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Fast Track 2014

George W. Bush, durante seu governo nos EUA, fez uso do chamado Fast Track.

A tradução da expressão ao português significa Via Rápida.

Com isso, todos os acordos e tratados comerciais negociados pelo presidente não seriam submetidos à aprovação do seu teor pelo Congresso do país.

Uma vez negociado, caberia ao Congresso aprovar no todo, ou vetar no todo, o texto normativo.

Não havia ingerência do Legislativo sobre o Executivo. Não havia outorga de poderes e/ou limites de um Poder para outro Poder.

Os limites eram a Constituição e o ordenamento jurídico norte-americanos.

Preservava-se, com efeito, a autonomia do chefe do Poder Executivo para negociar em nome do país – o que permitiu grande expansão comercial dos EUA em tratados bilaterais e regionais, como com o Chile, ASEAN e outros.

No Brasil, o governo acaba de aprovar, em Medida Provisória, o Regime Diferenciado de Contratação Pública (RDC), para acelerar a licitação e execução das obras da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016.

Suscitou polêmica o ponto que assegura sigilo na divulgação da estimativa de preço das obras no edital.

O governo alega que a postura serve para evitar superfaturamento e cartel de empresas. A ideia é inverter o pólo da negociação: não se sabe quanto tem no bolso do comprador; por isso, as empresas se esforçariam em apresentar melhor técnica e preço para vencer a licitação.

Ademais, os órgãos de controle interno e externo saberão de todos os detalhes referentes aos editais, incluindo o preço que o governo está disposto a bancar.

Uma mudança positiva levantada é a contratação de ponta-a-ponta, turn key (chave na mão) ou design and build (projete e construa). Todos, na prática, referem-se ao fato de que quem planeja e projeta a obra deve construí-la.

Isso facilita o processo licitatório e de fiscalização, além de inibir intermináveis aditivos contratuais, diante da divergência entre o projeto e a execução da obra.

Não podemos, simplesmente, tratar algo complexo e importante como a seriedade e transparência com o dinheiro público apenas na base da gritaria.

O RDC pretende, a meu ver, flexibilizar o processo de organização dos eventos esportivos que o Brasil receberá.

Obviamente, deve-se respeitar a legislação nacional e os princípios e boas práticas de gestão pública.

Portanto, ao trabalho quem tem que fiscalizar e tem competência técnica e obrigação funcional para tanto: Tribunal de Contas, Procuradoria, Ministério Público.

Fiscalizar tecnicamente é um grande problema brasileiro.

Não é minha função. Não é a sua.

Nem da imprensa sedenta por sensacionalismo.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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DVD's: os "melhores momentos" dos jogadores de futebol

No ambiente corporativo, a contratação de bons profissionais passa inicialmente pelo crivo da seleção de currículos e, num segundo momento, iniciam as entrevistas e dinâmicas de grupo. Para jogadores de futebol, a criação do seu DVD é o seu currículo e, consequentemente, carta de apresentação para os procedimentos iniciais de uma possível contratação.

As contratações e negociações de atletas acontecem em todos os níveis do futebol, entre equipes de base e profissionais, em transferências no país ou internacionais, nas primeiras e nas últimas divisões nacionais, por intermédio de empresários, agentes, dirigentes e até por indicações de treinadores.

Para quem já teve oportunidade de assistir à edição de jogos de algum atleta, provavelmente deve ter se deparado com uma exacerbação de qualidades técnicas, com imagens fechadas em um ou dois jogadores na maioria das ações, com predomínio de jogadas individuais e ações exclusivamente com bola.

Nestas edições, os vídeos dos goleiros compreendem as ações diretas de defesa e algumas saídas do gol, os dos defensores, os desarmes, carrinhos, subidas de cabeça e interceptações e nos vídeos dos atacantes observam-se os dribles, finalizações e gols. Para cada posição, os vídeos resumem-se aos fundamentos técnicos mais utilizados pelas suas regras de ação.

Nos grandes clubes, que devem contratar bons jogadores ou então potenciais bons jogadores em atividade, conhecer a performance atual de um atleta é simples. Com um departamento de análise de desempenho, bons analistas, vídeos e relatórios de vários jogos do atleta pretendido, é possível definir se o jogador em questão atende aos interesses da diretoria e/ou comissão técnica em relação ao desempenho de jogo.

Já para todos os demais clubes (a grande maioria), que são os não tão grandes, os pequenos, os formadores e até os que nem sabem o que são, a realidade já não é a mesma. Departamento de análise de desempenho e analistas inexistem. No entanto, do menor ao maior clube, em todas as salas dos departamentos de Futebol espalhadas pelo Brasil, inúmeros DVD’s se acumulam semana após semana.

A questão é: os DVD’s existentes realmente mostram os “melhores momentos” de um determinado jogador de futebol? Infelizmente, não!

Com a precocidade das negociações do mercado atual e a repercussão gerada pela mídia, é bastante comum meninos de 13, 14 e 15 anos já terem seus “melhores momentos” editados em uma mídia e distribuídos pelos pais em diversos clubes e até postados na internet.

A partir dos 16 anos, a quantidade de DVD’s é espantosa. Distribuídos por agências, dirigentes e empresários, esses materiais chegam até aos clubes, para agregar valor ao produto jogador de futebol e despertar interesse de contratação.

O conteúdo, porém, não permite a identificação de todas as características de jogo de determinado atleta para além de sua relação com a bola. Um bom material deveria apresentar predomínio de imagens amplas, que visualizassem diversos jogadores na mesma ação e que possibilitassem a observação dos comportamentos não só individuais como coletivos para cada momento do jogo.

Independente da posição, um bom DVD deveria conter ações ofensivas, defensivas e de transições do jogador para ações com e sem bola.


