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¡Hola!

Se você é um corriqueiro leitor da Universidade do Futebol, é muito provável que seja adepto do holismo, uma vez que o propósito do portal nada mais é do que aplicar essa ideia ao futebol, tão carente de análises mais abrangentes.

Esta coluna não é diferente. Até porque se fosse, não existiria, o que pode abrir um outro leque de discussões filosóficas não necessariamente úteis. Talvez inúteis. Afinal, uma coisa só pode ser uma coisa se ela for criada para ser essa coisa. Caso ela seja outra coisa, ela não pode ser coisa alguma, uma vez que ela não é a coisa. Enfim, você entendeu. Acho. Espero.

De qualquer maneira, o pensamento holístico leva em conta que as coisas são todas integradas. Não existe fenômeno isolado. Uma coisa leva a outra. E assim por diante.

Dessa forma, em uma semana tão cheia de acontecimentos não necessariamente ligados ao futebol, essa coluna terá como foco a analise de dois deles, a partir de uma perspectiva boleira, por mais pejorativo que esse adjetivo possa parecer.

O primeiro é a peleja dos royalties. Em princípio, nada a ver com futebol. A não ser pela patética ameaça de que o Rio de Janeiro não conseguirá sediar a Copa e as Olimpíadas por conta da nova divisão. Nada contra o Rio reclamar. É justo. Eu reclamaria também. Eu reclamo até quando alguém come um pedaço de pizza a mais do que eu. Compreensível, portanto.

Porém, usar a Copa e a Olimpíada para fazer ameaças é coisa típica de uma política retrógrada e populista. De qualquer forma, a questão que mais interessa aqui é que, tirando esse rompante carnavalesco, as regiões do Brasil tendem a se tolerar, pelo menos por enquanto. Quanto menos rivalidade regional, menos mercado futebolístico. Quanto mais, mais. Portanto, Sérgio Cabral pode ser um gênio à frente de seu próprio tempo. O futuro do futebol brasileiro agradece.

O segundo tem bem mais a ver com o futebol, afinal, envolve a recém tornada pública íntima relação entre jogadores de futebol e traficantes. O problema, nesse caso, encontra-se longe do ambiente futebolístico. Mas que é preferível não ir muito a fundo no assunto, isso é. A relação entre futebol e o crime organizado é longa, antiga e amplamente disseminada pelo mundo.

A questão, assim como a homofobia, é tão complicada que é melhor ignorar. Mas não chega a ser um problema específico do futebol, uma vez que a relação entre o crime organizado e diversos setores da sociedade é possivelmente muito mais profunda. Afinal, não existe um fato isolado do outro. Uma coisa sempre leva a outra. Eis o princípio holístico.

Que coisa!

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Diário de viagem – Parte 2

Parafraseando muitos dos célebres discursos do atual presidente do Brasil, Lula, defendo que todo torcedor brasileiro deveria ter o direito de, pelo menos uma vez na vida, assistir a um jogo em um estádio moderno e confortável como é o do Arsenal em Londres.

Não só o jogo em si, mas toda a experiência e a atmosfera que o envolvem. Transporte, policiamento, segurança privada, marketing, acessibilidade, alimentação e civilidade.

Tudo bem que a partida era amistosa, entre Brasil e Irlanda, e não possuía componentes que costumam dar ebulição ao futebol, especialmente no que tange campeonatos disputados por rivais históricos, bem como o público foi de 40 mil pessoas, para um local com lotação máxima de 60 mil.

Menos do que comentar sobre o jogo, é preciso mencionar temas que, inevitavelmente, já fazem parte das discussões no Brasil quanto a nossa organização da Copa do Mundo em 2014.

Optamos por ir ao jogo pelo excelente sistema de metrô londrino, pela linha Piccadily, rumo à estação Arsenal – isso mesmo, o transporte e o estádio estão integrados.

Fundado em 1863, o metrô de lá possui 11 linhas e 270 estações espalhadas pela cidade e arredores. São 400 quilômetros de uma malha que serve a milhões de passageiros. O headway (intervalo de tempo entre trens) é de três a cinco minutos.

Em outras palavras, funciona muito bem.

Na chegada, policiamento atencioso e cordial, orientando, agil, e que sabe lidar com a multidão. São 50 metros da saída do metrô até a entrada do estádio.

Sem gente pedindo dinheiro para ajudar na compra de ingressos. Sem cambistas ostensivamente oferecendo bilhetes. Nas paredes fora do estádio, de fato, cartazes afixados pelo clube reforçam que a atividade de cambista é crime passível de prisão.

Chegamos faltando 15 minutos para o início da partida, marcada para as 20h05. Não houve problema para contornar parte do estádio, acharmos o nosso setor e entrarmos pelos portões com catracas automáticas e detectores de metais. Sem policiais ou seguranças fazendo revista. E, ainda, deu tempo para comprar a revista do Matchday Programme, cuja qualidade gráfica e editorial não existe em nosso futebol.

Os acessos têm elevadores e escadas. Tudo é muito limpo e bem sinalizado. Painéis luminosos, dentro e fora, não só embelezam como também comunicam.

