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Craque global

A volta de Ronaldo, definitiva, com direito a empate no último minuto num dos principais clássicos do futebol mundial foi, sem dúvida alguma, uma notícia que ocupou as manchetes da maior parte da mídia futebolística do planeta.

Para variar, mais um retorno inesperado de uma pessoa que, a cada nova prova que completa, mostra que dela você pode esperar qualquer coisa, mas nunca pode dizer que ela já está acabada para determinado tipo de função.

Ronaldo é notícia em todo o mundo. É, ao lado de David Beckham, um jogador mundial, daqueles que fazem mais sucesso que o papa, principalmente porque o futebol talvez seja uma das poucas unanimidades em toda a Terra.

Ronaldo é global. E é exatamente esse o maior problema para a imprensa brasileira.

Porque, aqui no Brasil, essa frase tem um significado muito diferente. Ronaldo é global. E, por isso mesmo, a imprensa toda sabe que o único furo de reportagem relacionado ao Fenômeno será, muito provavelmente, dado pela Globo.

A prova cabal disso foi ontem, logo após o término da partida contra o Palmeiras. Nivaldo de Cillo, repórter da Bandeirantes, foi o mais rápido e conseguiu chegar para a entrevista com o Fenômeno. Logo após chegou outro repórter de uma rádio. Só se ouvia Ronaldo dizer:

“Calma, sem confusão. Se ficar como foi da última vez, não vou falar nada. Depois reclamam que eu não falo”.

Ronaldo se referia ao término do jogo contra o Itumbiara, quando foi “golpeado” com um microfone no rosto pelos afoitos jornalistas. Mas dessa vez a coisa não estava tão feia assim, por incrível que pareça. E havia aparente tranquilidade dos próprios jornalistas. Mas Ronaldo continuou…

“Olha lá, não dá. Assim não dá para falar. Ou fica sem confusão ou não dá”.

Nivaldo de Cillo, o repórter, retrucou:

“Mas agora está calmo, você já pode falar”.

“Não está não”, foi a resposta de Ronaldo, quando nitidamente estava apenas cercado por um microfone da Band, outro de uma rádio e, já nessa altura, com outro do PFC, o canal de pay-per-view da Globo. Nem vestígio de confusão e daquele bolo de jornalistas afoitos.

A discussão só parou quando chegou a pergunta de um novo repórter que se juntou ao grupo. Curiosamente, percebia-se o símbolo da Globo. E, daí, vieram as primeiras respostas do Fenômeno. Quatro questões seguidas, e Ronaldo com o olho fixo apenas no repórter global, ignorando qualquer questionamento dos outros jornalistas.

Só depois dessa “exclusiva” é que o jogador começou a responder aos outros repórteres. Nenhum deles, infelizmente, colocou naquela hora, ao vivo, o dedo na ferida. 

Porque Ronaldo, há muitos anos, só fala com a Rede Globo. Foi no Jornal Nacional a primeira entrevista para dizer que chegava “mais um louco para o bando de loucos” do Corinthians. Foi na emissora que ele passou pelos mais diferentes programas, de Ana Maria Braga ao Esporte Espetacular, para falar qual era a sensação de jogar no Timão. Foi no Fantástico o desabafo do jogador quando esteve envolvido no caso dos travestis e quando disse que “era só voltar a jogar, começar a fazer gol e todo mundo se esqueceria disso”.

Assim como faz com Sandy, Ivete Sangalo e outros artistas badalados da mídia, a Globo parece ter com Ronaldo um contrato que lhe exige exclusividade. Ou, pelo menos, privilégio na hora de passar alguma informação bombástica à imprensa. 

O mais curioso é que a Globo não precisa disso para ter o furo de reportagem. Apenas o peso que o microfone da emissora tem já é suficiente para que ela largue com vantagem na hora de construir uma relação de proximidade com a fonte. O impacto que a Globo causa na vida das pessoas já constitui motivo mais do que suficiente para uma pessoa ter o desejo de falar primeiro a ela. E, depois, dar atenção aos outros veículos. 

Mas é impressionante como parece existir um medo terrível na Globo de ficar “para trás” na hora de uma informação exclusiva. E, com isso, ela parece usar toda a força que tem para manter os principais nomes da mídia com uma marca global no comportamento. 

E, o mais curioso, nem Ronaldo e nem Globo precisariam disso…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Ganhar jogando à zona: conflitos da auto-organização coletiva

A todo tempo no nosso dia-a-dia, com maiores ou menores responsabilidades, com maior ou menor frequência, é inevitável e inerente à nossa condição humana: temos que tomar decisões.

Existe um tipo de decisão que nasce em uma dimensão que, tentando se aproximar das melhores respostas, acaba por se afastar da essência dos problemas.
 
Isso ocorre em ambientes diversos, da ciência à prática, da universidade ao “boteco” da esquina, dos escritórios mais ricos de Nova York até o gramado do futebol da periferia no final de semana.
 
Hoje tomarei no meu texto a decisão de assumir minha preferência pelo “jogar à zona”.
 
Em um passado bem recente, assisti um jogo em que uma das equipes se defendia marcando em zona – ou melhor, tentava – (e claro, marcar não representa o todo do jogar!). Ela foi derrotada e os especialistas de plantão logo apontaram com simplicidade, a culpada pela derrota: a marcação por zona.
 
Marcar individualmente, por zona, ou seja de que forma for pode ser mais eficiente em uma situação do que em outra, de maneira que apontar que uma forma de marcar é melhor do que outra incorre a grandes riscos de erro. Mas como mencionei anteriormente, hoje incorrerei ao grande risco.
 
