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O jogo de futebol tem lógica?

Todo jogo, seja ele qual for, tem uma lógica. Inexorável, soberana. O jogo de futebol não escapa a isso. 

Todo jogo, por ser jogo, traz como característica inerente, a imprevisibilidade.

No futebol, é comum que tanto lógica quanto imprevisibilidade levem “especialistas”, treinadores e torcedores à distorção da percepção dos fenômenos da complexidade do jogo.

Poucos são os esportes em que o “melhor” perde para o “pior” com tanta frequência. Quando esse fato é misturado com reflexões rasas sobre o que significa lógica do jogo, fica pronto o “pacote” e se reforça o discurso: “futebol não tem lógica, quando a gente acha que o time grande vai ganhar fácil, ele perde”.

 

Introdução aos Aspectos Táticos do Futebol“: conheça o novo curso on-line oferecido pela Universidade do Futebol

 

Para entender melhor o que quero dizer é preciso primeiramente entender que a “lógica do jogo” está no âmago do jogo; não vai fugir, escapar, desaparecer etc. e tal. Sua existência independe do adversário “A” ou “B”, independe se quem vai vencer é a equipe “X” ou a equipe “Y”, independe da minha vontade, da vossa ou de quem quer que seja.

O entendimento disso não é trivial, mas acreditar que o jogo de futebol não possui lógica é o mesmo que criar uma “sombra” capaz de ocultar o brilho da complexidade do jogo real e se distanciar cada vez mais do seu cumprimento.

Será vencedora aquela equipe que resolver melhor os problemas do jogo, aproximando-se do cumprimento de sua lógica. 

A lógica do resultado então não é aquela criada no imaginário coletivo a favor dessa ou daquela equipe e sim a aproximação ao cumprimento da lógica do jogo por uma equipe, mais do que pela outra.

A lógica do jogo não veste camisa, veste o jogo, e como o jogo é JOGO, lá sempre estará a imprevisibilidade; e é aí que mora outro perigo de interpretação e entendimento.

Nenhuma partida de futebol é igual a outra. Situações trazem a cada fração de segundo uma nova circunstância. Cada circunstância, novos problemas, e por aí vai. Nunca se sabe exatamente o que vai acontecer.

Então cumprir a lógica do jogo é também saber que não se pode tornar o imprevisível previsível, mas que entendendo a imprevisibilidade, é possível torná-la menos imprevisível.

Como nos ensina Rubem Alves “Todo pensamento começa com um problema. Quem não é capaz de perceber e formular problemas com clareza não pode fazer ciência [futebol é arte, ciência, os dois?]. (…) Não é curioso que os nossos processos de ensino de ciência se concentrem mais na capacidade do aluno para responder? Você já viu alguma prova ou exame em que o professor pedisse que o aluno formulasse o problema? O que se testa nos vestibulares, e o que os cursinhos ensinam, não é simplesmente a capacidade para dar respostas? Frequentemente, fracassamos no ensino da ciência porque apresentamos soluções perfeitas para problemas que nunca chegaram a ser formulados e compreendidos pelo aluno”.

Qual é o problema do jogo de futebol? Qual é o problema para se alcançar a lógica do jogo de futebol?

“O sábio começa do fim; o tolo termina no começo”. (Polya)

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Atos de indisciplina

Caros amigos da Universidade do Fubebol,
 
Estamos em uma semana marcada por dois atos de indisciplina. Apesar de um ter acontecido no Brasil e outro na Europa, ambos envolvem jogadores brasileiros: Diego Souza/Domingos, de Palmeiras e Santos respectivamente, e Pepe, do Real Madrid.
 
Vivemos em época de absoluta atenção, no que diz respeito à situação econômica dos clubes e ligas, e a última coisa que queremos nesse momento são mais fatos que possam afastar investidores da indústria do futebol.
 
Como é óbvio, grandes empresas querem lucrar com o futebol, através da ligação de suas marcas e imagens com o ato festivo do gol, ou o momento mágico de um belo drible. Ninguém quer ver sua imagem associada a um ato irresponsável, ou a um gesto agressivo por parte de jogadores ou torcedores.
 
Nessa medida, é óbvio que atos de indisciplina de jogadores devem ser combatidos com veemência, como deve acontecer com os casos acima citados. Aliás, foi confirmado hoje que Pepe recebeu 10 jogos de suspensão.
 
