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Quando começou o jogo entre Grêmio e Palmeiras, na última quarta-feira, estava lá a faixa da Trip Side. Próxima ao meio-campo, um pouco para esquerda da perspectiva televisiva e à direita de uma faixa do AC/DC. Será que o AC/DC também patrocina torcidas? Por que quase toda torcida tem uma faixa do AC/DC? A pergunta, naturalmente, é retórica. O que importa é que, no segundo tempo, a faixa não estava mais lá.

Outra faixa que chamou atenção foi, no último domingo, durante o jogo entre Náutico e Flamengo. Ela estava posicionada mais ou menos no mesmo lugar que a faixa da Trip Side no jogo do Grêmio e Palmeiras, ou seja, perto do meio e um pouco para esquerda pela perspectiva televisiva. Na faixa estava escrito: ‘A vergonha do Nordeste’, e havia uma seta apontava para a torcida do Flamengo. Eu, particularmente, não acho que a torcida do Flamengo seja a vergonha do Nordeste. Acredito que o Sarney, o Collor, o Calheiros e a Sudene são bem piores. Mas, enfim, estava lá a faixa. Houve um esquema parecido realizado pelo Goiás, se não me engano. É um movimento interessante, porque denota um fortalecimento do mercado local de futebol, menos massificado. E quanto menos massificado for, maior a importância que o futebol terá. E quanto mais importante for o futebol, melhor fica a indústria.

Falando em vergonha, não como não comentar sobre a classificação da França para a Copa do Mundo de 2010. Foi uma vergonha. Mas, vendo bem o lance, é compreensível. A jogada foi rápida e escondida, no meio de um monte de jogadores posicionados na frente do árbitro e do lado oposto ao bandeira. Se fizesse um tira-teima, acho que daria para perdoar o juiz. Curiosamente, há pouco tempo, a Uefa lançou um filme chamado ‘Les Arbitres’. É um documentário que mostra um pouco o futebol pela perspectiva dos árbitros, durante a última Eurocopa, no caso pela perspectiva de gente como Howard Webb, Roberto Rosetti e Massimo Busacca. O filme, que foi muito bem recebido pela crítica, documenta a preparação para o jogo, os rituais, a chegada ao estádio, a família, etc. Se você for ao Youtube e digitar o nome do filme, encontra-se o trailer. Parece realmente bacana. Em determinado momento, o árbitro da partida entre a Grécia e a Suécia, acho que Busacca, diz para um jogador, acredito que o Basinas, volante da Grécia, que ele, Busacca, não é Deus e também está suscetível a erros.

De fato. No futebol, o único deus é Angus Young.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Warren Buffett e o futebol – parte 2

Na coluna desta semana, retomaremos o contraponto entre o mercado de ações e os investimentos em projetos esportivos e direitos econômicos sobre jogadores, abordando as regras negativas do gênio dos investimentos, Warren Buffett:

1. Não coloque seus ovos em muitas cestas. Diversificar é coisa de quem ignora as regras e movimentos do mercado. Não é investindo em várias ações de diferentes empresas que se alcançará o retorno esperado. Poucas, mas boas ações é o recomendado.

2. Não mude de aplicações com frequência. Um bom negócio é aquele que brilha aos olhos. Não adianta investir achando que o retorno virá no seu tempo esperado. Ele pode vir depois, bem depois. E nem por isso, o mercado de ações deixará de ser atraente. Saiba onde está se metendo, para não haver frustrações infundadas.

3. Não evite manter seu dinheiro parado. É melhor deixar de ganhar do que perder. Ansiedade é inimiga do bom investidor em ações.

4. Não confie em análises de fora. Construa sua metodologia de avaliação de riscos e crie sua própria convicção na hora de investir. E o que mais tem por aí é comentarista de boteco, sem o mínimo de responsabilidade sobre o que diz ou escreve. Assim fica fácil, pois nunca o bolso deles é o afetado…

5. Não aja somente com a intuição. Embora pareça um caos desordenado, existe racionalidade e estabilidade no mercado de ações.

6. Não siga a multidão. A ação mais comprada não necessariamente é a melhor ou a mais rentável. Provavelmente, será a mais cara, pela lei da oferta e demanda.