Quando uma equipe faz uso da marcação individual, sua principal referência de ocupação do espaço é o adversário a ser marcado. Isso quer dizer que cada um dos dez jogadores de linha no jogo tem, cada um deles, uma referência distinta do seu companheiro para estruturar seu posicionamento no campo de jogo.
 
Então quando, estando marcando de forma individual, a equipe recupera a posse da bola, estará distribuída no campo em função do adversário e não das suas necessidades ofensivas. Isso quer dizer, em outras palavras, que ao invés de uma ocupação inteligente dos espaços, a equipe que marca individualmente acaba por configurar uma geometria anárquica no campo, e aí para ter êxito ofensivo precisará antes de mais nada redesenhar sua distribuição no terreno de jogo.
 
Certa vez um jornalista espanhol escreveu que é difícil distinguir em alguns jogos entre equipes brasileiras qual o esquema tático utilizado por elas.
 
Claro! Se as equipes brasileiras, em sua grande maioria, têm como referência principal de marcação o jogador adversário, cada ultrapassagem, entrada em diagonal ou troca de posição representa não uma dinâmica harmoniosa e inteligente de ocupação dos espaços, mas sim uma necessidade emergencial de auto-ajustes que proporcionem o mínimo de equilíbrio posicional a equipe.
 
E se isso é verdade para quando a equipe recupera a bola, também é para quando ela a perde.
 
Obviamente que marcar em zona pode ser tão ineficiente quanto marcar de forma individual (mesmo que jogadores e equipe entendam e cumpram bem suas funções) ou até pior se outras referências para a auto-organização coletiva ao invés de apresentarem caráter complementar umas as outras e caminharem na mesma direção, acabarem se chocando e não contribuindo para dinâmicas harmoniosas de jogo – mas que fique claro, o problema aí não é do “marcar em zona”…
 
Sob a perspectiva da auto-organização coletiva da equipe, o marcar em zona, o transicionar em zona, o atacar em zona; enfim, o “jogar à zona” permite uma referência mais contextualizada à dinâmica do jogo, podendo garantir sim superioridade no jogar, em circunstâncias diversas do jogo.
 
Sinto muitas vezes que as críticas que o “jogar à zona” sofre se dão mais pela incapacidade de entendimento do que isso significa (por parte de quem comenta ou critica), do que pela inconsistência dessa forma de jogar. Sinto também que muitas vezes, pelo que vejo, acredita-se com alardes, que essa ou aquela equipe joga (ou jogou) à zona; mas isso não deve ser tido como verdadeiro pelo simples fato de acreditarem que isso é verdadeiro – ou seja, acham que estão jogando à zona sem sequer cumprir com a essência dos construtos que o jogar à zona carrega.
 
Por isso, convido à todos a ler mais sobre o assunto e lhes garanto: as equipes de maior sucesso (financeiro e esportivo) no cenário europeu estão cada vez mais cumprindo melhor a essência do jogar à zona.
 
Sugestão de leitura inicial a respeito do tema: Amieiro; N. “Defesa à Zona no Futebol: um pretexto para reflectir sobre o JOGAR bem, ganhando!“. Portugal: Maiadouro, 2005.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
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Seis mais cinco… a conta é justa?

Caros amigos da Universidade do Fubebol,

A Fifa deu nesta semana mais uma cartada em sua luta pela implementação da Regra do 6+5.

Para quem não se recorda, em vistas a uma internacionalização excessiva, principalmente em clubes das principais Ligas Européias de Futebol Profissional, a Fifa pretente implementar uma regra a entrar em vigor até 2010, segundo a qual um time deve entrar em campo com pelo menos seis jogadores elegíveis a atuar pela seleção nacional do país em que o clube é localizado.

Com isso, a Fifa pretende não só promover a formação de talentos locais, como também reduzir o gap (em termos de qualidade de jogo) existente entre as diversas seleções nacionais e aumentar o que se chama “competitive balance” entre elas.

Ocorre que a Comissão Européia vem dando sinais de que essa regra não teria o amparo da Legislação Comunitária, uma vez que promoveria a discriminação de trabalhadores com base na nacionalidade (tema exaustivamente discutido na decisão do caso Bosman).

Nesse sentido, a CE manifestou maior simpatia e preferência pela regra introduzida pela Uefa nos seus campeonatos interclubes chamada Home-Grown Players Rule (como a propósito já comentamos em colunas anteriores).

De toda forma, nesta semana a Fifa apresentou um relatório produzido de forma independente por 5 experts europeus com formações na Suiça, Alemanha, Espanha, Itália e Grécia (todos membros do Institute for European Affairs – Inea) que atesta a suposta legalidade da regra.

O estudo, de forma geral, defende a implementação da nova regra. Interessante notar algumas das suas conclusões.

Em primeiro lugar, o estudo traz um novo comentário ao atual debate sobre o tema, ponderando que as decisões passadas da European Court of Justice, i.e., Bosman e outras, não podem ser utilizados de forma axiomática com relação à Regra do 6+5. Isto porque as tendências agora são outras, e as preocupações são distintas. Em outras palavras, o estudo sugere, indiretamente, que o tema da discriminação por nacionalidade seja visto agora com outros olhos.

Além disso, princípios fundamentais ligados ao esporte, tais como a luta contra o tráfico de menores, desenvolvimento de comunidades locais, fair play, etc, seriam justificativas plausíveis e proporcionais para que a regra da Fifa fosse tida como lícita nos termos do Tratado da Europa e do Tratado de Lisboa (ainda pendente de ratificação).