Antes da partida, perfilamento das equipes. Mas observar o estádio do conforto das cadeiras estofadas e com costado alto é o melhor antes do pontapé inicial. Não há faixas de torcidas organizadas escondendo, entre um anel e outro, a indicação dos anos que lembram as principais conquistas e troféus do Arsenal. Os telões, enormes, passam imagens, com impressionante nitidez, sobre notícias e iniciativas do Arsenal, mesmo sendo jogo de convidados internacionais.

Em uma palavra: impecável.

Uma das pessoas que nos acompanhava foi repreendida por um dos seguranças, pois bebia cerveja na arquibancada e isso só pode ocorrer na área de alimentação. Não sem antes soltar, cordialmente, um excuse me, sir, para abordá-lo e acompanhá-lo.

No intervalo, na área de alimentação, talvez o maior gargalo. Muita gente com pouco tempo pra comer e beber, gerando filas que diminuem a agilidade do serviço.

Ao final do jogo, a multidão se dispersa rapidamente. E, mesmo para voltar pelo metrô, organização total da polícia inglesa, com cavaletes que orientavam a fila. E ninguém ousou furar.

Totalmente diferente do que entendemos por espetáculo no futebol brasileiro. Faz parte da simbologia histórica por aqui, polícia, confrontos, ônibus lotado na ida e na volta, brigas, violência, arquibancada de cimento, sob sol e chuva, poluição visual dentro do palco.

A Copa de 2014 será uma grande lição para o Brasil e para a indústria do futebol. Ou um grande pesadelo.

E, ainda que duvidasse que o jogo começaria, precisamente, às 20h05 horas, começou mesmo! A pontualidade britânica resumiu, para mim, o nível de evolução do futebol inglês.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Adriano, Love e o profissionalismo

Olá amigos!

Hoje, daríamos sequência à discussão levantada na última semana sobre a arbitragem e o auxílio dos recursos tecnológicos. Agradeço a participação de todos com seus comentários e opiniões, e peço licença para prosseguirmos com esse debate na próxima semana, abrindo espaço para outro assunto.

Agora, conversaremos sobre algo que foge às perspectivas tecnológicas do futebol, mas refere-se ao caráter moral e ético do ser humano, colocando este texto como uma indignação pessoal que pode ser a mesma de tantas pessoas, e para outros não fazer sentido.

Discuto aqui, algo que imagino, deveria ser pensado por todos os profissionais que militam no esporte de forma correta, e assim, também, são nas suas vidas fora das modalidades.

Às vezes, juízos de valor são tomados como se fosse possível o ser humano se dividir em subvidas, uma no esporte, uma na política, uma familiar… Não, isso não é possível! O ser humano é único e complexo e, mesmo com toda essa complexidade, não acredito que o caráter e a moral variem de acordo com o ambiente ou cenário.

No último domingo, no programa semanal da Rede Globo, “Fantástico”, foi exibida uma entrevista com o jogador Adriano, do Flamengo, e, também, uma reportagem envolvendo o jogador da mesma equipe, Vagner Love em festas com traficantes armados, no Rio de Janeiro.

Que não se confunda a critica ao clube nem à cidade. O que pretendo é discutir para além do bairrismo, pois esse tipo de situação acontece em muitos clubes, com muitos atletas, em vários lugares o Brasil e do Mundo. Busco, portanto, refletir sobre o ser humano e o papel que ele exerce enquanto atleta.

Perguntado sobre como se relaciona com o álcool hoje, depois de ter admitido problemas com bebidas alcoólicas no passado recente, Adriano disse que não tem problemas, mas que “toma lá” suas cervejinhas, mas nada de mais. A entrevistadora perguntou, então, se ele tomava uma vez por semana, e ele respondeu que de duas a três vezes por semana.

Na outra reportagem, traficantes armados foram filmados fazendo a segurança de Vagner Love, numa festa. A repercussão disso na, última segunda-feira, mostrou que o atacante terá que prestar esclarecimentos. Mas a posição do atleta perante a mídia foi de que é normal isso em festas e que não deixará de frequentar tais locais.

Portanto, convido os amigos a pensarem sobre o quanto o futebol é profissional pensando por esses aspectos.

Uns podem focar seus argumentos na questão da privacidade, que a vida fora do campo de jogo não interessa a ninguém. Mas confesso que ouvir e presenciar essas coisas me incomoda, e muito.

Não consigo separar o atleta do ser humano. Seria como pensarmos que as três vezes por semana que o Adriano afirma tomar cerveja só façam efeito ao corpo do ser humano, mas jamais afetam o atleta Adriano, amparados ainda por alguns estudos e médicos que afirmam que a ingestão de álcool não interfere no rendimento (depende da quantidade, lógico).

Ou ainda imaginar que o círculo de amizades e o ambiente no qual estava inserido Love não interferem nas ações e na vida do ser humano Vagner, e mesmo que exista tal influência, jamais ocasionaria algum mal ao atleta Vagner Love.

