Lembro de que há alguns anos lamentávamos que os clubes europeus vinham ao Brasil e levavam nossos jogadores que estavam no auge da carreira. A queixa dos torcedores era de que quando os melhores atletas atingiam o ápice técnico e físico vinha algum time de fora e pagava uma fortuna para leva-los.
Nosso futebol continua sendo exportador. Mas agora não é mais no auge que a Europa vem buscar nossos melhores jogadores. E sim na base, nas categorias menores. Na adolescência deles. Não é acaso o Real Madrid contratar Vinícius Junior com 16 e Rodrygo com 17 anos. Ou Gabriel Jesus com 19 anos já ser do Manchester City. E agora Eder Militão com 20 ser do Porto. Esses jogadores muitas vezes nem estão maturados fisicamente. Mas já despertaram a atenção de quem faz futebol em alto nível no mundo e que, definitivamente, não está nesse jogo para rasgar dinheiro.
Primeiro ponto a ser destacado é a evolução da análise de desempenho. Esses gigantes clubes mundiais possuem departamentos de inteligência que contam com o que há de melhor em capital humano e tecnológico. Há observadores técnicos fazendo análise de mercado em todo o mundo. E esse tipo de scout é feito desde o sub-11. A Europa conhece nossos jogadores antes de nós.
Outro aspecto importante é que a maioria dos nossos técnicos de base e até mesmo dos times profissionais não está atualizada com o que há de melhor para formar e potencializar jogador. Há um leve movimento de melhora nesse aspecto, mas ainda estamos pelo menos vinte anos atrasados com relação ao alto nível mundial. Na base, o técnico do sub-13, por exemplo, ganha menos do que o do sub-17. E o jeito para crescer na carreira muitas vezes é ganhando jogos e campeonatos. Então o objetivo passa ser ganhar e não formar; E depois no profissional grande parte dos técnicos apenas suga os atletas e não busca melhora-los em suas deficiências. A desculpa é que não há tempo. Quando na verdade falta conhecimento para potencializar as virtudes e ajustar as fraquezas.
Os clubes europeus atentos a essa defasagem dos nossos profissionais e até observando as condições dos jogadores brasileiros que chegavam já com mais de 23 anos sem algumas valências técnicas, coletivas e até cognitivas de jogo decidiram vir buscar os atletas cada vez mais jovens para que eles pudessem terminar por lá o processo de formação.
Há garotos de 13, 14, 15 anos aqui no Brasil sendo observados por analistas das principais potências do futebol mundial. São avaliados itens como trato com a bola, resolução dos problemas de jogo, capacidade de se comunicar dentro de campo com e sem a bola, potência física e padrão de resposta mental às adversidades que a complexidade do futebol traz.
Se a maioria desses itens for atendida os jogadores serão comprados por muito dinheiro e com pouca idade. O aprimoramento eles fazem por lá. Bem melhor lapidar um jogador enquanto há tempo. Dinheiro, inteligência e metodologia para isso não falta no alto nível do futebol europeu.
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Sobre o treinador que educa

Neste fim de semana, às vésperas da estreia do Leeds United na Championship (segunda divisão inglesa), houve alguma comoção quando soubemos que Marcelo Bielsa, novo treinador da equipe – e de quem sou profundo admirador – lançou mão de outro dos seus métodos razoavelmente originais. Bielsa procurou, junto à diretoria, saber quanto tempo o torcedor médio do Leeds precisaria trabalhar para conseguir comprar o ingresso para um jogo qualquer. Quando soube da resposta (são três horas), fez com que seus jogadores passassem o mesmo tempo recolhendo o lixo das dependências do clube, para que eles sentissem, de alguma forma, o sentimento dos torcedores. No mínimo, um exercício de empatia.
Medidas como essa não são exatamente novas. Na verdade, elas não apenas existem desde sempre, como existem, muitas vezes, longe dos holofotes. Mas me parecem substancialmente importantes na formação do caráter do jogador. Rapidamente, me lembro de Per Mertesacker, respeitável zagueiro alemão, que trabalhou em um hospital para doentes mentais quando ainda jogava nas categorias de base do Hannover (anos mais tarde, Mertesacker admitiria que o futebol profissional feriu os seus próprios limites mentais). Repare a importância dessa educação na transição da adolescência para a vida adulta, pois nesta fase há fortes traços de idealismo, ao lado de uma percepção razoavelmente autocentrada da vida, que faz com que cada atleta, no seu íntimo, sinta que está destinado para o sucesso e que este surgirá, inevitavelmente, em algum lugar do futuro. Mas para treinadores e treinadoras, além das atribuições tático-técnicas que nos cabem, é preciso trabalhar, ainda que sutilmente, o mundo real que está para além do ideal, o mundo do fracasso, da moléstia, dos limites. O mundo da vida, se você preferir.
