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Ronaldo Para Sempre*

Não é verdade. Ronaldo não parou de fazer gols. Porque ele é artilheiro, o maior das Copas, não precisa ser o craque que foi. Ele é goleador. É Ronaldo. Não precisa parar com a bola, ainda que viesse parando a cada gol perdido, a cada lance não corrido, a cada jogo que empurrava com a barriga.

Ronaldo não parou com a bola. Nem ela parou com ele. É mentira. Como só pode ser história da carochinha o cara ter ficado quase dois anos parado com o joelho detonado e voltar como campeão do mundo e artilheiro da Copa-02. É coisa de cinema. E foi cinematográfica como aquelas jogadas de videogame, aqueles gols de futebol de botão, aqueles jogos que pareciam virtuais pelo Cruzeiro, PSV, Barcelona, Internazionale, Real Madrid, Milan e Corinthians.

Não sei se Ronaldo decidiu na hora certa a saída de campo. Mas sei que, no gramado, desde 1993, para não escrever desde 1863, quase ninguém decidiu melhor que o Fenômeno. Tão fenomenal que valia quanto pesava mesmo quando, a partir de 2004, teve de brigar com rivais, quilos e línguas malignas. Nenhum outro gênio teve de driblar tantas lesões quanto ele.

Campeão do mundo com 17 anos sem jogar. Vice-campeão do mundo absurdamente escalado depois de ter convulsionado no dia da final. Penta e artilheiro em 2002. Um dos que se salvaram ao final das contas em 2006. Um que mais uma vez goleou críticos e cricris ganhando o Paulistão invicto e a Copa do Brasil em 2009. Um que trouxe muito dinheiro ao banco do Corinthians. Mais um que rapidamente virou louco no bando. Mais um dos que foram menos na eliminação prematura para o Tolima.

Pelos últimos meses, Ronaldo deveria ter parado, se é que já não havia parado. Por todos esses 18 anos de carreira, Ronaldo será sempre eterno. Precisa ser respeitado e admirado. Até quando pisou na bola, muito mais fora que dentro de campo, Ronaldo sempre foi mais humano. Mais humilde. Mais fenomenal.

Um marco que virou marca. O primeiro e maior dos Ronaldos. Um mito que, neste planeta um dia habitado por Pelé, foi o maior dos craques e dos cracketings. Gênio da bola e das boladas.

Dizem que não soube a hora de parar. E, por acaso, alguém sabe? Certamente não os que o aposentavam na Seleção depois de 1998 por suposta “falta de espírito de decisão”. Certamente não os que o achavam uma lata velha e enferrujada em 2002. Certamente não os que não quiseram ver a evolução dele durante a Copa de 2006. Certamente não os que achavam que não daria certo no Corinthians de 2009. Certamente não os que acham que futebol é apenas matemática e medicina.

Ronaldo driblou a medicina e fez números que nem a matemática soube calcular. Nem as finanças sabem contabilizar o que ganhou e o que fez muita gente ganhar e sorrir escancarado.

A tristeza não é pelo modo como Ronaldo parou ou foi parado pela falta de modos. A dor é por saber que, gordo ou magro, velho ou jovem, parado ou correndo, a esperança de que dali sairia algo fenomenal ninguém vai ter mais. Porque poucos, na história, foram tão imprevisíveis quanto ele na previsibilidade de que, de algum jeito, a bola pararia no fundo da rede.

O previsível fim chegou. Não há quem não fique doído como os joelhos destroçados dele. A dor de imaginar quanto mais ele não faria se não fosse o peso das dores patelares dos últimos 12 anos e dos quilos a mais nos últimos sete. A dor de ter certeza que dali não vai mais sair gol.

Ronaldo é um fenômeno não pelo insólito e pelo inédito. Mas pelo fenômeno de ser sempre fenomenal.

Tente ser um mito com aquele peso sobre as costas e sobre as pernas. Tente fazer tudo que ele fez pelos clubes e pelo Brasil e pelos cofres. Tente superar lesões e lesados. Tente ser Ronaldo.