7. Mantenha seus princípios de investimento. Ou não entre no jogo.

Expostos os dois lados do cérebro por trás do mito do mercado de capitais, chega-se à definição de Buffett sobre o que significa investir em ações:

“Comprar, por um preço racional, a participação em um negócio facilmente compreensível, cujos rendimentos, com virtual certeza, sejam elevados em 5, 10 ou 20 anos”.

Finalmente, se fosse possível resumir a estratégia praticada e defendida por Buffett, o investidor necessita dominar dois critérios para tomada de decisão:

1. Saber como avaliar uma empresa como destino de investimentos;

2. Saber se os preços estão altos ou baixos.

Buffett faz parte da escola fundamentalista de análise de investimentos. Esta escola norteia os investidores que buscam ganhos no longo prazo. Suas inquietações dizem respeito ao que se compra e ao que se vende.

De outro lado, a escola técnica, analisa o pregão diário, com os sinais que o próprio mercado emite entre a abertura e o fechamento. Movimentos de compra e venda. Aqui, o desafio é quando comprar e quando vender.

Sobretudo, quando se fala em ações, fala-se em gestão de risco.

Risco é a parcela inesperada do retorno de um investimento. Se você recebe sempre aquilo que esperava de uma aplicação financeira, está agindo livre de risco.

Análise de risco para tomada de decisão é o ponto nevrálgico na definição de sua estratégia de investimentos.

Risco sistemático e risco não-sistemático. Risco que pode ser diversificado e a parte que não pode.

Seja em ações, seja em direitos econômicos sobre jogadores de futebol, deve-se administrar os riscos.

O primeiro passo é enunciar sua existência e conhecê-los.

(Continua na próxima coluna)

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Até tu, basquete…disse o futebol?

Olá, pessoal!

Abro o espaço para fazermos uma comparação entre o que vem sendo desenvolvido no basquetebol brasileiro e o que ocorre no futebol.

Permito-me falar sobre outra modalidade justamente para mostrar que, quando existe vontade política, a gestão pode funcionar. O Novo Basquete Brasil (NBB), organizado pela Liga Nacional de Basquete (LNB), tem muito do modelo de gestão que observamos na NBA (Liga Americana de Basquete). A ideia de franquias, por exemplo, é uma das suas características.

Mas o ponto que gostaria de explorar vai além disso. Trata-se da preocupação da Liga que organiza uma série de elementos em prol de uma competição equilibrada e de um espetáculo lucrativo.

Não dá para compararmos a saúde financeira do futebol com a do basquete brasileiro. Seria como comparar a saúde do futebol brasileiro com o dinheiro da NBA.

Sobre o Campeonato Brasileiro da Série A: “Segundo levantamento da Folha de S. Paulo publicado nesta quarta-feira, o torneio arrecadará mais de R$ 600 milhões nesta temporada, mais do que o dobro das receitas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), com bilheteria, TV e placas de publicidade”.*

Isso é pouco se comparado aos valores pagos por apenas uma franquia da NBA: cerca de R$ 400 milhões. Mas muito se confrontado aos modestos R$ 200 mil que a LNB projeta, mas ainda não definiu como valor para novas equipes no basquete brasileiro.

A parte financeira e cultural é um fator que pode causar dificuldades na compreensão dos avanços a que se chega quando fazemos tais comparações. O foco deve ser no que é oferecido de retorno ao clube.

E no melhor estilo NBA, o basquete no Brasil segue a tendência de fortalecimento da marca da Liga como forma de alavancar investimentos. Isso se torna evidente quando são promovidas clínicas para os técnicos, para os árbitros e, até mesmo, para quem faz scout.

Difícil de visualizar isso no futebol? De visualizar, não, mas, talvez, de concretizar. Contudo, o que será que isso agrega de valor? A resposta é tão óbvia quanto a pergunta: se a Liga investe em árbitros e em técnicos, a tendência é ter profissionais mais qualificados, decisões de arbitragem mais justas, técnicos mais preparados, ações e informações precisas em torno do produto principal: o espetáculo de basquete.

Eis um papel de uma Liga que não precisa enriquecer por enriquecer e, sim, dar possibilidades e suporte aos seus integrantes por meio da manutenção de um nome que atende a um espetáculo que, quanto mais sério e capacitado, melhor será; consequentemente será mais atrativo para os patrocinadores.

