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O poder dos grandes clubes

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Esta foi uma semana conturbada no mundo do futebol na Europa.

A Fifa tem agendada para hoje e amanhã sua primeira reunião do ano do Comitê Executivo, do qual o brasileiro Ricardo Teixeira faz parte. Dentre os temas a serem debatidos, estão a discussão da regra do 6+5 (incluindo o estudo preparado pela Inea, conforme discutido há duas colunas passadas), e também a proteção de menores (e eventual revisão do artigo 19 do Regulation on the Status and Transfer of Players).

A revisão dos regulamentos deve versar sobre a regulamentação das academias privadas de futebol (sobre as quais também discutimos em colunas passadas), que não tem vínculo com clubes de futebol federados, mas que possuem grande responsabilidade na formação de menores.

Também nesta semana muito se falou na reunião do Comitê Executivo da Uefa, que será realizada no próximo dia 23. De acordo com a agenda divulgada pela Uefa, a reunião deverá tratar também da proteção de menores, além do chamado “financial fair play” entre clubes europeus.

Além disso, entre outros assuntos, os regulamentos das competições da Uefa deverão ser aprovados para a temporada 2009/10.

Bom, no meio desses acontecimentos, espalhou-se um rumor na mídia européia que os principais clubes deste continente, unidos e organizados através da sua recente criada organização denominada ECA (que veio a substituir o G14), estavam discutindo uma eventual separação da Uefa e o desenvolvimento de uma nova liga européia de clubes.

Essa notícia foi rapidamente desmentida por representantes da ECA, e também pelo presidente da Uefa.

Entretanto, apesar do aparente “fogo de palha” ou “falso alarme”, restou um interessante ponto a ser considerado: o poder dos clubes vs. o poder das federações. Quem venceria um embate desse nível?

Na hipótese de os clubes, algum dia, resolverem efetivamente levar a diante uma idéia como esta. Até que ponto isso seria bem sucedido? As Uefa, por exemplo, continuaria com a Liga dos Campeões sem os principais clubes?

E os jogadores, permaneceriam nos grandes clubes, ou optariam por migrar para os clubes menores para permanecerem dentro da família da Fifa? E como a Fifa intercederia nessa questão?

Como os canais de televisão se colocariam? E os torcedores?

São questões filosóficas e hipotéticas dentro do mundo do futebol profissional. 

Mas isso poderia mesmo acontecer na prática? Fica a questão no ar.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Por que a Inglaterra rejeitou a Carteira de Torcedor?

Antes de mais nada, não acredito que o projeto da Carteira do Torcedor será implementado. A rejeição à idéia e os empecilhos técnicos e práticos são tão grandes que acho difícil que o discurso passe da sua fase retórica. 

De qualquer maneira, é preciso aplaudir a intenção do Governo Federal. Pelo menos, mostram preocupação com o estado dos estádios do Brasil e com a integridade do torcedor. Tornar a ação de cambistas e os tumultos dentro do estádio em crimes, além de elevar o nível de exigência estrutural dos estádios, é salutar.

O cadastramento de torcedores, porém, pode ser um grande equívoco. E não estou dizendo isso baseado em um “achismo” qualquer ou considerando algumas variáveis soltas para a construção de um pensamento superficial. Não. Estou reproduzindo o que foi dito por um dos maiores responsáveis pela melhoria de segurança dos estádios britânicos, Peter Murray Taylor, também conhecido como “Lord Justice Taylor”.

Estudos sugerem que o hooliganismo sempre existiu no futebol britânico, mas começou a ficar em maior evidência a partir dos anos 60, atingindo seu ápice em 70 e 80. A escalada de violência nos estádios do Reino Unido foi tamanha que começou a afetar não apenas os residentes locais, mas também a ter consequências para a Europa continental. Por conta disso, o hooliganismo arranhou a imagem internacional do Reino Unido, que passou a ser visto por todos como um país de violentos arruaceiros. 

Não ajudou em nada a Tragédia de Heysel, uma briga generalizada entre torcedores do Liverpool e da Juventus em 1985, que resultou em 39 mortes. O problema para o Reino Unido foi que desses 39 mortos apenas um era britânico. Outros dois eram franceses, quatro belgas e, pasmem, 32 eram italianos. Foi um massacre britânico. Logicamente que o Reino Unido passou a ser mal-visto pelos seus vizinhos.

Insuflada por esse acontecimento, a primeira-ministra britânica Margareth Thatcher disse que o hooliganismo tinha se tornado “um problema crônico” na ilha. Algo precisava ser feito. E, condizendo com a sua própria ideologia da redução da liberdade individual e aumento do controle do Estado sobre o cidadão, a “Dama de Ferro” sugeriu a criação da carteira de identidade dos torcedores de futebol (National Membership Scheme) no Football Spectators Act (FSA), em 1989.

A reação da opinião pública foi imediata. O argumento principal contra a medida se baseava na crítica à ideologia da proposta, de identificar o cidadão perante o Estado. Afinal, por que o Estado precisa saber se você vai ou não a um jogo de futebol? Não fazia sentido.

Poucos meses depois da divulgação do FSA, aconteceu a maior tragédia do futebol britânico. Na partida válida pelas semifinais da FA Cup entre Liverpool e Nottingham Forest, no estádio de Hillsborough, do Sheffield Wednesday, 96 torcedores do Liverpool foram massacrados contra as grades que separavam a arquibancada do campo. A mídia tratou de achar culpados para o massacre. A culpa, dizia-se, era dos hooligans. Estava tudo fora de controle. Eles precisavam ser contidos. 

