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Trip Side

Reparei em uma faixa num jogo esses dias. Estava escrito ‘Trip Side’. Não lembro bem qual partida era, mas era jogada em algum estádio de uma cidade litorânea. Lembro disso, porque na hora pensei que até fazia sentido uma torcida de um time praiano se chamar ‘Trip Side’, ainda que eu não faça a menor ideia da tradução do termo. Mas tem cara de ser coisa de surf.

Outro dia vi mais uma faixa dessas, em outro estádio nada a ver com o primeiro. Fiquei com isso na cabeça. E fui percebendo que faixas com ‘Trip Side’ escrito se proliferavam pelo país. Era muito estranho. Ou tinha alguma treta no meio, ou era um novo movimento organizado semelhante ao ‘Independente’ ou ao ‘Jovem’, que vêm das décadas do meio do século XX e se espalharam por diversos clubes, país afora. O mais provável é que fosse o primeiro.

E ontem, no jogo entre Grêmio e São Paulo, estava lá a dita faixa. Dizia ‘Trip Side’ e tinha dois (acho) símbolos do clube pintados. De repente, estalou a lembrança: na Copa de 2002, faixas de torcedores estampavam a logomarca do COC, rede educacional paulista, dentro dos estádios, exibindo a marca para todo o mundo. Puro e simples marketing de emboscada. Naturalmente, a ideia não durou muito tempo. Ainda assim, a marca estava lá, onde nenhum grupo educacional brasileiro jamais esteve.

E eis que a ‘Trip Side’ resolve repetir a dose, em uma escala significativamente menor. ‘Trip Side’, aparentemente, é uma marca de roupas de surf que, em breve, lançará um novo site. Aparentemente, também, não é uma marca que tenha um lugar estabelecido no mercado de roupas de surf. Talvez por isso use o marketing de emboscada como estratégia, afinal é um jeito muito mais barato de anunciar em grandes eventos, uma vez que não é preciso pagar nada para os organizadores.

Pelo menos três pontos chamam a atenção nisso tudo. O primeiro, que realmente não consigo entender, é porque tantas marcas de roupas de surf anunciam no futebol, seja da forma mais tradicional, como a Fatal Surf, que corriqueiramente aparece em placas ao redor do gramado, ou da forma mais, digamos, oportuna, como é o caso da Trip Side e de outras, como a Rat Boy. Não faria muito mais sentido patrocinar o surf? Ou, se a ideia é patrocinar o futebol, desenvolver produtos relacionados ao esporte que você patrocina? Enfim. Deve dar certo. De algum jeito. Afinal, essas marcas de surf já aparecem em transmissões de jogos e programas esportivos relacionados a futebol há certo tempo.

O outro ponto é aguardar a postura que a Rede Globo vai ter com o caso. É óbvio que a ideia é aparecer na emissora, em horário que outras empresas pagam milhões para ter. E é óbvio, também, que a Globo vai ter que fazer alguma coisa. Se ela não fizer, a ideia pode pegar e fugir do controle. Mas como a emissora ou o Clube dos 13 vão agir?

Hipoteticamente, imagine que uma empresa faça o que a Trip Side está fazendo. Só que, ao invés de ela mesma colocar a sua faixa, supondo que a Trip Side faça isso, ela resolva pagar para a torcida organizada de um clube colocar a faixa. Quem iria pedir para a torcida organizada tirar a faixa? E, caso ela se recusasse, quem teria moral de entrar lá no meio pra fazer isso? O Clube dos 13 chegaria ao ponto de baixar uma norma punindo times com a perda de pontos ou mandos de jogos por conta de um marketing de emboscada em seu estádio?

E, por último, que diabos significa ‘Trip Side’ em português?

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Fora do eixo

O eixo em questão é o eixo geográfico que compreende os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Os dois estados polarizam as atenções para grande parte dos acontecimentos relevantes no Brasil, além de orientarem o país econômica e politicamente.

