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Direito federativo x Direito econômico

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Tendo recebido algumas sugestões de pauta, decidi dedicar essa coluna para esclarecer a questão dos direitos federativos e os direitos econômicos dos jogadores.

Como temos noticiado neste espaço reiteradas vezes, a Fifa tem demonstrado, nos últimos anos, insatisfação em ver transferências de jogadores sofrerem influências de empresas, fundos, investidores, entre outras partes fora do mundo do futebol. A prova disso é a criação do Artigo 18bis nos Regulamentos de Transferência de Jogadores da Fifa, que proíbe a interferência de terceiros no futebol.

Em outras palavras, a Fifa gostaria apenas que federações, clubes e jogadores tivessem voz ativa na movimentação de atletas. E que investidores pudessem aplicar fundos no futebol, mas que não interferissem diretamente na ¨propriedade¨ dos direitos sobre o contrato dos jogadores.

Muito bem. Nessa medida é que chegamos ao tema desta coluna. O que seria a propriedade sobre o contrato dos jogadores.

O clube de futebol (empregador) detém os chamados direitos federativos. Como o próprio nome sugere, é titular desse direito quem possui o direito associativo perante uma federação de futebol ligada à Fifa. Como apenas os clubes podem ser associados às federações, não é possível que outras partes (investidores, fundos, etc) detenham os direitos federativos.

Ocorre que esse direito federativo gera um direito econômico aos clubes. No passado, esse direito era representado pelo passe. Hoje, com a extinção desse instituto, temos a cláusula penal nos contratos dos atletas profissionais que dá o direito de o clube de origem cobrar do jogador e/ou de seu novo clube uma indenização pela rescisão antecipada de tais contratos.

Como a própria Fifa prevê em seus regulamentos, apesar do Artigo 18bis, a legislação nacional de cada país deve ser respeitada, na medida em que aplicável. Dessa maneira, os clubes passaram a se utilizar da permissividade da legislação brasileira para cederem a investidores esses direitos econômicos gerados pelos direitos federativos de seus jogadores. É uma espécie de securitização do valor que eventualmente receberia na venda de seus jogadores.

Essa cessão é perfeitamente aceita pela legislação brasileira, por tratar-se, em princípio, de um contrato que pode conter todos os requisitos legais para tanto.

Desta forma, apesar de não agradar à Fifa, temos a existência tanto do direito federativo como do econômico. A questão importante é que, no caso de uma eventual execução desses direitos, as partes somente poderão recorrer à Fifa (que, por vezes, pode ser mais célere e mais eficaz) com relação aos direitos federativos e econômicos, caso as partes sejam da família da Fifa. Caso contrário, vão ter que recorrer à justiça comum brasileira.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Trip Side

Reparei em uma faixa num jogo esses dias. Estava escrito ‘Trip Side’. Não lembro bem qual partida era, mas era jogada em algum estádio de uma cidade litorânea. Lembro disso, porque na hora pensei que até fazia sentido uma torcida de um time praiano se chamar ‘Trip Side’, ainda que eu não faça a menor ideia da tradução do termo. Mas tem cara de ser coisa de surf.

Outro dia vi mais uma faixa dessas, em outro estádio nada a ver com o primeiro. Fiquei com isso na cabeça. E fui percebendo que faixas com ‘Trip Side’ escrito se proliferavam pelo país. Era muito estranho. Ou tinha alguma treta no meio, ou era um novo movimento organizado semelhante ao ‘Independente’ ou ao ‘Jovem’, que vêm das décadas do meio do século XX e se espalharam por diversos clubes, país afora. O mais provável é que fosse o primeiro.

E ontem, no jogo entre Grêmio e São Paulo, estava lá a dita faixa. Dizia ‘Trip Side’ e tinha dois (acho) símbolos do clube pintados. De repente, estalou a lembrança: na Copa de 2002, faixas de torcedores estampavam a logomarca do COC, rede educacional paulista, dentro dos estádios, exibindo a marca para todo o mundo. Puro e simples marketing de emboscada. Naturalmente, a ideia não durou muito tempo. Ainda assim, a marca estava lá, onde nenhum grupo educacional brasileiro jamais esteve.

E eis que a ‘Trip Side’ resolve repetir a dose, em uma escala significativamente menor. ‘Trip Side’, aparentemente, é uma marca de roupas de surf que, em breve, lançará um novo site. Aparentemente, também, não é uma marca que tenha um lugar estabelecido no mercado de roupas de surf. Talvez por isso use o marketing de emboscada como estratégia, afinal é um jeito muito mais barato de anunciar em grandes eventos, uma vez que não é preciso pagar nada para os organizadores.

Pelo menos três pontos chamam a atenção nisso tudo. O primeiro, que realmente não consigo entender, é porque tantas marcas de roupas de surf anunciam no futebol, seja da forma mais tradicional, como a Fatal Surf, que corriqueiramente aparece em placas ao redor do gramado, ou da forma mais, digamos, oportuna, como é o caso da Trip Side e de outras, como a Rat Boy. Não faria muito mais sentido patrocinar o surf? Ou, se a ideia é patrocinar o futebol, desenvolver produtos relacionados ao esporte que você patrocina? Enfim. Deve dar certo. De algum jeito. Afinal, essas marcas de surf já aparecem em transmissões de jogos e programas esportivos relacionados a futebol há certo tempo.

O outro ponto é aguardar a postura que a Rede Globo vai ter com o caso. É óbvio que a ideia é aparecer na emissora, em horário que outras empresas pagam milhões para ter. E é óbvio, também, que a Globo vai ter que fazer alguma coisa. Se ela não fizer, a ideia pode pegar e fugir do controle. Mas como a emissora ou o Clube dos 13 vão agir?