No caso do Diego Souza, temos que analisar a situação, que foi bastante diferente da agressão gratuita realizada pelo companheiro naturalizado português. No primeiro caso, a atitute de Domingos foi preponderante para o desenrolar dos fatos. Não sabemos exatamente qual era sua intenção, porém a clara impressão foi a de que o jogador do Santos ingressou no gramado exclusivamente para causar a expulsão do rival palmeirense.
 
Apesar da reação absolutamente condenável de Diego Souza, há que se condernar igualmente a provocação bastante direta de Domingos. Acredito que, apesar da maior agressão vinda do meio-campista, ambos os jogadores deveriam ser punidos em igualdade de condições.
 
Em suma, é preciso que os tribunais desportivos adotem medidas duras, porém proporcionais e coerentes, para que outros jogadores pensem duas vezes antes de tomarem certas atitudes.

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Oscilações mercadológicas

O mercado de patrocínio é complicado.

Eu só não consigo contar nos dedos o número de produtos que eu tenho do patrocinador do meu time porque eu não tenho nenhum.

E não tenho a menor vergonha disso.

Compro produtos que me sejam úteis, de marcas que eu acho que me trazem benefícios, que eu considero acima do valor que eu pago. Não compro porque a empresa estampa sua marca no uniforme do meu time. Não mesmo.

E conheço um monte de gente que pensa assim. Aposto que você conhece também.

Por essas e outras que a plataforma de patrocínio é supervalorizada. A prova é nesses momentos de revisão de investimentos. Basta olhar por aí. O mercado está diminuindo, e bastante. E nada indica que vá melhorar no curto prazo. A tendência é que só os projetos mais pomposos sobrevivam. Para o futebol, isso é péssimo.

Clubes com maior expressão, principalmente – e talvez unicamente – os de São Paulo devem continuar a ser objeto de procura por empresas. A matemática é simples. São Paulo é disparado o maior mercado do país. Se você investir só em São Paulo, você aparece pro Brasil inteiro. Se você investir no Brasil inteiro, não quer dizer que você vai aparecer em São Paulo.

As evidências estão aí. Talvez 2009 seja o ano em que mais equipes começarão o Campeonato Brasileiro sem patrocínio. Muitos clubes argumentam que não querem desvalorizar o espaço, por isso preferem não receber nada a receber menos do que os contratos anteriores. No caso, muito menos do que os contratos anteriores. O problema é que o mercado de antes estava superestimado. Deve demorar um pouco para que mercados periféricos consigam voltar ao patamar do começo do ano passado. O mercado de patrocínio varia de acordo com o humor e a competitividade do mercado em geral. Por isso que ele é meio incerto.

E também é por isso que não é muito bom superestimar a sua importância. Se o futebol brasileiro fosse mais dependente das benevolências corporativas, como era jargão até pouco tempo atrás – talvez ainda seja, a já frágil estrutura do sistema estaria seriamente comprometida.

Basta olhar para o vôlei. Deu no que deu.

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Casa cheia – parte 1

O Atlético-PR comemorou, na última terça-feira, o feito de ter todas as 22.772 cadeiras da Arena da Baixada vendidas para sócios do clube.

Muito disso se deve à própria infra-estrutura e localização privilegiada do estádio, que impulsionaram as vendas dos planos de sócio, aliados às conquistas desportivas do clube e a um modelo de gestão de sucesso – contemporâneos a sua construção.

Nesse sentido, não faltam exemplos no futebol europeu, em especial junto aos clubes ingleses, como o Arsenal e o Manchester United, que trabalham com altíssimos números de associados com direito a ingressos e taxas de ocupação dos estádios em dias de jogos perto do limite máximo.

Com efeito, esse contexto permite previsibilidade de receita para o clube, além da motivação desportiva vinda do estádio cheio e da valorização do espetáculo para todos os stakeholders envolvidos (patrocinadores, TV, veículos de comunicação, torcedores e, até mesmo, os adversários), pois o fato contribui para o incremento em valor das competições em que o clube esteja envolvido. Vale dizer, que isso dota o clube de poder financeiro direto e indireto para retroalimentar sua gestão. 