Neste sentido, Bielsa me parece grande. Me lembro de uma fala, nos tempos de Marselha, apresentando aos jogadores as contradições entre o sucesso e a felicidade. A essa altura, é provável que alguém pergunte se isso ganha jogos (ou algo do tipo), mas não é disso que se trata: este tipo de fala – que ilustra parte das minhas próprias pretensões como treinador – não parece exatamente interessado em um fim, mas denota uma preocupação latente e sincera com o humano que se esconde no atleta, dele indissociável. Agir apenas sobre o atleta é importante, mas também é como deslizar pela superfície: para respostas profundas, me parece imprescindível superar a barreira do atleta e chegar ao humano, ao emaranhado de contradições e possibilidades que estão adormecidas em cada ser, e que podem levá-lo à plenitude caso sejam despertadas, descobertas! Mas isso é uma arte, e treinadores e treinadoras precisam ser trabalhadores diligentes, que exercitam sua arte com refinamento, para não vitimar nossos atletas nem pela falta, nem pelo excesso.
Para além de um treinador, Bielsa me parece um educador. Na verdade, treinadores e treinadoras são educadores da mais fina espécie. Seja na iniciação, na especialização ou no rendimento, estamos no domínio de um processo educativo, que evidentemente objetiva o melhoramento esportivo mas, para tanto, não pode perder de vista a humanidade dos atletas. Quando entra em campo, o jogador não entra pela metade (não deveria), ele entra inteiro. Ele carrega suas crenças, seus valores, seus medos, sua história e todas as variáveis que, ainda que não estejam visíveis (nem para ele próprio), fazem dele único e, assim, um mistério a ser desvendado pelos treinadores e treinadoras e por todos os envolvidos no processo. Como afirmamos recentemente, o jogo real não tem uma bula, um password que nos leve ao seu final, pois o jogo é jogado por gente, e gente, na sua complexidade, não se define em frases feitas.
Para além de um humanista, Bielsa me agrada por ser atemporal. Acompanhei com atenção o ótimo trabalho feito no Athletic Club, quando transformou um clube tradicionalmente conservador em pura coragem e risco, que envolveu o Manchester United, no Old Trafford, como raras vezes se viu. Para além da tática, as boas equipes carregam um espírito, um sentimento coletivo que vive em cada parte e que vivia naquele tempo, na sua alternância entre uma linha de quatro ou de cinco defensores, de acordo com o adversário (dois centroavantes, linha de cinco, para sempre ter sobra), no movimento puro desde os primeiros instantes da temporada, nos desmarques ininterruptos, no pressing inegociável. Mas aquela equipe também era, em diversos momentos, marcação individual, era ligação direta para Fernando Llorente e Gaizka Toquero, era o que deveria ser, porque Bielsa, em alguma medida, me parece um poliglota, um treinador que sim, valoriza um determinado idioma (o idioma da posse), mas que sabe vários dialetos dentro dele, pois o jogo não se encerra em vocábulos restritos, mas exige léxico variado, para momentos diferentes. É preciso que não sejamos apenas um, é preciso ser vários, de acordo com o contexto, com o adversário, com nós mesmos. Bielsa me parece fazer isso bem.
Ao mesmo tempo, nossos elogios não são míopes e aqui também ressalto o outro lado de Bielsa: o perfeccionismo eventualmente constrangedor, as exigências em todos os níveis, um sentimento razoavelmente controlador, os valores inegociáveis e diversas outras características que não são apenas passíveis de crítica. Elas fazem dele humano. Como treinadores e treinadoras, é preciso que saibamos lidar com o outro lado, com as sombras que nos acompanham onde vamos, pois elas também são parte do nosso ser. Embora sejamos escravos da força, me pergunto se alcançar o humano (de que falei acima) também não significa a vulnerabilidade, a percepção de que, embora grandes, somos possíveis, e este sentimento pode ser o que nos une como indivíduos e como equipe. Não sei se são essas as intenções de Bielsa, mas sei que ali, como em qualquer outro ser, também há fraquezas, sejam elas perceptíveis ou não.
Por fim, falamos de um treinador idolatrado, referência para vários colegas de ótimo nível (Mauricio Pochettino, Eduardo Berizzo, Diego Simeone, Pep Guardiola, Mauricio Pellegrino…), mas que não traz consigo o argumento dos títulos – no profissional, são poucos. Ou seja, pode ser que no resultado não esteja nossa principal mensurável de sucesso, afinal, só há um vencedor, mas bons trabalhos não faltam. O jogo tem razões que nos escapam, e talvez nelas esteja o motivo porque mesmo os bons (eventualmente os ótimos) podem não estar amparados pelo resultado – ao menos pelos títulos.
O que não significa que eles não estejam amparados. Talvez por algo maior.
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Vale a pena VAR de novo

O vídeo-árbitro (VAR) voltou em evidência com a sua utilização na Copa do Brasil na semana passada. No geral o balanço foi positivo. Favoreceu o bom andamento das partidas e esclareceu pontualmente a arbitragem. Em alguns casos percebeu-se algo raro (e que não deveria ser): atletas a fazerem gestos de concordância com as marcações (mesmo contra a própria equipe). Seria este um sinal de mudança em termos de ética, tanto cobrada na sociedade brasileira, cuja ausência é percebida em muitas ocasiões no futebol?
