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Ruim, mas muito bom

A Fifa concluiu hoje a inspeção da proposta da Inglaterra para hospedar a Copa do Mundo de 2018. A conclusão foi que a proposta é quase perfeita. Na cabeça dos inspetores, outra conclusão, imagino, é que a Inglaterra está mais pronta hoje pra receber uma Copa do que o Brasil, ainda que exista uma diferença de quatro anos entre um e outro.

Isso porque, diferente do Brasil, a proposta da Inglaterra se baseia principalmente em estádios prontos. Das doze cidades que fazem parte da proposta inglesa, cinco (Londres, Birmingham, Sunderland, Manchester e Newcastle) já tem estádios que poderiam ser sede da Copa no próximo final de semana. Outros cinco precisam passar por reformas em diferentes proporções (Liverpool, Leeds, Milton Keynes, Sheffield e Plymouth) e apenas dois novos estádios precisarão ser construídos do zero (Nottingham e Bristol). Com distâncias bastante curtas entre as cidades e uma malha de transporte bem desenvolvida, o problema, por enquanto, é apenas hotelaria, já que Newcastle, Leeds e Sunderland não são lá grandes pólos turísticos.

Obviamente, não dá pra comparar uma coisa com outra. São duas realidades financeiras e, principalmente, organizacionais completamente diferentes. Mas também é óbvio que não dá pra fechar os olhos pro atraso absurdo da Copa de 2014. O atraso é tão grande, mas tão grande, que parece que ninguém tá acreditando muito que a Copa vai ser por aqui. Porque uma coisa é começar, a outra é acabar um estádio. Nesse ínterim, um oceano de outros atrasos podem e irão ocorrer. Muito do que foi visto na África do Sul deve se repetir, principalmente, as greves de trabalhadores dos estádios. Eu, se fosse trabalhar na construção dum estádio, faria greve. Afinal, com prazos apertadíssimos, o poder de barganha está todo em minha mão. Um líder sindical mais esperto conseguirá grandes aumentos de salário e benefícios para a classe por conta da ameaça de paralisação das obras. Ou conseguirá grande aumento na conta bancária própria para não começar um movimento de ameaça de paralisação das obras.

Fora isso, as obras poderão ficar dependentes da justiça brasileira, o que normalmente é um baita problema. Ações deverão aparecer de todos os lados. Funcionários, construtoras, fornecedores e governos acionarão um ao outro na justiça. Os períodos pré e pós Copa deverão testemunhar enormes batalhas jurídicas.

Em outros tempos, isso talvez não fosse um problema. Em 1950, por exemplo, essas coisas não devem ter incomodado muito. O país ainda caminhava no estabelecimento de suas instituições, o que criava um cenário mais livre para o governo fazer o que bem entendesse. A Copa foi enfiada goela abaixo na sociedade. No boom de estádios dos anos 60 e 70, a mesma coisa deve ter se repetido. Para o azar da Copa e da Fifa, o Brasil evoluiu bastante de lá pra cá. Hoje, ao que tudo indica, o cidadão consegue ter muito mais voz do que tinha antes, e a sociedade civil consegue ao menos criar obstáculos, ainda que mínimos, aos desmandos governamentais. E isso, ao que tudo indica, pegou todos aqueles que planejaram a Copa no Brasil meio que de surpresa.

A lentidão no início da construção dos estádios brasileiros pode ser vista por muitos como sinal de incompetência da sociedade brasileira. Não ter a estrutura minimamente pronta, de fato, é incompetência das grandes. Que ela esteja demorando a começar a ser construída, porém, é um sinal de maturidade social. Aparentemente, o governo e os governantes não conseguem fazer mais o que querem com o país. E isso é extremamente louvável. A demora e a lentidão no início da construção de estádios e estrutura para a Copa do Mundo pode ser visto como algo muito, muito positivo.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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O jogo proibido

Uma rede importante de televisão aberta, em seu telejornal de horário nobre, iniciou nesta segunda-feira uma série de reportagens que mostra o “outro lado do futebol”, intitulado “O JOGO PROIBIDO”. Nele relata os escândalos e envolvimento de atletas da modalidade com os submundos, promiscuidades e tudo mais de ruim que pode se julgar socialmente e politicamente incorreto.

Abrindo um parêntese, devo dizer que esta é uma questão super relevante de debate e o fiz em algumas oportunidades, inclusive em textos e colunas aqui neste portal, que se refere à responsabilidade dos clubes na educação de jovens jogadores para os tornarem melhores cidadãos, ou seja, referência para aquelas pessoas que os idolatram e tem os atletas como modelo de conduta a seguir.