Hipoteticamente, imagine que uma empresa faça o que a Trip Side está fazendo. Só que, ao invés de ela mesma colocar a sua faixa, supondo que a Trip Side faça isso, ela resolva pagar para a torcida organizada de um clube colocar a faixa. Quem iria pedir para a torcida organizada tirar a faixa? E, caso ela se recusasse, quem teria moral de entrar lá no meio pra fazer isso? O Clube dos 13 chegaria ao ponto de baixar uma norma punindo times com a perda de pontos ou mandos de jogos por conta de um marketing de emboscada em seu estádio?

E, por último, que diabos significa ‘Trip Side’ em português?

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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A Laranja Mecânica

Aquele borrão de camisas laranjas marcou a minha e a vida de todos os que amam futebol na Copa-74. A coluna vai trazer a história de cada uma das sete partidas holandesas no Mundial da Alemanha. Um pouco do tudo que deixou nos gramados a Laranja Mecânica, inesquecível manjar tático, físico e técnico também chamada de “carrossel holandês”. O que não significa realmente tudo aquilo que se viu - ou que se quis ver - no chuvoso verão alemão.

Começamos pela brilhante estreia contra o Uruguai, quarto colocado na Copa-70. Ainda com alguns grandes jogadores. Mas não mais com um grande futebol.

UM LADO DO JOGO - Pedro Rocha, meia-esquerda e craque uruguaio: “O nosso treinador só sabia que a Holanda tinha bons jogadores - pediu atenção especial para o 14, o Cruyff. O nosso volante, o Montero Castillo, disse para deixar com ele, que o Cruyff não iria andar em campo - pois é. No intervalo, perguntei ao Castillo porque ele não conseguira fazer o que prometera. Ele me disse: ‘Mas, como? Eu corria atrás dele o campo todo e ele não parava? Como iria segurá-lo? Não dava nem para dar porrada’. Foi um vareio que tomamos. Dois a zero foi pouco”.

OUTRO LADO – Johan Cruyff, gênio holandês: “Estávamos muito nervosos. Além de aqueles 11 nunca termos atuado juntos, cinco jogadores estreavam em algumas funções. O goleiro era novo na equipe. O Haan e o Rijsbergen não haviam atuado daquela maneira. O Jansen demorou a chegar ao elenco. O Haan teve de ser zagueiro – era volante. O Jansen ocupou o lugar dele – embora atuasse na mesma posição do Neeskens - o próprio Neeskens teve de se sacrificar. Eu não estava 100% fisicamente. Perdemos nosso zagueiro Hulshoff por contusão. E tudo isso junto, num só jogo, o da estreia? Não sei como tudo funcionou tão bem. Não tínhamos um time antes da estreia. E quando acabou o jogo, tínhamos uma senhora equipe. Todos correram muito, se doaram bastante. Deveríamos ter feito mais gols. Mas essa é outra questão. Para mim, futebol é criar chances de gol. Fazer o gol é um tanto casual e está fora do futebol. Depende de um monte de circunstâncias: sangue-frio, casualidade, sorte, falha contrária…”

LOCAL: Niedersachsenstadion, em Hannover, Alemanha. 15 de junho de 1974. 16h locais. 53.700 pagantes.

PLACAR VIRTUAL DE CHANCES CRIADAS – HOLANDA 17 X 1 URUGUAI

HOLANDA – 4-3-3 – Jongbloed (8); Suurbier (20), Haan (2), Rijsbergen (17) e Krol (12); Jansen (6), Neeskens (13) e Van Hanegen (3); Rep (16), Cruyff (14) e Rensenbrink (15). Técnico Rinus Michels.

URUGUAI – 4-3-1-2 – Mazurkiewicz (1); Forlán (4), Jáuregui (2), Masnik (3), Pavoni (6); Montero Castillo (5), Mantegazza (1) e Espárrago (8); Pedro Rocha (10); Cubilla (7) e Morena (9). Técnico Roberto Porta.

LANCE A LANCE:

COMEÇOU – Cruyff dá o primeiro toque na bola de um time histórico, tocando a bola para Van Hanegen.

40s – Bela caneta de Espárrago sobre Jansen! É a vitória da escola sul-americana sobre os robóticos europeus!!! Sei… Sei…

2min – O veterano (pleonasmo para aquela equipe uruguaia) ponta-direita Cubilla (34 anos) corta rumo à ponta-esquerda. O lateral-esquerdo Krol o segue individualmente. Marcação opressiva holandesa. Homem a homem.

3min – Falta feia do Uruguai – outro pleonasmo. Falta dura do são-paulino Forlán – outra redundância. Embora não tenha intencionado esquartejar Neeskes, o fato é que o lateral-direito arrancou a carne do meia holandês, na primeira de uma longa série de infrações sul-americanas.

5min – Belo lance de Cruyff pela esquerda, Masnik dá um balão para longe. Impressionante (à época?) a marcação obsessiva holandesa no campo rival. Jansen (sobretudo), Neeskens e Van Hanegen dão o bote num campo mais “curto” que o habitual àqueles tempos.

6MIN – GOL. 1 X 0 HOLANDA. REP. Troca de bola desde a defesa, pelo lado direito. O lateral Suurbier (29 anos) abriu pela direita o jogo com Cruyff. O centroavante (teoricamente?) pegou a bola no meio-campo (como um armador), passou bonito por dois rivais e devolveu ao lateral que mais parecia um ponta, que cruzou de canhota, no meio da área. O ponta-direita Rep (23 anos) subiu como um centroavante, ganhou do zagueiro Jáuregui (28), antecipou-se ao excepcional Mazurkiewicz (goleiro do Atlético Mineiro, 29) e abriu o placar. Dentro da área uruguaia, eram quatro famintos holandeses.