Tantos tentam. Tantos caem em tentações. Até ele. Mas, no final que chegou, só havia ele cruzando a linha fatal. Só havia um Ronaldo.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br


*Texto publicado originalmente no blog do autor, no portal Lancenet.

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Alma castelhana

O Uruguai, depois de 84 anos, volta a ter uma seleção nacional disputando as Olimpíadas.

Apesar da derrota contundente por 6 a 0 contra o Brasil, o país assegurou uma das vagas para Londres 2012.

O que explica o êxito do futebol do Uruguai?

Somando esta classificação e a bela campanha da seleção na Copa da África do Sul em 2010, chegando à semifinal após 40 anos, ficamos ainda mais perplexos com a resistência do futebol no país.

Muitos fatores jogam contra o Uruguai em termos de desenvolvimento da indústria do futebol local.

Mercado consumidor minúsculo e pouco atraente aos patrocinadores, clubes de infraestrutura arcaica, êxodo de jogadores ainda muito jovens para a Europa, baixos salários pagos, pouco ou nenhum interesse da TV.

O país tem 3,5 milhões de habitantes e quase 50 mil jogadores filiados à Federação Uruguaia.

Como base de comparação, no Brasil, somos 200 milhões de pessoas e 2,1 milhões de jogadores filiados à CBF.
Os resultados são reflexo de um projeto em andamento que teve início com a chegada de Oscar Tabárez à seleção principal em 2006, em que o treinador passou a ter mais contato com as categorias de base e formou uma equipe de profissionais de sua confiança.

“Junto a isso, mudamos o perfil em busca de jogadores mais inteligentes e incentivamos o estudo. Tem um projeto que obriga todos a terem curso de computação e a apresentarem o boletim de notas. Eles precisam de objetivos psicológicos e físicos. Isso de alguma maneira ajuda a fazer melhores profissionais. O futuro está nos pés e na cabeça”, afirma o treinador.

O presidente da Federação Uruguaia acredita que a tradição tem que ser um diferencial, na ausência de outros fatores determinantes.

“A celeste é uma marca registrada. Todos precisam saber desta história. Para que eles se sintam identificados, o Gigghia, que marcou o segundo gol no Maracanã (na final da Copa de 1950 contra o Brasil), vai falar com os jogadores na concentração com frequência, para mostrar a importância da camisa do Uruguai. Quando veste a celeste, tem que deixar tudo”.

O futuro está nos pés e na cabeça…

No Brasil, sim, temos sorte de ter muito futuro nos pés.

Nosso futebol precisa mais da cabeça.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O craque não para

Ronaldo anunciou há pouco que se aposentou dos gramados. Mas será que, de fato, um jogador como ele realmente vai “parar”?

A verdade é que craque não se aposenta.

A partir de agora, muda apenas a percepção que teremos de Ronaldo e sua função dentro do futebol. Ronaldo não é mais jogador, porém continuará a ser sempre lembrado. Da mesma forma como Pelé não se aposentou, ou como não deixaram os gramados Beckenbauer, Maradona, Romário, Zidane e outros gênios da bola.

E aí é que está a grande diferença do craque para o jogador comum.

Os gols, as jogadas, as opiniões. Tudo em Ronaldo é relevante. Não precisaremos, daqui a cinco anos, resgatar a história do jogador, procurá-lo para dar entrevista e dizer o que faz desde que encerrou a carreira como atleta. Ele vai continuar a ser notícia, a aparecer, a ser fruto da atenção da mídia e do público.

E é assim que Ronaldo continuará a estar presente no meio do futebol. E como sempre fenomenal, mas agora em outro campo de atuação.

Não há motivo para tristeza, e sim para celebrar. Relembrar o craque dentro de campo e agradecer o momento de lucidez que teve para que os Tolimas da vida não acabem com a imagem de um dos maiores jogadores do mundo.

Maior artilheiro e duas vezes campeão da Copa do Mundo, Ronaldo foi um daqueles raros jogadores que teve atuação tão espetacular pelo seu país que superou qualquer barreira clubística.

Obrigado, Ronaldo. E seja bem-vindo ao seu novo estilo de vida!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O futebol está ficando lento

Dia desses no Café dos Notáveis, encontrei o amigo Zagonariz.

