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Justiça em campo

O Corinthians foi eliminado da Libertadores 2011 pelo colombiano Tolima.

Nos dois jogos, o Tolima foi melhor. Classificou-se com justiça.

Dagoberto foi multado, com justiça, pelo São Paulo, por se insubordinar ante o treinador Paulo César Carpegiani, após discordar de uma decisão em jogo do clube.

Messi foi eleito o melhor jogador do mundo, pela Fifa, em 2010, com justiça.

Minoria (criminosa) da torcida do Corinthians resolveu protestar contra todo o time e a diretoria, após a eliminação citada.

O protesto foi exagerado, criminoso, violento e, portanto, injusto.

Justiça, para nós, deve remeter a uma sensação de razoabilidade no comportamento humano, que deve preservar direitos e garantias fundamentais que remontam à Declaração Universal dos Direitos do Homem, fruto das conquistas históricas na Europa e amparadas pela razão iluminista.

Isso é Justiça.

Quando esse sentimento não é vivenciado, nem resguardado pelo povo, o Estado, em seu nome, deve assegurar o bem-estar.

Isso é Direito.

O poder de polícia está nele inserido e por ele deve ser limitado.

O povo brasileiro – incluído nele torcedores de futebol – é cordial. Jose Simão até ironiza esta cordialidade cotidiana.

A cordialidade é passiva e represada. Quando explode, irrompe em vandalismo e crimes, em que o futebol costuma ser bode expiatório e termômetro desta característica de nosso povo.

O brasileiro espera, sempre, pelo Estado e pelo Direito.

Deveria, em vez de apedrejar, desrespeitar e achacar seu clube e seus ídolos, sair às ruas em busca de Justiça.

Justiça social, democracia, educação, cidadania.

Como ocorre nas ruas do Egito.

Em Buenos Aires. Em Los Angeles. Em Teerã.

Ofender Ronaldo e aquilo que ele pode representar é manifestação superficial e simplista.

O País precisa desta energia para protestar contra mensalões, aposentadorias perpétuas, desvio de dinheiro público, etc.

Precisamos da torcida do Corinthians e de todos os outros clubes para construir um Estado de Direito e de Justiça Social, além de uma cultura de paz.

Uma boa ferramenta para começar são as redes sociais (Twitter e Facebook) que os ídolos costumam utilizar.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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As novas tendências no treinamento do jogador de futebol, o (des)conhecimento e as barreiras que criamos

Venho respondendo, há algum tempo, uma questão recorrente nos congressos, palestras e aulas sobre as novas tendências no treinamento no futebol.

É uma questão relativa à aplicabilidade de alguns novos conceitos dentro da cultura do futebol brasileiro.

Felizmente, nessas oportunidades, normalmente há tempo para esclarecer boa parte das dúvidas que surgem. E como esta é recorrente, resolvi escrever um pouco sobre ela.

De início preciso dizer que, somente no Estado de São Paulo, há muitas equipes organizando suas categorias de base dentro de uma nova perspectiva de treinos para a formação. Perspectiva esta que se apóia em novos conceitos – e conheço projetos semelhantes no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.

Mas a questão sempre escorre para as equipes profissionais do seguinte modo: “tudo bem, na base até é possível, mas e no profissional?”

Pois é.

No início dos anos 2000, trabalhando como assistente de preparação física em uma equipe de futebol profissional, não era incomum escutar que não valia a pena mudar determinadas coisas no treinamento dos jogadores, ou aplicar novos conceitos, porque os jogadores eram “burros”, “não entenderiam”, ou não “aceitariam” um novo modelo de trabalho.

Um dia, com a condução de uma das sessões de treino sob minha responsabilidade, resolvi colocar à prova aquilo que me diziam, e testar tanto o entendimento e adesão por parte dos jogadores de algumas “ideias inovadoras”, quanto suas aplicabilidades.

Não preciso nem descrever o sucesso da experiência, e a partir dele, uma pequena mudança de rumos nas atividades propostas pela comissão técnica. Os jogadores não eram “burros”, é óbvio. A aceitação era uma questão de consistência das ideias. Aplicabilidade, uma questão de conhecimento e segurança para colocar os conceitos em prática.