Mais além, o estudo sugere que a intenção da Fifa com a regra do 6+5 respeita e promove diversos preceitos gerais do Tratado Europeu, tais como o princípio da boa-fé, o que também deveria ser levado em consideração em uma eventual decisão judicial.

 

Não haveria finalmente, segundo o estudo, ofensa às disposições anti-trust (concorrenciais). A Fifa não estaria tomando uma posição de domínio no mercado do futebol profissional em decorrência direta da aplicação da regra.

Esse é um tema que ainda deve gerar muito debate até o momento da sua aplicação. O estudo ora comentado é um passo importante para o lado da Fifa. 

Vamos ver qual será o “day after”.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Títulos de uma dívida sem sentido

A essas alturas você já deve estar careca de saber sobre como começou a crise econômica mundial que quebrou tanta gente a ponto do Manchester United convidar até a Petrobras a patrocinar o clube. Não tá fácil arranjar patrocínio hoje em dia. A míngua é tamanha que até o Manchester United tenta mamar nas tetas do Estado brasileiro.

É feia a coisa.

Tudo por conta dos títulos podres do mercado imobiliário americano. Bastou um pessoal sem dinheiro hipotecar suas casas por umas cinco vezes, sem ter a menor condição de pagar por isso. Aí um malandrão rola o título da dívida pra uma outra negociação qualquer, o que vai criando uma bola de neve – que você já deve estar bastante cheio de ouvir falar.

O propósito desta coluna não é falar sobre a Petrobras, o Manchester ou sobre os estadunidenses. É para fazer um exercício de imaginação. Se você acha que as coisas estão ruins hoje, pare. Elas poderiam estar muito piores. Imagine como não estaria o mundo se, ao invés de títulos hipotecários dos estadunidenses, os malandrões tivessem negociado títulos de dívida pública dos clubes de futebol do Brasil?

Antes de mais nada, uma ressalva. Eu não entendo quase nada de títulos de dívida, pública ou privada.Talvez dizer ‘quase’ seja superestimar minha capacidade cognitiva. A verdade é que eu entendo lhufas. Mas imagino o que seja, de tanto ouvir o William Wack falar. Portanto, se você é um especialista na área por escolha da profissão ou por obrigação de pagamento, perdão se eu falar alguma bobeira.

De qualquer maneira, imagine que o Lehman Brothers negociasse títulos de dívida de clubes de futebol do Brasil. Ele acreditava que clubes eram instituições ricas, apesar das muitas dívidas, e que eventualmente pagariam a dívida com o governo. Se não pagassem, o governo daria um jeito que eles assim o fizessem, nem que fosse preciso inventar uma loteria para isso. É garantia certa de retorno. Por que não securitizar uma boa parte do patrimônio nisso?

Eis que o primeiro baque faz com que o governo invente a loteria. É um alerta, mas não é sinal de desespero. Afinal, a loteria promete acabar com todas as dívidas. O dinheiro vai entrar.

E eis que o dinheiro que se imaginava arrecadar com a loteria não aparece. O título de dívida do clube vira um título podre. O banco tinha boa parte do seu patrimônio em cima de valores que deixaram de existir. O Lehman Brothers quebra. E todo mundo que negociou crédito com o LB também quebra. Bancos quebram. Acaba o crédito. Empresas quebram. A crise mundial estoura. Países que baseiam a sua produção nas áreas financeiras e não de manufatura entram em recessão. Islândia, Suíça, Inglaterra, boa parte da Europa. Tudo por causa dos títulos de dívida dos clubes de futebol.

A solução?

Estatizar o futebol dos países quebrados.

Aí sim faria sentido a Petrobras patrocinar o Manchester.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Buy “Campeonato Estadual”

O pacote econômico lançado pelo presidente dos EUA, Barack Obama, há poucas semanas, e apoiado pelo Congresso Nacional, previa, inicialmente, a implementação da cláusula “Buy American”, cujo principal objetivo era estimular a economia nacional e, ao mesmo tempo, impedir qualquer compra de insumos e produtos estrangeiros, vinculados aos segmentos financiados pelo plano. 

Felizmente, para o livre comércio mundial, regulado pela OMC, esta medida não prosperou, haja vista que o estímulo estava revestido de protecionismo comercial.

Falemos de futebol.

Muito se discute sobre a viabilidade dos campeonatos estaduais. Críticas negativas, em sua maioria, especialmente quando os grandes clubes encontram-se envolvidos em outras competições nacionais e internacionais, sob um calendário anual bastante intenso – em que pese ser um período importante para entrosamento das equipes, surgimento de novos talentos e planejamento geral da temporada.

Entretanto, não se pode culpar a falta de êxito dos estaduais pelo excesso de importância dada pelos clubes às demais competições, como a Copa do Brasil e à Libertadores da América. A concorrência é intrínseca, nesse caso. Sem sequer mencionar as transmissões de TV das ligas européias que batem à porta dos fãs (Champions League, Uefa, Italiano, Espanhol, Inglês, Alemão…). 

Tome-se como exemplo o Campeonato Gaúcho. É uma competição bem organizada, já há alguns anos, com fórmula de disputa enxuta e conseqüente presença de clássicos regionais, além de oferecer visibilidade e valorização aos patrocinadores e apoiadores, com a necessária participação da TV (aberta e no sistema pay-per-view). A Federação Gaúcha, os clubes, os patrocinadores e os torcedores ajudaram a forjar esta realidade e lhe dar continuidade.