Não! Não vejo desta forma. Entendo que o que o jogador faz fora de campo é indissociável do ser humano que ele é e, consequentemente, do atleta que entra em campo.

A discussão pode ir parar na mesa de bar comparando-se eficiência, carisma, história de vida, resultado, mídia, sensacionalismo, ou seja, o que for. Mas, nós que aqui nos dedicamos a ler, buscar informações e nos aperfeiçoar para nossa atuação profissional, não podemos deixar passar o tema como se fosse normal, o famoso “jeitinho brasileiro”, e nos orgulharmos disso.

Ou então deveríamos repensar o que é o tal “profissionalismo”, pode ser que não tenhamos compreendido bem essa ideia.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Informar ou lucrar?

Quase sempre, nas escolas de jornalismo espalhadas por aí, se discute o papel da grande mídia no exercício da profissão de jornalista. Muitos professores adoram dizer que a grande mídia é, na realidade, um grande manipulador da informação em prol de seus objetivos empresariais.

O final de semana esportivo no Brasil revelou a essência dessa discussão acadêmica. Afinal, o objetivo primordial de uma empresa de mídia é informar ou lucrar?

Nas cadeiras acadêmicas, a discussão fica centrada no jornalismo. Aquele da essência, da verdade, do compromisso com a informação. Aposto que, se fosse num curso de administração, muito provavelmente o jornalismo fosse o de menos.

Domingo foi um dia tão cheio de novidades do esporte no Brasil que era quase impossível não comentar sobre tudo o que aconteceu pelo país. No carro-chefe do futebol, clássicos estaduais com grandes resultados já complicaram a diagramação das páginas, o tempo dos noticiários na TV ou as chamadas para as capas dos sites.

Mas a grande reviravolta dos padrões morais para a condução do jornalismo foi nas rádios e, especialmente, na televisão. E o “detonador” desse processo foi o automobilismo.

O final de semana foi marcado pela realização, em São Paulo, da primeira etapa brasileira da Fórmula Indy após mais de uma década. Ao mesmo tempo em que os carros corriam na pista de rua montada na região do sambódromo do Anhembi, lá longe, no Bahrein, a Fórmula 1 dava a sua largada para a temporada, tendo diversas novidades, entre elas a volta de Michael Schumacher, o maior vencedor da categoria.

O que acontece é que a Fórmula Indy é um evento transmitido pelo grupo Bandeirantes, enquanto que a Fórmula 1 tem a Rede Globo como sua grande parceira. E, para desespero dos puritanos do jornalismo, as duas emissoras ignoraram solenemente o evento de sua concorrente.

A Band não falou de Fórmula 1, mesmo tendo os direitos de transmissão, na rádio, das provas da categoria máxima do automobilismo. A Globo mandou apenas uma equipe para a cobertura da Indy em São Paulo, algo totalmente fora dos padrões da emissora para um evento de grande porte que acontece no país. Mas, também, com a clara tarefa de ficar de sobreaviso para produzir material principalmente no caso de um terrível acidente acontecer.

Jornalisticamente, foi ridículo o tratamento dado pelas duas emissoras aos eventos que “concorriam” com aquele que fazia parte de suas grades de programação. Não tem sentido ignorar uma prova da Indy em São Paulo ou a estreia da Fórmula 1 mais imprevisível dos últimos anos. Além disso, a tentativa de repórteres e narradores de promover demais o seu evento, em detrimento do que de fato acontecia, revela outro lado obscuro do negócio.

O que nunca se discute nas cadeiras do jornalismo, é que uma empresa precisa dar lucro para continuar a existir. Seja ela uma fábrica de chocolates ou um veículo de imprensa. Nessa busca pelo lucro, o produto “esporte” traz um alto valor agregado. Aumento de audiência, obtenção de patrocinadores e, no caso da Indy, organização de um evento.

Tudo isso leva o jornalismo para um segundo plano. Informar, para uma empresa de mídia, é menos importante do que lucrar. Até o momento em que todas perceberem que a essência do seu negócio é a informação.

O lucro? Ele é mera consequência da informação bem transmitida ao consumidor.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Declarações pasteurizadas

Na próxima terça-feira a seleção brasileira faz o último jogo antes da Copa do Mundo. Ou melhor, quase todas as seleções fazem seu último desafio antes do Mundial. E, por isso mesmo, o que era para ser um momento de grande exposição dos atletas na mídia se transformou num desfile de declarações pasteurizadas. Mundialmente!

Na semana passada, Cristiano Ronaldo participou de evento da Nike em Londres. Diante de mais de 300 jornalistas do mundo todo, o atacante do Real Madrid e da seleção portuguesa disse que o Brasil é favorito ao título, que o grupo em que Portugal está é o “da morte” (Brasil, Costa Rica e Coreia do Norte complementam a chave) e que ele espera fazer um bom torneio.

No dia seguinte, Alexandre Pato foi o “astro” do evento. Dessa vez, uma entrevista coletiva com jornalistas se estapeando para pegar uma grande declaração do atacante do Milan, provavelmente ausente da Copa do Mundo. Pato disse que espera ir à África do Sul, que gostou da camisa da seleção e que a chuteira nova do patrocinador é muito boa.