 

No olhar tradicional, os “melhores momentos” são observados somente quando o jogador tem a bola sob seus pés (ou mãos, no caso dos goleiros), mas, quem já superou esse paradigma sabe que o tempo sem bola ao longo de um jogo é consideravelmente superior ao tempo com bola. Logo, muitos melhores momentos durante uma partida acontecem quando o jogador está exercendo alguma ação sem bola que identifica o seu nível de compreensão do jogo.

Com bons DVD’s em mãos, equipes profissionais com poucos recursos financeiros e equipes de futebol de base poderiam ser mais precisas nas contratações, reduzindo seus custos.

Exemplificando: para aquelas três vagas que existem no alojamento não precisam passar vinte atletas até três serem escolhidos pelo treinador e dirigentes para permanecer no clube. Uma pré-seleção a partir do DVD pode ser feita e seis ou sete atletas convidados para a segunda fase do processo seletivo.

Uma equipe apresenta carência em uma posição e o treinador precisa de um meio-campista que já tenha jogado aberto em uma plataforma 1-4-4-2 em duas linhas de quatro, faça diagonais com e sem bola em velocidade, tenha bom passe curto e longo, seja veloz na transição defensiva para passar a linha da bola e feche linhas de passe para marcar. Quando sua equipe recupera a posse, busca rapidamente a faixa lateral do campo. Um bom DVD lhe pouparia tempo para encontrar tal jogador.

Em relação às negociações, apresentar bons DVD’s aumentaria o poder de barganha para a negociação, sendo valorizado o currículo do jogador de futebol e apresentado com a maior fidedignidade possível o seu desempenho técnico-tático-físico-emocional.

Porém, antes de mudar os DVD’s existentes no futebol brasileiro, a visão do mercado sobre o atleta deverá mudar. Treinadores, dirigentes, empresários e agentes precisam enxergar de maneira ampliada as funções de um jogador de futebol, pois a produção dos “melhores momentos” atuais somente contribui para a manutenção de um pensamento reducionista, limitado as ações técnicas do jogo e que escondem muitas características de cada jogador.

Como para tudo na vida, a mudança não acontecerá na mesma velocidade e com todas as pessoas. Seguramente, aqueles que mais rapidamente se adaptarem terão maiores chances de sucesso no concorrido mercado futebolístico, seja para captar bons jogadores, ou então, para negociar o seu produto.

E se um dia todos mudarem, no período de recesso do futebol europeu, talvez não escutemos mais inúmeras declarações de jogadores brasileiros dizendo que os treinamentos por lá são muito diferentes dos treinamentos feitos por aqui, principalmente no que diz respeito à “parte tática”.

Você já viu um bom DVD?

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Camisa não ganha jogo. Mas quem veste, e como veste, faz toda a diferença

Saudações a todos!

Essa frase do título não é minha, mas ouvi do Rogério Ceni após o último jogo do São Paulo contra o Ceará, pelo Campeonato Brasileiro. Concordo plenamente com ele e explicarei a razão.

Hoje, um assunto em evidência, pois afeta significativamente a ambição de crescimento de nosso país, é a falta de mão de obra qualificada, o “apagão profissional” no mercado de trabalho. Estamos vivendo uma fase que só esta começando. Por conta do foco para resolver um problema latente, as empresas estão esquecendo que um campo muito bem arado e pronto para a colheita é seu próprio campo. Poucas empresas sabem como blindar seus colaboradores em relação ao assédio de empresas concorrentes.

Retenção de talentos é manter na empresa os melhores colaboradores que se tem. Existem várias ações que a empresa pode fazer para manter seus funcionários engajados, no entanto, a empresa, para o funcionário, é na realidade o seu líder imediato.

Podem existir políticas e benefícios atraentes, mas sem uma liderança presente e motivadora nada se sustenta por muito tempo. Para reter colaboradores é preciso que o líder seja realmente apaixonado por pessoas e saiba como trabalhar os talentos individuais de forma a dar “corpo” a uma força inovadora que impulsione a empresa no caminho do sucesso. Ser líder é saber ouvir, manter e desenvolver os talentos.

Há alguns anos as empresas se diferenciavam pelas condições econômicas, tecnológicas e estruturais. E hoje? Atualmente, as empresas têm financiamentos mais acessíveis, os mesmos fornecedores de sistemas, máquinas e infraestrutura e trabalham praticamente com os mesmos processos, as “best practices”.

O motivo pelo qual as atenções se voltam aos recursos humanos (pessoas), portanto, não é por gratidão ou por retribuição. O que faz com que o diferencial entre empresas sejam efetivamente reais são as pessoas que compõem a empresa. As pessoas são as únicas “coisas” capazes de dar novas ideias.

E para o profissional, o que mudou?

Estes ficam em uma empresa, ou não, muito mais devido à relação com ao ambiente de trabalho do que com os benefícios que ela oferece, ou seja, as chamadas “algemas de ouro”. Se a empresa tem todas as condições de desenvolver seus colaboradores, mas não o faz em razão daquele gestor “chato”, está fadada ao fracasso em relação à retenção de pessoas.

Líder de fato dispõe entre 60% e 70% de seu tempo cuidando das pessoas sob sua liderança. Seja para resolver questões simples, como abono de falta ou férias, até questões mais complexas de desentendimentos entre membros da equipe ou prazos de entregas de trabalhos.

Segundo a Fundação Peter Drucker, de cada três decisões sobre pessoas tomadas pelos líderes, duas são equivocadas. Se um gestor financeiro de cada três aplicações errar duas, será demitido rapidamente, mas quando o assunto são pessoas ainda se é muito tolerante.

O desafio, então, é entender que a empresa não é apenas o que está escrito nos quadros de “visão, missão e valores”. Os principais executivos das organizações precisam saber que a liderança imediata, para seus liderados, é o “retrato real da empresa”.

