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Discurso midiático

Um milhão e trezentos mil seguidores no Twitter; 237 mil pessoas “curtiram” ele no Facebook; mais de 20 milhões de ocorrências no Google; vários fãs-clube espalhados pelo Brasil e um só nome, de apenas 19 anos: Neymar Júnior.

No último fim de semana saiu reportagem no “Esporte Fantástico”, da Rede Record, que retrata todo o potencial de marketing e negócios que Neymar tem movimentado.

Todos estes números e repercussões me fazem lembrar um artigo do Prof. Dr. Giovani de Lorenzi Pires, de 13 anos atrás (quando Neymar tinha ainda apenas 11 anos e seus passos já começavam a ser seguidos nas categorias de base do Santos), que procurava explicar e discutir a relação sociológica com o esporte na abordagem a cinco processos distintos, dentre eles o de “Mercadorização do Esporte” e o da “Espetacularização do Esporte”.

Uma leitura atenta ao texto ajuda a entender como a mídia ajuda a transformar jogadores como Neymar em ídolos de proporção incalculável. A ideia, segundo Pires, é que “a mensagem publicitária veiculada por seu intermédio (o da Mídia) seja sempre e cada vez mais contundente”, ou seja, os meios de comunicação social dominam o conteúdo e os espectadores aguardam passivamente a mensagem que, em um círculo virtuoso, há de gerar consumo em relação a estes ingredientes.
 

A mediação passa a ser realizada pelos meios eletrônicos de comunicação (especialmente a televisão), o que exige a presença de novos especialistas em produzir o evento de forma a obter este pretendido aumento no número de consumidores/espectadores: o mass media de marketing esportivo, que passa a “pensar” o esporte como uma mercadoria simbólica, cuja imagem (movimentos corporais humanos, emoções, valores sociais e ideológicos) precisa vender, ainda, a “necessidade” de consumo dos produtos disponibilizados. (PIRES, 1998).

O que ocorre no esporte é semelhante ao que acontece na cultura. Nos filmes, por exemplo, a grande maioria das pessoas não se apaixona exclusivamente pelo enredo da saga, mas sim pelo personagem, identificando-se com o seu cotidiano particular e procurando imitá-lo em determinados momentos na vida real.

As redes sociais têm contribuído em muito para personificar e aproximar os astros das “pessoas comuns”. Sábias são as empresas e veículos de mídia que tem conseguido se apropriar desse viés para estreitar ainda mais seu relacionamento com os consumidores. E como tem sido importante a onipresença destes ídolos para alavancar a indústria do esporte como um todo.

Pela lógica do capitalismo, aos gestores esportivos e aos treinadores (formadores de atletas), cabe compreender as dinâmicas sociais para entregar ao mercado não só atletas com capacidade técnica “diferenciada”, como também “produtos” que atendam os anseios da mídia e complementem o imaginário das pessoas como “personagens-modelo”.

Pela razão ideológica… deixa pra lá, hoje é final da Libertadores e o “cara do momento” pode fazer história e virar herói para muita gente. Não vale a pena entrar no mérito!

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  


Referência bibliográfica:

PIRES, Giovani de Lorenzi. (1998). Breve introdução ao estudo dos processos de apropriação social do fenômeno esporte. Revista da Educação Física-UEM, 9(1):25-34, 1998.

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Santo humano

Marcos é nome de santo. E, em se tratando do eterno goleiro do Palmeiras, a alcunha São Marcos talvez nunca tenha sido tão bem empregada como com ele. Mas, curiosamente, o que faz de Marcos cada vez mais santo é a sua singela “humanização” no universo do futebol atual.

O novo milagre do santo alviverde nada mais foi do que uma simples constatação. Marcos recusou-se a bater o pênalti para marcar o quinto gol da goleada sobre o Avaí. Em campo, o frisson da torcida e a euforia de narradores tornaria lógico para qualquer humano “normal” abdicar da humildade e consagrar-se como o santo de um gol só.