Ontem e hoje, jogadores brasileiros desembarcaram aqui em Londres para o último amistoso antes da convocação para a Copa do Mundo. E mantiveram a mesma linha de declarações:

“Vale qualquer sacrifício para o último amistoso”. “Não é porque é amistoso que o jogo não vale nada”. “Entraremos com a mesma vontade do que se fosse a estreia na Copa”. “O Dunga é quem sabe quais serão os 23 convocados, eu só espero dar o meu melhor para estar lá”.

No final das contas, para a mídia que depende do declaratório dos jogadores, a semana em Londres foi praticamente inútil. De pouco adiantou, jornalisticamente falando, a Nike levar jornalistas de dezenas de países para ter contato com os seus patrocinados. Talvez tivesse sido mais eficiente fazer fotos dos atletas com as camisas das seleções e enviarem-nas para as redações. Sem dúvida o custo seria infinitamente menor.

Mas por que isso acontece?

Em 2006, Rogério Ceni disse pouco antes da convocação de Parreira para o amistoso contra a Rússia, o único pré-Copa do Mundo, que preferiria defender o São Paulo na estreia da Copa Libertadores a ser chamado para o banco de reservas de um amistoso da seleção.

O mal-estar foi refeito, Rogério não só foi chamado para a partida, como foi titular e chegou até a Copa do Mundo. Mas também, antes mesmo de embarcar para a Rússia, o goleiro tricolor já tinha usado o discurso-padrão.

“Nunca é roubada jogar pela seleção. É sempre uma honra”, disse o atleta após treinar na Rússia.

Roubada, sem dúvida, é o declaratório pasteurizado de jogadores e treinadores nessa época do ano. O fenômeno é mundial. Afinal, ninguém quer perder a chance de realizar o sonho de jogar uma Copa do Mundo por uma frase infeliz…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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O futebol bem feito fora dos grandes centros do Brasil: você conhece a "máquina verde" de Lucas do Rio Verde?

O Brasil é um país de território muito grande, de muitas oportunidades e contrastes. De Norte a Sul, de Leste a Oeste, muitas riquezas, problemas e variedades.

O futebol do “país do futebol” é uma das expressões de tamanha grandeza e diferenças.

Em centros específicos do país, muito dinheiro, projeção, visibilidade; em outros, muito trabalho e dificuldades para fazer com que ele (o futebol) possa crescer a cada dia e também ganhar destaque.

A respeito das diferenças e grandeza do futebol no Brasil, muitas coisas podem surpreender positivamente.

Dentre essas surpresas, escreverei hoje alguns parágrafos a respeito de uma equipe jovem (tem poucos anos de vida) do Mato Grosso, conhecida por lá como “máquina verde”: o Luverdense EC.

A equipe do Luverdense foi campeã mato-grossense em 2009. É no estado do Mato Grosso o time com melhor calendário de competições do ano de 2010 (Estadual, Brasileiro da Série C e Copa do Brasil). Tem sede na belíssima Lucas do Rio Verde, cidade pequena em tamanho, mas grande em oportunidades, organização e planejamento. Suas escolas municipais são excepcionais – de fazer inveja a ótimos colégios particulares espalhados pelo Brasil (de impressionar!).

Seu treinador é Tarcísio Pugliese. Pouco conhecido no cenário do futebol brasileiro (o que deve mudar rapidamente, porque vem fazendo ótimos trabalhos, que certamente darão a ele destaque), gosta de estudar o jogo, de debater e aplicar novas ideias.


 

Apesar de seus poucos anos de vida, o Luverdense tem grandes projetos (um deles é ter bom desempenho na Copa do Brasil – perdeu o 1º jogo para o Coritiba por 1 a 0, e agora aposta suas fichas no próximo confronto) e ações muito bem planejadas.

É uma equipe de sucesso, não só pelo rápido crescimento dentro do cenário esportivo, mas também por como vem construindo tão bem sucedido caminho, dentro e fora do campo.

Para chegar onde está, e para continuar crescendo, além do trabalho que vem fazendo Tarcísio Pugliese e Leandro Rocha (preparador físico) – com suas atribuições gerenciais, que transcendem aquelas comuns nas equipes de futebol pelo Brasil -, conta também com a condução administrativa de uma “figura” visionária, muito interessante e inteligente, que apesar de pouco tempo efetivamente dentro do futebol, pode compartilhar muitas coisas com seus pares de clubes mais conhecidos do Mato-Grosso e outros estados brasileiros. Falo do presidente do clube, e empresário bem sucedido da soja, Helmute Augusto Lawisch.

Abaixo, trago uma entrevista feita com ele antes do primeiro jogo entre a equipe do Luverdense e a equipe do Coritiba pela 1ª rodada da Copa do Brasil de 2010 (um jogo que se comparássemos apenas a folha de pagamento das duas equipes, o Coritiba deveria “atropelar” e eliminar o segundo jogo, o da volta, coisa que não aconteceu).


