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Futebol na lona

Entre 2006 e 2009, o número de assinantes saltou de 5,2 milhões para 8 milhões. Pouco mais de 50% de aumento em três anos.

O Premiere FC, mesmo sistema de pay-per-view (PPV), dirigido ao futebol, atingiu números bem mais modestos.

Em 2009, o Clube dos 13 teve conhecimento, em agosto, da última pesquisa que havia sido realizada entre torcedores-consumidores dos canais PPV do Campeonato Brasileiro.

Flamengo, Corinthians e Palmeiras lideraram os números, que balizarão a distribuição de cotas em 2010. Logo a seguir vem, pela ordem, São Paulo, Inter e Grêmio.

Os dados apresentados pela Globosat, em conjunto com os institutos Ibope e Datafolha, mostram que foram vendidos mais de 600 mil pacotes para o Nacional deste ano, quase o triplo comercializado em 2006.

Resultado do combate entre as lutas e o futebol, na arena da TV por assinatura: 8 milhões contra 600 mil.

Nocaute no primeiro round.

Obviamente que levaríamos tempo e espaço para discorrer sobre uma análise mais profunda das razões de cada esporte apresentar tais números tão antagônicos.

A comercialização das lutas em PPV decorre da evolução geral daquilo que, inicialmente, surgira como eventos isolados e que agora se posiciona como um verdadeiro esporte.

Esforços conjuntos de regulamentação das competições e das lutas, somados ao marketing organizado e agressivo, passando pela presença de lutadores do mundo todo – que recebem bolsas de até US$ 250 mil por luta, inclusive alguns brasileiros – fez o valor do UFC, a mais conhecida delas, saltar de US$ 2 milhões para estimados US$ 1 bilhão.

O preço médio das mensalidades gira em torno de US$ 60,00 (R$ 120,00).

O mercado de comercialização do PPV para o futebol, portanto, tem muito a crescer ainda no Brasil e, conseqüentemente, turbinar o ambiente de negócios que o envolve, incluindo a atenção de patrocinadores e apostando também na expansão da TV digital, que pressupõe a liberdade e interatividade do usuário como chaves.

Nem todo mundo cabe nos estádios de futebol para assistir aos jogos. E nem todo mundo quer ficar sujeito aos sabores de audiência dos clubes de maior torcida do país, nas TV abertas.

O que as pessoas querem, inclusive nossa crescente classe C, é conforto e comodidade, além de segurança. E pagam por isso.

Se for em casa, na frente de uma TV de plasma ou LCD, assistindo ao seu time jogar, melhor ainda.

Porque, nos estádios e nas imediações, ainda é, pra falar o mínimo, uma bela aventura e um exercício de redução das expectativas.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Expectativas para 2010

As festas natalinas e o fim de ano passaram e não foi possível passar sem olhar para o que ficou para trás e perspectivar o que vem pela frente.

O ano de 2010, que já começou, promete. Eleições presidenciais – a primeira, desde muito tempo, sem a presença direta de Lula como candidato… ano de renovação (?) no Congresso Nacional, nos legislativos e executivos estaduais… e… ano de Copa do Mundo… de futebol, é claro, a primeira a se realizar em continente africano.

Tudo isso se articulado à já confirmada realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas em nosso país, respectivamente em 2014 e 2016, nos remete à análise do que foi a política esportiva nos anos Lula, até porque é grande a possibilidade de ele retornar em 2014 para, neste campo, concluir o que começou.

Em fevereiro de 2009, mais precisamente no dia 10, o Partido dos Trabalhadores comemorou seus 29 anos de existência. Não resta dúvida ter havido muito a comemorar, pois não há como falar da democracia brasileira sem falar das lutas entabuladas por ele para a sua (dela, democracia) consolidação.

Se foi – e foi – momento de comemoração, também foi de reflexão, notadamente para os que desejavam comemorar outros tantos anos de sua presença na história política de nosso país.

Várias seriam as possibilidades de refletirmos sobre sua história. Optamos, na ocasião, por fazê-lo a partir de sua presença à frente do governo de nosso país e pelo viés de um campo específico definidor de política pública: o do Esporte.

De imediato expressamos o entendimento de sabê-lo (o PT) majoritário, mas não hegemônico – no sentido gramsciano do termo – na esfera governamental. No âmbito da política esportiva isso se configurou, desde o primeiro momento do primeiro mandato, pela presença do PC do B à frente do Ministério do Esporte sem nada que o comprometesse com a compreensão de política esportiva e de lazer configurada no interior do PT ao longo de sua existência…

A entrega da responsabilidade pela política esportiva brasileira àquele partido sem a configuração de compromisso programático traduziu-se nesses 7 anos em dois fatos dramáticos para aqueles setores do campo esportivo comprometidos com a superação do modus operandi conservador, retrógrado e reacionário que nele – campo esportivo – prevalece desde os seus primórdios, localizados no período estadonovista:

1) O fortalecimento dos setores conservadores do campo esportivo devido a explícita e concreta terceirização, pelo PT, da responsabilidade pela configuração da politica esportiva brasileira;

2) O aprisionamento dos responsáveis pela implementação da referida política pelos setores acima mencionados do campo esportivo, sabidamente majoritários e … hegemônicos no que tange à construção do imaginário popular sobre o assunto.

Por um lado, a propalada terceirização só foi possível dada a fragilidade da instância interna ao PT responsável pela temática (Setorial Nacional de Esporte e Lazer) que se perdeu numa disputa interna fraticida (sabemos o quanto o “fogo amigo” consome as forças) e por fim, golpista, que culminou com a sua própria morte, com atestado de óbito datado de 19 de fevereiro de 2006, coordenada, irresponsavelmente, nada mais nada menos do que pelo arquiteto da famigerada ação de barbárie de invasão das dependências do Congresso Nacional, no segundo trimestre daquele mesmo ano, naquela época à frente da Secretaria Nacional de Movimentos Populares do Partido.