Mas Marcão não quis humilhar o adversário, que já perdia por 4 a 0. Sim, porque ele consegue ter a consciência, daquela que parece existir só quando somos crianças, de que seria humilhante o goleiro bater o pênalti já que o jogo está ganho. É aquela atitude que só nos enerva quando estamos jogando tão mal a ponto de o goleiro sair lá do lado dele, cruzar todo o campo e ir bater o pênalti.

As imagens mostram claramente que Marcos fez o sinal, mostrou que já estava 4 a 0 e que não queria bater a penalidade. Por mais merecedor que fosse de uma homenagem como essa, não era hora nem local para cobrá-la.
 


 

E por isso mesmo é que Marcos é santo. Num meio cada vez mais corrompido, o goleiro do Palmeiras e do Brasil mostra que ainda guarda senso ético em suas atitudes. Não apenas preocupado com o que a “mídia” irá dizer, mas sim com aquilo que o maltrataria o coração se lhe acontecesse.

Marcos consegue a proeza de ser canonizado em todo o Brasil, mesmo tendo, em toda a carreira profissional, defendido apenas um clube. Marcos não é só Palmeiras, mas também é do Brasil. É um santo que ainda conserva a essência do jeito de jogar futebol que aprendemos quando criança, com a regra da rua, da quadra, da escola. Em que não é correto humilhar o outro, em que não se pode esquecer que um dia você estará do outro lado da história.

São Marcos consegue ser santo exatamente por preservar a qualidade que antes os diferenciava dos outros mortais. Marcos é, antes de tudo, humano. E um baita ser humano!

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O “estado de jogo”

Numa determinada sessão de treino, é significativamente difícil ter todos os atletas focados, comprometidos, cientes dos objetivos do treino na aplicação de um determinado jogo, entendendo suas regras, compreendendo sua lógica e agindo em função do seu cumprimento.

A ação pedagógica torna-se ainda mais trabalhosa se for considerado um ambiente em que pais, mídia, diversos treinadores e os próprios atletas afirmam que os jogadores de futebol já nascem prontos e também a convivência diária com jovens promissores que, certas vezes, tomam como exemplo alguns comportamentos de atletas pouco profissionais.

Porém, como mediador de um processo de evolução do “jogar” da equipe e como agente formador (e transformador), é função do treinador extrair o melhor de cada um de seus atletas e facilitar, por meio de sua liderança, abordagem, intervenção, comportamento e didática, o acesso ao “estado de jogo”, que é um grande parâmetro de qualidade do treino para quem ensina com Jogos.

O “estado de jogo”, definido pelo Dr. Alcides Scaglia, é caracterizado pela suspensão momentânea da realidade, onde há predomínio da subjetividade em detrimento da objetividade e que o seu ambiente (contexto) irá definir o que é ou não jogo.

No plano coletivo, ao iniciar um jogo da sessão de treinamento, é objetivo do treinador que, ao soar o apito inicial, toda a equipe rapidamente alcance referida condição. No entanto, quem já utiliza o jogo como metodologia de ensino perceberá que tal objetivo nem sempre é alcançado em todos os atletas.

Nem sempre é alcançado, pois no plano individual, cada elemento (jogador) do jogo encontra-se com foco, comprometimento e nível de compreensão da atividade distintos. Equalizar estes três fatores é a missão do treinador que pode ter início a partir dos questionamentos abaixo:

É possível entrar em “estado de jogo” preocupado com problemas particulares?

É possível entrar em “estado de jogo” insatisfeito com a perda da condição de titular?

É possível entrar em “estado de jogo” o atleta que não gosta de treinar?

É possível entrar em “estado de jogo” se, minutos antes da atividade, ao invés de discutir com a equipe o comportamento para o jogo em questão, a conversa referia-se ao lazer do último final de semana?

É possível entrar em “estado de jogo” se, minutos antes da atividade, ao invés de discutir com a equipe o comportamento para o jogo em questão, o atleta fica chutando bolas para o gol?

