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Sol entre nuvens

O Brasil ainda não se acostumou à disputa por pontos corridos. 

Não vai dar nem tempo de respirar e, no próximo final de semana, em meio à ressaca de jogos decisivos pelos Estaduais, pela Copa do Brasil e pela Copa Libertadores, vamos entrar na disputa do Campeonato Brasileiro.

E, até agora, ninguém falou nada sobre o principal torneio do ano. Ou, se não for tão importante quanto uma Libertadores, pelo menos é o mais longo.

Sim, eu sei, é muito chato, no meio de uma grande festa, você ficar olhando para o que ainda nem começou. Mas o fato é que o Brasileirão é uma espécie de sol entre nuvens para o torcedor e, especialmente, para a imprensa no país todo.

No Rio e em São Paulo, os dois principais mercados do país, ganharam as duas maiores torcidas do Brasil, as de Flamengo e Corinthians. Títulos que reforçam a hegemonia estadual de ambos, mas que também mascaram muito a realidade que os dois terão pela frente.

Ambos têm elencos reduzidos, com poucos jogadores em condição de serem titulares. E isso, num campeonato que dura oito meses, é fatal. São muitos jogos, muitas viagens e, também, muitas lesões que se aproximam no torneio por pontos corridos. Se um time não estiver com jogadores à altura no banco de reservas, não conseguirá chegar tão longe.

Já se vão seis anos de Brasileirão em pontos corridos. Em 2009, entraremos na sétima edição de repetição da fórmula. E, no país todo, só podemos apontar São Paulo, Inter e Cruzeiro como times que poderão ver o torneio de maneira ensolarada.

Os três sabem que é importante disputar a competição em alto nível desde o começo. E que, para manter o nível, é preciso ter mais do que 11 jogadores e outros 15 reservas. É preciso ter cerca de 15 a 20 atletas em condições de ser titulares. E, ao longo da temporada, mesclar esses jogadores para não “estourar” o time. 

Desses três, Cruzeiro e Inter ganharam seus estaduais de maneira invicta. Mesmo jogando Libertadores e Copa do Brasil simultaneamente. Sinal de que seus rivais diretos não estão no mesmo nível. 

Nesta semana virão as sempre prováveis escolhas de favoritos ao título. Não duvide que muitos dos campeões estaduais entrarão nessa lista. Mas também não pense que os jornalistas estarão de olho na capacidade aeróbica desses times para um torneio que começa em maio e vai até dezembro…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Barcelona vs Chelsea: covardia, retranca ou estratégia?

Ainda que muita gente acredite no contrário do que vou dizer, vou “contradizer o contrário”.

Em jogo válido pelas semifinais da Uefa Champions League 08/09, as equipes do FC Barcelona e do Chelsea FC se enfrentaram na Espanha, em uma partida que despertou uma série de comentários e teorias.

No “papo de arquibancada”, o de sempre: “o Barcelona dominou o jogo e merecia a vitória; o Chelsea foi uma equipe covarde que só quis se defender“; e ainda: “também se o Chelsea fosse tentar sair para o jogo não teria a menor chance“.

Antes de qualquer coisa, vou me expor à primeira polêmica. Se o Barcelona tivesse dominado o jogo não teria ele vencido a partida?

Vou esclarecer.

Há alguns anos (talvez muitos!) antes das tão midiáticas lutas de MMA (Mixed Martial Arts) lembro-me dos primeiros “combates” internacionais entre faixas-pretas que tive oportunidade de assistir (o que na época era chamado de “vale-tudo”).

Recordo-me de uma luta do brasileiro Rickson Gracie contra um “gigante” que realmente não consigo lembrar o nome. Já com algum tempo de “combate”, quando o brasileiro aparentemente dominado pelo seu oponente (apesar de uma duvidosa expressão de tranquilidade) estava, segundo o “narrador”, prestes a ser derrotado; o inesperado: seu adversário “bateu” pedindo para o árbitro interromper a luta antes que Rickson Gracie quebrasse o seu braço.

O aparentemente dominado brasileiro vencia a luta; sem precipitação, sem desequilíbrio, com um controle e um domínio sabido somente por ele.

Pois bem, voltemos ao FC Barcelona vs Chelsea FC.