Por outro, a ausência de compromisso programático aliado à ausência de sustentação partidária à ação do Setorial Nacional De Esporte e Lazer – dada a sua fragilidade política no interior do próprio Partido e a miopia de sua forma de agir – estruturou o pano de fundo a partir do qual o PC do B, sem algum tipo de tradição na área, buscou se legitimar no campo esportivo – campo no sentido definido por Bourdieu -, aproximando-se, por uma questão de sobrevivência (ou seria oportunismo?) política, ainda que, a princípio timidamente, aos que detinham a maioria, indo no sentido contrário ao propugnado pelo mote de campanha e de governo, qual seja, ser porta-voz de mudança, de construção do substantivamente novo…

Até aquele momento, o que assistíamos não era de todo inesperado, dada a lógica inerente à real politica imperante na capital federal. A busca de legitimação levava, dia após dia, a uma submissão consentida aos setores conservadores, que acabou por se traduzir na capitulação e aprisionamento dos responsáveis pela definição e execução da política esportiva aos interesses daquela fração do campo esportivo.

O que não sabíamos era que cada vez mais e mais esse processo de aprisionamento, de se terem como reféns daqueles segmentos, passaria a ganhar contornos estarrecedores, somente passíveis de serem compreendidos através da analogia com o que se tornou conhecido internacionalmente sob o nome de Síndrome de Estocolmo.

Segundo a Wikipédia, a Síndrome de Estocolmo (Stockholm Syndrome) “é um estado psicológico particular desenvolvido por pessoas que são vítimas de sequestro, que se desenvolve a partir de tentativas da vítima de se identificar com seu captor ou de conquistar simpatia do sequestrador…”

Em sua busca desesperada por legitimação no campo esportivo – essencial para a manutenção de seu status na esfera governamental – os senhores do ME provavelmente não se aperceberam, de início, do quanto se tornavam cada vez mais e mais semelhantes aos senhores dos anéis… E não só a eles, mas também àqueles que orbitavam entorno daquele setor contentando-se em servirem-se das migalhas que sobravam dos laudos banquetes oferecidos pelas entidades de direito privado, bancadas por recursos públicos…

Ainda segundo a Wilkipédia, “as vítimas começam por identificar-se emocionalmente com os sequestradores, a princípio como mecanismo de defesa, por medo de retaliação e/ou violência. Pequenos gestos gentis por parte dos captores são frequentemente amplificados porque, do ponto de vista do refém é muito difícil, senão impossível, ter uma visão clara da realidade nessas circunstâncias e conseguir mensurar o perigo real…”.

Talvez isso ajude a explicar o porquê do lançamento da política nacional do esporte, em 2005, ter se dado no popular e nada elitista Clube Pinheiros, São Paulo, e lá ouvirmos os elogios do presidente do COB, como também do presidente da Confederação Brasileira de Clubes, ao presidente Lula ali presente, pelos reconhecidos (por eles) feitos de seu governo a favor do esporte nacional… Na lógica por eles defendida, é claro.

É importante observar que – de acordo com a Wilkipédia – “o processo da síndrome ocorre sem que a vítima tenha consciência disso… Entretanto, a vítima não se torna totalmente alheia à sua própria situação, pois parte de sua mente conserva-se alerta ao perigo e é isso que faz com que a maioria das vítimas tente escapar do sequestrador em algum momento, mesmo em casos de cativeiro prolongado…”

Pois é a essa possibilidade que – prestes ao anunciar de 2010 – nos apegamos para construirmos nossa expectativa de que o Ministério do Esporte consiga romper tal quadro de submissão voluntária e retome, no tempo que lhe resta de governo, o caminho que projete para o Governo vindouro a consolidação da política esportiva centrada no reconhecimento constitucional de ser o esporte direito social inalienável do povo brasileiro e, portanto, responsabilidade de Governo. Em outras palavras, que governe para o povo e não para o “povinho” com o qual se comungou até agora…

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Estado de 'atensão'

Não, você não leu errado. Nem eu joguei fora a gramática. Mas é essa a sensação que temos quando se depara com a notícia de que Ricardo Gomes teve uma espécie de AVC (Acidente Vascular Cerebral, o popular “derrame”).

Ontem, na entrevista coletiva após o jogo entre Palmeiras e São Paulo, senti uma certa irritação em Gomes na resposta às perguntas dos jornalistas. Não é do feitio dele. Ou costumava não ser.

Pelo visto, nem mesmo o polido Ricardo Gomes conseguiu resistir à pressão de dirigir uma equipe de primeira grandeza do futebol. Pressão da torcida, dos atletas, da diretoria, dos jornalistas, dos familiares… Haja estômago para conseguir resistir. Ou, no mínimo, haja equilíbrio mental para isso.

Gomes sofreu com a tensão que cerca o ambiente do futebol nos dias de hoje. Um estado de tensão constante, praticamente bélico, que coloca de um lado jornalistas e do outro técnicos.

Tudo, hoje, cai nas costas do treinador. Mais do que antes. É o treinador quem, obrigatoriamente, tem de falar ao final do jogo. É ele quem responde sobre o lance polêmico envolvendo o árbitro. É ele que tem de confirmar o time titular. É ele quem tem de assumir o erro de uma escalação errada, de um resultado ruim. É ele, é ele, é ele…

Sim, o cara é bem pago para isso. Mas é claro, ao mesmo tempo, que essa relação precisa mudar. Ou, pelo menos, ficar menos beligerante. É algo que não tem sentido de ser. A cobrança por resultados, que leva do céu ao inferno um treinador, agora já mostra que pode causar muito mais estrago do que isso.

É como a questão dos confrontos entre torcedores “organizados”. Que se empolgam ao agir em bandos, acreditando que nada poderá lhes fazer mal. O comportamento irracional do ser humano quando age em grupo é algo que se estuda há vários anos. E que, a cada clássico no futebol brasileiro, fica mais claro de como é um fenômeno incontrolável.

O estado de tensão é, mais do que nunca, um estado de atenção que cerca o universo do futebol. Se não pararmos para pensar qual o propósito da coisa, continuaremos a ter “acidentes” de percurso muito, mas muito preocupantes.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A preparação desportiva do futebolista e a complexidade: treinamento físico, tático, técnico, psicológico e sócio-cultural, integrado

Tenho defendido aqui nesse espaço, o entendimento do jogo de futebol sob o ponto de vista da complexidade; e da mesma forma, a preparação desportiva do futebolista.

