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Sinestesia esportiva

Muitas pessoas acreditam que a sinestesia é uma doença, mas não é. É um fenômeno sensorial que ocorre por meio da memória e pelo excesso da criatividade.

É o que acontece conosco quando vamos a um evento esportivo efervescente, como uma partida de futebol com estádio lotado.

Sentimos coisas que nos confundem a racionalidade, a lógica entre causa e conseqüência.

Passamos por diversas situações emocionais, aspiracionais, cujo espectro vai do mais positivo ao mais negativo.

As crianças imaginam-se no lugar dos craques dentro de campo. Os adultos imaginam o que fariam, fora do campo, se fossem os craques.

Vitória, derrota, empate, cantos e coreografias da torcida. Tudo tem seu significado particular e provocativo no torcedor que freqüenta os estádios.

Percepções sensoriais que reforçam a tendência do marketing de experiência. Nada mais impactante que o esporte como catalisador para esta vertente de negócios.

Os clubes brasileiros ainda exploram pouco este segmento, mormente na gestão da hospitalidade corporativa, onde as empresas utilizam camarotes e áreas VIP, como relacionamento com sua cadeia de negócios.

Seguramente, o leque de possibilidades é maior, com programas de viagens, competições desportivas que envolvam ídolos do passado e do presente, promoções de acesso às instalações desportivas, jantares, leilões, sessões de autógrafos.

De forma descontrolada, a sinestesia se manifesta a qualquer momento, como, por exemplo, ler uma determinada palavra e sentir o gosto de um doce, ou escrever uma letra e relacioná-la com a cor verde.

A maioria dos sinestésicos é canhota e tem problemas em distinguir o lado direito do lado esquerdo.

O maior desafio dos gestores esportivos é, justamente, desenvolver essa capacidade de distinção, organização e viabilidade de execução de idéias, quando o valor intangível extrapola o planejamento racional.

E tem muita coisa nessa mistura cerebral com poder de geração de receitas para os clubes.

Agora, não confundir sinestesia esportiva com sinestesia administrativa é fundamental.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A tática – o Código Da Vinci (!?)

O futebol tem regras que o caracterizam como jogo. Jogado em qualquer lugar do mundo, respeitando-se oficialmente estas regras, ele traz à tona problemas para serem resolvidos.

Ainda que muitos desses problemas (que vou chamar de problemas primários) tenham em seus cernes as mesmas origens, as soluções para eles, em culturas de jogo diferentes, têm sido também diferentes.

Isso quer dizer, em outras palavras, que, em “centros futebolísticos” específicos (por exemplo, América Central, América do Sul, Europa Ocidental, Europa Oriental, Ásia, África, etc. e também alguns “países polarizadores” dentro desses “centros”) as dinâmicas do jogo de futebol evoluíram de maneiras distintas.

Essa evolução trouxe à tona o que vou chamar de “problemas secundários” do jogo. Não são secundários porque são menos importantes; são secundários, porque surgiram das diferentes dinâmicas que foram nascendo e se desenvolvendo (com suas particularidades) nos diferentes “centros futebolísticos”, a partir dos problemas primários.

Então, enquanto os “problemas primários” surgiram das regras formais do jogo, os “problemas secundários” surgiram das dinâmicas de jogo das equipes para solucionar os problemas primários.

Os “problemas secundários” deveriam servir ao jogo (e sua lógica!), assim como servem os “problemas primários”.

Isso quer dizer, que quando uma solução a um problema secundário, não consegue dar conta de resolvê-lo, dever-se-ia buscar uma resposta associada ao problema primário, e não a ajustes que solucionem o problema secundário.

Em outras palavras, em “centros futebolísticos” distintos, com diferentes evoluções do jogar, qualquer dinâmica de jogo pode ser boa para resolver problemas. Porém, quando se busca a solução para problemas que não estão sendo resolvidos nas próprias dinâmicas do jogo das equipes, é possível que mesmo encontrando as respostas,  estas sirvam mais para a manutenção de uma forma de jogar das equipes, do que para resolver questões do jogo – apesar de muitas vezes resolvê-las (?!).

Isso se torna um problema muito grave e evidente, quando equipes de culturas de jogo diferentes entram em confronto.

