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A Universidade Corporativa e o futebol

As discussões sobre futebol são infindáveis. Distintos olhares, diferentes perspectivas e opiniões frequentemente proporcionam a interpretação do produto final de um clube, o nível de jogo de futebol apresentado, de inúmeras maneiras.

Exemplificando, para uns, o nível de jogo apresenta limitações físicas; para outros, o problema da qualidade incide na deficiência das finalizações. Se considerarmos, dentro de um mesmo clube, para o mesmo jogo, ainda encontraremos opiniões como: a equipe tem muita garra, erra muitos passes, marca errado, movimenta bastante, faz poucos cruzamentos, etc.

Num olhar fragmentado é usual o nível de jogo apresentado se restringir a um ou outro elemento que generaliza o desempenho. Porém, diversos estudos nos apontam que a performance esportiva é, e sempre será, multifatorial.

Uma vez que sabemos o quão conflitante é discutir a modalidade e que inúmeros são os fatores que afetam o desempenho, qual solução deve ser encontrada pelos clubes para promover um ambiente de discussões favorável ao crescimento profissional de seus colaboradores? Tal crescimento profissional e, consequentemente, da instituição, possibilita um alinhamento de conceitos que, se bem conduzidos, favorecem a construção do futebol moderno, praticado por clubes de elite do futebol mundial.

A solução reside na formação de grupos de estudos propostos pelo gestor da área técnica do clube, responsável pelas diretrizes de trabalho das categorias iniciais (sub-11, 12 e 13) ao profissional. O conceito de capacitação continuada, aplicado em muitas empresas, precisa ser estendido ao futebol.

Vejamos algumas reflexões que apontam para esta questão independentemente do cargo que você ocupa:

O investimento em formação está cada vez mais frequente, no entanto, será que todos os profissionais de sua instituição enxergam cada jogo de futebol de maneira semelhante?

O clube já tem definido um projeto de futebol? Cada categoria possui conteúdos norteadores para o desenvolvimento do trabalho ou fica a critério de cada comissão qual Jogar será construído.

O técnico da categoria sub-17 do clube tem ciência daquilo que está sendo trabalhado na categoria anterior?

O clube pratica uma discussão multidisciplinar sobre o desempenho de cada um dos atletas inserido no projeto?

Como os profissionais do clube lidam com os constantes avanços tecnológicos e ferramentas que permitem uma análise precisa do desempenho da equipe?

O clube capacita seus treinadores para a difícil tarefa de gerenciar pessoas?

Existem discussões formais sobre cases de sucesso que podem ser estudados e interpretados para analisar elementos que sejam adaptáveis à realidade do clube?

O clube possui uma bibliografia básica que todo funcionário da área técnica deve ter acesso para sua atuação profissional?

Existe um procedimento de capacitação das diferentes funções de uma comissão técnica, de modo que se mantenham as especialidades, mas que amplie o olhar global para o jogo?

Estas são apenas algumas questões que, se respondidas, podem mostrar o cenário atual de capacitação dos gestores de campo. Seguramente, o clube que conseguir colocar em prática o incentivo ao estudo, as discussões construtivas e ao alinhamento de opiniões dará passos significativos à sustentabilidade.

A vantagem competitiva é pré-requisito para o sucesso esportivo. Para alcançá-lo, está cada vez mais difícil consegui-lo sem capacitação. A capacitação específica de um clube não está nas salas de aula das universidades e tampouco no empirismo da prática repetitiva. Que cada clube de futebol defina suas metas e encontre seus caminhos para alcançá-las.

O caminho da educação continuada pode até ser o mais demorado, no entanto, quem vai mais devagar geralmente vai mais longe.

Abraços e até a próxima semana.

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Fernandinho e a inscrição no Mundial de Clubes: aspectos jurídicos

O mais importante torneio de clubes do mundo se aproxima e junto com ele uma indagação jus-desportiva bastante interessante. O atleta Fernandinho poderá ou não ser inscrito para o Mundial de Clubes da Fifa?

No que tange à inscrição dos atletas, em uma tradução livre, assim dispõe o regulamento do Mundial de Clubes em sua cláusula 23 :

1 . Um jogador é elegível para jogar na Copa do Mundo desde que ele esteja devidamente registrado para o seu clube de acordo com o Regulamento da Fifa sobre o Estatuto e a Transferência de Jogadores, bem como com os regulamentos da Associação (Confederação) do clube participante. Portanto, os requisitos que devem ser cumpridos para que um jogador seja elegível para participar da Copa do Mundo incluem, mas não estão limitados a:

a) inscrição como amador ou profissional na Associação (Confederação) do clube participante durante o período de inscrição fixado pela associação ou fora do período de registo, se a exceção estiver listada no Regulamento da FIFA sobre o Estatuto ea Transferência de Jogadores;

b) a adesão à limitação de inscrições, com clubes diferentes e participação em jogos oficiais com vários clubes durante uma temporada, conforme estabelecido pelos regulamentos da FIFA sobre o Estatuto ea Transferência de Jogadores,

c) se o jogador estiver inscrito como profissional, deve existir contrato de trabalho escrito que vincule o jogador profissional ao seu clube e atender às exigências relativas comprimento mínimo e máximo .

2 . Os protestos relativos à elegibilidade dos jogadores (cf. art. 9 par. 3 do Regulamento ) serçai decididos pelo Comitê Disciplinar da Fifa, de acordo com o Código Disciplinar da Fifa .