Os clubes na LNB têm participação nos lucros da entidade - a Liga ainda forneceu, nesta temporada, aros, redes e notebooks para a realização de scouts. A Liga conseguiu perceber (olhou com olhos de gestora) que, entrando como fornecedora de scout para todos os clubes, conseguiria baratear o que cada clube teria de gastar caso fossem investir separadamente nessa tecnologia.

É uma lógica simples até certo ponto de vista, mas que, há tempos, o futebol não consegue em sua maioria adaptar, ora julgando alguns de seus defensores como idealistas e acadêmicos demais, ora classificando os administradores que trazem novas ideias por meio da famosa tirada: “Jogou onde esse indivíduo de terno e gravata?”.

Esquecendo-se muitas vezes que esses acadêmicos podem fazer as equipes atingirem níveis técnicos mais apurados e garantirem seus empregos e salários elevados por mais tempo se tiverem um espetáculo lucrativo.

Vale a pena refletir…

*http://maquinadoesporte.uol.com.br/v2/noticias.asp?id=14652

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Ficar berrando na beira do gramado: pré-requisito para ser treinador?

Assistindo a um jogo da Copa do Mundo 2009 de futebol sub-17, entre as seleções da Nigéria e da Espanha, pela internet, me chamou a atenção um diálogo entre o narrador e o comentarista da partida, que de certa forma não entendiam como o treinador de uma das equipes (o da Nigéria) podia permanecer sentado durante todo o jogo sem passar instruções ao seu time.

O narrador questionava a real “utilidade” de se ter um treinador sentado o tempo todo no banco de reservas. O comentarista completava dizendo que para essa faixa etária (jogadores sub-17), já se podia considerar futebol de “alto nível competitivo”, e que portanto o treinador devia, mas não precisava, ficar o tempo todo na beira do gramado passando as suas instruções – e “emendou” que a ação do treinador no campo falando aos jogadores era dependente da idade e experiência dos jogadores: quanto mais jovens e inexperientes, mais “ação” do treinador na beira do campo (e ainda completou: “claro, mas sem “xingar”).

Existem tantas coisas nas entrelinhas das colocações do narrador e do comentarista que poderíamos ficar muito tempo debatendo o assunto. Porém, para ser breve, focarei a questão em alguns pontos que considero mais importantes.

O jogador de futebol vive em sua profissão, o mesmo que muitos trabalhadores em seus empregos, diariamente. Um engenheiro, quanto mais pratica seus conhecimentos e se mantém atualizado a novas descobertas, mais se qualifica como engenheiro. Quanto mais um médico, especialista em determinada “modalidade” cirúrgica, realiza cirurgias, melhor e mais qualificado se torna como cirurgião.

Isso vale para qualquer prática profissional. Quanto mais fazemos determinada coisa, quanto mais nos deparamos com novos problemas nesse fazer, mais vamos aprendendo sobre aquilo que fazemos, e mais preparados vamos ficando para fazer mais e melhor.

Então, em tese, jogadores profissionais devem fazer melhor aquilo que fazem, do que jogadores sub-20, e esses melhor do que os sub-17, que fazem melhor do que os sub-15, e assim sucessivamente.

A prática de jogar leva os jogadores a um jogar melhor, constantemente (ou assim deveria ser!).

Nessa perspectiva, a figura do treinador desempenha papel de grande importância, na medida em que ele (o treinador) é o agente facilitador e potencializador do conhecimento e aprendizagem dos jogadores. Em outras palavras, o treinador é aquele que, com seu trabalho, leva jogadores e equipes ao melhor entendimento do jogo e à melhor maneira de resolver os problemas presentes nele.

Isso vale do professor da escolinha de futebol da periferia, da cidadezinha do interior, ao treinador de uma equipe profissional que disputa a final de uma Champions League. A diferença está nos conteúdos que serão desenvolvidos para a construção do melhor entendimento do jogo (de acordo com a zona de desenvolvimento que cada um se encontra).

O fato é que, independentemente do nível de conhecimento para jogar (conhecimento complexo: “físico, tático, técnico, psicológico”), treinadores/professores deveriam ensinar seus jogadores/alunos para a autonomia. Isso quer dizer em outras palavras que o jogador deve aprender e ser preparado para agir/decidir sozinho, da melhor maneira possível, para ele individualmente e para o grupo (a equipe) ao mesmo tempo.

Educar para a autonomia é o oposto distante do que muitos treinadores fazem – e acabam sendo desmascarados no principal sintoma da sua atuação: os berros na beira do gramado tentando corrigir posicionamento ou “forçando” que uma ação qualquer de seus jogadores aconteça.