Outro exemplo de êxito no Brasil é o Internacional, com mais de 80 mil sócios em seu quadro, atualmente, e que, segundo projeção do clube, deverá atingir a meta de 100 mil até o fim do ano. Isso gera uma receita mensal estimada em quase R$ 3 milhões – o mesmo montante pago por seu patrocinador principal, mas por ano… Grande parte desses sócios têm direito a ingressos para os jogos. Por isso, o clube teve problemas para equalizar os planos de associação que dariam direito a ingresso integral frente à capacidade total do estádio Beira-Rio (em torno de 50 mil pessoas). 

Este exemplo serviria, seguramente, ao desenvolvimento do potencial do Corinthians, que “comemorou” ter alcançado dez mil sócios desde 2008 até a semana passada. Nesse caso, vê-se nitidamente a importância de um estádio para chamar de seu na vida de um clube como catalisador de receitas. 

Até aqui, o lado bom da história inspirado pela visão profissional de quem acompanha de perto o desenvolvimento da indústria do futebol.

Agora, o lado difícil inspirado por uma conversa inteligente, porém informal, com um grande amigo e sócio-torcedor do Atlético-PR desde o antigo estádio.

“Com essa realidade, quem quiser ver jogos específicos nem sequer terá opção de comprar ingresso. Além disso, para o clube é ótimo, mas para a torcida, o problema é não ter time suficientemente competitivo para disputar os campeonatos e ficar pagando todo o mês a associação”.

Instigado por seus argumentos, afirmei que concordava com a sua inquietação sobre a gestão do departamento de futebol, ao mesmo tempo em que ambos reconheciam que a estabilidade financeira para o clube é fundamental para todo e qualquer planejamento estratégico de médio e longo prazos.

Acredito que um caminho para responder algumas dúvidas sobre este dilema está no conceito de elasticidade da demanda: mudanças no mercado (vendas) quando há mudança no preço. Elasticidade é a medida de como os consumidores reagem (sensibilidade) às mudanças no preço.

Este conceito será abordado em conjunto com outras variáveis, inclusive de desempenho desportivo, para se tentar construir algo conclusivo sobre a discussão.

Em outras palavras: o que acontece quando se aumenta o preço de um produto esportivo? Como isso afeta a margem de lucro, as receitas e as vendas? E se os preços forem reduzidos? Mais ou menos consumidores comprarão os produtos? Mudar o preço garante mudança no padrão de consumo? O desempenho do clube em campo é termômetro absoluto da associação de torcedores, ou é o preço o fator essencial nessa realidade? E a inadimplência dos associados, ocorrerá por critérios meramente econômicos ou se sujeita ao sabor de vitórias e derrotas?

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Teoria da Tecnologia Esportiva II: um link entre ciência, tecnologia e sociedade

No texto inicial desta série, o foco foi para a questão da ciência e sua aproximação com o futebol. Dizíamos que:

“A ciência busca explicações e os significados dessas explicações. Essa busca permite compreender melhor os fatos e, assim, interpretar de forma mais incisiva, adequando os usos e aplicações, conforme às necessidades de quem está imerso no futebol.

A tecnologia casa perfeitamente com os preceitos da ciência e o profissional deve compreender que nada disso é teoria. Como fazer isso? Compreendendo a ‘Teoria da Tecnologia Esportiva’ para tornar sua prática, fruto de conhecimento e experiência”.

Para chegar à compreensão proposta, é necessário caracterizar o que é a tecnologia em si e quais as suas relações com a ciência, e também, como ambas constroem conhecimento aplicado ao futebol e aos esportes em geral.

Dentre as definições de tecnologia, sintetizamos e desenvolvemos nossas idéias baseados na caracterização do fenômeno como um conjunto de processos e recursos capazes de modificar e transformar a sociedade em todas as suas dimensões (sociais, políticas, econômicas, etc), buscando, desta forma, otimizar e facilitar os interesses dos seres humanos, sejam eles: melhorar qualidade de vida, precisão de diagnósticos, aumento de produtividade ou qualquer outra.

A tecnologia pode ser encarada como fruto da ciência ou como complementar a ela. Não entraremos nessa profunda e incansável discussão. Apenas delimitaremos que ambas estão muito próximas e podem juntas contribuir muito com o futebol.