Para apurar de forma mais detalhada o que de fato havia levado 96 pessoas à morte, o governo lançou uma investigação que foi conduzida pelo supracitado “Lord Justice Taylor”. Ao analisar com profundidade os fatos, Taylor concluiu que o problema em si não era os torcedores, mas sim as estruturas que atendiam essas pessoas. Muito pior do que os hooligans, era a situação dos estádios britânicos. Como exigir que as pessoas possam se comportar de maneira civilizada em um ambiente que não oferece as menores condições de higiene e segurança?

Para evitar que novas tragédias como Hillsborough viessem a se repetir, Taylor elaborou um documento com uma série de recomendações, que ficou conhecido como Taylor Report. Dentre essas recomendações – que incluíam a obrigação da colocação de assentos para todos os lugares do estádio, a derrubada das barreiras entre a torcida e o gramado e a diminuição da capacidade dos estádios – estava o cancelamento do projeto da carteira de identificação dos torcedores. De acordo com Taylor, era bastante possível que a carteira de identidade viesse a aumentar o problema da violência, e não o contrário.

Além dos questionamentos sobre a real capacidade dos clubes conseguirem colocar em prática um sistema confiável de seleção de torcedores e sobre a confiança na tecnologia que seria utilizada, o argumento se baseava na idéia de que a carteira de identidade para torcedores não era uma ação focada na segurança, mas sim na violência. E as tragédias nos estádios não era uma questão de violência, mas sim de segurança. A própria polícia inglesa, que teoricamente seria a grande beneficiada com a carteira, rejeitou o projeto, que, por conta de tudo isso, foi abandonado.

E é aí que talvez resida o grande equívoco do projeto das carteirinhas do torcedor no Brasil. É lógico que o problema da violência é grande, mas muito pior é o problema da insegurança. Como exemplo, a última grande tragédia do futebol brasileiro, o buraco nas arquibancadas da Fonte Nova, só aconteceu porque o estádio estava literalmente caindo aos pedaços. Naquela situação, a carteirinha de identificação não teria salvado as vítimas. Uma melhor fiscalização nas reais condições do espaço e o fornecimento de uma estrutura apropriada para o público, certamente que sim.

É imprescindível que o Governo Federal busque maior aprofundamento para saber as reais consequências do estabelecimento da Carteira do Torcedor, sob risco de criar um monstro muito maior do que o atual.

Muitos dizem que, no Brasil, o torcedor é tratado como animal. E quem é tratado como animal, age como animal. Caso nada seja feito para melhorar a qualidade das estruturas e do serviço dos estádios do Brasil, o torcedor continuará sendo um animal, só que com uma carteirinha. Um animal oficialmente reconhecido pelo governo.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Terceirização de serviços

Parceria é a palavra coqueluche atualmente. A palavra técnica mais recomendada, em alguns casos, seria licenciamento de uso da marca. Mas isso é assunto – e dos bons – para outro dia. 

Muito disso advém da necessidade econômica vivenciada pelos clubes, o que lhes limita a capacidade de investimento e reinvestimento visando perenizar e aumentar as fontes de receita.

Associada a esse fato está a histórica falta de tradição em gerir bem e profissionalmente estas instituições que movimentam muitos interesses e dinheiro ao seu redor.

Vale dizer, num ambiente onde falta dinheiro e falta conhecimento técnico para que as coisas sejam feitas diretamente pelos interessados, haverá margem para que surjam outros interessados em realizar negócios e lucros.

Alguns exemplos para ilustrar a terceirização de serviços/negócios no futebol nacional possibilitam enxergar este quadro de forma pragmática, sem demonizar nem considerar como tábua da salvação.

Na maioria dos casos, existe um investimento financeiro inicial dos parceiros “terceirizados”, com conseqüente divisão de receitas futuras com os clubes sobre dado acordo firmado em torno dos projetos.  

O Coritiba havia deixado a cargo de uma empresa a organização de “peneiradas” e testes de seleção para as categorias de base; atualmente, o plano de captação de sócios é conduzido por uma empresa parceira; o projeto do novo estádio também está nas mãos da W Torre, a mesma empreiteira que possui acordos com Palmeiras e Avaí.

Canais de web TV, tais como a TV Fla e a TV Timão também estão nas mãos de produtoras especializadas, num acordo que prevê divisão decrescente de receitas, visando uma fatia maior para o clube ao término do período de implantação do projeto.

Outro ramo de atividade que pode crescer são as agências de viagens especializadas em atender à massa de torcedores dos clubes, interessadas em pacotes turísticos temáticos e no seguimento dos jogos fora de casa.

Podemos mencionar também a terceirização da comercialização de camarotes, particularmente interessante na chamada “hospitalidade corporativa”, dirigida às empresas para ações de marketing de relacionamento, além da gestão da venda de ingressos via web ou nas bilheterias dos estádios.

Finalmente, até a formação de jogadores e os departamentos de futebol são alvos deste fenômeno no mundo dos negócios da bola.

O Atlético Paranaense, até este ano, possuía acordos comerciais com clubes e centros de formação de atletas, no qual tinha preferência/exclusividade na seleção de novos talentos. No caso mais emblemático, as categorias pré-infantil e infantil eram administradas por um clube amador local, criado especialmente para este propósito.