O FC Barcelona é a equipe com maior número de gols feitos, menor número de gols sofridos e melhor aproveitamento em pontos de toda a Espanha até o momento em que escrevo esse texto (e dificilmente terá deixado de ser até sua publicação).

Além de rápida circulação da bola, com valorização de sua posse e constantes progressões ao gol (especialmente nas transições ofensivas), a equipe espanhola tem se destacado por uma transição defensiva extremamente intensa com referências bem definidas para imediata recuperação da posse da bola.

Como enfrentar essa aparente máquina, no seu terreno de jogo habitual? Como evitar a rápida circulação da bola e as constantes progressões ao gol nas transições ofensivas? Como evitar perder a bola depois de sua recuperação e minimizar tanto a eficiência da transição defensiva espanhola como a posterior transição ofensiva a partir de regiões perigosas do campo de jogo?

Com referências de ação bem definidas, a equipe do Chelsea conseguiu manter boa intensidade de concentração quase que em todo o jogo e fez aquilo que não parecia ser possível.

Para evitar a rápida circulação de bola do FC Barcelona, a equipe do Chelsea FC povoou, por vezes com 10 e por vezes com 11 jogadores seu campo de defesa. Com grande número de jogadores concentrados nessa região, a equipe espanhola não conseguiu realizar passes rápidos em direção ao gol – tendo então que circular a bola horizontalmente bem longe da meta defensiva da equipe inglesa.

Para evitar perder a bola próxima ao seu gol defensivo, a equipe do Chelsea FC fez a opção por um jogo de passes longos com imediata progressão ao campo de ataque quando da recuperação da posse da bola, primando mais por não tornar a perdê-la em regiões próximas a sua meta de defesa do que por “evitar perdê-la”.

Vejamos alguns dados do jogo:

É notório o fato de que o Chelsea FC abdicou de ficar com a bola. Com isso, trocou poucos passes. Como optou por um jogo de rápida progressão a sua meta ofensiva, teve mais passes longos em profundidade do que seu advsersário; com isso também errou mais.

O fato de o FC Barcelona ter ficado mais tempo com a bola – levando a equipe inglesa a “correr atrás dela” (coma fora anunciado por um “especialista”) – não teve reflexos na distância total percorrida pelas equipes no jogo.

Quando analisamos as finalizações, podemos observar que o volume da equipe espanhola foi aproximadamente seis vezes maior do que o da equipe inglesa (com boa parte delas dentro da “grande área”).

Vejamos:

Podemos extraopolar conclusões a partir desses dados e das observações do jogo na direção que nossos argumentos permitir – entendendo inclusive que o FC Barcelona levou mais perigo do que o Chelsea FC (é só olhar para as finalizações).

Eu prefiro, honestamente, dizer que quem cumpriu melhor parte dos seus objetivos foi a equipe inglesa e não a espanhola; afinal, olhando para as finalizações, eu diria que proporcionalmente ao número delas, foi o Chelsea que teve mais eficiência em chegar dentro da área, e que dado o grande número obtido pelo FC Barcelona foi essa equipe a menos competente em traduzir suas ações em gols.

Obviamente que a partir desses dados não posso convencer ninguém que o FC Barcelona não teve nem controle, nem domínio do jogo. Tão pouco que o Chelsea FC controlou a equipe espanhola. Mesmo assim, me arrisco: o jogo foi zero a zero, e apesar de ninguém ter “batido” pedindo o final do combate, o que vale mesmo é o placar final; e nesse caso para mim, foi o Chelsea que se aproximou mais dos seus objetvos…

Esperemos pelo próximo jogo.

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Soberania continental

A classificação dos cinco clubes brasileiros para a fase final da Copa Libertadores é a prova da soberania do futebol brasileiro no continente. O Brasil está para a América do Sul assim como a Inglaterra está para a Europa.

Pudera. As duas nações não apenas são aquelas que têm a moeda nacional mais forte, mas também são aquelas que possuem, de maneira mais territorialmente disseminada, mais apego ao futebol. Se na América do Sul a Argentina aparece como grande concorrente do Brasil, na Europa quem faz frente à Inglaterra é a Espanha. Mas Argentina e Espanha possuem suas forças extremamente concentradas. Na Espanha, o dueto Barcelona e Real Madrid impera. Ora um, ora outro. Na Argentina, é tudo concentrado, em Buenos Aires. Mais especificamente, pelo menos nos últimos tempos, no Boca Juniors. Nem o River faz mais tanta frente aos clubes brasileiros.