Não existe uma fórmula para se estabelecer quem pode ser líder. No entanto, para ser líder é preciso perguntar a sim mesmo:

“- Gosto de gente?”
“- Estou pronto para explicar com clareza quantas vezes forem necessárias?”
“- Sei tratar as diferenças dentro de suas diferenças? Tratar as pessoas como únicas?
“- Sou chefe – apenas mando ou crio motivação para a realização?”

Lembre-se que as pessoas escolhem trabalhar em empresas que identificam nelas seu principal bem. Não adianta discursos ou dizeres motivacionais nas paredes. É preciso que a liderança saiba que a responsabilidade de motivar e reter talentos esta em suas mãos.

No esporte, os exemplos dessa mesma realidade, onde o líder faz toda a diferença, são muitos. Citarei dois. Há quatro anos, a equipe da Ferrari tinha um engenheiro que era responsável, entre outras atividades, pelos mecânicos de motores, e mecânicos que faziam os pits. Em determinado momento, a cúpula ferrarista achou que a estrutura poderia funcionar sem ele, pois era muito caro manter uma pessoa que cuidava “apenas” dos mecânicos de motores e de pits, afinal de contas, a própria estrutura fazia tudo funcionar tão bem.

A decisão foi tomada e desde então a Ferrari não ganhou mais nada; aliás, só perdeu. Felipe Massa perdeu um campeonato que estava garantido justamente por um simples erro no pit. Ou seja, quanto custou essa decisão? Tenho certeza de que o engenheiro demitido custava bem menos e que ele era um líder que antecipava problemas e evitava que eles acontecessem.

Outro bom exemplo da diferença que um líder nato faz está no futebol. Ele é Muricy Ramalho, hoje técnico do Santos. (Devido ao feriado, escrevo esta coluna antes do jogo final da Libertadores. Não sei se o Santos ganhou ou perdeu, mas independente do resultado, esse cara faz toda a diferença).

O São Paulo, assim como a Ferrari, em determinado momento achou que ele era caro e que a estrutura funcionava sozinha. Ele saiu do time e desde então o São Paulo não ganhou nem campeonato de botão. No Fluminense, ele chegou, arrumou a casa e foi campeão; saiu e de novo o clube desabou. Chegou ao Santos, quase fora da Libertadores, e o fez o time campeão.

Coincidências? Não! “Trabalho, meu filho”, como ele mesmo diz. Trabalho e o dom de ser um líder nato.

É isto pessoal. Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos na próxima semana.

Abraços a todos!

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br  

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Seleção, formação e detecção de talentos no futebol: quando a iniciação precoce pode atrapalhar

Continuando nossa discussão sobre os mecanismos envolvidos no processo de seleção, promoção e detecção de talentos no futebol, esta semana abrimos espaço para a iniciação precoce.

Alguns estudos apontam que para se tornar um expert em qualquer área são necessárias, em média, dez mil horas de dedicação. No esporte e mais especificamente no futebol, não deve ser diferente e, portanto, quanto mais tempo de qualidade o atleta tiver para praticar, mais chances ele terá de se desenvolver.

Um estudo realizado por Vayens et. al., (2009) demonstrou que o período de iniciação esportiva de atletas olímpicos varia em média dos sete aos 12 anos de idade e, em algumas modalidades, a iniciação ocorre antes mesmo dos sete anos. Outro estudo feito por Marques e Samulski (2009) em jogadores brasileiros aponta que a idade média de início de 186 jogadores profissionais foi de 8,95 anos e que dos 13 aos 20 anos tiveram carga horária de treino por volta de 5.555 horas (793 horas por ano de vida).

Esses dados mostram claramente que o problema não é começar cedo demais, e sim como se começa. Se, por exemplo, uma criança passa a jogar futebol como experiência para desenvolvimento de suas habilidades e capacidades motoras, sem exigências de desempenho e até participa de competições, mas sem a cobrança imposta a um atleta profissional, provavelmente ela poderá participar de momentos especiais que preparem seu físico e sua mente para a exigência futura da modalidade.

Do contrário, a exigência por padrões motores pré-estipulados, excesso de treinamento físico-técnico-tático em conjunto com a pressão de familiares e do clube por máximo desempenho, podem gerar um estado estressor e sobrecarga excessiva que ao invés de possibilitar o desenvolvimento pleno do jogador poderão causar afastamento tanto por lesões quanto por desmotivação.

Já que diversos aspectos culturais em nosso país promovem massificação de praticantes de futebol em idades bem baixas, uma política formativa embasada em parâmetros físicos, motores, cognitivos, psicológicos, afetivos e sociais poderia aumentar as chances não só de formar mais e melhores jogadores, mas também de alongar a carreira de cada um deles.

Mas como é difícil prever o que pode ocorrer com cada jogador durante o período de formação, o ideal seria que os clubes tivessem o maior número possível de praticantes com chances de sucesso e construíssem políticas de formação nas categorias de base com critérios bem definidos para avaliar as reais condições de cada jogador para evitar perdas de qualquer natureza. Além disso, deveriam ser inseridos num modelo educacional adaptado às viagens e concentrações, mas com qualidade suficiente para colocá-lo no mercado de trabalho, pois aos que não se tonarem jogadores por qualquer razão, teriam condições de continuar suas vidas mesmo fora do futebol, já que este é um outro problema social daqueles que nem se profissionalizam e nem aprendem outra atividade.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br  


Referências bibliográficas

Marques, M P, Samulski, D M. Rev. bras. Educ. Fís. Esporte, 2009 abr/jun 23 (2): 103-19.