Mas desta feita vou inverter um pouco os papéis e pensar que o futebol como um todo é uma enorme corporação (o que na verdade é…). Vamos falar então em “Futebol S.A.”, formado pelas entidades de administração e prática desta modalidade. Se a “Futebol S.A.” fosse unida de fato, operando em um mercado de acordo com sua missão, visão e valores, deveria, perante informações que denigrem sua imagem corporativa, exercer uma força contrária para reverter aquilo que a opinião pública traduz sobre suas atitudes.

Longe de querer defender a atitude repugnante de algumas estrelas de nosso futebol. Reforço: bem longe disso, até porque concordo que algumas barbáries cometidas não fazem parte daquilo que defendemos como socialmente responsável e correto por cidadãos. Apenas fico impressionado como a opinião pública trata, em inúmeras situações, o futebol à margem da sociedade.

Pegam depoimentos de “mulheres da vida”, como é o caso da reportagem ora comentada, que relatam histórias espetaculosas havidas com jogadores e envolvimento com drogas como uma verdade fim. Maquiam reportagens como se isso acontecesse apenas no ambiente dos jogadores de futebol e que a culpa toda está centrada única e exclusivamente nos clubes, por formarem incorretamente seus craques.

Acredito que haja sim um distanciamento dos clubes daquilo que chamamos de educação esportiva para a tal educação social, sendo que eles têm sua parcela de culpa. Também não estou aqui para dizer se o que a série de reportagens mostra é verdade ou não, mas sim para, se é fato tudo o que ocorre no meio do futebol, é fácil imaginar que isso acontece em todos os graus da nossa sociedade.

Não sejamos hipócritas em afirmar (e acreditar) que é porque os atletas são provenientes de classes econômicas inferiores e depois percebem elevados vencimentos, não tendo limites sobre suas ações posteriormente junto à sociedade como um todo. Jogadores de futebol não são aberrações da natureza, tal e qual muitas vezes a mídia os trata.

A necessidade de educação, sociabilização e respeito ao próximo de crianças e adolescentes é um problema sério em todos os setores de nosso país, não só no futebol. É um problema de Estado. Na forma em que é conduzida a informação para o público, o senso comum vai traduzir que nenhum jogador de futebol tem valor social e que, em consequência disso, não vale a pena mais “perder tempo” (e dinheiro) com ele(s), comprando ingressos para ver seres irresponsáveis que saem do jogo e vão para prostíbulos ou “encher a cara”.

Esse tipo de mensagem é péssima para a indústria do esporte e do futebol em particular, podendo ter efeitos nocivos no médio-longo prazo para os negócios, a comercialização da imagem dos jogadores, a venda de direitos de transmissão, a constituição de produtos licenciados etc., devendo ser combatida, em ações preventivas e também contrárias pela “Futebol S.A.”.

Ou a organização se une para transmitir mensagens mais positivas em relação àquilo que ela realiza e defende, protegendo sua imagem corporativa ou então as informações negativas, pouco a pouco, vão minar a intenção de investimentos públicos e privados. 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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A bola não entra por acaso

O Internacional acaba de conquistar, pela segunda vez, em 5 anos, a Copa Libertadores da América.

Não foi por acaso.

Nada é por acaso.

O processo evolutivo na gestão do clube passou por um período de diagnóstico, do qual o grande professor Medina foi o protagonista, na gestão anterior ao grupo que está comandando o clube há 8 anos. Naquela ocasião, a devassa no clube sugeria um conjunto de mudanças que passavam da cozinha ao ponta-esquerda.

O Internacional passou a equilibrar-se na gestão e nas finanças a partir de boas campanhas esportivas nas competições em que disputava. Essa é a premissa que interessa: um clube de futebol vive de conquistas esportivas, ainda que parciais. Participar de um torneio continental de clubes já é uma conquista.

O FC Barcelona – que, apesar da grandiosidade institucional e esportiva, foi derrotado pelo próprio Internacional no Mundial Interclubes em 2006 – é exemplo de gestão.

Tive a oportunidade e o privilégio de, no ano passado assistir a uma palestra proferida pelo ex-diretor econômico do clube na gestão 2003-2008, de Joan Laporta. A palestra inspirou o livro A Bola não Entra por Acaso, que acabo de ler e se recomenda como leitura obrigatória na área de gestão.

É, diretor econômico é algo mais amplo e complexo que apenas diretor financeiro ou contador (controller para os que defendem o vocabulário corporativo em inglês).
E um clube como o Barça o tem em seus quadros. Duvido que exista um diretor econômico no futebol brasileiro.