Foi uma conversa rápida – estávamos como quase sempre, com o “tempo espremido” (tempo, que temo me faça falta em um futuro próximo, quando percebendo a fragilidade humana em tentar correr contra ele – descubra que ele se foi).

Mas vamos lá.

Eu e Zagonariz falamos um pouco a respeito da velocidade de jogo no futebol – como na Europa ele tem ficado cada vez mais rápido e movimentado, e o quanto isso não parecia ser verdadeiro no Brasil.

Pois bem.

A conversa foi curta, mas me despertou a necessidade de escrever algumas coisas a respeito do tema.
Não é incomum que quando uso o futebol europeu como exemplo de alguma coisa logo venham críticas e lembretes apontando para o fato de ser o brasileiro o “melhor futebol do mundo”.

Realmente não quero entrar nesta discussão. Não agora.

Quero, porém, chamar a atenção para o fato de que nós no Brasil somos apaixonados pela bola (nós todos que jogamos futebol, de forma amadora ou profissional).

Necessitamos ficar com ela a qualquer custo.

Jogadores quando a tem nos pés, parecem não perceber o tempo passar. Ficam com ela uma eternidade que as vezes dura 1, as vezes até 3 segundos (podem acreditar 1 segundo no futebol é sim muito tempo – quanto mais 3).

É inacreditável o que uma equipe pode fazer sob o ponto de vista organizacional em 3 segundos.

É quase incalculável como as dificuldades aumentam para a tomada de decisão, conforme mais tempo é gasto para isso. Ficar com a bola é uma coisa quase incorporada no jogar brasileiro. O mais “cruel” disso é que para vencer o jogo, uma equipe precisa se livrar dela (claro, arrematar ao gol significa “se livrar” da bola – e quanto mais arremates ao gol, mais chances de vencer o jogo).

Alguém pode me dizer, que o FC Barcelona é uma equipe vencedora, e que na maciça maioria das vezes tem mais posse de bola que seus adversários.

Isso é verdade, mas não se enganem pela aparente essência da informação.
O fato de a equipe ficar mais tempo com a bola não significa que seus jogadores fiquem muito tempo com ela quando a recebem – pelo contrário, é uma das equipes que têm os jogadores que mais rapidamente se livram dela (passando).

E esse talvez seja o fato que exatamente propicie ao FC Barcelona ter mais posse de bola que seus adversários (como roubar a bola de jogadores que quase não ficam com ela?).

Outra questão importante, é que podem também finalizar muitas vezes no jogo, se livrando da bola, mas recuperando-a rapidamente.

Fico um pouco preocupado, porque se não nos importarmos com a velocidade do jogo (nós brasileiros), em um futuro não muito distante estaremos sendo ultrapassados – e se pensarmos que nas categorias de base a cultura segue no mesmo ritmo, logo seremos atropelados.

Alguém ainda pode dizer que no final das contas o que importa é o talento criativo do jogador brasileiro. Concordo. E é isso que ainda nos sustenta (mas não por muito tempo).

Porém, por que não, talento criativo com velocidade? A velocidade na tomada de decisão e na ação, não se opõe à construção e desenvolvimento do talento criativo. Muito pelo contrário.

O problema, é que enquanto no próprio FC Barcelona (por exemplo), estão formando hábeis e rápidos jogadores criativos – o que já repercute na seleção espanhola – no Brasil parecemos estar pouco preocupados com a tal velocidade de jogo.

E aí, espero que um dia, isso não repercuta em um futebol de tartarugas.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Janelas de transferência

Caros amigos da Universidade do Futebol,

vivemos hoje mais um daqueles períodos de fechamento da janela de transferência europeia.

Jogadores, agentes, advogados e clubes acabam de concluir seus últimos negócios para transferência internacional de jogadores ao principal mercado do futebol.

É tempo, assim, de esclarecer o que significa a janela de transferência e mais uma vez desmistificar esse termo “janela europeia” que, a rigor, não existe.

O próprio site da Fifa causa certa confusão ao mencionar que “a janela de janeiro está encerrada”. Aliás, informação interessante oficialmente divulgada pela Fifa, durante essa “janela de janeiro”.