Vaeyens R, Güllich A, Warr CR, Philippaerts R. Talent identification and promotion programmes of Olympic athletes. J Sports Sci. 2009 Nov;27(13):1367-80.

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Discurso midiático

Um milhão e trezentos mil seguidores no Twitter; 237 mil pessoas “curtiram” ele no Facebook; mais de 20 milhões de ocorrências no Google; vários fãs-clube espalhados pelo Brasil e um só nome, de apenas 19 anos: Neymar Júnior.

No último fim de semana saiu reportagem no “Esporte Fantástico”, da Rede Record, que retrata todo o potencial de marketing e negócios que Neymar tem movimentado.

Todos estes números e repercussões me fazem lembrar um artigo do Prof. Dr. Giovani de Lorenzi Pires, de 13 anos atrás (quando Neymar tinha ainda apenas 11 anos e seus passos já começavam a ser seguidos nas categorias de base do Santos), que procurava explicar e discutir a relação sociológica com o esporte na abordagem a cinco processos distintos, dentre eles o de “Mercadorização do Esporte” e o da “Espetacularização do Esporte”.

Uma leitura atenta ao texto ajuda a entender como a mídia ajuda a transformar jogadores como Neymar em ídolos de proporção incalculável. A ideia, segundo Pires, é que “a mensagem publicitária veiculada por seu intermédio (o da Mídia) seja sempre e cada vez mais contundente”, ou seja, os meios de comunicação social dominam o conteúdo e os espectadores aguardam passivamente a mensagem que, em um círculo virtuoso, há de gerar consumo em relação a estes ingredientes.
 

A mediação passa a ser realizada pelos meios eletrônicos de comunicação (especialmente a televisão), o que exige a presença de novos especialistas em produzir o evento de forma a obter este pretendido aumento no número de consumidores/espectadores: o mass media de marketing esportivo, que passa a “pensar” o esporte como uma mercadoria simbólica, cuja imagem (movimentos corporais humanos, emoções, valores sociais e ideológicos) precisa vender, ainda, a “necessidade” de consumo dos produtos disponibilizados. (PIRES, 1998).

O que ocorre no esporte é semelhante ao que acontece na cultura. Nos filmes, por exemplo, a grande maioria das pessoas não se apaixona exclusivamente pelo enredo da saga, mas sim pelo personagem, identificando-se com o seu cotidiano particular e procurando imitá-lo em determinados momentos na vida real.

As redes sociais têm contribuído em muito para personificar e aproximar os astros das “pessoas comuns”. Sábias são as empresas e veículos de mídia que tem conseguido se apropriar desse viés para estreitar ainda mais seu relacionamento com os consumidores. E como tem sido importante a onipresença destes ídolos para alavancar a indústria do esporte como um todo.

Pela lógica do capitalismo, aos gestores esportivos e aos treinadores (formadores de atletas), cabe compreender as dinâmicas sociais para entregar ao mercado não só atletas com capacidade técnica “diferenciada”, como também “produtos” que atendam os anseios da mídia e complementem o imaginário das pessoas como “personagens-modelo”.

Pela razão ideológica… deixa pra lá, hoje é final da Libertadores e o “cara do momento” pode fazer história e virar herói para muita gente. Não vale a pena entrar no mérito!

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  


Referência bibliográfica:

PIRES, Giovani de Lorenzi. (1998). Breve introdução ao estudo dos processos de apropriação social do fenômeno esporte. Revista da Educação Física-UEM, 9(1):25-34, 1998.

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Santo humano

Marcos é nome de santo. E, em se tratando do eterno goleiro do Palmeiras, a alcunha São Marcos talvez nunca tenha sido tão bem empregada como com ele. Mas, curiosamente, o que faz de Marcos cada vez mais santo é a sua singela “humanização” no universo do futebol atual.

O novo milagre do santo alviverde nada mais foi do que uma simples constatação. Marcos recusou-se a bater o pênalti para marcar o quinto gol da goleada sobre o Avaí. Em campo, o frisson da torcida e a euforia de narradores tornaria lógico para qualquer humano “normal” abdicar da humildade e consagrar-se como o santo de um gol só.

Mas Marcão não quis humilhar o adversário, que já perdia por 4 a 0. Sim, porque ele consegue ter a consciência, daquela que parece existir só quando somos crianças, de que seria humilhante o goleiro bater o pênalti já que o jogo está ganho. É aquela atitude que só nos enerva quando estamos jogando tão mal a ponto de o goleiro sair lá do lado dele, cruzar todo o campo e ir bater o pênalti.

As imagens mostram claramente que Marcos fez o sinal, mostrou que já estava 4 a 0 e que não queria bater a penalidade. Por mais merecedor que fosse de uma homenagem como essa, não era hora nem local para cobrá-la.
 


 

E por isso mesmo é que Marcos é santo. Num meio cada vez mais corrompido, o goleiro do Palmeiras e do Brasil mostra que ainda guarda senso ético em suas atitudes. Não apenas preocupado com o que a “mídia” irá dizer, mas sim com aquilo que o maltrataria o coração se lhe acontecesse.

Marcos consegue a proeza de ser canonizado em todo o Brasil, mesmo tendo, em toda a carreira profissional, defendido apenas um clube. Marcos não é só Palmeiras, mas também é do Brasil. É um santo que ainda conserva a essência do jeito de jogar futebol que aprendemos quando criança, com a regra da rua, da quadra, da escola. Em que não é correto humilhar o outro, em que não se pode esquecer que um dia você estará do outro lado da história.

São Marcos consegue ser santo exatamente por preservar a qualidade que antes os diferenciava dos outros mortais. Marcos é, antes de tudo, humano. E um baita ser humano!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O "estado de jogo"

Numa determinada sessão de treino, é significativamente difícil ter todos os atletas focados, comprometidos, cientes dos objetivos do treino na aplicação de um determinado jogo, entendendo suas regras, compreendendo sua lógica e agindo em função do seu cumprimento.