Isso quer dizer, que, ao invés de buscar compreender o futebol a partir de simples relações de causa e efeito, defendo a idéia de que precisamos reconhecer que existe um emaranhado de variáveis, áreas e dimensões presentes no jogo, que se inter-relacionam e que interferem e sofrem interferência direta umas das outras (de maneira que explicar um evento (fenômeno) qualquer do jogo, requer conhecimento de cada uma dessas variáveis, áreas, dimensões, individualmente e de todas juntas (o todo) ao mesmo tempo).

Como bem disse Edgar Morin, a soma das partes de um sistema pode ser maior, menor, ou igual ao todo.

Pois bem.

A forma de treinar os jogadores está intimamente ligada a forma com que os responsáveis pela preparação desportiva dos futebolistas, enxergam o jogo.

Isso quer dizer que o modelo de treinamento de equipes e jogadores de futebol pode ser tão reducionista quanto reducionista for a forma de se conceber o futebol.

Um grande avanço na modelação do treinamento desportivo no futebol, está associado a percepção de que as manifestações físicas, técnicas, táticas e psicológicas no jogo estão integralmente ligadas, de maneira, que sua separação é apenas algo didático para a compreensão das particularidades das mesmas.

E se estão integralmente ligadas no jogo, devem estar integralmente ligadas no treino (“jogo é treino e treino é jogo”).

Queria chamar a atenção, porém, motivado principalmente por alguns debates com o professor João Paulo Medina, para algo que apresentei em minha tese de doutoramento, e que por mais que muitas vezes estivesse implícito nos argumentos em outras ocasiões, creio ser importante, nesse momento ressaltar.

Para melhor compreensão do jogo de futebol, e também modulação da preparação desportiva do futebolista, não podemos considerar as dimensões “física, tática, técnica, psicológica”, desvinculadas de uma dimensão “sócio-cultural”!

E talvez esteja aí, um dos segredos para alguns fracassos de propostas inovadoras que têm tentado permear o paradigma da complexidade, e o sucesso de outras, que mesmo engessadas em conceitos arcaicos, conseguem ter maior sensibilidade para a dimensão sócio-cultural e conseqüentemente fazer o trabalho fluir melhor.

Quando a dimensão sócio-cultural é negligenciada dentro de um processo, questões de grande importância começam a aflorar, e com elas, problemas agudos, que podem emperrar todo o desenvolvimento do trabalho.

Se a ação do treinador transcende o método, como defendeu o professor Hermes Balbino em sua tese de doutoramento, não é possível que aspectos que estão ligados a forma com que os jogadores vêem o mundo, desenhada por toda sua bagagem cultural, possam ser esquecidos ou desconsiderados por aqueles que gerem equipes. A equipe como todo, pode amplificar e reforçar visões de mundo dos jogadores que a compõe.

Mas, mesmo a ação do treinador, está subordinada a transdimensionalidade do jogo, e por conseqüência, aos aspectos sócio-culturais de jogadores e equipes. Então, a concepção do método pode também, em ambientes específicos, avançar a ação do treinador (mas isso já é outra discussão).

O que não devemos perder de vista é que sob a perspectiva da complexidade não podemos negligenciar a dimensão sócio-cultural do futebol.

Então, na preparação desportiva do futebolista, temos que conceber treinos integrados e integrais que levem em conta as dimensões “física, técnica, tática, psicológica e sócio-cultural”, o tempo todo, e ao mesmo tempo.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Novidades carnavalescas

Apesar de eu não ser jornalista, tenho lá minhas fontes de informação.
Mas, como eu não sou jornalista, essas fontes não são nem um pouco confiáveis.

A minha fonte de Brasília, por exemplo, parece um adolescente em busca de aprovação dos amigos e, por isso, conta histórias absurdas para que eles lhe deem o mínimo de importância.

Essa fonte da capital federal chega a jurar de pés juntos, por tudo o que é mais sagrado, que a Dilma Rousseff e a Marisa são a mesma pessoa. Que o presidente, num rompante kirchneriano, decidiu fazer da sua mulher a sua candidata e, para isso, inventou um alter ego, se não a coisa não poderia ficar muito escancarada. De acordo com a minha fonte, a maior prova disso é o fato de ninguém, nunca, jamais ter visto a Dilma e a Marisa no mesmo lugar, ao mesmo tempo, tipo o Super Homem e o Clark Kent, o Batman e o Bruce Wayne, o Homem Aranha e o Peter Parker e o José Dirceu e o Nelson Jobim. Eu realmente acho que nunca vi as duas juntas mesmo. Talvez ele esteja certo.

De qualquer maneira, essa fonte está em algum lugar muito longe de ser confiável. Ainda assim, ela dá conta de uma intensa movimentação legislativa nessa semana de carnaval, o que me parece outra mentira das mais escabrosas. Aparentemente, senadores e deputados corriam pelos seus gabinetes e pelas escadarias do Congresso para debater uma medida urgente. Urgentíssima.

Devido aos últimos acontecimentos, o governo quer colocar em prática o Cadastramento Nacional do Folião. As imagens da confusão na apuração das notas do carnaval de São Paulo, aliadas a outras tantas cenas e notícias de brigas e violência por todo o país, nos dias que envolveram a maior festa do país, levaram as autoridades públicas a adotarem alguns procedimentos básicos para conter a escalada dos conflitos.

Em primeiro lugar, foi acatada a sugestão do Ministério Público de proibir o consumo de bebidas alcoólicas durante o carnaval, para evitar que foliões bêbados causem distúrbios que possam colocar em risco a segurança de todos. Previne, também, arrependimentos das mais diversas formas na manhã seguinte. O trio elétrico infrator terá seu pneu furado pela fiscalização, o bloco terá seus instrumentos apreendidos. A escola de samba que não respeitar esse regulamento será impedida de entrar no sambódromo e só poderá desfilar a uma distância mínima de 100 quilômetros do seu barracão. No caso de uma escola de São Paulo, por exemplo, ela poderá desfilar em Presidente Prudente.