Sim, é. O recurso do vídeo inibe a malícia e a dissimulação, passíveis de punição. Ao mesmo tempo exige comportamento ilibado por parte do futebolista. Ele está sendo monitorado instantaneamente por mais pessoas, e o seu comportamento observado em nível nacional e internacional. Ou seja, qualquer algo negativo não será nada bom para a sua imagem pessoal, visto em outros textos desta coluna como importante para um atleta. A prazo, percebe-se que cavar uma falta ou exigir algo da arbitragem para favorecer – injustamente – a sua equipe, é desperdício de energia. Em outras palavras, preocupa-se mais em fazer o movimento para confundir aquele que apita e gasta-se mais energia para gritar e gesticular com o árbitro. Na verdade, esta energia deveria estar sendo dirigida ao jogo, em controle emocional para concentrar-se no que tem que ser feito, que é fazer gols.
Com o tempo a impunidade não será mais o tema e mais justiça haverá nas marcações dos lances capitais. O comportamento antiético não será “premiado” e a conduta honesta, valorizada (em realidade deveria ser a constante). Tornar-se-á rotina e, em um outro momento, hábito. Como consequência disso, a fluidez no jogo e aumento do tempo de bola em disputa. Menos tempo de paralisação (afinal não se gasta mais energia em discutir com o árbitro) e maior concentração na parte técnica e tática, o que favorecerão todo o espetáculo de que se constitui uma partida de futebol.
O normal seria não precisar do VAR para que tenhamos exemplos de boa conduta no futebol de rendimento no Brasil. Como dizem alguns, a honestidade não deveria ser uma virtude, deveria ser uma constância. Entretanto, o próprio jogador e o clube precisam se perguntar como querem ser reconhecidos pela sociedade: pelos resultados a qualquer custo ou pelas boas atitudes e bons exemplos, sobretudo para os mais jovens que replicarão este comportamento e serão “o futuro da nação”? Infelizmente, é o recurso do vídeo – que apareceu muito tardiamente – que poderá ajudar com esta questão. Com tudo isso, no entanto, antes tarde do que nunca.
Publicado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) em março deste ano, o relatório de intermediários do futebol nacional, feito pela diretoria de registro, transparência e licenciamento da entidade, mostra que o Corinthians gastou R$ 12,88 milhões com comissões a empresários entre 2017 e 2018. O São Paulo, segundo colocado do ranking, destinou R$ 4,4 milhões a intermediários de negociações no mesmo período. Ainda que a metodologia usada para aferir esses números tenha sido criticada pela diretoria alvinegra, o documento é um exemplo de um problema recorrente no processo de estruturação da comunicação no Brasil. Enquanto as mensagens ao consumidor final não se tornarem mais claras e diretas, o nível de confiança sobre o mercado seguirá comprometido.
Uma das principais questões que o futebol brasileiro tem a resolver é a credibilidade. Se um jogador da base não vinga, faltou empresário; se um atleta com potencial não chega a um time grande, não é do esquema; se um clube é prejudicado pela arbitragem, não é o favorito do sistema para ser campeão. No fim, todas as decisões acabam encontrando eco na falta de transparência e no cenário nebuloso. Num ambiente em que tudo pode ser justificado com teorias ou razões espúrias, todo o trabalho acaba contaminado.
Essa lógica, é claro, beneficia sobremaneira a manutenção de ações que lesam clubes, federações, jogadores, profissionais e torcedores. A certeza de que existe um sistema nocivo acaba perpetuando em todas as esferas uma sensação de que é impossível lidar com isso de forma honesta. Essa mão invisível da corrupção, inimigo retratado de forma exemplar no filme “Tropa de Elite 2”, estabelece um distanciamento que também é um convite à alienação.
Decorre dessa lógica deturpada o “contra tudo que está aí” tão comum em manifestações de repúdio direcionadas à classe política. Decisões e desmandos geram revolta, mas é o afastamento do jogo que sustenta críticas às regras, ao formato do tabuleiro e ao comportamento dos dados. A aversão deixa de ser ideológica ou personalista e passa a ser endêmica, o que definitivamente não contribui para qualquer sentido de evolução ou melhoria do que está sendo feito.
A primeira questão, portanto, é quem se beneficia de um sistema tão cheio de lacunas. A segunda: quais são os caminhos para minimizar esse tipo de prática e aumentar a lisura nos negócios envolvendo o futebol nacional. Internacionalmente, por exemplo, entidades e ligas trabalham há anos com sistemas de transferências que ao menos registram movimentações financeiras e comissões. Se não resolve o problema, esse modelo cria um compromisso com aspectos tributários e com o controle de finanças das instituições envolvidas.
Além da criação de um sistema para registro de transferências, é premente a padronização de um modelo mais detalhado e claro para publicação de balanços financeiros de clubes e entidades. A divulgação dos dados é exigida por lei, mas ainda entra em um arcabouço de possibilidades e nomenclaturas que mais desinforma do que efetivamente ajuda o torcedor a entender o que está sendo feito com o clube, que no fim é seu maior patrimônio.