A ação pedagógica torna-se ainda mais trabalhosa se for considerado um ambiente em que pais, mídia, diversos treinadores e os próprios atletas afirmam que os jogadores de futebol já nascem prontos e também a convivência diária com jovens promissores que, certas vezes, tomam como exemplo alguns comportamentos de atletas pouco profissionais.

Porém, como mediador de um processo de evolução do “jogar” da equipe e como agente formador (e transformador), é função do treinador extrair o melhor de cada um de seus atletas e facilitar, por meio de sua liderança, abordagem, intervenção, comportamento e didática, o acesso ao “estado de jogo”, que é um grande parâmetro de qualidade do treino para quem ensina com Jogos.

O “estado de jogo”, definido pelo Dr. Alcides Scaglia, é caracterizado pela suspensão momentânea da realidade, onde há predomínio da subjetividade em detrimento da objetividade e que o seu ambiente (contexto) irá definir o que é ou não jogo.

No plano coletivo, ao iniciar um jogo da sessão de treinamento, é objetivo do treinador que, ao soar o apito inicial, toda a equipe rapidamente alcance referida condição. No entanto, quem já utiliza o jogo como metodologia de ensino perceberá que tal objetivo nem sempre é alcançado em todos os atletas.

Nem sempre é alcançado, pois no plano individual, cada elemento (jogador) do jogo encontra-se com foco, comprometimento e nível de compreensão da atividade distintos. Equalizar estes três fatores é a missão do treinador que pode ter início a partir dos questionamentos abaixo:

É possível entrar em “estado de jogo” preocupado com problemas particulares?

É possível entrar em “estado de jogo” insatisfeito com a perda da condição de titular?

É possível entrar em “estado de jogo” o atleta que não gosta de treinar?

É possível entrar em “estado de jogo” se, minutos antes da atividade, ao invés de discutir com a equipe o comportamento para o jogo em questão, a conversa referia-se ao lazer do último final de semana?

É possível entrar em “estado de jogo” se, minutos antes da atividade, ao invés de discutir com a equipe o comportamento para o jogo em questão, o atleta fica chutando bolas para o gol?

É possível entrar em “estado de jogo” se o treino aplicado encontra-se acima da zona proximal de desenvolvimento da equipe?

É possível entrar em “estado de jogo” se o treino aplicado encontra-se abaixo da zona proximal de desenvolvimento da equipe?

É possível entrar em “estado de jogo” aplicando exatamente o mesmo treinamento por um longo período de tempo?

É possível entrar em “estado de jogo” aplicando um treino com quantidade excessiva de regras sem devida progressão complexa?

É possível manter-se em “estado de jogo” se, a todo instante, o treinador para o treino para suas abordagens?

É possível manter-se em “estado de jogo” se o treinador deixa seguir o lance em que a bola saiu do campo de jogo somente alguns centímetros, afinal a atividade “é só pra treinar”?

É possível manter-se em “estado de jogo” quando a diferença de pontos no placar fica considerável?

Para cada questionamento, existe a melhor solução a ser encontrada pelo treinador. Para equipes diferentes, soluções diferentes. Para jogadores diferentes, respostas também diferentes. Logo, a “fórmula mágica” para o acesso ao “estado de jogo” está longe de ser encontrada em livros, teses ou dissertações.

Nestas fontes, porém, podem ser encontrados os embasamentos científicos para cada ação do treinador que contribuem para atingir o mais rápido possível o “estado de jogo” e sua manutenção até o apito final. O que fazer em cada questionamento parece simples, como podem ser lidos nos exemplos abaixo:

Atletas com problemas particulares (financeiros, familiares, etc.) necessitam de abordagens para que consigam esquecer, ao menos momentaneamente, o mundo real para alcançarem o mundo do jogo.

O foco na insatisfação, e não no jogo, com certeza atrapalhará o acesso ao “estado de jogo”.

Quem não gosta de treinar (jogar) não deve ser atleta de futebol, logo, não deve fazer parte de um elenco!

No treinamento, criar procedimentos em que a concentração esteja nas atividades do dia e que quaisquer ações/conversas paralelas não cabem, é missão do treinador.

Chutar bolas para o gol quando o treino vai iniciar é uma das atividades que não cabe.

A leitura minuciosa da equipe e jogadores permitirá ao treinador a criação de jogos adequados ao nível de desenvolvimento dos mesmos.

Com a evolução da equipe, os problemas se modificam, logo, os treinos também devem se modificar.

Demorar muito tempo para compreender as regras pode comprometer o tempo de entendimento do que fazer para ganhar o jogo.

Saber quando parar o jogo é indispensável para a manutenção da suspensão da realidade.

Se a bola saiu, mesmo que alguns centímetros, ela saiu. Não estrague o jogo!

Estabelecer a cultura de não aceitar derrotas, no mais simples jogo, faz com que o “estado de jogo” termine somente no apito final.

Agora, o COMO fazer, é o desafio de cada treinador a partir da já mencionadas liderança, abordagem, intervenção, comportamento e didática.

Então, no mundo ideal, em que todos os atletas estiverem em perfeito “estado de jogo”, que é o objetivo do treinador, os problemas estarão resolvidos?

É claro que não! O “estado de jogo” só faz sentido se as devidas respostas de cada jogador para cada problema do jogo estiverem alinhadas ao modelo de jogo da equipe e a ideia de jogo do treinador.

Mas isto é tema para outra coluna.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br 

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Qual a profissão do futuro?

Saudações a todos! Na semana passada, aproveitando o momento “Ronaldo Fenômeno”, falei com vocês sobre a hora de parar, estão lembrados?
 