Foram registradas 2.451 transferências internacionais de atletas de futebol, “o que representa um aumento de 104% em relação ao mesmo período do ano passado, somando um rendimento acumulado de 320 milhões de dólares”. Isso comprova o aquecimento do mercado do futebol nesse início de ano.

O que se conhece por janela de transferência nada mais é do que o período em que, via de regra, um determinado jogador pode ser registrado em uma determinada federação nacional filiada à Fifa. De acordo com os Regulamentos da Fifa, cada federação nacional deve ter duas janelas de transferência (ou então, mais corretamente, períodos de registro de jogadores.

Cada federação nacional deve comunicar à Fifa sobre as suas janelas específicas, sendo que a primeira (em regra ao fim da temporada) não pode exceder 12 semanas, e a segunda – no meio da temporada – não pode exceder 4 semanas. Caso uma federação deixe de fazer esse comunicado, a Fifa então poderá determinar os períodos para a janela ex-officio.

Tendo sido feitas essas considerações, podemos já esclarecer que de fato não existe o que se chama de janela de transferência europeia, já que cada país tem os seus próprios períodos de registro. Na verdade o que ocorre é que uma grande quantidade de países europeus tem o encerramento de sua janela de transferência de inverno ao final de janeiro.

Entretanto, essa não é uma regra. Países como Suécia, Noruega e Bulgária possuem janelas de inverno que se encerram dentro de um ou dois meses. A Finlândia, por outro lado, nem teve sua janela aberta: suas negociações acontecem somente em março.

Assim, é importante esclarecer que é possível que jogadores brasileiros sejam transferidos para a Europa mesmo após o que se denomina “janela europeia”, bastando para isso que o país de destino seja um daqueles cuja janela se estenda pelos meses de fevereiro e/ou março.

TMS

Uma boa notícia é que o Transfer Matching System (TMS), sistema on-line implementado recentemente pela FIFA para aumentar a segurança e transparência nas transferências internacionais de jogadores foi “aprovado” em sua primeira janela.

Esse sistema tornou-se obrigatório a partir de outubro de 2010. Segundo os operadores do sistema, tudo funcionou perfeitamente e todas as transferências puderam ser devidamente monitoradas.

Essa é mais uma boa notícia contra os supostos desvios de verbas que alegadamente ocorriam em transferências internacionais de jogadores. Agora é ficar atento ao caminhar das transações para saber se a ferramenta vai mesmo conseguir inibir esse tipo de prática ilegal. Afinal de contas, e infelizmente, como diz o ditado, “hecha la ley, hecha la trampa”.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Teremos tempo para a sustentabilidade na Copa?

A agenda da sustentabilidade tem ocupado grande parte dos debates e preocupações de diversos organismos públicos e privados. O tema está presente nas mesas de discussões e projetos para a Copa do Mundo de 2014, com algumas cidades falando em “estádios verdes” e “ecologicamente corretos”.

Segundo apurei superficialmente, cada estado com projetos de estádio para a copa deverá criar uma “Comissão de Meio-Ambiente e Sustentabilidade”. O Rio Grande do Norte, segundo noticiou o Portal 2014 (www.copa2014.org.br), foi o último estado a criar a tal comissão.

O fato é que pesquisei sobre as suas atribuições e nada encontrei (se algum dos leitores souber explicar a respeito de tais funções desta comissão, agradeço imensamente). Além disso, pelo recorrente e anunciado atraso em muitas das obras ligadas à copa, passei a questionar: será que sobrará algum tempo para de fato aplicar princípios de sustentabilidade nas instalações esportivas (e urbanas) ligadas ao mundial de futebol?

A reflexão é muito simples. Se o tempo está ficando cada vez mais curto para fazer o básico, como é que podemos esperar aquilo que para muitos é supérfluo? Talvez o tema da sustentabilidade tenha deixado de ser supérfluo há algum tempo, mas não é difícil imaginar que, com o torneio batendo à porta, há de se criar as condições básicas para que um jogo de futebol ocorra, fazendo as devidas maquiagens em nome do “embelezamento do espetáculo” e ponto final.