Conheço muitas escolinhas de futebol na região onde moro. O que vejo com frequência avassaladora é que treinadores se comportam mais como “adestradores” do que professores. E o que é pior, reproduzem aquilo que veem na TV: treinadores berrando e xingando na beira do gramado.

Mas como se espelhar em um exemplo que está errado? Como se espelhar em treinadores que reproduziram, e continuam reproduzindo, o que outros faziam com eles quando jogavam?

Conheço bons profissionais no futebol. Nas escolhinhas e no alto nível. Muitos deles têm que encenar na beira do campo, fazendo gestos e até berrando para manter seus empregos e não serem chamados de “passivos” e sem “fibra” pela imprensa (ou pelos pais, de “sem comando” ou “desmotivados”).

Voltando ao início do texto, o treinador da Nigéria ficou quase que o tempo todo no seu canto. Certo (talvez!?) que sua equipe sabia exatamente o que fazer, que ele poderia confiar na decisão dos seus jogadores. Como sua equipe venceu, os comentários não ganharam força.

Como não têm as informações que deviam ter, narrador e comentarista aprenderam menos do deviam ter aprendido, e um dia certamente farão de outro treinador uma vítima. Basta que ele perca o jogo!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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Estabilidade contratual – Conferência Internacional da EPFL

Caros amigos da Universidade do Futebol,

A estabilidade contratual (contractual stability) é um dos pilares do Regulamento de Transferências de Jogadores da Fifa, e um dos mais importantes princípios do futebol moderno.

De acordo com referido Regulamento, clubes e jogadores devem respeitar os contratos firmados, evitando rescisões sem justa causa e transferências no decorrer das temporadas.

Tudo isso em prol de um futebol mais consistente e de uma segurança jurídica maior para empregados e empregador.

A EPFL, Organização das Ligas Profissionais de Futebol da Europa, promoveu uma conferência internacional, em Florença, na mesma ocasião da realização de sua assembléia geral.

O tema principal da conferência, que reuniu grandes juristas de direito desportivo internacional, foi o princípio da estabilidade contratual. As ligas, apesar de apoiarem a Fifa na proteção e manutenção de tal princípio, levantaram uma série de pontos (chamado grey areas) do Regulamento que devem ser aperfeiçoados.

Na Europa, a União Européia promove o Diálogo Social, uma espécie de plataforma estabelecida pelas autoridades públicas para trazer empregados e empregadores na mesma mesa e dirimirem, de forma preventiva, questões do seu dia-a-dia. Já existe o diálogo social no futebol profissional. As ligas entendem que essa plataforma poderá auxiliar, de forma única, o desenvolvimento de ferramentas para promover a estabilidade contratual e outras questões laborais que possam aparecer.

Não há dúvidas que devemos nos espelhar nesses exemplos e também promover melhores relações laborais no Brasil.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Ciclos

Existem poucas verdades absolutas.
No futebol, naturalmente, também.

Entre essas poucas verdades, uma delas é que o futebol é cíclico.
Coisas vem e vão.
Pessoas aparecem, somem e reaparecem.
Injustiças acontecem com você agora e, amanhã, acontecerão com seus adversários.
Seu time domina hoje e será rebaixado em pouco tempo.
É assim que as coisas vão.
E vem.
No curto prazo, é tudo insano.
No longo, as coisas fazem mais sentido.

Essa é uma das peculiaridades do futebol.
A coisa no curto prazo é maluca.
E leva pessoas a tomarem atitudes imponderadas.
Por não conseguir e não poder enxergar as coisas no longo prazo.
O afã do próprio eu, somado ao imediatismo da demanda de segundos e terceiros fazem com que se tomem atitudes impensadas.
Motivadas por impulso.
Momentâneas.
De curto prazo.
Sem lógica.
Sem sentido.

Isso é visível durante e após partidas mais conturbadas.
Mas tem implicações maiores.
Não se enxerga o longo prazo no futebol brasileiro.
Porque ninguém se importa com ele.
É preciso resolver o agora.
É necessário se importar com o já.
Mais pra frente, outro que se vire.
O meu é aqui, e agora.
O depois, que fique para depois.