No Brasil, país em que o futebol é tão presente na formação da cultura popular, é clara a ideia de que o esporte é um elemento de identidade. Esse raciocínio serve, por exemplo, para justificar incentivo público à modalidade e preservar clubes e entidades. É uma das premissas basilares de todos os refinanciamentos de dívida pública feitos pelas equipes locais.
O futebol, contudo, é um elemento de identidade nacional em que o controle é exercido por um pequeno grupo, sem o menor compromisso com a transmissão da mensagem adequada ou com uma comunicação que seja efetivamente inclusiva. Enquanto for assim, o público interessado sempre terá ressalvas, e o número de consumidores também sofrerá para crescer.
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Entre o futebol e a justiça desportiva
Bem-vindos ao nosso mês de agosto aqui no “Entre o Direito e o Esporte”! Esse mês nós vamos conversar sobre aquilo que a gente vê em todo campeonato, aquilo que a gente vê nos jornais, aquilo que faz a gente saber o nome até dos advogados do seu clube. Nesse mês nós vamos dar uma olhada no sistema de Justiça Desportiva aqui no Brasil.
E, para deixar tudo mais claro, já deixo aqui o nosso mapa de hoje e do nosso mês: na próxima sexta-feira vamos conversar sobre o “que” da Justiça Desportiva; na terceira coluna do mês vamos ver o “onde” dela; depois vamos dar uma olhada no “quem”; e fechamos o mês com o “como”.
Bora lá?
Justiça Desportiva o quê? Essa próxima semana é fácil, a gente vai conversar sobre o que essa tal de “JD” julga. Ou seja, vamos dar uma olhada em quais os tipos de caso que passam por ali.
Imagina o seu futebol de sábado. Deu ruim. O que é esse “deu ruim” lá? É por aí que vai a nossa conversa… uma conversa que fica muito mais divertida quando entra toda essa história de VAR, torcida organizada e “dirigente pistola”.
Justiça Desportiva onde? Na nossa terceira coluna desse mês nós vamos ver onde é que tudo isso acontece. Ou seja, vamos tentar responder umas perguntas: “só tem uma Justiça Desportiva?”; “Se tem mais de uma, como que funciona?”; “Aliás… e qual julga o que?”.
Imagina o seu futebol de sábado. O deu ruim foi ter um expulso por briga. Onde é que vocês vão decidir a “caixinha” que ele vai deixar? É bem essa a discussão da nossa terceira semana de agosto.
Justiça Desportiva quem? No dia 24 de agosto, vamos dar uma olhada em quem faz parte dessa tal de “JD”. Ou seja, quem faz tudo acontecer e quem aparece por lá quando tem um julgamento.
Imagina o seu futebol de sábado. O deu ruim foi ter um expulso por briga e que ia ser julgado por WhatsApp. Quem decide se o amigo está fora da próxima semana? É por aí que vai a nossa história… uma história que passa por nós advogados e vai até os jornais.
Justiça Desportiva como? No fechamento do mês nós vamos trocar uma ideia de como tudo isso acontece nessa tal de “JD” – claro, quando acontece. Ou seja, como um caso começa e até onde ele vai e de que jeito.
Imagina o seu futebol de sábado. O deu ruim foi ter um expulso por briga, o julgamento ia ser pelo WhastApp, e quem ia julgar eram os “três mais antigos de casa”. Como é que eles vão decidir de quanto é essa “caixinha”? É bem esse o fechamento da nossa coluna sobre Justiça Desportiva aqui na Universidade do Futebol, como um “pedaço de papel” vira um “o jogador do seu time está fora da final do campeonato”.
É… talvez o seu futebol de sábado, como o meu, não seja tão cheio de coisas assim – né? A ideia aqui é deixar esse “guia” para você… e para você usar para acompanhar o nosso campeonato brasileiro, para dar mais ideia para a resenha depois do jogo do seu time, ou para ajudar a montar a sua Justiça Desportiva no futebol de sábado. Fechou?
Fico por aqui hoje, e convido vocês a continuar no “Entre o Direito e o Esporte”. De pouco em pouco vamos seguindo nesse caminho para ver mais sobre a tal da Justiça Desportiva! Nos vemos na próxima sexta-feira para dar uma olhada nesse “que”. Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Valeu!
Quem imaginaria que depois da Copa do Mundo Luis Felipe Scolari seria o técnico do Palmeiras?! Mesmo entendendo todo o dinamismo do futebol, por essa ninguém esperava. Faltava consistência no trabalho de Róger Machado. Isso é inegável. Aliás, que fique a reflexão para ele. É o terceiro clube em que ele sai sem ter concluído o trabalho. Algo precisa ser revisto no trabalho de Róger. Mas a decisão do Palmeiras em troca-lo por Scolari tem um viés muito mais político do que técnico.