Alguns criticam a medida pela consequente perda de atratividade do evento e possível diminuição de público presente, o que irá gerar perdas significativas nas receitas das agremiações e blocos carnavalescos. O governo rebate dizendo que se por um lado uma parte do público deixará de frequentar as ruas durante o carnaval, uma parcela maior ainda voltará a participar dos espaços carnavalescos por conta da maior sensação de segurança atribuída a um evento sem pessoas bêbadas.

Mas a medida mais polêmica, que gerou incontáveis debates pela internet em sites, fóruns, blogs e comunidades virtuais, além de ter gerado o maior trend topic já registrado pelo twitter em sua história, o #sambafail, é o programa de cadastramento nacional do folião, que ficou popularmente conhecido como a carteirinha do carnaval. De acordo o governo, o programa é bastante simples e será a solução para o problema da crescente violência no carnaval brasileiro. De acordo com ele, toda escola, bloco ou trio elétrico de carnaval deverá cadastrar seus foliões, permitindo apenas que aqueles que possuem a carteirinha possam festejar pelas ruas e avenidas. A fiscalização será simples e rápida, bastando que todos os cadastrados passem por uma catraca, que será colocada em um local estratégico, que terá um leitor biométrico para identificar o folião.

Segundo o governo, esse cadastramento reduzirá drasticamente os atuais níveis de violência uma vez que os indivíduos que causarem problemas poderão ser facilmente identificados e posteriormente proibidos de ingressar no carnaval. Com relação às críticas sobre os altos custos envolvidos nesse processo, o governo já anunciou que isso não é problema, porque ele lançou um projeto chamado ‘Carnaval Legal’, que vai cuidar de tudo de graça. O próximo carnaval será o carnaval mais pacífico da história, prometem as autoridades empolgadas com as novidades. Sem brigas e sem violência. Igual a todas as outras celebrações de massa no país que envolvem competitividade. Menos o futebol, é claro.

Um comentarista de Curitiba já defendeu publicamente que a Gaviões tem que ser punida pelos próximos 30 desfiles.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Supranacionalidade

Segundo a Wikipédia, o conceito de nação: do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes, formando, assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantem unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional.

O elemento dominante, que se mostra condição subjetiva para a evidência de uma nação, assenta no vínculo que une estes indivíduos, determinando entre eles a convicção de um querer viver coletivo. É, assim, a consciência de sua nacionalidade, em virtude da qual se sentem constituindo um organismo ou um agrupamento, distinto de qualquer outro, com vida própria, interesses especiais e necessidades peculiares.

O Estado é uma forma política, adotada por um povo com vontade política, que constitui uma nação, ou por vários povos de nacionalidades distintas, para que se submetam a um poder público soberano, emanado da sua própria vontade, que lhes vem dar unidade política. A nação preexiste sem qualquer espécie de organização legal.

O Estado, ao deter o monopólio da força (Justiça), surgiu para organizar, minimamente, a nação ou distintas nações que coexistam num dado território (não menos importante, mas apenas um dos elementos formadores de uma nação).

A Europa conseguiu, a partir da União Européia, minorar as desigualdades socioeconômicas dos Estados-membros. Os Estados mais fortes contribuíram para o avanço de todos. Entretanto, fez e faz questão de preservar as diferenças culturais, valorizando-as, inclusive.

O feito dos europeus é mais bem explicado e resumido em uma palavra: supranacionalidade.

A supranacionalidade pressupõe que cada Estado-membro abra mão de parte de sua soberania, nas mais distintas e delicadas áreas, para que ela seja cotejada com interesses comuns a todos os que compõem a União Européia.

Você já deve ter ouvido as expressões “nação rubro-negra”, “nação alviverde”, “tricolor”, “colorada”, etc.

De fato, muitos elementos de uma nação qualquer estão identificados em uma dessas nações do futebol.

O futebol carece de um senso maior de supranacionalidade. O equilíbrio das competições e das ligas é tanto maior quanto mais seja praticado este princípio.

Vide o G4 Paulista que, se engrenar, irá modificar o panorama do futebol brasileiro. Já está fazendo barulho…

Não seria diferente no futebol paranaense, que carece ainda mais do senso de união supranacional. Somente com a união dos clubes para um futebol estadual forte o cenário melhora.

União para discutir e implementar melhorias. Não se trata de abrir mão de tudo aquilo que diz respeito ao sentimento nacional do clube A ou B.

Em recente entrevista de Mario Celso Petraglia, ex-presidente do Atlético Paranaense, ele defendeu a união de Atlético-PR e Coritiba a partir do projeto de uma Arena Atletiba, que forjaria o futuro de demais projetos conjuntos dos dois clubes.

De tão inusitada que é a ideia, provocou todos a parar e pensar de fato na viabilidade do plano. Até porque o território (estádio) é apenas um dos elementos de formação da nação do futebol.

Na Europa, unida, a Espanha continua Espanha. A França continua a França. A Alemanha continua a Alemanha. Isso não diminui o sentimento nacional. Pelo contrário, provoca até reações perigosas de xenofobia e racismo aos que são de fora do bloco, inclusive dentro dos estádios.

Na Itália, Milan e Inter dividem estádio. No Brasil, Cruzeiro e Atlético Mineiro dividem estádio. Os grandes do Rio e São Paulo sempre dividiram. E nem por isso deixaram de conquistar títulos e ultrapassar fronteiras nacionais em busca de novos torcedores que hoje, num processo de evolução dos investimentos no futebol nacional, traduzem-se em mais dinheiro.

A força não está apenas em cada um, agindo em separado, por maior que seja a nação ou o clube de futebol. Está no todo, no conjunto. É isso que se compra, é isso que se vende.

Na União Européia. Ou no futebol brasileiro.

Ainda que seja mais difícil se alcançar.

A Europa levou 50 anos.

E o nosso futebol, quanto levará?

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Os interesses do engenheiro e tecnólogo no desenvolvimento da tecnologia esportiva

Olá amigos!