Entre fazer uma cobertura rápida e simples, e outra que demandará mais tempo para colocar placas de captação de energia solar, por exemplo, alguém tem dúvida do que será feito? E esperar que algo ocorra de benfeitoria nesse sentido após a Copa seria como escutar conversa fiada, a qual já estamos acostumados.

De acordo com Bell (2002), sustentabilidade é “internalizar as responsabilidades sociais e de meio-ambiente dentro de uma estratégia de negócios como forma de capacitar a organização para entregar benefícios permanentes para as gerações atuais e futuras de acionistas, colaboradores e demais stakeholders”.

Por tudo isso, o que se falou sobre planejamento em vários textos aqui publicados na Universidade do Futebol volta a aparecer como ponto de corte entre um megaevento bem administrado e aquilo que se coloca na mídia como plataforma política-eleitoreira. Que a copa seja sustentável de fato, e que o tema fique evidenciado sempre, em todos os processos de execução, planejamento e operacionalização das obras (e não apenas na falácia de alguns discursos de palanque).


Referências

Bell, D. V. J. (2002). “The Role of Government in Advancing Corporate Sustainability. Background Paper”. Disponível em www.sustainableenterpriseacademy.org.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br 

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As maravilhas do Twitter

O Twitter, atualmente, tornou-se uma das melhores fontes de polêmicas para o jornalismo mundial, especialmente aquele que está ligado ao esporte. A briga da vez foi entre Ronaldo e Neto, dois grandes jogadores do passado e que, hoje, também batem um bolão com uma legião de seguidores na rede social do momento.

O entrevero entre os dois escancarou, mais uma vez, o poder que o microblog tem de tornar públicas as opiniões das pessoas e, mais do que isso, em gerar crises maiores do que poderiam ser. Diferença de opinião é algo absolutamente saudável para a vida em sociedade. E, muitas vezes, o Twitter é só uma forma de vermos, publicamente, a exposição de diferentes posições de pessoas que geralmente não aparecem na mídia para falar de determinados temas.

Foi o caso desse embate entre Neto e Ronaldo. Se estivéssemos numa “Mesa Redonda” da vida, provavelmente nunca chegaríamos a esse nível de debate. E o motivo é simples. O que mais impressiona entre a troca de gentilezas dos dois craques da bola, porém, é a falta de noção, de ambos, do que representa usar o Twitter.

As pessoas continuam a não entender que o microblog não é nada além do que um outro veículo de comunicação. E, mais do que isso, é um veículo próprio e personalizado. O que Ronaldo escreve no Twitter é dele, a opinião dele, que vale para ele conseguir expor o seu ponto de vista sem interferência de outra pessoa, como geralmente acontece no jornalsmo tradicional.

E é isso que garante para o Twitter, hoje, uma relevância dentro do jornalismo. Na falta de uma entrevista, de uma declaração, busca-se o microblog para ver o que aquela pessoa está “falando”.

Essa é uma das maravilhas do Twitter num jornalismo que foi sufocado pelo trabalho cada vez mais eficiente das assessorias de imprensa. Se o jogador não fala para o jornalista, pelo menos ainda existe seu perfil no microblog.

Hoje é um pouco mais simples fazer jornalismo, mesmo com as declarações do microblog sendo públicas. Só que a tendência é, em breve, o próprio Twitter virar uma terra de declarações previamente ensaiadas e pensadas. Para felicidade, mais uma vez, dos assessores de imprensa…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Justiça em campo

O Corinthians foi eliminado da Libertadores 2011 pelo colombiano Tolima.

Nos dois jogos, o Tolima foi melhor. Classificou-se com justiça.

Dagoberto foi multado, com justiça, pelo São Paulo, por se insubordinar ante o treinador Paulo César Carpegiani, após discordar de uma decisão em jogo do clube.

Messi foi eleito o melhor jogador do mundo, pela Fifa, em 2010, com justiça.

Minoria (criminosa) da torcida do Corinthians resolveu protestar contra todo o time e a diretoria, após a eliminação citada.

O protesto foi exagerado, criminoso, violento e, portanto, injusto.

Justiça, para nós, deve remeter a uma sensação de razoabilidade no comportamento humano, que deve preservar direitos e garantias fundamentais que remontam à Declaração Universal dos Direitos do Homem, fruto das conquistas históricas na Europa e amparadas pela razão iluminista.