Ainda, a chamada indústria do entretenimento se serve dos estados do eixo para a promoção de grandes eventos, como espetáculos teatrais, shows, festivais, competições esportivas nacionais e internacionais.

Até mesmo as grandes empresas costumam depositar o interesse em apoiar tais iniciativas nestes grandes centros nacionais, pois buscam visibilidade comercial e penetração num mercado consumidor enorme e com poder de compra significativo.

A geopolítica brasileira, desse modo, favorece, por razões históricas, os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, no pleito para receber eventos esportivos globais, como GP de Formula 1, Copa do Mundo e Olimpíadas.

No segundo escalão, em relativo equilíbrio de forças, encontram-se Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre. Ouso incluir Brasília e Recife nesse grupo.

Depois disso, os demais. A “sobra” seria uma expressão mais agressiva, mas que também caberia para ilustrar, com precisão, o mapa nacional de negócios esportivos.

Estas cidades do grande eixo (primeiro e segundo escalão), assim, conseguem usufruir de um ciclo virtuoso na organização de eventos esportivos, do qual os principais atores participam, dentre os quais a mídia (em especial a TV), patrocinadores, poder público e entidades de administração do esporte.

Torna-se difícil para as cidades não-alinhadas ao grande eixo competirem para atrair a atenção geral as suas iniciativas.

Por isso, o fato de que a CBF tenha escolhido o CT do Atlético-PR como destino da seleção brasileira, em junho de 2010, para preparação para a Copa da África do Sul, é motivo de celebração local. Isso ajuda a fortalecer a posição da cidade no mapa esportivo nacional com repercussão, até mesmo, internacional.

Curitiba é a capital de um dos estados mais ricos do Brasil. Cantada em verso e prosa por muitos que a conhecem como a capital com melhor transporte coletivo, mais limpa, mais organizada, mais verde, mais segura, mais planejada, mais civilizada, mais europeia do Brasil.

Acho pouco. Muito pouco, em termos esportivos, pois acredito que a descrição do parágrafo anterior carece de alguns fatores para complementar a equação de uma cidade que pretende ser vanguarda em qualidade de vida: liderança e articulação política para o desenvolvimento de um ambiente esportivo compatível com o perfil socioeconômico local.

Afinal, por exemplo, a cidade não tem nenhuma equipe disputando competições nacionais (exceto os clube de futebol profissional), seja no futsal, no handebol, no vôlei, no basquete, que alavancam e estimulam o crescimento do mercado esportivo local como um todo.

Seleção Brasileira, por aqui, é apenas um bom começo para entrar no eixo.

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Para que servem as coletivas de imprensa?

Muricy Ramalho voltou a ser o “Muricy, eterno” que o consagrou no São Paulo. Uma explosão de ira durante a entrevista coletiva e bastou para, de novo, reacender a disputa entre imprensa e treinador depois de um jogo.

Ok, o pavio de Muricy pode ser mais curto que o dos outros. Mas dá, realmente, para aguentar o massacre em que se transformou hoje uma entrevista coletiva após uma partida?

Olhando friamente, do lado do treinador, a entrevista é o momento em que todos querem fazer alguma pergunta. E, convenhamos, depois da terceira ou quarta questão, não tem muito mais o que saber de um treinador. E, muito menos, o que perguntar.

Para piorar o cenário, a imprensa hoje está acostumada a só olhar o resultado da partida, o que é capaz de levar uma pessoa do céu ao inferno depois de um jogo.

O que Muricy falou quinta-feira, depois do baile palmeirense sobre o Goiás, tem a sua ponta de verdade. Palpitamos, muitas vezes, sem ter ido ao treino. Ou, quando um jornalista está lá, é só de corpo presente, sem analisar o treinamento, sem ter visto as variações de jogada, de tática, de jogador…

Obviamente que é uma generalização, mas é algo extremamente corriqueiro. Até mesmo em treinos da seleção brasileira! A correria do jornalista é saber quem joga, e não como joga. E isso leva ao óbvio choque de interesses depois de uma partida.