É possível entrar em “estado de jogo” se o treino aplicado encontra-se acima da zona proximal de desenvolvimento da equipe?

É possível entrar em “estado de jogo” se o treino aplicado encontra-se abaixo da zona proximal de desenvolvimento da equipe?

É possível entrar em “estado de jogo” aplicando exatamente o mesmo treinamento por um longo período de tempo?

É possível entrar em “estado de jogo” aplicando um treino com quantidade excessiva de regras sem devida progressão complexa?

É possível manter-se em “estado de jogo” se, a todo instante, o treinador para o treino para suas abordagens?

É possível manter-se em “estado de jogo” se o treinador deixa seguir o lance em que a bola saiu do campo de jogo somente alguns centímetros, afinal a atividade “é só pra treinar”?

É possível manter-se em “estado de jogo” quando a diferença de pontos no placar fica considerável?

Para cada questionamento, existe a melhor solução a ser encontrada pelo treinador. Para equipes diferentes, soluções diferentes. Para jogadores diferentes, respostas também diferentes. Logo, a “fórmula mágica” para o acesso ao “estado de jogo” está longe de ser encontrada em livros, teses ou dissertações.

Nestas fontes, porém, podem ser encontrados os embasamentos científicos para cada ação do treinador que contribuem para atingir o mais rápido possível o “estado de jogo” e sua manutenção até o apito final. O que fazer em cada questionamento parece simples, como podem ser lidos nos exemplos abaixo:

Atletas com problemas particulares (financeiros, familiares, etc.) necessitam de abordagens para que consigam esquecer, ao menos momentaneamente, o mundo real para alcançarem o mundo do jogo.

O foco na insatisfação, e não no jogo, com certeza atrapalhará o acesso ao “estado de jogo”.

Quem não gosta de treinar (jogar) não deve ser atleta de futebol, logo, não deve fazer parte de um elenco!

No treinamento, criar procedimentos em que a concentração esteja nas atividades do dia e que quaisquer ações/conversas paralelas não cabem, é missão do treinador.

Chutar bolas para o gol quando o treino vai iniciar é uma das atividades que não cabe.

A leitura minuciosa da equipe e jogadores permitirá ao treinador a criação de jogos adequados ao nível de desenvolvimento dos mesmos.

Com a evolução da equipe, os problemas se modificam, logo, os treinos também devem se modificar.

Demorar muito tempo para compreender as regras pode comprometer o tempo de entendimento do que fazer para ganhar o jogo.

Saber quando parar o jogo é indispensável para a manutenção da suspensão da realidade.

Se a bola saiu, mesmo que alguns centímetros, ela saiu. Não estrague o jogo!

Estabelecer a cultura de não aceitar derrotas, no mais simples jogo, faz com que o “estado de jogo” termine somente no apito final.

Agora, o COMO fazer, é o desafio de cada treinador a partir da já mencionadas liderança, abordagem, intervenção, comportamento e didática.

Então, no mundo ideal, em que todos os atletas estiverem em perfeito “estado de jogo”, que é o objetivo do treinador, os problemas estarão resolvidos?

É claro que não! O “estado de jogo” só faz sentido se as devidas respostas de cada jogador para cada problema do jogo estiverem alinhadas ao modelo de jogo da equipe e a ideia de jogo do treinador.

Mas isto é tema para outra coluna.

Para interagir com o autor: eduardo@149.28.100.147 

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O "estado de jogo"

Numa determinada sessão de treino, é significativamente difícil ter todos os atletas focados, comprometidos, cientes dos objetivos do treino na aplicação de um determinado jogo, entendendo suas regras, compreendendo sua lógica e agindo em função do seu cumprimento.

A ação pedagógica torna-se ainda mais trabalhosa se for considerado um ambiente em que pais, mídia, diversos treinadores e os próprios atletas afirmam que os jogadores de futebol já nascem prontos e também a convivência diária com jovens promissores que, certas vezes, tomam como exemplo alguns comportamentos de atletas pouco profissionais.