De que adianta montar uma estrutura sustentável para vitórias futuras se ela implica em derrotas no presente?
Nada.
Absolutamente nada.
Independente se as atitudes que se tomem sejam efêmeras.
Ninguém quer saber.
Foca no relógio.
E não no calendário.
E o relógio dá voltas.

O presidente do Palmeiras sentiu isso na pele.
Foi um exemplo claro.
Quem foi prejudicado ontem é beneficiado hoje.
E será prejudicado novamente amanhã.
Quem se preocupa, perde cabelo.
Quem percebe, assiste de camarote.

Mas não tem a mesma graça.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Warren Buffett e o futebol – parte 1

Finalmente, consegui iniciar um curso básico sobre como investir na bolsa de valores.

Era algo que já despertava minha curiosidade, de interesse pessoal para compor meus investimentos. E também porque sempre vi um paralelo natural entre o mercado de capitais e o mercado de transferências de jogadores.

O mercado de ações é importante para formar um círculo virtuoso de crescimento econômico do país, ao financiar empresas e suas atividades, gerar e distribuir renda, que volta aos investidores, que compram mais ações das empresas, que, no fim, distribuem capital e voltam a captar recursos, renovando o processo.

E o que é uma ação? É a menor fração do capital de uma empresa.

No mercado efervescente de direitos econômicos sobre jogadores e sobre projetos esportivos, também os clubes se servem dessa estratégia para formar um círculo virtuoso de sustentabilidade financeira, ao financiar suas operações com terceiros, gerar e distribuir renda aos investidores, que compram mais direitos, renovando o processo.

Pausa: esse mercado, no futebol, não é regulado como o mercado de capitais. A prática dos negócios é que dá o tom das transações entre clubes, jogadores e investidores. São negócios jurídicos que gozam de proteção relativamente instável.

Uma das primeiras perguntas feitas no curso é: por que investir em ações?

Como a intenção é cotejar ações frente aos investimentos em clubes de futebol, pergunto: por que investir no futebol?

Vou me socorrer também de uma das primeiras lições do curso, que trata de valorizar a sabedoria do maior investidor da história do mercado de capitais em todo o mundo, o americano Warren Buffett.

Sua atuação está baseada na sensatez, simplicidade e na postura conservadora – ainda que dentro de um sistema tido como altamente volátil.

Aqui vão as regras positivas de Buffett para definir seus investimentos:

1. Ser do contra. Por exemplo, enquanto todos saem da bolsa, com medo e desconhecimento dos riscos, entre.

2. Invista em empresas estáveis e com desempenho, historicamente, acima da média. Não se entusiasme com estreantes.

3. Invista como analista do negócio, não como analista de ações. Nem sempre a relação custo-benefício de uma ação que vale R$ 25 é melhor que outra de R$ 50.

4. Compre ações como se comprasse a empresa toda. Boas ações vêm de empresas cujo modelo de negócios é simples e compreensível.

5. Seja sócio de quem não gostaria de ser concorrente. Ou seja, é melhor comprar ações da Vale, da Petrobrás, do Itaú, ou tentar abrir uma concorrente?

6. Confie no passado da empresa. Desconfie de promessas e expectativas futuras.

Não à toa, Buffet construiu e mantém sua fortuna de U$ 60 bilhões, ao longo dos últimos 50 anos, concentrada em 99% em ações. É acionista de grandes e sólidas empresas, como Gillette, GE, Kraft.

Para a melhor tomada de decisão, existem os mandamentos negativos de Buffett. Ou, o que não se deve fazer como investidor.

(Continua na próxima coluna)

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O árbitro… de novo!

Olá amigos! Depois de um breve período ausente, retornaria hoje com um assunto diferente, falaria do basquete. Isso mesmo, mas apenas para discutir os momentos em que vivem ambas modalidades (o futebol, logicamente, é a outra) no quesito de tecnologia de scout e do processo de gerenciamento.

Mas confesso que deixarei para as próximas semanas, afinal, um assunto neste fim de semana ganha novamente as manchetes.

O tema é recorrente. A cada rodada, ainda mais em fase decisiva, virou um hábito, após um resultado negativo, alguém sair disparando contra a arbitragem, uns com razão, outros com muita razão e alguns com nenhuma razão. De despreparo a má fé, os árbitros são alcunhados pelos diversos profissionais do meio.

Então, pergunto (desculpe-me o amigo leitor pela repetição): por que o futebol rechaça a tecnologia como auxiliar da arbitragem?