A entrevista coletiva depois do jogo surgiu na Inglaterra, nos anos 90, na profissionalização do futebol como um todo. Expediente mais comum nos esportes americanos, a entrevista coletiva tinha por objetivo facilitar o trabalho da mídia e, ao mesmo tempo, evitar declarações polêmicas e desencontradas após uma partida. Fala quem quer, como quer e onde quer.

Do ponto de vista do negócio, isso se tornou um grande aliado da instituição ?clube de futebol?. O risco de uma crise surgir pelo ?disse que disse? tornou-se muito menor. Mas, do ponto de vista da notícia em si, a entrevista coletiva, aliada ao massacre da cobertura da mídia após uma partida, fez surgir uma das coisas mais monótonas e propagadoras de rusgas no futebol.

E não apenas no Brasil!

Na Europa os treinadores também se cansam de ter de responder às mesmas perguntas formuladas de maneiras distintas por diferentes jornalistas e diferentes veículos.

Ainda mais quando é após uma derrota, com a cabeça inchada e sem vontade de ver ninguém. Mas faz parte do show, sem dúvida.

Só que, para o bem do negócio, é hora de repensar o esquema das entrevistas coletivas após uma partida. Porque não limitar o número de perguntas. Três questões das emissoras de TV, três das rádios e três dos veículos impressos e de internet. Se houver mais gente do que pergunta, sorteia-se, por tipo de mídia, quem fará a questão.

Ao todo seriam 12 perguntas para serem respondidas depois de um jogo. É resposta para mais de meia hora de um programa de rádio ou TV, para mais de duas páginas num jornal, para uma infinidade de pixels na internet…

Provavelmente o desgaste seria menor. E, as perguntas, menos repetitivas. O futebol, como um todo, agradeceria.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A sobrecarga no treinamento através de jogos

Recentemente, apresentei em um evento alguns treinos pautados nas teorias da complexidade, com exercícios de treino subordinados ao jogar pretendido pelas equipes (integrando questões táticas, físicas, técnicas e psicológicas)

Foi muito interessante a repercussão da minha explanação. Para cada exercício, diversos detalhes, algumas filmagens e ?scouts? em diversas dimensões do jogo.

Como estavam presentes muitos preparadores físicos, o que mais chamou a atenção do público foi a quantificação ?física? das atividades de treino.

Trago então para nossa coluna deste sábado um dos exercícios de uma sessão de treino da quarta semana, do mês número quatro da programação de treinos, já em um nível de complexidade maior, com regras mais elaboradas e exigentes.

Dentro do jogar da equipe, uma das propostas estava na realização de ?pressing? em profundidade, com jogo zonal e recuperação da bola em linhas mais adiantadas.

Esse exercício foi realizado respeitando uma sequência lógica definida, tanto na sessão de treino, quanto na semana, mês e ano de trabalho.


Durante a atividade, conforme podemos observar, cada jogador percorreu em média 2010 metros (com quase 100 mudanças de direção e oscilações abruptas de velocidade), sendo que um percentual considerável dessa distância foi percorrido em altíssima intensidade.

Não caberão nesse espaço, as curvas de frequência cardíaca e de velocidades a cada metro percorrido.

O fato é que projetando a movimentação dos jogadores dentro do campo de jogo, e comparando tal movimentação com a do jogo formal, notaremos que esse ?exercício? (jogo) proporcionou sobrecarga ?física? para o treinamento dos jogadores ? e não ?só? física, porque propiciou maior número de ações com bola, e exposição a conflitos do jogo de acordo com uma das características do modelo de jogo da equipe que treinava (e acima de tudo, levou o jogador ao estado de jogo).