Porém, como mediador de um processo de evolução do “jogar” da equipe e como agente formador (e transformador), é função do treinador extrair o melhor de cada um de seus atletas e facilitar, por meio de sua liderança, abordagem, intervenção, comportamento e didática, o acesso ao “estado de jogo”, que é um grande parâmetro de qualidade do treino para quem ensina com Jogos.

O “estado de jogo”, definido pelo Dr. Alcides Scaglia, é caracterizado pela suspensão momentânea da realidade, onde há predomínio da subjetividade em detrimento da objetividade e que o seu ambiente (contexto) irá definir o que é ou não jogo.

No plano coletivo, ao iniciar um jogo da sessão de treinamento, é objetivo do treinador que, ao soar o apito inicial, toda a equipe rapidamente alcance referida condição. No entanto, quem já utiliza o jogo como metodologia de ensino perceberá que tal objetivo nem sempre é alcançado em todos os atletas.

Nem sempre é alcançado, pois no plano individual, cada elemento (jogador) do jogo encontra-se com foco, comprometimento e nível de compreensão da atividade distintos. Equalizar estes três fatores é a missão do treinador que pode ter início a partir dos questionamentos abaixo:

É possível entrar em “estado de jogo” preocupado com problemas particulares?

É possível entrar em “estado de jogo” insatisfeito com a perda da condição de titular?

É possível entrar em “estado de jogo” o atleta que não gosta de treinar?

É possível entrar em “estado de jogo” se, minutos antes da atividade, ao invés de discutir com a equipe o comportamento para o jogo em questão, a conversa referia-se ao lazer do último final de semana?

É possível entrar em “estado de jogo” se, minutos antes da atividade, ao invés de discutir com a equipe o comportamento para o jogo em questão, o atleta fica chutando bolas para o gol?

É possível entrar em “estado de jogo” se o treino aplicado encontra-se acima da zona proximal de desenvolvimento da equipe?

É possível entrar em “estado de jogo” se o treino aplicado encontra-se abaixo da zona proximal de desenvolvimento da equipe?

É possível entrar em “estado de jogo” aplicando exatamente o mesmo treinamento por um longo período de tempo?

É possível entrar em “estado de jogo” aplicando um treino com quantidade excessiva de regras sem devida progressão complexa?

É possível manter-se em “estado de jogo” se, a todo instante, o treinador para o treino para suas abordagens?

É possível manter-se em “estado de jogo” se o treinador deixa seguir o lance em que a bola saiu do campo de jogo somente alguns centímetros, afinal a atividade “é só pra treinar”?

É possível manter-se em “estado de jogo” quando a diferença de pontos no placar fica considerável?

Para cada questionamento, existe a melhor solução a ser encontrada pelo treinador. Para equipes diferentes, soluções diferentes. Para jogadores diferentes, respostas também diferentes. Logo, a “fórmula mágica” para o acesso ao “estado de jogo” está longe de ser encontrada em livros, teses ou dissertações.

Nestas fontes, porém, podem ser encontrados os embasamentos científicos para cada ação do treinador que contribuem para atingir o mais rápido possível o “estado de jogo” e sua manutenção até o apito final. O que fazer em cada questionamento parece simples, como podem ser lidos nos exemplos abaixo:

Atletas com problemas particulares (financeiros, familiares, etc.) necessitam de abordagens para que consigam esquecer, ao menos momentaneamente, o mundo real para alcançarem o mundo do jogo.

O foco na insatisfação, e não no jogo, com certeza atrapalhará o acesso ao “estado de jogo”.

Quem não gosta de treinar (jogar) não deve ser atleta de futebol, logo, não deve fazer parte de um elenco!

No treinamento, criar procedimentos em que a concentração esteja nas atividades do dia e que quaisquer ações/conversas paralelas não cabem, é missão do treinador.

Chutar bolas para o gol quando o treino vai iniciar é uma das atividades que não cabe.