O Paraná Clube mantinha, até 2008, acordo com uma empresa responsável por boa parte da política de contratações do futebol profissional.

O mais importante neste cenário, digamos, de transição entre uma realidade amadora e um panorama que cobra profissionalização administrativa e visa dar maior fôlego financeiro para que o clube seja mais independente de terceiros é a tomada de decisão bastante criteriosa nas escolhas dos clubes.

De certa maneira, não se trata de discutir tanto sobre as razões que levam os clubes a abrir mão da gestão direta dos negócios e realizá-los com os parceiros. 

É mais uma preocupação sobre o que destinar aos parceiros e como os acordos são feitos, com contratos absolutamente bem amarrados e com equilíbrio de direitos e obrigações, por parte dos clubes e dos “terceirizados”.

O que não pode acontecer, jamais, é a raposa cuidar do galinheiro…

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Trekking e futebol

Olá amigos. Na coluna de hoje aproveito para fazer uma analogia nada convencional entre práticas complemente distintas, mas que nos permite refletir sobre possibilidades de intervenção no futebol à luz de perspectivas diferentes, ou de enxergar e otimizar o que já é evidente através de um olhar diferente.

Não é pretensão aqui comparar valências físicas, estratégias, nem princípios operacionais do trekking com o futebol. A idéia é ilustrar como a organização e a estrutura de uma equipe nesta modalidade de aventura ou meio ambiente (como queiram), pode dar exemplos de organização, processo e atualização tecnológica, esta última no sentido de aceitar e incorporar a tecnologia não como solução dos problemas, mas como facilitadora e ferramenta de otimização.

Não sou um ‘expert’ em trekking. Confesso que comecei essa prática no inicio de 2008 e, apesar dos pesares, acabei me tornando um aventureiro (pelo menos uma vez por mês), desde então.

Para os mais perdidos do que eu, trekking, dentre as suas definições, é um enduro a pé de regularidade, caminhando em trilhas, seguindo orientações de uma planilha, em que o importante, além do contato com a natureza, não é chegar mais rápido, e sim passar nos pontos determinados, o mais próximo possível do tempo estipulado… Nem antes, nem depois.

Pois bem, as equipes, geralmente, são compostas de três a seis pessoas, e as suas funções são bem especificas, podendo ser acumuladas, ou ainda, realizadas por dois integrantes para ter sempre uma segunda opinião. São elas (me desculpem os mais ‘experts’ se faltar algum detalhe mais aprofundado, mas acredito que dê para compreender o objetivo da comparação):

Navegador: responsável pela leitura da planilha (mapa), identificando direções e rotas a seguir.

Cronometrista: responsável pelo controle do tempo e da velocidade, de acordo com as metas estipuladas na planilha, para evitar que se percam pontos, passando muito antes ou muito depois do tempo previsto.

Contador de passo: a planilha indica as distâncias em metros e, como não é permitido levar uma trena ou algo que faça essa mensuração, converte-se os metros em passos, de acordo com o tamanho da passada do participante, variando ainda o tamanho de acordo com subida, descida, deslocamento em água, etc.

Bússola: responsável por identificar os pontos exatos e fazer a mensuração do sentido a seguir.

Outras: fazer a conexão com o posto de controle, cálculos de conversão, etc.

Eis a primeira lição que poderemos tirar para o futebol, sobretudo sobre como pensarmos em uma equipe de comando (comissão técnica). Quem é o mais importante e tem a palavra final?

No caso, eu sou o líder da equipe, mas minhas atribuições, enquanto líder, são apenas inscrever o time. No mais, encho as garrafinhas de água e separo as barras de cereais.

Não há uma figura que tome a decisão final. Dentro de cada função, a decisão é absoluta daquele que é responsável por ela. Para a navegação, nem o contador de passo, nem o cronometrista ficam dando opinião e ou vetando as decisões. E é assim com cada função.

O amigo pode fazer a seguinte pergunta: Mas, e quando há discordância ou dúvidas? E se eu achar que ele está errado? Não seria importante a figura de um líder que tenha a última palavra em tudo?

A divisão de funções e responsabilidades deve ser respeitada. Primeiro, porque ao distribuir as responsabilidades, permite-se que alguém se dedique com maior profundidade àquela função.

É difícil, tanto no trekking, e mais ainda no futebol, alguém com tamanho poder de decidir tudo (hoje as coisas não funcionam assim, dá-se muita atenção para a figura de uma única função da comissão técnica), pois são tantas as variáveis que influem no jogo, que se torna uma tarefa complexa para uma pessoa só. Além disso, se existe essa dedicação não se pode tomar uma decisão estando alheio àquela especificidade. Há o dialogo, o questionamento, mas tudo como forma de conferência, e não como decisão final, pois ela cabe àquele que está voltado especificamente para determinado aspecto.

Essa divisão de tarefas, muitas vezes, é discutida e até tentada no futebol, mas, porque sempre temos de ouvir e dar razões aos boleiros que dizem que se não resultar em gol, nada tem importância?

Olhando o exemplo do trekking, vejo uma resposta: a divisão das tarefas envolve, também, a divisão das responsabilidades, mas, no futebol, nem sempre, ou quase nunca, elas se acompanham. Dividem-se as tarefas e funções, mas a responsabilidade, seja por opção de quem cobra, seja por opção daquele que é cobrado, não é dividida, e acaba-se por cair na necessidade de tomar uma decisão estando superficialmente inserido nas especialidades.