Existem muitas outras informações e dados a respeito dessa atividade, da sessão de treino e de todo o ano de trabalho. Todas elas mostram que é possível, pautando-se nas teorias da complexidade, e subordinando a preparação do jogador de futebol ao jogo, não só construir atividades mais específicas à realidade competitiva, como também alcançar mais rapidamente melhores resultados na performance do jogador em jogo.

Obviamente, não adianta expor jogadores e equipes a atividades como a descrita, fora de um processo. Toda atividade, toda sessão de treino, devem estar pautadas em um processo definido, em que se sabe o tempo todo onde se está e onde se quer chegar, respeitando uma lógica didático-pedagógica que interaja o tempo todo com o calendário competitivo e as ambições da equipe.

Caso isso não fique claro, a mesma atividade para um grupo de jogadores pode se configurar em sobrecarga em demasia, ou mesmo de extrema insignificância ? o que acabaria por reforçar os desentendidos que confundem isso que estou apresentando, com o clássico treinamento em ?jogo-reduzido?.

Acho que é isso…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br  

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Pontos corridos x Mata-mata

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Um dos pontos polêmicos do modelo de organização das competições nacionais (i.e., campeonato brasileiro) é a formatação do torneio, atualmente realizado em pontos corridos.

O nosso país teve grande tradição e história em campeonatos na forma de mata-mata, isto é, após uma (ou mais) fase(s) classificatória(s), as equipes melhores colocadas passavam a disputar jogos eliminatórios, até a tão esperada disputa final.

Esse modelo de mata-mata, entretanto, do ponto de vista estritamente legal e regulatório, propicia distorções na verificação da justiça dentro das quatro linhas, principalmente, se comparado com a forma de pontos corridos (em que todas as equipes jogam entre si, vencendo aquela que obtiver a melhor campanha).

Assim, de uns anos para cá, a forma de mata-mata do campeonato brasileiro deu lugar aos pontos corridos, à semelhança do que acontece, por exemplo, nas ligas europeias de futebol profissional.

A forma de pontos corridos, de fato, premia a equipe mais regular durante toda a temporada. Vence aquela que mais pontos obtiver. No mata-mata, por vezes, é campeão o time que está em melhor momento na fase eliminatória, podendo vencer tendo somado um número menor de pontos em comparação a outras equipes.

É interessante apontar que a regularidade premiada na disputa de pontos corridos sugere maior segurança jurídica de todos os envolvidos. Em outras palavras, uma equipe regular tende a manter em vigor o contrato de seus jogadores, de sua equipe técnica, etc, ao longo da temporada. Ou seja, a regularidade dentro de campo pode estar diretamente relacionada com a estabilidade contratual dos profissionais do clube.

Assim, entendemos que, do ponto de vista legal, a disputa por pontos corridos é mais coerente e mais justa do que a disputa pelo sistema do mata-mata.

Sob outro prisma, temos a questão comercial. É comum que decisões dessa natureza (escolha da forma da competição) estejam atreladas a uma maior capacidade de geração de receitas.

Esse, entretanto, é um aspecto que foge do escopo da discussão jurídica. Números já foram levantados, existem defensores de uma e de outra forma de disputa. Uns dizem que o mata-mata torna o campeonato mais interessante, com maior arrecadação, principalmente, nas fases eliminatórias. Outros defendem que a disputa por pontos corridos propicia maior número de jogos importantes, com a possibilidade de clubes de baixo da tabela participarem de partidas decisivas no final do campeonato.

A discussão, digamos, mais comercial possui um aspecto jurídico importante a ser ressaltado. Até que ponto a maior geração de receitas pode ser buscada, deixando-se de lado o aspecto da justiça desportiva? Até que ponto pode-se abrir mão de uma forma mais justa de disputa para se obter mais receita?

Acima de tudo, e ainda que se adote uma ou outra forma de disputa no futuro, é preciso ficar atento a discussões dessa natureza para não deixar que os princípios básicos do esporte se percam entre uma e outra cifra.