Pois bem. Venho estudando, desenvolvendo e aplicando há mais de 10 anos (desde 1999) atividades de treino que deem conta de elevar o nível de desempenho de jogadores e equipes de uma maneira consistente, rápida e eficaz – tendo como norte a ideia de “complexidade” e construção integrada da performance.

Há mais tempo, portugueses e espanhóis também estudam a preparação desportiva do futebolista de uma maneira mais ampla do que se preconizava nos primórdios da formalização do treinamento atlético do jogador de futebol.

Muitas pessoas ainda insistem em dizer que perspectivar o treinamento de jogadores de futebol a partir de uma integralidade de estímulos que privilegiam o jogo, ao invés de subordinar o treino às partes separadas deste jogo (que é físico, técnico, tático e psicológico simultaneamente), é um erro, não funciona, ou não tem aplicabilidade.

Tanto a literatura científica (com crescimento exponencial de artigos sobre o tema), quanto profissionais que estão no dia-a-dia das equipes de futebol, têm mostrado que a funcionalidade e a aplicabilidade de novos conceitos são mais uma questão de se ter pessoas bem dispostas e com conhecimento para realizar bons trabalhos (associadas a “organizações bem organizadas”), do que uma questão que envolva a metodologia em si.

A complexidade não nega, nem sonega a importância desta ou daquela variável ou atividade de treino. Da mesma maneira não há nenhuma verdade que seja única, real e absoluta.

Isso significa que ao fecharmos as possibilidades para uma única forma de pensar, estamos tomando distância da totalidade das coisas (e assim, daquilo que as coisas realmente são).

Então não nos enganemos. O fato de não se compreender a fundo um fenômeno, não dá a ninguém o credenciamento para tentar negá-lo ou matá-lo em seu cerne (nem o contrário).

É sempre mais fácil rejeitarmos ou atacarmos aquilo que desconhecemos ao invés de tentar entender realmente as coisas.

E aí, parafraseando um pensador russo, “o que desconhecemos, nos amedronta – e se fugirmos, simplesmente continuaremos com medo”. Não é porque não se sabe fazer algo que devemos nos posicionar contra este “algo”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Sonho de verão

Quando Abramovich comprou o Chelsea em 2003, a ideia era que ele fizesse um investimento pesado no começo e, depois de 10 anos, que o clube conseguisse caminhar com as próprias pernas.

Até pouco tempo atrás, parecia que o plano estava caminhando. Afinal, depois de um absurdo investimento em jogadores famosos no começo da década, Abramovich vinha tirando o pé do mercado de transferências, passando a contratar jogadores mais jovens, menos renomados e mais baratos. Mas apenas parecia.

No começo da semana, o magnata russo resolveu mostrar que o gigante soviético não está tão estático quanto parecia. No último dia da janela, talvez por experiência depois da fracassada tentativa de contratar o Robinho, enfiou o pé na jaca e contratou ninguém menos do que um dos atacantes mais valorizados do planeta e um dos zagueiros mais promissores do Brasil, pela singela bagatela de 76 milhões de libras. Como efeito cascata, o Liverpool contratou Carroll e Suárez por valores não lá muito condizentes com a atual situação econômica inglesa.

Entender os gastos do Liverpool é relativamente fácil. Afinal, é a primeira janela de verdade que o clube encara sob o comando do New England Sports Ventures, que precisa mostrar serviço para a torcida e não considera os pouco mais de 30 milhões libras gastos na contratação do Carroll como grande coisa, já que os valores envolvidos com o Boston Red Sox (equipe de baseball, dirigida pelo mesmo grupo) são normalmente bastante superiores.

Entender os gastos do Abramovich também não é muito complicado. Depois do investimento inicial, o elenco do Chelsea envelheceu e grandes estrelas contratadas, como Shevchenko, Ballack e Deco já abandonaram o time. O plano era formar as próprias estrelas sem gastar muito pra isso. Como não deu muito certo e o time começou a dar sinais de desgaste, o negócio é gastar e comprar talento pronto de fora. Daí, portanto, Torres e David Luiz. Por enquanto. Aparentemente, no verão europeu mais coisa vem por aí.