Se a tarefa e a responsabilidade estivessem igualmente dividas, a decisão é daquele que estiver imerso no assunto, permitindo que cada função seja desenvolvida de forma profunda e coerente, e não apenas na superfície.

O outro aspecto é a inserção da tecnologia. Daí, busco exemplos também na nossa experiência nessas ‘aventuras’, focando especificamente a função de contador de passos.

Nas primeiras provas, íamos contando o passo de cabeça, sem o costume, sem experiência, sem conhecer a prática. Não sabíamos o trabalho e o poder de concentração que isso exigi
a, e depois de duas horas de prova, quando o cansaço batia, o quanto era difícil contar as passadas na cabeça. Mas, fomos lá, conseguimos terminar a prova, um bom sinal.

Mais ‘experientes’, nas provas posteriores, adquirimos um instrumento mecânico de contagem de estoque. Assim, para cada passada, apertando uma espécie de alavanca, registrava-se o número de passadas.

Simples, nada mirabolante em termos de função, nada novo. Afinal, o que se fazia antes era contar os passos de cabeça, agora era apertar e verificar o número. As decisões e o controle das ações permaneciam conosco.

O amigo pergunta: Mas e aí, mudou algo? Mudou! O fato de poder conversar sem perder a contagem ajudou no diálogo e no suporte para que outros membros da equipe pudessem compartilhar informações, sempre tendo em si a figura de decisão na sua função, mas que, ao trocar informações com o contador de passos, puderam validar e conferir suas interpretações.

Agora, nosso próximo passo (sem o trocadilho do tema) é adquirir um instrumento digital que faça essa contagem de passos, necessitando ainda do clique manual, mas que já tenha integração com a planilha de navegação da prova e de velocidade. E, ao contrário do que parece, não vai tirar a função do navegador nem do cronometrista, porque vai apenas emitir um sinal sonoro da velocidade necessária, tornando os cálculos do cronometrista mais precisos e o controle mais fácil, além de seguir as informações do navegador que é quem insere os dados.

No futebol, trago um exemplo recente, respeitando as identidades dos envolvidos. Certo profissional, ao conhecer um produto de fornecimento de informações estratégicas de futebol, disse estar fascinado com a ferramenta, mas que não poderia contar com esses serviços, porque um familiar dele perderia o emprego, já que era o responsável pelas informações de jogo (observação do adversário).

Eis o exemplo que fica, para tornar mais claro, retomando nossa modalidade de aventura.

Se, ao decidir pela aquisição do instrumento para contagem mecânica dos passos, tivéssemos essa mentalidade, e optado por não comprá-lo, com certeza, nas provas futuras, teríamos encontrado dificuldades. Chegaríamos ao final, mas, assim como nas primeiras provas, nas ultimas posições. Ao passo que, o instrumento foi adquirido, nós não demitimos o contador de passo, justamente porque, nele, está a competência de manter uma passada regular e constante, é ele que controla a distância e a precisão do deslocamento por meio da sua consciência corporal e domínio do espaço, e agora, com o instrumento fazendo a contagem mecânica que ele tinha de fazer mentalmente, está mais livre para coordenar e desempenhar as habilidades e competências de sua função, e, por incrível que pareça, vieram alguns pódios nas provas seguintes.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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Os ensinamentos de “Boleiros”

Sim, confesso, ainda estou em dívida com o grande Ugo Giorgetti. Não assisti ao “Boleiros 2”. E um dos motivos é porque tenho um grande receio de não me apaixonar pela continuação daquele que é até hoje a melhor tradução da essência do futebol de São Paulo.

Para quem não viu, “Boleiros”, o primeiro filme de Giorgetti, é daqueles para ver, rever, realugar na locadora, re, re, re… Porque ele sintetiza o que de melhor e de pior tem no universo do futebol que tanto nos encanta.

Aliás, poderia ser hoje o filme a ser exibido em sessão mais do que extraordinária na casa do garoto Neymar, de 17 anos, nova estrela do time do Santos. Ou, então, virar um programa bacana no apartamento de Fred, o reforço goleador do Fluminense. Ou ocupar pelo menos um pedaço da sempre longa noite de Ronaldo, o cracaço global do Corinthians.

Mas, também, deveria ocupar a prateleira da videoteca (ou DVDteca, como preferir) dos colegas jornalistas e, também, dos empresários e aspirantes a empresários de jogador de futebol. 

Neymar fez gol no Pacaembu, em seu terceiro jogo pelo Santos. Já o projetam utilizando a 7, a mesma camisa que foi de Robinho e que recolocou o Peixe no mapa futebolístico pós-Pelé. O garoto é bom de bola, mas ainda está mais para o Azul, aquele personagem de uma das tantas e maravilhosas histórias contadas no “Boleiros”, do que para um Robinho ou, quem sabe, um Ronaldo (Pelé não vale!).

Quem não está entendendo patavinas, segue uma breve sinopse da história do Azul. Meio-campista da Portuguesa, ele arrasa numa partida, faz um golaço (no filme, é a reprise daquele antológico gol de Denner, pela Lusa, contra a Internacional de Limeira, no Paulistão de 1992) e vira, de uma hora para a outra, o astro do futebol nacional. 

