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O que explica o rebaixamento?

É difícil arriscar palpites sobre o rebaixamento ou o fato de clubes tradicionais do futebol brasileiro estarem em divisões que não honram suas glórias do passado. Colocar a culpa somente na gestão também pode parecer leviano, mas explica muita coisa. O caso em evidência agora é o do Juventude-RS, que desde o título da Copa do Brasil em 1999 desceu ladeira, culminando com o seu rebaixamento para a Série D do Campeonato Brasileiro em 2010.

Traçando um paralelo com o mercado corporativo, de inúmeros que poderíamos adotar, vamos falar rapidamente na empresa Olivetti, que foi comprada recentemente pela Telecom Itália para um processo de revitalização da marca. Antes, porém, a empresa, que era líder, e praticamente soberana, na comercialização de máquinas de escrever e calculadoras há 20-30 anos, ignorou completamente a inovação e foi praticamente atropelada pela concorrência ávida por novas tecnologias em respeito aos anseios dos consumidores.

Esse simples caso nos ensina aquilo que muitos especialistas falam e publicam: sem inovação e acompanhamento de tendências, a organização está fadada ao insucesso. É verdade que o mercado do futebol é um pouco diferente, uma vez que os consumidores da marca dos clubes são fiéis às mesmas e, por tal razão, conseguem sustentar por algum período a grandeza de seus amados clubes – o que acaba por ser o sustentáculo importante de inúmeros trabalhos mal-sucedidos em termos de gestão.

Casos como os de Juventude, Santa Cruz, Fortaleza, Remo, Paysandu e tantos outros Brasil afora fazem parte de um conjunto de clubes que não conseguiram acompanhar as mudanças face à modernização em seus processos de gestão. Permanecem em uma gangorra que os leva a resultados esportivos incríveis e que, por falta de planejamento e estruturação administrativa, caem vertiginosamente rumo ao ostracismo.

Esses clubes não compreendem que o que deu certo no passado pode não funcionar em questão de anos ou até meses, dada a velocidade nas mudanças que vivenciamos dia após dia.

O acúmulo de conhecimentos multidisciplinares são peças-chave para as organizações bem sucedidas, incluindo-se aí o capital humano de alta qualidade gerencial e operacional que sejam capazes de determinar rotinas eficazes de trabalho afim de utilizar e adotar novas ideias dentro da organização.

Sem o investimento adequado em pessoas não se é possível inovar. Sem inovação, não há sobrevivência organizacional no médio-longo prazo. A inovação acaba por ser o resultado de interações complexas entre conhecimento, produção, marketing e pessoas a partir de uma rede complexa de aprendizagem, seja internamente ou mesmo externamente.

É possível fazer uma repaginação do futuro destes clubes a partir de agora? Sim, desde que invistam em pessoas e se procure alternativas para inovar, antecipando-se às novas e desconhecidas perspectivas do mercado esportivo que hão de vir.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Centro de Informação no Futebol: isso ganha jogo?

Olá amigos,

Por algumas vezes discutimos a formação do Centro de Informação de Jogo, (CIJ) no futebol. Alguns clubes já estão começando a montar uma central. Alguns chamam de Infocenter, outros de DataCenter, enfim, alguns nomes para as tentativas de se construir uma CIJ, mesmo que ainda tímidos.

Quando comentávamos sobre esse ponto numa palestra recentemente sobre a tecnologia a serviço do futebol, um aluno levantou a seguinte questão: que tipo de informação pode ser produzida por esses Infocenters. Isso ganha jogo?

Pergunta interessante, mas não é a resposta para ela que chama a atenção. Mas sim a simplicidade do fim da pergunta. “Isso ganha jogo?”

Sim, o ganhar o jogo é primordial para o futebol. Já dissemos anteriormente que é esse o resultado que vai determinar se o planejamento estava ou não certo, ainda que seja superficial a análise com base apenas no resultado.