3. Os clubes participantes são os únicos responsáveis pela relação de jogadores elegíveis . Não cumprimento levará às consequências previstas no Código Disciplinar da Fifa.

A “janela de transferências internacionais” do futebol brasileiro terminou no dia 19 de julho de 2013, ou seja, data limite para contratação de jogadores elegíveis para o Mundial.

Fernandinho assinou contrato de trabalho antes do encerramento da “janela de inscrições”, mas o seu nome somente foi publicado no BID em 14 de agosto de 2013 .

O BID corresponde ao Boletim Informativo Diário-Eletrônico da CBF e, segundo o Regulamento Geral das Competições, o atleta somente terá condição de jogo após a divulgação de seu contrato neste Boletim, veja-se?

Art. 33 – Somente poderão participar das competições os atletas que tenham os seus contratos registrados na Diretoria de Registros e Transferências – DRT, observados os prazos e condições de registro definidos no REC.

Art. 34 – A DRT publicará o Boletim Informativo Diário-eletrônico – BID-e, disponível em seu site, no qual constarão os nomes dos atletas cujos contratos tenham sido registrados pelo clube contratante.

De um lado tem-se a existência do contrato de trabalho antes do fechamento da “janela de transferências” e, de outro, o procedimento burocrático da CBF para que o atleta tenha condição de jogo em competições nacionais.

Destarte, o Clube Atlético Mineiro cumpriu o item 1, da cláusula 23 do regulamento do Mundial ao firmar com o atleta contrato de trabalho dentro do período de transferências internacionais.

Assim, por mais que a publicação do BID tenha sido posterior à “janela”, o atleta já estava devidamente vinculado ao Clube em data anterior a 19 de julho de 2013.

Além disso, há de se destacar que um dos princípios que rege o desporto é o “par condition”, ou seja a paridade de condições de disputa. Ou seja, para que exista uma competição esportiva, é indispensável que os critérios de disputa sejam equivalentes.

Ora, torna-se necessária a igualdade de tratamento, uma vez que a “janela de transferência” de outros países tem períodos distintos. Na Alemanha, por exemplo, pode-se contratar até 31 de agosto.

Vale destacar que o Clube Atlético Mineiro somente recebeu o regulamento oficial da competição no dia 02 de agosto, ou seja, após o “fechamento da janela”.

Diante de todo o exposto, conclui-se que a medida jurídica mais adequada será a aceitação da inscrição do meia Fernandinho. Urge destacar que, se em um primeiro momento parece se tratar de uma demanda do Clube Atlético Mineiro, analisando-se mais profundamente constata-se que a questão é de interesse de todo e qualquer clube brasileiro que um dia venha a disputar a competição.

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2014 já começou, mas muitos clubes ainda não perceberam

Ao se aproximar o fim do mês de novembro de 2013, devemos nos alertar de que na verdade o ano de 2014 para o futebol já começou.

Nos dias atuais do futebol no Brasil, não existe mais espaço para postergar planejamentos e pensar no ano seguinte apenas quando este se inicia.

A hora de avaliar os resultados globais do clube é agora e para isso deve-se avaliar os resultados relacionados à gestão administrativa do futebol e à gestão técnica do futebol no ano que se encerra.

Na gestão administrativa, deve-se os resultados em relação as seguintes metas, por exemplo:

• Em relação aos objetivos financeiros do clube na temporada;
• Em relação aos objetivos administrativos do clube;
• Em relação ao aumento do quadro de associados;
• Em relação a qualidade dos produtos e serviços do clube (entendo os torcedores e associados como clientes).

Na gestão técnica, deve-se avaliar os resultados em relação as seguintes metas, por exemplo:

• Desempenho esportivo da equipe de futebol profissional na temporada; tanto na conquista de títulos quanto aos resultados quantitativos de vitórias;
• Desempenho esportivo das equipes das divisões de base.

Após essas análises, se inicia o planejamento para os objetivos do próximo ano, tanto em temas administrativos quanto em relação aos temas técnicos. Com os objetivos definidos, traçam-se as metas no âmbito administrativo e esportivo, elaboram-se os projetos necessários para promover o alcance das metas e os pontos de controle e revisão destas metas para avaliação de possíveis correções de curso no decorrer do ano que se apresenta.

No âmbito esportivo é fundamental avaliar as oportunidades reais de aproveitamento dos atletas da base no elenco profissional, compreendendo as verdadeiras necessidades e carências para se buscar no mercado estas reposições de forma que os objetivos possam ser buscados.

Neste ponto, ressalto a importância do clube possuir uma área de inteligência esportiva com informações de atletas, brasileiros e estrangeiros, tanto quanto as suas características físicas e técnicas mas também quanto as suas características comportamentais; uma vez que as características comportamentais dos atletas irão compor as características comportamentais do grupo e estas precisarão estar em alinhamento com os objetivos esportivos que o clube deseja.

Vale lembrar a importância de se criar uma identidade do time com o clube, conseguindo o engajamento dos torcedores e associados (fans) pela imediata identificação que este time criará com todos os envolvidos no clube através de seus comportamentos e de seus resultados.

Bem, para os clubes que ainda esperam o ano acabar para pensar no próximo é tempo de despertar, se preparar para ter profissionais dedicados a este fundamental trabalho de planejamento e que certamente trará resultados extremamente positivos.

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Pontos Corridos

É sempre assim: quando o campeão do Campeonato Brasileiro é conhecido de forma antecipada, vem à tona o debate sobre o formato da competição, se não deveria ter uma grande final ou uma fase de “mata-mata” para conhecer o grande vencedor.