O Palmeiras está diferente desde que Paulo Nobre assumiu como presidente em 2013. Muita coisa mudou para melhor no clube. Gestão, arrecadação, imagem positiva e séria no mercado, dentre outras coisas. Porém, a inconstância no comando do futebol é uma das marcas negativas que se arrasta até hoje. Apenas Gilson Kleina – que na maior parte do tempo teve uma Serie B pela frente – ficou mais do que um ano. Kleina permaneceu de 19 de setembro de 2012 a 8 de maio de 2014. De lá para cá, passaram Ricardo Gareca, Dorival Júnior, Osvaldo Oliveira, Marcelo Oliveira, Cuca, Eduardo Baptista, Cuca novamente, Alberto Valentim, Róger Machado e agora Felipão.
Mesmo com essas trocas constantes veio a conquista da Copa do Brasil de 2015 e o Brasileirão de 2016. Mas o Palmeiras, apesar de todos os recursos que dispõe agora, não conseguiu marcar uma era vencedora no futebol brasileiro. Muito por conta dessa indefinição de comandante e de identidade. Os maiores rivais do Verdão, por exemplo, tiveram sequências bem sucedidas mantendo o mesmo profissional – Tite ganhou tudo com o Corinhians e Muricy Ramalho levou três Brasileiros com o São Paulo.
Qual futebol o Palmeiras quer apresentar? Com quais ideias? Qual o modelo de jogo a ser colocado em prática de acordo com a história e tradição do clube? É fácil para qualquer pessoa que acompanha futebol entender que mudar de Róger para Felipão é como mudar da água para o vinho.
Scolari tem uma maneira peculiar de lidar com o ambiente que o cerca que funciona muito bem já imediatamente à sua chegada. Seu relacionamento com os atletas costuma potencializar talentos. Porém, tenho muito claro que seu nome veio a tona muito por conta das eleições que o clube terá em dezembro. Seu nome causa impacto em todo palmeirense por conta das conquistas do passado. Entretanto, não há indicativos técnicos e táticos recentes que coloquem Felipão como o melhor nome para assumir o Palmeiras agora.
Mas nossos dirigentes se veem muitas vezes obrigado a ‘dar uma resposta para a torcida’. Sem pensar muito no médio prazo. Apenas nos próximos jogos. Sem muito projeto, planejamento. Talvez por isso troquem tanto de técnico.
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Sobre a medicina do bom treinador

A medicina do bom treinador está ao alcance dos olhos, mas ver não basta. O treinador, como já observamos anteriormente, precisa crer que é uma espécie de médico, cuja responsabilidade está para muito além dos três pontos do fim de semana. Sua responsabilidade está na promoção da mais plena saúde dos atletas e da equipe, na contínua formação da persona que antecede os jogadores. Assim como um médico age sobre o corpo para curar uma dada moléstia, cabe ao treinador agir sobre o espírito, sobre as ideias de cada atleta e do grupo, pois atletas não são máquinas que devem gerar resultados, mas são indivíduos que precisam realizar-se no seu pleno potencial.
Mas como isso é possível? Em primeiro lugar, cabe a treinadores e treinadoras, tão logo iniciem seus respectivos trabalhos, fazer uma anamnese do seu grupo. Anamnese é outra ideia trazida pelos gregos, e significa nada mais do que lembrança, recordação: o primeiro passo para a cura do doente estaria na recordação do caminho que o levou até à doença. Isso só é possível através de um bom diálogo e das perguntas certas. Por isso a dialética, também no futebol, é uma ferramenta imprescindível, assim como a pergunta. Repare que a anamnese, nesta perspectiva, não é um processo vertical, mas uma tratativa que demanda esforço de treinadores e atletas, em conjunto. Da mesma forma como a sociedade precisa uma educação que forme governantes, o futebol também precisa de atletas que saibam ser treinadores, quando necessário for.
Feita a anamnese, cabe ao treinador intervir. A intervenção do treinador, em linhas gerais, ocorre no processo de treino. Ao medicamento de longo prazo, que tende a agir sobre uma determinada causa, ao longo do tempo, nós podemos chamar de modelo de jogo. É por isso que a anamnese é um processo vital: pois se nela houver um equívoco, pode ser que todo o trabalho seja perdido. Como um bom médico, o treinador precisa ter em vista que sua ação se dará em duas grandes frentes: acrescentar o que está em falta e retirar o que está em excesso. Assim como uma dada medicação pouco faz em doses mínimas, ou pode ser um veneno em doses elevadas, o treinador precisa agir, no processo de treino e de jogo, em busca do equilíbrio, da justa medida, pois quaisquer alterações, para cima e para baixo, ainda que soem promissoras, tendem a ser absolutamente perniciosas durante o processo e podem se voltar contra o próprio treinador, à sua revelia.
Assim como um organismo vivo só funciona a partir da interação entre os seus sistemas e respectivos órgãos, a medicina do bom treinador precisa contemplar inteiramente que, no jogo, tudo é um, e que as separações que fazemos são meramente didáticas. No momento ofensivo está o momento defensivo, na transição ofensiva também está o comportamento pós-perda. Ou seja, o processo de treino deve ser estritamente cuidadoso com as fragmentações, pois quanto mais separado o processo, mais distante ele estará da essência do jogo. Além disso, é preciso enxergar para além do que os olhos veem: assim como uma cefaleia não significa, necessariamente, um problema na cabeça, uma equipe que apresenta um determinado sintoma pode ter a natureza da sua moléstia em outro lugar, completamente diferente. É por isso que, para além do sentidos, é preciso afiar o espírito, pois também no jogo o essencial é invisível aos olhos.