Em muitos estudos que tratam da relação e dos impactos que a inserção da tecnologia traz para a vida moderna, podemos encontrar algumas questões que ilustram bem muitas coisas que ocorrem no futebol (o que é obvio, já que o futebol não está alheio à produção e aos produtos culturais da sociedade, ainda que, para alguns, ele tenha as suas próprias “leis”, mas… Voltemos aos impactos da tecnologia na vida moderna).

Tanto a tecnologia quanto a ciência não são invenções fora de contextos ou completamente equivocadas que não servem para nada. Ao contrario, são frutos de investidas de nós, seres humanos, movidos por distintos interesses em achar soluções para determinados problemas, os quais estão contextualizados no cotidiano da sociedade.

“A ciência e a tecnologia se baseiam em valores do cotidiano de cada época, que põem em questão as nossas convicções e o nosso conhecimento de mundo. Elas são, na maioria de seus aspectos, a aplicação sistemática de alguns valores humanos, tais como a diligência, a dúvida, a curiosidade, a abertura para novas idéias, a imaginação, e de outros como a disciplina e a perseverança, que precisam ser despertados em todos os seres humanos”. (BAZZO, 1998)

Essa familiaridade dos efeitos com as necessidades que os provocam são contraditórias quando a inserção de novos elementos da tecnologia causa o desconforto na rotina, conforme já tratamos em alguns textos anteriores.

Lima (2000), estudando os impactos e características da nova sociedade, a qual se denomina “sociedade digital”, fala sobre a transição da sociedade analógica, para a digital, de quando “vivíamos em um mundo onde as ideias se manifestavam de forma estruturada”, pegávamos essa estrutura e lógica e “aplicávamos a cada novo conhecimento adquirido para nos facilitar absorção das novas informações disponibilizadas” para uma sociedade na qual “o novo era tão novo ou diferente, que não tínhamos referências anteriores para fazer uso e aprender pelas diferenças e semelhanças com o já conhecido e dominado”.

Isto significa dizer que a aceitação da tecnologia passa pela compreensão das transformações nas formas de observar e entender o mundo, passando de uma lógica enraizada culturalmente, estabelecida na nossa zona de conforto, para uma era de diversidade de informações e velocidade que exige mentes mais abertas e capazes (como veremos em breve no texto que tratará do profissional frente a esses processos).

Continua…

Bibliografia

BAZZO, W. A. Ciência, Tecnologia e Sociedade e o contexto da educação tecnológica. Florianópolis: UFSC, 1998.

LIMA, F. O. A Sociedade Digital: o impacto da tecnologia na sociedade, na cultura, na educação
e nas organizações. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2000.

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A força do microfone

Qual o poder de influência da mídia no dia-a-dia do esporte? Talvez a melhor resposta para essa pergunta seja a análise da cobertura da imprensa nos finais de semana após as decisões de títulos e vaga nas finais dos campeonatos estaduais pelo Brasil.

Começamos com a polêmica Leco-Ronaldo em São Paulo. Passamos pelo duelo verbal entre Palmeiras e Sport nas “decisões” da Copa Libertadores. E encerramos nas provocações baratas entre Cuca e a torcida do Botafogo no Rio de Janeiro.

O fato é que a mídia é a principal causadora de tanta polêmica. Em busca da “notícia”, muitas vezes um veículo exagera na dose e cria uma animosidade inexistente. Foi assim, por exemplo, quando deu-se grande cartaz para os 10% a que o Corinthians teria direito como visitante do primeiro jogo contra o São Paulo no ano.

A repercussão imediata da imprensa gerou um clima que, após a classificação alvinegra do último domingo, chega a beirar o insuportável. Porque a mídia inteira foi saber de Ronaldo o que o motivou tanto na decisão. E depois foi rebater com Leco, o dirigente são-paulino, a resposta atravessada na garganta do Fenômeno.

No caso de Palmeiras e Sport, a mesma história. Se não há conflito dentro de campo, vamos tratar de inventá-lo fora dele. Será que tudo correu bem na recepção ao Palmeiras? E o Sport, foi bem tratado no jogo em São Paulo? Sem novidades? Ok, então agora vamos nos preocupar em descobrir porque o Sport vence em Pernambuco e o Palmeiras patina em São Paulo…

O fato é que o microfone é gerador constante de polêmica. E o jornalista não consegue entender que, a cada vez que ele alimenta essa discussão, cria um clima beligerante para alguns duelos que acontecem sistematicamente no futebol.

