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Vivendo e aprendendo a jogar

Um dos pontos-chaves para a profissionalização da economia brasileira foi o irreversível processo, no final dos anos 80, de preparação dos executivos das empresas para falar em público. Com a Nova Constituição em 1988 e, posteriormente, com a promulgação do Código de Defesa do Consumidor, os executivos das companhias tornaram-se uma espécie de embaixador daquela empresa, um porta-voz que representa o pensamento e a maneira de atuação dela.
 
Foi nesse momento que proliferaram pelo país o uso do midia training por parte das assessorias de imprensa das empresas. Aliás, o primeiro passo dessa revolução foi a necessidade que as empresas viram em ter assessorias. O segundo foi o treinamento desses executivos.
 
A partir desse momento o jornalista de economia passou a ter muito mais dificuldade para conseguir uma falha na entrevista do executivo. Os principais planos estratégicos continuaram a ser guardados até o momento certo de ser anunciado. A pergunta para derrubar o entrevistado deixou de ser tão surpreendente.
 
O futebol brasileiro vive hoje uma era parecida com a que a economia nacional atravessava há questão de 20 anos. O Estatuto do Torcedor se tornou uma espécie de Código de Defesa do Consumidor do futebol. E deu muito mais responsabilidade ao dirigente esportivo. Hoje ele não pode falar qualquer bobagem que nada lhe acontece.
 
Só que, por incrível que pareça, bobagens são ditas a cada jogo. Culpar árbitros, tachar jogadores de incompetentes, esbravejar contra o comando da bola. A cada dia que passa, ou a cada derrota que se acumula, observamos pretensos dirigentes profissionais encontrarem no outro a razão para o seu fracasso.
 
Obviamente que a era paleozóica continua a ditar o ritmo do futebol. Assessoria de imprensa ainda é um tabu, o que dirá do treinamento aos profissionais encarregados de falar a público dentro desse clube. Para o clube, investimento continua a ser contratação de atletas e comissão técnica.
 
Pelo menos já evoluímos uma etapa. Falta agora percorrer o longo caminho da profissionalização da comunicação do clube. E isso não significa apenas oferecer café e bolacha aos jornalistas durante os treinos, além de um resumo informativo nos dias de jogos com estatísticas do time e atletas.
 
Enquanto esse dia não chega, uma solução é colocar mais MPB nos rádios dos dirigentes. Quem sabe, ao som de Elis Regina, eles aprendem a jogar. “Nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”…
 

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br