A economia, segundo o portal Wikipédia, consiste na produção, distribuição e consumo de bens e serviços. O conceito vem do grego oikos (casa) enomos (costume ou lei), ou também gerir, administrar: daí “regras da casa” (lar) ou “administração da casa”.

É também a ciência social que estuda a atividade econômica, através do desenvolvimento das teorias econômicas, e que tem na administração a sua aplicação. Portanto, quanto mais próxima a administração da economia, mais um clube terá chances de “arrumar a casa” e buscar a performance esportiva, que é sua essência. Maiores, então, são as chances de racionalizar o planejamento e executá-lo.

Claro que é obrigatória a interpretação diagnóstica inicial para executar as mudanças com certa dose de ousadia e pulso administrativo.

Tal qual fez o Barcelona em 5 anos.

Tal qual fez o Internacional em 5 anos.

E que, se bem administrados segundo princípios da economia, podem projetar ciclos de crescimento mais longos.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Blindagem felipônica

Luiz Felipe Scolari chegou ao Palmeiras, criou uma regra para que os jogadores não dessem entrevista à beira do campo, reclamou da arbitragem, da imprensa, da torcida e… Agora, numa vitória extraordinária sobre o Vitória, voltou a ser o Rei Felipão, aquele que é especialista em mata-mata, que sabe conduzir um time como poucos, que tem a sina de ser um vencedor.

Por trás de todo esse sucesso de Felipão está uma interessante estratégia de tratamento com a mídia que o treinador adota e que, aos poucos, cria num time o ambiente propício para que os atletas tenham calma para trabalhar, a imprensa deixe de ser tão perseguidora e, por fim, a equipe consiga se tornar vitoriosa.

Felipão usou a velha tática de criar e derrubar crises para desviar o foco de atenção. Quando chegou ao Palmeiras, o treinador encontrou um clube em frangalhos, com crise de identidade e sem resultados dentro de campo. Para encerrar com especulações em torno de atletas e dirigentes, ele assumiu o papel de porta-voz do time.

Ninguém mais falou, apenas ele. E, nessas declarações, o treinador passou a ser um espanta-crise. Ou um gerador de outros problemas, que não a sua equipe. Uma derrota e a culpa foi do árbitro. Um empate bobo dentro de casa, falha da torcida, que não pressionou o quanto deveria. Outro empate bobo, fora de casa, e declarações de que a coisa não ia bem por falha dele…

A estratégia desviou o foco do time e passou a ser o treinador. Atletas proibidos de falar logo após o jogo. Com a cabeça fria depois de passarem pelo vestiário e, quem sabe, até com um discurso previamente acordado, os jogadores começaram a falar só na saída do estádio.

Aos poucos, a biruta virou. E, ao que tudo indica, mudou o vento desde a quinta-feira, quando heroicamente o Palmeiras conseguiu a classificação na Copa Sul-Americana aos 43 minutos do segundo tempo, numa festa emocionante, unindo time e torcida como há cerca de dez anos não acontecia, justamente quando Scolari era o comandante do time campeão da América.

A seu estilo Felipônico, Felipão dá uma aula de como gerenciar crises, manipular o comportamento da mídia e, o mais importante, dar tranquilidade para sua equipe. Dizer que tudo isso é sorte é ser muito superficial. Mas que, sem dúvida, o imprevisível é sempre mais a favor de Scolari, isso é inegável…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A duração da sessão de treino: a fisiologia, o Modelo de Jogo e os equívocos emergentes

Na semana passada apresentei na Coluna Tática, um exemplo de sessão de treino, a partir da construção de jogos com regras específicas.

Mais uma vez a repercussão foi muito boa e recebi muitos e-mails. Creio que não conseguirei responder a todos, então me adianto em agradecer as mensagens. Li atentamente todas elas.

Pautando-me em uma dúvida comum que surgiu em alguns desses e-mails, resolvi escrever o texto de hoje.

No texto da semana passada, para ilustrar a sessão de treino da qual falava, acrescentei algumas figuras, com alguns apontamentos sobre as atividades, e com a descrição resumida de cada uma delas. Em todas, escrevi que o tempo de duração do jogo apresentado, era controlado e definido, em função da solução dos problemas propostos.
 

 

Pois bem. Foi justamente com relação ao entendimento da variável “tempo” que algumas pequenas “confusões” surgiram.

E é sobre isso que quero debater.

Antes, porém, cabe salientar que os conceitos que envolvem esse debate, sob o ponto de vista da complexidade, merecem muitas páginas e argumentos (já deram inclusive, origem a pesquisas de mestrado e doutorado). Vou tentar, no entanto, ir “direto aos pontos” e resumir o máximo que puder sem perder a qualidade das informações.

