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Doping e hipocrisia

Estava às voltas com o escrever minha crônica para esta coluna, diante das várias possibilidades que os debates dos últimos tempos me propiciavam…

De início pensava em falar da questão da religiosidade ou fé de nossos atletas, tema empolgante por tão presente no meio futebolístico… Se por um lado não parece ser fácil a missão de Deus em levar todos à vitória, por outro parece confortável ser responsabilizado por todas as vitórias e nunca pelas derrotas… Manuel Sergio, mestre amigo e amigo mestre, colega de coluna desta Universidade do futebol, é que deve ter razão ao dizer ser agnóstico devoto, ou seja, em suas palavras, “Não sei se Deus existe, mas vivo como se existisse”…

A Copa de 2014 também fez com que me coçasse, seduzido pela quantidade de portas que via abertas à minha frente para abordá-la… Bem… Mais dia, menos dia, ela será alvo de minhas reflexões…

Tudo isso sem falar das Eliminatórias para o Mundial (vocês percebem que nem há necessidade de dizermos que é de futebol, pois não passa pela nossa cabeça outra hipótese!…). Que sufoco da nação argentina, né! Também me lembrei do segundo lugar de nossa seleção sub-17 e da reta final do Campeonato Brasileiro (hepta competição empolgante!)…

Mas, diante disso tudo, fui envolvido pelas notícias da volta do Dodô aos gramados e dos episódios de doping no atletismo e na ginástica, envolvendo nada mais nada menos do que a nossa Daine dos Santos…

Lendo as matérias jornalísticas e ouvindo os comentários sobre o assunto nos programas de TV não pude deixar de ficar revoltado… Com a hipocrisia reinante em nossa sociedade!

Hipocrisia, sim! Pois não somos nós que exigimos a vitória a qualquer custo, atribuindo ironicamente a frase o importante é competir aos perdedores?

A coisa funciona mais ou menos assim: você é atleta e sabe que fama, sucesso e dinheiro vêm com resultados esportivos! Não com qualquer resultado, mas sim somente com a vitória. E você faz tudo o que está ao seu alcance para obtê-la. Submete seu corpo a um árduo treinamento físico, horas e horas a fio, abrindo mão, em plena juventude, de descobrir as loucuras da paixão, do amor, da vida… Sua cabeça não pode estar naquela menina/mulher ou menino/homem que faz seu coração como que pular pela boca, e sim na competição que se avizinha. Focado, dizem… Você tem que estar focado!

Com os treinos vêm os resultados e deles, seu salário. Salário, sim, pois você tem com o esporte uma relação de trabalho. É… Você é um trabalhador da bola, das pistas, das barras assimétricas e coisas e tais…

Mas eis que os resultados começam a ficar cada vez mais difíceis de serem obtidos e por mais que aumente a carga de treinamento, seu corpo já não responde a ele como antes… Mas você aprendeu que seu patrocinador só lhe patrocina porque você vende com suas vitórias o que ele deseja vender…

Seu salário está intimamente vinculado a elas… As entrevistas e notícias de jornal estão diretamente ligadas ao seu sucesso…

Então você diz: tudo isso precisa continuar a existir, custe o que custar… Pronto! Está feito! Daí pro doping é um pulinho…

Muitos sabem, mas fingem não ver o que está acontecendo com você. Afinal, você continua vencendo e dando o retorno que eles desejam… Aos produtores do produto que anuncia, aos dirigentes e torcedores do clube onde se encontra vinculado, ao país que une ufanisticamente sua bandeira às suas vitórias…

Bem… Aí, um exame surpresa acusa aquilo que todos teimavam em não querer ver e… O mundo lhe cai sobre a cabeça! As mesmas pessoas que o glorificavam, agora lhe apontam o dedo acusando-o do crime mais vil: o uso do doping? Não! Ter se deixado pegar em flagrante, dando visibilidade a uma realidade que desejam mascarar, isso sim…

Qual realidade? A única, insofismável: o doping não é manifestação patológica do esporte de alto rendimento, e sim parte constitutiva de sua lógica.

É isso. Simplesmente isso… O esporte é uma prática social, portanto produto do trabalho humano, que traz em sua materialização as intencionalidades definidoras de nossas ações, as quais se dão em um determinado contexto e momento histórico. Neste ordenamento societário pautado pela exploração do Homem pelo Homem, somente a hipocrisia explica o ar de espanto e surpresa de muitos desavergonhados.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Warren Buffett e o futebol – parte final

Conhecidos os mandamentos positivos e negativos do ícone que nos brinda com os títulos das colunas das últimas semanas, somados às diferenças entre a escola fundamentalista, de Buffett, e a escola técnica, chega-se a hora da tomada de decisão no que tange as estratégias operacionais de investimento.

Tendo como premissa que os riscos são inerentes aos investimentos, cabe ao investidor administrá-los, não simplesmente fugir deles.

O conhecimento das regras, processos e procedimentos do mercado onde se quer investir (ações ou futebol) é que funcionará como divisor entre o bom e o mau investidor na diversificação dos riscos, bem como boas práticas que se recomendam subjetivamente.

O primeiro passo é exercitar o autocontrole emocional. Não estamos, naturalmente, preparados para lidar com fortes emoções quando devemos tomar decisões, eminentemente, racionais. Deixar misturar dinheiro com o fígado poderá fazê-lo perder ambos.

Disciplina, convicção e estratégia são necessárias.

A convicção diz respeito à blindagem que se deve ter diante da enxurrada de informações, opiniões e análises, pretensamente de experts nos assuntos, sobre o que irá acontecer (na bolsa ou no futebol) amanhã. “Achismos” e opiniões descompromissadas não dão dinheiro a ninguém.

Uma boa estratégia de investimentos necessita eliminar a percepção do dia-a-dia, comprar e vender pelos motivos certos, captar tendências e monitorar preços.

Cotidianamente, as pessoas acham, adivinham o futuro, têm sentimentos, seguem amigos, dicas e previsões…

Deve-se comprar e vender pelos motivos certos. Pessoas perdem dinheiro em investimentos porque falta disciplina, falta paciência, não administram medo x ganância, agem por feeling e por impulso.

O bom investidor também sabe captar tendências. Fazendo a leitura apropriada dos mercados, percebe-se que o princípio da inércia ocorre neles também. Se um ativo está num movimento contínuo de alta ou baixa, provavelmente, irá continuar até que reverta o processo. A sabedoria está em encontrar o ponto de reversão.

Finalmente, saber monitorar preços. Preços sobem porque a força de compra é maior que a de venda. Preços caem porque a força de venda é maior que a de compra.

A rentabilidade de uma carteira de investimentos é determinada pela habilidade em comprar e vender, por antecipar os movimentos do mercado e pela seleção de ativos com maior potencial de apreciação.

Na tomada de decisão em investimentos, cabe ao investidor planejar e saber de quanto dispõe, o nível de assunção de riscos e escolher a estratégia de maneira convicta.

Não se trata apenas de exigir do investidor que saiba, ele mesmo, absolutamente tudo. Mas, como lembra o ditado, se você não sabe fazer sozinho, deve pagar para que alguém o faça por você.

No futebol ou na bolsa de valores. Em ambos, existe a chamada curva de aprendizado, e ela resulta do embate entre tempo, conhecimento e dinheiro investidos.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br