O mesmo ocorre, paradoxalmente, no Rio de Janeiro. Enquanto os clubes se alternam nas dificuldades para escapar de posições medianas e, até mesmo, do rebaixamento no Campeonato Brasileiro, o Campeonato Carioca tem sido exitoso, pelas mesmas razões apresentadas no “Gauchão”.

Por outro lado, no estado de São Paulo, os últimos campeonatos têm sofrido um desgaste, no que concerne à ausência de clássicos em jogos decisivos, com conseqüente desinteresse do público nos estádios e, até mesmo, na TV, bem como alguns clubes pouco competitivos técnica e financeiramente que tornam a tabela de jogos inchada. Ainda pior se considerarmos, por exemplo, São Paulo e Palmeiras disputando a Libertadores. Como bem disse uma vez meu amigo Oliver Seitz, “muito futebol mata o futebol”.

No Estado do Paraná, que, neste ano, com base em um novo acordo com a TV, sinalizava para uma retomada de crescimento, eis que surge algo absolutamente impensável numa atividade que atrai muito dinheiro e interesse geral: o regulamento da competição nasceu como uma aberração. Para resumir a bagunça, o clube melhor colocado da primeira fase tem o “supermando” dos jogos no octogonal final – jogará todas as partidas em sua casa – o que criou descontentamento geral entre os clubes e ameaças envolvendo STJD e Justiça Comum.

Infelizmente, nesse caso, o foco são os problemas, não a grandeza dos eventos – o que prejudica o relacionamento entre os clubes, federações, patrocinadores e TV, bem como o próprio público amante e consumidor do esporte. Instabilidade contratual e investimentos não combinam…

Recentemente, uma pesquisa encomendada pelo maior grupo de comunicação do Paraná visou traçar o panorama geral do contingente de torcedores dos distintos clubes no estado.

Resultado: a maior torcida, com certa folga, foi a do Corinthians, do estado vizinho, São Paulo. Muito bem cotados na capital e no norte, estão o São Paulo, Palmeiras, Santos, além de Grêmio e Internacional, em especial no sul e sudeste do estado.

Essa pesquisa foi apontada como o fator que impulsionou a transformação no J. Malucelli, clube de família tradicional por aqui, no Corinthians Paranaense, por um lado, e reações indignadas, por parte dos que “exigem” que os habitantes do estado sejam torcedores dos clubes locais – jornalistas, torcedores, cronistas, políticos.

Já no Rio Grande do Sul, outra pesquisa realizada pela consultoria Nielsen em 2008, e veiculada na revista Veja, sobre o hábito de consumo da população em diferentes segmentos, evidenciou o contrário: os gaúchos dão preferência aos produtos nativos, autóctones. Não à toa, empresas como Magazine Luiza, TIM, AmBev, Wal-Mart e Carrefour compraram empresas locais, para “ser” gaúcha, ou direcionaram as estratégias de marketing para “parecer” ao menos.

Conseqüências: simpatia das comunidades onde atuam e maiores vendas, inclusive de produtos fabricados no estado.

Em outras palavras, a valorização do futebol dos campeonatos estaduais pode despertar o interesse do seu mercado consumidor, desde que impulsionada por uma mudança de cultura administrativa surgida e estimulada entre todos os envolvidos em sua organização e execução. Vale dizer, em coordenação, não em subordinação de interesses.

Esta postura é que possibilitará um aumento da base de torcedores/sócios em âmbito regional, com aumento de receitas em direitos de TV, patrocínio, licenciamento e merchandising, com perspectiva nacional sustentável. 

Mudanças nesse patamar não são feitas de uma hora para outra, tampouco por decreto, ou por cláusulas impositivas do tipo “Buy Campeonato Estadual”.

Para interagir com o autor: barp@149.28.100.147

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Buy "Campeonato Estadual"

O pacote econômico lançado pelo presidente dos EUA, Barack Obama, há poucas semanas, e apoiado pelo Congresso Nacional, previa, inicialmente, a implementação da cláusula “Buy American”, cujo principal objetivo era estimular a economia nacional e, ao mesmo tempo, impedir qualquer compra de insumos e produtos estrangeiros, vinculados aos segmentos financiados pelo plano. 

Felizmente, para o livre comércio mundial, regulado pela OMC, esta medida não prosperou, haja vista que o estímulo estava revestido de protecionismo comercial.

Falemos de futebol.

Muito se discute sobre a viabilidade dos campeonatos estaduais. Críticas negativas, em sua maioria, especialmente quando os grandes clubes encontram-se envolvidos em outras competições nacionais e internacionais, sob um calendário anual bastante intenso – em que pese ser um período importante para entrosamento das equipes, surgimento de novos talentos e planejamento geral da temporada.

Entretanto, não se pode culpar a falta de êxito dos estaduais pelo excesso de importância dada pelos clubes às demais competições, como a Copa do Brasil e à Libertadores da América. A concorrência é intrínseca, nesse caso. Sem sequer mencionar as transmissões de TV das ligas européias que batem à porta dos fãs (Champions League, Uefa, Italiano, Espanhol, Inglês, Alemão…). 

Tome-se como exemplo o Campeonato Gaúcho. É uma competição bem organizada, já há alguns anos, com fórmula de disputa enxuta e conseqüente presença de clássicos regionais, além de oferecer visibilidade e valorização aos patrocinadores e apoiadores, com a necessária participação da TV (aberta e no sistema pay-per-view). A Federação Gaúcha, os clubes, os patrocinadores e os torcedores ajudaram a forjar esta realidade e lhe dar continuidade.