 

Segue a entrevista:

O Luverdense EC é hoje, a principal equipe do Mato Grosso. Em poucos anos de história, chegou ao Campeonato Brasileiro da Série C, a Copa do Brasil e a títulos que culminaram com a conquista do Campeonato Mato-grossense de 2009. Que tipo de projeto foi elaborado para que o Luverdense EC chegasse onde está hoje?

No primeiro momento – 2004 – era pura empolgação. Montamos um time em 15 dias e construímos um estádio em 45 dias.

Ganhamos o primeiro título com nove meses. Fomos campeões da base (sub-20) e conquistamos o direito de participar da Copa SP em janeiro de 2005 em Bauru. E não fizemos feio… Perdemos para os donos da casa, ganhamos do Santa Cruz, de Recife, e empatamos com a Ponte Preta, de Campinas. Ganhamos também em 2004 a primeira edição da Copa Mato Grosso, que nos deu o direito de disputar a Série C de 2005. Ou seja, com 15 meses de existência, já estávamos participando de um Brasileirão.

O planejamento para chegar onde estamos se deu em 2007. Nós precisávamos ganhar a Copa Mato Grosso daquele ano para voltar a disputar a Série C em 2008. Aí já começou o planejamento. E deu certo! Montamos um bom grupo e fomos bi-campeões, com direito a participar da Série C. Aí ocorreu a mudança na terceira divisão nacional e precisávamos no mínimo nos manter nela. Mais uma vez deu certo!

O Luverdense EC é respeitado também por direcionar bem os investimentos, e gastando menos dinheiro que equipes tradicionais do Estado do Mato Grosso, tem conseguido resultados muito mais expressivos. Onde está o segredo? Onde o senhor julga ser mais importante concentrar o foco dos investimentos para montar uma equipe vencedora e com as finanças em dia?

O segredo está em ser partícipe. Entrar num projeto de corpo e alma e acreditar. Isso vale para a vida! Ter convicção naquilo que você se dispuser a fazer.

Um clube de futebol é uma estrutura que alguém manda! Para ganhar títulos, tem que montar um bom elenco.

Começa pelo treinador. Quando for montar o grupo – a direção tem que participar! Para participar, você tem que conhecer quem é quem! Atletas e membros da comissão técnica.

Após montado o grupo, você tem que definir os objetivos da temporada. Zelar pela disciplina! Não ter medo de “boleiro”. Não basta só ser bom de futebol: tem que ser gente!

Na sequência, tem que motivar e cobrar, mas cobrar com força e aplaudir quando vem o resultado.

No Luverdense, hoje, o treinador Tarcísio Pugliese (que vem fazendo ótimo trabalho) participa ativamente da contratação de jogadores e construção da equipe, com autonomia para tomar decisões que tradicionalmente ficam, no futebol, a cargo de dirigentes. Esse modelo de gestão, apesar de funcional em equipes estrangeiras, não é muito comum no Brasil. Esse modelo sempre foi marca no Luverdense, ou ganhou força com a chegada do atual treinador? Por quê?

A autonomia é conquistada. O que ocorre na Europa diferente do Brasil é que os dirigentes sempre saem pela tangente quando o bicho pega! E os treinadores no Brasil trabalham também menos tempo no mesmo clube. Uma tradição burra do nosso futebol. O que é preciso ser feito é avaliar antes de contratar o treinador.

E outro assunto: muitos dirigentes que tem peso na consciência por estarem pensando só em ganhar dinheiro, não aguentam um “assoprão” das torcidas. E no primeiro obstáculo demitem os treinadores. Treinador com serviço prestado, confiança adquirida, tem que ter autonomia, sim!

O senhor tem em sua comissão técnica atual (treinador, preparador físico, auxiliar técnico) profissionais formados em uma das principais Universidades do Brasil, a Unicamp. Isso é coincidência? Para o senhor, que convive diariamente com o mundo do futebol, ter profissionais, que além da experiência no futebol, tenham boa formação acadêmica, confere alguma diferença ao trabalho do dia-a-dia de treinos, relacionamento com jogadores, dirigentes, imprensa e torcedores?

Neste momento pode ser coincidência. Mas como eu participo ativamente do dia-a-dia do clube, interação constante, e não gosto de cara burro, prefiro profissionais de alto nível. Não suporto burrice!

Qual é o projeto delineado para o Luverdense EC para os próximos anos?

Nós precisamos chegar à Série B do Brasileirão e precisamos montar a nossa base (categorias de base).

O senhor é um empresário muito bem sucedido, que em princípio tinha pouca experiência com o futebol. Trouxe muitas lições do mundo dos negócios para a administração de uma equipe de futebol? Se sim, quais foram essas lições?

Com certeza! Vou citar algumas: “Não ter medo de errar!”; “ser rápido nas tomadas de decisões”; “falar e cumprir!”; “não criar falsas expectativas”;

A experiência me diz quando um “mala” se aproxima, e também quando uma pessoa de bem chega por perto. São coisas da vida.

Que pergunta o “empresário Helmute” gostaria de fazer ao “presidente Helmute”, e qual a resposta para ela?