Infelizmente, com tantos jogadores “selecionáveis”, de distintas nacionalidades concentrados especialmente no futebol europeu, as Copas do Mundo de Futebol não têm mais evidenciado esses problemas. Em competições como a Champions League, Copa da Uefa (que mudou de nome), Taça Libertadores da América e Mundial Interclubes isso é mais aflorado – e talvez explique porque alguns treinadores tem mais sucesso do que outros nessas competições.

O fato, é que os problemas secundários, tendo como “pais” as dinâmicas das equipes e não o jogo, acabam por gerar, quase que espontaneamente, respostas que muitas vezes distanciam a solução da essência do jogo.

E aí, o de sempre: equipes ganham e perdem sem saber por quê.

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O conceito de clube-empresa pelo mundo

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Devido ao grande interesse por parte dos nossos leitores no tema do Clube-empresa no futebol, voltamos a escrever a respeito.

O clube-empresa é uma forma de organização das entidades de prática desportiva (clubes) na forma de sociedades empresárias com finalidade lucrativa. Historicamente, os clubes se organizaram em associações ou sociedades civis sem fins lucrativos. Isto porque o esporte era, no passado, amador, em que, de fato, não se almejava lucro.

Na verdade, isso aconteceu na maioria dos países. Na Inglaterra, não. Desde o início do século passado, os clubes já eram organizados como empresas, ou as chamadas limited companies.

Atualmente, com a realidade do futebol moderno, surgiu a possibilidade de converterem-se clubes associativos em empresas. Esse modelo é bem visto pelos órgãos públicos, já que uma empresa é mais fácil de ser fiscalizada do que uma associação. O modelo também favorece clubes que pretendem trazer investidores para o seu capital social (nenhum investidor consegue comprar participação em associações. Mas conseguem comprar quotas de clube-empresas, que, via de regra, se organizam no Brasil na forma de sociedade limitada).

Porém, é importante mencionar que o sucesso do clube não está relacionado, necessariamente, com a sua conversão em empresa. Na Espanha, por exemplo, o modelo associativo é muito utilizado pelos grandes clubes (Barcelona e Real Madrid, por exemplo), e, mesmo assim, tais clubes conseguem ter sucesso (financeiro e desportivo), além de terem administrações muito modernas.

Na Inglaterra, por outro lado, os clubes adotam a forma de empresas, já que é bastante comum (e até parte da sua cultura), a aquisição de clubes por investidores nacionais ou estrangeiros, e também a abertura de capital de alguns clubes. Nesse ambiente, somente cabe a forma de empresa.

Existem ainda sistemas híbridos de clube-empresa. Em Portugal, por exemplo, foi criado o conceito de SADs (sociedades anônimas desportivas). Nesse modelo, os clubes permanecem como associações, mas cria-se uma nova empresa que administra o futebol profissional e essa nova empresa é detida, em parte, pelo antigo clube, e, em parte, por investidores (eventualmente levando-se ações à bolsa de valores).

No Brasil, apesar de a Lei Pelé tentar regular a matéria, por conta das diversas alterações desordenadas que foram nela promovidas, não temos um ambiente seguro para os clubes se transformarem em empresas. A redação da lei acabou por ficar confusa, a as entidades que governam o futebol ficam igualmente confusas, com toda a razão, quando recebem uma solicitação de conversão de clubes associativos em empresas.

O mais importante de tudo é ratificar que a modernidade da administração e o sucesso do clube não estão atrelados à conversão do clube em empresa. Na verdade, o sucesso está no comprometimento de seus administradores, e da transparência e acesso nas suas gestões, e também no sucesso dentro de campo. E isso se pode conseguir com ou sem a forma de clube-empresa.

A opção pela conversão em clube-empresa deve ocorrer quando, dependendo da situação de cada clube, e de suas pretensões futuras, a forma de clube-empresa seja a maneira viável (por exemplo, quando se pretende trazer investidores para o seu quadro).

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Jogos de poder

Tem alguma coisa estranha acontecendo. Muito estranha.

O futebol brasileiro, nos últimos tempos, tem se configurado pela divisão de poder entre três principais agentes: a CBF, o Governo Federal e a Rede Globo. A convivência entre eles é sensivelmente estável e tem lá seus benefícios para aqueles indiretamente envolvidos. Ora um se rebela, ora outro, mas nada que crie maiores rupturas.