Azul é chamado para todas as mesas-redondas daquela noite, ao mesmo tempo em que é perseguido pela ex-namorada (a Neidinha, maravilhosamente interpretada pela Denise Fraga) e “alugado” pelo empresário, que de todas as formas tenta negociá-lo com um time da Itália. 

Neymar fez um gol, Fred teve uma ótima estreia contra o inexpressivo Macaé. Ronaldo está ainda voltando a ser um jogador de futebol.

Mas a imprensa já pinta e borda os três como os grandes salvadores da pátria de Santos, Flu e Corinthians. Ainda é prematuro prever qualquer coisa. Só dá para dizer que os três são capazes de se tornarem importantes para os seus times em 2009. 

Mais do que isso é puro chute. Daqueles que só os pernas de pau conseguem fazer. Ou que só a imprensa, sedenta por ídolos, é capaz de criar. 

Falta um pouco mais de Azul na preocupação da cobertura jornalística. Ou, pelo menos, um pouco mais de cultura cinematográfica para vermos, de uma forma simples, como a mídia é capaz de criar e destruir ídolos. Tudo pela eterna mania de precisar dar uma opinião definitiva logo no primeiro encontro. O tempo pode fazer do céu azul. Para isso, deveríamos lembrar cada vez mais da história do Azul…

Para interagir com o autor: erich@149.28.100.147

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Os ensinamentos de "Boleiros"

Sim, confesso, ainda estou em dívida com o grande Ugo Giorgetti. Não assisti ao “Boleiros 2”. E um dos motivos é porque tenho um grande receio de não me apaixonar pela continuação daquele que é até hoje a melhor tradução da essência do futebol de São Paulo.

Para quem não viu, “Boleiros”, o primeiro filme de Giorgetti, é daqueles para ver, rever, realugar na locadora, re, re, re… Porque ele sintetiza o que de melhor e de pior tem no universo do futebol que tanto nos encanta.

Aliás, poderia ser hoje o filme a ser exibido em sessão mais do que extraordinária na casa do garoto Neymar, de 17 anos, nova estrela do time do Santos. Ou, então, virar um programa bacana no apartamento de Fred, o reforço goleador do Fluminense. Ou ocupar pelo menos um pedaço da sempre longa noite de Ronaldo, o cracaço global do Corinthians.

Mas, também, deveria ocupar a prateleira da videoteca (ou DVDteca, como preferir) dos colegas jornalistas e, também, dos empresários e aspirantes a empresários de jogador de futebol. 

Neymar fez gol no Pacaembu, em seu terceiro jogo pelo Santos. Já o projetam utilizando a 7, a mesma camisa que foi de Robinho e que recolocou o Peixe no mapa futebolístico pós-Pelé. O garoto é bom de bola, mas ainda está mais para o Azul, aquele personagem de uma das tantas e maravilhosas histórias contadas no “Boleiros”, do que para um Robinho ou, quem sabe, um Ronaldo (Pelé não vale!).

Quem não está entendendo patavinas, segue uma breve sinopse da história do Azul. Meio-campista da Portuguesa, ele arrasa numa partida, faz um golaço (no filme, é a reprise daquele antológico gol de Denner, pela Lusa, contra a Internacional de Limeira, no Paulistão de 1992) e vira, de uma hora para a outra, o astro do futebol nacional. 

Azul é chamado para todas as mesas-redondas daquela noite, ao mesmo tempo em que é perseguido pela ex-namorada (a Neidinha, maravilhosamente interpretada pela Denise Fraga) e “alugado” pelo empresário, que de todas as formas tenta negociá-lo com um time da Itália. 

Neymar fez um gol, Fred teve uma ótima estreia contra o inexpressivo Macaé. Ronaldo está ainda voltando a ser um jogador de futebol.

Mas a imprensa já pinta e borda os três como os grandes salvadores da pátria de Santos, Flu e Corinthians. Ainda é prematuro prever qualquer coisa. Só dá para dizer que os três são capazes de se tornarem importantes para os seus times em 2009. 

Mais do que isso é puro chute. Daqueles que só os pernas de pau conseguem fazer. Ou que só a imprensa, sedenta por ídolos, é capaz de criar. 

Falta um pouco mais de Azul na preocupação da cobertura jornalística. Ou, pelo menos, um pouco mais de cultura cinematográfica para vermos, de uma forma simples, como a mídia é capaz de criar e destruir ídolos. Tudo pela eterna mania de precisar dar uma opinião definitiva logo no primeiro encontro. O tempo pode fazer do céu azul. Para isso, deveríamos lembrar cada vez mais da história do Azul…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A ciência pode ajudar a marcar gols!

Existe no futebol, uma pergunta típica, mais comum na fala dos dirigentes (também presente em outros escalões) e que representa um dos nortes de decisão para muitas coisas dentro do futebol profissional.

É só o departamento de fisiologia apresentar algum novo projeto, o de nutrição um cardápio mais apropriado ou a comissão técnica um treinamento diferente, que lá vem a pergunta: “isso marca gol?”.

Parece piada, mas por incrível que pareça, tanto a comunidade científica especializada quanto os profissionais diretamente ligados ao futebol com propostas inovadoras ou diferenciadas de trabalho, têm esbarrado em grande parte das vezes, com suas pesquisas ou projetos, na essência dessa questão.

Então, vamos polemizar o assunto.