“Senhor presidente, você não faz contas? Quando virá o retorno financeiro disso tudo?”

Resposta: “Olha, Helmute, você já participou de tantas coisas. Colocou dinheiro em tantos negócios… Você sabe como ninguém que amanhã o retorno virá! Inclusive o financeiro”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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Ordinária

Existem grandes chances de eu ser levemente problemático.

Afinal de contas, uma das poucas coisas que me lembro dos quatro anos que passei na faculdade é de uma aula de teoria do conhecimento, epistemologia para os nerds, que discutia as diferenças entre conhecimento científico e conhecimento ordinário.

A diferença, e posso estar completamente errado sobre isso, é, basicamente, que o conhecimento científico tem justificativa experimental e metodológica, e o conhecimento ordinário é gerado pela experiência pessoal, sem um padrão definido de observação. Consequentemente, o conhecimento ordinário tende a ser mais leviano e sujeito a falhas.

Na parte esportiva do futebol, quem reina é o conhecimento científico. Comissões técnicas bem estruturadas dão números a diversas variáveis que influenciam na performance de cada jogador, seja por medições de aspectos físicos, seja com estatísticas relacionadas ao jogo. A ciência tem, pelo menos nos clubes mais bem estruturados, um peso muito grande no departamento de futebol. Não é porque um cara acompanha futebol há trinta anos que ele terá razão suficiente, por exemplo, para definir um programa de treinamento de atletas. Para isso, é de fundamental importância a adoção de critérios científicos que existam ou estejam em desenvolvimento pelo mundo afora.

Na parte administrativa do futebol, entretanto, o esquema muda completamente. O que impera é o conhecimento ordinário, gerado por pessoas que fazem parte do sistema há anos ou que observam esse sistema desde muito tempo atrás. Em geral, não há e não se pede por ciência. Muito pelo contrário. Não é raro que um determinado conhecimento científico seja deixado de lado em função do conhecimento ordinário.

Um exemplo disso é o programa de sócios de um clube de futebol. A lógica mais evidente e simples sugere que quanto mais sócios um clube de futebol tiver, mais receita ele será capaz de gerar. Conhecimento ordinário, originado de observações sem cunho metodológico e sem padrão de mensuração, que move o direcionamento de diversas administrações de clubes de futebol pelo país. Um faz porque o outro faz, porque acha que dá certo e fica anunciando pra todo mundo.

O conhecimento científico, ainda que bastante carente de maiores aprofundamentos, sugere que a importância do sócio não é tão grande assim, uma vez que os efeitos de um programa com elevado número de participantes podem gerar significativos distúrbios administrativos e privar o clube de importantes canais de receita, principalmente no longo prazo.

Mas se alguém for defender isso junto para maioria dos tomadores de decisão nos clubes de futebol, será motivo de chacota. Afinal, é o conhecimento popular que prevalece sobre o científico. E ai de quem reclamar. Na melhor das hipóteses, será ignorado. Na pior, será taxado como levemente problemático. Corre até o risco de ser chamado de ordinário.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Futebol na lona

Entre 2006 e 2009, o número de assinantes saltou de 5,2 milhões para 8 milhões. Pouco mais de 50% de aumento em três anos.

O Premiere FC, mesmo sistema de pay-per-view (PPV), dirigido ao futebol, atingiu números bem mais modestos.

Em 2009, o Clube dos 13 teve conhecimento, em agosto, da última pesquisa que havia sido realizada entre torcedores-consumidores dos canais PPV do Campeonato Brasileiro.

Flamengo, Corinthians e Palmeiras lideraram os números, que balizarão a distribuição de cotas em 2010. Logo a seguir vem, pela ordem, São Paulo, Inter e Grêmio.

Os dados apresentados pela Globosat, em conjunto com os institutos Ibope e Datafolha, mostram que foram vendidos mais de 600 mil pacotes para o Nacional deste ano, quase o triplo comercializado em 2006.

Resultado do combate entre as lutas e o futebol, na arena da TV por assinatura: 8 milhões contra 600 mil.

Nocaute no primeiro round.

Obviamente que levaríamos tempo e espaço para discorrer sobre uma análise mais profunda das razões de cada esporte apresentar tais números tão antagônicos.

A comercialização das lutas em PPV decorre da evolução geral daquilo que, inicialmente, surgira como eventos isolados e que agora se posiciona como um verdadeiro esporte.

Esforços conjuntos de regulamentação das competições e das lutas, somados ao marketing organizado e agressivo, passando pela presença de lutadores do mundo todo – que recebem bolsas de até US$ 250 mil por luta, inclusive alguns brasileiros – fez o valor do UFC, a mais conhecida delas, saltar de US$ 2 milhões para estimados US$ 1 bilhão.

O preço médio das mensalidades gira em torno de US$ 60,00 (R$ 120,00).

O mercado de comercialização do PPV para o futebol, portanto, tem muito a crescer ainda no Brasil e, conseqüentemente, turbinar o ambiente de negócios que o envolve, incluindo a atenção de patrocinadores e apostando também na expansão da TV digital, que pressupõe a liberdade e interatividade do usuário como chaves.