A questão é que não tem muito o que fazer. Em geral, a Inglaterra compra os melhores talentos da Europa e, consequentemente, forma as melhores equipes. No Brasil, isso não é tão evidente, mas acontece. A concentração de jogadores sul-americanos nas equipes brasileiras cresce a cada dia. Tem espaço pra crescer ainda mais.

Enquanto Brasil e Inglaterra continuarem sendo potências clubísticas e econômicas, o cenário dificilmente irá mudar.

A Inglaterra sofreu um baque feio com a crise. A libra esterlina perdeu um valor considerável em relação ao Euro. Uma eventual aceleração da decadência econômica inglesa pode dar início à perda de poder dos seus clubes de futebol. O Brasil até está sofrendo com a crise, mas nada que vá fazer o cenário mudar, uma vez que os outros países sul-americanos estão sofrendo muito mais.

Mas convenhamos, se for para depender do avanço econômico dos outros países da América do Sul, o futebol brasileiro vai reinar por muito tempo ainda.

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Sobre futebol e, sobretudo, sobre vida!

Eduardo Galeano, se não bastasse ter nos brindado há tempos com o imperdível “As Veias Abertas da América Latina“, leitura obrigatória de todos nós latinoamericanos, também nos presenteou com vários escritos sobre uma outra sua paixão, o futebol. Tenho em mãos, neste momento, a 2ª edição (2002) do seu “El Fútbol a sol y sombra“, por aqui editado pela gaúcha L&PM Editores, onde ele logo de início se diz um mendigo do bom futebol, andando pelo mundo de chapéu na mão e nos estádios suplicando por uma linda jogada…
 
Recorri a ele por conta dos recentes acontecimentos em torno do Adriano, “O Imperador“, os quais fizeram circular na internet um belo texto atribuído ao sociólogo Emir Sader intitulado “Quem está doente: Adriano ou os outros?”.

Se alguém ainda tivesse dúvidas de ser o futebol uma prática social ao mesmo tempo produtora e tradutora dos valores inerentes à sociedade no qual se encontra inserido, certamente as deixaria para trás, convencido pela sua leitura do quanto o futebol reflete a cultura de seu tempo…

 
Em seu livro, Galeano, tendo Maradona como mote, afirma que “o prazer de derrubar ídolos é diretamente proporcional à necessidade de tê-los”. Sader, por outras vias, ratifica o entendimento de seu companheiro de luta ao perguntar, para depois responder:
 
“Que sociedade é esta que – quando alguém diz que não estava feliz no meio de tanto treino, tanta pressão, tanta grana, tanta viagem, que prefere voltar à favela onde nasceu e cresceu, comprar cerveja e hambúrguer para todo mundo, ficar empinando pipa – considera que essa pessoa está psiquicamente doente e tem que procurar um psiquiatra? Estará doente ele ou os deslumbrados no meio da grana, das mulheres, das drogas, da publicidade, da imprensa, da venda da imagem?“.
        
Para não deixar dúvidas de que o conceito de normal/normalidade é construção sócio-histórica, continua Sader a tecer consideração sobre o modo de vida da sociedade do ter, que se afirma em detrimento da sociedade do ser:
 
“O normal é ter, consumir, se apropriar de bens, vender sua imagem como mercadoria, se deslumbrar com a riqueza, a fama, odiar e hostilizar suas origens, se desvincular do Brasil. Esses parecem ‘normais’. Anormal é alguém renunciar a um contrato milionário com um time italiano, primeiro colocado no campeonato de lá (…) para viver de bermuda, camiseta e sandália havaiana (…) falar como ser humano que singelamente tem a coragem de renunciar às milionárias cifras, eventualmente até pagar multar pela sua ruptura, dizer que vai ‘dar um tempo’, que não era feliz no que estava fazendo, que reencontrou essa felicidade na favela da sua infância, no meio dos seus amigos e da sua família…” 
        

Pois é… Mudando de personagem, mas não de assunto, por isso tudo é gratificante ver um Ronaldo Fenômeno ressurgir das cinzas, estampando um sorriso que não deixa dúvidas sobre a felicidade que o embala e que ele faz questão de brindar com gols e… com uma Brahma!