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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Sinestesia esportiva

Muitas pessoas acreditam que a sinestesia é uma doença, mas não é. É um fenômeno sensorial que ocorre por meio da memória e pelo excesso da criatividade.

É o que acontece conosco quando vamos a um evento esportivo efervescente, como uma partida de futebol com estádio lotado.

Sentimos coisas que nos confundem a racionalidade, a lógica entre causa e conseqüência.

Passamos por diversas situações emocionais, aspiracionais, cujo espectro vai do mais positivo ao mais negativo.

As crianças imaginam-se no lugar dos craques dentro de campo. Os adultos imaginam o que fariam, fora do campo, se fossem os craques.

Vitória, derrota, empate, cantos e coreografias da torcida. Tudo tem seu significado particular e provocativo no torcedor que freqüenta os estádios.

Percepções sensoriais que reforçam a tendência do marketing de experiência. Nada mais impactante que o esporte como catalisador para esta vertente de negócios.

Os clubes brasileiros ainda exploram pouco este segmento, mormente na gestão da hospitalidade corporativa, onde as empresas utilizam camarotes e áreas VIP, como relacionamento com sua cadeia de negócios.

Seguramente, o leque de possibilidades é maior, com programas de viagens, competições desportivas que envolvam ídolos do passado e do presente, promoções de acesso às instalações desportivas, jantares, leilões, sessões de autógrafos.

De forma descontrolada, a sinestesia se manifesta a qualquer momento, como, por exemplo, ler uma determinada palavra e sentir o gosto de um doce, ou escrever uma letra e relacioná-la com a cor verde.

A maioria dos sinestésicos é canhota e tem problemas em distinguir o lado direito do lado esquerdo.

O maior desafio dos gestores esportivos é, justamente, desenvolver essa capacidade de distinção, organização e viabilidade de execução de idéias, quando o valor intangível extrapola o planejamento racional.

E tem muita coisa nessa mistura cerebral com poder de geração de receitas para os clubes.

Agora, não confundir sinestesia esportiva com sinestesia administrativa é fundamental.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Mais do mesmo

O fim de semana com uma série de relatos de violência por todo país ofereceu, mais uma vez, evidências de um problema que o governo, em conjunto com outros órgãos do futebol, se recusa a enxergar: a violência no futebol, hoje, não é dentro dos estádios. A briga acontece fora dele, disseminada por toda área urbana das grandes cidades.

O confronto entre torcedores do São Paulo e Corinthians foi um exemplo. Não havia jogo entre as duas equipes e a briga foi longe de qualquer estádio. Em Porto Alegre, um ônibus com torcedores do Internacional foi baleado na Serra Gaúcha.

Em Curitiba, o jornal Gazeta do Povo fez um levantamento que demonstrou pelo menos quinze diferentes pontos de brigas relacionadas ao clássico entre Atlético-PR e Coritiba, no último domingo. Nenhum desses pontos foi minimamente perto do estádio Couto Pereira, palco do jogo. Um torcedor atleticano está em coma profundo depois de ter sido atropelado por um torcedor do Coritiba, próximo ao estádio do Atlético-PR. Outros torcedores chegaram a invadir um ônibus na periferia e ordenar que todos os passageiros descessem para que o motorista os levassem até o estádio.

Ainda assim, o governo tenta emplacar o inaplicável cadastro nacional de torcedores como solução mágica para a violência relacionada ao futebol no país.

Pode-se dizer, também, que houve briga dentro de estádio sim, no clássico Botafogo e Flamengo, no Engenhão, entre a própria torcida do Flamengo. De fato, houve. E a polícia interveio. E tudo foi filmado. E nem por isso você viu algum policial pedir qualquer identificação para qualquer um dos envolvidos no problema. Não pediu a carteira de identidade, não pedirá também a carteira de torcedor.