Nem todo mundo cabe nos estádios de futebol para assistir aos jogos. E nem todo mundo quer ficar sujeito aos sabores de audiência dos clubes de maior torcida do país, nas TV abertas.

O que as pessoas querem, inclusive nossa crescente classe C, é conforto e comodidade, além de segurança. E pagam por isso.

Se for em casa, na frente de uma TV de plasma ou LCD, assistindo ao seu time jogar, melhor ainda.

Porque, nos estádios e nas imediações, ainda é, pra falar o mínimo, uma bela aventura e um exercício de redução das expectativas.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Expectativas para 2010

As festas natalinas e o fim de ano passaram e não foi possível passar sem olhar para o que ficou para trás e perspectivar o que vem pela frente.

O ano de 2010, que já começou, promete. Eleições presidenciais – a primeira, desde muito tempo, sem a presença direta de Lula como candidato… ano de renovação (?) no Congresso Nacional, nos legislativos e executivos estaduais… e… ano de Copa do Mundo… de futebol, é claro, a primeira a se realizar em continente africano.

Tudo isso se articulado à já confirmada realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas em nosso país, respectivamente em 2014 e 2016, nos remete à análise do que foi a política esportiva nos anos Lula, até porque é grande a possibilidade de ele retornar em 2014 para, neste campo, concluir o que começou.

Em fevereiro de 2009, mais precisamente no dia 10, o Partido dos Trabalhadores comemorou seus 29 anos de existência. Não resta dúvida ter havido muito a comemorar, pois não há como falar da democracia brasileira sem falar das lutas entabuladas por ele para a sua (dela, democracia) consolidação.

Se foi – e foi – momento de comemoração, também foi de reflexão, notadamente para os que desejavam comemorar outros tantos anos de sua presença na história política de nosso país.

Várias seriam as possibilidades de refletirmos sobre sua história. Optamos, na ocasião, por fazê-lo a partir de sua presença à frente do governo de nosso país e pelo viés de um campo específico definidor de política pública: o do Esporte.

De imediato expressamos o entendimento de sabê-lo (o PT) majoritário, mas não hegemônico – no sentido gramsciano do termo – na esfera governamental. No âmbito da política esportiva isso se configurou, desde o primeiro momento do primeiro mandato, pela presença do PC do B à frente do Ministério do Esporte sem nada que o comprometesse com a compreensão de política esportiva e de lazer configurada no interior do PT ao longo de sua existência…

A entrega da responsabilidade pela política esportiva brasileira àquele partido sem a configuração de compromisso programático traduziu-se nesses 7 anos em dois fatos dramáticos para aqueles setores do campo esportivo comprometidos com a superação do modus operandi conservador, retrógrado e reacionário que nele – campo esportivo – prevalece desde os seus primórdios, localizados no período estadonovista:

1) O fortalecimento dos setores conservadores do campo esportivo devido a explícita e concreta terceirização, pelo PT, da responsabilidade pela configuração da politica esportiva brasileira;

2) O aprisionamento dos responsáveis pela implementação da referida política pelos setores acima mencionados do campo esportivo, sabidamente majoritários e … hegemônicos no que tange à construção do imaginário popular sobre o assunto.

Por um lado, a propalada terceirização só foi possível dada a fragilidade da instância interna ao PT responsável pela temática (Setorial Nacional de Esporte e Lazer) que se perdeu numa disputa interna fraticida (sabemos o quanto o “fogo amigo” consome as forças) e por fim, golpista, que culminou com a sua própria morte, com atestado de óbito datado de 19 de fevereiro de 2006, coordenada, irresponsavelmente, nada mais nada menos do que pelo arquiteto da famigerada ação de barbárie de invasão das dependências do Congresso Nacional, no segundo trimestre daquele mesmo ano, naquela época à frente da Secretaria Nacional de Movimentos Populares do Partido.

Por outro, a ausência de compromisso programático aliado à ausência de sustentação partidária à ação do Setorial Nacional De Esporte e Lazer – dada a sua fragilidade política no interior do próprio Partido e a miopia de sua forma de agir – estruturou o pano de fundo a partir do qual o PC do B, sem algum tipo de tradição na área, buscou se legitimar no campo esportivo – campo no sentido definido por Bourdieu -, aproximando-se, por uma questão de sobrevivência (ou seria oportunismo?) política, ainda que, a princípio timidamente, aos que detinham a maioria, indo no sentido contrário ao propugnado pelo mote de campanha e de governo, qual seja, ser porta-voz de mudança, de construção do substantivamente novo…

Até aquele momento, o que assistíamos não era de todo inesperado, dada a lógica inerente à real politica imperante na capital federal. A busca de legitimação levava, dia após dia, a uma submissão consentida aos setores conservadores, que acabou por se traduzir na capitulação e aprisionamento dos responsáveis pela definição e execução da política esportiva aos interesses daquela fração do campo esportivo.