As equipes de futebol profissional têm, ou pelo menos deveriam ter como objetivo máximo, vencer jogos: a vitória nos jogos leva a equipe à melhores colocações nos campeonatos que disputa à que direciona de certo modo os olhares da mídia em geral, para ela à que leva ao aumento do prestígio dos seus jogadores à e que por vários motivos pode levar à conquistas profissionais e à maiores ganhos financeiros.

Se isso tudo é verdade (ou um fractal dela), como não admitir que estariam certas as pessoas do alto escalão do futebol quando ao aprovar ou desaprovar determinada conduta, procedimento ou ação, estejam levando em conta a pergunta máxima: “isso marca gol?”.

Em outras palavras, quero dizer que em sua profunda ignorância (em muitas e muitas vezes), os dirigentes (ou similares) têm total razão!

Claro, a maior parte deles não deve entender nada sobre a vasta complexidade das dimensões constituintes do jogo de futebol (física-tática-técnica-mental-etc. e tal) e muito menos a importância da compreensão do “todo” para saber porque equipes ganham e porque equipes perdem. Ou seja, não têm a menor idéia do porque das coisas, mas intimamente sabem que algo só é bom, se dentro das regras do jogo e da boa conduta puder “marcar gol”.

Da mesma forma, e por outro lado, profissionais especializados e cientistas em geral buscando melhorar (ou acreditando estarem buscando) o “todo” e potencializar chances de vitória, acabam se distanciando cada vez mais dos problemas que estão realmente interferindo na prática de jogadores, comissões técnicas, treinos e jogos – e portanto apresentam propostas que realmente não vão marcar gols!

A ciência só faz sentido se puder contribuir para a prática real. E se é o futebol “a coisa mais importante dentre as coisas não importantes” do mundo real, por que não levar a ele elementos que possam realmente promover benefícios que potencializem sua evolução?

Na perspectiva das “teorias da complexidade”, fazer gols e vencer jogos representa resolver problemas em todas as dimensões do jogo, ao mesmo tempo e o tempo todo, considerando a totalidade do jogo e dos seus elementos constituintes; integralmente.

Então, se por um lado a comunidade científica especializada tem razão e direito em reclamar das dificuldades que lhe são impostas para abrir as portas do mundo do futebol (e alguns outros esportes também!), por outro em seu “profundo conhecimento” acaba muitas vezes por dar respostas a problemas que não são reais, terminando por investigar um futebol que não existe.

Assim elementos que poderiam se complementar acabam por criar uma guerra entre àqueles que mandam e não promovem melhoras por falta de conhecimento e àqueles que querem melhorar mas não promovem melhoras por não saberem realmente qual é o problema. Entre as armas dessa guerra, vence aquela única que faz todo o sentido: “isso marca gol?”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Sobre as apostas desportivas

Caros amigos da Universidade do Futebol,

A questão das apostas desportivas, apesar de variar de país para país, é sempre relevante, uma vez que diz respeito à utilização de propriedades intelectuais de clubes de futebol e de organizadores de competições (ligas ou federações, dependendo do caso). 

Sabemos que a exploração imprópria das propriedades intelectuais (direitos de imagem dos jogos, marcas, logos, nomes, hinos etc.) são a principal fonte de receita dessas organizações. A utilização indevida, por terceiros, pode levar, em última instância, a uma inviabilidade econômica do esporte como um todo.

No Brasil, como sabemos, adota-se oficialmente o sistema do monopólio com relação às apostas esportivas no futebol. Desta forma, o governo é o único a usufruir de tal mercado (loteca – loteria esportiva e, recentemente, a Timemania).

Na Europa, como vigora o sistema liberal, as casas de apostas são formas comerciais que pode ser exploradas pela iniciativa privada. Com isso, e aliado à também recente e crescente indústria das apostas online, temos um cenário de grande e sério risco para o futebol europeu (o que, evidentemente, refletiria inevitavelmente no futebol mundial).

As casas de apostas não pedem autorização aos diversos desportes para promover apostas sobre seus resultados, e, ainda pior, não revertem ao esporte quaquer participação sobre a renda auferida pelas apostas.

Ainda mais grave, nessa grande confusão, há sérios riscos de envolvimento do esporte (e das apostas) com atividades ilícitas, tais como manipulação de resultados, lavagem de dinheiro, fraude, entre outras.

Neste mês, o governo francês publicou um projeto de lei impondo determinadas regras para a atividade desmedida de apostas. Concomitantemente, o Parlamento Europeu também adotou um relatório (chamado de Schaldemose Report, em decorrência da Parlamentar relatora do documento – a dinamarquesa Christel Schaldemose), sobre apostas em geral, mas que contém importantes disposições sobre apostas desportivas.

Amas as iniciativas, em linhas gerais, reclamam por uma maior harmonia entre operadores de apostas e “detentores dos respectivos direitos de propriedade intelectual”, no sentido de haver uma prévia autorização para que sejam promovidas apostas, bem como um retorno justo de parte das verbas arrecadadas (a serem revertidas em todos os níveis do esporte, desde categorias amadoras e infantis, até a profissional).

São discussões que estão no topo da agenda das autoridades desportivas na Europa, mas que devemos observar de perto. A saúde do esporte na Europa, principalmente em época de crise financeira, é crucial para a viabilidade do futebol nas outras partes do mundo.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Choque de gestão

No final de 2008, o Clube Atlético Paranaense passou por um processo eleitoral no qual, pela primeira vez nos últimos 14 anos, houve o chamado “bate-chapa” na disputa entre grupos oponentes.
 