Ademais, como um cadastro nacional de torcedor pode impedir que duas torcidas rivais briguem em um determinado ponto da cidade, a quilômetros do estádio? Não vai. E é aí que está a questão. Não tem como. O problema é maior que o futebol. O problema é social. O problema é cultural. Tudo indica que gastar dinheiro com carteirinha e leitores biométricos seja populista e arbitrário.

O confronto entre as torcidas do Flamengo é também mais uma evidência de como o problema não é a violência do futebol em si, mas sim de um aparato maior que encontra no futebol um canal de expressão, mas não de mobilização, tampouco de sobrevivência.

O futebol serve apenas para que indivíduos propensos a brigar arranjem um motivo. Que poderia ser qualquer outro. Se a educação no Brasil fosse melhor, talvez essas brigas tivessem cunho político e ideológico. Se fosse pior, talvez tivessem cunho religioso.

Infelizmente, não há nada que um clube sozinho possa fazer para solucionar o problema. Ele precisa da colaboração dos outros clubes e das autoridades públicas para cruzarem informações, dados e inteligência. Para que seja possível prevenir ao máximo e punir de maneira efetiva quando for preciso.

Mas, para isso, é preciso ter uma unidade mais forte entre os clubes, coisa que quase não existe. Também é necessário ter uma polícia específica para esse tipo de problema, coisa que também é rara. E, acima de tudo, é importante ter um governo que consiga enxergar e reconhecer o problema de maneira efetiva, consistente e racional, o que existe menos ainda.

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A tática – o Código Da Vinci (!?)

O futebol tem regras que o caracterizam como jogo. Jogado em qualquer lugar do mundo, respeitando-se oficialmente estas regras, ele traz à tona problemas para serem resolvidos.

Ainda que muitos desses problemas (que vou chamar de problemas primários) tenham em seus cernes as mesmas origens, as soluções para eles, em culturas de jogo diferentes, têm sido também diferentes.

Isso quer dizer, em outras palavras, que, em “centros futebolísticos” específicos (por exemplo, América Central, América do Sul, Europa Ocidental, Europa Oriental, Ásia, África, etc. e também alguns “países polarizadores” dentro desses “centros”) as dinâmicas do jogo de futebol evoluíram de maneiras distintas.

Essa evolução trouxe à tona o que vou chamar de “problemas secundários” do jogo. Não são secundários porque são menos importantes; são secundários, porque surgiram das diferentes dinâmicas que foram nascendo e se desenvolvendo (com suas particularidades) nos diferentes “centros futebolísticos”, a partir dos problemas primários.

Então, enquanto os “problemas primários” surgiram das regras formais do jogo, os “problemas secundários” surgiram das dinâmicas de jogo das equipes para solucionar os problemas primários.

Os “problemas secundários” deveriam servir ao jogo (e sua lógica!), assim como servem os “problemas primários”.

Isso quer dizer, que quando uma solução a um problema secundário, não consegue dar conta de resolvê-lo, dever-se-ia buscar uma resposta associada ao problema primário, e não a ajustes que solucionem o problema secundário.

Em outras palavras, em “centros futebolísticos” distintos, com diferentes evoluções do jogar, qualquer dinâmica de jogo pode ser boa para resolver problemas. Porém, quando se busca a solução para problemas que não estão sendo resolvidos nas próprias dinâmicas do jogo das equipes, é possível que mesmo encontrando as respostas,  estas sirvam mais para a manutenção de uma forma de jogar das equipes, do que para resolver questões do jogo – apesar de muitas vezes resolvê-las (?!).

Isso se torna um problema muito grave e evidente, quando equipes de culturas de jogo diferentes entram em confronto.