Eis uma discussão pautada unicamente no campo emocional. Se levarmos para um sentido estritamente racional, percebe-se o enorme avanço que a disputa por pontos corridos trouxe para o futebol brasileiro.

A começar pelo crescimento das receitas dos clubes. Depois, permitiu ter maior segurança e respaldo para o planejamento de uma temporada.

Por fim, a tão propalada “emoção” existe em diversas áreas da tabela – e só para relembrar, no ano passado, tínhamos mais de 3 equipes que na reta final do campeonato brigavam pelo título nacional.

Mas o que precisamos melhorar? Sobretudo o calendário, uma vez que este impactará em diversos outros aspectos da organização da temporada pelos clubes.

Primeiro, se permitirá que os clubes passem a valorizar mais a disputa do Campeonato Brasileiro (neste ano, temos outras duas finais sobrepondo-se ao término da competição).

Consequentemente, tal solução possibilitará a entrega de um espetáculo melhor para o torcedor, pela diminuição de jogos enfadonhos e passando a ter uma valorização das disputas mais relevantes.

Por fim, a ampliação das possibilidades de se aferir receitas, partindo-se do simples conceito de que “menos é mais” (menos jogos, de maior importância, é igual a maior interesse do público, da mídia e de patrocinadores).

Enfim, a disputa por pontos corridos é fundamental para servir de base para a formatação de uma temporada. É preciso fazer ajustes finos para que se entregue cada vez mais um espetáculo de qualidade para o torcedor.

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A comunicação nas decisões de gestão

No mundo ideal, toda decisão deveria passar pela comunicação. Não, é claro que nem tudo deve ser submetido aos interesses da comunicação. No entanto, é impossível que as grandes organizações, em um mundo absolutamente conectado, ainda escolham caminhos que não têm relação com a estratégia e os interesses de suas marcas.

Ora, a questão do estádio que abrigará o segundo jogo das semifinais da Copa Sul-Americana também é um problema de comunicação. O regulamento da competição estabelece uma capacidade mínima de 20 mil lugares para estádios usados a partir das oitavas de final, e o Moisés Lucarelli, casa da Ponte Preta, não comporta esse contingente.

Em duas fases da competição, portanto, a Ponte Preta já havia usado o estádio que não cumpre a capacidade do regulamento. Nas oitavas de final, aliás, cinco dos oito locais que receberam jogos estavam abaixo do tamanho mínimo para a competição.

O São Paulo fez então um apelo à Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). A entidade consultou Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e Federação Paulista de Futebol (FPF) sobre a capacidade do Moisés Lucarelli, e as duas entidades atestaram que o estádio está aquém dos 20 mil lugares.

Pela primeira vez na história, a Ponte Preta vai disputar neste ano uma semifinal de uma competição internacional. E nesse momento tão especial, o torcedor da equipe de Campinas terá de viajar até Mogi Mirim para acompanhar o clube.

Mais do que isso: o patrocinador que investiu durante anos no Moisés Lucarelli terá de montar um novo aparato para o momento de maior retorno desse aporte. Ações de ativação e exposição que estavam prontas no estádio de Campinas terão de ser repensadas em Mogi Mirim.

E os serviços, então? Camarotes e espaços para relacionamento terão de ser remanejados. Tudo isso, vale repetir, em um dos momentos mais importantes da história do clube.

É claro, alguém pode responder que o Moisés Lucarelli, como quase todos os estádios mais velhos do Brasil, já não tinha uma estrutura adequada para atender a todos esses pontos. Ainda assim, o equipamento tinha um modelo pronto de trabalho para dias de jogo.

Uma mudança de estádio afeta, portanto, muito mais do que os torcedores que terão de se deslocar de Campinas a Mogi Mirim. Trata-se de um planejamento inteiro a ser refeito. E planejar, convém lembrar, custa dinheiro.

Mas o estádio da Ponte Preta não cumpria o regulamento. E aí está um erro enorme da Conmebol: a entidade não podia atribuir aos clubes o dever de fiscalização de uma competição que ela organiza. Se o Moisés Lucarelli não tem condições, que tivesse sido vetado antes.

Permitir que um campeonato seja submetido a esse tipo de debate é menosprezar todas as coisas envolvidas em uma mudança de sede de um jogo. Repito: não é apenas uma viagem de 20 mil pessoas, mas de um aparato e de uma equipe que lida com ele.

A mensagem que a Conmebol passa nesse caso é assustadora. Quais serão os outros pontos do regulamento que a entidade permite que sejam desrespeitados, desde que ninguém reclame? É a cultura da permissividade.

E aí entra o São Paulo. O time do Morumbi apenas exigiu que o regulamento fosse cumprido. E não há nada errado em brigar pelo que está escrito. Antes de participar do campeonato, todos assinaram um documento concordando com essas regras.

A questão, mais uma vez, é mais institucional do que prática: qual é o efeito que essa briga tem para a imagem do São Paulo? Vale a pena lutar para jogar fora de Campinas e correr o risco de a vitória ser eternamente tratada com um “mas se o duelo tivesse sido no Moisés Lucarelli…”?

Como escreveu brilhantemente o jornalista Luis Augusto Simon, blogueiro do portal UOL, a atitude do São Paulo fomenta animosidade entre as equipes e solidifica uma imagem arrogante do clube do Morumbi. É a lei colocada acima da consciência.