O que vai ser interessante entender é a postura da UEFA nos próximos meses. Com a intensificação gradual do controle de gastos dos clubes, ela já soltou um manifesto demonstrando preocupação sobre os altos valores de transferências pagos no último dia da janela. Por enquanto, ela não pode fazer nada, já que ela trabalha com o balanço do ano fiscal dos clubes, que fecha só na metade do ano. Até lá, clubes podem gastar quanto quiserem, desde que pra isso também ganhem o suficiente para cobrir a despesa.

Mais interessante que isso, porém, vai ser se o Chelsea resolver peitar a Uefa e não respeitar o licenciamento europeu. Ela terá moral para barrar um ataque formado por Drogba e Torres da Liga dos Campeões? Será Platini mais forte que Abramovich?

O verão irá revelar.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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Os negócios vão bem, obrigado. E o esporte?

Estamos vivenciando um momento em que o esporte, a cada dia, noticia novos empreendimentos em virtude do super aquecimento do mercado, impulsionado sobretudo pelos famigerados mega eventos que ocorrerão no Brasil nos próximos anos.

Eike Batista, com investimentos em agências de marketing esportivo, apareceu em alguns veículos de mídia na primeira quinzena de janeiro. Outras grandes corporações e agências de publicidade também seguem criando tentáculos para atender a demanda que surge para o esporte e para as organizações que possuem alguma ingerência sobre o setor. Esses são alguns dos sintomas que atestam um olhar mais cobiçoso para a indústria do esporte.

Todas (ou a sua grande maioria) as ações são marcadas exclusivamente pelo faturamento e pela expectativa de maiores e melhores dividendos, de acordo com o discurso e aquilo que foi noticiado. E o que isso tem de ruim? Em princípio, nada – desde que haja uma preocupação com o desenvolvimento do esporte correndo paralelamente a esses novos negócios e empreendimentos.

Para elucidar essa linha de raciocínio, vamos relembrar aquilo que Castejón Paz, em 1973, observou sobre os “fatores de desenvolvimento do esporte” a serem levados em conta no processo decisório nas organizações do esporte: (1) atividades; (2) instalações; (3) apetrechamento; (4) financiamento; (5) marketing; (6) formação; (7) recursos humanos; (8) orgânica; (9) documentação; (10) informação; (11) legislação e (12) gestão.

Não entrarei em detalhes para falar de cada item mas, em um contexto geral, preocupa-me o que sobrará para o esporte brasileiro à longo prazo em face do seu pleno desenvolvimento como setor de atividade econômica e social. Já falamos aqui sobre a formação de novos dirigentes. Também já abordamos a questão das instalações esportivas em outro momento. Todos com real impacto sobre o desenvolvimento, desde que bem pensados e projetados.

Para finalizar, registro o desejo que os novos agentes que atuarão com o esporte nesses anos vindouros possam se preocupar com o seu desenvolvimento. Que tirem proveitos e dividendos, porque isso não é proibido (apesar de alguns “puritanos” de nossa área serem totalmente contra a aferição de lucros com o esporte). Mas que deixem legados importantes, contribuindo significativamente para o profissionalismo do setor e sobretudo para o alcance de uma expansão sustentável da indústria do esporte no futuro.

Referências

PAZ, B. Castejon. (1973). A racionalização das escolhas em matéria de política desportiva – os instrumentos conceptuais. Col. Antologia Desportiva, n. 6, Lisboa, MEIC/SEJD/DGD/CDI, (1977).

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O uso de informações pré-jogo e o exemplo de Santos x São Paulo

Olá, amigos!

No texto desta semana, vou retomar um assunto que já discutimos em outros momentos e de certa forma continuamos no tema abordado nas últimas semanas sobre o uso de informações.

Para fazer isto, estou tomando como base parte de uma palestra que proferi recentemente, além das informações pré-jogo e o que ocorreu na partida entre Santos e São Paulo, no último domingo, pelo Campeonato Paulista.