Isso é Justiça.

Quando esse sentimento não é vivenciado, nem resguardado pelo povo, o Estado, em seu nome, deve assegurar o bem-estar.

Isso é Direito.

O poder de polícia está nele inserido e por ele deve ser limitado.

O povo brasileiro – incluído nele torcedores de futebol – é cordial. Jose Simão até ironiza esta cordialidade cotidiana.

A cordialidade é passiva e represada. Quando explode, irrompe em vandalismo e crimes, em que o futebol costuma ser bode expiatório e termômetro desta característica de nosso povo.

O brasileiro espera, sempre, pelo Estado e pelo Direito.

Deveria, em vez de apedrejar, desrespeitar e achacar seu clube e seus ídolos, sair às ruas em busca de Justiça.

Justiça social, democracia, educação, cidadania.

Como ocorre nas ruas do Egito.

Em Buenos Aires. Em Los Angeles. Em Teerã.

Ofender Ronaldo e aquilo que ele pode representar é manifestação superficial e simplista.

O País precisa desta energia para protestar contra mensalões, aposentadorias perpétuas, desvio de dinheiro público, etc.

Precisamos da torcida do Corinthians e de todos os outros clubes para construir um Estado de Direito e de Justiça Social, além de uma cultura de paz.

Uma boa ferramenta para começar são as redes sociais (Twitter e Facebook) que os ídolos costumam utilizar.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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As novas tendências no treinamento do jogador de futebol, o (des)conhecimento e as barreiras que criamos

Venho respondendo, há algum tempo, uma questão recorrente nos congressos, palestras e aulas sobre as novas tendências no treinamento no futebol.

É uma questão relativa à aplicabilidade de alguns novos conceitos dentro da cultura do futebol brasileiro.

Felizmente, nessas oportunidades, normalmente há tempo para esclarecer boa parte das dúvidas que surgem. E como esta é recorrente, resolvi escrever um pouco sobre ela.

De início preciso dizer que, somente no Estado de São Paulo, há muitas equipes organizando suas categorias de base dentro de uma nova perspectiva de treinos para a formação. Perspectiva esta que se apóia em novos conceitos – e conheço projetos semelhantes no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.

Mas a questão sempre escorre para as equipes profissionais do seguinte modo: “tudo bem, na base até é possível, mas e no profissional?”

Pois é.

No início dos anos 2000, trabalhando como assistente de preparação física em uma equipe de futebol profissional, não era incomum escutar que não valia a pena mudar determinadas coisas no treinamento dos jogadores, ou aplicar novos conceitos, porque os jogadores eram “burros”, “não entenderiam”, ou não “aceitariam” um novo modelo de trabalho.

Um dia, com a condução de uma das sessões de treino sob minha responsabilidade, resolvi colocar à prova aquilo que me diziam, e testar tanto o entendimento e adesão por parte dos jogadores de algumas “ideias inovadoras”, quanto suas aplicabilidades.

Não preciso nem descrever o sucesso da experiência, e a partir dele, uma pequena mudança de rumos nas atividades propostas pela comissão técnica. Os jogadores não eram “burros”, é óbvio. A aceitação era uma questão de consistência das ideias. Aplicabilidade, uma questão de conhecimento e segurança para colocar os conceitos em prática.

Pois bem. Venho estudando, desenvolvendo e aplicando há mais de 10 anos (desde 1999) atividades de treino que deem conta de elevar o nível de desempenho de jogadores e equipes de uma maneira consistente, rápida e eficaz – tendo como norte a ideia de “complexidade” e construção integrada da performance.

Há mais tempo, portugueses e espanhóis também estudam a preparação desportiva do futebolista de uma maneira mais ampla do que se preconizava nos primórdios da formalização do treinamento atlético do jogador de futebol.

Muitas pessoas ainda insistem em dizer que perspectivar o treinamento de jogadores de futebol a partir de uma integralidade de estímulos que privilegiam o jogo, ao invés de subordinar o treino às partes separadas deste jogo (que é físico, técnico, tático e psicológico simultaneamente), é um erro, não funciona, ou não tem aplicabilidade.