Então refaço as questões que levantei durante a palestra para refletirmos, fixados pelo eixo final da pergunta, “Isso ganha jogo?”

1.Treino de velocidade ganha jogo?
2.Treino de resistência ganha jogo?
3.Musculação ganha jogo?
4.Testes Físicos ganham jogo?
5.Salário em dia ganha jogo?
6.Centro de treinamento ganha jogo?
7.Fisioterapia ganha jogo?
8.Nutrição ganha jogo?
9.Psicólogo ganha jogo?
10.Assessor de Imprensa ganha jogo?
11.Gestão ganha jogo?
12.Tecnologia ganha jogo?

Poderíamos elencar uma centena de questões envolvendo aspectos que compõem o campus (utilizando do conceito de Pierre Bourdieu) prático do futebol. Enfim, o que ganha o jogo?

Daí alguns poderiam vir e dizer: “o que ganha o jogo é gol, se você tiver feito mais gols que seu adversário você ganha o jogo.”

Daí faríamos novas perguntas:

1.Treino de velocidade faz gol?
2.Treino de resistência faz gol?
3.Musculação faz gol…

Novamente, uma centena de perguntas, até alguém mudar o argumento central da pergunta inicial, para a partir daí começarmos um novo ciclo de perguntas.

Desta forma gostaria de fazer uma reflexão. Não podemos simplesmente julgar o uso das informações no futebol pelo fato do resultado propriamente dito. Porque o que está em jogo é o uso que se faz das informações.

Daí partiríamos para um novo escopo de perguntas: competência ganha jogo?

Opa! Nessa pergunta surgiu um desconforto, mas talvez com questões que façam um pouco mais de sentido:

1.Treinar com competência a velocidade pode ajudar a ganhar o jogo?
2.Utilizar as informações tecnológicas com competência ajudam a ganhar o jogo…

Pronto, diriam alguns, ou de novo…

Afinal como avaliar a competência? Talvez na simplicidade da complexa filosofia de vida de um gênio da humanidade:

“O verdadeiro significado das coisas é encontrado ao se dizer as mesmas coisas com outras palavras”. (Charles Chaplin)

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O mundo está ao contrário?

Em 2010, o Campeonato Brasileiro disputado na fórmula por pontos corridos chega a sua sétima edição. Depois de 32 disputas em que o formato do torneio nunca se repetiu, o futebol brasileiro exibiu sopros de modernização ao adotar o modelo de decisão de um campeão que é mais simples e fácil de se planejar.

Na essência, é isso o que significa o Brasileirão por pontos corridos. Um torneio que é absolutamente previsível em sua disputa, o que torna mais fácil de você planejar um time para ser o campeão ao longo de 38 rodadas. Não há muita margem para o imprevisível nessa fórmula de disputa da competição. Aquele que se preparar para ter um time forte durante 38 rodadas, fatalmente será o vencedor ao término dessa “batalha”.

Parece simples. E é! Só que, em sua sétima edição “previsível”, o Brasileirão continua a dar mostras de que a palavra planejamento passa ao largo da maioria das equipes. Para se dar bem nos pontos corridos, é preciso planejar. Olhar ali por volta de janeiro e saber como você estará em dezembro. Calcular, projetar e trabalhar para isso.

Mas, passadas 23 rodadas do atual Brasileirão, fica claro que são pouquíssimos os clubes que de fato fizeram um trabalho de planejamento para a disputa da competição. O líder Corinthians, por exemplo, foi o único até agora forçado a mudar de treinador no decorrer da competição. Mas a chegada de Adílson Baptista apenas modificou a forma como o time joga, sem mudar o plano traçado no início da temporada por Mano Menezes.

Será tão estranho assim que o clube lidera a competição?

As campanhas medíocres e/ou medianas de Palmeiras, Flamengo, São Paulo, Atlético-MG e Grêmio são uma clara amostra de como a falta de planos pode destruir um clube durante a disputa por pontos corridos.