O que é difícil de compreender é que não são apenas alguns grupos que são contrários às ideias, mas quase todos eles. Todos! Inclusive aqueles que só se beneficiariam com essa questão. Seria bom para um futebol limpo, transparente e ético. Pensando bem, talvez, seja esse o problema…

Para os dirigentes, que investem, planejam (sic), a garantia de que os resultados sejam fiéis ao jogo, sem interferências injustas, serviria como atrativo para investidores e projetos que, às vezes, ficam ressabiados com os equívocos do futebol.

Para as federações, a certeza de que seu produto (os campeonatos) são sérios, coerentes e justos, agrega muito valor, embora muitos ainda acreditem no adjetivo “sem fins lucrativos” que fundamenta muitas federações.

Para os torcedores, a certeza de que seu time não será injustiçado, que derrota ou vitória podem ser cobradas e creditadas a elementos do jogo, desde o imprevisto até a capacidade técnica e de decisão de seus atletas e técnicos.

Para os técnicos e jogadores, a mesma coisa, a sensação de justiça, de reconhecimento de que os resultados são frutos de seu trabalho, seja ele bem ou mal executado.

E para os árbitros, que estão entres os maiores críticos da adoção da tecnologia com o receio de perder sua tão imponente autoridade em campo, seria uma ferramenta para manter a coerência, para ajudá-los a cumprir, com consciência limpa, a sua tarefa. E, para aqueles que acham que um dia a tecnologia poderia substituí-los, basta lembrar que a tecnologia é feita pelos homens. Então, cabe a nós, dentro de cada área do conhecimento, transmitir nossas carências para que a tecnologia seja nosso instrumento e não nosso substituto.

Vai uma dica de um interessante artigo que li apresentado no 1º Encontro da ALESDE “Esporte na América Latina: atualidade e perspectivas”, em 2008, no Paraná[i] intitulado “As regras do futebol e o uso de tecnologias de monitoramento”.

Lá, foram apresentados alguns olhares sobre a aceitação ou não da tecnologia auxiliando a arbitragem no futebol. Uma, em especial, chamou a atenção, o relato de Julian Carosi, da Federação Inglesa de Futebol:

Apesar de eu poder entender as razões comerciais pela defesa do uso de tecnologia, pessoalmente não sou favorável ao uso de [toda e] QUALQUER tecnologia. Tem-se falado particularmente do uso de câmaras para se decidir se a bola cruzou a linha do gol ou não […] Mas, e com relação à maioria dos árbitros que apitam nos estádios comuns onde a tecnologia jamais será usada? Eu sou um grande defensor de que os erros genuínos cometidos pelos árbitros e pelos jogadores são parte fundamental do próprio jogo ? esta é a razão pela qual o futebol atrai tanta gente em todo o mundo. Tire os erros e você pode muito bem ficar em casa sem fazer nada! […] Eu acho que vamos descer uma ladeira muito perigosa com a utilização de tecnologia ?especialmente se nossas decisões forem constantemente mudadas pela opinião de alguma máquina glorificada ou de um grupo que se reunirá dois dias após o jogo ter acabado. Eu acho que essa discussão acerca do uso de tecnologia no futebol bate fundo nos meus nervos, pois pessoalmente sou completa e totalmente contrário pelo seguinte: ?o uso de tecnologia é inversamente proporcional ao desaparecimento do jogo?. Em outras palavras, a grande coisa do futebol é sua imprevisibilidade e os erros cometidos pelos jogadores, técnicos e árbitros. Sobre o que falaríamos se robôs mandassem no jogo?“.

Observando e tentando realmente entender o ponto de vista, a única coisa que me vem à mente é: se errar é humano e, diz o ditado, persistir no erro é burrice, defender o erro seria o que?

Por outro lado, prefiro ficar com a manifestação de um técnico, hoje, referência mundial, ainda que alguns insistam em diminuí-lo (apenas pelo fato de ele aumentar-se exacerbadamente), mas que já provou a importância das ciências humanas e, com essa afirmação, comprova sua preocupação com o desenvolvimento justo e coerente do futebol
Com a palavra José Mourinho, em entrevista ao jornal Expresso de Portugal:

Eu acho que a história dos árbitros é uma história interminável e só a tecnologia poderá melhorar as coisas. Não entendo como numa indústria tão forte como é o futebol, a tecnologia na arbitragem não existe. Ela reduz os erros e ao reduzir os erros, reduz a crítica e a suspeição. E reduz a responsabilidade dos árbitros. Uma coisa é um fiscal de linha decidir um jogo por um fora de jogo mal assinalado, outra coisa é a tecnologia substituir o fiscal de linha numa decisão crucial. A tecnologia no futebol é o fim de todos os problemas que possam existir”.