No texto inicial dessa série que aborda os interesses dos profissionais no desenvolvimento da tecnologia esportiva, fizemos um questionamento sobre como estabelecer um diálogo partindo dos interesses de cada um destes profissionais. Como suprir as necessidades dos técnicos e atletas sem se distanciar das necessidades do público em geral, e se aproximando dos interesses do gestor ou investidor?

Hoje, iremos identificar os objetivos e interesses daqueles que detêm o conhecimento sobre a tecnologia e os recursos, sejam eles engenheiros de computação, analistas de sistemas, tecnólogos, enfim, profissionais relacionados ao desenvolvimento propriamente dito.

Para eles, quais seriam os interesses? Talvez sejam os mais simples e fáceis de identificar:

Utilização dos conhecimentos modernos em tecnologia para otimização e atendimento das necessidades dos clientes;

Case de sucesso no mercado tecnológico.

Não consigo ver muito mais do que essas duas pretensões. Com certeza, quem for do meio pode ter algo a acrescentar, mas imagino que, relativo ao esporte, são esses os interesses de quem desenvolve tal segmento.

Vale destacar o convívio pessoal, nesses últimos anos, com tais profissionais e a riqueza que a tão famosa multidisciplinaridade traz para a concretização de projetos.

Fruto de incessantes piadas, o pragmatismo do engenheiro, sobretudo no desenvolvimento de projetos, na elaboração de metas, no levantamento de requisitos, é elemento admirável e até mesmo invejável para o mundo do futebol.

Se o futebol apresentasse o rigor e o cuidado que os profissionais em tecnologia possuem no desenvolvimento dos projetos, com certeza, as surpresas estariam restritas aos justos aplausos destinados às imprevisibilidades do campo de jogo, da magia, do artista, do futebol em sua essência, e não a aspectos obscuros, estranhos e mesquinhos que, por muitas vezes, interferem no desenrolar do jogo.

E quando nos referimos ao rigor e cuidado, tomemos por definição que não são sinônimos de rigidez e medo, mas que sejam compreendido como zelo e comprometimento com o sucesso do projeto, o que, para os interesses do desenvolvedor, significa a satisfação do usuário final.

Talvez, este seja um dos maiores “problemas”. Gosto de chamar assim, pois, quando falamos em problemas sempre esperamos encontrar as soluções. Isso porque a satisfação do usuário vem atrelada aos resultados, os quais no meio esportivo, diferem, e muito, dos resultados que constam na gestão de qualidade no desenvolvimento de softwares.

Para nós (esporte), o resultado está intimamente ligado ao placar, para os desenvolvedores o resultado relaciona-se à capacidade do usuário em utilizar e alcançar os objetivos traçados inicialmente ao escolher determinada tecnologia.

Neste ponto se encontra o grande erro. Nós do esporte, em muitas vezes, queremos que o computador entre em campo e faça um gol de cabeça, ao invés de estudar, planejar e intervir com base nas informações processadas, comparadas, armazenadas e exibidas em alta velocidade, dinamismo e precisão dos sistemas desenvolvidos pelos engenheiros. Mas aí, já são outros interesses…

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Produto nobre I

“Não me conta o final daquele filme que eu ainda não vi!”. “Vou chegar em casa e ver o final da novela que eu deixei gravando”. “Só estou esperando dar o horário para ver a reprise daquela série que eu não consegui ver hoje na hora em que ela sempre passa”.

Provavelmente você já se deparou com alguma dessas três situações. Com você mesmo, ou um parente próximo, um amigo. Tanto faz. Alguma vez na vida alguém já te falou uma dessas frases. Mas, sem dúvida, é quase certo que você nunca ouviu as expressões que vem a seguir.

“Não me fala quanto foi o jogo que eu ainda não vi!”. “Vou chegar em casa e ver aquele jogo que eu deixei gravando”. “Não vejo a hora de mostrarem de novo o jogo que eu não vi quando foi transmitido ao vivo”.

O que vale para a vida comum, não vale para o esporte. E, talvez em especial, para o futebol. Nunca soube de ninguém que não quisesse ver um jogo ao vivo. Claro, desde que o jogo tivesse, de fato, um significado especial para a vida daquela pessoa.

Só que quantos capítulos finais de novela, filmes que todos comentam (“Avatar”, por exemplo, ainda está na minha lista dos filmes a serem vistos) ou séries imperdíveis nós já deixamos para ver no outro dia, com mais calma, quando não tinha outro compromisso? Tenho certeza que várias vezes deixamos passar com a certeza de que dá para “deixar para depois”.

Algo que nem casamento consegue fazer para o esporte. Quantas vezes o radinho não foi o companheiro fiel para o torcedor desesperado no banco de uma igreja? E o pai do noivo, o noivo, o tio da noiva, o pai da noiva e, às vezes, a noiva não agradeceram a transgressão alheia?

Por esses motivos, aparentemente tão banais, que o esporte tem se tornado cada vez mais um produto altamente importante para os canais de televisão. Em tempos de revolução na forma como as pessoas consomem a TV, não haverá nada mais nobre do que a emissora ter o esporte dentro da sua grade de programação.

Com o desenvolvimento das ferramentas que permitem ao telespectador decidir qual programa vai assistir e, em qual momento, só o esporte manterá ainda a “ditadura” do canal de TV.

A grade fixa de programação, que foi uma das chaves para o sucesso da Globo como empresa de mídia, está com os dias contados. Se eu puder programar a minha TV para captar o sinal com aquele programa e só exibi-lo (sem intervalos comerciais) quando eu estiver em frente ao aparelho, tudo o que não for esporte está fadado a “ficar para depois”.

O capítulo final da novela, o filme que todos comentam, a série favorita. Não importa qual seja o programa, basta um clique no botão e ele ficará disponível para mim quando eu estiver disponível para eles.

Só que não dá para alguém querer ficar imune a um evento esportivo. Deixar “passar”. Esperar para ver mais tarde. Conhecer o resultado apenas quando eu estiver disponível para assistir àquela partida.

Não! Quando o tema é esporte, eu quero ver ao vivo. Não quero melhores momentos, apenas o gol, ou os cinco segundos finais de um jogo de basquete. Quero ver a história toda. E no momento em que ela acontece. Afinal, é só aí que é impossível prever qualquer resultado.