10min – Montero Castillo (30 anos) tenta operar as amígdalas de Neeskens. O Uruguai só bate. Time de alguns grandes jogadores (envelhecidos) é atropelado pela técnica e velocidade laranja. À frente, Cubilla corre, e o grande artilheiro Morena segue isolado pelo esquema tático de Porta. Desse modo, Suurbier ganha liberdade para apoiar sem ser incomodado pelo lado direito. Krol ainda se entretem com Cubilla. Mas nada que tire o descanso do goleiro Jongbloed (33). Na falta, em vez de ser registrado um B.O., o árbitro húngaro Palotai não deu nem amarelo.

11min – Sem bola, o bom meia Espárrago (29 anos, do Sevilla), tromba com Cruyff. Na sequencia, o 14 laranja deixa no bagaço meio time até o centroavante Morena voltar ao próprio campo e dar um pontapé no craque rival. Falta feia. Amarelo? Só o sorriso do juiz.

12min – Espárrago sai pelo lado esquerdo do meio-campo uruguaio. Seis holandeses estão em volta dele.

13min – Apenas o zagueiro-esquerdo Rijsbergen fica atrás. E além do meio-campo de ataque holandês. O Uruguai não está atrás. É empurrado para trás pelo time laranja.

19min – Fora o gol, chance, mesmo, mais nenhuma holandesa. Até porque, pela segunda vez em que entrou em diagonal, do centro para a ponta esquerda, Cruyff foi travado. Mas a bola continua toda laranja.

20min – Outra vez Cubilla tenta escapar pela esquerda, de noo Krol o acompanha. A bola sai pela linha lateral. O Uruguai está morto.

22min – Aleluia! Defesa de Jongbloed, que joga adiantado, e saiu muito bem numa bola em que não era preciso sair. O goleiro de 34 anos usa lente de contatos e era a terceira opção de Rinus Michels. Os dois melhores se machucaram e ele veio para o time principal pela primeira vez.

22min – O lance que representa a essência do Futebol Total holandês (“totaalvoetbal”): a bola é recuada pela meia-esquerda para o campo uruguaio. O zagueiro-direito Jaurégui tenta lançar o meia Mantegazza, na ponta direita. No bote para tentar recuperar a bola e/ou deixar o time uruguaio impedido, 10 (!!!) holandeses, em bloco, se adiantam e fazem o pressing opressivo. Pela primeira vez na história da Laranja Mecânica e do futebol mundial. O condutor do avanço para armar a maior linha de impedimento vista era o volante Jansen (27 anos). Observe que a área ocupada pelos 10 laranjas é inferior a 15 metros.

24min – Mantegazza leva o primeiro amarelo. Ufa. O Uruguai não consegue passar da própria intermediária. Ou passa mal a bola ou é engolido pela obsessão rival em marcar a saída de jogo lá na frente.

30min – Outra porrada de Mantegazza no hábil meia-esquerda canhoto Van Hanegen (30). A Holanda corre, cria, marca, mas não chuta. O Uruguai insiste em sair jogando com o lateral-esquerdo Pavoni. Mas a bola não passa do meio. Talvez um chutão para o isolado Morena seria uma solução? O craque Pedro Rocha está engolido pelo múltiplo Jansen.

35min – Krol sai da lateral, vai cortando pelo meio e manda o balaço, por cima da meta. Apesar de o centroavante todocampista ser Cruyff, falta, de fato, um goleador a Rinus Michels. Um 9 de ofício.

38min – Suurbier pega mal o sem-pulo, livre dentro da área. Jansen cruzou da linha de fundo, e Rensenbrink ajeitou de cabeça. Em resumo: o volante cruzou como ponta, o ponta foi armador, e o la
teral-direito foi centroavante.

PLACAR VIRTUAL PRIMEIRO TEMPO – HOLANDA 3 X 0 URUGUAI

RECOMEÇOU – Antes do apito inicial, Pedro Rocha cruza com Cruyff, fala qualquer coisa, o holandês ri e o cumprimenta. Possivelmente deve ser um pacto de não-agressão holandesa?

1min – Aleluia! Chance de gol uruguaia!? Pedro Rocha livre, às costas de Suurbier, pega mal de canhota e perde boa chance. Desta vez, bote defensivo holandês abriu buraco na lateral direita.

3min – Uruguai resolve tentar jogar e parte pela direita. Lançamento feito para o ataque. A linha de impedimento laranja (composta por 6 atletas) deixa 6 (!??!) uruguaios impedidos.

4min – Forlán tenta esfolar Krol. Cartão amarelo para o uruguaio. A Holanda está com três atacantes na área, e mais os três meio-campistas e o lateral-esquerdo Krol marcando a partir de 25m do gol de Mazurkiewicz. Não era assim que se jogava. E, convenhamos, depois da Copa-74, também ninguém marcou igual.

5min – Jogada espetacular e ensaiada em cobrança de falta. O excelente Van Hanegen pega mal e isola, de sem-pulo. Mas todo o lance foi lindo.

5min – Menos de dois minutos depois de receber o amarelo (já tardio), o violentíssino Forlán entra de sola na coxa de Van Hanegen. O árbitro húngaro só chama a atenção do uruguaio. Hoje, pegaria um gancho de 6 meses no TJD, e os holandeses saíram no pau com o meigo lateral.

7min – Cruyff desarma Espárrago na lateral direita holandesa. O homem é uma máquina. Ou uma franquia. Parecem ter 3 Cruyffs em campo. E apenas cinco uruguaios no gramado.

8min – Forlán evita o gol de Rep, em belo lance de Neeskens pela ponta direita. O meia virou ponta, o ponta foi centroavante, depois de uma troca de bola inteligente, sem pressa, dos holandeses.

10min – O lateral Pavoni tropeça na bola e cai dentro da área holandesa. Mas foi a primeira vez que os uruguaios chegaram com 4 no ataque. Embora o ponta Cubilla pareça valer por 4 – em peso. Para piorar, Krol o marca individualmente. Cubilla até tenta atuar pelo outro lado. Mas Krol não deixa.