Esses cinco times desfizeram-se de atletas e treinadores (à exceção do Galo) no decorrer do campeonato. Apostaram em atletas mais velhos e outros identificados com a torcida. Esqueceram-se do básico. Sem planejar, o clube não terá sucesso.

Não é à toa que o europeu está acostumado a jogar nos pontos corridos. Essa falta de insegurança que uma fase mata-mata causa é de arrepiar o pensamento de alemães, ingleses e franceses, por exemplo. A racionalidade européia é sintetizada na fórmula de disputa da maior competição dos países.

A chave do sucesso de grandes empresas é ter dinheiro em caixa e grande capacidade de planejar as ações no mercado de atuação. O restante vem junto com isso. No futebol, essa lógica permanece. Quem souber mais como planejar o ano e também tiver dinheiro suficiente para conseguir executar esse plano, será mais bem sucedido.

Mas, na realidade do futebol brasileiro, o mundo continua andando ao contrário. Apenas alguns poucos repararam. Não é coincidência que esses disputarão o título nacional até dezembro…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br 

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Respeito

Respeito tem sido algo raríssimo na sociedade (civilizada?) atualmente.

Poderíamos desfilar uma série de valores e virtudes ausentes nessa mesma linha: cordialidade, gentileza, solidariedade.

Um dos grandes vetores de transformação social poderia e deveria ser o esporte. E tanto melhor o esporte mais praticado e incensado em todo o mundo, o futebol.

Entretanto, já vem de tempos que presenciamos quase que o reverso da medalha, em que os jogos e competições remontam à sanha ancestral do homem em expiar seus pecados e frustrações.
As arenas do futebol, hoje, se parecem mais com aquelas dos romanos, cujo deleite era vivido por combates sanguinários entre homens e feras.

Para escrever sobre o respeito e lhe dar a sensação mais precisa de como nos faz falta, invocamos alguns (maus) exemplos recentes.

Domenech e Parreira; Dunga e Escobar; Anelka e Domenech; Neymar e Dorival Junior.

O caso Neymar, o mais fresco na memória coletiva, denota que o futebol e as pessoas que o compõem devem se olhar no espelho e se questionar se de fato se está diante do Médico ou do Monstro.

Puritanismos à parte, Neymar, o pós-adolescente de 18 anos, deve ser orientado a se responsabilizar por todos os atos não só dentro como fora do campo, no mesmo grau em que se lhe outorga a liberdade para escolher se vai ao Chelsea, se fica no Santos, se compra um Fusca ou uma Ferrari.

Como acontece com todos nós. Respeito é uma atitude, mais do que um sentimento, e deve ser expressado, manifestado.

Os que acompanham os jogos-espetáculo da Uefa Champions League devem ter notado as mensagens nos intervalos e chamadas de TV sobre a campanha “Respeito”.

 

 

Alguns excertos de releases no site oficial da entidade dão conta da importância e envolvimento da Uefa com esta discussão:

O fair-play e o respeito têm um papel fundamental no desporto, qualquer que seja a modalidade desportiva, especialmente nas que envolvem crianças.

“As crianças precisam de valores fortes para crescer. O futebol, como desporto colectivo, permite que elas percebam a importância da disciplina, do respeito, do espírito de equipa e do fair play, tanto no desporto, como na vida em geral. A campanha de fair-play da Fifa vai muito além da promoção do fair play em campo durante uma competição”, explicou Joseph Blatter, o presidente da Fifa.

“O respeito é um princípio fundamental do futebol”, afirmou o presidente da Uefa, Michel Platini. “Respeito pelo jogo, jogadores, árbitros, adversários e adeptos. A Uefa não vai tolerar o racismo ou qualquer outra forma de discriminação, em campo, nas bancadas ou nas cidades.”