No final dos anos 90 e começo do século XXI, quem se rebelou foi o governo. CPIs foram realizadas, a CBF foi investigada e pessoas foram indiciadas. Abriu-se espaço para a criação de novos marcos legislativos e se imaginou um novo amanhecer, mas aí, veio uma missão pacificadora da ONU no Haiti e tudo voltou ao que era antes.

Nesse meio tempo, aconteceu também um pequeno incidente. Livros e reportagens dão conta de um pagamento de US$ 60 milhões feito pela Globo à Fifa, em 2001, pelos direitos da Copa de 2002, que acabou nunca chegando ao seu destinatário final, uma vez que o pagamento havia sido feito à ISL, que comercializava os direitos da Copa na época, e a empresa faliu, o que fez com que o dinheiro sumisse. Com a empresa falida e sem o dinheiro em mãos, a Fifa não reconheceu o pagamento e exigiu que a Globo efetuasse outro pagamento, coisa que a empresa, aparentemente, se recusou a fazer. A Fifa insistiu. E a Globo, conforme sugerem reportagens veiculadas pela imprensa na época, aparentemente contra-atacou com o famoso Globo Repórter sobre o Ricardo Teixeira, que, por sua vez, ameaçou e de fato adiantou o horário de um jogo de meio de semana da seleção brasileira contra a seleção argentina para as 20h, o que fez com que a Globo tivesse que alterar o horário dos seus dois principais programas diários, atrasando a exibição do Jornal Nacional e da posterior novela. Pouco tempo depois, a Fifa reconheceu o pagamento e todo mundo se acertou.

Naquela época, a CBF estava fragilizada pela derrota da seleção na França, pela derrota da seleção na Austrália e por duas CPIs. Além disso, a cúpula do futebol brasileiro não desfrutava de boas relações com o governo. Ainda assim, tudo se acertou, mas a relação, assim como a grande maioria das relações humanas, senão todas – dependendo do ponto de vista, baseava-se essencialmente na busca por interesses individuais dos três principais agentes envolvidos no sistema. Teoria do jogo, pura e simples. Era um triângulo do eu-faço-o-meu-até-o-limite-que-incomode-o-seu, e vice-versa.

Mas eis que agora as coisas parecem caminhar de uma maneira diferente. A CBF nunca, jamais, foi tão poderosa quanto é hoje. E ela mesma deve saber disso. E também nunca desfrutou de um caminho tão aberto ao Governo Federal desde os tempos do Brasil pós-Real. CBF e Governo Federal, hoje, são carne e unha, uma vez que há um evento com uma série de complicações que precisa ser realizado, e qualquer coisa que dê errado, certamente, afetará enormemente a atual boa reputação de ambos e seus respectivos planos para o futuro.

Sobra a Globo que, aparentemente, goza de menos prestígio e poder do que anteriormente. Seus executivos propõem mudanças no sistema de disputa do campeonato, possivelmente por conta da demanda de seus superiores no aumento imediato de audiência. A empresa quase que dobrou o valor pago pela transmissão do campeonato brasileiro, e imagino que se espere que o aumento no gasto também signifique um aumento minimamente proporcional na receita e na audiência com a transmissão do futebol, o que, por sua vez, não aparenta estar acontecendo.

Tudo isso pode motivar a Globo a anunciar publicamente propostas de mudanças no formato da competição. Em outro momento, a CBF também possivelmente daria ouvidos. Hoje não. Ao que tudo indica, atualmente, a CBF precisa muito menos da Globo do que a Globo precisa da CBF.

E isso é muito, muito estranho mesmo.

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Futebol é bola na rede

Biz Stone, um dos criadores do Twitter, em entrevista à Revista Veja desta semana, afirma que o que desperta maior interesse em sua criação são assuntos relacionados às comunidades em que se encontram inseridas as pessoas. Em especial sobre seu microcosmo.

Como um clube de futebol, no qual a paixão é imensa, mas que podemos considerar como algo que provoca interesses específicos ao redor de uma causa, o Brasil tem demonstrado que dispõe de um caldo cultural ávido pelo relacionamento via redes sociais na internet.

O Twitter, no Brasil, é a quarta rede social em número de pessoas que a utilizam. E um dos principais aspectos positivos é a sua utilização como meio oficial de divulgação das informações das empresas: notícias sobre produtos lançados, eventos, promoções.