A decisão do São Paulo pode oferecer ao time uma vantagem tática por não jogar em Campinas. Isso pode ser determinante para a classificação. A pergunta que fica é: vale a pena arriscar a imagem da instituição por esse preço?

Pelo ineditismo e por ser um time de menor poder econômico, a Ponte Preta já era um personagem simpático. A briga que o São Paulo comprou potencializou muito a torcida pela equipe de Campinas.

O caso da semifinal da Sul-Americana é extremo, mas há outros bons exemplos no futebol brasileiro atualmente. A comunicação é um processo fundamental para que as outras coisas andem bem em um clube de futebol.

Internacional e Palmeiras são bons exemplos. Os dois times têm situações resolvidas na temporada há quase um mês. Ambos podiam antecipar o planejamento e mostrar aos torcedores que estão trabalhando para sair na frente na próxima temporada.

Em vez disso, os dois têm prolongado indefinições. Comunicação também é saber quais são os melhores momentos para cada coisa.

Times que já cumpriram (ou não cumpriram) suas missões neste ano têm obrigação de acelerar o planejamento e de dizer ao torcedor o que pretendem mudar para 2014. É uma tarefa complicada, evidentemente, mas essa satisfação é uma forma de renovar a esperança de quem segue o clube.

A paixão do torcedor por um time é uma das coisas mais naturais que existem. Os clubes não fazem nada – ou fazem pouco, pelo menos – para criar esse elã. A comunicação, portanto, precisa ser uma forma de afagar o apaixonado e manter esse sentimento aflorado. E isso se faz, entre outras coisas, ao mostrar que o objeto de amor dele está sendo bem tratado.

Quanto a planejamento, o Corinthians deu um exemplo contrário e antecipou o próximo ano. Quatro rodadas antes do término do Campeonato Brasileiro, o time do Parque São Jorge anunciou que não vai manter o técnico Tite e que vai rever uma série de coisas no departamento de futebol.

A medida é uma forma de tranquilizar a torcida após um fim de temporada ruim. Além disso, a iniciativa abre caminho para uma despedida adequada para Tite, técnico que trabalhou no clube durante mais de três anos.

Agora, o Corinthians tem obrigação de fazer uma homenagem de grande porte para Tite. O time já mostrou que está alinhado com a preocupação dos torcedores sobre o rendimento do elenco. Nos próximos dias, a diretoria precisa mostrar que valoriza quem se dedica pelo clube.

Pensar em comunicação não é simples. Não pensar nisso é quase sempre um erro fatal.

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ABEX e Universidade do Futebol: outro grande passo para o desenvolvimento do jogo brasileiro

Nos próximos dias ocorrerá o encerramento do curso Gestão Técnica no Futebol. Oferecido pela ABEX (Associação Brasileira dos Executivos de Futebol) em parceria com a Universidade do Futebol, o curso tem como objetivo ampliar os conhecimentos de gestão e gestão técnica dos participantes através de conteúdos atualizados, didáticos e com total aplicabilidade nos diferentes ambientes profissionais.

Sua ementa permite também a participação não só de executivos de futebol como de quaisquer profissionais (advogados, agentes, jornalistas, comentaristas, especialistas de marketing, supervisores, coordenadores, etc.) que buscam qualificação para o exercício de sua profissão.

Como colaborador do projeto, aluno do curso, participante da construção do módulo de encerramento e técnico de futebol, o objetivo desta coluna é alertar a todos os gestores de campo (treinadores, adjuntos, auxiliares técnicos, preparadores físicos, treinadores de goleiros e analistas de desempenho) quanto à importância de adquirir conhecimento global da modalidade.

Para isso será apresentado a formatação do curso, que é dividido em dez módulos e tem uma carga horária de 50 horas/aula. Destas, 8 horas são presenciais (quatro horas da aula inaugural e quatro horas da aula de encerramento) e as outras 42 são realizadas on-line.

No Módulo 1, são discutidas as orientações gerais do curso, como utilizar as ferramentas virtuais e a introdução de conceitos que serão aprofundados no decorrer dos Módulos.

O módulo seguinte, dedicado à capacitação profissional, aponta os pré-requisitos dos funcionários modernos, os elementos para desenvolver um plano de carreira, o currículo “oculto” do treinador e tópicos introdutórios sobre liderança no futebol.

O terceiro módulo traz conceitos gerais da administração e gestão esportiva, como as ferramentas SWOT (análise das forças, fraquezas, ameaças e oportunidades) e PDCA (ciclo de melhoria contínua) aplicadas aos clubes de futebol. Além disso, discute as funções de um executivo de futebol no exercício da gestão técnica.

O Módulo 4 discute amplamente o conceito de paradigma e o quanto o mesmo pode limitar tanto a capacidade de adaptação a novos ambientes como a interpretação da realidade. Este conceito é trabalhado para os apontamentos iniciais sobre a visão integrada e sistêmica, que se refletem na Metodologia de Treinamento.

Já o próximo módulo é dedicado ao cenário atual do futebol brasileiro. O diagnóstico é estabelecido através de estudos de diferentes áreas que envolvem a modalidade: jurídica, de governança, financeira, de marketing, torcida, calendário, responsabilidade social e área técnica-desportiva.

O sexto módulo se propõe a discutir o planejamento estratégico, apresentando suas funções, diferentes etapas de planejamento e como sua aplicação influencia as necessidades básicas de um clube de futebol.

