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O órgão regulador de clubes

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

Transparência na gestão de clubes, dívidas com o fisco, clubes perdendo para o exterior jogadores de talento, valores de transferências cada vez mais elevados. Esses são alguns dos temas polêmicos recorrentes no mundo do futebol. Nos dias de hoje, essas questões acaloram-se com (i) as recentes aquisições de clubes na Europa (Inglaterra principalmente) por parte de empresários milinários, (ii) o envolvimento de empresas na propriedade de clubes, e direitos sobre jogadores, e (iii) a atual crise financeira. 

O futebol, como estamos cansados de saber, é diferente dos demais negócios. 

A concorrência entre clubes é peculiar. Um concorrente precisa do outro para obter sucesso. A “quebra” de um grande clube no Brasil certamente prejudicaria o sucesso de seus concorrentes. 

Mas não é só o concorrente que deve se preocupar com a saúde do outro clube. As autoridades públicas também. É claro que não se pode abrir mão de exigências legais aplicáveis às atividades dos clubes. Porém, é interesse de ordem pública a existência dos clubes de futebol. Com a grande popularidade desse esporte, os grandes beneficiários do jogo são as comunidades locais que, para além do entretenimento, também podem utilizar os clubes como modo de inserção social, oportunidade de emprego, enaltecimento da dignidade humanda, e por aí vai.

Nesta medida, muito se discute sobre qual seria a justa medida de se ajudar os clubes a manterem-se vivos, saudáveis e, acima de tudo, cumpridores de suas obrigações legais e contratuais.

Na Europa, centro e precursora dessas discussões, está sendo plantada uma semente. A criação de um órgão continental de controle de gestão de clubes. Seria uma espécie de órgão fiscalizador, mas com uma grande contribuição consultiva.

Para o sucesso dessa iniciativa, todos os “stakeholders” seriam chamados para compor sua administração: ministros do esporte, representantes de ligas, clubes, federações e jogadores.

A idéia seria orientar os clubes, de forma harmonizada, a como agir, como gastar seus recursos, e como melhor administrar seu dia-a-dia.

Uma questão importante seria o alcance desse órgão e para que competições sua “licença” seria indispensável. Campeonatos continentais, nacionais (e, no caso do Brasil, estaduais)?

Essa discussão teve lugar no fórum de ministros esportivos da Europa que acaba de acontecer em Biarritz, na França.

Mas, como toda discussão democrátiva, as opiniões não são unânimes. Há países que concordam, outros que incentivam, outros que não tem opinião formada, e outros ainda que já são radicalmente contra (uma vez que esse órgão poderia ferir a soberania dos órgãos nacionais).

Importante é acompanharmos os debates, e sempre aproveitar a oportunidade para refletirmos se isso poderia ser aplicado no Brasil, ou na América do Sul.

Para isso, temos que levar em consideração as distintas realidades. Aqui ainda mais distintas ainda, uma vez que a realidade do Mercosul é profundamente distinta da União Européia.

Mas há sempre considerações que seriam válidas se a discussão fosse levada ao nosso país. Temos que abrir discussões nesse sentido em nosso país. Estamos convencido de que os clubes brasileiros, se melhor estruturados, teriam a possibilidade de “segurar” grande parte de seus jogadores que atualmente vão ao exterior.

Os clubes precisam de ajuda, e o governo sabe disso. Não só pelos clubes em si, mas pelo “capital emocional” injetado na população brasileira, que leva o Brasil (principalmente o Brasil) a lucrar todos os anos com esse esporte.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br