E o que não falta entre um clube e seus torcedores-seguidores é história pra contar. Alguns deles têm anunciado contratações e até demissões pelo Twitter. Mano Menezes que o diga, pois é uma das pessoas que tem mais seguidores entre todos.

Biz Stone vai além ao fazer uma comparação entre a internet e o telefone celular. Em outras palavras, a evolução ou depuração daquilo que entendemos como comunicação eficiente entre pessoas e empresas sobre o que elas fazem e a quem devem prestar informações sobre isso.

O futuro das redes sociais, preconiza, será de muito mais mobilidade, pelo uso ampliado do celular. Hoje, apenas 1,5 bilhão de pessoas têm acesso à internet no mundo, ante quatro bilhões com celulares nos bolsos. Qualquer pessoa fará parte de uma rede social no futuro, não apenas pela tecnologia de alcance, mas pela própria vontade.

Eu já sou protagonista dessa realidade. Fui ao banco resolver um problema trivial e saí da agência com o DDA autorizado. Débito Direto Autorizado. Todas as contas centralizadas no internet banking e e-mail, mas que também são comunicadas via celular.

E para meu espanto, o tempo que levou entre o clique do gerente no site para liberar o serviço e o recebimento da mensagem de boas-vindas em meu celular foi de dois segundos.

OK, você deve imaginar que futebol, redes sociais, internet e telefone celular são coisas que somente acontecerão daqui a 10 anos, a começar pelos clubes japoneses e coreanos.

Grande engano. O River Plate, no primeiro semestre, lançou o programa denominado Sócios Virtuais, que já prevê a interação entre marketing e tecnologia, entre os torcedores e o clube, numa base dupla de internet e telefonia móvel, com muita inteligência de marketing temperando o meio campo. Já atingiu a marca de 200 mil sócios e o novo museu terá interatividade com os telefones celulares dos visitantes.

No Brasil, temos 180 milhões de habitantes e 162 milhões de aparelhos celulares. Em cada 100 pessoas, tem-se, em média, 85 celulares.

Se considerarmos que de cada 100 brasileiros, 50 gostam e acompanham o futebol, os clubes têm muitos torcedores com celular no bolso, esperando por serviços inteligentes de relacionamento com suas paixões.

Meu caro, se não sabe do que estou falando – eu mesmo sei bem pouco disso tudo – é melhor conversar com alguém de uns 15 anos pra explicar melhor.

Vou ver se acho um sobrinho ou um primo pra me ajudar.

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Computação voluntária, um dia, quem sabe: open-football

Olá amigos. Antes que os mais exaltados se preparem, o termo futebol cooperativo não está conotando o aspecto da individualidade, da competição ou dos jogos cooperativos aplicados ao jogo, mas é muito mais no sentido de desenvolvimento de tecnologia e gestão.

Na última semana, durante uma discussão com colegas (naquela já velha e conhecida conversa de bar), surgiu o assunto computação voluntária. Os mais engraçadinhos falaram imediatamente de computadores que se dedicavam a ONGs e projetos voluntários. E apesar das brincadeiras não é que o assunto ganhou corpo?

Resolvi, então, verificar o que seria essa tal computação voluntária e trazer suas reflexões e possibilidades de aplicação para o nosso tão querido futebol.

No site G1*, existe uma série de artigos com definições sobre alguns termos do meio tecnológico. Não é uma fonte cientifica que possa nos dar uma real condição de avaliar e compreender a questão, mas serve de ponto de partida para o contato com o tema. Para quem se interessar vai a dica do portal mais famoso com projetos de computação voluntária: www.worldcommunitygrid.org.

Conceitualmente e conhecido internacionalmente como grid computing e entendido como um “… tipo de sistema de computação distribuída, geralmente associado a grandes projetos científicos, utiliza a capacidade de máquinas ociosas espalhadas pelo mundo para processar grandes quantidades de informação”*.

O funcionamento, como toda inovação, traz dúvidas e receios, mas, em suma, sua idéia permite com que grandes projetos, dentre eles os destaques sobre cura do câncer, Aids, dengue, etc, possam ser viabilizados.

