define a maestria desse jogador? Se o movimento for “perfeito”, os passes chegarão com precisão ao seu destino?

Vamos lá!

De todos esses passes realizados, nenhum aconteceu em um ambiente idêntico, em que os jogadores estivessem posicionados da mesma forma, a bola tendo percorrido a mesma distância, na mesma região do campo, etc.

Todos os passes foram realizados em um ambiente complexo e aleatório, no qual duas equipes se confrontaram em busca do melhor resultado para si. O ato de passar se releva maior que o gesto motor. Passar é apenas a manifestação da ação que começa na análise da situação, passa pela tomada de decisão e chega até o gesto motor propriamente dito, que também não é apenas o gesto, mas carrega uma série de construtos sociais, culturais, atitudinais, etc. do atleta.

Se uma solução apenas for treinada e mecanizada a fim de resolver todos os problemas envolvendo a transmissão da posse de bola, provavelmente o que teremos será um jogador incapaz de apresentar as melhores soluções dentro do jogo, pois estamos negando a complexidade do ato de passar e nos focando apenas no gesto estereotipado em si.

Sendo assim, como treinar o passe?

O passe deve ser treinado em um ambiente imprevisível e aleatório, onde o jogador será estimulado a resolver os problemas impostos pelo jogo a partir da transmissão da posse para um de seus companheiros de equipe.

Neste ambiente a análise da situação, a tomada de decisão e a ação estarão se desenvolvendo de forma integral tendo o jogo como norte.

Contudo, preciso alertá-los que o passe está inserido dentro das “competências essenciais” do jogo de futebol, mais precisamente dentro da “relação com a bola”. Vale destacar que as competências essências são habilidades fundamentais para o jogo. Além da “relação com a bola”, a “estruturação do espaço” e a “comunicação na ação” fazem parte dessas competências. Vale destacar ainda que essas competências devem ser o foco de desenvolvimento nas categorias menores dentro da base dos clubes.

Desenvolver o passe significa desenvolver a relação entre o jogador e a bola em todo o processo de transmissão da posse de bola, pois como foi descrito acima, o passe pode ser feito com diversas partes do corpo e quanto mais recurso o jogador tiver na “relação com a bola” maior será sua habilidade e sua capacidade de resolução de problemas quando este está em contato com o objeto de disputa do jogo.

Para tentar clarificar “praticamente” essa discussão, descrevo abaixo um exemplo de atividade que se bem orientada e inserida dentro de um processo de treino adequado pode contribuir para o desenvolvimento da relação com a bola no que diz respeito ao passe contextualizado ao jogo de futebol.

Descrição

Matriz
– Atividade é composta por duas equipes de cinco jogadores, mais dois coringas, que jogarão para a equipe que estiver com a posse de bola.
– O objetivo da equipe que está com a posse de bola é trocar 10 passes entre seus jogadores.

Variações
– 1º momento: passes serão livres.
– 2º momento: passes com a perna não dominante.
– 3º momento: o passe tem que ser de primeira se for realizado com a perna dominante e os toques são livres se o passe for realizado com a perna não dominante.
– 4º momento: a cada dois passes um deve ser de primeira.
– 5º momento: a cada dois passes um deve ser realizado para o quadrante oposto ao da bola.
 


 

Veja que as regras potencializam o passe como foi dito, mas cada uma das variações age de maneira diferente em todo o processo de análise da situação, tomada de decisão e ação motora.

No 1º momento, o foco é no passe e não há limites de toques na bola. Nos 2º e 3º momentos, o foco passa a ser na utilização da perna não dominante. Já no 4º e 5º momentos, o foco é na análise da situação e na tomada de decisão. Com isso há sempre um novo conflito sendo gerado e a evolução da relação com a bola é constante.

Por hoje cesso meus conflitos por aqui!

Até a próxima.

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Ao campeão da América, parabéns!

Em 2006, a seleção uruguaia não figurava entre os países que disputavam a Copa do Mundo do referido ano. Quatro anos mais tarde, após conseguir vaga na repescagem, conquista uma surpreendente quarta colocação sob o comando do técnico Oscar Tabárez, caindo somente nas semifinais diante da seleção holandesa. Em 2011, surpreende também nas categorias inferiores ao alcançar os vice-campeonatos sul-americano e mundial com a equipe sub-17 e ao obter a segunda colocação do sul-americano sub-20.

Na recém-encerrada Copa América, frustrante para os brasileiros mais imediatistas, o futebol uruguaio recebe elogios mundiais ao conquistar o 15º título continental e se tornar o país que mais vezes venceu esta competição.