O Módulo 7 faz uma reflexão crítica sobre a formação profissional no Brasil e as gritantes diferenças em relação a algumas escolas europeias, como a alemã, a inglesa e a espanhola. Em uma das aulas, as estratégias da UEFA e seus modelos de formação são amplamente discutidos.

No oitavo módulo, o tema abordado se refere à seleção, captação e desenvolvimento do talento no futebol. Com discussões sobre dom, talento, vocação, ambiente procura-se estabelecer um novo olhar para a produção de talentos nas categorias de base das equipes brasileiras. Esta nova visão, consequentemente, vem acompanhada de novas ações.

O penúltimo módulo aborda a avaliação sistêmica e interdisciplinar no futebol. Com ferramentas de grande aplicabilidade prática fica evidente a necessidade de uma análise e intervenção multifatoriais que culminem na melhoria do desempenho esportivo.

E o módulo de encerramento compreende os elementos que conotam a evolução do jogo de futebol, uma análise qualitativa do jogo brasileiro e a evolução da Metodologia de Treinamento.
Em todas as aulas do curso há a utilização de vídeos, entrevistas e cases que corroboram com o assunto que está sendo discutido. Além disso, o tópico de materiais complementares permite maior aprofundamento nos assuntos que despertem mais interesse.

Como pode ser percebido, muitos módulos estão diretamente relacionados ao exercício profissional do técnico de futebol. Ter uma visão ampliada do ambiente, que exceda aos conhecimentos técnico-táticos sobre o jogo, é fundamental para a demanda do futebol atual.

Ganhar jogos sempre será o objetivo do futebol! E os processos dos clubes, dos procedimentos administrativos aos técnicos, de como construir a vitória estão cada vez mais elaborados.

Como treinador, ser capaz de se adaptar a este cenário e contribuir para sua evolução pode trazer vantagem competitiva e consequente obtenção de destaque no mercado. Estar preparado é necessário, estudar é aconselhado!

Abraços e até a próxima semana.

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Implicações Jusdesportivas das manifestações do Bom Senso FC no Brasileirão

Além da confirmação do título do Cruzeiro Esporte Clube que coroou este que já é o ano mais vitorioso da história do futebol mineiro (e ainda está pendente a disputa do Mundial de Clubes, em dezembro), a 34ª rodada do campeonato brasileiro teve outro destaque, as manifestações dos atletas em prol do movimento Bom Senso FC que busca racionalizar o calendário do futebol brasileiro.

Antes de passar à análise dos incidentes ocorridos na 34ª rodada do Brasileirão, importante destacar que este colunista entende como extremamente necessária uma reformulação no calendário do futebol brasileiro, até mesmo para atender ao disposto no Estatuto do Torcedor que exige regulamentos e competições racionais.

O movimento Bom Senso FC merece todo o respeito e apoio dos amantes do futebol, pois trouxe credibilidade e colocou a adequação de nossos calendários na pauta.

Não obstante isso, a análise jurídica do caso merece todo cuidado e imparcialidade possíveis, a fim de, justamente, de fazer jus a tão importante movimento.

Na 34ª rodada, havia a previsão de que os os atletas ficassem de braços cruzados após o início da partida.

A fim de evitar a referida manifestação, no confronto entre São Paulo e Flamengo, houve relatos de que o árbitro Alício Penna Jr. teria ameaçado punir com cartões amarelos os atletas que ficassem se braços cruzados.

Por essa razão, com o apito inicial, ao invés de cruzarem os braços, os atletas passaram a tocar a bola sem objetividade.

Segundo o “Lancenet”, na partida entre Botafogo e Portuguesa, o delegado da CBF, Sergio Correa, ex-presidente da comissão de arbitragem da entidade, afirmou que os juízes deveriam punir com amarelos quem ficasse parado durante a partida. Não houve penalização, eis que a manifestação ocorreu antes da partida, durante o minuto de silêncio.

Analisando-se os princípios que regem as competições esportivas, a falta de combatividade configura atitude antidesportiva. Inclusive, tal ato gera perda de pontos em esportes como o Judô e, nos Jogos Olímpicos de Londres levou à eliminação de atletas do Badmington.

Por mais que se entenda tratar de um conceito subjetivo, as normativas Fifa determinam a punição de conduta antidesportiva com cartão amarelo, dessa forma, a falta de combatividade pode ser punida.

Vale destacar que os árbitros são os responsáveis pelo andamento regular da partida e, dentro das quatro linhas, tem autoridade para aplicar as regras ao identificarem sinais de descumprimento.

No caso em comento, era pública e notória a manifestação durante a partida, ou seja, todos sabiam que seria realizada uma conduta de não combatividade para protestar contra o calendário e, durante os 90 minutos, compete ao árbitro manter o regular andamento da partida, bem como atentar-se ao princípio do “pro competicione”.

Doutro giro, constata-se que nas súmulas, os árbitros não mencionaram as manifestações, o que afronta o artigo 261-A, IV do Código Brasileiro de Justiça Desportiva que prevê a punição do árbitro que deixar de entregar ao órgão competente, no prazo legal, os documentos da partida, prova ou equivalente, regularmente preenchidos. Ora, a omissão das manifestações nas súmulas configura defeito em seu preenchimento.

Por esta razão, os árbitros podem ser denunciados à Justiça Desportiva e estarão sujeitos à suspensão de quinze a noventa dias, cumulada ou não com multa de cem a mil reais.

Outro artigo que pode ser aplicado é o 266 que prevê suspensão de trinta a trezentos e sessenta dias, cumulado ou não com multa de cem a mil reais ao árbitro que deixar de relatar ocorrências disciplinares da partida, prova ou equivalente ou deturpar fatos ocorridos.