Como já mencionei em outra oportunidade, pautar-se na complexidade para a construção de meios, métodos e modelos de treino no futebol, significa tomar como norteador do processo para o desenvolvimento e evolução de um jogar melhor, o próprio Jogo (em letra maiúscula) – e não o Modelo de Jogo (e isso muda tudo).

A evolução e desenvolvimento de um jogar melhor, sempre se expressará através dos jogadores, individualmente e como equipe, jogando.

Jogar melhor significa resolver melhor os problemas que surgem, quando se está jogando. Para resolver melhor os problemas do jogo, o jogador deve estar apto a fazê-lo (expressão de sua intencionalidade). E estar apto, significa ter condições totais e indissociáveis (psíquica, mental, física, técnica, fisiológica, etc.) para fazer o que é melhor para resolver o problema circunstancial do jogo.

Ora, como garantir em uma sessão de treino, a partir de jogos com regras específicas, adaptadas e direcionadas, que o jogador evolua individualmente e coletivamente o seu jogar?

Claro, compreendendo a complexidade de coisas que interferem ao mesmo tempo e o tempo todo na expressão desse seu “jogar”.

Então, por exemplo, com relação à duração da sessão de treinamento, e seus objetivos complexos (que são ao mesmo tempo, físicos, técnicos, táticos, mentais, sócio-culturais, psicológicos, etc.) o tempo total de atividade é dimensionado a partir do tempo real total em que o jogador está envolvido em uma sessão competitiva formal – no caso do futebol, o tempo de preparação para o pré-jogo formal + aquecimento para o jogo formal + tempo total do jogo formal + tempo da conversa e procedimentos finais.

Com a manipulação de outra variável da magnitude da carga (que não a duração), a “densidade”, por exemplo, ao longo de uma semana de treinos (ou de várias semanas, meses ou anos), é possível gerar respostas em vários níveis “aclimatativos” ou “adaptativos” – que gerarão também, por exemplo, melhor resposta metabólica (como me foi perguntado em um dos e-mails) as exigências do jogo.

Então, em uma sessão de treino, a partir da construção de jogos (mas não o “jogo pelo jogo”, sem compreensão sobre a idéia de processo), e respeitando conceitos da complexidade, as atividades, separadamente podem ter um tempo esperado, que é maleável, mas que respeite, por exemplo, a densidade (física, mental, técnica, etc.) planejada e também a duração total programada da sessão.

O mais importante, é que fique claro, que atrelar o tempo das atividades à solução dos problemas que elas propõem, não quer dizer deixar que o tempo dessas atividades transcorra ao bel prazer do acaso – pelo contrário, ele tem que estar amarrado à totalidade e transdimensionalidade que norteia o processo.

Na preparação do futebolista, sob o ponto de vista da complexidade, a dimensão tática do jogo não é mais importante que a dimensão física (ou vice-versa), nem a fisiológica mais importante que a mental ou qualquer outra. Todas são importantes e devem estar subordinadas ao Jogo. Subordiná-la a qualquer outra coisa (como a aspecto físico, tático ou Modelo de Jogo, por exemplo) pode significar um grande erro – e uma armadilha para quem dá os primeiros passos no estudo do tema.

Acho que é isso.

Por fim, uma frase de um texto que escrevi em 2008 (“Caos, acaso e equívocos sobre a preparação do futebolista”) que pode ajudar na reflexão (e colocar uma “pulga atrás da orelha”) dos amigos leitores, que têm me enviado mensagens com dúvidas sobre o conceito de Modelo de Jogo e a preparação desportiva do jogador de futebol:

“Construir uma preparação do futebolista tendo o Modelo de Jogo como fim é um equívoco. O delineamento do Modelo de Jogo deve estar subordinado ao cumprimento da Lógica do Jogo. A preparação do futebolista, então, só faz sentido se estiver subordinada ao Jogo”.

Ah, e mais uma coisa:

No dia 27 de agosto (sexta-feira), no período da tarde (15h30 as 18h30), ministrarei um curso no III Congresso Brasileiro de Ciências do Futebol (“Preparação técnico-tática”). Para maiores detalhes, sobre o curso ou sobre todo o Congresso, segue o link com as informações:

http://www.educacaofisica.com.br/inscricoes/futebol/mostra_curso.asp?id=3456

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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Raridades devem ser celebradas

Ontem pudemos ver uma bela festa no Pacaembu. Não necessariamente pela vitória do Palmeiras, mas principalmente pela comemoração em torno de São Marcos, que disputou sua partida de número 500 com a camisa do clube alviverde do Palestra Itália.