Tanto a literatura científica (com crescimento exponencial de artigos sobre o tema), quanto profissionais que estão no dia-a-dia das equipes de futebol, têm mostrado que a funcionalidade e a aplicabilidade de novos conceitos são mais uma questão de se ter pessoas bem dispostas e com conhecimento para realizar bons trabalhos (associadas a “organizações bem organizadas”), do que uma questão que envolva a metodologia em si.

A complexidade não nega, nem sonega a importância desta ou daquela variável ou atividade de treino. Da mesma maneira não há nenhuma verdade que seja única, real e absoluta.

Isso significa que ao fecharmos as possibilidades para uma única forma de pensar, estamos tomando distância da totalidade das coisas (e assim, daquilo que as coisas realmente são).

Então não nos enganemos. O fato de não se compreender a fundo um fenômeno, não dá a ninguém o credenciamento para tentar negá-lo ou matá-lo em seu cerne (nem o contrário).

É sempre mais fácil rejeitarmos ou atacarmos aquilo que desconhecemos ao invés de tentar entender realmente as coisas.

E aí, parafraseando um pensador russo, “o que desconhecemos, nos amedronta – e se fugirmos, simplesmente continuaremos com medo”. Não é porque não se sabe fazer algo que devemos nos posicionar contra este “algo”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Sonho de verão

Quando Abramovich comprou o Chelsea em 2003, a ideia era que ele fizesse um investimento pesado no começo e, depois de 10 anos, que o clube conseguisse caminhar com as próprias pernas.

Até pouco tempo atrás, parecia que o plano estava caminhando. Afinal, depois de um absurdo investimento em jogadores famosos no começo da década, Abramovich vinha tirando o pé do mercado de transferências, passando a contratar jogadores mais jovens, menos renomados e mais baratos. Mas apenas parecia.

No começo da semana, o magnata russo resolveu mostrar que o gigante soviético não está tão estático quanto parecia. No último dia da janela, talvez por experiência depois da fracassada tentativa de contratar o Robinho, enfiou o pé na jaca e contratou ninguém menos do que um dos atacantes mais valorizados do planeta e um dos zagueiros mais promissores do Brasil, pela singela bagatela de 76 milhões de libras. Como efeito cascata, o Liverpool contratou Carroll e Suárez por valores não lá muito condizentes com a atual situação econômica inglesa.

Entender os gastos do Liverpool é relativamente fácil. Afinal, é a primeira janela de verdade que o clube encara sob o comando do New England Sports Ventures, que precisa mostrar serviço para a torcida e não considera os pouco mais de 30 milhões libras gastos na contratação do Carroll como grande coisa, já que os valores envolvidos com o Boston Red Sox (equipe de baseball, dirigida pelo mesmo grupo) são normalmente bastante superiores.

Entender os gastos do Abramovich também não é muito complicado. Depois do investimento inicial, o elenco do Chelsea envelheceu e grandes estrelas contratadas, como Shevchenko, Ballack e Deco já abandonaram o time. O plano era formar as próprias estrelas sem gastar muito pra isso. Como não deu muito certo e o time começou a dar sinais de desgaste, o negócio é gastar e comprar talento pronto de fora. Daí, portanto, Torres e David Luiz. Por enquanto. Aparentemente, no verão europeu mais coisa vem por aí.

O que vai ser interessante entender é a postura da UEFA nos próximos meses. Com a intensificação gradual do controle de gastos dos clubes, ela já soltou um manifesto demonstrando preocupação sobre os altos valores de transferências pagos no último dia da janela. Por enquanto, ela não pode fazer nada, já que ela trabalha com o balanço do ano fiscal dos clubes, que fecha só na metade do ano. Até lá, clubes podem gastar quanto quiserem, desde que pra isso também ganhem o suficiente para cobrir a despesa.

Mais interessante que isso, porém, vai ser se o Chelsea resolver peitar a Uefa e não respeitar o licenciamento europeu. Ela terá moral para barrar um ataque formado por Drogba e Torres da Liga dos Campeões? Será Platini mais forte que Abramovich?

O verão irá revelar.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br