11min – O imenso Pedro Rocha faz bela jogada pela ponta direita. Mas Van Hanegen retoma a bola, com a ajuda de Krol e de Jansen. São 3 holandeses contra um uruguaio. Na zaga, troca de lado entre Haan e Rijsbergen.

12min – Jansen bate bem da meia direita para boa defesa do excelente Mazurkiewicz. Por estes minutos, Neeskens trocou de função com Cruyff. O 14 holandês resolveu fazer a de Neeskens, recuando e armando o time a partir da meia direita.

14min – Neeskens pega mal e a bola voa. Mas a tabelinha de Jansen com o ataque holandês é muito bonita. A Holanda alterna o 4-3-3 para algo próximo ao 4-2-4, com a penetração de Cruyff.

15min – UM ARRASTÃO. Ou um time de futebol americano pulando sobre o quarter-back rival. É o que aconteceu com Pedro Rocha, aos

15min. O craque são-paulino tentava organizar o que sobrava do Uruguai quando três holandeses deram o bote, e mais cinco se adiantaram ou para tomar a bola ou para deixar o Uruguai impedido. Isso na intermediária uruguaia. Nunca havia visto algo semelhante. E não se viu nada parecido depois. O desfecho do lance é de dar dó e nós nos uruguaios. São quatro holandeses em cima do pobre rico Rocha. O mais impressionante: fora o goleiro Jongbloed, todos os 10 de linha ocupam uma faixa de menos de 20 metros de campo. É o pressing que faria a fama do Milan de Arrigo Sacchi, no final dos anos 80.

16min – Cruyff manda a bomba, Mazurka manda a escanteio. Deixaram o 14 livre. O gol holandês amadurece.

18min – Milar (19) substitui o pregado e acabado Cubilla. Bom finalizador, de boa técnica, o atacante é a esperança celeste de diminuir as dores do atropelamento.

20min – Masnik chuta Neeskens, derruba o rival, e pula sobre o pé esquerdo do holandês. Na cara do bandeirinha. Nada acontece com o violento agressor. Apenas um amarelo tímido para o capião e feitor uruguaio.

22min. EXPULSO. Montero Castillo, pelo conjunto da obra, é expulso. Acertou sem bola Cruyff. Mas já havia feito 6789 infrações piores. A Holanda que já tinha 79 atletas a mais em campo fica com ainda mais espaço. O Uruguai passa a atuar no 4-3-2.

25min – Rensenbrink isola e perde gol fácil. Impressionante como finaliza mal o time laranja. O ponta estava livre, dentro da área.

26min – Suurbier manda no ângulo, Mazurkiewicz defende, sem dar rebote. Impressionante. Mas a jogada anterior de Cruyff sobre Jáuregui foi de cinema. O 14 rodopiou e escapou como se fosse uma Ferrari. Como é que Cruyff corria tanto se fumava ainda mais?

28min – GOLAÇO MAL ANULADO! Lindo lance de Van Hanegen com Cruyff. Ele levanta o pé e toma a bola no alto, da cabeça de Masnik, que se abaixa para tentar o corte. Não foi jogo perigoso. Foi um golaço pessimamente anulado, que saiu da história. Uma lástima. Depois do lance, Mazurka empurra a cabeça de Cruyff, que finge agressão que não aconteceu.

29min – Jansen invade a área livre, pela direita, e manda o balaço na trave esquerda. No rebote, Rensenbrink, da ponta esquerda, emenda para grande recuperação de Makurkiewicz. Um a zero é um placar mais que mínimo pela máxima diferença entre as equipes.

32min – Mais uma linha de impedimento que causa Óoooooo da torcida em Hannover.

38min – INCRÍVEL. A Holanda ficou quase 10min sem uma chance de gol!!!! O time parece um pouco cansado e, na experiência, e na violência, os uruguaios vão se salvando. Os lances pela direita continuam sendo o forte holandês. Suurbier não para e se apresenta muito bem, chegando fácil ao fundo, e cortando bem pelo meio. Mas as finalizações continuam sendo ruins. Ah se o Van Basten já existisse em 1974?

39min – Jaurégui ganha o cartão. De crédito do árbitro. Ele bate, segura, e nada. Uma vergonha. Mas a arbitragem, à época, usava bem menos os cartões.

41min – GOL. 2 X 0 HOLANDA. REP. Ufa! Tudo começou em mais uma saída errada uruguaia. O goleiro tentou lançar com as mãos, a bola foi interceptada rapidamente e foi parar na meia esquerda, para o cerebral Van Hanegen. Belo toque às costas de Forlán para Rensenbrink que, em ritmo de treino, rolou para dentro da área. Na marca penal, Rep só precisou tocar para o gol vazio. Belo gol.

43min – Cruyff aparece como o centroavante que deveria ser. Mas chega um pouco tarde? Jogou demais o craque holandês, e em todos os lances e cantos do campo. Mas faz falta um fazedor de gols. Os holandes finalizaram muito mal. Por isso não golearam. Embora continuem dando show até o fim.

44min – Neeskens chuta muito mal e fraco e perde a 17a. chance holandesa. Nove delas depois da expulsão de Montero Castillo.

46min – PÊNALTI!? Árbitro húngaro deve estar com pena dos uruguaios. Rep é derrubado dentro da área em carrinho claro de Masnik. Ele deixa o jogo seguir. E nenhum holandês reclama.

FIM DE JOGO – Um massacre de apenas 2 x 0.