Ademais, eventuais torcedores que sentirem-se prejudicados pela irracionalidade dos calendários, podem acionar os organizadores dos eventos em Juízo pleiteando a sua adequação ao Estatuto do Torcedor.

Vale dizer que a Confederação Brasileira de Futebol e as Federações estaduais, conforme estabelece o Estatuto do Torcedor, disponibilizam ouvidores das competições com a função de receber reclamações e pleitos dos torcedores.

De fato, o calendário brasileiro merece ser objeto de readequação, inclusive para assegurar a integridade dos atletas que, no modelo atual, sofrem com excesso de jogos, ausência de férias e pré-temporada.

Entretanto, as manifestações devem se dar fora das quatro linhas, pois como todo esporte federado, o futebol possui regras a serem observadas e, cabe ao árbitro assegurá-las, independentemente da nobreza delas.

Observa-se que o Bom Senso FC tem se articulado com sucesso fora das quatro linhas e está no caminho certo e que tem tudo para ser o protagonista de um verdadeiro divisor de águas na história do futebol brasileiro.

Outrossim, a situação é bastante sensível e manifestações durante a partida podem acabar por desmerecer o desporto e o torcedor que comprou o ingresso, de forma a macular tão nobre iniciativa.

Boa Sorte e parabéns aos atletas e demais envolvidos, especialmente ao dr. João Henrique Chiminazzo, advogado especialista em Direito Desportivo, que emprestou sua competência jurídica a este movimento.

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Mais uma para a saga: os ingressos no futebol

Estamos diante de mais um episódio da novela: “O preço dos ingressos em jogos de futebol”. Como protagonista, o Flamengo, com a final da Copa do Brasil diante do Atlético Paranaense.

O vilão é o Procon-RJ, junto com o Ministério Público, que pedem “explicações” sobre o aumento “abusivo” do preço. Para alguns, na realidade, os papéis de vilão e mocinho deveriam ser invertidos, mas explico o porquê de tratarmos esta coluna com personagens caricatos no sentido inicialmente descrito.

Primeiro, que o futebol não é um bem essencial. É, sim, um produto importantíssimo para o cotidiano da grande maioria da população brasileira, mas está longe de ser questão de vida ou morte – mesmo para os mais fanáticos.

Digo isso pois vejo negligência e afronta aos direitos do consumidor ou de um maior rigor na fiscalização destes mesmos organismos para itens básicos, de água a alimentação, de bancos a regulação de preços de outros bens de consumo.

Segundo, que a indústria do futebol passa por um momento de transição importante, que é a acomodação de uma linguagem nova, ainda pouco testada no Brasil, que é a venda do esporte efetivamente como espetáculo. Neste âmbito, o próprio mercado tende a se regular e a se adaptar, respondendo aos anseios do consumidor.

É natural que possam existir falhas ou exageros, para mais ou para menos. No fim, o choque de realidade ocorrerá, mas é o próprio mercado que deverá aprender a medida certa de sua conduta.

Finalmente, apesar do relato que pretende esclarecer este processo natural de mudança, percebe-se que ainda comete-se a falha de não ser transparente.

E o processo é tão simples quanto tabelar preços antes do início da temporada. Desta maneira, é possível se deixar claro o processo de precificação, que tende a levar em conta fatores estritamente de mercado, respeitando a lei da oferta e da procura.

É fato que precisamos evoluir nestes termos. Mas, a solução passa completamente longe de uma proposta populista, política ou interesseira que pretenda regular uma atividade de entretenimento privada, que passa por um processo claro de profissionalização e ajuste.

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Cristiano Ronaldo ou Eusébio: qual o melhor?

Qual o médico português, hoje, por mais informado que seja, que afirma, sem receio, ser melhor médico do que o foram, por exemplo, Egas Moniz, Francisco Gentil, Fernando Fonseca, Polido Valente ou Reinaldo dos Santos?

O nosso António Damásio, neurologista que o mundo todo conhece e admira, pode considerar.se mais inteligente do que o Claude Bernard (1813-1878), um dos nomes maiores da História da Medicina, porque tem por si conhecimentos que o médico francês necessariamente não possuía?

Em todas as áreas do conhecimento, os pioneiros não temem cotejo com os seus discípulos, porque o progresso com eles se iniciou e não com os mais jovens. “Eu sou eu e a minha circunstância”.

Ora, a “circunstância” de meados do século XX, ou do século XIX, não dava espaço a homens superiormente inteligentes, como os que acima citei, que pudessem revelar muitas das suas virtualidades.

Na sua tese de doutoramento (de que fui eu o orientador, perdoem-me a imodéstia) Gonçalo M. Tavares declara que até os movimentos, se é verdade que pertencem ao esqueleto que os sustém, à vontade individual e às decisões tomadas por uma única cabeça, não é menos certo que, também eles, estão condicionados por Leis, por uma História, por uma Geografia, por uma Economia.

Por isso, em cada movimento, o corpo pode afirmar: eu já não sou o que era! Também as várias ciências se movimentam e, a cada corte epistemológico, cada uma delas pode adiantar sem receio: eu já não sou aquilo que era. E não é o desporto movimento?

Os meus oitenta anos de vida, quase sempre próximos do futebol, permitem-me escrever o seguinte: para depor sobre os melhores rematadores do futebol português, que eu tenha visto jogar, julgo dever assinalar Fernando Peyroteo (nos 432 encontros em que participou marcou 694 golos), Matateu, Eusébio, Fernando Gomes, Pauleta e Cristiano Ronaldo.