O mesmo ocorre, paradoxalmente, no Rio de Janeiro. Enquanto os clubes se alternam nas dificuldades para escapar de posições medianas e, até mesmo, do rebaixamento no Campeonato Brasileiro, o Campeonato Carioca tem sido exitoso, pelas mesmas razões apresentadas no “Gauchão”.

Por outro lado, no estado de São Paulo, os últimos campeonatos têm sofrido um desgaste, no que concerne à ausência de clássicos em jogos decisivos, com conseqüente desinteresse do público nos estádios e, até mesmo, na TV, bem como alguns clubes pouco competitivos técnica e financeiramente que tornam a tabela de jogos inchada. Ainda pior se considerarmos, por exemplo, São Paulo e Palmeiras disputando a Libertadores. Como bem disse uma vez meu amigo Oliver Seitz, “muito futebol mata o futebol”.

No Estado do Paraná, que, neste ano, com base em um novo acordo com a TV, sinalizava para uma retomada de crescimento, eis que surge algo absolutamente impensável numa atividade que atrai muito dinheiro e interesse geral: o regulamento da competição nasceu como uma aberração. Para resumir a bagunça, o clube melhor colocado da primeira fase tem o “supermando” dos jogos no octogonal final – jogará todas as partidas em sua casa – o que criou descontentamento geral entre os clubes e ameaças envolvendo STJD e Justiça Comum.

Infelizmente, nesse caso, o foco são os problemas, não a grandeza dos eventos – o que prejudica o relacionamento entre os clubes, federações, patrocinadores e TV, bem como o próprio público amante e consumidor do esporte. Instabilidade contratual e investimentos não combinam…

Recentemente, uma pesquisa encomendada pelo maior grupo de comunicação do Paraná visou traçar o panorama geral do contingente de torcedores dos distintos clubes no estado.

Resultado: a maior torcida, com certa folga, foi a do Corinthians, do estado vizinho, São Paulo. Muito bem cotados na capital e no norte, estão o São Paulo, Palmeiras, Santos, além de Grêmio e Internacional, em especial no sul e sudeste do estado.

Essa pesquisa foi apontada como o fator que impulsionou a transformação no J. Malucelli, clube de família tradicional por aqui, no Corinthians Paranaense, por um lado, e reações indignadas, por parte dos que “exigem” que os habitantes do estado sejam torcedores dos clubes locais – jornalistas, torcedores, cronistas, políticos.

Já no Rio Grande do Sul, outra pesquisa realizada pela consultoria Nielsen em 2008, e veiculada na revista Veja, sobre o hábito de consumo da população em diferentes segmentos, evidenciou o contrário: os gaúchos dão preferência aos produtos nativos, autóctones. Não à toa, empresas como Magazine Luiza, TIM, AmBev, Wal-Mart e Carrefour compraram empresas locais, para “ser” gaúcha, ou direcionaram as estratégias de marketing para “parecer” ao menos.

Conseqüências: simpatia das comunidades onde atuam e maiores vendas, inclusive de produtos fabricados no estado.

Em outras palavras, a valorização do futebol dos campeonatos estaduais pode despertar o interesse do seu mercado consumidor, desde que impulsionada por uma mudança de cultura administrativa surgida e estimulada entre todos os envolvidos em sua organização e execução. Vale dizer, em coordenação, não em subordinação de interesses.

Esta postura é que possibilitará um aumento da base de torcedores/sócios em âmbito regional, com aumento de receitas em direitos de TV, patrocínio, licenciamento e merchandising, com perspectiva nacional sustentável. 

Mudanças nesse patamar não são feitas de uma hora para outra, tampouco por decreto, ou por cláusulas impositivas do tipo “Buy Campeonato Estadual”.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Meia-errata e necessidade dos clubes pensarem gestão de forma compartilhada

Olá amigos, na última coluna, alguns pontos que levantei geraram muita polêmica, nos emails que recebo dos colegas que acompanham os textos da Universidade do Futebol.

Pois bem, dentre os pontos, faço um esclarecimento: quando me referi ao contrato da Nike com o Corinthians no valor de 15 milhões, quantia praticamente igual a do patrocínio principal do São Paulo, me referi ao acordo divulgado pelo São Paulo com a LG em 2008, no valor de 16 milhões. Para 2009, esse contrato é de 18 milhões.

Fica uma meia-errata em relação aos valores e informações sobre o contrato de patrocínio da equipe do São Paulo. Reafirmo, como na semana passada, que utilizei as informações da Gazeta Press, e, como de costume, ainda verifiquei em outras fontes que também reafirmavam o valor mencionado.

Errei, e agradeço as correções dos leitores, dentre eles os e-mails assinados por Melveris Sas e Guilherme Mendes que corrigem os valores do patrocínio do São Paulo, baseando-se já em 2009, e ainda apresentam números em relação ao fornecimento de material da Reebok para o São Paulo, em cifras similares ou superiores (não colocarei informações mais precisas por falta de dados consensuais).

Esse é um ponto que gostaria de abordar. Cada veículo de informação divulga um valor diferenciado, por isso digo que é uma meia-errata. Mas, aprendendo com os erros, ficarei mais atento aos diferentes meios de comunicação, e também faço um apelo aos clubes brasileiros para tornarem cada vez mais transparentes (e que seja uma transparência de verdade) as informações (respeitando as necessidades e sigilos comerciais que lhes cabem) porque, assim, evitamos cair em armadilhas tal como eu caí.