 

Veja alguns lances do desempenho da Holanda no duelo



NOTAS:

HOLANDA 

Jongbloed – 7 – Como líbero, e por estar estreando na equipe, sem problemas. Até porque a bola não chegou.
Suurbier – 9 – Incansável, ofensivo, técnico, abusado, deu o cruzamento – de canhota – para o primeiro gol. Partidaço. Um dos motivos para a Holanda atacar tanto. E ainda mais pela direita.
Haan – 8 – Sem ser molestado pelo excelente Morena, pôde comandar a defesa holandesa com categoria. No segundo tempo, trocou de lado e manteve o ritmo.
Rijsbergen – 7 – Menos qualificado da zaga, mais duro, com menos recursos. Mas foi bem contra o inexistente ataque rival.
Krol – 9 – Futuro líbero, o lateral foi um segundo ponta-esquerda com a bola, e ainda anulou o gordito Cubilla, o acompanhando em todos os cantos.
Jansen – 9 – Marca, morde, comanda o impedimento, arma, finaliza. Meio-campista completo, de ótima técnica.
Neeskens – 8 – Apanhou demais. E também jogou demais. No segundo tempo, inverteu por vezes de posição com Cruyff.
Van Hanegen – 9 – Estilista, tem canhota privilegiada para passar. Elegante, só precisava entrar mais na área. Belo passe para o segundo gol.
Rep – 9 – Oportunista. É mais centroavante que ponta. Goleador.
Cruyff – 10 – O futebol total. Centroavante no primeiro tempo, meia, ponta e até volante no segundo. Hábil, ágil, incansável. Brilhante.
Rensenbrink – 7 – Deu a assistência do segundo gol, e apanhou demais de Forlán. Poderia ter rendido mais.
Rinus Michels – 10 – A culpa é toda dele.

URUGUAI

Mazurkiewicz (Atlético-MG) – 8 – Não fosse ele… Seguro, colocado, quase perfeito.
Forlán (São Paulo) – 4 – O lateral-direito sempre soube jogar. Mas sempre bateu mais do que a Convenção de Genenbra permitia.
Jáuregui (River Plate-URU) – 4 – Não é fácil enfrentar uma Holanda como aquela. O zagueiro-direito fez o que poderia.
Masnik (Nacional) – 3 – Fez pênalti não marcado, e deveria ter sido preso por pisão em Neeskens. O experiente zagueiro-esquerdo foi o retrato em preto e azul da falência da escola uruguaia em 1974.
Pavoni (Independiente-ARG) – 4 – O campeoníssimo lateral-esquerdo e capitão do Independiente argentino foi massacrado por Suurbier e Rep.
Montero Castillo (Nacional) – 1 – O volante disse que iria pegar Cruyff. Foi a única coisa que cumpriu. Só não disse que seria na porrada, e acabaria expulso.
Mantegazza (Nacional) – 3 – Tentou marcar Van Hanegen pela meia direita. Não conseguiu, e também não armou.
[Milar (Liverpool-URU)] – 4 – Entrou?
Espárrago (Sevilla-ESP) – 4 – O meia pela esquerda tentou ajudar Rocha e dar um pé aos demais companheiros.
Pedro Rocha (São Paulo)- 5 – O verdugo foi atropelado por colegas medrosos e pelo arrastão holandês. O brilhante meia-armador não foi visto em Hannover.
Cubilla (Nacional) – 3 – Correr, o ponta-direita correu, e até pelos dois lados? Mas, como o Uruguai, em 16 rpm, e contra um Krol que não o deixou em paz.
Morena (Peñarol) – 3 – Para um dos maiores centroavantes uruguaios que vi? Não foi visto. Esquecido pelo time.
Roberto Porta – O técnico? Uma porta. Mas quem salvaria os uruguaios contra os holandeses? Como atleta, foi goleador pelas seleções do Uruguai e também da Itália.

ÁRBITRO – Karoly Palotai (Hungria) – 4. Anulou gol legal, não deu pênalti no fim, deixou o Uruguai bater o jogo todo.
 
Na próxima coluna, um dos melhores empates sem gols da história das Copas: Holanda 0 x 0 Suécia

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

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Fora do eixo

O eixo em questão é o eixo geográfico que compreende os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Os dois estados polarizam as atenções para grande parte dos acontecimentos relevantes no Brasil, além de orientarem o país econômica e politicamente.

Ainda, a chamada indústria do entretenimento se serve dos estados do eixo para a promoção de grandes eventos, como espetáculos teatrais, shows, festivais, competições esportivas nacionais e internacionais.

Até mesmo as grandes empresas costumam depositar o interesse em apoiar tais iniciativas nestes grandes centros nacionais, pois buscam visibilidade comercial e penetração num mercado consumidor enorme e com poder de compra significativo.

A geopolítica brasileira, desse modo, favorece, por razões históricas, os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, no pleito para receber eventos esportivos globais, como GP de Formula 1, Copa do Mundo e Olimpíadas.

No segundo escalão, em relativo equilíbrio de forças, encontram-se Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre. Ouso incluir Brasília e Recife nesse grupo.

Depois disso, os demais. A “sobra” seria uma expressão mais agressiva, mas que também caberia para ilustrar, com precisão, o mapa nacional de negócios esportivos.

Estas cidades do grande eixo (primeiro e segundo escalão), assim, conseguem usufruir de um ciclo virtuoso na organização de eventos esportivos, do qual os principais atores participam, dentre os quais a mídia (em especial a TV), patrocinadores, poder público e entidades de administração do esporte.

Torna-se difícil para as cidades não-alinhadas ao grande eixo competirem para atrair a atenção geral as suas iniciativas.

Por isso, o fato de que a CBF tenha escolhido o CT do Atlético-PR como destino da seleção brasileira, em junho de 2010, para preparação para a Copa da África do Sul, é motivo de celebração local. Isso ajuda a fortalecer a posição da cidade no mapa esportivo nacional com repercussão, até mesmo, internacional.

Curitiba é a capital de um dos estados mais ricos do Brasil. Cantada em verso e prosa por muitos que a conhecem como a capital com melhor transporte coletivo, mais limpa, mais organizada, mais verde, mais segura, mais planejada, mais civilizada, mais europeia do Brasil.

Acho pouco. Muito pouco, em termos esportivos, pois acredito que a descrição do parágrafo anterior carece de alguns fatores para complementar a equação de uma cidade que pretende ser vanguarda em qualidade de vida: liderança e articulação política para o desenvolvimento de um ambiente esportivo compatível com o perfil socioeconômico local.