A campanha Respeito da Uefa é promovida em importantes jogos e eventos organizados pela Uefa, tendo sido lançada antes do Uefa EURO 2008 que decorreu na Áustria e na Suíça. Esta iniciativa está ligada a programas que visam combater a violência, o racismo, a xenofobia e a homofobia, isto para além de incentivar o apoio dos adeptos, o diálogo intercultural, a proteção do meio ambiente e a ajuda humanitária.

A mensagem visa fomentar o respeito para com os adversários, os adeptos das outras equipas e os árbitros em particular, isto para além do próprio jogo. “O futebol é um terreno fértil para fomentar a fraternidade e a diversidade”, continuou Platini. “Somos todos iguais com a bola nos pés e a Uefa vai continuar a promover a participação cívica, a defender grandes causas humanitárias e a combater os problemas sociais. Vamos unir-nos e mostrar respeito”.

Ronaldinho Gaúcho foi ovacionado e homenageado em Barcelona, pelo seu ex-clube, na final da Copa Joan Gamper. Puyol lhe deu o troféu de campeão de presente, como justa retribuição ao que o ídolo proporcionara em cinco anos na Catalunha.

No Brasil, o que temos feito? Quais são as iniciativas planejadas de federações, clubes, sindicatos, mídia e da CBF?

Considerar pouco grave o episódio que envolveu Neymar no Santos significa perpetuar a dicotomia entre a sociedade brasileira e o futebol aqui praticado, permitindo com que um se aproveite do outro, de costas viradas, impunemente.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A cultura da vitória: os campeões se constroem

Muitas pessoas me perguntam quais características comuns entre si, têm os treinadores de futebol vencedores.

A curiosidade ansiosa para tentar entender por que alguns poucos vencem tanto, e outros tantos vencem tão pouco, faz com que muitas vezes, uma busca incessante de relações causa-efeito se inicie, e tente explicar com argumentos simplistas, o que diferencia um treinador campeão, de outro que não seja.

Eu não tenho uma resposta pronta para isso – tenho sim alguns palpites e alguns apontamentos.

De qualquer forma, o que me parece muito importante, é entender que obviamente, vencer ou perder não é uma questão do acaso.

Os campeões se constroem, e por mais que isso doa para o ouvido de alguns, a conquista da vitória, nada mais é, do que a conquista do controle das variáveis que interferem direta e indiretamente no desempenho de jogadores e equipes.

Por mais abstrato que isso pareça, o “vencer”, é resultado da busca constante e permanente de um ambiente de excelência, em que as “engrenagens” do processo geram um tipo de conspiração, que se torna espontânea, de rotinas de vitória.

Em outras palavras, da mesma maneira que criamos rotinas para coisas diversas, e somos capazes de desenvolver hábitos que algumas vezes até condicionam nosso comportamento, para alcançar a vitória e “transformar suor em ouro”, é necessário que sejamos capazes de gerar uma “cultura de vitória”.

Dentro de um sistema tão elaborado e complexo quanto o futebol (com tudo que o envolve, em todos os seus níveis e categorias), gerar uma cultura de vitória não é algo tão simples.

São muitas as interações e interdependências nesse sistema. São muitos e longínquos os elementos que interferem diretamente na maneira com que ele (o sistema) se organiza.

Quando o professor e filósofo Manuel Sérgio disse, que para saber de futebol é preciso saber muito mais do que futebol, talvez tenham sido poucos, os que lhe deram ouvido. E dos que o ouviram, talvez, muito menos ainda foram aqueles capazes de entendê-lo.

A construção de uma cultura de vitória segue caminhos diversos para se estabelecer, e esses caminhos são particulares ao meio que se está inserido. Depois de instalada, ela tende com o passar do tempo e se bem administrada, a ficar cada vez mais forte.

Um treinador que seja parte fractal dessa cultura amplifica seu capital simbólico, e a partir daí está pronto para influenciar novos ambientes, com maiores chances de sucesso.

A construção da vitória, parte então do entendimento de que ela está no jogo, mas não apenas dentro do campo de 100 por 70 metros, de grama verde; ela está num jogo muito maior, que está muito além das quatro linhas.