Treinadores e treinadoras não estão sozinhos. Assim como um bom cirurgião é impotente se não estiver bem auxiliado, o treinador pouco pode fazer se não tiver, ao seu lado, pessoas da mais estrita confiança e qualidade. Neste sentido, me parece absolutamente razoável que o treinador, na sua medicina, esteja amparado por homens e mulheres, das mais diversas áreas e com as mais diversas experiências, com perfis distintos do seu e, não raro, melhores do que o próprio treinador nas tarefas que lhes cabem. Se o treinador tiver na sua equipe perfis estritamente similares ao seu, terá então um grupo de especialistas, fluente em um relativo grupo de moléstias, mas incapaz de tratar aquelas que fogem do seu conhecimento. O treinador não deve (não pode) saber de tudo, mas pode saber mais, caso decida não saber sozinho.
Pacientes são diferentes entre si (razão pela qual um mesmo medicamento, para uma mesma moléstia, pode não ser eficaz para dois indivíduos diferentes) e os próprios pacientes nunca são os mesmos – mudam ao longo do tempo. Isto significa que a medicina do bom treinador presume que não há uma solução inequívoca, não há um antídoto, uma kryptonita que deflagre as fraquezas do jogo e, assim, nos faça senhores dele. Treinadores e treinadoras, como pacientes que também são, devem perceber que o mundo é movimento, que tudo flui, razão pela qual diferentes trabalhos precisam de diferentes respostas e diferentes atletas precisam ser tratados na sua singularidade. Você haverá de convir que nada disso é fácil, há personalidades absolutamente diferentes em jogo, motivo por que treinadores e treinadoras também precisam de treinamento contínuo, formal ou não, para que saibam adotar, se necessário, uma postura camaleônica, pois o treinador que evita mudar ao longo do tempo se torna previsível – suas equipes idem. E a previsibilidade, como você bem sabe, não é dos mais eficazes medicamentos para o jogo.
Assim como a estética do paciente não deve ser o fim último de um bom médico (pois a boa estética não necessariamente significa boa saúde), a beleza de uma equipe não deve ser um fim em si mesmo para treinadores e treinadoras, pois a beleza do corpo pode esconder as agruras da alma, e a beleza de uma equipe também pode esconder sua real situação. Isso não significa, veja bem, um tratado sobre a feiura: significa que a medicina do bom treinador visa promover a saúde de um determinado jogar, e quanto mais saudável, mais belo tende a ser. Tendo em vista um dado modelo de jogo e suas variações estruturais, parece razoável afirmar que a beleza não está em um dado modelo apenas, mas está (potencialmente) em todos, e irá se expressar quanto melhor estiver o espírito de um determinado modo de se jogar.
Se o modelo de jogo é a medicação essencial e as estruturas são subjacentes a ele, perceba que a medicina do bom treinador pode dar um passo à frente, pensando em mais mudanças estruturais a cada jogo (linha de cinco, linha de quatro, losangos, triângulos…) desde que o modelo esteja suficientemente consolidado. As mudanças de estrutura podem ser amparadas pelo modelo. Já o inverso não é verdadeiro.
Mas sobre isso conversamos outro dia.

É desagradável observar que cada vez mais tem se advertido as comemorações dos gols, por irreverentes e inofensivas que sejam. Para os olhos de uma maioria. Ao mesmo tempo, o torcedor na arquibancada tem uma atuação cada vez mais limitada, quer seja por questões legais ou por segurança.
Sinal da mudança dos tempos. Sim, muita coisa mudou. Esporte é espetáculo a ser ofertado e consumido. Dentro de uma relação comercial, há inúmeros regulamentos a serem seguidos, legais e de segurança. Ao longo dos anos, o esporte de rendimento – especificamente o futebol – tornou-se muito caro. Paralelamente, as opções de lazer também, e o futebol concorre com elas. Para atrair mais torcedores (cada vez mais tratados como consumidores), os estádios precisam possuir instalações à altura de cativá-los, bem como apresentar um jogo atraente. Para isso, os investimentos em futebolistas, comissões técnicas, categorias de base, recursos humanos, inteligência e centros de treinamento também são muito urgentes. Com base nesta relação e organização, o torcedor não pode ficar em pé (pelo menos o que sugere o regulamento dos estádios), levar faixas e instrumentos musicais (salvo com base em recursos jurídicos), manifestar-se e, em casos extremos, apoiar a sua equipe quando joga como visitante.
Ora, segundo Elias & Dunning (1986), o esporte é um dos poucos lugares em que uma pessoa pode expressar suas emoções sem ser julgado. Há hoje muito mais competitividade e briga muitas vezes sem ética, pelo topo. O “meu” é o melhor, em detrimento – e eliminação – do “seu”, tornou-se discurso. Muito distinto é pensar que a coexistência, a compreensão dos altos e baixos de uma equipe e de um profissional, são saudáveis.