Qual é a hora de parar?
 

A coluna foi bastante acessada por pessoas dentro do contexto, mas para a minha surpresa recebi muitos e-mails sobre o outro extremo, e as dúvidas mais recorrentes foram: “Estou terminando o colégio e pretendo ingressar em uma universidade. Qual o curso de graduação que devo fazer? Qual a profissão do futuro? Qual me trará maiores ganhos financeiros?”.

Respondi as mensagens dentro da linha de raciocínio que passo a descrever a seguir. Hoje existe muito marketing e muitos interesses no setor da educação e, consequentemente, surgem muitos nomes de cursos. Percebam que as universidades precisam criar nomes atrativos e vender seus cursos. Do ponto de vista de marketing de negócio, elas estão certíssimas, pois embalar seu produto de maneira atrativa é uma das chaves para o sucesso de qualquer negócio.

Então, como escolher “a melhor profissão” tendo em média 18 anos e estando prestes a ingressar em uma universidade? Além das profissões tradicionais, como a de médico, dentista, advogado, engenheiro mecânico, administrador de empresas e contador, entre outras, novas opções promissoras são as ligadas à preocupação global e à sustentabilidade do planeta. Também podemos destacar as profissões ligadas às novas formas de mídias, principalmente focadas em mídias nas redes sociais.

Há também as profissões que estão e estarão sempre em alta, pois sustentam qualquer outra atividade, como engenharia de energia, engenharia de minas, nutrição, agronegócio, programação, tecnólogos etc.

As dicas que dou sempre ao ser questionado sobre que cursos/profissões a escolher são:

1) Procure informações detalhadas sobre cada um dos cursos de seu interesse.
2) Verifique no mercado a aceitação das profissões que gostaria de exercer.
3) Avalie os pontos positivos de cada profissão.
4) Procure conversar com quem exerce a profissão.
5) Avalie os pontos avaliados como negativos por quem atua na área. Nas redes sociais há vários grupos de debate sobre todas as áreas e segmentos.
6) Veja as regiões de maior demanda e verifique se está disposto a atuar fora do eixo regional que você conhece.
7) Pesquise as empresas que atuam no setor e veja se estão entre as que você sonha em trabalhar.

Depois disso, dentro dos seus objetivos, identifique as profissões que mais despertam sua atenção e estão dentro do que você gosta de fazer. Não sabe o que fazer ou está com dúvidas? Aconselho que faça um teste vocacional ou uma avaliação do seu perfil comportamental, pois avaliações dessa natureza ajudam a identificar a profissão que melhor se adapta ao seu estilo e que estejam de acordo com suas características pessoais.

Acredite: ser bem remunerado, ganhar dinheiro, ter uma carreira e um futuro de sucesso, tem como pré-requisito ser feliz, e isso significa escolher um curso para atuar na área que goste!

Ser feliz? Sim! A felicidade é ponto crucial e explico o motivo:

1) A pessoa que trabalha feliz e no que gosta faz o trabalho com mais motivação.
2) Ao trabalhar com motivação a pessoa é mais produtiva.
3) Sendo mais produtiva a pessoa produz mais.
4) Mais produção com o mesmo = mais resultados para a empresa.

Fazendo um paralelo como o mundo do futebol, posso dizer que não adianta querer jogar de atacante, buscando mais visibilidade e um salário maior, se a minha aptidão é atuar como goleiro. Sendo um excelente goleiro, serei feliz, terei uma remuneração compatível com a minha função e agregarei muito valor à minha carreira e à minha equipe.

Portanto, estar feliz realizando seu trabalhando beneficia você, seu time (empregador) e a toda a equipe!

É isto pessoal. Agora, intervalo! Vamos aos vestiários e nos vemos na próxima semana.

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br  

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Importância da habilidade no processo de seleção, formação e detecção de talentos no futebol

Além do aspecto cronológico e maturacional discutidos nesta coluna na semana passada, outro fator determinante de desempenho é a habilidade. Definida como a capacidade de realizar tarefas pré-determinadas com a máxima eficiência possível, no menor tempo e com a maior economia de energia (Knapp, 1977), pode ser dividida em habilidade cognitiva, perceptiva e motora (Bate, 1996). Também pode ser classificada quanto à organização das tarefas (discreta, seriada ou contínua), previsibilidade do ambiente (aberta ou fechada) e grupamento muscular envolvido (grosseira ou fina) (Magill, 2000).

Pela grande variabilidade de ações exigidas no futebol, dificilmente conseguiremos definir qual delas é mais predominante, porém, não há dúvidas de que o fator cognitivo seja talvez o mais importante para o sucesso do jogador.

Para ilustrar a importância da habilidade cognitiva, vamos imaginar um jogador que consiga a perfeição nos gestos em ambiente controlado, porém não tem capacidade de definir com a máxima eficiência a melhor opção em cada situação durante o jogo. Ou então aquele que executa o gesto perfeitamente, mas para isso demora o dobro do tempo necessário ou permitido pelo adversário em uma situação de jogo. Em ambos os casos, a eficiência da habilidade motora não implicará no sucesso em se jogar futebol.

Para piorar, no processo de formação de jogadores, em que a habilidade geral não é treinada de forma correta, pode ocorrer um circulo vicioso de o jogador não aprender a técnica em condição de jogo por não conseguir desenvolver sua habilidade cognitiva e não desenvolver sua habilidade cognitiva porque aprendeu o gesto (habilidade motora) fora da condição de jogo.