Por isso, termino hoje com um trecho de um texto que li faz tempo, e que me parecia estranho, sem nexo; mas que hoje dia faz todo o sentido…

Trecho de “A menina que virou vento” (Tedtage Noarie)

Ela soprava enquanto o vento tocava seu rosto.
Ela soprava, soprava, soprava, enquanto o vento tocava seu rosto.
E ela soprava, soprava, soprava, soprava; e então, também virou vento…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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O BIRG, o CORF e a explicação da indústria do futebol brasileiro

Quando você vai a um estádio de futebol, você provavelmente sabe dizer por que você está indo. Agora, você sabe dizer por que os outros milhares de torcedores também estão lá?

Cada um tem lá sua razão específica pra torcer para um clube. Pode ser por influência familiar, por aversão ao time do vizinho, por causa de um atleta específico, por morar do lado do estádio e por outras tantas coisas mais. E todas essas coisas foram estudadas e identificadas.

Existem inúmeras razões pela quais uma pessoa escolhe torcer por um time. E existem outras mais que fortalecem ou enfraquecem o laço entre o torcedor e o seu clube. A mais comum delas foi denominada por alguns pesquisadores de Basking In Reflected Glory (BIRG), que significa algo como “orgulhar-se com a glória refletida”, que é o fenômeno que ocorre quando um time ganha um jogo e o torcedor diz (e sente) que “nós ganhamos a partida”. Com o BIRG, quanto mais um time ganha, mais orgulho ele gera e mais pessoas se apropriam do status de vencedor gerado pelas vitórias.

O BIRG é, evidentemente, o principal laço da relação entre clubes e torcida no Brasil. Isso acontece muito por conta da impossibilidade ambiental de desenvolver outras relações, principalmente dos laços mais profundos com a comunidade local de cada torcedor, já que as comunidades locais do Brasil são ainda muito recentes e carecem de maiores vínculos com os seus habitantes. Com isso, há pouco vínculo social entre clube e torcida, deixando que o BIRG se apodere da intermediação do processo.

Por conta do BIRG, quando o time está ganhando, a torcida se torna fanática, lota estádios e compra produtos. O grande problema é que o BIRG traz em sua essência outro processo psicológico oposto, que foi denominado de Cutting Off Reflected Failure (CORF), que significa algo como “romper com o fracasso refletido”, que ocorre quando o time perde e o torcedor diz (e sente) que “eles perderam a partida”. Com o CORF, quanto mais um time perde, mais torcedores se afastam do time para evitar absorver o status de fracasso. Ou seja, quando um time perde uma partida ou um campeonato, os torcedores param de consumir produtos e de ir aos estádios como forma de evitar parecer que eles também são perdedores. Com o BIRG, “nós ganhamos”. Com o CORF, “eles perderam”.

Como esses dois fenômenos são predominantes na relação entre times e torcedores no Brasil, os clubes ficam excessivamente reagentes ao sucesso em campo. Afinal, a derrota significa não apenas o fato esportivo em si, mas cria também um grande impacto nas receitas e na administração do ambiente político do clube. Com isso, exerce-se uma enorme pressão por sucessos imediatos e constantes, onde vitórias devem ser obtidas a qualquer custo e derrotas são suficientes para motivar mudanças completas na estrutura do clube. Isso acaba gerando uma situação em que é impossível desenvolver o mínimo controle financeiro e torna o fluxo de receitas e despesas algo absurdamente instável, impossibilitando qualquer manutenção de parâmetros de gestão de longo prazo.