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Casa cheia – parte 2

Dando seguimento à última coluna, ousaremos encaminhar a discussão para um conjunto de argumentos que permitam ao leitor vislumbrar possibilidades de construir as respostas mais apropriadas à realidade de seu clube, e reproduzimos as perguntas de então por dever de cortesia e praticidade.

“Em outras palavras: o que acontece quando se aumenta o preço de um produto esportivo? Como isso afeta margem de lucro, receitas e vendas? E se os preços forem reduzidos? Mais ou menos consumidores comprarão os produtos? Mudar o preço garante mudança no padrão de consumo? O desempenho do clube em campo é termômetro absoluto da associação de torcedores, ou é o preço o fator essencial nessa realidade? E a inadimplência dos associados, ocorrerá por critérios meramente econômicos ou se sujeita ao sabor de vitórias e derrotas?”

Tais respostas podem ser obtidas pelo marketing dos clubes por estimativas racionalizadas ou pela experimentação da estratégia comercial implantada, com base na tentativa e erro.

Falando apenas da componente financeira, se a procura dos torcedores pela vinculação aos planos de sócios dos clubes continuar alta, mesmo após sucessivos aumentos anuais de preços, a demanda é considerada relativamente inelástica – em outras palavras, a mudança no impulso de consumo dor torcedores é pouco sensível à mudanças nos preços e a receita global percebida pelo clube será mantida.

Resta saber qual é a variação de preços praticados que será suportada pelos torcedores sem que isso se traduza em queda de interessados em se associar aos clubes. Se isso ocorrer, tem-se a demanda relativamente elástica – mudar o preço acarreta mudança oposta na receita obtida pelo clube.  

Abordada a principal vertente conceitual de elasticidade da demanda, devem-se apontar quais os fatores de influência sobre esta variação provocada no resultado entre preços x demanda por planos de associação.

 

1. produto de necessidade ou de luxo: associar-se ao seu clube de futebol e pagar uma mensalidade para assistir aos jogos é obrigatório ou opcional? Se for obrigatório, mudar os preços pode causar mudança na demanda. Se for tido como opcional, não será muito sensível.

2. substitutabilidade do produto: os torcedores consideram como experiência equivalente participar de um campeonato de futebol amador, muito bem organizado, e pago, como algo que pode substituir a experiência de acompanhar seu clube no estádio?

3. freqüência de compra: este aspecto é diretamente proporcional à necessidade. Quanto mais o torcedor entende como necessária a associação, mais sensível à mudança de preços.

4. renda: quanto mais dinheiro o torcedor economicamente ativo recebe, mais dinheiro, em tese, sobrará para gastos supérfluos como lazer e recreação (futebol). No Brasil, pesquisas do IBGE apontam uma margem muito pequena dos orçamentos familiares disponíveis e dirigidos a esta rubrica.

5. economia: a conjuntura econômica, seja ela nacional ou internacional afeta em muito a realidade e a percepção do consumidor. Quem tem emprego e dinheiro, economiza em tempos difíceis. Quem não tem, não pode gastar.

6. fidelidade à marca: ponto pacífico em favor dos clubes. Resta empreender esforços para ampliar e, depois, manter a base de consumidores fidelizados.

7. concorrência: planos de sócios que dão direito a acompanhar os jogos no próprio estádio sofrem com muita concorrência. Ir ao cinema (no shopping); assistir pela TV ao futebol; campeonatos internacionais das principais ligas; shows musicais; peças de teatro; ficar em casa por razões de (in) segurança.

8. qualidade do produto: aqui, futebol e marketing se encontram. A equipe montada pelo meu clube para a temporada desse ano é competitiva? Tem estrelas no elenco? Vale a associação para a temporada toda ou seria melhor escolher os melhores jogos? Ainda, vale pagar mais nesse ano para o mesmo time sofrível da temporada anterior?

9. variação da demanda com o tempo: é necessário apressar-se para se tornar associado do clube, sob pena de ficar de fora do contingente de pessoas com direito a ir aos jogos? O universo de interessados é maior que a oferta de cadeiras?