Paralelamente, a sociedade também mudou. São inúmeros os motivos para esta mudança, mas as décadas de impunidade, corrupção, desgoverno, desrespeito ao próximo e ao serviço público explicam em parte reações exacerbadas e a intolerância. O que antes era brincadeira, tornou-se exagero, capaz de explicar o engessamento do torcedor nas bancadas e as comemorações dos futebolistas. Muitas vezes, o simples fato de o atleta da outra equipe celebrar um gol, dentro dos limites da decência e respeito, é razão suficiente para que muitas pessoas reajam de maneira agressiva: a felicidade do próximo é inaceitável.
Com tudo isso, é preciso fazer uma reflexão sobre o que se quer como povo e nação e onde se quer chegar. A atuação em coibir as comemorações dos gols e a manifestação da cultura do torcedor é, em boa parte, culpa da própria sociedade. A intolerância e desrespeito tomou proporções tão extremas a ponto de precisarem tomar medidas como estas no futebol, que vão completamente contra o espírito e essência do esporte. Diferente de simplesmente ter-se a consciência de que um dia se perde e no outro se ganha, de que amanhã é outro dia, se aprende com ele e de que a vida segue.
Referência:
ELIAS, Nobert e DUNNING, Erich. A Busca da Excitação. Lisboa: Difel, 1986
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Neymar não pediu desculpa
Seja pelo alcance, pelo carisma, pelo potencial midiático ou pelo perfil controverso, o fato é que Neymar repercute. Absolutamente tudo que ele faz atinge um número gigantesco de pessoas de perfis totalmente diferentes. A despeito de falar quase exclusivamente apenas com sua bolha, o atacante do Paris Saint-Germain se comunica com um público bem mais amplo e mais diverso. Por isso, não foi nada surpreendente o resultado da campanha publicitária da Gillette que foi veiculada no último domingo (29). No texto, o camisa 10 reconhece o abalo de imagem sofrido com a Copa do Mundo de 2018 – o Brasil foi eliminado pela Bélgica nas quartas de final e viu seu principal jogador virar chacota mundial pelo estilo histriônico e pelo excesso de simulações. Neymar só não pediu desculpa.
O vídeo de 1min30 em que diz coisas como “a real é que eu sofro dentro de campo”, “eu ainda não aprendi a te decepcionar”, “eu ainda não aprendi a me frustrar” e “dentro de mim ainda existe um menino” esbarra em um problema basilar: é impossível estabelecer qualquer tipo de conexão com um material que não é minimamente crível e não conversa sequer com o nicho. E isso acontece apenas por “ser publicidade”, “ler um texto criado por outro” ou “não mostrar a cara em um momento tão relevante”. Foi o segundo pronunciamento de Neymar depois da Copa do Mundo de 2018, e o primeiro aconteceu em um post na rede social Instagram – apenas texto, sem qualquer oportunidade de olho no olho.
Do ponto de vista da Gillette, a estratégia tem muitos acertos. Em primeiro lugar, a marca conseguiu pegar carona no alcance de Neymar e fez sua mensagem viralizar. Segundo o jornal “O Globo”, o atacante cobrou R$ 1 milhão pela campanha, que foi veiculada no intervalo comercial do dominical “Fantástico” (o custo da inserção não está nessa conta). No entanto, o maior ativo que ele ofereceu ao processo foi a distribuição: o material foi divulgado nos canais do próprio jogador e amealhou mais de 1,2 milhão de visualizações nas primeiras 24 horas (com mais reviews negativos do que positivos, é verdade, mas até essa rejeição foi mais direcionada ao atleta do que à marca).
Para Neymar, a comunicação também é uma bola de segurança. O jogador já havia recorrido anteriormente a comerciais para falar sobre suas questões comportamentais. Em 2011, quando ele tinha 19 anos, uma campanha da Nextel o apresentou como um personagem controverso, mas em um processo de evolução pessoal. Aquele contexto era mais favorável ao atacante, diga-se: o material tinha versões similares com outras personalidades, o que personalizava menos a discussão, e ainda se tratava de fato de um garoto. Agora, aos 26 anos e depois de duas Copas no currículo, é bem mais difícil para ele esse apelo à imaturidade como se fosse elemento de empatia e não de crítica.
A campanha também não é novidade do ponto de vista de gestão de imagem de celebridades. Ronaldo, quando teve questões na carreira, também recorreu ao “Fantástico” para dar sua versão. A diferença nada sutil é que o Fenômeno fez seus discursos em entrevistas, ainda que tenha combinado previamente abordagens, roteiros e reações. Não é simplesmente o espaço que determina a autenticidade do material – a publicidade pode passar uma mensagem verdadeira e o jornalismo mal feito pode ser maléfico para a gestão de imagem.