São Paulo e Corinthians voltarão a se enfrentar. Como a imprensa vai se comportar às vésperas da partida? Qual o clima que ela vai criar para os atletas, dirigentes e torcedores que lá estarão?

Palmeiras e Sport têm, pelo menos, mais dois duelos agendados pelo Campeonato Brasileiro. Da mesma forma, Botafogo e Flamengo decidem nos próximos finais de semana o título estadual e posteriormente medirão forças no Nacional.

E, ao que tudo indica, a imprensa continuará a alimentar a discórdia. Para depois apontar o dedo atrás de culpados pela selvageria que se torna uma partida de futebol… O bom senso deveria ser matéria obrigatória nas faculdades de jornalismo e, mais do que isso, dentro das redações, ávidas por audiência e/ou vendas.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Auto-organização, a tática, a estratégia e a lógica do jogo

Tenho ultimamente dedicado uma boa parte do meu tempo em estudar e tentar desvendar os “mistérios” e “segredos” do fenômeno da auto-organização no jogo de futebol. Problemas novos e desafios grandiosos têm surgido por conta disso.
 
Percebo e me aproximo cada vez mais de um sem número de pensamentos sobre o jogo de futebol que rodeiam algo comum: “o distanciamento da lógica do jogo”.
 
Quanto mais me aprofundo nas questões que orientam a auto-organização de jogadores e equipes durante os jogos, maiores e mais claras as evidências de que têm se privilegiado o cumprimento de princípios (táticos, de ação, etc.) inerentes ao jogo em detrimento da lógica inexorável que ele apresenta.
 
Em outras palavras, decisões estratégicas estão sendo subordinadas ao cumprimento de princípios do jogo, e não da lógica do jogo.
 
Então resolvi compartilhar hoje um trecho de minha tese de doutorado na pretensa intenção de que esse texto possa se tornar um grande diálogo entre escritor e leitor:
 
Trecho retirado de Leitão (2009), p.183:
 
Durante um jogo de futebol muitos conflitos internos à lógica do jogo surgem continuamente. A cada ação com ou sem bola novos desequilíbrios são causados e o jogo se torna um sistema de permanente ordem e desordem.
 
Para cada situação-problema, decisões individuais e coletivas garantem ajustes (e por vezes desajustes) que se não observados pelas lentes da complexidade podem fazer do jogo, e nesse caso do jogo de futebol, um enigma difícil de ser desvendado.
 
Como um jogo típico de estratégias simultâneas, toda ação de um jogador no futebol desencadeia uma reavaliação situacional-posicional complexa, coletiva e individual, de companheiros e adversários no sentido de uma busca permanente a organização da equipe.
 
A configuração inicial dos jogadores no campo de jogo se modifica a todo o tempo no sentido de buscar um equilíbrio coletivo, e permanentemente se reajusta conforme necessidades individuais e coletivas vão surgindo. Essas modificações são reflexo inevitável da auto-organização da equipe no jogo e se manifestam intencionalmente nas ações para a ocupação do espaço do campo em que ele se desenvolve.
 
A ocupação do espaço de jogo pelos jogadores não é obra do acaso e está carregada de significados. Esses significados orientam e justificam a movimentação de companheiros e adversários simultaneamente a todo tempo e em qualquer que seja o contexto do jogo.
 
Diversos podem ser os “sistemas norteadores” para servirem de referência e compor significado à movimentação dos jogadores. Quanto mais bem estabelecidos esses sistemas mais eficazes podem ser as auto-organizações.
 
A plataforma tática (termo mais adequado do que “esquema tático”) é uma referência espacial importante. No “senso-comum” e para “pseudo-especialistas” serve por vezes para justificar o “defensivismo” ou “ofensividade” exagerada de treinadores e equipes; e por outras tantas é tida nada mais nada menos como uma imagem estática, uma fotografia de um momento que não existe no jogo. Se a ocupação inteligente do espaço no campo pode de alguma forma colaborar para a auto-organização de jogadores e equipes pode ser a plataforma tática um elemento de grande valia na estruturação do espaço de jogo.
 