 

Devemos tomar cuidado com o conteúdo acima. Ele pode ser explosivo e libertário, caso os torcedores tenham acesso a ele por meios panfletários e se reconheçam nos questionamentos sobre se vale a pena gastar seu suado dinheiro e se associar aos seus clubes do coração.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Zezinho do Scout: o inexplicável fator Ronaldo. Será?

Olá, amigos!

Muitos falam sobre ele, e nesta “Ronaldomania” fica cada vez mais evidente e batido nos assuntos futebolísticos pelo mundo afora a genialidade de Ronaldo. Vagner Mancini disse, quando o Corinthians marcou seu segundo gol (o primeiro de Ronaldo no jogo), que não dava para deixar ele livre nem por um segundo sequer. Pelé, torcedores, jornalistas, especialistas e tantos outros, inclusive esse que vos escreve, se rendem e se encantam de ver tal genialidade de perto, afinal é cada vez mais difícil termos isso nos campos brasileiros.

Mas e o scout? Será que não nos ajudaria a ter alguma informação das características tanto do jogador, quanto das equipes envolvidas?

Lembro para os amigos que criticam exacerbadamente o uso dos scouts por dizer que o futebol não é passível de estudo, assim como aqueles que o defendem como salvador da pátria, como se fosse o scout o verdadeiro “Fenômeno” – é “apenas” uma ferramenta de análise que pode e muito contribuir com a leitura e intervenção em jogo.
 
Cabe ao profissional fazer o melhor uso possível (veremos mais sobre isso no terceiro capitulo da série “teoria da tecnologia esportiva”).

Assim, vamos observar algumas informações. A seguir, o quadro de posicionamento efetivo dos jogadores a cada 15 minutos de jogo (para maiores elucidações sobre o que é posicionamento efetivo, ver coluna do dia 27/01/2009, intitulada Zezinho do Scout: Fluminense toma virada na estreia)

0-15 minutos

15-30 minutos

30-45 minutos

45-60 minutos

60-75 minutos

75-90 minutos

Corinthians – de contorno preto, ataca para a esquerda
Santos – inteiramente branco, ataca para a direita

Vejam que Ronaldo (9) em grande parte do jogo não aparece com um jogador adversário contrapondo suas ações próximo a ele. E quando isso acontece, ele cai mais pelas laterais do campo, afastando seu marcador do centro da área, como no período de 30-45 minutos, quando o jogador mais próximo que contrapõe as ações é Fabiano Eller (6), pelo setor esquerdo da defesa, e no período de 60-75 minutos, com Fabão (2), pelo setor direito da defesa santista.

O Santos

Nesta ótica, o Santos apresentou uma certa liberdade de ações, que permite ao jogador pensar e agir.

Do ponto de vista geral, qualquer atacante não pode receber tal espaço: é necessário que se diminua, ou ainda que evite que a bola chegue aos seus pés (o que no caso é muito mais sensato), ainda que a bola chegue fruto de uma bola quebrada na defesa (chutão do Chicão).

E talvez pela falta de humildade, e não digo isso do Santos especificamente, nem tampouco do técnico Vagner Mancini, que, como já disse anteriormente e reforço, é um treinador promissor em minha opinião, mas me refiro a todos os técnicos e jogadores: falta reconhecer que Ronaldo de fato é diferenciado.

Reconhecer não apenas no discurso de torcedor e fã, mas no campo. Às vezes, técnicos e jogadores embalam no discurso apaixonado pelo mito Ronaldo e esquecem de que não podem dar espaço para ele e, mais do que isso, tem de ser feita uma estratégia para minimizar os riscos de ele tocar na bola. 

No livro Cestas Sagradas, do técnico de basquete americano Phill Jackson, ele conta a magia que Michael Jordan exercia nas quadras inclusive para seus companheiros de equipe. Vale a comparação com o momento vivido por Ronaldo, no Corinthians.

Como fazer? Aí que entra a capacidade de o profissional utilizar a informação e o recurso tecnológico. A informação esta aí: Ronaldo estava atuando com certa liberdade, cabe a compreensão e filosofia de jogo de cada um achar a melhor alternativa, seja marcação individual, marcação mista, marcação com cobertura, enfim… o que não dá é deixá-lo da forma que foi em grande parte do jogo.