Para o pódio, apontaria Eusébio, Cristiano Ronaldo e Matateu, por esta ordem.

Nem a Medicina, nem a Psicologia, nem o Direito, nem a Sociedade, nem a Cultura, nem os Clubes, nem a organização desportiva, nem o próprio treino, na década de sessenta, podiam dar ao Eusébio o que podem oferecer, hoje, ao Cristiano Ronaldo. E, se as condições não são idênticas, mesmo coligindo observações minuciosas uma classificação rigorosa não se torna possível.

Façamos de ambos émulos de Deus, na sua função criadora de futebolistas geniais. E deixemo-nos de romper pelos jornais, pela rádio e pela televisão, a anunciar: o Cristiano Ronaldo é melhor do que o Eusébio. Ou o contrário: o Eusébio é melhor do que o Cristiano Ronaldo. Seria o mesmo que dizermos que o Platão é melhor que o Aristóteles, ou que o Dante é melhor do que o Camões ou, futebolisticamente falando, que o Maradona é melhor do que o Pelé.

N’A Poética do Espaço, Gaston Bachelard adverte: “O cientista nunca vê pela primeira vez. Na observação científica, uma só vez não conta. A ciência pertence ao reino das muitas vezes” (p. 164). Ora, como é que opinadores que nunca viram jogar nem o Eusébio, nem o Pelé, muitas vezes (alguns. nem uma vez que fosse), podem convictamente afirmar que o Cristiano Ronaldo é melhor do que o Eusébio, ou que o Maradona é melhor do que o Pelé?

Durante estes meus oitenta anos de vida, distingo dois extremos, no futebol português, que jogavam normalmente à direita: José Augusto e Figo. A ambos os vi jogar muitas vezes (ao Figo, mais pela televisão). António Oliveira (F.C.Porto e Sporting C.P.), um verdadeiro artista que, como o Manuel Vasques dos “cinco violinos”, fazia do futebol um pretexto para dizer e fazer beleza – António Oliveira nem sempre jogou à direita, como um extremo clássico (os seus três anos de jogador do Sporting assim o confirmam). Por isso, escolhi o José Augusto e o Figo.

O José Augusto usufruía de uma velocidade e de um jogo de cabeça e de um poder de finta que o Figo não tinha. Este era mais poderoso e de inexcedível inteligência tática. Qual dos dois foi o melhor? Não sei!

Que o digam os estagnados em rotinas caducas que nunca viram jogar o José Augusto. Num romance de Clarice Lispector, o seu livro Uma Aprendizagem ou o livro dos prazeres, uma das personagens afirma: “Não entender era tão vasto que ultrapassava qualquer entender. Entender era sempre limitado. Mas não entender não tinha fronteiras. O bom era ter uma inteligência e não entender. Era uma bênção estranha, como a de ter loucura sem ser doida” (p. 42).

Admito, de facto, que dê um gozo estranho falar do que não se sabe. Mas vou mais além. Sócrates tinha razão, ao declarar: “Só sei que nada sei”. Mas uma coisa é não saber porque se sabe e outra é não saber porque não se procura o saber.

É evidente que, se me referisse a extremos, que jogavam normalmente do lado esquerdo, escolheria, para o pódio, António Simões, Paulo Futre e Fernando Chalana. Uma nótula para evitar confusões…
 

*Antigo professor do Instituto Superior de Educação Física (ISEF) e um dos principais pensadores lusos, Manuel Sérgio é licenciado em Filosofia pela Universidade Clássica de Lisboa, Doutor e Professor Agregado, em Motricidade Humana, pela Universidade Técnica de Lisboa.

Notabilizou-se como ensaísta do fenômeno desportivo e filósofo da motricidade. É reitor do Instituto Superior de Estudos Interdisciplinares e Transdisciplinares do Instituto Piaget (Campus de Almada), e tem publicado inúmeros textos de reflexão filosófica e de poesia.

Esse texto foi mantido em seu formato original, escrito na língua portuguesa, de Portugal.

 

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O preço do espetáculo

Os quatro "Ps" são um conceito usado no marketing ao menos desde a década de 1940. Nos negócios, ainda que forma empírica, a discussão sobre produto, preço, promoção e ponto de venda é ainda mais antiga. O futebol brasileiro ainda não é tratado como um produto, mas aos poucos começa a abordar o tema.

É claro que a discussão no futebol brasileiro ainda é rudimentar. É claro que o futebol brasileiro ainda começa a chegar aos quatro "Ps", mas os teóricos de comunicação e marketing já aprimoraram e modificaram esse mix. É claro que o debate no país tem sido permeado por uma série de conceitos prontos e de idiossincrasias. Ainda assim, é salutar pensar que assuntos outrora ignorados começam a fazer parte da pauta.

O futebol brasileiro ainda trata mal o ponto de venda e a promoção, mas evoluiu muito nos últimos anos sobre a visão de produto. E tem tido conversas – imaturas, é verdade – sobre o preço. Tudo isso expõe as feridas e mostra o quanto o mercado aqui ainda é subdesenvolvido, mas ao menos oferece perspectivas positivas.

Olhe o copo meio cheio: há alguns anos, o futebol brasileiro ignorava discussões sobre preço e produto. Hoje em dia, os assuntos pelo menos fazem parte da pauta.