“Esses projetos de grid computing rodam em máquinas que estejam ociosas, bastando que elas estejam ligadas. Normalmente, exigem a instalação de um pequeno programa (que se encontra no site da organização da pesquisa) que verifica se o computador não está sendo usado (esse é o momento em que você estará ajudando justamente quando não fizer nada). Aí, entra em cena um processo que baixa arquivos com dados a serem processados, processa os mesmos e envia os resultados para os organizadores da pesquisa. Caso você precise utilizar a máquina, o programa sai de cena liberando praticamente todo o poder de processamento do equipamento. Muitos deles proveem uma forma de visualizar a evolução do processamento”**.

Por alto, segue-se a tendência já discutida por nós sobre open-source, de criar comunidades abertas, colaborando para o desenvolvimento de tecnologias e soluções de utilização da capacidade intelectual ou estrutural/instrumental de diversas fontes.

Observando essas tendências, reflito e discuto suas possibilidades de desenvolvimento no futebol. Para que uma rede compartilhada de informação, desenvolvimento e estruturação funcione é preciso que os dirigentes do meio esportivo abram as mentes para a inovação, superando a tão chamada resistência à tecnologia, ou o que já discutimos sobre o processo digestivo do impacto tecnológico.

O próximo passo é definir os elementos comuns aos clubes e gestores que podem ser úteis a todos sem que seja estrategicamente inviável.

Alguns poderiam pensar se esse não seria o primeiro passo, pois desta forma seria mais fácil abrir a mente dos dirigentes. Mas temos que extrapolar o que é enraizado como estratégico para os clubes.

Muitos profissionais confundem informação estratégica com informação. O acesso à informação já deixou de ser um tabu no meio tecnológico, o grande segredo é o que fazer com essas informações, que envolvem uma pergunta estratégica: como ler tal informação? Esse o é limiar que deve estabelecer a construção de projetos compartilhados de futebol.

A informação básica é necessária para todos, por exemplo, dados sobre jogadores, desempenhos de equipes, se cada clube ou profissional desenvolver seus mecanismos, todos arcarão com o custo de desenvolvimento, o que é uma das etapas mais caras de qualquer tecnologia.

A partir do momento que consigo extrapolar a visão do que é estratégico, é possível pensar em compartilhamento do desenvolvimento tecnológico, gerando, desta forma, uma diminuição dos custos, “sobrando” dinheiro para investir no que é realmente estratégico: informações aprofundadas e a leitura dessas (seja por meio de componentes tecnológicos ou pela formação e capacitação de profissionais diferenciados que consigam transformar dados em informação).

Quem sabe, em breve, não surjam projetos de um futebol voluntário, ou um open-football ?

*http://g1.globo.com/Noticias/0,,MUL787321-15524,00-O+QUE+E+COMPUTACAO+VOLUNTARIA.html

**http://blog.brasilacademico.com/2009/09/computacao-voluntaria-cure-o-cancer-sem.html

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Ponto corrido ou mata-mata?

A discussão voltou um pouco às manchetes nesta última semana, quando a Folha de S. Paulo e o colega Juca Kfouri levantaram a lebre de que a Globo voltou a mexer os seus pauzinhos para que o Campeonato Brasileiro deixe de ser em pontos corridos, retornando o mata-mata.

Bom, para começar, é preciso ver o que fazer com o Estatuto do Torcedor se isso vier a acontecer. A lei diz que ao longo do ano, ao menos um torneio nacional deve ter seu campeão decidido numa competição que seja em turno e returno. Não, isso não abre brecha para que se façam os dois turnos e, depois, as finais em mata-mata como deseja a Globo e uma parte da opinião pública.

Mas ignoremos a lei e sigamos com o debate. Afinal, pontos corridos ou mata-mata, o que é melhor?

A lenga-lenga de que “brasileiro adora final” é batida. Nos últimos anos, com economia estabilizada, times reforçados e promoção correta do torneio por pontos corridos, a média de público nos estádios só tem crescido. E olha que mesmo com o campeonato tendo o mesmo campeão nas últimas três edições houve esse interesse maior por parte do torcedor.

Não gosto de me ater à questão do mérito esportivo para defender os pontos corridos. Afinal, se um time quiser ser campeão, tem de estar preparado para bater todos os adversários, independentemente do formato da competição. E, além disso, regras são regras. Se estão combinadas desde o início, que o time se prepare a elas e vença.