No tocante a outro ponto polêmico, alguns concordaram com a preocupação com o demasiado egocentrismo do São Paulo e outros discordaram ressaltando que a equipe tricolor está muito a frente das demais.

São opiniões, e é nesse debate, que gosto de abrir com os colegas, que podemos contrapor visões e discutir, enfim, esse é um dos princípios de uma universidade tal qual a Universidade do Futebol se propõe.

Se todos concordássemos com uma única visão, o avanço seria mais lento, e é justamente a esse ponto que quis me referir em um breve espaço na última coluna. Está aí mais um erro, o espaço deveria ter sido maior para tal debate.

Ao fechar em si mesmo como modelo e referência nacional, e reafirmo que foi e que ainda é, o São Paulo tem realizado ações que, do ponto de vista estratégico, correm o risco de não acompanharem o que vem pela frente.

É como uma empresa pensar somente a curto prazo e realizar estratégias inovadoras e de excelente qualidade para obter resultados no presente, mas sem se preocupar com o que a concorrência pode apresentar, que por mais devastada que esteja no momento, alguma ação inteligente e proveitosa pode emergir e surpreender, afinal ela objetiva alcançar  e ultrapassar a referência do mercado.

Daí, a referência ao Palmeiras e ao Corinthians, nas figuras de dois excelentes e respeitadíssimos nomes que são Belluzo e Rosemberg (convido-os a consultar o currículo desses dois profissionais), e na busca que têm feito para dar alternativas aos seus clubes. Com idéias que visam a modernização de suas agremiações e que também partem da premissa de que, atuando em conjunto e em prol do futebol, seu clube só tem a ganhar. Poderia ter citado outros clubes, como, por exemplo, o Inter-RS com algumas ações recentes (tecnológicas e modernas).

Enquanto na Europa, os clubes se unem para facilitar a gestão, buscando uma organização em conjunto, na qual todos os integrantes são beneficiados, compartilhando tecnologia, informação e ações estratégicas, deixando que a competência e o trabalho diferenciado de cada um, isto é,  a forma como utilizam toda a estrutura conquistada (consequentemente diminuindo custos) seja o grande diferencial para sobrepor-se perante o outro, no São Paulo, percebe-se um certo egocentrismo, como dito anteriormente.

Essa observação, que tentei deixar mais clara, dada aos distintos e-mails que recebi, seja em concordância ou em discordância, é uma visão, outras tantas (cada um tem a sua) existem e acredito que, nessa troca, podemos ampliar nosso leque e aproveitar o que há de melhor numa universidade: aprender a ver o universo e a diversidade de opiniões acerca do mesmo fato.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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O melhor campeão brasileiro

O São Paulo de Muricy foi o primeiro tri, o único hexacampeão brasileiro. Tecnicamente, o Flamengo de 1982 foi o melhor time do país. Mas, por desempenho, ninguém superou os 84% de aproveitamento do Internacional de Rubens Minelli, bicampeão brasileiro.
 
Um papo com o mentor do time explica parte do sucesso colorado daquele que foi o melhor time do país nos anos 70:
 
Mauro – Você chegou ao Beira-Rio em janeiro de 1974, durante o BR-73. O Inter de 1975-76, de fato, começa em 1972, ainda com Dino Sani no banco. A base já estava lá. O Inter foi semifinalista do BR-72, e finalista dos quadrangulares de 1973 e 1974. A imprensa gaúcha detonava e dizia que o time só morria na praia – embora ganhasse tudo no campeonato estadual. Como foi o salto de um time “perdedor” para o maior vencedor brasileiro nos anos 70? Foi apenas a sua chegada, em janeiro de 1974, ou a vinda de reforços como Manga e Flávio (1975), Dario e Marinho Peres (1976), e a revelação de volantes como Batista e Caçapava?
 
Rubens Minelli – O meu sucesso no Inter é parecido com o do Muricy, hoje, no
São Paulo.  É a continuidade de um trabalho, de uma filosofia de jogo. É a manutenção de uma base. Pena que são poucos os dirigentes que entendem isso no futebol.
 
Fiquei três anos montando uma equipe, apurando a condição técnica e tática. Num time montado, qualquer reforço dá certo. Meu grande mérito foi a equipe ter uma grande obediência tática. Eram estrelas disciplinadas. A cada ano conseguíamos  jogadores melhor qualificados, e, por isso, tivemos o grande aproveitamento em 1976 [84% dos pontos conquistados, o maior campeão da história do Brasileirão]. Além disso, era um grupo raro, de estrelas sem vaidades. Eles compreendiam o que eu queria taticamente e conseguiam desenvolver esse futebol dentro de campo. O meu conceito sempre foi que o jogador tem liberdade para fazer o que quer quando tem a bola. Mas, sem a bola, vão jogar como eu quero.
 
Mauro – O time de 1976 foi o mais impressionante. Tecnicamente, só perde para o Flamengo de 1982, Mas, taticamente, era mais elaborado e competitivo. Qual o segredo?
 
Rubens Minelli – O grande segredo foi uma mudança tática que ninguém percebeu na época. Todos os times brasileiros atuavam no 4-3-3. Todos iguais, um volante e dois meias. Nós jogamos em 1976 no 1-3-1-2-3. O libero era o Marinho Peres, que havia jogado no Barcelona em função parecida, com o Rinus Michels. Ele ficava atrás da linha de três zagueiros: o Figueroa saía na caça, com o Cláudio e o Vacaria marcando os pontas adversários.