Infelizmente, com tantos jogadores “selecionáveis”, de distintas nacionalidades concentrados especialmente no futebol europeu, as Copas do Mundo de Futebol não têm mais evidenciado esses problemas. Em competições como a Champions League, Copa da Uefa (que mudou de nome), Taça Libertadores da América e Mundial Interclubes isso é mais aflorado – e talvez explique porque alguns treinadores tem mais sucesso do que outros nessas competições.

O fato, é que os problemas secundários, tendo como “pais” as dinâmicas das equipes e não o jogo, acabam por gerar, quase que espontaneamente, respostas que muitas vezes distanciam a solução da essência do jogo.

E aí, o de sempre: equipes ganham e perdem sem saber por quê.

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O conceito de clube-empresa pelo mundo

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Devido ao grande interesse por parte dos nossos leitores no tema do Clube-empresa no futebol, voltamos a escrever a respeito.

O clube-empresa é uma forma de organização das entidades de prática desportiva (clubes) na forma de sociedades empresárias com finalidade lucrativa. Historicamente, os clubes se organizaram em associações ou sociedades civis sem fins lucrativos. Isto porque o esporte era, no passado, amador, em que, de fato, não se almejava lucro.

Na verdade, isso aconteceu na maioria dos países. Na Inglaterra, não. Desde o início do século passado, os clubes já eram organizados como empresas, ou as chamadas limited companies.

Atualmente, com a realidade do futebol moderno, surgiu a possibilidade de converterem-se clubes associativos em empresas. Esse modelo é bem visto pelos órgãos públicos, já que uma empresa é mais fácil de ser fiscalizada do que uma associação. O modelo também favorece clubes que pretendem trazer investidores para o seu capital social (nenhum investidor consegue comprar participação em associações. Mas conseguem comprar quotas de clube-empresas, que, via de regra, se organizam no Brasil na forma de sociedade limitada).

Porém, é importante mencionar que o sucesso do clube não está relacionado, necessariamente, com a sua conversão em empresa. Na Espanha, por exemplo, o modelo associativo é muito utilizado pelos grandes clubes (Barcelona e Real Madrid, por exemplo), e, mesmo assim, tais clubes conseguem ter sucesso (financeiro e desportivo), além de terem administrações muito modernas.

Na Inglaterra, por outro lado, os clubes adotam a forma de empresas, já que é bastante comum (e até parte da sua cultura), a aquisição de clubes por investidores nacionais ou estrangeiros, e também a abertura de capital de alguns clubes. Nesse ambiente, somente cabe a forma de empresa.

Existem ainda sistemas híbridos de clube-empresa. Em Portugal, por exemplo, foi criado o conceito de SADs (sociedades anônimas desportivas). Nesse modelo, os clubes permanecem como associações, mas cria-se uma nova empresa que administra o futebol profissional e essa nova empresa é detida, em parte, pelo antigo clube, e, em parte, por investidores (eventualmente levando-se ações à bolsa de valores).

No Brasil, apesar de a Lei Pelé tentar regular a matéria, por conta das diversas alterações desordenadas que foram nela promovidas, não temos um ambiente seguro para os clubes se transformarem em empresas. A redação da lei acabou por ficar confusa, a as entidades que governam o futebol ficam igualmente confusas, com toda a razão, quando recebem uma solicitação de conversão de clubes associativos em empresas.

O mais importante de tudo é ratificar que a modernidade da administração e o sucesso do clube não estão atrelados à conversão do clube em empresa. Na verdade, o sucesso está no comprometimento de seus administradores, e da transparência e acesso nas suas gestões, e também no sucesso dentro de campo. E isso se pode conseguir com ou sem a forma de clube-empresa.

A opção pela conversão em clube-empresa deve ocorrer quando, dependendo da situação de cada clube, e de suas pretensões futuras, a forma de clube-empresa seja a maneira viável (por exemplo, quando se pretende trazer investidores para o seu quadro).

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Jogos de poder

Tem alguma coisa estranha acontecendo. Muito estranha.