Talvez esteja pensando de forma equivocada, afinal, como diriam alguns, o que seria do futebol sem polêmica?

O que me incomoda é ouvir isso de quem “defende” um futebol moderno e profissional. Será que polêmica é sinônimo de injustiça…?

[i] http://www.alesde.ufpr.br/encontro/trabalhos/21.pdf

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Técnico ganha jogo, mas não campeonato

O Palmeiras moveu mundos e fundos para contratar Muricy Ramalho no meio do ano. Depois de chegar ao limite do tolerável com Wanderley Luxemburgo, a diretoria do clube decidiu que era hora de ser “ousado”, de mostrar “vontade de ser campeão”. E aí, ninguém melhor do que o treinador tricampeão nacional para recolocar o Palmeiras na trilha das vitórias.

Muricy assumiu o clube na vice-liderança do Brasileirão. Após um início capenga com Luxemburgo, a equipe deslanchou com o interino Jorginho, deu uma arrancada que o deixou próximo à liderança, consumada apenas quando o treinador assumiu o comando do time.

Desde então, foram quase 20 rodadas com o Palmeiras no topo da tabela da principal competição do país. Até que, a cinco jogos do final do campeonato, Muricy deixa a liderança e a entrega para o São Paulo, não por coincidência o clube onde o mesmo treinador foi tricampeão nacional…

A emblemática queda do Palmeiras no Brasileirão tem pouco a ver com o treinador que está no comando do time. A melhor campanha neste ano, até agora, foi justamente com o técnico menos experiente, Jorginho. O fato é que, numa competição no sistema por pontos corridos, um técnico pode até ganhar um jogo, mas dificilmente leva o campeonato.

Ser campeão num torneio de 38 rodadas exige, acima de qualquer outra coisa, um time com muito mais do que 11 jogadores titulares. O ideal é que sejam 15 a 20 atletas em condições de entrar em campo e não deixar o ritmo da equipe cair. Mais do que isso, não basta também ter uma equipe talentosa dentro de campo, é preciso ter estrutura, não apenas física, mas gerencial.

O São Paulo na reta de chegada para ser o primeiro tetra nacional seguido sabe muito bem disso. Tanto que, apesar da saída de Muricy, soube se readaptar a um novo treinador e, agora, está muito próximo de consagrar o clube mais uma vez campeão do país.

O chororô de qualquer outro time ou torcida não passa pelo óbvio. Não é o São Paulo que tem “sorte”, mas sim estrutura. O clube é um dos poucos do país a pensar na temporada durante todo o ano, com peças de reposição na equipe principal, com pessoas trabalhando para melhor e mais rapidamente recuperar atletas, para desgastar menos o clube com viagens, etc.

A derrocada de Muricy no Palmeiras tem muito a ver com isso. Entre os times que estão na disputa do título do Brasileirão, ele foi quem menos reforçou a equipe na janela de transferência. Na reta decisiva, as lesões de Pierre e Cleiton Xavier foram absolutamente sentidas, sem haver atletas à altura para substituí-los.

Nessas horas, nem um bom treinador é capaz de resolver o problema. Afinal, o limite do seu trabalho, notadamente, é quando a bola começa a rolar…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A psicologia tática, Mourinho e os treinos complexos

Em um dia desses, durante uma conversa informal com um colega jornalista, foi-me apresentada uma questão interessante e que, talvez, fosse tema de uma de suas matérias.

Eu dizia a ele sobre as vantagens e porquês de se trabalhar no futebol, de maneira complexa, integrando as dimensões “física, técnica, tática e psicológica”. Explicava sobre a imprevisibilidade do jogo e como preparar jogadores e equipes para ela.

Depois de muita conversa, ele (meu colega jornalista) lembrou da final da Copa do Mundo de 2006, entre as seleções da Itália e a da França - mais especificamente, da expulsão do grande jogador francês, Zinedine Zidane - e perguntou como seria trabalhar sob o ponto de vista da complexidade, o aspecto psicológico integrado às demais dimensões do jogo.