O BIRG e o CORF explicam muito sobre como funciona a indústria do futebol brasileiro e por que o buraco financeiro vai ficando cada vez maior. A boa notícia é que existem métodos para tentar minimizar o impacto que esses fenômenos causam nos clubes. A má notícia é que aqueles que tem poder para aplicar esses métodos de controle são justamente aqueles que mais se deixam influenciar por eles.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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A criatividade

Há algum tempo me recomendaram um livro que falava sobre o “Cirque Du Soleil” (Bacon, J. U. Cirque Du Soleil: a reinvenção do espetáculo. 8. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006) como uma ótima leitura para entender e discutir um pouco mais as questões de marketing e gestão de uma forma prática, a partir de um estudo de caso.

O fiz na semana passada e, de forma natural, vim refletindo os seus ensinamentos para a sua reprodução no ambiente do futebol. Dentro de todo o contexto de espetáculo, característico do circo e que também faz parte da indústria do futebol, duas coisas me chamaram a atenção.

Primeiro foi o fato de este circo ter conseguido apresentar uma linguagem e expressão totalmente diferente dos demais circos. Fiz, inclusive, um exercício em sala de aula e os alunos remeteram palavras como “pipoca”, “elefante”, “palhaço”, “ciganos” para o circo comum, enquanto que “excelência”, “beleza”, “espetáculo”, “rico” vieram à cabeça deles quando falado no nome “Cirque Du Soleil”.

Cabe ressaltar que nenhum deles assistiu “ao vivo” sequer uma vez a apresentação do circo, apenas de acompanhar pela TV em reportagens ou mídias do gênero. Isso nos remete a pensar a forma que comunicamos nossos negócios e a percepção que queremos oferecer para os consumidores/clientes sobre nossos produtos e serviços.

O segundo aspecto tem a ver diretamente com a questão dos recursos humanos e ligação com o título desta coluna: “a criatividade”. Ali esteve descrito ao longo de todo o livro como é trabalhado o estímulo para que os artistas tenham liberdade para criar e inovar.

Neste contexto, o ambiente, as pessoas e os desafios foram os elementos-chave de estímulo à criatividade apontados ao longo do livro. Remetendo ao futebol, o ambiente seria o local de trabalho (centro de treinamento), em que o atleta se preocupe unicamente em praticar a modalidade, discutir com os companheiros as melhores jogadas; em que o treinador e sua comissão possam se concentrar e criar as principais jogadas para neutralizar o adversário – sem querer saber se o ônibus vai quebrar no meio do caminho ou se haverá campo para treinar ao longo da semana.

Sobre as pessoas, nos referimos ao estímulo do trabalho em equipe, percebendo que cada setor do clube funciona como o “dente de uma engrenagem” e todos devem estar engajados em um único fim, proporcionando tranquilidade para aqueles que devem criar. E os desafios, cujo contexto tem relação com a natureza humana, no qual somos movidos para a busca de coisas novas e, nesta busca, devemos criar como uma ferramenta de superação aos próprios anseios.

Em síntese é isso. Vivenciamos um mundo de constantes mudanças em que as empresas que dominam o mercado têm como característica-chave a inovação. Para que a inovação chegue ao ambiente de trabalho, é preciso estimulá-la e tal premissa não pode ser diferente no contexto do futebol.

Em alguma medida, tais elementos explicam porque alguns clubes são enormes, ou crescem vertiginosamente no mercado do futebol. E outros, que o negligenciam, perdem espaço, valor de marca e qualidade de trabalho, como um processo natural de competitividade mercadológica.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Minha casa, minha vida

O Corinthians anunciou, em meio aos festejos do Centenário, o (novo) estádio do clube, cuja localização será na zona leste da cidade de São Paulo, em Itaquera.

Até o Presidente Lula compareceu no principal evento destas comemorações, e desponta como lobista do seu clube do coração, articulando nos bastidores a aproximação entre CBF, Fifa, Ministério dos Esportes e empreiteiras.

A obra tem a previsão de conclusão ao final de 2012, e o clube, no projeto original, não demonstra pretender ser sede do jogo de abertura da Copa 2014, a despeito da exclusão do Morumbi e de não haver oficialmente alternativa para tanto até o momento.