O que discuto, realmente, é a questão financeira entre as diferentes fórmulas. Para um patrocinador, qual fórmula é mais interessante?

Nesse caso, a balança pende mais para o lado dos pontos corridos. Diferentemente do mata-mata, o torneio em turno e returno garante ao patrocinador a realização de 19 jogos do clube em seus domínios. Isso facilita o planejamento de ações por parte de clube e empresa. Se eu quiser criar uma promoção válida apenas para as rodadas 10 e 36, eu posso planejar com antecedência. E meu time com certeza estará na disputa.

O torneio mata-mata, pela imprevisibilidade maior que tem, não permite um planejamento de longo prazo do patrocinador. Nao dá a ele a certeza de que o time estará em exposição até o término do campeonato. Nos pontos corridos, mesmo sem a chance de conquista de título, um time pode fazer uma partida decisiva, que dê boa visibilidade ao seu patrocinador, por exemplo.

Da mesma maneira, para o clube, uma das piores coisas que podem acontecer é ficar sem atividade, mas precisando investir em atletas. Antigamente, um time corria o risco de em setembro ficar fora da disputa do Brasileirão e, mesmo assim, ter de pagar todos os atletas até o final do ano, sem ao menos ter uma fonte de receita para isso. No torneio por pontos corridos, mesmo que o time esteja cambaleante, ele continua a jogar, a levar torcedor para o estádio, a faturar com a venda de ingressos, etc. É uma forma mais racional de a “empresa” não ter de dar férias forçadas para todo mundo durante três ou até quatro meses!!!!

E, por fim, até mesmo para a TV essa discussão não é tão primordial assim. Jogar na fórmula de competição a queda de audiência dos últimos anos é uma tremenda bobagem. Em média, a TV aberta perdeu parte do alto índice que tinha pelo aumento da concorrência. Internet, TV a cabo, telefone celular, cinema, eventos… Tudo isso contribuiu para que as emissoras tivessem uma queda no número absoluto da medição do Ibope. Só que o share, que é o índice que mostra a audiência a partir do número de aparelhos ligados, continua a ser extremamente favorável, especialmente quando o assunto é futebol.

O torcedor se acostumou aos pontos corridos. E já sabe que, nessa disputa, todo jogo vale. A mídia também já sabe promover muito mais o campeonato com essa fórmula. Afinal, são várias “mini-decisões” apresentadas em jornais, internet e TV espalhadas pelo país. O jogo de domingo entre Palmeiras e Flamengo, por exemplo, foi um deles.

No final das contas, os pontos corridos trazem mais planejamento e menos imprevisibilidade para o futebol. São dois fatores essenciais para gerar mais receita a um clube. E, se bem administrado, esse time consegue trazer jogadores de maior qualidade para defender suas cores. E, consequentemente, isso empolga o torcedor, que passa a consumir mais o produto futebol, aumentando os índices de audiência e, também, a média de público nos estádios…

O resultado disso tudo, porém, nunca aparece de um dia para o outro. Mas, num ciclo de dez anos, será visível essa melhoria na economia da bola. Se tudo não cair por terra numa canetada que envolve muito mais a questão política do que técnica. Para variar. E atrapalhar!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O treinador de futebol vs o jogo de futebol: quem vence essa disputa?

Não vou entrar em muitos detalhes, mas existem no jogo de futebol “forças” (não, não é nada sobrenatural! – são forças inerentes ao jogo, presentes em suas dinâmicas) que levam jogadores e equipes a configurar a ocupação dos espaços e as suas movimentações, de acordo com cada circunstância e problema emergentes nele (no jogo).

São essas forças que, mesmo sem treinamentos adequados, ou boas estruturas táticas, somadas à compreensão que o jogador tem do jogo, fazem com que equipes de futebol ainda sim apresentem aparente organização.

Elas, mais a inteligência de jogo dos jogadores e equipe, é que garantem o emprego de muitos treinadores Brasil afora.

Dia desses, por exemplo, assistindo a um jogo de futebol profissional conjuntamente com uma equipe especializada em análises de jogo, pude observar a glória de um treinador, mesmo com a manifestação real de sua incompetência.