Sempre comentamos nesta coluna que vivemos tempos bem distintos de décadas passadas. Desde a decisão do caso Bosman, na Europa, com a consequente queda do conceito de “passe” gradativamente da Europa para o resto do mundo, o futebol vive tempos de grande comercialização e internacionalização de clubes, jogadores e até de seleções nacionais. O poder aquisitivo fala mais alto do que a identidade de atletas com seus clubes formadores.

A Fifa, sempre preocupada com os rumos que o futebol moderno toma e com possíveis efeitos indesejáveis desses rumos, patrocina uma campanha a favor da chamada “contractual stability” – estabilidade contratual. Esse conceito foi introduzido em seus regulamentos para incentivar que contratos sejam cumpridos. Veja que não estamos nem falando em permanência de jogadores por longos períodos nos clubes. A preocupação, dadas as circunstâncias, é focada no simples cumprimento de um contrato de um, dois ou três anos. Ou seja, os jogadores, nem nesses curtos períodos de contrato, tencionam a permanecer no clube empregador frente a uma proposta um pouco mais vantajosa (ou às vezes até menos vantajosa, mas com maiores perspectivas futuras).

Essa tendência, evidentemente, é compreensível. A carreira do jogador de futebol profissional é curta. Com 35 anos, qualquer profissional comum está em fase de amadurecimento. O jogador nessa idade já está em fase de aposentadoria.

Portanto, sem entrar na discussão do juízo de valores, gostaria de utilizar essa coluna para parabenizar todos aqueles que, diante de tantas dificuldades e tentações, são fiéis aos seus clubes de origem. Faço essa homenagem hoje em nome do Marcão, aproveitando o momento das justas comemorações pela marca alcançada de 500 jogos pelo Palmeiras. Mas, justiça seja feita, tantos outros merecem a lembrança. Essas são as “raridades a serem celebradas”.

Talvez esses exemplos possam servir para, ao menos, segurar nossos craques nos seus clubes de origem pelo período de formação, i.e., até os 21-23 anos. Para o bem dos clubes formadores, mas também, e principalmente, para o bem dos próprios atletas, que garantirão uma melhor formação pessoal e profissional, dentro e fora de campo, antes de se aventurarem a jogar em outros países.

E, finalmente, para o bem de todo o futebol brasileiro, que precisa emplacar a marca de seus campeonatos nacionais a nível mundial, como a individualidade do jogador brasileiro já conseguiu fazer.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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O que explica o Internacional

Analisar sucesso no futebol é sempre uma tarefa complicada e recheada de erros. Quando um time ganha uma partida, isso obviamente faz dele melhor do que o time que perdeu, do contrário o resultado não teria acontecido, independente das variações probabilísticas em curso. Daí a dizer que esse time que ganhou é sempre melhor do que o perdedor ou do que outros com quem ele nem jogou, há um abismo. E esse abismo, muitas vezes, não é respeitado.

Você já leu aqui que futebol é um fenômeno cíclico. Um amigo sabiamente me disse certa vez que todo jogador, independente do quão perna-de-pau for, um dia será chamado de craque. E provavelmente voltará a ser chamado de perna-de-pau pouco tempo depois. O mesmo acontece com times. Todo time será considerado bom em um dia e será considerado ruim no outro, para voltar a ser considerado bom, para depois retornar à ruindade. E assim a roda vai girando. É natural que times passem por ciclos de sucesso e de fracasso.

Esses ciclos, porém, tem sempre alguma motivação. Eles não são decorrentes de processos descontrolados, muito pelo contrário. São frutos de situações, trabalhos e projetos que fazem com que o time obtenha sucesso ou não. Muitas vezes esses processos são invonluntários, o que torna o sucesso instantâneo e breve. Em outras tantas, não.

Assim, se você pretender dar um passo acima da análise normalmente superficial feita pelos atores envolvidos no futebol, você precisa entender que se um time ganha um campeonato, pode ser sim por uma conjuntura única de fatores que dificilmente conseguirá ser replicada. Quando isso acontece, há pouco o que se comentar ou se estudar. Porém, quando um time consegue manter um alto nível de performance por alguns anos em sequência, aí sim há alguma coisa maior acontecendo com ele.