Agora, olhe o copo meio vazio: a discussão sobre produto ainda é sair do zero para o quase zero. A discussão sobre preço ainda é "está caro" ou "está barato". Enquanto os debates não forem aprofundados, a evolução seguirá sendo lenta.

Quanto ao produto, a NBA deu na última semana uma aula ao futebol brasileiro. A liga profissional de basquete dos Estados Unidos já tem um patamar absolutamente diferente de relação com os consumidores, e quem foi ao jogo de pré-temporada que eles fizeram no Rio de Janeiro pôde ter uma ideia disso.

No entanto, preocupada com o tratamento destinado ao torcedor, a organização do campeonato procurou a Disney, maior empresa de entretenimento do planeta, para entender os preceitos que balizam a relação da marca com o público.

A NBA participou de uma reunião no Disney Institute, órgão responsável por montar os treinamentos dados aos funcionários dos parques. Além disso, a liga de basquete pediu um estudo sobre o atual tratamento dado ao público e em que pontos eles podem evoluir. A pesquisa incluirá todas as franquias e servirá como ponto de partida para as metas dos próximos anos.

O salto que a NBA pretende dar é de "tratar bem" para "tratar melhor" o consumidor. O futebol brasileiro ainda busca o “tratar bem”. Enquanto isso, no último sábado, a torcida do Coritiba tentou invadir uma área demarcada nas arquibancadas do Canindé durante o jogo contra a Portuguesa e foi abordada pela Polícia Militar com violência contundente. Ao menos 17 dos 20 times da primeira divisão do Campeonato Brasileiro tiveram adeptos envolvidos em episódios de brigas neste ano.

O futebol brasileiro vê a aproximação de uma realidade diferente, com novas arenas e um patamar mais refinado de serviços. Se isso não incluir respeito e um bom tratamento ao consumidor, contudo, a "casca" não será suficiente para provocar uma mudança.

Tratar o futebol como produto é ainda mais amplo, mas o futebol brasileiro já ficaria muito feliz se apenas retirasse do público a sensação de ser lesado.

O mesmo vale para os preços. Na semana passada, em evento realizado em São Paulo, o ex-presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, fez uma ponderação interessante sobre o assunto: "Quem define os valores dos ingressos é o mercado".

Sanchez ofereceu um bom gancho para discussão. Podia ter saído daí um debate muito mais denso do que "é caro" ou "é barato". Ele mesmo, porém, desviou o foco. Questionado sobre uma promoção realizada pelo São Paulo, que reduziu o preço dos ingressos para jogos do Campeonato Brasileiro, o ex-mandatário alvinegro foi enfático: “O que eles fizeram foi um mal para o futebol brasileiro”.

Quando presidiu o Corinthians, Sanchez colecionou troca de farpas e provocações com a diretoria do São Paulo. Some essa animosidade a uma avaliação rasa e o resultado é um debate como o que aconteceu na terça-feira: réplicas e tréplicas intermináveis e inaproveitáveis.

Dias depois, o Flamengo ofereceu uma nova chance de discutir o assunto preço. O time rubro-negro reajustou preços de ingressos para a decisão da Copa Perdigão do Brasil, contra o Atlético-PR, no Maracanã. Torcedores comuns terão de pagar de R$ 250 a R$ 800, e os valores para sócios vão de R$ 150 a R$ 480.

“Essa é a última oportunidade que nós temos para arrecadar e equilibrar o fluxo de caixa. Depois, só em janeiro. Nós seremos muito gratos a quem puder fazer esse sacrifício e pagar um valor maior do que o de costume. Nós estamos passando por dificuldades e precisamos da ajuda de todos”, disse o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, à “Rádio Tupi”.

O reajuste dos preços gerou repercussão negativa e protestos. Até o Procon-RJ cobrou explicações do Flamengo sobre os valores cobrados por entradas para a decisão da Copa do Brasil.

Como disse Andrés Sanchez, “quem define é o mercado”. Essa é a lógica que faz com que times em crise criem promoções absurdas e que equipes em bom momento tentem tirar disso o maior faturamento possível.

A questão é que o futebol não pode ser tão suscetível ao mercado. O futebol precisa ser um produto atraente, que trabalhe com uma taxa de lotação maior nos estádios e que dependa menos dos períodos de bonança.

O exemplo está em muitas ligas da Europa. O Campeonato Inglês tem mais de 90% de taxa de ocupação nos estádios, por exemplo. O time que faz campanha ruim também leva muita gente, mesmo que seja apenas para ver a equipe mais badalada.

O futebol brasileiro vive uma gangorra de oferta e demanda porque promove mal os espetáculos. Também permite que isso aconteça porque oferece um produto que não condiz com a expectativa dos consumidores (nem em campo, nem fora dele).

É muito positivo que exista uma discussão sobre preço no Brasil. O país tem um padrão de vida caro, e isso permeia vários setores. O futebol tem usado argumentos como as novas arenas e as boas fases para inflacionar entradas.

Entretanto, a discussão não vai avançar se for apenas focada no preço. Já passou da hora de o Brasil aprender que as coisas não podem ser vistas de forma isolada e que elas têm repercussão, sim. Reduzir ou elevar os custos de entradas põe o time em um caminho, e é fundamental que os dirigentes entendam para onde essa rota vai.

A comunicação e o marketing entendem há pelo menos 70 anos que o preço não pode ser um evento isolado. No futebol brasileir
o, eu já ficaria feliz se visse pelo menos um resquício de estratégia nesse tipo de decisão.