Quando, aqui no Brasil, o esporte perceber o grau cada vez maior de importância que ele tem para o futuro da televisão, provavelmente veremos dias melhores nas modalidades.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Falcão entrevista José Mourinho: hoje peço licença aos leitores

Minha intenção inicial para o texto desta semana, era a de discutir uma interessante declaração do treinador da equipe do Internacional de Porto Alegre, Jorge Fossati, que disse recentemente que seu esquema tático preferido é o 1-3-4-2-1 (que as pessoas confundem, segundo ele, com o 1-3-6-1).

Basicamente, iria explorar o fato, de que apesar de em uma foto estática (como na figura que segue), aparentemente, a ocupação dos espaços do campo de jogo ser igual para os esquemas táticos 1-3-6-1 e 1-3-4-2-1, na verdade, as dinâmicas que regem cada uma de suas linhas fazem com que eles (os esquemas) apresentem identidades de jogo bastante diferentes.

Porém, vou pedir licença aos leitores, para reproduzir na sequência, uma interessante entrevista, do treinador José Mourinho, em uma das poucas oportunidades em que responde perguntas a um entrevistador brasileiro (Paulo Roberto Falcão).

A entrevista foi publicada pela edição eletrônica do jornal Zero Hora (http://zerohora.clicrbs.com.br) de 06 de fevereiro de 2010, e segue na íntegra, logo abaixo:

Mourinho: “O craque? O craque é a equipe!”

Em passagem pela Itália, Paulo Roberto Falcão entrevistou José Mourinho, técnico da Inter de Milão e um dos treinadores mais respeitados do mundo

Paulo Roberto Falcão

Estive na Itália na semana passada e me encontrei com José Mourinho, o mais respeitado treinador europeu da atualidade e certamente um dos melhores do mundo. Aos 47 anos, ele comanda a Inter, de Milão, lidera o campeonato italiano, fala cinco idiomas e ganha mais de 10 milhões de euros por ano. Campeão da Uefa e da Liga dos Campeões pelo Porto entre 2002 e 2004, Mourinho foi contratado a peso de ouro pelo Chelsea da Inglaterra e elevou ainda mais sua cotação ao ganhar dois títulos nacionais (2005 e 2006) depois de 50 anos de abstinência.

Em junho de 2008, assumiu a Inter, já tendo conquistado o título da Série A na temporada da Itália e a Supercopa da Itália. Na Inter, ele comanda os brasileiros Júlio César, Maicon, Lúcio e Thiago Motta. Português de Setúbal, filho de um goleiro do União de Leiria, Mourinho chegou a tentar a carreira de jogador, sem muito sucesso, mas formou-se em Educação Física, fez vários cursos para treinador e começou a deslanchar ao ser contratado pelo Sporting de Lisboa para ser o tradutor do técnico inglês Bobby Robson, com quem manteve parceria também no Porto e no Barcelona. Depois, ainda no Barça, foi treinador adjunto do holandês Van Gaal, antes de voltar para Portugal já como técnico principal, primeiro de Benfica e União de Leiria, e posteriormente do Porto, com o qual conquistou seus primeiros títulos europeus. É um estudioso do futebol, um estrategista, um gestor de pessoas e um profissional extremamente meticuloso, como se pode ver nas respostas às 20 questões que lhe apresentei.

Falcão – Você é considerado, ao lado de Alex Ferguson, o mais reconhecido treinador europeu. Importa ser o número 1? Como você vê esta questão?

Mourinho – O número 1 é uma coisa muito relativa. Quem ganha mais vezes é o número 1. Ferguson ganha há 30 anos. Eu ganho há sete anos. Guardiola ganhou tudo à época (temporada) passada. E há ainda outros que foram ganhando coisas importantes. Mas o importante é estar no topo muito tempo.

Falcão – Você teve forte influência de Bobby Robson no início da carreira. Considera-se um seguidor de suas ideias? Que outros profissionais o inspiraram?

Mourinho – Bobby Robson foi um senhor do futebol e eu um sortudo por trabalhar com ele. Futebolisticamente temos poucos pontos em comum. Em comum, a paixão pelo futebol e a consciência de que o aspecto psicológico é fundamental.

Falcão – Futebol europeu e sul-americano: ainda há diferenças acentuadas na sua opinião ou a globalização do futebol misturou tudo? Se há diferenças, quais são, quem leva alguma vantagem?

Mourinho – Futebol é futebol. Mas as diferenças culturais são importantes. Não há dois futebóis iguais. O talento na América do Sul nasce todos os dias, mas a organização tática e a intensidade do jogo são muito mais altas na Europa. Pelo clima, pela personalidade, pela cultura, pelos árbitros. Há tantos fatores que condicionam e fazem o futebol diferente em todo o mundo.

Falcão – Os treinadores brasileiros não têm tido a mesma sorte dos jogadores no futebol europeu. Wanderley Luxemburgo não teve sucesso no Real Madrid, Luiz Felipe teve mau desempenho no Chelsea. Por que na sua opinião?

Mourinho – Os jogadores têm mais tempo para se adaptarem. Os treinadores, quando o resultado não é imediato, saem logo, quase sem ter tido tempo para perceber onde estavam, e as suas necessidades de adaptação à realidade nova. O talento dos jogadores, desde que modelado às exigências da intensidade e do rigor tático europeu, vem sempre acima, e todos sabemos que o inato, o dom, o talento que Deus deu, existe aos quilos no jogador sul-americano que, depois, enquadrado com as características do jogador europeu, faz um produto final de grande qualidade. O problema do treinador sul-americano na Europa, se calhar, será o mesmo tipo de problema que um treinador europeu pode sentir para treinar na América do Sul.

Falcão – Você ainda tem entre suas metas treinar a seleção de Portugal?

Mourinho – Sim… mas quando for velhinho. Adoro treinar e jogar, adoro treinar todos os dias e jogar grandes jogos todas as semanas. Quero continuar ao mais alto nível em Espanha, Inglaterra ou Itália. Na seleção, está-se muito tempo de férias. E eu, sem futebol, não sou feliz.