O Atlético Paranaense é um exemplo. No final dos anos 90, o clube conseguiu inventar um mercado novo de atuação, a transferência de atletas medianos. Começou a buscar jogadores desconhecidos e revendê-los para clubes mais ricos no Brasil e, principalmente, no exterior. Com isso, o clube conseguiu ampliar consideravelmente sua receita, o que o levou a entrar em um ciclo de vitórias que teve a primeira clara manifestação em 2001, com o título brasileiro, e terminou em 2004, com o vice-campeonato. A partir dali, o mercado que ele criou passou a ser ocupado por outros clubes, como São Paulo e Cruzeiro.

Em 2002, com a revelação de uma excepcional safra de jogadores, o Santos conseguiu iniciar um ciclo que resultou em dois títulos nacionais e durou até 2007. Em 2005, o São Paulo, com a atuação forte no mercado de empréstimos e de jogadores em fim de contrato, conseguiu criar um outro ciclo de sucesso, que pode ou não estar próximo do fim, possivelmente por conta da entrada de grupos de investidores no mercado, que criou uma nova fase no mercado de jogadores brasileiros e tornou escassa a disponibilidade de jogadores minimamente talentosos por um preço razoavelmente baixo.

O grande beneficiário dessa nova fase do mercado de transferências, com grandes grupos atuantes, parece ser o Internacional, que se relaciona muito bem com estes grupos e tem uma ligação quase que de mecenato com um dos maiores investidores existentes. E esse ciclo, que só se tornou possível por conta de grandes reformulações que o clube no início desse século, é o que pode explicar o grande sucesso do time, que culminou com a nova conquista da Libertadores.

Muito vai se dizer nos próximos dias sobre como que o programa de sócios do Internacional é fundamental para o sucesso do clube. Por mais que o programa seja louvável, porém, a influência dele no sucesso do time é mínima. Se muito, pode complicar o clube no futuro próximo, já que muitos desses mais de 100 mil sócios vão querer se eleger para a presidência ou diretoria, o que possivelmente tornará a disputa política interna algo com um potencial bastante destrutivo para a estrutura administrativa do clube, que precisará ser recheada de acertos, arranjos e favores políticos. No mais, independente dos sócios, a média de público do clube gira em torno de 17 mil torcedores, o que é pouco para ser considerado uma força diferenciada em relação a outros clubes.

Aparentemente, o que responde mesmo pela qualidade recente do time é a enorme habilidade do clube em negociar com diferentes grupos privados, seja na venda ou na compra de atletas, tanto nas equipes de base quanto na equipe profissional. Ao que tudo indica, o Internacional faz isso muito, muito bem, o que é louvável. Resta agora apenas saber quanto tempo vai levar para que o mercado mude ou para que alguém comece a fazer isso melhor do que ele.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Mais que um jogo

O título desta coluna é apenas uma livre tradução de um artigo que li recentemente e gostaria de compartilhar com os leitores do Universidade do Futebol. “More Than Just a Game? Corporate Social Responsibility and Super Bowl XL” (Mais que apenas um jogo? Responsabilidade Social Corporativa e o Super Bowl XL), de Kathy Babiak e Richard Wolfe (Sport Martketing Quarterly, 2006 – West Virginia University), conta a história do quadragésimo jogo final do futebol americano realizado na cidade de Detroit em 2005 e o impacto social causado por este multimilionário evento esportivo.

Lá, como cá, há a crítica recorrente das pessoas perante o investimento de altos montantes em estruturas para receber um megaevento, sendo que outras áreas poderiam ser prioritárias para investimento público ou mesmo privado, como a saúde e a educação.

A resposta, em alguma medida, passa justamente pelas ações sociais implementadas, com o cuidado de atender uma demanda reprimida e deixar um legado significativo do Super Bowl naquele ambiente. Tal análise, por óbvio, tem reflexo naquilo que esperamos de legados para a Copa e as Olimpíadas no Brasil.

O que chamou a atenção e motivou o levantamento destes dados é que a organização “Super Bowl” trabalhou (e trabalha) em inúmeras frentes, buscando o engajamento de parceiros governamentais, corporativos e organizações sem fins lucrativos, incluindo aí ONGs, escolas e fundações. O impacto de tais ações se baseiam no componente da ética, elemento base e chave dentro de itens relacionados à responsabilidade social.

Destaca-se, assim, itens relacionados com o meio-ambiente a partir do implemento de programas de reuso de alimentos, reciclagem de lixo do jogo e a plantação de árvores para neutralizar a emissão de gases de efeito estufa decorrentes do aumento do tráfego de veículos. E nós, com a “Copa Verde”, o que temos de projetos efetivamente sendo desencadeado neste sentido?

O programa de combate a práticas injustas de negócios, abrindo oportunidades para pequenas empresas se tornarem fornecedoras do Super Bowl, contribuindo sobremaneira para a comunidade em que o evento se instala. Na ocasião, 750 empresas puderam se inscrever e 250 delas receberam contratados que giraram em torno de 5,8 milhões de dólares.