Ao fim do primeiro tempo de jogo, o grupo que o analisava concluiu que certas regras de ação precisavam ser intensificadas por uma das equipes para aproveitar melhor as fragilidades do jogo da sua adversária no segundo tempo. Quase todas as sugestões giraram em torno de deixar o jogo mais rápido, vertical, com constante progressão ao campo de ataque, sem a preocupação com a circulação horizontal da bola.

Antes de começar o segundo tempo, tivemos acesso às instruções do treinador no vestiário, que dentre outras pérolas proclamou: “vamos ficar com a bola, temos que valorizar a posse dela, gastar o tempo e fazer o adversário cansar”.

Por incrível que pareça, totalmente o contrário do que havíamos concluído!

Mas as “forças” do jogo são realmente muito “fortes”! O que o jogo pedia era diferente do que o treinador queria.

Depois do seu reinício, cinco minutos de certa confusão. Claro, o jogo pedia um coisa, o treinador outra. Pobre treinador, sem aparente ascendência sobre seu grupo, foi vencido pelo jogo, e ficou se “esgoelando” na beira do gramado tentando fazer com que seus jogadores executassem aquilo que ele havia pedido no vestiário.

E os jogadores? Nada de jogo de posse de bola, com passes horizontais. Foi progressão ao alvo. Rápida e constante!

E sabem o que aconteceu? O óbvio. A equipe fez o que tinha que ser feito (o que infelizmente, não era o que queria o treinador; “sorte” dele), e goleou sua adversária.

No final, o básico: “glórias ao treinador”.

Por essas e por outras, concordo com alguns formadores de opinião da crônica esportiva futebolística: tem treinador que mais atrapalha do que ajuda…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutefol.com.br  

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Centenário do Coritiba

Permita-me começar essa coluna prestando uma homenagem aos 100 anos do Coritiba Foot Ball Club, completados em 12 de outubro, clube que abriu as portas para que eu pudesse por em prática algumas das poucas coisas que eu conheço e aprender muito, mas muito mesmo, sobre como de fato funciona um clube de futebol.

E, acredite, é bem diferente daquilo que normalmente se imagina.

Os precisos e antecipadamente planejados 365 dias que eu fiquei no clube, de janeiro de 2008 a janeiro de 2009, abriram a minha cabeça sobre o funcionamento de uma associação esportiva e sobre a indústria do futebol como um todo. Fizeram com que eu entendesse pelo menos uma parte das razões que levam a indústria do futebol a assumir a forma que possui hoje.

Antes que você se questione, não. Eu não sou torcedor do Coritiba. Mas aprendi a respeitar a instituição e a sua centenária história. E talvez justamente por não ser torcedor, pude manter uma distância que me permitiu analisar as coisas de uma maneira mais fria, desprovida de emoções excessivas.

Essa distância me permitiu perceber quem são de fato os principais stakeholders de um clube, quem é que, efetivamente, pressiona e influencia o processo decisório e como o que importa, no fim das contas, é o resultado em campo, independente do meio necessário para se atingir isso. Sempre foi. Sempre será. No Brasil e em qualquer lugar do mundo que tenha futebol de primeiro nível, com raríssimas exceções.

Afinal, não se torce para um clube por outra coisa. O que se busca é a vitória. De preferência, no curtíssimo prazo. Se possível, em todos os campeonatos de que se participe.

E está aí justamente o que faz da indústria do futebol um fenômeno que não pode ser observado única e exclusivamente sob a ótica corporativa, tampouco financeira. Se um clube gera dinheiro, ele obrigatoriamente precisa gerar custo. No futebol, principalmente no modelo associativo, não existe superávit. Porque não há redistribuição de dinheiro. Porque, no fim das contas, ninguém quer ganhar dinheiro de volta. Pelo menos não aqueles de boa índole.

A peculiar verdade futebolística é que nenhum torcedor é consumidor. Porque ele não consome produtos. Ele paga para obter a glória refletida. E glória, no esporte, se alcança quase que unicamente através de vitórias. Ninguém consome banheiro limpo, arquibancada confortável, produto de boa qualidade. Não. Qualquer produto que eventualmente seja adquirido só o é por uma razão simbólica e não funcional. De que adianta uma linda camisa de um clube que nunca ganha ou ganhará nada? De fato, nada.