Isso não quer dizer que esta ou aquela plataforma pode ser melhor ou pior para a organização espacial da equipe. Claro, a geometria da ocupação do espaço no campo pode acentuar desequilíbrios maiores ou menores quando em confronto com outra geometria específica. Claro também que tais desequilíbrios podem ser atenuados ou resolvidos a partir de outras referências (como melhor delineamento de um princípio estrutural ou alteração de um princípio operacional).
 
Fato é que a plataforma tática pode definir uma geometria orientadora para uma auto-organização mais adequada, especialmente e principalmente se as interações entre ela, os princípios operacionais, os princípios estruturais e outras referências inerentes a um modelo de jogo possibilitarem um desenvolvimento inteligente de jogo. Isso quer dizer em outras palavras que na perspectiva da complexidade a construção sistêmica do jogar é fractal, e portanto o delineamento de plataformas, princípios ou outras referências orientadoras em conjunto só faz sentido se as suas interações forem bem compreendidas.
 
A plataforma de jogo é apenas uma das variáveis da ocupação do espaço. Não adianta a plataforma de jogo, como estrutura básica para a construção das estratégias e táticas do jogo, prever uma distribuição harmoniosa e equilibrada dentro do campo se o entendimento da lógica que a norteia não der conta de mantê-la (a distribuição) harmoniosa e equilibrada na dinâmica das ações do jogo.

 
A orientação das dinâmicas de uma partida de futebol a partir de uma plataforma de jogo é norteada por uma estrutura sistêmica maior; a lógica do jogo”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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A integridade do esporte e a verdade desportiva

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Mais uma vez nos deparamos com rumores de manipulação de resultados no futebol, com a discussão gerada em torno da classificação do Santos Futebol Clube para as semifinais do campeonato paulista.

Não vamos nesta coluna discutir se houve ou não qualquer ato, consumado ou tentado, visando a alteração da verdade desportiva nas últimas partidas do campeonato paulista de 2009, de modo a promover o Santos à fase de semifinais. Até porque entendo não haver indícios suficientes até o momento para que se levante seriamente a suspeita.

Entretanto, é preciso atentar para a questão da credibilidade do futebol profissional no Brasil. Historicamente, temos visto um processo de “limpeza” da imagem do futebol, que sempre foi associada à má administração, calote fiscal, pouca transparência nas finanças, etc. Aliada a essa imagem, temos hoje uma crise mundial basicamente causada pela perda da credibilidade na economia mundial, fulcrada em atos de ganância e pouca responsabilidade.

Nesse processo de “limpeza”, as atividades preventivas são fundamentais para evitar-se que, não só sejam afastadas atitudes indesejáveis, como também sejam erradicadas suspeitas de irregularidades infundadas.

Em outras palavras, temos que elevar o negócio do futebol a um nível de credibilidade tal, para que qualquer rumor sobre manipulação de jogos seja encarado, de início, como improvável.

No âmbito dessas medidas preventivas, podemos mencionar um maior controle para os padrões irregulares na loteria esportiva, por exemplo, e um maior monitoramento dos diversos agentes envolvidos no esporte, tais como dirigentes, árbitros, jogadores, etc.

Isso somente é possível, evidentemente, através de uma mobilização e cooperação entre organizações desportivas e autoridades públicas (que hoje já existe predominantemente na fase de reação a um ato consumado, mas que pode ainda avançar muito no que diz respeito à prevenção).

Todas essas atividades deveriam ser abertas ao público em geral, dando ao processo um caráter de transparência necessário, e propiciando um grande alcance de repercussão, tanto para a mídia, como para potenciais investidores, apoiadores e patrocinadores.

Só assim conseguiremos efetivamente aumentar o valor do produto futebol, e atrair um maior número de investidores, processo fundamental para garantir uma continuidade da viabilidade econômica dos clubes.

A partir de então, teremos de volta o princípio fundamental do direito aplicado ao futebol, de acordo com o qual todos são inocentes até que se prove o contrário, respeitando-se o princípio do devido processo legal.

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Mudança de paradigmas

Eu ia escrever um artigo sobre os 20 anos da tragédia de Hillsborough. Imagino até que você estivesse esperando que eu escrevesse sobre isso.

Eu juro que eu ia. Tava tudo na cabeça. Mas deixei pra escrever de noite. E tudo mudou.

Acho que Hillsborough pode esperar. A história não irá mudar. Tem assunto mais interessante para se discutir.