De um lado, o grupo formado por sucessores da situação, cujo mentor era Mário Celso Petraglia – ícone da história do clube nesse período de calmaria política e de grandes avanços no seu modelo de gestão, dentre os quais a construção do mais moderno estádio do Brasil, um centro de treinamento de nível de excelência, e um título do Campeonato Brasileiro em 2001.
 
De outro, a banda dissidente, representada por renomados conselheiros-torcedores, que criticavam o modelo vigente, amparados, especialmente, na falta de competitividade desportiva vivida pelo clube desde o vice-campeonato nacional em 2004 – sendo apontada a falha maior como falta de gestão das categorias de base para revelação de jogadores com DNA do clube a custos abaixo do mercado de transferências.
 
Em outras palavras, algo que poderia tornar sustentável o modelo de reconhecido sucesso nos últimos anos.
 
Resultado da eleição: ganhou a chapa de situação, com folga. Consequência atual: bate-boca público entre o antigo manda-chuva, Petraglia, e seu sucessor, Marcos Malucelli. Motivos principais alegados: ingerência política nos bastidores e discordância sobre os novos rumos adotados, já mencionados à época do pleito.
 
Dois aspectos ganham relevo nesse episódio, são parecidos nas palavras, complementares nos seus efeitos, mas não devem ser confundidos simploriamente: política de gestão e gestão política.
 
A política de gestão pode ser compreendida como o direcionamento administrativo que se quer imprimir a uma empresa, entidade, instituição, seja qual for, inclusive a um clube de futebol. Diz respeito ao planejamento geral, estratégico, que engloba missão de negócios, visão, valores, objetivos e metas, dentro de um cronograma.
 
Os tomadores de decisão, portanto, determinam as diretrizes administrativas do clube, e podem definir seu modelo de negócio (posicionamento do clube no mercado do futebol) e o modelo de gestão (o que deverá ser feito em termos de processos administrativos para atingir os resultados esperados junto ao modelo de negócios).
 
Modelo de negócio é o esquadro. Modelo de gestão é o dia-a-dia administrativo referente aos processos por ele alinhavados. No meio de ambos e dentro de cada um, há margem para a gestão política de interesses.
 
A política, em si, é praticada por todos nós ao longo do dia. Por mais banal que seja, negociar em seu trabalho, com membros da família, com amigos, na rua, é fazer política. Num sentido mais estrito, dentro da estrutura de um clube de futebol, a política é igual à negociação mais poder visando à tomada de decisão.
 
Historicamente, os clubes de futebol, não só no Brasil como em todo o mundo, são palcos férteis para o desenvolvimento e a presença de lideranças políticas que interferem direta ou indiretamente em sua gestão, sem o devido preparo profissional especializado que o futebol exige em tempos de mercado competitivo global.
 
Isso não é algo fácil de superar ou, ainda menos, erradicar. A gestão desse esporte evolui a cada dia, mas não se pode descuidar desse embate.
 
Portanto, na próxima eleição em seu clube, fique atento na briga entre política de gestão e gestão política.
 
O futebol adverte: a segunda opção pode fazer mal à saúde administrativa, financeira e desportiva do clube.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Big Brother

Acordei com o barulho dos foguetes. Achei que repercutiam a virada do ano em Copacabana: eram de Gaza. Oto, meu morcego de estimação, me informou – ele ouve como ninguém. Passava da meia-noite. O Hamas e os israelenses comemoravam a virada de mais um sujo ano político. Chorei pelo olho esquerdo, um dos traços que decompõem minha personalidade. No exato instante em que pensei nisto, uma criança morreu vítima de um míssil israelense. Cem olhos por um olho é a lei; se todos esses olhos chorassem, seria um mar de sal no meio do deserto. Mas, tristezas não pagam dívidas, já dizia minha mãe, a mãe dela e a mãe da mãe dela, e a vida continua, pelo menos para aqueles que não forem atingidos pelos bombardeios praticados por governos que substituíram palavras por balas.
 
Já é primeiro de janeiro de 2009 no mundo ocidental e Oto, que também faz as vezes de morcego correio, me avisa que o David Beckham, o ex-jogador de futebol inglês, teria exigido para aparecer no Big Brother dos italianos, quinhentos mil euros. Colheu a informação do Mayerovich, o jornalista. Não me surpreende; o Ronaldo Nazário ganha dinheiro até para mostrar as banhas da barriga. Outro dia, cá com meus botões, imaginei que, se eu fosse o Ronaldo, diria os maiores disparates, de propósito, para ver o que saía na imprensa. Provavelmente, tudo. Eu diria, por exemplo, estar convencido de que havia vida em Marte, de que o Bin Laden estava escondido na Amazônia, e por aí afora.
 
Essa notícia sobre o Beckham é só para confirmar: os grandes nomes do futebol não ganham dinheiro necessariamente para jogar bola; se fosse, a maioria estaria pobre. Um ou outro escapam, como o Messi e o Kaká, pelo menos, por enquanto. Confesso que, para mim, aqui no fundo desta caverna, é muito desagradável ligar a TV e ver, fingindo que jogam, o Ronaldinho Gaúcho, o Ronaldo Nazário, o Denílson, o Robinho ou o Diego, só para ficar nos brasileiros. Mas já não foram bons?, perguntariam os crédulos. Claro que sim, e muito bons. Mas não é o que conta; o que conta é o quanto podem vender dos produtos de seus patrocinadores.
 