Essa linha de pensamento obviamente não é a ideal, muito menos a corrente entre o intelectualismo existente. Mas é a verdadeira. É a que move um clube de futebol. E não tem como fugir disso. Qualquer alteração nesse pensamento acabaria com a razão fundamental da existência de um clube de futebol. Não pensar primordialmente em obter glórias é uma desvirtuação de sentido de um clube de futebol. Porque ele existe essencialmente para isso. E muito pouco além.

Quem comanda um clube de futebol sabe muito disso. Sente na pele. Aprende. No dia a dia. Nos intermináveis elogios após uma vitória. Nas incansáveis críticas após uma derrota. Dói, mas eventualmente aprende.

Essa é a natureza de um clube de futebol. Pura e simples. Foi por isso que ele nasceu. É a sua essência.

Por isso que eu agradeço ao Coritiba por ter me aberto as portas para que eu pudesse entender esse indispensável ponto de vista. Sem a experiência que o clube me proporcionou, é possível que toda a minha pesquisa adotasse um viés completamente incompatível com a realidade dos fatos.

E sem entender a realidade, não há como sugerir melhorias factíveis.

Parabéns. E muito obrigado.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Com o dinheiro dos outros

Desde logo, recomendo a quem não assistiu ao filme “Com o dinheiro dos outros”, que inspira a coluna desta semana, que o faça, para ajudar na compreensão da realidade financeira de nosso futebol, num paralelo interessante.

No longa metragem, Danny de Vito interpreta Larry Garfield, um investidor inescrupuloso de Wall Street, especializado em adquirir o controle acionário de empresas à beira da falência.

Para Larry, a única coisa que interessa é o lucro: quanto maior e mais imediato, melhor. Seu apelido é “o Liquidador”, pois compra e liquida empresas que não estejam sendo extremamente lucrativas.

Larry, o Liquidador, quer comprar ações da fábrica dirigida por Gregory Peck no filme – com a intenção final de fechá-la, vender as máquinas, e usar o terreno em alguma outra atividade na qual possa lucrar mais. Milhares de trabalhadores perderão seus empregos? Sem problema, diz Larry, pois o compromisso dele é com os acionistas.

Clubes de futebol, no Brasil, são, em sua maioria absoluta, associações civis sem fins lucrativos.

Isso não significa que não possam perseguir fontes de receita planejadas e duradouras, bem como financiamentos com bancos ou investidores capitalistas. A pergunta não é por que, mas, sim, como isso é feito.

Nessa semana, fiquei surpreso ao ler no jornal Zero Hora que até o cantor Gabriel, o Pensador, é parceiro investidor do Inter e tem jogadores no elenco sub-20 do clube. Disse que gostou da brincadeira e quer ampliar seus investimentos.

Diversos são os exemplos do futebol sendo destino de investidores. O Banco BMG já declarou que organiza um fundo de R$ 50 milhões, voltado ao mercado de direitos econômicos sobre jogadores. O Coritiba seria um dos clubes beneficiados.

A Traffic já realiza este modelo de negócios junto ao Palmeiras. O Grupo Sonda também desenvolve negócio similar com Santos e Inter. LA Sports opera no Paraná Clube e no Avaí.

Existem fatores importantes para atração de investidores, seja qual for o ramo de atividade econômica – o futebol não foge disso. A gigantesca captação na Bovespa, realizada pelo Santander, traduz o grau de confiabilidade dos acionistas na gestão do banco, na sua história, no seu planejamento de curto, médio e longo prazo, além do contexto macroeconômico do país e a perspectiva de realização de lucros e conseqüente distribuição de dividendos.

Quando se investe num clube de futebol, particularmente nos ativos de mais rápida valorização (jogadores), espera-se obter lucro dentro de um prazo contratual estipulado.

Os clubes, em geral, estão numa posição financeira fragilizada e necessitam de financiamento para suas operações, direta (dinheiro) ou indiretamente (projetos co perspectiva de receita futura). Eis a margem de especulações e descaminhos.

O clube não almeja o lucro. Almeja a sustentabilidade financeira. O investidor visa o lucro.

A acomodação destes interesses e dos prováveis conflitos não é simplória. Mas quanto mais transparente e regulamentada for (contratualmente), melhor.

Quem faz o quê. Quem investe. Quem administra. Quem vende. O que se vende. Quando se vende. Como se faz tudo isso.

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