Enfim, independentemente das ferramentas utilizadas aqui, quero deixar bem claro que o que importa é o que se faz dela, relembrando a afirmação de Parlebás, quando ele cita que o esporte pode formar tanto cavalheiros como o contrário, dependendo daquilo que se fizer dele. Assim também o é com as informações e ferramentas utilizadas: o que importa deve vir com base naquilo que se faz com elas.

De maneira superficial, levantamos as informações mais significativas dos scouts dos jogos anteriores de Santos e São Paulo, antes do clássico (alguns pontos dessa análise foram, inclusive, divulgados no twitter na semana passada sob o título de scout express). Mas reforço: não me importa neste momento recurso ou ferramenta utilizados, mas em si a possibilidade de análise prévia das informações e o que se faz dela.

Antes de elencarmos os pontos principais, vale ressaltar que um scout é tão responsável por um resultado de jogo quanto a bicicleta ergométrica, o cardápio nutricional, ou ainda, os indicadores bioquímicos de lesão. Isto é, todos têm a sua importância, mas nenhum entra em campo para cabecear ou chutar uma bola a gol (pelo menos diretamente).

Essa ressalva é para deixar bem claro que seu uso não significa garantia de resultado, mas sim, mais possibilidades de intervenção com bases em elementos concretos e científicos, buscando otimizar o desempenho (minimizar as falhas e alavancar os pontos fortes).

Assim tivemos os seguintes pontos principais:

Santos

1. Robson é uma figura importante de armação;

2. Rodrigo Possebom, mesmo jogando pouco por jogo, tem destaque na origem das jogadas da equipe;

3. Léo é praticamente um armador (cadenciador) pelos flancos.

São Paulo

1. Carlinhos Paraíba e Juan pela esquerda e Cleber Santana e Jean pela direita são forças para a chegada de bolas em diagonal para os atacantes rápidos;

2. Entretanto, os volantes e laterais deixam espaço e lacunas no setor defensivo, sendo poucos eficazes na retomada de bola nessas regiões.

Feito isso, de maneira bem superficial, é importante ressaltar que são dados objetivos com base no que as equipes apresentaram antes do confronto. Assim, é perda de tempo discutir se eles estão certos ou errados, se vão resolver ou não. Um bom analista de desempenho, figura que surge (ganha destaque) com a oficialização da função por Mano Menezes na estrutura de sua comissão técnica na seleção brasileira, deve se preocupar primeiro com a parte mais importante de qualquer análise de jogo: levantar questionamento, especular.

Como já dissemos outras vezes, é essa especulação em cima dos dados objetivos que vão transformando os dados em informações e daí até se configurarem em intervenção.

O fato é que é difícil dizer o quanto a bicicleta ergométrica ou o cardápio nutricional ajudaram Robson e Elano no primeiro gol, o mesmo quanto a análise do scout, que, aliás, é apenas informação.

Mas mesmo com esse scout express já é possível levantarmos inúmeras questões, especular formas e variáveis que fazem com que esses pontos tenham sido destacados, e ai é que o papel de cada um, o capital intelectual, faz a diferença. O certo é que não podemos mais achar somente que as coisas acontecem ao acaso. O imprevisível é parte do futebol, e sempre será, porém, não podemos deixar de observar que algumas coisas se repetem, e mais do que isso, o que temos de fazer em relação a isso.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Rompendo fronteiras

Grêmio e Internacional fizeram, no último domingo, o clássico de número 384 em suas histórias. O número passaria batido não fosse pelo detalhe de que, pela primeira vez, o “Gre-Nal”, como é conhecido o choque entre os dois clubes, foi disputado fora do Brasil.

O confronto em Rivera, no Uruguai, poderia ter sido uma das mais brilhantes sacadas de marketing de um campeonato estadual de futebol dos últimos tempos.

A decisão de mandar o clássico para fora de Porto Alegre já vem sendo tomada há dois anos pela Federação Gaúcha de Futebol, uma vez que os clubes se enfrentam apenas uma vez na fase de classificação do torneio e, assim, não há privilégio de uma equipe atuar em seu estádio e a outra não.

Agora, porém, pela primeira vez o jogo rompeu fronteiras e acabou sendo realizado em Rivera, que de uruguaia tem praticamente só o fato de pertencer ao país vizinho, já que o Brasil domina idioma e costumes da região.