O Inter de 1976
 
Marinho Peres atuava como sobra, atrás da linha de três zagueiros

 
Mauro – Mas o Figueroa não saía tanto para cobrir as laterais… Esse era o maior problema tático da equipe?
 
Rubens Minelli – Sim. Quando o Cláudio avançava, por dentro, ficávamos um pouco desguarnecidos na lateral direita. O Figueroa era excepcional. Caçava o centroavante adversário, e deixava o Marinho na sobra. Até porque ele não tinha a mesma velocidade, embora tivesse bom passe. Mas o esquema funcionava. A grande sacaca era o triângulo no meio-campo, com o Caçapava na entrada da área marcando o meia-atacante adversário, e o Carpegiani ou o Batista pela direita e o Falcão pela esquerda. Quando todos os times atacavam, chegavam com dois meias. Um deles era marcado pelo único volante das equipes, e o outro era perseguido pelo quarto zagueiro.

Nós fazíamos diferente: quando o Inter tinha a bola, a base do nosso triângulo ficava voltada pro Manga, o nosso goleiro, e o ápice no ataque, com o Falcão, que eu adiantei mais; quando nos defendíamos, eu trazia o Falcão pra trás, e invertia a base do triângulo. Os nossos dois volantes marcavam os dois meias dos rivais que sempre vinham, e sobrava o Falcão. Nossa marcação começava mais à frente. Esse detalhe deu ao Inter toda a diferença em 1976.
 
Além disso, aperfeiçoamos a linha de impedimento que eu e o Marinho já fazíamos  desde a Portuguesa, e ele aprimorou no Barcelona. Nós marcávamos mais à frente, abafando o adversário.
 
Mauro – Não esqueço aquele gol contra o Coritiba, no Couto Pereira. Eram oito colorados contra dois coxas. Parecia a Holanda-74.
 
Rubens Minelli – Teve um gol mais impressionante, contra o Ceará, no Castelão. O zagueiro deles, o Artur, gostava de sair jogando. Mas, quando viu, tinha uma tropa em cima dele. Em vez de dar um bico na bola, tentou fazer o lance, trombou com o goleiro, e nós fizemos um gol muito engraçado. Esse era o nosso jeito de jogar. Atacávamos muito e nos defendíamos maravilhosamente bem.
 
Mauro – Esse 1-3-1-2-3 dava liberdade para os laterais?
 
Rubens Minelli – O Marinho ficava atrás da linha de três zagueiros. O Cláudio, quando avançava, ia por dentro, porque o Valdomiro jogava bem aberto, como ponta mesmo, e ainda marcava o lateral adversário quando ele apoiava. O Valdomiro era um monstro, com uma disposição tremenda, e um cruzamento perfeito, com a bola parada ou rolando. Ele fez o Flávio artilheiro em 1975, e o Dario, em 1976. Fora os escanteios que eram muito bem treinados. O Valdomiro batia onde estava o Carpegiani. Ele, de fato, servia de mira. Porque a bola ia até ele, mas quem chegava para cabecear vindo de fora da área era o Figueroa. Como o foi o gol do título do BR-75, contra o Cruzeiro.
 
Mauro – O Carpegiani era só “alvo” naquele time [risos]?
 
Rubens Minelli – Não. Ele era a referência técnica daquela equipe.
 
Mauro – Mais que o Falcão?
 
Rubens Minelli – Sim. O Carpegiani era quem ditava o ritmo da equipe.
 
Mauro – Aquele timaço não era só marcação. Sabia atacar. E muito, para um time gaúcho.
 
Rubens Minelli – O Vacaria tinha sido ponta-esquerda e cruzava muito bem. Ele avançava reto, ia bem ao fundo – isso quando o Lula fechava, ou trocava de posição com o Dario, que caía um pouco mais para a esquerda. Era uma das tantas jogadas que fazíamos. Mas, de fato, por ser tão ofensivo, era um time, digamos, pouco gaúcho. Era um time praticamente sem falhas. Muito técnico, forte e resistente. E que sabia entender as alternativas táticas.
 
Quando cheguei ao time, em 1974, no Sul só havia o Grêmio de rival de qualidade. E, mesmo assim, jogando fora de casa, 1 x 0 era goleada. Joguei o time pro ataque em todos os lugares, tentando mudar essa mentalidade de atuar apenas para não tomar gols, indepedente da qualidade do rival. Os grandes faziam 1 x 0 e terminavam atrás, dando bico pra frente. Consegui incutir de tal modo essa vontade de atacar que conseguimos ganhar o campeonato gaúcho de 1974 com 100% de aproveitamento.
 
Ganhamos os 18 jogos. Todos eles. Só tomamos dois gols. Mas o torcedor é gozado… Um frentista colorado me parabenizou pela conquista do Gauchão. Mas me cobrou para o ano seguinte que a gente não só ganhasse todos os jogos, como também não levasse nenhum gol! [risos].

Na defesa
 
Sem a bola, Falcão sobrava à frente da zaga, e os dois volantes marcavam os meias rivais

 
Mauro – O trabalho deu certo no Inter também por conta do preparador físico Gilberto Tim?
 
Rubens Minelli – Claro! E o pior é que o Inter queria trocar o Tim quando eu cheguei. Ele havia ganho todos os títulos estaduais… Mas eu resolvi apostar nele pela competência, além de ter um auxiliar gaúcho. Deu muito certo. Ele foi o primeiro no país a apostar na musculação para os atletas, para deixá-los mais fortes e resistentes.
 
Mauro – E quando não estava dando certo o Inter, entrava o Escurinho para decidir os jogos.
 