Por trás dos resultados, obviamente, muito trabalho. Trabalho que abrange a cobrança feita pelo treinador aos dirigentes uruguaios em relação à necessidade de investimentos nas categorias de base, à detecção de talentos em todas as cidades do pequeno Uruguai (3,4 milhões de habitantes), ao planejamento de longo prazo para as seleções menores e à definição e aperfeiçoamento de um time-base vislumbrando resultados como consequência de um trabalho bem estruturado na equipe principal.

O encerramento do ciclo de alguns jogadores na seleção, a promoção de novos talentos e as peças de substituição também são temas do projeto coordenado por Oscar Tabárez e que pode ser acompanhado por entrevistas em diversos meios de comunicação.

Nestas entrevistas, o “pensar” do treinador é manifestado com a utilização de palavras e expressões que deveriam ser multiplicadas no universo do futebol: ser humano, exemplo, educação, trabalho em equipe, evolução e responsabilidade.

O ser humano, analisado não só por sua qualidade técnica ou tática, mas também pelos seus sonhos, desafios e dificuldades. O exemplo que a seleção atual é para as seleções inferiores e futuras gerações do futebol uruguaio ao resgatarem o respeito mundial. A educação, também denominada pelo treinador de formação integral, como meio fundamental para obtenção dos resultados em longo prazo. O trabalho em equipe, muitas vezes esquecido nas gerações anteriores. A evolução, esperada por saber que estava no caminho certo e a responsabilidade de representar a nação que, hoje, sai às ruas não com as camisas de Barcelona, Boca Juniors ou Inter de Milão, e sim com as dos selecionáveis Lugano, Forlán ou Suárez.

Se nas entrevistas fica evidente o “pensar” do treinador, é no campo de jogo que o comportamento dos jogadores traduzirão se, de fato, este “pensar” se transformou no “jogar” de sua equipe. Nas seis partidas disputadas, foram três vitórias, três empates, nove gols marcados e apenas três gols sofridos. O grande jogo antes da final foi, sem dúvida, o duelo contra a anfitriã Argentina, vencido nos pênaltis, após partida impecável defensivamente e nas transições ofensivas, com um jogador a menos desde o final do primeiro tempo.

Entre os gols marcados, três foram feitos por posse em progressão (a partir de penetração, cruzamento e rebote do goleiro); dois por bola parada ( a partir de uma falta lateral e falta frontal); dois por transição ofensiva (a partir de assistência e drible) e dois por transição defensiva (a partir de passe vertical e assistência).

Nos primeiros jogos, o Uruguai foi ao campo no 1-4-3-3, porém, desde o último jogo da fase de grupos, estruturou o espaço no 1-4-4-2 (duas linhas). E, na partida final, conquistou o título sendo superior ao Paraguai durante todo o jogo.

O goleiro Muslera praticamente não foi acionado em situações de proteção do alvo. Agiu principalmente em ações de reposição e em uma interceptação.

A linha defensiva Maxi Pereira-Lugano-Coates-Cáceres não circulou a posse, subiu em bloco ofensivo com os laterais em amplitude e apoio frequentes, foi muito veloz nas transições defensivas, especialmente nas ações de recomposição e fechou todos os espaços possíveis de ação ofensiva paraguaia, ora equilibrando com os laterais a circulação da posse feita pela seleção paraguaia, ora subindo para diminuir o espaço entre-linhas. Nas bolas aéreas, Lugano-Coates foram superiores.

González-Perez-Arévalo-Alvaro Pereira compuseram a linha de meio-campistas. Orientados para recuperação da posse, ou conseguiam recuperá-la, ou apressavam o jogo paraguaio forçando-lhes o erro, nas transições ofensivas, o passe procurava por Suárez ou Forlán, com as subidas dos meias abertos para a construção do jogo ofensivo com muita progressão e rara manutenção; nas transições defensivas, a busca imediata pela posse.

E no ataque, Suárez-Forlán alternavam desmarcações, com Forlán mais próximo à zona de risco e Suárez movimentando muitas vezes nas faixas laterais. Na transição defensiva, queriam a bola e dificultavam a saída jogando do adversário. Defensivamente, a linha 2 foi referência de marcação durante todo o primeiro tempo e, na etapa final, atraíram o Paraguai, recuando mais uma linha. Nas transições ofensivas, Suárez era apoio imediato e Forlán dava profundidade à equipe.

Veja, abaixo, os gols da final da Copa América, com a identificação de algumas falhas da equipe Paraguaia:
 


 

Ao perguntarem para Oscar Tabárez se pretende jogar como o Barcelona, ele afirmou que, nas condições do futebol uruguaio, é improvável conseguir tal feito. Como nem todo bom futebol é tão belo quanto o do clube catalão, o do campeão da América merece parabéns e obrigado pelo competente exemplo!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br  

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Você tem um plano B na manga?