Mas Neymar não é como seus antecessores, que usavam a mídia como intermediário para conversar com o público. O atacante do PSG controla seus próprios canais e seu discurso, o que simboliza uma geração diferente e também ajuda a explicar por que ele tem uma relação bem menos próxima com canais de comunicação. As mensagens partem da bolha e conversam com a bolha, ainda que reverberem no lado externo. E o que mais acontece com esse conteúdo, aliás, é que as críticas mais severas sobre modus operandi partam justamente de quem está fora da redoma.
O que chama atenção no comercial da Gillette é que a mensagem não funciona nem com a bolha. É um conteúdo que não conversa com quem está a milhas dos “tóis” e dos “parças”, mas tampouco funciona para o séquito do atacante. Ainda que a companhia tenha alegado que o material é fruto de pesquisa, o tom é absolutamente errado em qualquer ótica.
Chico Buarque sugeriu certa vez a criação de um ministério do “vai dar m…”. A função da pasta seria basicamente a de apresentar ao presidente da República uma visão mais comedida e discutir possíveis problemas de cada decisão. Se houvesse um consenso para cortar pela metade o salário mínimo, por exemplo, caberia a esse núcleo levantar os argumentos contrários e avisar que “isso vai dar m…”. O jornalista André Barcinski fez sugestão similar há alguns anos, quando disse que quase todos os problemas em redes sociais seriam resolvidos com um botão “tem certeza?” antes da publicação de qualquer conteúdo. É impressionante que ninguém tenha feito esse papel com Neymar.
Dias antes de o comercial ter sido veiculado, a rede social Facebook desmontou um esquema de fake news que envolvia páginas e perfis falsos no Brasil. Desabilitou a rede que até então era supostamente ligada ao MBL (Movimento Brasil Livre), e o grupo, além de ter assumido a autoria do conteúdo, resolveu protestar contra o que classificou como censura. Horas depois disso, a rede “O Boticário” publicou em seus canais uma campanha sobre o Dia dos Pais e foi acusado por internautas de cometer “racismo reverso” por ter retratado uma família em que todos os integrantes eram negros.
O que esses dois casos têm a ver com Neymar? Em ambos, o fato ganhou menos repercussão do que a percepção. Não há nada de novo com as fake news; novidade é você poder se fechar em uma bolha e consumir apenas os temas do seu agrado e as versões com as quais você concorda, independentemente do assunto. A segmentação de canais possibilita que os militantes de esquerda tenham pouco ou nenhum contato com as mensagens da extrema direita, e vice-versa.
Como consequência, as redes sociais intensificaram a produção de conteúdo segmentado. Há uma clareza maior sobre canais, públicos e que tipo de mensagem funciona com cada grupo. É nesse aspecto que a mensagem de Neymar falha tanto: os clichês enfileirados no comercial da Gillette simplesmente não conversam com nenhum grupo. A quem se destina aquela mensagem?
É nítido o trabalho que o estafe de Neymar tem feito depois da Copa para reconstruir a imagem do atacante. Contudo, o que mais chama atenção nesse projeto é a falta de um norte: até aqui, o atacante parece atirar em diferentes direções: alterna estratégias inovadoras com ações ultrapassadas, não constrói conteúdos eficientes com nenhum grupo e não cria uma figura empática independentemente do receptor da mensagem.
A reconstrução de imagem de Neymar pode até funcionar no médio ou no longo prazo. Enquanto ele seguir totalmente despreocupado com seus interlocutores, porém, esse processo vai ser muito mais complicado e tortuoso.

“Como a equipe irá jogar?”
As possibilidades são muitas e esta é uma questão fundamental, que cabe (salvo algumas exceções[1]) ao treinador definir, ainda que em termos gerais, no menor tempo possível.
Quais serão os padrões (em termos coletivos, num nível macro) que a equipe deverá apresentar quando estiver atacando, defendendo e realizando as transições?
Ser mais defensivo ou ofensivo (enquanto padrão)?
Controlar a bola ou o espaço (enquanto padrão)?
Marcar em bloco alto, médio ou baixo (enquanto padrão)?
Marcação zona, mista ou individual (enquanto padrão)?
Atacar ou Contra-Atacar (enquanto padrão)?
Ataques rápidos ou ataques continuados (enquanto padrão)?
Particularmente, penso não existir certo ou errado e sim opções e escolhas, que devem ser coerentes e ajustadas às características do contexto e fundamentalmente dos jogadores, com o que um conjunto de indivíduos pode realmente produzir.
Assim, em minha opinião, o “jogar bem” está intimamente relacionado à equipe conseguir colocar em prática uma ideia de jogo que seja capaz de potencializar e expressar o talento e as qualidades dos jogadores, ao mesmo tempo que esconda suas debilidades e fragilidades, fazendo a equipe ser forte e competitiva.
Portanto, o treinador deve conhecer de futebol e suas diferentes e variadas possibilidades, para depois, de um enquadramento/”diagnóstico” inicial, tomar partido pela ideia que mais se ajusta às necessidades e possibilidades da sua equipe.
Isso, se pretender a obtenção de resultados, é claro.
[1]Em alguns clubes, em função da sua história e cultura, o estilo de jogo (em níveis gerais) não se altera.