Mesmo porque essa alteração, de 49 mil lugares para 65 mil lugares, custa alguns milhões de reais.

E, para evitar o estouro orçamentário, tido como natural – ao que parece, só no Brasil – em grandes obras de infra-estrutura e edificações, o Corinthians irá contratar uma empresa gestora de recursos, além de bonificar a empreiteira principal com a redução nos custos finais.

Mas um aspecto interessante do plano arquitetônico chama a atenção: a intenção do envolvimento dos espectadores numa atmosfera esportiva cuja experiência sensorial será privilegiada.

Por isso, todo o estádio deverá contemplar a aproximação do público ao terreno de jogo, além de camarotes, áreas especiais e espaços de convívio preparados para deslumbrar. Como costuma acontecer em estádios de ponta do futebol europeu e, principalmente, nas praças esportivas das ligas nos EUA.

O matchday é fonte de receita importante para qualquer clube, mas dela não deve depender. O que vale a pena, sim, é explorar a sazonalidade da demanda em paralelo à ocupação pelos sócios.

Fora casas de shows e alguns teatros, no Brasil, o melhor exemplo dessa tentativa de valorizar a experiência, em se tratando de esporte, é o estádio da Arena da Baixada, do Atlético Paranaense – em fase de finalização também, visando à Copa 2014.

Como bem disse o arquiteto do estádio corintiano, a concorrência do clube para atrair seus torcedores ao estádio é com o conforto dos seus lares, vendo pela TV aberta ou por pay-per-view.

O clube estuda, também, destinar a ocupação do estádio quase na totalidade para os sócios, assegurando receita ao longo do ano de forma antecipada.

Se o Corinthians, mandando jogos no Pacaembu, mantém médias históricas de público das mais altas – e a renda corresponde a 15% de todos os clubes no campeonato de 2010 – imagino quando as chaves da “casa própria” forem entregues.

Padrinho forte não falta.  

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Riscos defensivos e o número de jogadores atrás da linha da bola

Existe uma ideia, quase um consenso, de que quando uma equipe de futebol está atacando, o número de jogadores que ela mantém atrás da linha da bola, pode definir o sucesso ou o fracasso de suas transições defensivas.

Em linhas gerais, o pensamento central é de que, mantendo um número maior de jogadores atrás da linha da bola, é possível, ao perder sua posse (da bola), correr menos riscos defensivos em um contra-ataque rápido, e até, recuperá-la mais rapidamente.

Ter mais jogadores na retaguarda da bola, porém, faz com que, necessariamente, menos jogadores estejam participando efetivamente do ataque da equipe.

A questão aqui é que com menos jogadores participando efetivamente do processo ofensivo, tanto o número de apoios absolutos, quanto as possibilidades de ação para retirar a bola de zonas de pressão (sem regredir no campo de jogo) diminuem.

Isso pode não ser um problema, se a dinâmica e movimentação criada pelo reduzido número de apoios absolutos compensar relativamente a menor quantidade de jogadores, aumentando o número de possibilidades de jogo, tanto na ocupação dos espaços (ou na indução do adversário a erros), quanto na vantagem nos confrontos 1vs1.

Há de se pensar, porém, se não seria vantajoso ter um grande número de jogadores à frente da bola, se esses forem capazes de aumentar exponencialmente o número de possibilidades de jogo dentro do processo ofensivo (sem perder minimamente os apoios de retaguarda).

Apesar de um quase consenso, de que aumentar o número de jogadores participando efetivamente dos ataques não significa aumentar as chances de que as sequências ofensivas de uma equipe resultem em finalização, proponho que relativizemos a questão.

Sob os óculos das teorias sistêmicas, ter mais, ou ter menos jogadores atrás, ou à frente da linha da bola, é apenas uma variável do problema; variável que, quando manipulada, traz a necessidade de compensações (que geram novos problemas, novas manipulações e, por fim, mais e novas compensações).