Para que isso não corra, é fundamental que os clubes com propósito de formar jogadores completos consigam quantificar e qualificar cada uma destas habilidades. Entre as alternativas para este fim, os testes elaborados por McMorris e Graydon (1996), McMorris e Beazeley (1997), McMorris e Graydon (1997), Williams e David (1998) para mensurar a habilidade de percepção e antecipação são boas opções. Para avaliação das capacidades psicomotoras, as alternativas podem ser a utilização dos testes de Helsen e Pauwels (1992), Helsen e Pauwels (1993) e de McMorris et al. (2000) e por fim a habilidade específica do futebol pode ser mensurada pela aplicação dos testes de Ali et al. (2007), Ali et al. (2008), Rampinini et al. (2007) e Zeederberg et al. (1996).
 

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Nestes testes, quanto mais deficiências forem encontradas precocemente, maiores serão as chances de corrigir o jogador ainda jovem. Com isso, este poderá aprender uma variedade de recursos cognitivos e explorar de forma ótima suas capacidades físicas, técnicas e táticas.

Talvez quando as variáveis determinantes da habilidade geral tiverem o mesmo grau de importância dado para as capacidades físicas na maioria dos clubes, um número muito maior de jogadores qualificados seja revelado.

Mas para que isso ocorra da melhor forma possível será fundamental a capacitação de profissionais que não só analisem estes dados de forma adequada, mas também consigam propor exercícios que possibilitem o máximo desenvolvimento possível de todas as habilidades e capacidades de que um jogador de futebol necessita.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

 

Referências bibliográficas

Ali A, Foskett F, Gant N. Validation of a soccer skill test for use with female players. Int J Sports Med 2008: 29: 191-197.Bate D. Soccer skills practice. In: Reilly T, ed. Science and soccer. London: E & FN Spon, 1996: 227-241.

Ali A, Williams C, Hulse MA, Strudwick A, Reddin J, Howarth L, Eldred JE, Hirst M, McGregor SJ. Reliability and validity of two tests of soccer skill. J Sports Sci 2007a: 25: 1461-1470.

Helsen WF, Pauwels JM. A cognitive approach to visual search in sport. In: Brogan D, Carr K, eds. Visual search II. London: Taylor and Francis, 1992:177-184.

Helsen WF, Pauwels JM. The relationship between expertise and visual information processing in sport. In: Starkes JL, Allard F, eds. Cognitive issues in motor expertise. Amsterdam: Elsevier, 1993: 109-134.

Knapp B. Skill in sport: the attainment of proficiency. London: Routledge, 1977: 1-6.

Magill, R. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações, 5ª ed., Edgar Blucher, 2000.

McMorris T, Beazeley A. Performance of experienced and inexperienced soccer players on soccer specific tests of recall, visual search and decision making. J Hum Movement Stud 1997: 33: 1-13.

McMorris T, Graydon J. Effect of exercise on the decision-making performance of experienced and inexperienced soccer players. Res Q Exer Sport 1996: 67: 109-114.

McMorris T, Graydon J. Effect of exercise on cognitive performance in soccer-specific tests. J Sports Sci 1997: 15: 459-468.

McMorris T, Sproule J, Draper S, Child R. Performance of a psychomotor skill following rest, exercise at the plasma epinephrine threshold and maximal intensity exercise. Percept Motor Skills 2000: 91: 553-562.

Rampinini E, Bishop D, Marcora SM, Bravo DF, Sassil R, Impellizzeri FM. Validity of simple field tests as indicators of match-related physical performance in top-level professional soccer players. Int J Sports Med 2007: 28: 228-235.

Williams AM, Davids K. Visual search strategy, selective attention, and expertise in soccer. Res Q Exerc Sport 1998: 69: 111-128.

Zeederberg C, Leach L, Lambert EV, Noakes TD, Dennis SC, Hawley JA. The effect of carbohydrate ingestion on the motor skill proficiency of soccer players. Int J Sports Nut 1996: 6: 348 – 355.

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Santos 3 x 0 Peñarol – Decisão da Libertadores-62

O Santos só uma vez jogou completo na Libertadores-62. Na finalíssima, em Núñez, cancha do River Plate. Só na terceira partida contra o Peñarol Pelé jogou. Bastou. Dois gols Dele, um de Coutinho que a arbitragem deu para Caetano, contra, e o Santos fez a América pela primeira vez. 3 x 0 no Peñarol então bicampeão sul-americano, e campeão do mundo em 1961.


 

PRIMEIRA BATALHA – No primeiro jogo, no Centenário, em 28 de julho de 1962, o Santos vencera por 2 a 1, de virada. Lima era o lateral-direito da defesa que sofreu o primeiro gol do equatoriano Spencer (ainda o maior artilheiro da história da Libertadores), aos 18 minutos. Mais não sofreu no jogo de ida. Porque a dupla de zaga Mauro e Calvet manteve o padrão. O primeiro, de futebol refinado que valeu o apelido de Marta Rocha pela elegância comparável a da Miss Brasil 1954, limpou a área santista com a categoria habitual, mas também jogando duro quando preciso contra o excelente ataque carbonero. Do lado esquerdo defensivo, Calvet cobria o lateral Dalmo e pouco concedeu à velocidade, malícia e qualidade do rival. Com gols de Coutinho, o Santos venceu em Montevidéu, de virada, por 2 a 1. E sem Pelé. Mas com Pagão. Desses que fazem qualquer um acreditar em todos os Santos naquele período mágico.

SEGUNDA BATALHA – Na volta, na Vila Belmiro, bastava o empate, em 2 de agosto. Ainda sem Pelé, recuperando-se da mesma lesão que o tirara da Copa-62. Spencer abriu o placar uruguaio, aos 15 minutos, depois de driblar dois santistas. Dorval empatou aos 27, em grande jogada individual. Mengálvio virou o placar, aos 35, num chute longo, no ângulo de Maidana. No segundo tempo, o Santos seguiu em cima, perdeu duas grandes chances, até levar o empate, aos 3. Spencer, mais uma vez. Gilmar reclamou que o meia uruguaio Sasía havia jogado terra nos olhos dele no momento do cruzamento de Joya. O árbitro chileno Carlos Robles nada marcou no lance usual do armador uruguaio. Na confusão, uma garrafa atingiu o bandeirinha Domingo Massaro.