Afinal, por exemplo, a cidade não tem nenhuma equipe disputando competições nacionais (exceto os clube de futebol profissional), seja no futsal, no handebol, no vôlei, no basquete, que alavancam e estimulam o crescimento do mercado esportivo local como um todo.

Seleção Brasileira, por aqui, é apenas um bom começo para entrar no eixo.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Para que servem as coletivas de imprensa?

Muricy Ramalho voltou a ser o “Muricy, eterno” que o consagrou no São Paulo. Uma explosão de ira durante a entrevista coletiva e bastou para, de novo, reacender a disputa entre imprensa e treinador depois de um jogo.

Ok, o pavio de Muricy pode ser mais curto que o dos outros. Mas dá, realmente, para aguentar o massacre em que se transformou hoje uma entrevista coletiva após uma partida?

Olhando friamente, do lado do treinador, a entrevista é o momento em que todos querem fazer alguma pergunta. E, convenhamos, depois da terceira ou quarta questão, não tem muito mais o que saber de um treinador. E, muito menos, o que perguntar.

Para piorar o cenário, a imprensa hoje está acostumada a só olhar o resultado da partida, o que é capaz de levar uma pessoa do céu ao inferno depois de um jogo.

O que Muricy falou quinta-feira, depois do baile palmeirense sobre o Goiás, tem a sua ponta de verdade. Palpitamos, muitas vezes, sem ter ido ao treino. Ou, quando um jornalista está lá, é só de corpo presente, sem analisar o treinamento, sem ter visto as variações de jogada, de tática, de jogador…

Obviamente que é uma generalização, mas é algo extremamente corriqueiro. Até mesmo em treinos da seleção brasileira! A correria do jornalista é saber quem joga, e não como joga. E isso leva ao óbvio choque de interesses depois de uma partida.

A entrevista coletiva depois do jogo surgiu na Inglaterra, nos anos 90, na profissionalização do futebol como um todo. Expediente mais comum nos esportes americanos, a entrevista coletiva tinha por objetivo facilitar o trabalho da mídia e, ao mesmo tempo, evitar declarações polêmicas e desencontradas após uma partida. Fala quem quer, como quer e onde quer.

Do ponto de vista do negócio, isso se tornou um grande aliado da instituição ?clube de futebol?. O risco de uma crise surgir pelo ?disse que disse? tornou-se muito menor. Mas, do ponto de vista da notícia em si, a entrevista coletiva, aliada ao massacre da cobertura da mídia após uma partida, fez surgir uma das coisas mais monótonas e propagadoras de rusgas no futebol.

E não apenas no Brasil!

Na Europa os treinadores também se cansam de ter de responder às mesmas perguntas formuladas de maneiras distintas por diferentes jornalistas e diferentes veículos.

Ainda mais quando é após uma derrota, com a cabeça inchada e sem vontade de ver ninguém. Mas faz parte do show, sem dúvida.

Só que, para o bem do negócio, é hora de repensar o esquema das entrevistas coletivas após uma partida. Porque não limitar o número de perguntas. Três questões das emissoras de TV, três das rádios e três dos veículos impressos e de internet. Se houver mais gente do que pergunta, sorteia-se, por tipo de mídia, quem fará a questão.

Ao todo seriam 12 perguntas para serem respondidas depois de um jogo. É resposta para mais de meia hora de um programa de rádio ou TV, para mais de duas páginas num jornal, para uma infinidade de pixels na internet…

Provavelmente o desgaste seria menor. E, as perguntas, menos repetitivas. O futebol, como um todo, agradeceria.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A sobrecarga no treinamento através de jogos

Recentemente, apresentei em um evento alguns treinos pautados nas teorias da complexidade, com exercícios de treino subordinados ao jogar pretendido pelas equipes (integrando questões táticas, físicas, técnicas e psicológicas)

Foi muito interessante a repercussão da minha explanação. Para cada exercício, diversos detalhes, algumas filmagens e ?scouts? em diversas dimensões do jogo.

Como estavam presentes muitos preparadores físicos, o que mais chamou a atenção do público foi a quantificação ?física? das atividades de treino.

Trago então para nossa coluna deste sábado um dos exercícios de uma sessão de treino da quarta semana, do mês número quatro da programação de treinos, já em um nível de complexidade maior, com regras mais elaboradas e exigentes.

Dentro do jogar da equipe, uma das propostas estava na realização de ?pressing? em profundidade, com jogo zonal e recuperação da bola em linhas mais adiantadas.

Esse exercício foi realizado respeitando uma sequência lógica definida, tanto na sessão de treino, quanto na semana, mês e ano de trabalho.


Durante a atividade, conforme podemos observar, cada jogador percorreu em média 2010 metros (com quase 100 mudanças de direção e oscilações abruptas de velocidade), sendo que um percentual considerável dessa distância foi percorrido em altíssima intensidade.

Não caberão nesse espaço, as curvas de frequência cardíaca e de velocidades a cada metro percorrido.

O fato é que projetando a movimentação dos jogadores dentro do campo de jogo, e comparando tal movimentação com a do jogo formal, notaremos que esse ?exercício? (jogo) proporcionou sobrecarga ?física? para o treinamento dos jogadores ? e não ?só? física, porque propiciou maior número de ações com bola, e exposição a conflitos do jogo de acordo com uma das características do modelo de jogo da equipe que treinava (e acima de tudo, levou o jogador ao estado de jogo).

Existem muitas outras informações e dados a respeito dessa atividade, da sessão de treino e de todo o ano de trabalho. Todas elas mostram que é possível, pautando-se nas teorias da complexidade, e subordinando a preparação do jogador de futebol ao jogo, não só construir atividades mais específicas à realidade competitiva, como também alcançar mais rapidamente melhores resultados na performance do jogador em jogo.