O que não sabíamos era que cada vez mais e mais esse processo de aprisionamento, de se terem como reféns daqueles segmentos, passaria a ganhar contornos estarrecedores, somente passíveis de serem compreendidos através da analogia com o que se tornou conhecido internacionalmente sob o nome de Síndrome de Estocolmo.

Segundo a Wikipédia, a Síndrome de Estocolmo (Stockholm Syndrome) “é um estado psicológico particular desenvolvido por pessoas que são vítimas de sequestro, que se desenvolve a partir de tentativas da vítima de se identificar com seu captor ou de conquistar simpatia do sequestrador…”

Em sua busca desesperada por legitimação no campo esportivo – essencial para a manutenção de seu status na esfera governamental – os senhores do ME provavelmente não se aperceberam, de início, do quanto se tornavam cada vez mais e mais semelhantes aos senhores dos anéis… E não só a eles, mas também àqueles que orbitavam entorno daquele setor contentando-se em servirem-se das migalhas que sobravam dos laudos banquetes oferecidos pelas entidades de direito privado, bancadas por recursos públicos…

Ainda segundo a Wilkipédia, “as vítimas começam por identificar-se emocionalmente com os sequestradores, a princípio como mecanismo de defesa, por medo de retaliação e/ou violência. Pequenos gestos gentis por parte dos captores são frequentemente amplificados porque, do ponto de vista do refém é muito difícil, senão impossível, ter uma visão clara da realidade nessas circunstâncias e conseguir mensurar o perigo real…”.

Talvez isso ajude a explicar o porquê do lançamento da política nacional do esporte, em 2005, ter se dado no popular e nada elitista Clube Pinheiros, São Paulo, e lá ouvirmos os elogios do presidente do COB, como também do presidente da Confederação Brasileira de Clubes, ao presidente Lula ali presente, pelos reconhecidos (por eles) feitos de seu governo a favor do esporte nacional… Na lógica por eles defendida, é claro.

É importante observar que – de acordo com a Wilkipédia – “o processo da síndrome ocorre sem que a vítima tenha consciência disso… Entretanto, a vítima não se torna totalmente alheia à sua própria situação, pois parte de sua mente conserva-se alerta ao perigo e é isso que faz com que a maioria das vítimas tente escapar do sequestrador em algum momento, mesmo em casos de cativeiro prolongado…”

Pois é a essa possibilidade que – prestes ao anunciar de 2010 – nos apegamos para construirmos nossa expectativa de que o Ministério do Esporte consiga romper tal quadro de submissão voluntária e retome, no tempo que lhe resta de governo, o caminho que projete para o Governo vindouro a consolidação da política esportiva centrada no reconhecimento constitucional de ser o esporte direito social inalienável do povo brasileiro e, portanto, responsabilidade de Governo. Em outras palavras, que governe para o povo e não para o “povinho” com o qual se comungou até agora…

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Estado de 'atensão'

Não, você não leu errado. Nem eu joguei fora a gramática. Mas é essa a sensação que temos quando se depara com a notícia de que Ricardo Gomes teve uma espécie de AVC (Acidente Vascular Cerebral, o popular “derrame”).

Ontem, na entrevista coletiva após o jogo entre Palmeiras e São Paulo, senti uma certa irritação em Gomes na resposta às perguntas dos jornalistas. Não é do feitio dele. Ou costumava não ser.

Pelo visto, nem mesmo o polido Ricardo Gomes conseguiu resistir à pressão de dirigir uma equipe de primeira grandeza do futebol. Pressão da torcida, dos atletas, da diretoria, dos jornalistas, dos familiares… Haja estômago para conseguir resistir. Ou, no mínimo, haja equilíbrio mental para isso.

Gomes sofreu com a tensão que cerca o ambiente do futebol nos dias de hoje. Um estado de tensão constante, praticamente bélico, que coloca de um lado jornalistas e do outro técnicos.

Tudo, hoje, cai nas costas do treinador. Mais do que antes. É o treinador quem, obrigatoriamente, tem de falar ao final do jogo. É ele quem responde sobre o lance polêmico envolvendo o árbitro. É ele que tem de confirmar o time titular. É ele quem tem de assumir o erro de uma escalação errada, de um resultado ruim. É ele, é ele, é ele…

Sim, o cara é bem pago para isso. Mas é claro, ao mesmo tempo, que essa relação precisa mudar. Ou, pelo menos, ficar menos beligerante. É algo que não tem sentido de ser. A cobrança por resultados, que leva do céu ao inferno um treinador, agora já mostra que pode causar muito mais estrago do que isso.

É como a questão dos confrontos entre torcedores “organizados”. Que se empolgam ao agir em bandos, acreditando que nada poderá lhes fazer mal. O comportamento irracional do ser humano quando age em grupo é algo que se estuda há vários anos. E que, a cada clássico no futebol brasileiro, fica mais claro de como é um fenômeno incontrolável.

O estado de tensão é, mais do que nunca, um estado de atenção que cerca o universo do futebol. Se não pararmos para pensar qual o propósito da coisa, continuaremos a ter “acidentes” de percurso muito, mas muito preocupantes.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br