Ações filantrópicas igualmente foram observadas: doação de livros para escolas públicas de Detroit; construção de casas para desabrigados; ações culturais e algo em torno de 8 milhões de dólares investidos em benefícios diretos para a comunidade local.

Todas as ações, em alguma medida, utilizam o potencial midiático e de relevância social que o esporte proporciona. Todas as ações, em certos casos, são de simples execução e, por conta disso, acabam tendo um respaldo comunitário importante para a sua consecução.

Finalizo para uma reflexão final: o atendimento aos inúmeros interessados e não só aqueles que se ligam por um número “X” de horas para ver os jogos é o grande diferencial de negócio implementado pelo Super Bowl. E nós, como conseguiremos alcançar todo potencial competitivo dos maiores eventos mundiais, deixando legados sociais significativos para as regiões de abrangência e o país? Será que estamos nos preparando efetivamente para isso? Ou só teremos atitudes pontuais, com reflexo único e exclusivo durante os dias de jogos?

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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A função de analista de desempenho: quem deve ser?

Olá, amigos!

Na semana passada, falamos sobre a função de analista de desempenho que Mano Menezes indicou para a seleção brasileira.

Recebi e-mails de alguns amigos que leram a coluna citada. Alguns comentários gerais, mas em quase todos tivemos uma reflexão de quais os pré-requisitos para esse novo profissional, quais os conhecimentos necessários e, sobretudo, onde formá-lo.

Com o despertar desse tema, me arrisco a levantar alguns pontos, sem a pretensão de ter a verdade, apenas de estimular o debate.

Antes de qualquer caracterização sobre as competências e habilidades desse profissional, é importante ressaltar que o técnico tem decisivo papel na escolha e na elaboração das funções que serão desempenhadas pelo analista. É o técnico quem deve definir a pessoa e o perfil das atividades que devem ser desenvolvidas, afinal é a ele que serão reportadas as informações e as interpretações.

Nesse aspecto, acho que quando pensarmos em cursos, atualizações ou seminários sobre o assunto, uma figura importante para debater a função do analista de desempenho é o próprio técnico. Não adianta nada discutirmos e elaborarmos uma riquíssima estrutura de conhecimentos pensando a formação e orientação deste “novo” profissional sem ouvir o mais interessado nos resultados fornecidos por ele.

Feito isso podemos elencar, em caráter de reflexão para o debate, alguns breves pontos para quem pretende se inserir neste segmento.

a. Formação

O conhecimento da ciência do treinamento esportivo é importante para esse profissional, pois deve compreender as variáveis e aspectos que interferem no desempenho esportivo.

Agregado a isso, o profissional pode direcionar sua formação para uma visão integrada de trabalho, buscando elementos dos estudos da gestão de informações e conhecimento para complementar sua atuação

b. Especialização em análise do jogo

Um aspecto que pode ser o diferencial deste profissional, quando o mercado realmente entender a sua importância e continuar a valorização dada pelo técnico da seleção, é o aprofundamento nas ciências e estudos focados na análise de jogo.

Estudos de Hughes, Franks, Bayer, Garganta, entre outros, são caminhos importantes para compreender a lógica dos jogos coletivos bem como os processos da analise do jogo

c. Relações pessoais – Networking

O bom relacionamento e os contatos pessoais como em qualquer área são imprescindíveis. É através dele que as portas se abrem para que o profissional possa mostrar seu valor e a partir disso se estabilizar graças às suas competências

d. Atualização tecnológica

Para alguns isso pode soar estranho, já que vivemos numa era tecnológica, porém para outros isso pode ser um tormento. Mas é extremamente necessário que o analista de desempenho se torne um usuário intermediário dos recursos tecnológicos. Não basta usar o computador para ler e-mail e ver vídeo – dentre suas habilidades, devem ser desenvolvidas questões de análise de planilhas, elaboração de relatórios, interação e aprendizados constantes dos sistemas e novos sistemas que surgirão nesse segmento.

Por fim, ressalto que são pontos levantados para discussão. Com certeza há inúmeros outros aspectos que devam ser considerados, e outras opiniões que podem contribuir para entendermos o caminho que poderá ser seguido para quem pretende se aventurar nesse campo.

Mano Menezes abriu este debate. Agora cabe a todos nós contribuirmos com os rumos que podem ser tomados.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Cala a boca, Galvão?