Dada a saída depois de longa paralisação, Sasía virou o jogo. Mais reclamação santista. Desta vez, de suposta falta em Calvet. Quando o jogo recomeçou, Pagão empatou, aos 22. Antes mesmo de dar 45 minutos, Robles terminou o jogo com festa de campeão para o Santos. 3 x 3. O resultado que o time brasileiro precisava.

Pagão empata virtualmente o segundo jogo. 3 x 3. Um gol que valeu num jogo que não valia mais
 

Na prática, havia sido 3 x 3, e o título para o time paulista. No papel, porém, a história era outra. Na súmula entregue no dia seguinte, Robles relatou a baixaria, invasões, ameaças e agressões e afirmou que encerrara o jogo com 3 x 2 para os uruguaios. Temendo o fim do planeta na Vila com a suspensão da partida, além do encerramento da própria vida (ele foi ameaçado e agredido nas confusões), Robles fingiu dar prosseguimento a um jogo já acabado pela violência. O gol de Pagão aconteceu no final de mentirinha. o Santos, oficialmente, perdera o jogo que vencera.

A FINALÍSSIMA – Haveria o terceiro jogo, então, em campo neutro. O Santos não queria. Mas teve de aceitar. Ainda conseguiu adiá-lo para o fim de agosto, dia 30. Com arbitragem europeia (o holandês Leo Horn). Decisão em Buenos Aires. Se a maioria era argentina na arquibancada, só houve o Santos em campo.

O Peñarol manteve o ótimo time no 4-2-4 do treinador húngaro Béla Guttman, campeão europeu pelo Benfica, em 1961, e paulista em 1957, pelo São Paulo. Um dos pais do 4-2-4 que o Brasil adotaria na Suécia, em 1958, com seu auxiliar-técnico no São Paulo, Vicente Feola, comandando a Seleção brasileira na primeira conquista mundial. O time carbonero tinha Maidana na meta, o paraguaio Lezcano e mais Cano, Edgardo González e Néstor Gonçálvez na zaga. No meio, Caetano e Matosas, com Pedro Rocha, Sasía, Spencer e Joya no ataque poderoso blindado por boa marcação santista, e mais uma excelente atuação de Gilmar.

O goleiro bimundial pelo Brasil (e, depois, pelo próprio Santos, em 1962-63), fez pelo duas defesas de Gilmar nos 90 minutos ensolarados em Núñez. O volante multímodo Lima mais uma vez quebrou o galho como lateral-direito e não deixou o ponta peruano Joya fazer ainda mais nome em cima dele.


 

Também no 4-2-4, o treinador Lula armava o Santos com Gilmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Pelé, Coutinho e Pepe. Com a bola marrom, os laterais pouco avançavam. Porque bastavam e sobravam pontas como Dorval e Pepe, que driblavam e cruzavam. E, no caso de Pepe, o maior artilheiro terráqueo do Santos, as faltas da intermediária eram batidas em gol. Pelo menos duas vezes tentou no primeiro tempo de domínio santista. Conquistado com o golaço de Coutinho, que recebeu pela esquerda, passou como quis pela zaga rival e bateu de canhota, cruzado. Caetano tentou salvar e acabou mandando para o fundo da rede.

Com a vantagem conquistada aos 9 minutos, o Santos até cedeu terreno. Mas bastava o recuo de Dorval e Pepe na recomposição defensiva para dar espaço ao letal contragolpe armado por Pelé e Coutinho, bem municiados por Zito e Mengálvio, que jogavam, não deixavam jogar e ainda ditavam o ritmo daquelas impressionantes camisas brancas em Buenos Aires.

Mas foi no segundo tempo que a intensa movimentação de Pelé e Coutinho, autores de tabelinhas espetaculares, acabou por demolir o rival. Pelé, aos 3 do segundo tempo, limpou na entrada da área e bateu sem chances para o ótimo Maidana. Ainda faria um lance sensacional, desde o campo santista, até dar a bola para Coutinho chutar para grande defesa do goleiro qiue depois jogaria no Palmeiras.

O Santos merecia mais um gol contra ótimo adversário, porém batido e abatido. Faltando um minuto, Ele recebeu de Coutinho, desde a linha de fundo, ajeitou a bola e venceu muralha uruguaia postada na linha de meta. Nem com toda a banda oriental dentro da área havia como parar aquelas camisas brancas que se abraçavam no gramado invado pelos fotógrafos, como no mês anterior o Brasil fizera a festa bicampeã mundial em Chile.

Estava aberto o caminho para a conquista bimundial santista. E contra um gigante bicampeão sul-americano, vencido sem dó quando o Santos, mais uma vez, só jogou futebol. E não tudo que alguns torcedores jogaram no gramado da Vila, na segunda partida.


 

O CAMPEÃO – Um Santos iluminado. De 16 de dezembro de 1961, quando faturou o bi paulista 60-61, até 16 de novembro de 1963, quando venceu o Milan por 1 a 0, no Maracanã, e conquistou o bi mundial, o Santos disputou nove títulos. E venceu todos eles:

Campeão paulista e da Taça Brasil de 1961.

Campeão paulista e da Taça Brasil de 1962.

Campeão da Libertadores e do Mundial de 1962.

Campeão da Libertadores e do Mundial de 1963.

Campeão do Rio-São Paulo de 1963 (não disputou o de 1962).

Campeão de tudo e de todos. E nem sempre com Pelé em campo.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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