O futebol brasileiro, nos últimos tempos, tem se configurado pela divisão de poder entre três principais agentes: a CBF, o Governo Federal e a Rede Globo. A convivência entre eles é sensivelmente estável e tem lá seus benefícios para aqueles indiretamente envolvidos. Ora um se rebela, ora outro, mas nada que crie maiores rupturas.

No final dos anos 90 e começo do século XXI, quem se rebelou foi o governo. CPIs foram realizadas, a CBF foi investigada e pessoas foram indiciadas. Abriu-se espaço para a criação de novos marcos legislativos e se imaginou um novo amanhecer, mas aí, veio uma missão pacificadora da ONU no Haiti e tudo voltou ao que era antes.

Nesse meio tempo, aconteceu também um pequeno incidente. Livros e reportagens dão conta de um pagamento de US$ 60 milhões feito pela Globo à Fifa, em 2001, pelos direitos da Copa de 2002, que acabou nunca chegando ao seu destinatário final, uma vez que o pagamento havia sido feito à ISL, que comercializava os direitos da Copa na época, e a empresa faliu, o que fez com que o dinheiro sumisse. Com a empresa falida e sem o dinheiro em mãos, a Fifa não reconheceu o pagamento e exigiu que a Globo efetuasse outro pagamento, coisa que a empresa, aparentemente, se recusou a fazer. A Fifa insistiu. E a Globo, conforme sugerem reportagens veiculadas pela imprensa na época, aparentemente contra-atacou com o famoso Globo Repórter sobre o Ricardo Teixeira, que, por sua vez, ameaçou e de fato adiantou o horário de um jogo de meio de semana da seleção brasileira contra a seleção argentina para as 20h, o que fez com que a Globo tivesse que alterar o horário dos seus dois principais programas diários, atrasando a exibição do Jornal Nacional e da posterior novela. Pouco tempo depois, a Fifa reconheceu o pagamento e todo mundo se acertou.

Naquela época, a CBF estava fragilizada pela derrota da seleção na França, pela derrota da seleção na Austrália e por duas CPIs. Além disso, a cúpula do futebol brasileiro não desfrutava de boas relações com o governo. Ainda assim, tudo se acertou, mas a relação, assim como a grande maioria das relações humanas, senão todas – dependendo do ponto de vista, baseava-se essencialmente na busca por interesses individuais dos três principais agentes envolvidos no sistema. Teoria do jogo, pura e simples. Era um triângulo do eu-faço-o-meu-até-o-limite-que-incomode-o-seu, e vice-versa.

Mas eis que agora as coisas parecem caminhar de uma maneira diferente. A CBF nunca, jamais, foi tão poderosa quanto é hoje. E ela mesma deve saber disso. E também nunca desfrutou de um caminho tão aberto ao Governo Federal desde os tempos do Brasil pós-Real. CBF e Governo Federal, hoje, são carne e unha, uma vez que há um evento com uma série de complicações que precisa ser realizado, e qualquer coisa que dê errado, certamente, afetará enormemente a atual boa reputação de ambos e seus respectivos planos para o futuro.

Sobra a Globo que, aparentemente, goza de menos prestígio e poder do que anteriormente. Seus executivos propõem mudanças no sistema de disputa do campeonato, possivelmente por conta da demanda de seus superiores no aumento imediato de audiência. A empresa quase que dobrou o valor pago pela transmissão do campeonato brasileiro, e imagino que se espere que o aumento no gasto também signifique um aumento minimamente proporcional na receita e na audiência com a transmissão do futebol, o que, por sua vez, não aparenta estar acontecendo.

Tudo isso pode motivar a Globo a anunciar publicamente propostas de mudanças no formato da competição. Em outro momento, a CBF também possivelmente daria ouvidos. Hoje não. Ao que tudo indica, atualmente, a CBF precisa muito menos da Globo do que a Globo precisa da CBF.

E isso é muito, muito estranho mesmo.

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