Rubens Minelli – Ele era o meu 12º. titular. Sempre jogava meia hora. E jogava bem. Tínhamos um lance forte, quando o Vacaria cruzava da esquerda para o segundo pau, e o Escurinho preparava para o centroavante ou para o Falcão. Dava sempre certo. Mas o Escurinho reclamava de só jogar meia hora. E eu respondia que, de fato, ele só jogava 15 minutos. E olhe lá [risos]…
 
Mauro – Para um treinador detalhista, como era estudar os rivais nos anos 70?
 
Rubens Minelli – Como sempre, a conversa com amigos ajuda bastante. Mas eu tinha o hábito de fotografar os adversários. Isso ajudava demais. Um fotógrafo tirava uns 60, 70 slides de jogos dos adversários. Na preleção, mostrava para o grupo, projetando as fotos na parede da cozinha. Todos gostavam e entendiam, menos o[ponta-esquerda] Lula.. Até que os próprios companheiros o alertavam, e tudo acabava dando certo. Eu também fui o primeiro treinador no Brasil a ter um videocassete. Isso foi essencial na montagem do São Paulo, campeão brasileiro em 1977.
 
Mauro – Aliás, o Muricy era seu jogador, e disse que você foi o mais completo treinador que ele teve. Você imaginava que ele pudesse virar o treinador que virou?
 
Rubens Minelli – Honestamente… [risos]. Ele já era meio turrão, ranzinza…
 
Mauro – Como todo bom treinador…
 
Rubens Minelli – Isso [risos]. Mas não esperava o sucesso que ele está tendo. E que merece por ser trabalhador e ranzinza. O técnico precisa ser assim. Porque o futebol é o único lugar onde o trabalhador manda no patrão. É preciso ter um comando firme.
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Fora de sintonia

Foram menos de três meses. Desde o dia 12 de dezembro de 2008, quando Ronaldo foi oficialmente apresentado como reforço do Corinthians, o clube paulista conseguiu manter um delicado equilíbrio em seu tradicional “centro gerador de crises”. Clube mais assediado pela mídia na capital paulista, o Corinthians tem de conviver com mais um barril de pólvora em meio a um incêndio com a presença de Ronaldo em seu time.

Tradicionalmente o Corinthians é um clube que não consegue viver sem crise. A excessiva preocupação da mídia com o time é sempre um prato cheio para encontrar problemas. O Timão está sempre equilibrado num castelo de cartas, que ao menor abalo pode ruir por inteiro. É isso que faz do clube um dos mais sensacionais casos de fenômeno de massa do país.

E com Ronaldo?

Bom, daí a mistura fica ainda mais explosiva. Principalmente desde o ano passado, quando Ronaldo decidiu que não ligaria mais para possíveis escândalos por suas farras e noitadas quase sempre bem acobertadas ao longo da carreira. Ou por bons assessores de imagem ou pelo simples fato de o atacante arrebentar quando entra em campo.

Mas agora as coisas são ainda piores. Ronaldo não tem mais a seu lado pessoas preparadas para acobertar pequenas “fugas” das condutas de boa moral que poderia ter. Da mesma forma, o jogador não está mais jogando há um ano, devido a nova contusão no joelho. Ou seja, não existe mais um para-raio para que o Fenômeno consiga desviar o foco de suas noitadas.

Na semana passada, em Presidente Prudente, em meio ao feriado de Carnaval, mais uma vez o jogador teve conduta não-profissional. Atrasou-se para um treino que começava quase que ao meio-dia, sendo que na noite anterior havia sido visto numa boate da pacata cidade do interior paulista, quase em Mato Grosso do Sul…

E o castelo de cartas começou a ruir! Porque o Corinthians entrou na semana de um clássico contra o Palmeiras. Provavelmente o jogo que marcará a estreia de Ronaldo com a camisa 9 alvinegra. Porque o Corinthians segue com dificuldades de encontrar um patrocinador disposto a bancar o risco que é ter Ronaldo. Em todos os sentidos. Porque o Corinthians parece que ainda não entendeu o que significa ter Ronaldo em seu elenco.

Sim, por incrível que pareça o clube, que parecia ter dado uma cartada de mestre ao fechar com o mais midiático jogador do país, não se atentou exatamente para a crise que ele teria de constantemente administrar exatamente por contar com Ronaldo. Se o Corinthians, por si só, já é um gerador de crises, eleve isso à décima potência com a contratação do Fenômeno.

Mas o clube está fora de sintonia com o seu maior ídolo recente. Não se entende com ele fora de campo, permitindo farras, noitadas e condutas pouco desejadas para um atleta que foi o melhor do mundo, mas hoje não entra em campo há um ano. 

O momento era para o Corinthians dar a Ronaldo o chá de cadeira que merece a cada tropeço em seu lento processo de recuperação. Mas parece que, quem deve mandar dentro do clube, está tão deslumbrado quanto o mais fiel do torcedor. E, com isso, deixa Ronaldo fazer o que bem quer, como uma criança idolatrada pelos pais, o que quase sempre gera um filho sem a menor noção da realidade.

Agora, o Corinthians não sabe se vai usar o “boneco” Ronaldo para passear em Itumbiara (GO), no jogo da Copa do Brasil. O jogador leva público e ainda mais atenção da mídia. Mas, do jeito que as coisas estão, é difícil ter qualquer bom presságio com uma estada do atleta pela cidade goiana. Ainda mais com Tulio Maravilha e Denílson como possíveis anfitriões…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br