Obviamente, não adianta expor jogadores e equipes a atividades como a descrita, fora de um processo. Toda atividade, toda sessão de treino, devem estar pautadas em um processo definido, em que se sabe o tempo todo onde se está e onde se quer chegar, respeitando uma lógica didático-pedagógica que interaja o tempo todo com o calendário competitivo e as ambições da equipe.

Caso isso não fique claro, a mesma atividade para um grupo de jogadores pode se configurar em sobrecarga em demasia, ou mesmo de extrema insignificância ? o que acabaria por reforçar os desentendidos que confundem isso que estou apresentando, com o clássico treinamento em ?jogo-reduzido?.

Acho que é isso…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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Pontos corridos x Mata-mata

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Um dos pontos polêmicos do modelo de organização das competições nacionais (i.e., campeonato brasileiro) é a formatação do torneio, atualmente realizado em pontos corridos.

O nosso país teve grande tradição e história em campeonatos na forma de mata-mata, isto é, após uma (ou mais) fase(s) classificatória(s), as equipes melhores colocadas passavam a disputar jogos eliminatórios, até a tão esperada disputa final.

Esse modelo de mata-mata, entretanto, do ponto de vista estritamente legal e regulatório, propicia distorções na verificação da justiça dentro das quatro linhas, principalmente, se comparado com a forma de pontos corridos (em que todas as equipes jogam entre si, vencendo aquela que obtiver a melhor campanha).

Assim, de uns anos para cá, a forma de mata-mata do campeonato brasileiro deu lugar aos pontos corridos, à semelhança do que acontece, por exemplo, nas ligas europeias de futebol profissional.

A forma de pontos corridos, de fato, premia a equipe mais regular durante toda a temporada. Vence aquela que mais pontos obtiver. No mata-mata, por vezes, é campeão o time que está em melhor momento na fase eliminatória, podendo vencer tendo somado um número menor de pontos em comparação a outras equipes.

É interessante apontar que a regularidade premiada na disputa de pontos corridos sugere maior segurança jurídica de todos os envolvidos. Em outras palavras, uma equipe regular tende a manter em vigor o contrato de seus jogadores, de sua equipe técnica, etc, ao longo da temporada. Ou seja, a regularidade dentro de campo pode estar diretamente relacionada com a estabilidade contratual dos profissionais do clube.

Assim, entendemos que, do ponto de vista legal, a disputa por pontos corridos é mais coerente e mais justa do que a disputa pelo sistema do mata-mata.

Sob outro prisma, temos a questão comercial. É comum que decisões dessa natureza (escolha da forma da competição) estejam atreladas a uma maior capacidade de geração de receitas.

Esse, entretanto, é um aspecto que foge do escopo da discussão jurídica. Números já foram levantados, existem defensores de uma e de outra forma de disputa. Uns dizem que o mata-mata torna o campeonato mais interessante, com maior arrecadação, principalmente, nas fases eliminatórias. Outros defendem que a disputa por pontos corridos propicia maior número de jogos importantes, com a possibilidade de clubes de baixo da tabela participarem de partidas decisivas no final do campeonato.

A discussão, digamos, mais comercial possui um aspecto jurídico importante a ser ressaltado. Até que ponto a maior geração de receitas pode ser buscada, deixando-se de lado o aspecto da justiça desportiva? Até que ponto pode-se abrir mão de uma forma mais justa de disputa para se obter mais receita?

Acima de tudo, e ainda que se adote uma ou outra forma de disputa no futuro, é preciso ficar atento a discussões dessa natureza para não deixar que os princípios básicos do esporte se percam entre uma e outra cifra.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Mais do mesmo

O fim de semana com uma série de relatos de violência por todo país ofereceu, mais uma vez, evidências de um problema que o governo, em conjunto com outros órgãos do futebol, se recusa a enxergar: a violência no futebol, hoje, não é dentro dos estádios. A briga acontece fora dele, disseminada por toda área urbana das grandes cidades.

O confronto entre torcedores do São Paulo e Corinthians foi um exemplo. Não havia jogo entre as duas equipes e a briga foi longe de qualquer estádio. Em Porto Alegre, um ônibus com torcedores do Internacional foi baleado na Serra Gaúcha.

Em Curitiba, o jornal Gazeta do Povo fez um levantamento que demonstrou pelo menos quinze diferentes pontos de brigas relacionadas ao clássico entre Atlético-PR e Coritiba, no último domingo. Nenhum desses pontos foi minimamente perto do estádio Couto Pereira, palco do jogo. Um torcedor atleticano está em coma profundo depois de ter sido atropelado por um torcedor do Coritiba, próximo ao estádio do Atlético-PR. Outros torcedores chegaram a invadir um ônibus na periferia e ordenar que todos os passageiros descessem para que o motorista os levassem até o estádio.

Ainda assim, o governo tenta emplacar o inaplicável cadastro nacional de torcedores como solução mágica para a violência relacionada ao futebol no país.

Pode-se dizer, também, que houve briga dentro de estádio sim, no clássico Botafogo e Flamengo, no Engenhão, entre a própria torcida do Flamengo. De fato, houve. E a polícia interveio. E tudo foi filmado. E nem por isso você viu algum policial pedir qualquer identificação para qualquer um dos envolvidos no problema. Não pediu a carteira de identidade, não pedirá também a carteira de torcedor.

Ademais, como um cadastro nacional de torcedor pode impedir que duas torcidas rivais briguem em um determinado ponto da cidade, a quilômetros do estádio? Não vai. E é aí que está a questão. Não tem como. O problema é maior que o futebol. O problema é social. O problema é cultural. Tudo indica que gastar dinheiro com carteirinha e leitores biométricos seja populista e arbitrário.

O confronto entre as torcidas do Flamengo é também mais uma evidência de como o problema não é a violência do futebol em si, mas sim de um aparato maior que encontra no futebol um canal de expressão, mas não de mobilização, tampouco de sobrevivência.