Participei, ontem, de um debate sobre a Copa de 2014, promovido pelo Jornal Gazeta do Povo, aqui de Curitiba. No meio do debate, me veio à cabeça que talvez estejamos enxergando tudo pelo lado errado da coisa. Foi conversado muito sobre a infra-estrutura da Copa. Aliás, todos falam muito sobre as condições estruturais para a Copa. Esse, porém, é o menor dos desafios para o Brasil.

Muito mais complicado do que resolver os gargalos urbanos brasileiros, está em mudar a atitude dos serviços prestados no Brasil. Eu fiquei com isso na cabeça durante o debate. Quando estava assistindo o Jornal da Globo, em casa, tudo ficou mais evidente.

A reportagem sobre o tratamento ofertado pelos seguranças do sistema de trens do Rio de Janeiro foi exemplar. Mostra exatamente como muitos serviços no Brasil não estão preparados para tratar as pessoas com civilidade. E não é só no trem, tampouco apenas no futebol. É generalizado. E isso não é uma coisa que muda de um dia para o outro.

Mais difícil do que construir metrô do centro das cidades até o aeroporto será fazer com que a cultura dos serviços públicos e, por que não, privados, no Brasil, se transforme.

Podemos ter os melhores estádios do mundo. O trânsito pode ser excelente. Mas pode ter certeza de que, se algum torcedor estrangeiro for chicoteado para caber no metrô, todo o investimento feito pela Copa será jogado no lixo.

Ficaremos parecendo uma nação de selvagens. Resta saber se isso será uma mentira.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Futebol em banda larga

Que navegar na internet é uma realidade na vida de boa parte dos indivíduos no Brasil e no mundo não é segredo nenhum.

Com efeito, o uso desta ferramenta/ meio de comunicação global tem crescido vertiginosamente, especialmente, a partir do desenvolvimento de novas tecnologias e do aumento da base de infra-estrutura, para que o conteúdo informativo da web chegue ao destinatário final.

No Brasil, 80% do acesso residencial à internet é realizado na chamada banda larga – meio de alto tráfego de informações no ambiente virtual das telecomunicações.

O país ainda sofre com limitações e problemas estruturais para uma verdadeira expansão e, porque não, democratização do acesso à rede mundial. Desde ataques de hackers aos servidores das operadoras de telefonia e dos provedores até a precariedade da rede de telefonia antiga (fios de cobre), e a falta de capilaridade das redes instaladas contribuem para esse quadro.

Por outro lado, iniciativas tecnológicas da engenharia surgem como aliadas do país rumo à inclusão digital. Wi-Fi, Wi-Max e 3G em celulares e computadores, bem como a recente aprovação da Anatel para exploração da internet via rede elétrica (presente em 99% do território nacional) possibilitam o desenvolvimento de um novo mercado virtual capaz de vivenciar taxas exponenciais de crescimento.

A descrição do panorama geral do ambiente web no Brasil, acima, evidencia uma importante faixa de transição para todos aqueles que realizam negócios por aqui. Inclusive os clubes de futebol.

O chamado e-commerce está a pleno vapor. Vale dizer que a internet já é um palco auspicioso para que os clubes a tenham como fonte de receitas a explorar.

Em especial, os clubes podem desenvolver canais de conteúdo exclusivo, pois a força de suas marcas, aliadas ao contingente de admiradores/ torcedores/ consumidores, e contando com uma plataforma tecnológica apropriada, possibilitará, por exemplo, gerar receitas diretas – por meio de assinaturas – e indiretas – via patrocínios lastreados pelo aumento contínuo de acessos. Sem contar com os efeitos colaterais positivos como, por exemplo, o apelo dos fãs por conteúdo de telefonia móvel gerado a partir da base da web TV.

Logicamente, uma questão delicada a contornar (renegociar) é a cessão de direitos às TV para exploração do conteúdo das competições, cujos atuais acordos determinam esta salvaguarda em favor das emissoras. O apelo para transmissões ao vivo dos jogos teria grande penetração junto aos consumidores. 

A WEB TV dos clubes delineia-se pois como uma inteligente plataforma de comunicação entre o clube e sua base de apoio, como geração de receitas, como ferramenta para angariar novos sócios, para valorizar os acordos comerciais com os patrocinadores e, sobretudo, para ampliar o relacionamento entre os stakeholders que orbitam ao seu redor.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br