Falcão – Portugal tem chances na África do Sul? Você, que trabalha com jogadores da Seleção Brasileira na Inter, acha que a diferença técnica entre as duas seleções é grande?

Mourinho – Portugal tem chance porque num torneio de curta duração tudo pode acontecer. Mas, objetivamente, há seleções com mais talento em quantidade. Portugal tem jogadores top, mas não 22. Não comparemos Portugal com o Brasil, porque o Brasil pode fazer três seleções iguais. Mas, num jogo, Portugal pode ganhar ao Brasil. Futebol não é matemática, onde dois mais dois são sempre quatro.

Falcão – Quem são os seus favoritos para a Copa do Mundo?

Mourinho – Os de sempre. Os que têm na sua história alguma Copa. E a Espanha, que tem uma estrutura de base muito forte, com jogadores de meio campo e ataque fantásticos.

Falcão – Você passa as férias em Salvador e tem vários jogadores brasileiros na Inter. De onde vem esta ligação com o futebol brasileiro?

Mourinho – Desde sempre o futebol italiano teve jogadores brasileiros, alguns verdadeiramente top. E quem ama futebol, quem ama talento, quem pensa que sem talento não há futebol, obviamente se sente ligado ao futebol brasileiro, o maior produtor de talento.

Falcão – Apesar de contratarem dezenas de jogadores brasileiros, os europeus às vezes passam a impressão de conhecer tão pouco clubes e futebol brasileiro. Isso é real? Por quê?

Mourinho – Enquanto trabalhei na Inglaterra saí um pouco do controle do futebol brasileiro porque na Inglaterra o jogador não comunitário só pode entrar depois de ser já consagrado, mas em Portugal há sempre a necessidade de pesquisar no Brasil, principalmente em clubes onde o jogador não está ainda inflacionado
. Recordo que o meu primeiro clube como treinador, a União de Leiria, de onde saltei depois para o FC Porto, estive no Brasil um mês a saltar de campo em campo, de clube em clube, de treino em treino, de Estado em Estado. Encontrei jogadores com ambição e talento, que em Portugal fizeram um grande trabalho e me ajudaram a ter sucesso. É preciso trabalhar na prospecção, e no Brasil encontra-se talento.

Falcão – A Fifa costuma eleger o melhor jogador do mundo a cada fim de ano. Por que os grandes jogadores que estão fora da Europa nunca são selecionados?

Mourinho – Boa pergunta. Talvez porque os grandes jogadores que não estão na Europa são logo contratados. Com quantos anos veio Ronaldo para a Europa? E o Roberto Carlos? E o Kaká? E o Maicon? Saem muito cedo e no momento da maturação já estão com a camisa de um grande clube europeu.

Falcão – As suas biografias que circulam na internet lhe dão dois rótulos: genial e arrogante. Você aceita algum deles? Como se autodefine?

Mourinho – Sou José Mourinho, com suas qualidades e defeitos. Mas no futebol estou para servir o meu clube e os meus jogadores, não para ser simpático ou político. Fora do futebol, sou uma pessoa diferente, mas muito fechado à minha intimidade e autonomia.

Falcão – Qual a sua ideia de formação tática? Tem um esquema preferencial? Três zagueiros?

Mourinho – Penso que o mais importante é uma formação adaptada às características dos jogadores e adaptada às necessidades da competição que se joga. Um treinador deve ter a cultura tática suficiente para saber treinar e jogar de um modo que se adapte aos jogadores. O mais importante é o jogador sentir-se feliz e confortável no modo como a equipe joga e nas funções que o treinador decide.

Falcão – O trabalho tático é fundamental ou não é tão necessário quando uma equipe é experiente como a sua Inter?

Mourinho – Trabalho tático é fundamental. Uma equipe deve estar em campo segura, os jogadores devem saber o que fazer em todos os momentos do jogo. E de jogo para jogo surgem fatores novos, e devemos reduzir ao máximo essa imprevisibilidade. Trabalhar taticamente sempre.

Falcão – Você costuma treinar em sigilo, sem a presença da imprensa no treino? Em que isso ajuda?

Mourinho – Gosto de trabalhar tranquilo, sem a presença de adeptos (torcedores) ou imprensa. Acho que na hora dos feedbacks em que, por vezes, o treinador critica ou ensina o seu jogador, a intimidade dá muito maior segurança ao jogador. No entanto, reconheço que o trabalho da imprensa deve ser respeitado, e a paixão dos adeptos deve ser alimentada. Por isso procuro de vez em quando abrir o treino.

Falcão – No futebol atual, é indispensável que todos marquem? O craque do time precisa marcar?

Mourinho – O craque? O craque é a equipe! Ganhamos todos e perdemos todos. Somos todos iguais. Não digo marcar, não digo que um atacante deve recuar 30 metros para marcar. Mas trabalhar, devem trabalhar todos. E um atacante pode trabalhar se pressionar o seu adversário na frente. Sem correr muito, pode atrasar a saída do adversário para o contra-ataque. Sim, sim, temos todos que trabalhar.

Falcão – Nesta questão da aplicação coletiva, há diferença entre jogador sul-americano e europeu?

Mourinho – Não vejo diferença. Já tive de tudo, europeu que trabalha e joga para o coletivo, europeu egoísta, egocêntrico, sul-americano que morre em campo pelo coletivo, sul-americano com dificuldade de percepção do trabalho coletivo. Mas, com honestidade, empatia e trabalho, penso que todos podem exprimir o seu talento num enquadramento coletivo de base.

Falcão – O número de atacantes é importante, ou interessa mais que vários jogadores cheguem na frente na hora certa?

Mourinho – A ocupação do espaço ofensivo é determinante. Como? Com jogadores mais fixos, com jogadores mais móveis, com ataque planejado e homens-referência no ataque, com jogadores de mobilidade e velocidade que chegam a posições ofensivas em momentos de transição após recuperar a posse da bola. Digamos que para chegar ao estádio o adepto (torcedor) pode ir de carro, a pé, de bicicleta, de ônibus. O importante é mesmo chegar ao estádio.