A mudança de país para o clássico partiu de uma iniciativa do comércio local. Os comerciantes decidiram bancar o jogo, pensando nos dividendos que teriam com a presença dos dois times mais famosos e comentados da região.

Mas, com as atenções de Grêmio e de Inter voltadas para a disputa da Copa Libertadores, a alternativa mostrou-se não tão eficiente. Jogadores desconhecidos, técnico ausente (Renato Gaúcho não foi ao Uruguai, e o time do Grêmio foi comandado pelo auxiliar Roger) e pouco estardalhaço em cima do primeiro Gre-Nal no exterior minaram a presença de público e o próprio interesse da mídia. No final das contas, dos 21 mil torcedores esperados, apenas um terço compareceu. Foram pouco mais de 7 mil em Rivera, um público ínfimo se compararmos a outros Gre-Nais da história.

Romper fronteiras é, para o futebol brasileiro, um desafio que se aproxima cada vez mais. Com o público consolidado dentro do país, os times de futebol precisam buscar novos mercados e novos fãs. Essa foi a lógica que permeou a invasão estrangeira dos grandes clubes de futebol da Europa e que, no passado, era o que sustentava boa parte dos times do Brasil (o Santos de Pelé era o melhor exemplo disso).

Só que não adianta nada buscar novos caminhos se ainda não estivermos preparados para promover essas novidades. No final, o Gre-Nal de Rivera vai passar batido na história, quando tinha tudo para ser um marco revolucionário do esporte brasileiro.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Clássico for export

O Gre-Nal deste domingo será disputado no Uruguai, em Rivera.

Pela primeira vez em sua história, o clássico será, oficialmente, disputado em outro país.

Não se trata apenas de vontade dos dois clubes em promover o futebol do estado em outras bandas, mas também – e principalmente – da Federação Gaúcha de Futebol.

A entidade chancela a realização do jogo oficial, na esteira da valorização da competição nos últimos sete anos.

Tal qual em outros estaduais do Brasil, a FGF administrava uma competição altamente deficitária, que se tornava mais atraente para os clubes do interior, que necessitavam de calendário e, com muita sorte, chegar longe, revelando alguns jogadores para obter mais dinheiro e projetar o ano seguinte.

A FGF reorganizou sua estrutura administrativa, instituiu departamento de marketing profissional, aperfeiçoou calendário de competições e qualificou a relação com patrocinadores e mídia.

Agora, como consequência, vê sua competição cruzar a fronteira nacional, retroalimentando o ciclo virtuoso estabelecido.

Em 2011, a FGF se orgulha de ser o primeiro naming rights de um campeonato estadual no país – Gauchão Coca-Cola 2011.

A projeção de receita, para 2012, é de R$ 20 milhões de reais.

Como comparação, o Campeonato Paranaense foi comercializado por pouco mais de R$ 4 milhões.

E o Gre-Nal de hoje já movimenta a economia da pequena Rivera.

São esperados 30 mil torcedores, cujo gasto médio estimado é de 500 dólares no fim de semana, que lotam hotéis, restaurantes e campings, além de comprar muito nos free-shops com preços atraentes.

Parte do crédito se deve também ao perfil do presidente da FGF, Francisco Noveletto, que também acumula o cargo de presidente do São José EC, de Porto Alegre.

Porém, a principal característica de Noveletto é a veia empreendedora aplicada na rede de lojas de varejo Multisom que, seguramente, faz parte do seu dia-a-dia na gestão da FGF.

Atraiu grandes patrocinadores, como bancos, empresas de telefonia, da saúde, do varejo e do setor de alimentos e bebidas.

O trabalho ecoa na CBF e na Conmebol. Além do trâmite político construído nestes anos, goza de prestígio junto a Ricardo Teixeira e Nicolas Leoz – que o tem como possível sucessor.

Somando esposa e filhas, tem sete mulheres, que diz mandarem na sua vida.

Também diz que na FGF mandam os clubes, e na sua empresa, os clientes.

E costuma dizer que é mero facilitador das coisas.