O Corinthians

No começo, a preocupação com a chegada de Ronaldo era a dependência, em alguns jogos, e a equipe mostrou-se resistente a isso, tendo inclusive Douglas adquirido uma certa birra com o torcedor por não passar a bola para o atacante em lances-chave (caso mais expressivo contra o Itumbiara).

Com o passar do tempo, o técnico Mano Menezes relembra a postura de Parreira com Romário na seleção campeã do mundo de 1994, na qual foi assumida claramente a importância do jogador e do esquema planejado para aproveitar ao máximo as características do Baixinho.

O Corinthians assimilou isso e tem cada vez mais incorporado ao seu estilo uma forma de jogar que encaixa Ronaldo como peça primordial, e o que pode ser uma desvantagem quando se analisa pelo fator dependência do atacante, pode ser encarado como um fator benéfico quando desenvolve outras características em outros atletas que modificam sua forma de atuar e aperfeiçoam seus estilo e variáveis de jogo, atuando com um atlet
a de referência técnica e genial.

Ronaldo

Genialidade? Com certeza sim, pois Kléber Pereira, um exímio finalizador, teve em alguns momentos uma boa liberdade de ação, mas não a eficiência de Ronaldo.

No quadro a seguir, mostramos a área de atuação dos dois camisas 9.

Área de atuação de Ronaldo

Área de atuação de Kléber Pereira

Ambos atacando para a direita

Observem como Ronaldo apresenta uma atuação mais distribuída no campo. Convido-os a acompanhar algum jogo dele observando seu deslocamento sem bola, momentos antes de receber um passe. É nítida a percepção e compreensão das linhas de passes que o jogador tem, facilitando o passador a encontrá-lo, e ainda desequilibrando o balanço defensivo do adversário através de seu deslocamento em campo.

Ronaldo quebra uma visão de que o deslocamento é fruto de condição física, única e exclusivamente. Mostra que a percepção do que ocorre em torno ajuda a construir um posicionamento adequado no momento propício (é nesse ponto que os jogadores corintianos estão aprendendo a jogar com Ronaldo)

Mais alguns números do Fenômeno:

·         Ronaldo foi responsável por 9% dos passes da equipe

·         Ronaldo teve 24% das bolas perdidas do Corinthians (ao lado de Morais, que teve outros 24%). Bolas perdidas indicam a ação direta do adversário em desarmá-lo, o que mostra que ainda que tenha na maior parte do tempo recebido espaço da defesa santista, teve duelos com alguns adversários, muitas vezes abrindo espaço para outros companheiros e destacando ainda mais o volume de jogo da equipe em sua função

·         Ronaldo recebeu 25 passes de seus companheiros no decorrer do jogo

·         Foi responsável por recuperação da posse de bola em três ocasiões, sendo duas no campo ofensivo (pode parecer pouco, mas relembremos o primeiro gol do Brasil na Copa do Mundo de 2002, quando ele desarma, passa para Rivaldo e depois aproveita o rebote do goleiro). 

Ronaldo é, sim, inexplicável, imprevisível, mas é possível observar que algumas características têm se repetido nesses poucos jogos e muitos gols pelo Corinthians.

No discurso, exaltamos o Ronaldo dos bons e velhos tempos. Na prática, esquecemos que ele é genial, e como todo gênio sabe se adaptar às novas condições que lhe são impostas (como as condições físicas atuais), e assim continuar fenomenal.

Ficamos com a mente e análise comprometidas, por não entender (nem sequer tentamos) sua forma de jogar hoje, e pensando que temos de marcá-lo como se ele fosse o mesmo de 2002 – as características são outras, a forma de jogar se adaptou, mas a genialidade é a mesma.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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O profeta

“É só eu voltar a jogar, fazer um gol e todo mundo esquece o que passou. Eu volto a ser o Ronaldo Fenômeno”.

Em junho do ano passado, talvez nem mesmo Ronaldo acreditasse nas palavras ditas ao Fantástico logo após o escândalo em que se envolveu com travestis.

De melhor do mundo em 2002, numa inacreditável recuperação após dois anos parado, Ronaldo havia se transformado praticamente num ex-atleta. Como sempre impiedosa, a imprensa sentenciou naquela época um futuro para Ronaldo parecido ao de Garrincha, que morreu na miséria, corroído pelo alcoolismo.