Saudações a todos!

No último domingo (24/07), estava assistindo ao GP de Fórmula 1 na Alemanha vencida brilhantemente por Lewis Hamilton, e um assunto veio a minha mente: quanta estratégia e quantos planos uma equipe de ponta deve ter para encarar uma corrida?

A estratégia para uma corrida começa muito antes da largada da semana seguinte. Esta se inicia na montagem dos carros no meio da semana e neste momento a equipe já deve ter todos os seus planos traçados.

Com certeza existe um plano principal, o plano A, aquele em que tudo deve acontecer conforme o planejado. Funciona mais ou menos assim: se nos classificarmos na primeira fila, nosso sistema de largada certamente será o melhor, passaremos a primeira volta na primeira colocação. Desta forma, abriremos em média meio segundo de vantagem por volta, trocaremos os pneus nas 23ª e 46ª voltas, em média gastaremos 25 segundos em cada troca para entrar e sair do boxe e cruzaremos a linha de chegada com folga de 9 segundos sobre o 2º colocado. Enfim, tudo perfeito!

Ótimo se fosse sempre assim, não é? Mas na vida real, assim como na corrida, não é sempre que tudo ocorre como conforme o plano A.

Em uma corrida, os imprevistos podem ocorrer por conta da temperatura estar diferente da média nos dias de treino. Também pode chover, furar um pneu, acontecer uma batida, aparecer um “safety car”. Ou mesmo a largada pode não ser das melhores, a troca de pneus pode demorar mais que o previsto, etc. Em casos como estes, com certeza as equipes, além do plano A, contam com o plano B, C, D … e Z.

Buscando prever cada uma dessas situações e o que fazer para cada combinação de fatores, e se algo não for como previsto, cabe ao líder tomar a frente e decidir, no momento de pressão para a equipe – mas esse é outro tema que já falamos um pouco aqui e que voltaremos a falar novamente em outras oportunidades.

No futebol, também existem planejamentos e estratégias, acredito que não na mesma dimensão e sofisticação da F-1, mas existem. Por exemplo, se o adversário vier com uma formação específica ou com um determinado jogador, atuamos no plano A; se eles vierem com outra formação ou sem determinado jogador, vamos de plano B; se no primeiro tempo virarmos em vantagem fazemos desta forma; se virarmos empatando ou perdendo, fazemos de outra, e assim por diante. Algumas variáveis podem acontecer e cabe sempre ao líder decidir se algo sair fora do planejado.

Atualmente, a maioria das empresas, independentemente do seu porte, também têm seus planejamentos e estratégias. Longe do que acontece na em uma F-1, toda empresa precisa trabalhar, pelo menos, com um plano A e um plano B. Ter planos é muito importante, mas sabemos que o fator decisivo, e que falta na maioria das corporações, são atitudes acabativas, cumprir o que foi planejado!

A dúvida que fica é: a maioria das pessoas traçam seus planos e estratégias profissionais e pessoais?

Vejo por aí que muitos profissionais já traçaram um plano. Até mesmo os mais jovens já planejam e montam estratégias a longo prazo. Quando pergunto sobre seus planos para o futuro, muitos me respondem imediatamente: “quero atuar em determinada função por mais dois anos, depois obter uma função sênior e dentro de três ou quatro anos quero gerenciar uma equipe. No máximo em seis anos pretendo ser diretor nesta empresa ou em outra do mesmo segmento e, para isso, estou terminando a faculdade e em seguida aprimorarei meus conhecimentos em língua inglesa e uma pós na minha área. Paralelamente às atividades profissionais, na minha vida pessoal, pretendo ter um carro novo a cada dois anos, comprar minha casa em quatro anos, me casar e ter filhos”.

Como consultor, costumo receber muitos planos de empresas diversas. Sempre estudo o material, elogio as iniciativas, o planejamento estruturado e as ações encadeadas, dou sugestões, lapido alguns pontos, faço pequenos questionamentos e em seguida lanço uma pergunta: e se seu planejamento não sair de acordo com o que você espera, você tem um plano B?

Acreditem, 90% das respostas que recebo são as mesmas, inclusive com a mesma entonação de voz e espanto demonstrando no rosto: “plano B? Não havia pensando nisto! Meu plano estava tão bem estruturado, que não imaginei algo pudesse dar errado”.

Assim como na F-1 ou como em qualquer outro esporte, e também nas empresas, é fundamental ter, pelo menos, um plano B. Além disso, cada um de nós precisa pensar em planos e rotas alternativas para na nossa vida profissional e vida pessoal.

Todos nós desejamos que o nosso barco navegue em águas tranquilas e siga em rota desenhada. No entanto, se uma tempestade cair pelo caminho, é importante ter o desvio da rota previamente conhecido, senão o risco de afundar será maior.