Com uma visão simplista, porém com trabalho eficaz, dá um bom exemplo de como valorizar um campeonato estadual.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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Jogador de futebol: a detecção e o desenvolvimento do talento

Todos podem aprender a jogar futebol.

Todos podem aprender a jogar futebol bem.

Alguns de nós podemos, potencialmente, jogar futebol melhor do que outros de nós.

Uma série de fatores ambientais, associada a uma série de expressões e características naturais dos indivíduos, pode fazer com que alguns jogadores alcancem um nível de jogo mais elevado do que o de outros.

Dentro de um processo de formação de jogadores para o alto nível competitivo, conseguir evoluir ao máximo as potencialidades de cada um é, ao mesmo tempo, resultado de um trabalho de excelência e necessidade primeira deste trabalho.

Quanto maiores forem os potenciais dos indivíduos que serão estimulados dentro de um processo de treinamento de base (bem organizado e estruturado), melhores serão os resultados finais da formação do jogador.

Isso quer dizer que é necessário, além do ótimo e adequado conjunto de estímulos de treino, respeitando processualmente o desenvolvimento potencial dos jogadores, uma detecção pontual, qualificada e bem norteada dos indivíduos com as maiores chances de chegarem ao final do processo, aptos a jogarem em altíssimo nível competitivo.

Obviamente que isso não é simples como pode parecer.

Existe um enorme número de cientistas, dissertações de mestrado e teses de doutorado Brasil afora, tentando entender, de acordo com diferentes modalidades desportivas, que parâmetros usar para conceber um método de análise que permita, com erro mínimo, detectar talentos em potencial.

No caso, especificamente do futebol, o grande problema é que, em um sem número de vezes, busca-se identificar o talento por meio de parâmetros que estão ou descontextualizados do próprio jogo, ou ainda da cultura de jogo da própria equipe.

Em outras palavras, o que quero dizer, é que ou se fragmenta o jogador em pedaços, para que esses (os pedaços) sejam analisados e qualificados em partes específicas, ou tentando avaliar o jogador como todo, descuida-se do “jogar” integrado à cultura e ao modelo de jogo da própria equipe.

Para minimizar erros dentro do processo de formação e de captação de jogadores, grandes clubes ingleses, por exemplo, a partir de um conjunto de informações pautadas em construtos científicos, qualificam observadores de jogadores, que espalhados pelo mundo, tentam identificar aqueles com perfil (de jogo, de conduta, etc.) condizente com o desejado para, ao final do processo, fazer parte de seus primeiros times.

Outra questão importante é que dentro de um processo em que se sabe exatamente o caminho a ser seguido, onde se está e onde se quer chegar (e como fazer isso!), ele próprio (o processo) dá conta de excluir, ao longo da “caminhada”, aqueles que de certa forma demonstram se guiar por outros nortes.

Será que estamos perto disso no Brasil?

Será que as grandes equipes formadoras sabem exatamente que jogador estão procurando para fazer parte do processo?

Será que os processos de formação estão bem organizados e estruturados, com conteúdos bem definidos para serem desenvolvidos?

Será que as equipes têm claros os objetivos finais do processo de formação?

Será que ao final do processo, rumo ao 1º time, estará clara qual a cultura e o modelo de jogo deste 1º time (não circunstancialmente, mas de forma bem determinada, ao ponto de ser identidade da equipe)?

São muitas as questões a serem respondidas. São muitas as reflexões necessárias.

Por hora, paro por aqui (“paro, sem ficar parado”), na esperança (e na ação) de que as coisas entrem no rumo e contribuam para a transformação do nosso futebol.
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  
 

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Berros

Nos últimos dois meses, o preço do aço subiu mais de um terço, por conta de uma série de fatores. Um deles é o climático, que afetou o fornecimento para produtores de aço, que por sua vez produziram menos, o que levou a um aumento no preço.

Isso que o mundo ainda está engatinhando na recuperação econômica.
E isso, aparentemente, não tem nada a ver com futebol.

Mas tem.

Aço mais caro significa construções mais caras. Ou seja, aço mais caro significa estádios mais caros. E isso tem potencial de virar um problema do tamanho da Copa do Mundo.