Quando o “risco” defensivo que se quer correr é o principal norteador do sistema, as decisões e os ajustes caminharão em certa direção. Se a orientação sistêmica for outra, outras também serão as decisões e os ajustes.

O fato é que o aumento ou a diminuição de riscos será sempre dependente das características dos jogadores e do tipo de jogo que pode ser construído a partir dessas características.

Posto isso, a capacidade de uma equipe em controlar o jogo sem que necessite de muitas compensações pode determinar a magnitude de seus riscos nas transições defensivas e definir as necessidades numéricas de jogadores atrás e à frente da linha da bola.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Sobre Naming Rights

Existe uma mística curiosa em torno da ideia do “naming rights” no Brasil. Por alguma razão, clubes tendem a acreditar que a venda dos direitos do nome de um estádio pode ser a plataforma principal de financiamento na obra. Não é. Nunca foi. Jamais será.

O conceito básico do “naming rights” é simples: um clube é popular e frequentemente aparece em diversos veículos midiáticos; como o clube manda seus jogos em um estádio, seu estádio também acaba aparecendo em muitos veículos; como uma empresa não pode normalmente comprar o nome de um clube, ela compra o nome do estádio, sendo que toda vez que o estádio aparecer na mídia, será o nome da empresa que estará sendo mencionado. Dessa forma, a empresa compra, na verdade, o direito de ter seu nome citado por incontáveis vezes em um determinado período de tempo.

Com estádios novos e mais modernos, porém, uma empresa pode acabar inserindo outros direitos na parceria, que vão além da simples troca de nomes. Ela normalmente vira dona de um dos principais camarotes do estádio, ganha uma quantidade razoável de ingressos para distribuir por jogo e pode usar as instalações do estádio para fins corporativos diversos, de simples reuniões a grandes convenções.

Tudo isso é muito bacana do ponto de vista mercadológico, uma vez que a parceria concilia interesses mútuos a partir do uso de uma boa quantidade de criatividade e inteligência. O problema é que para tudo isso dar certo, a coisa mais básica do processo tem que acontecer: os veículos midiáticos (e consequentemente o público que acompanha o esporte) precisam falar o nome da empresa.

Às vezes, isso fica um pouco complicado quando uma empresa compra os direitos sobre o nome de um estádio já existente, uma vez que é preciso um trabalho árduo para convencer as pessoas e as mídias a chamarem o estádio pelo novo nome. Para evitar isso, empresas tendem a buscar batizar estádios novos, que dessa forma não possuem outro nome qualquer.

Outras vezes, porém, alguns canais de mídia simplesmente se recusam a falar o nome da empresa, e chamam dão ao estádio um nome genérico. Isso acontece principalmente quando um determinado canal possui uma audiência dominante e pode se dar ao luxo de adotar essa postura sem se preocupar muito com eventuais retaliações dos donos do estádio. E esse, para o azar dos estádios, é o caso do mercado brasileiro, onde a Globo se dá ao luxo de cortar todas as asas possíveis da Red Bull, por exemplo.

Não existe uma explicação óbvia para imaginar que o “naming rights” é a salvação dos estádios brasileiros. Não existe sequer uma razão óbvia para acreditar que algum dos estádios novos do Brasil vai conseguir fechar um contrato de “naming rights” alto por um longo período de tempo.

Estudos sérios dão conta que empresas que pagam pelos “naming rights” dificilmente conseguem aumentar sua receita em um nível próximo ao investido na aquisição do nome. Isso nos EUA. No Brasil, em que ninguém vai falar o nome, imagine. Dos dez clubes mais ricos da Europa, só dois venderam o nome dos seus estádios. Na Copa do Mundo, a Fifa ignora o nome e manda tirar qualquer placa do estádio que não seja dos seus próprios patrocinadores.

Nesse cenário, não tem por que acreditar que o “naming rights” vai vingar no país. Tampouco que um estádio que usa ele como principal fonte de financiamento vai conseguir sair do papel.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br