“Eu acho até que a Globo deveria mandar mais no futebol. Porque ela paga as contas”. Essa foi a frase dita por Galvão Bueno em entrevista à jornalista Mônica Bergamo na “Folha de S. Paulo” do último domingo.

Pelas mídias sociais, muita gente ampliou o coro do “Cala a boca, Galvão”, por conta da declaração. Muito dessa gritaria veio, possivelmente, por ser Galvão Bueno. A voz da televisão brasileira no esporte já há, pelo menos, quase duas décadas. O cara que fala pelos cotovelos e que, muitas vezes, fala mais do que deve. Ou que deveria, pelo menos na visão do torcedor.

Mas Galvão não falou tanta bobeira assim. Porque a pergunta foi sobre o futebol. Sim, a Globo impõe alguns horários dos jogos, dificulta a aparição de patrocinadores, boicota times com nome de empresas. Mas sua influência sobre as disputas do futebol geralmente para por aí. Fossem outras modalidades esportivas disputadas no Brasil, aí Galvão nunca poderia dizer que falta maior poder para a emissora.

A Globo manda no esporte fora do futebol. É ela quem determina quando, como e o que pode ser veiculado pela TV aberta no país. Essa política de dominação do mercado atrapalha, e muito, no desenvolvimento de outras modalidades esportivas. Mas, mesmo aí, fica-se naquela velha discussão sobre quem é mais poderoso: a mídia ou o esporte. Sob essa ótica, Galvão deu mais uma de suas Galvãozadas. Dizer que a Globo precisa ter mais poder sobre o esporte porque é ela quem paga a maior parte da conta é uma grande besteira.

No futebol, nos últimos cinco anos, a influência da TV sobre a receita dos clubes tem ficado cada vez menor. O desenvolvimento do esporte como negócio tem feito com que os clubes ganhem cada vez mais com patrocínio, venda de ingressos, venda de produtos licenciados e criação de programas de incentivo para os seus torcedores (mais popularmente conhecido como sócio-torcedor). Isso tudo faz com que o bolo tenha fatias cada vez mais parecidas entre essas que são as principais fontes de arrecadação dentro de um clube de futebol.

Além de o poder de barganha da TV ter ficado mais fraco por conta disso, outro fator, que é muito importante, deve ser levado em consideração nessa que é uma das mais delicadas relações do esporte: a convivência da mídia com o esporte.

Sim, a Globo é rica, influente e forma opinião. Com isso, ter uma competição esportiva exibida pela emissora é um dos sonhos de qualquer organizador de evento. Cinco minutos na telinha da Globo valem muito mais do que uma hora em qualquer outro veículo de mídia neste país.

Mas será que o esporte também não é artigo de luxo para a Venus Platinada?

As maiores audiências da TV estão hoje ligadas ao esporte. Numa era de fragmentação da mídia, com o consumidor passando a ser quem decide o que vai ver, como vai ver e onde vai ver, o conteúdo de um veículo de mídia passa a ser o seu produto mais valioso.

Não é mais a grade fixa de programação de uma emissora que determina o comportamento de consumo, especialmente entre aqueles com maior poder aquisitivo (e que, por conta disso, tem acesso mais fácil aos diferentes tipos de mídia). É o consumidor que escolhe.

Com isso, o esporte ganha uma força brutal na estratégia de um canal de TV. O conteúdo de uma competição esportiva passa a ser fundamental para assegurar audiência. A fidelidade do torcedor com seu time ou atleta preferido levam-no a querer consumi-lo em tempo real, quando o evento esportivo acontece.

É uma situação diferente daquela vivida pelo fã de uma novela, de um filme ou de uma banda de rock. Ele consumirá seu evento, mas não necessariamente ao vivo. Com o esporte, a necessidade do consumo imediato faz dele um produto de grande valia para as emissoras. E, dessa forma, dizer que é a TV quem deve mandar no esporte pode não ser tanta verdade assim.

O mundo ideal coloca TV e esporte do mesmo lado, trabalhando juntos para a promoção de um evento. Para a mídia, é a chance de aumentar a audiência e, assim, ganhar mais verba dos anunciantes. Para o esporte, ter a presença da mídia em seu evento atrai mais fãs, mais atletas e, consequentemente, mais dinheiro para o evento.

Só que, para que o esporte passe a ser tão forte e influente assim, não pode deixar acontecer aquilo que Galvão disse em sua entrevista. Ou ele se prepara para obter diferentes fontes de receita, ou a TV vai continuar a ser mais forte do que ele. E, aí, ou ela manda e desmanda ou o esporte acaba. E, pode ter certeza de que, se isso acontecer, a função da mídia que fala sobre essa modalidade também vai acabar…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br