Grande colega jornalista!

Essa questão permite uma série de reflexões e discussões. Proponho então, sem querer ser psicólogo - o que não sou - que “passeemos” por uma ou duas delas.

O jogo de futebol possui inusitadas circunstâncias. Muitas decisões precisam ser tomadas sobre grande pressão temporal e espacial. Um erro, e tudo pode ir “água abaixo”.

A ação (física, técnica, tática e/ou psicológica) do jogador pode definir inúmeras situações de acertos e/ou erros, de êxitos e/ou fracassos, e mudar toda a história de um jogo.

Tomar uma decisão errada e fazer um passe que gere um contra-ataque adversário é tão grave para quem joga, quanto tomar uma decisão errada, dar uma cabeçada em um adversário e ser expulso.

Porém, como não percebemos a “sutil e complexa similaridade” entre uma situação de decisão e outra (passar errado a bola e dar uma cabeçada), é comum que, pautados pelo paradigma tradicional cartesiano, acreditemos que na primeira (o passe errado) ocorreu uma falha técnica, e na segunda (a cabeçada), um desequilíbrio emocional (como se o pé que passou se separasse da cabeça que pensou - “não temos um corpo, somos um corpo!”).

Para me fazer mais claro, neste momento, e antes de prosseguir, vou recorrer a uma fala do treinador português José Mourinho, em um trecho do livro Um ciclo de vitórias, comentando sua passagem pela equipe do Benfica de Portugal: “(…) havia a questão da agressividade no treino, que era inexistente. Algumas ‘individualidades’ simplesmente não queriam que houvesse o mínimo de agressividade nos treinos. Resultavam daí que treinavam sem caneleiras, logo sem contacto e sem situações competitivas. Os treinos no Benfica eram, no mínimo, caricatos. Diariamente, um grupo de bons rapazes dava uns toques na bola, fazia umas corridas e era tudo“.

Vale aqui, antes de nada, destacar que a “agressividade” mencionada por Mourinho, não se trata de “violência”, mas de competição, desafios, conflitos específicos do jogo, situações-problema, etc. Coisas que estão presentes no jogo formal, e que, portanto, precisam estar presentes também nos treinos.

Se, por exemplo, em uma sessão de treinos composta por jogos com regras específicas que propiciem o desenvolvimento de um jogar desejado, aquele que o comanda (o treinador) para o treino a qualquer disputa mais acirrada, ou sucumbi a reclamações constantes de faltas, estará potencializando o comportamento “reclamão” dos jogadores e uma postura mais passiva, menos “dura” nas disputas de bola - direta e indiretamente “subtraindo” o comportamento competitivo de jogadores e equipe.

Não estou, com isso, defendendo a “deslealdade” entre companheiros de profissão, nem, tão pouco, a omissão de quem comanda os treinos. Estou defendendo, com o exemplo supracitado, que, mantendo-se a lealdade nas disputas, o treino seja tão duro quanto seria o jogo, de maneira que os jogadores se acostumem não só a uma constante e incisiva competição, como também a focarem-se na partida e nos conflitos que decorrem da lógica - e não nas decisões certas ou erradas dos árbitros; afinal, treino tem que ser jogo, e jogo tem que ser treino! Estou defendendo que a postura do treinador seja complexamente pedagógica!

Um treino que se paute, que esteja subordinado ao jogo, promoverá inúmeras e inusitadas circunstâncias próprias da partida, com seus conflitos, disputas e problemas típicos. A maneira de atuar do jogador deve ser o “comportamento de jogo”, de acordo com seu ambiente, e não uma variável da dimensão psicológica, física, técnica ou tática.

Quando um jogador age, expressa em sua ação, sua intencionalidade, seu “eu total”; e o “eu total” não é psicológico, ou físico, ou técnico, ou tático. Seu “eu total” é psicológico e físico e técnico e tático, ao mesmo tempo, o tempo todo.

O “jogador total” joga. Então, precisa ser preparado por meio de uma exposição permanente às circunstâncias de jogo para que, no jogo formal, possa acertar mais do que errar.

E o Zidane?

Bom, agora deve ter aprendido. Certamente não fará mais a mesma coisa em circunstância similar… O problema é que o tempo não anda para trás (ou anda Einstein?), e a Copa do Mundo de 2006 já foi vencida pela Itália.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br