Por enquanto, a maioria dos estádios pra Copa do Mundo não conseguiu sair do papel. A hora que saírem, todas as construções devem ser simultâneas. Não só dos estádios, mas de toda melhoria de infraestrutura urbana tão defendida e propagandeada. Com tudo sendo construído ao mesmo tempo, o preço da matéria prima obviamente já subiria. Como há um deadline evidente para o prazo dessas construções, o valor então vai disparar. Parece ser bastante provável que o custo da Copa estimado até agora vai se tornar bastante sub-valorizado. A conta vai ser um pouquinho maior.

Isso que o mundo ainda está engatinhando na recuperação econômica. E isso que estou falando só de matéria-prima, e não de mão de obra.

Construtores já reclamam da escassez de mão de obra especializada, visto que o número de obras de grande porte no Brasil é alto e vai ficar ainda maior se o governo resolver tirar o grosso do PAC do papel. Com uma montoeira de obras simultâneas, a briga pelo peão de obra vai ser grande. A usina hidrelétrica vai brigar com a rodovia. E a rodovia vai brigar com o porto. E o porto vai brigar com o estádio. E o estádio vai brigar com a nova pavimentação da cidade.

A estrutura para a Copa clama pelo início. O PAC também. E a recuperação econômica mais ainda.

Resta saber quem vai gastar mais pra gritar mais alto. E quem vai ter que acabar ficando de lado.

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Não aprendem nem com os erros e nem com os acertos

Fazendo uma análise rápida e pontual de alguns casos que suscitaram debates e exposição midiática neste primeiro mês de 2011, é possível chegar a uma conclusão simples e direta: definitivamente, os clubes brasileiros têm dificuldades em pesquisar, analisar e tomar decisões com coerência com base no histórico de seus concorrentes e, pasmem, de seu próprio passado recente.

A começar pelo Flamengo, tão debatido e exposto em todos os meios de comunicação social em razão da contratação de Ronaldinho Gaúcho e outros pseudo craques, faz lembrar o seu centenário, quando montou o ataque dos sonhos em 1995, liderado por Romário. Na época, negligenciou completamente a coletividade, o que resultou em um desastre dentro de campo (e o endividamento do clube, que paga a conta até hoje).

Onze anos mais tarde, a cena se repete e, aparentemente, pouco se discutiu sobre a inserção de craques dentro de um elenco que se mostrou deficitário no último Campeonato Brasileiro. Novamente, a sorte é lançada sobre um jogador que deverá resolver boa parte das partidas sozinho em um esporte que preza pela relação entre 11 jogadores diante de seus adversários, ou seja, o conjunto.

No outro lado da moeda aparece o São Paulo Futebol Clube, que tomou conta dos noticiários esportivos na última semana ao contratar o ex-jogador em atividade e presidente do Mogi Mirim, Rivaldo. O clube tricolor paulista repete uma estratégia de pouco sucesso na maioria dos clubes que a tentou, que é apostar em atletas que praticamente já encerraram a carreira. Nem o mote do marketing, tão utilizado no caso do Ronaldo, parece que terá algum efeito significativo.

Somado a isso, o alicerce que sustentou as vitórias do São Paulo na última década, formada por uma base de profissionais qualificados em matéria de conhecimento técnico e científico, foi desmantelado. Os casos do fisiologista Turíbio Leite de Barros, do preparador físico Carlinhos Neves e do superintendente de futebol Dr. Marco Aurélio Cunha, cada qual, aparentemente, com saída do clube por razões distintas, devem enfraquecer toda a estrutura que dava suporte para o rendimento da equipe dentro de campo.

Com esses dois casos, poderíamos até entoar um “até tu São Paulo”, pelo histórico de “clube-modelo” que o acompanhou nos últimos tempos. Percebe-se que a cabeça dos dirigentes transcende qualquer tentativa de análise mais lógica que possamos fazer.

Por falar nisso, como muitos prognósticos são susceptíveis a erros (apesar de calcados em um senso de lógica), encerro janeiro fazendo duas previsões de fracasso futebolístico nos casos ora narrados. E se o sucesso vier? Serão apenas exceções dentro de um universo de clubes que persiste com um modelo de gestão sem padrões e critérios bem definidos.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br