Portanto, quem ainda não tem um plano A, faço o seu, e rápido! Para os que já o têm, pense em um plano B. Procure traçar rotas alternativas para nortear o que fará se sua promoção ou se seu aumento salarial não vier no tempo em que deseja, se seu noivado não virar casamento ou se sua viagem for adiada. Aprendi que frustração e decepção estão intimamente ligadas a desejos versus realidade: portanto, pensar em planos e rotas alternativas em nossa vida é, sim, algo saudável!

É isto pessoal! Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos na próxima semana.

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br

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Futebol para civil ver?

Como todos sabem, infelizmente, o Brasil não se sagrou campeão da Copa do Mundo de Futebol Feminino. Pelo contrário, foi eliminado nas quartas de final pela equipe dos Estados Unidos em um fatídico 3 a 2, com direito a gol no finzinho da prorrogação. Mas, para compensar a tragédia, conquistamos o título de campeões nos V Jogos Mundiais Militares que terminaram no último dia 24 de julho no Rio de Janeiro.

Para quem não sabe, este foi o maior evento militar esportivo já realizado no Brasil com cerca de sete mil participantes (4.900 atletas e 1.800 delegados) vindos de mais de 100 países que disputaram 20 modalidades. O Brasil foi representado por cerca de 250 atletas e, no final, não somente o futebol feminino sagrou-se campeão, mas o país superou a China no quadro de medalhas e conseguiu o primeiro lugar da competição.

Mas será que realmente temos motivos para comemorar?

Ao ganhar o título de primeiro colocado podemos considerar que nosso Exército e nosso Esporte são realmente os mais fortes do mundo?

Como o nome já diz, “V Jogos Mundiais Militares”, era de se esperar uma competição militar, mas o que se viu não foi bem isso.

Com exceção de modalidades exclusivamente militares, vários outros esportes contaram com atletas já consagrados e que se tornaram militares exclusivamente por causa desta competição. Como exemplo desses “atletas-militares”, encontram-se: Flávio Canto (judô), Gabriel Mangabeira (natação), Joanna Maranhão (natação), Valeskinha (vôlei), Jadel Abul Ghani Gregório (atletismo), Vicente Lenílson (atletismo) entre outros.

Mais especificamente relacionado ao futebol, a equipe feminina também contou com a zagueira Tânia Maranhão e a meia Andréia dos Santos (ambas da seleção), que venceram a Alemanha por 5 a 0 na final e ficaram com o título.

Antes de você perguntar que mal há nisso, informo que muitos desses atletas não têm tanta evidência e alguns inclusive já se encontram em fim de carreira.

Sinceramente tenho certo receio de essa moda pegar e as Forças Armadas se tornarem asilo de ex-atletas…

É que no fundo, ao oficializar “atletas-militares”, as Forças Armadas demonstram que não há preocupação em formar militares-atletas. Com isso, permanece o bom e velho jeito brasileiro de resolver problemas imediatos, porém que se acumulam em longo prazo. Porque uma coisa é o sujeito ser militar e se desenvolver como atleta, e outra é o sujeito ser atleta e se tornar militar, pois mesmo com o título, fico me perguntando:

1. Qual a vantagem dessa política imediatista?

2. E de ser campeão destes jogos?

3. A quem impressionamos? Os brasileiros, os estrangeiros, todo mundo ou ninguém?

4. Será que podemos esperar o mesmo sucesso na Copa de 2014?

5. E nas Olimpíadas de Londres de 2012?

6. E em 2016 no mesmo Rio de Janeiro em que acontecerão os jogos?

Sem resposta para algumas dessas perguntas, penso que no final das contas não temos excelência no desenvolvimento do Esporte Militar brasileiro e, além de tudo, as Forças Armadas podem se tornar apenas uma opção para aqueles atletas que queiram prolongar a carreira por mais algum tempo.

E para piorar, nem temos esperança de que a formação esportiva fora das Forças Armadas seja melhorada. Nem no futebol, principalmente o feminino, nem em nenhum outro Esporte.

Para finalizar, só lamento o fato de esses Jogos Militares terem acontecido quase que simultaneamente à Copa América, pois muitos jogadores não puderam ser “recrutados”. Talvez nas Forças Armadas muitos deles demonstrassem mais amor e vontade do que na seleção. Sem contar o aspecto disciplinar. Já pensou todos com barbas e cabelos aparados só se preocupando em servir a nação? Poderíamos nem ganhar o título, mas talvez passássemos à semifinal vencendo a Argélia, que eliminou o Brasil nos pênaltis.

Ih!

Falei pênaltis?

Deixa pra lá vai…

Até semana que vem…

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br