Nesta segunda-feira, Ronaldo está muito mais próximo do Fenômeno de 2002 do que do “Fantasma” de 2008. E qual o motivo para isso? Ele mesmo já disse. É o gol.

Para a imprensa, o Fenômeno voltou. E mostrou que está realmente de volta no espetáculo de domingo na Vila Belmiro, quando fez dois dos três gols que praticamente dão o título do Campeonato Paulista para o Corinthians.

O mesmo Paulista que há dois meses era chamado de “Paulistinha”. E que agora, por ter tido os quatro grandes nas semifinais, voltou ao status de “Paulistão”.

E Ronaldo voltou a ser o gênio da bola. Sim, porque o “profeta” Ronaldo disse muito bem há cerca de um ano, quando era considerado uma pessoa acabada não só para o futebol, mas até para a vida.

“É só fazer um gol que tudo isso acaba”.

O julgamento desprovido de razão da imprensa mostra bem que Ronaldo é, de fato, um fenômeno. A ponto de profetizar o comportamento dos jornalistas. Tão manjado quanto mais um capítulo do retorno de um dos maiores centroavantes do futebol mundial. 

Se bobear, agora Ronaldo será endeusado até por se encontrar com travestis…

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O jogo de futebol tem lógica?

Todo jogo, seja ele qual for, tem uma lógica. Inexorável, soberana. O jogo de futebol não escapa a isso. 

Todo jogo, por ser jogo, traz como característica inerente, a imprevisibilidade.

No futebol, é comum que tanto lógica quanto imprevisibilidade levem “especialistas”, treinadores e torcedores à distorção da percepção dos fenômenos da complexidade do jogo.

Poucos são os esportes em que o “melhor” perde para o “pior” com tanta frequência. Quando esse fato é misturado com reflexões rasas sobre o que significa lógica do jogo, fica pronto o “pacote” e se reforça o discurso: “futebol não tem lógica, quando a gente acha que o time grande vai ganhar fácil, ele perde”.

 

Introdução aos Aspectos Táticos do Futebol“: conheça o novo curso on-line oferecido pela Universidade do Futebol

 

Para entender melhor o que quero dizer é preciso primeiramente entender que a “lógica do jogo” está no âmago do jogo; não vai fugir, escapar, desaparecer etc. e tal. Sua existência independe do adversário “A” ou “B”, independe se quem vai vencer é a equipe “X” ou a equipe “Y”, independe da minha vontade, da vossa ou de quem quer que seja.

O entendimento disso não é trivial, mas acreditar que o jogo de futebol não possui lógica é o mesmo que criar uma “sombra” capaz de ocultar o brilho da complexidade do jogo real e se distanciar cada vez mais do seu cumprimento.

Será vencedora aquela equipe que resolver melhor os problemas do jogo, aproximando-se do cumprimento de sua lógica. 

A lógica do resultado então não é aquela criada no imaginário coletivo a favor dessa ou daquela equipe e sim a aproximação ao cumprimento da lógica do jogo por uma equipe, mais do que pela outra.

A lógica do jogo não veste camisa, veste o jogo, e como o jogo é JOGO, lá sempre estará a imprevisibilidade; e é aí que mora outro perigo de interpretação e entendimento.

Nenhuma partida de futebol é igual a outra. Situações trazem a cada fração de segundo uma nova circunstância. Cada circunstância, novos problemas, e por aí vai. Nunca se sabe exatamente o que vai acontecer.

Então cumprir a lógica do jogo é também saber que não se pode tornar o imprevisível previsível, mas que entendendo a imprevisibilidade, é possível torná-la menos imprevisível.

Como nos ensina Rubem Alves “Todo pensamento começa com um problema. Quem não é capaz de perceber e formular problemas com clareza não pode fazer ciência [futebol é arte, ciência, os dois?]. (…) Não é curioso que os nossos processos de ensino de ciência se concentrem mais na capacidade do aluno para responder? Você já viu alguma prova ou exame em que o professor pedisse que o aluno formulasse o problema? O que se testa nos vestibulares, e o que os cursinhos ensinam, não é simplesmente a capacidade para dar respostas? Frequentemente, fracassamos no ensino da ciência porque apresentamos soluções perfeitas para problemas que nunca chegaram a ser formulados e compreendidos pelo aluno”.