O futebol serve apenas para que indivíduos propensos a brigar arranjem um motivo. Que poderia ser qualquer outro. Se a educação no Brasil fosse melhor, talvez essas brigas tivessem cunho político e ideológico. Se fosse pior, talvez tivessem cunho religioso.

Infelizmente, não há nada que um clube sozinho possa fazer para solucionar o problema. Ele precisa da colaboração dos outros clubes e das autoridades públicas para cruzarem informações, dados e inteligência. Para que seja possível prevenir ao máximo e punir de maneira efetiva quando for preciso.

Mas, para isso, é preciso ter uma unidade mais forte entre os clubes, coisa que quase não existe. Também é necessário ter uma polícia específica para esse tipo de problema, coisa que também é rara. E, acima de tudo, é importante ter um governo que consiga enxergar e reconhecer o problema de maneira efetiva, consistente e racional, o que existe menos ainda.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Sinestesia esportiva

Muitas pessoas acreditam que a sinestesia é uma doença, mas não é. É um fenômeno sensorial que ocorre por meio da memória e pelo excesso da criatividade.

É o que acontece conosco quando vamos a um evento esportivo efervescente, como uma partida de futebol com estádio lotado.

Sentimos coisas que nos confundem a racionalidade, a lógica entre causa e conseqüência.

Passamos por diversas situações emocionais, aspiracionais, cujo espectro vai do mais positivo ao mais negativo.

As crianças imaginam-se no lugar dos craques dentro de campo. Os adultos imaginam o que fariam, fora do campo, se fossem os craques.

Vitória, derrota, empate, cantos e coreografias da torcida. Tudo tem seu significado particular e provocativo no torcedor que freqüenta os estádios.

Percepções sensoriais que reforçam a tendência do marketing de experiência. Nada mais impactante que o esporte como catalisador para esta vertente de negócios.

Os clubes brasileiros ainda exploram pouco este segmento, mormente na gestão da hospitalidade corporativa, onde as empresas utilizam camarotes e áreas VIP, como relacionamento com sua cadeia de negócios.

Seguramente, o leque de possibilidades é maior, com programas de viagens, competições desportivas que envolvam ídolos do passado e do presente, promoções de acesso às instalações desportivas, jantares, leilões, sessões de autógrafos.

De forma descontrolada, a sinestesia se manifesta a qualquer momento, como, por exemplo, ler uma determinada palavra e sentir o gosto de um doce, ou escrever uma letra e relacioná-la com a cor verde.

A maioria dos sinestésicos é canhota e tem problemas em distinguir o lado direito do lado esquerdo.

O maior desafio dos gestores esportivos é, justamente, desenvolver essa capacidade de distinção, organização e viabilidade de execução de idéias, quando o valor intangível extrapola o planejamento racional.

E tem muita coisa nessa mistura cerebral com poder de geração de receitas para os clubes.

Agora, não confundir sinestesia esportiva com sinestesia administrativa é fundamental.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A tática – o Código Da Vinci (!?)

O futebol tem regras que o caracterizam como jogo. Jogado em qualquer lugar do mundo, respeitando-se oficialmente estas regras, ele traz à tona problemas para serem resolvidos.

Ainda que muitos desses problemas (que vou chamar de problemas primários) tenham em seus cernes as mesmas origens, as soluções para eles, em culturas de jogo diferentes, têm sido também diferentes.

Isso quer dizer, em outras palavras, que, em “centros futebolísticos” específicos (por exemplo, América Central, América do Sul, Europa Ocidental, Europa Oriental, Ásia, África, etc. e também alguns “países polarizadores” dentro desses “centros”) as dinâmicas do jogo de futebol evoluíram de maneiras distintas.

Essa evolução trouxe à tona o que vou chamar de “problemas secundários” do jogo. Não são secundários porque são menos importantes; são secundários, porque surgiram das diferentes dinâmicas que foram nascendo e se desenvolvendo (com suas particularidades) nos diferentes “centros futebolísticos”, a partir dos problemas primários.

Então, enquanto os “problemas primários” surgiram das regras formais do jogo, os “problemas secundários” surgiram das dinâmicas de jogo das equipes para solucionar os problemas primários.

Os “problemas secundários” deveriam servir ao jogo (e sua lógica!), assim como servem os “problemas primários”.

Isso quer dizer, que quando uma solução a um problema secundário, não consegue dar conta de resolvê-lo, dever-se-ia buscar uma resposta associada ao problema primário, e não a ajustes que solucionem o problema secundário.

Em outras palavras, em “centros futebolísticos” distintos, com diferentes evoluções do jogar, qualquer dinâmica de jogo pode ser boa para resolver problemas. Porém, quando se busca a solução para problemas que não estão sendo resolvidos nas próprias dinâmicas do jogo das equipes, é possível que mesmo encontrando as respostas,  estas sirvam mais para a manutenção de uma forma de jogar das equipes, do que para resolver questões do jogo – apesar de muitas vezes resolvê-las (?!).

Isso se torna um problema muito grave e evidente, quando equipes de culturas de jogo diferentes entram em confronto.

Infelizmente, com tantos jogadores “selecionáveis”, de distintas nacionalidades concentrados especialmente no futebol europeu, as Copas do Mundo de Futebol não têm mais evidenciado esses problemas. Em competições como a Champions League, Copa da Uefa (que mudou de nome), Taça Libertadores da América e Mundial Interclubes isso é mais aflorado – e talvez explique porque alguns treinadores tem mais sucesso do que outros nessas competições.

O fato, é que os problemas secundários, tendo como “pais” as dinâmicas das equipes e não o jogo, acabam por gerar, quase que espontaneamente, respostas que muitas vezes distanciam a solução da essência do jogo.

E aí, o de sempre: equipes ganham e perdem sem saber por quê.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br