Falcão – Há alguma regra do futebol que você gostaria de modificar?

Mourinho – O tempo útil. Bola fora, cronômetro parado. Jogador lesionado, cronômetro parado. Bola na arquibancada, cronômetro parado. Gandula esconde bola, cronômetro parado. Assim, o jogo deixaria de ter estas artimanhas que o fazem menos bonito e menos honesto. E, claro, a câmara de baliza óbvia. Nesta indústria, não é possível ganhar ou perder um jogo com uma bola que não entrou.

Falcão – Jogador rico, milionário, consagrado, é mais difícil de administrar?

Mourinho – Não, não. Honestidade, motivação, paixão não têm que ver com dinheiro nem estatuto.

Falcão – Depois de trabalhar em Portugal, na Inglaterra e na Itália, qual é a sua meta na carreira?

Mourinho – Trabalhar e ganhar sempre nos campeonatos de top, Itália, Espanha, Inglaterra. E ser feliz no que faço, levantar de manhã e ir a sorrir treinar, estar a 10 minutos do início do jogo e sentir a emoção de jogar. “O craque? O craque é a equipe!”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Acadêmicos de Barueri

Eu não gosto de acadêmicos em geral.
Dou um desconto para aqueles do samba.
Talvez, na verdade, meu problema não seja com as pessoas. O meu problema é com a academia em si, e não propriamente com os acadêmicos.

Isso, porque eu tenho a sincera sensação de que a academia serve normalmente para muita pouca coisa com raríssimas e honoráveis exceções.
Na verdade, a academia muitas vezes me parece um lugar onde as pessoas falam palavras difíceis para justificar discussões que não levam a lugar nenhum. Só que as palavras difíceis fazem com que você pense que de fato se está chegando a algum lugar.

É como comparar o Big Bang Theory com o Seinfeld. Os dois não falam sobre absolutamente nada, mas o primeiro usa palavras muito mais complicadas, apesar do segundo ser bem mais engraçado.

Eu, que sou muito parecido com uma mórbida mistura de Howard Wolowitz com George Constanza, ando caminhando para a conclusão de que o que eu escrevo serve na melhor das hipóteses para nada. Mas como sou um pseudo-acadêmico, talvez eu devesse começar a escrever com um linguajar um pouco mais complexo e com uma estrutura um pouco mais acadêmica para que as pessoas passem a achar que aquilo que eu escrevo serve para alguma coisa. Vamos tentar:

O futebol brasileiro – um esporte originalmente bretão que, por sua estrutura peculiarmente simplificada e pela coincidência histórica, foi disseminado, assumido, absorvido e minimamente transformado por quase todo o conjunto sociocultural global pós-revolução industrial, dentre os quais, com particular significância, o conjunto brasileiro recém libertado da dominação colonial portuguesa – possui uma potente atmosfera fiscalizadora de funcionamento, definida aqui como a compreensão dos diferentes públicos que não estão diretamente envolvidos na estrutura interna do fenômeno, mas sim na sua parte ausente, ainda que devidamente inter-relacionada, como, por exemplo, mais evidente, a imprensa. Essa atmosfera clama há anos por uma série de mudanças dos processos econômicos e administrativos de tal fenômeno no afã de poder presenciar processos e estruturas semelhantes a outras regiões globalmente dominantes, notadamente os quase onipotente colonizadores econômicos e culturais localizados nos continentes ao norte de nossa localidade.

Das inúmeras vozes presentes dentro desse lépido organismo, a mais preponderante é, seguramente, aquela derivada da escola kfouriana, que, dentre as inúmeras redações publicadas até o presente o momento, comparou o futebol local ao basquete estadunidense em uma coluna escrita em 1995. Nela, expressava o seguinte: “Por que não temos nada nem parecido, algo que dê ao futebol a qualidade técnica e a dimensão de negócio há muito trabalhadas pelos sobrinhos de tio Sam?”.

Tal utopia foi, vinte anos mais tarde, espelhada e repetida pela escola márciobraguiana, que também defendia a estruturação do futebol sob os mesmos moldes, o que poderia ser considerada uma perfeita consonância da realização da dialética marxista, uma vez que tal conclusão é proveniente de pólos opostos de influência. Não tardaria, portanto, para que tal situação se tornasse verdadeira.

E eis que, em 2010, o futebol tupiniquim, tão conclamado a buscar a excelência dos fundamentos e padrões referenciais exteriores, deu possivelmente um dos primeiros sinais de que a filosofia demandada talvez tenha se tornado o pensamento reinante e, como tal, passou a produzir manifestações derivadas da natureza inequívoca do processo referencial. Entretanto, tal manifestação está longe de ser um objeto de apreciação, e sim um efeito significativamente menos do que positivo que usualmente imaginado, e aqui não é possível qualquer tentativa repreensiva, uma vez que ele é derivado de um processo reconhecidamente natural de negligenciamento do complexo holístico envolvido em qualquer busca por referenciais.

A manifestação em questão é a constante mudança de localidade da realização de partidas de futebol de grandes organizações esportivas que são seduzidas pelas diferentes ofertas de núcleos governamentais que ambicionam a colheita de frutos que possam gerar dividendos políticos por conta da hospedagem de disputas esportivas com ampla significância nacional. Dentro da disputa entre os pólos políticos, que indubitavelmente obedece aos processos há tempo descritos por Neumann e Morgenstern, há um processo natural e peculiar já de certa forma aceito pelo mercado referencial supramencionado, mas que ainda tarda para ser incorporado aos costumes e à cultura esportiva local. Dessa forma, o clamor recorrente por elevação dos padrões contemporâneos de operação local das variáveis incidentes sobre a manifestação esportiva deve ser mantido e fortalecido, mas a compreensão sobre os aspectos negativos relacionados a tal referencial não pode ser ignorado, sob o risco de inequívocas exposições contraditórias.

Viu?
Acabei de dissertar sobre a mudança do Barueri para Presidente Prudente e sobre o fato do Corinthians sair do Pacaembu para jogar em Barueri.
Na melhor das hipóteses, não vai servir para nada.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br