Tornaram-se grandes vendedores, os melhores do mundo, de chuteiras, tênis, meias, camisas, calções, óculos, lâminas de barbear, carros, qualquer coisa. Se o Ronaldo usa, eu também quero usar. Cristiano Ronaldo? Seguirá a fórmula: joga bem durante algum tempo, fica conhecido no mundo todo, depois, cai na farra, quando então poderá desfilar pelos campos, fazendo de conta que joga.
 
Quando alguns se escandalizam com a ida do Ronaldo para o Corinthians, é porque não entenderam o jogo. Ele não é funcionário do clube, mas do patrocinador, que não pode abrir mão de seus serviços; gordo ou magro, bonito ou feio, habilidoso ou lerdo, não importa. Ele vende de tudo, desde que apareça. E o rapaz é realmente um fenômeno. Desde 2002 não joga nada parecido com futebol, mas ganha um salário de rei, porque é um fenômeno de mídia; não há quem não o conheça no mundo. Ora, fazer-se conhecido em todos os lugares do mundo é uma arte. Como não se trata de jogar futebol, mas de vender produtos, ele pode seguir sendo rei.
 
Resolvi promover um Big Brother na caverna. Câmeras vão monitorar todos os movimentos e falas meus, do Arnaldo, do Oto, e até da Aurora, lá na porta de entrada. Já providenciei um edredon. A gente não tem cacife para convidar o Beckham para nos visitar, mas quem sabe consigamos, com alguma sorte, o Vampeta, o Marcelinho Carioca ou o Túlio. Esses os que me ocorreram, mas claro que o Arnaldo vai sugerir o Ricardo Teixeira. Já imaginaram o bagre conversando com o presidente da CBF? “E então Arnaldo, o que você acha do futebol brasileiro atual?”. “Nunca esteve tão bem, presidente, desde que o senhor instituiu a fórmula de pontos corridos”. “E de minha presidência, Arnaldo?”. “Um presente de Deus, presidente. Graças a Ele não temos constituição no futebol, essa fórmula estúpida e anacrônica, e o senhor pode se reeleger quantas vezes quiser.”. “Mas, por favor, Arnaldo, não confunda isso com o que faz o Chávez na Bolívia.”. “Em hipótese alguma, meu presidente. Só os estúpidos o comparariam àquele comunista arrogante.”. “E quem você acha que vai ser o próximo presidente da Fifa, Arnaldo?”. “Desculpe, presidente, mas sua pergunta me constrange, tão óbvia é a resposta. Não há outro que ouse usurpar aquilo que lhe é de direito, quase um direito natural. O senhor, só o senhor, poderá assumir o cetro do mais ambicionado cargo do planeta.”.
 
Seria engraçado revelar ao mundo as conversas íntimas de Oto fazendo a corte àquela morceguinha pouco mais que adolescente que quase nunca sai do fundo da caverna, envergonhada das espinhas que ostenta no rostinho lindo. E dos ataques de ciúmes que o acometem quando Clark, um morcegão de descendência americana, esvoaça em torno de Amélia; sim, esse é o nome da ninfa.
 
Aurora e seus achaques dariam fartos motivos às câmeras. Cheia de esquisitices, faria o gosto dos telespectadores quando, após uma lauta refeição de um ou dois ratinhos do campo, agasalhar-se no sobretudo de bolinhas vermelhas, calçar as pantufas verdes e postar-se à frente da TV para assistir, no canal Z33, ao time dos sonhos, sem saudosismos. O jogo seria Brasil e França, Copa do Mundo de 2006: Dida, soberbo, um deus de ébano entre as balizas. Cafu, um garoto, não deu chance aos franceses. Juan, como sempre, impecável. Lúcio, estranhamente calmo e comedido. Roberto Carlos, dedicação comovente, não deu chances ao Thierry Henry. Gilberto Silva, um leão, lúcido. Zé Roberto, impecável. Juninho, esforçado como sempre. Kaká, sempre o melhor do mundo. Robinho, humilde, maduro, útil. Ronaldinho Gaúcho, corajoso, destemido. Ronaldo, magro. O técnico, Sr. Carlos Alberto Parreira, tático, seguro, pulso firme, teve sempre o time na mão.
 
Sucesso faria um reality show de concentrações de futebol. Que tal um big brother da concentração do Corinthians? Ou do Flamengo? Que será que dizem ou fazem os jogadores em suas horas de folga? Talvez não fosse muito diferente daquele feito pela Globo. Alguns sob o edredon, outros languidamente esparramados à beira da piscina, haveria quem manipulasse notebooks jogando joguinhos de futebol, grupinhos batucando pagode, brincadeirinhas de mão… E os dirigentes? Certa ocasião, um árbitro de futebol fez algo parecido durante o próprio jogo, colocando um microfone na camisa, para que pudéssemos acompanhar, ao vivo, as reclamações e palavrões que acompanhavam cada jogada. Mas nada superaria a transmissão, por câmeras ocultas, das reuniões dos senhores donos da Fifa e do Comitê Olímpico Internacional.
 
De minha parte, modestamente, ficaria satisfeito de saber, do Túlio, como ele faz para marcar mais gols que todos os jovens atacantes brasileiros, alguns deles, vergonhosamente superados por um goleiro, aquele do São Paulo.