Qual é o problema do jogo de futebol? Qual é o problema para se alcançar a lógica do jogo de futebol?

“O sábio começa do fim; o tolo termina no começo”. (Polya)

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Atos de indisciplina

Caros amigos da Universidade do Fubebol,
 
Estamos em uma semana marcada por dois atos de indisciplina. Apesar de um ter acontecido no Brasil e outro na Europa, ambos envolvem jogadores brasileiros: Diego Souza/Domingos, de Palmeiras e Santos respectivamente, e Pepe, do Real Madrid.
 
Vivemos em época de absoluta atenção, no que diz respeito à situação econômica dos clubes e ligas, e a última coisa que queremos nesse momento são mais fatos que possam afastar investidores da indústria do futebol.
 
Como é óbvio, grandes empresas querem lucrar com o futebol, através da ligação de suas marcas e imagens com o ato festivo do gol, ou o momento mágico de um belo drible. Ninguém quer ver sua imagem associada a um ato irresponsável, ou a um gesto agressivo por parte de jogadores ou torcedores.
 
Nessa medida, é óbvio que atos de indisciplina de jogadores devem ser combatidos com veemência, como deve acontecer com os casos acima citados. Aliás, foi confirmado hoje que Pepe recebeu 10 jogos de suspensão.
 
No caso do Diego Souza, temos que analisar a situação, que foi bastante diferente da agressão gratuita realizada pelo companheiro naturalizado português. No primeiro caso, a atitute de Domingos foi preponderante para o desenrolar dos fatos. Não sabemos exatamente qual era sua intenção, porém a clara impressão foi a de que o jogador do Santos ingressou no gramado exclusivamente para causar a expulsão do rival palmeirense.
 
Apesar da reação absolutamente condenável de Diego Souza, há que se condernar igualmente a provocação bastante direta de Domingos. Acredito que, apesar da maior agressão vinda do meio-campista, ambos os jogadores deveriam ser punidos em igualdade de condições.
 
Em suma, é preciso que os tribunais desportivos adotem medidas duras, porém proporcionais e coerentes, para que outros jogadores pensem duas vezes antes de tomarem certas atitudes.

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Oscilações mercadológicas

O mercado de patrocínio é complicado.

Eu só não consigo contar nos dedos o número de produtos que eu tenho do patrocinador do meu time porque eu não tenho nenhum.

E não tenho a menor vergonha disso.

Compro produtos que me sejam úteis, de marcas que eu acho que me trazem benefícios, que eu considero acima do valor que eu pago. Não compro porque a empresa estampa sua marca no uniforme do meu time. Não mesmo.

E conheço um monte de gente que pensa assim. Aposto que você conhece também.

Por essas e outras que a plataforma de patrocínio é supervalorizada. A prova é nesses momentos de revisão de investimentos. Basta olhar por aí. O mercado está diminuindo, e bastante. E nada indica que vá melhorar no curto prazo. A tendência é que só os projetos mais pomposos sobrevivam. Para o futebol, isso é péssimo.

Clubes com maior expressão, principalmente – e talvez unicamente – os de São Paulo devem continuar a ser objeto de procura por empresas. A matemática é simples. São Paulo é disparado o maior mercado do país. Se você investir só em São Paulo, você aparece pro Brasil inteiro. Se você investir no Brasil inteiro, não quer dizer que você vai aparecer em São Paulo.

As evidências estão aí. Talvez 2009 seja o ano em que mais equipes começarão o Campeonato Brasileiro sem patrocínio. Muitos clubes argumentam que não querem desvalorizar o espaço, por isso preferem não receber nada a receber menos do que os contratos anteriores. No caso, muito menos do que os contratos anteriores. O problema é que o mercado de antes estava superestimado. Deve demorar um pouco para que mercados periféricos consigam voltar ao patamar do começo do ano passado. O mercado de patrocínio varia de acordo com o humor e a competitividade do mercado em geral. Por isso que ele é meio incerto.

E também é por isso que não é muito bom superestimar a sua importância. Se o futebol brasileiro fosse mais dependente das benevolências corporativas, como era jargão até pouco tempo atrás – talvez ainda seja, a já frágil estrutura do sistema estaria seriamente comprometida.

Basta olhar para o vôlei. Deu no que deu.

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