A leitura minuciosa da equipe e jogadores permitirá ao treinador a criação de jogos adequados ao nível de desenvolvimento dos mesmos.

Com a evolução da equipe, os problemas se modificam, logo, os treinos também devem se modificar.

Demorar muito tempo para compreender as regras pode comprometer o tempo de entendimento do que fazer para ganhar o jogo.

Saber quando parar o jogo é indispensável para a manutenção da suspensão da realidade.

Se a bola saiu, mesmo que alguns centímetros, ela saiu. Não estrague o jogo!

Estabelecer a cultura de não aceitar derrotas, no mais simples jogo, faz com que o “estado de jogo” termine somente no apito final.

Agora, o COMO fazer, é o desafio de cada treinador a partir da já mencionadas liderança, abordagem, intervenção, comportamento e didática.

Então, no mundo ideal, em que todos os atletas estiverem em perfeito “estado de jogo”, que é o objetivo do treinador, os problemas estarão resolvidos?

É claro que não! O “estado de jogo” só faz sentido se as devidas respostas de cada jogador para cada problema do jogo estiverem alinhadas ao modelo de jogo da equipe e a ideia de jogo do treinador.

Mas isto é tema para outra coluna.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br 

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Qual a profissão do futuro?

Saudações a todos! Na semana passada, aproveitando o momento “Ronaldo Fenômeno”, falei com vocês sobre a hora de parar, estão lembrados?
 

Qual é a hora de parar?
 

A coluna foi bastante acessada por pessoas dentro do contexto, mas para a minha surpresa recebi muitos e-mails sobre o outro extremo, e as dúvidas mais recorrentes foram: “Estou terminando o colégio e pretendo ingressar em uma universidade. Qual o curso de graduação que devo fazer? Qual a profissão do futuro? Qual me trará maiores ganhos financeiros?”.

Respondi as mensagens dentro da linha de raciocínio que passo a descrever a seguir. Hoje existe muito marketing e muitos interesses no setor da educação e, consequentemente, surgem muitos nomes de cursos. Percebam que as universidades precisam criar nomes atrativos e vender seus cursos. Do ponto de vista de marketing de negócio, elas estão certíssimas, pois embalar seu produto de maneira atrativa é uma das chaves para o sucesso de qualquer negócio.

Então, como escolher “a melhor profissão” tendo em média 18 anos e estando prestes a ingressar em uma universidade? Além das profissões tradicionais, como a de médico, dentista, advogado, engenheiro mecânico, administrador de empresas e contador, entre outras, novas opções promissoras são as ligadas à preocupação global e à sustentabilidade do planeta. Também podemos destacar as profissões ligadas às novas formas de mídias, principalmente focadas em mídias nas redes sociais.

Há também as profissões que estão e estarão sempre em alta, pois sustentam qualquer outra atividade, como engenharia de energia, engenharia de minas, nutrição, agronegócio, programação, tecnólogos etc.

As dicas que dou sempre ao ser questionado sobre que cursos/profissões a escolher são:

1) Procure informações detalhadas sobre cada um dos cursos de seu interesse.
2) Verifique no mercado a aceitação das profissões que gostaria de exercer.
3) Avalie os pontos positivos de cada profissão.
4) Procure conversar com quem exerce a profissão.
5) Avalie os pontos avaliados como negativos por quem atua na área. Nas redes sociais há vários grupos de debate sobre todas as áreas e segmentos.
6) Veja as regiões de maior demanda e verifique se está disposto a atuar fora do eixo regional que você conhece.
7) Pesquise as empresas que atuam no setor e veja se estão entre as que você sonha em trabalhar.

Depois disso, dentro dos seus objetivos, identifique as profissões que mais despertam sua atenção e estão dentro do que você gosta de fazer. Não sabe o que fazer ou está com dúvidas? Aconselho que faça um teste vocacional ou uma avaliação do seu perfil comportamental, pois avaliações dessa natureza ajudam a identificar a profissão que melhor se adapta ao seu estilo e que estejam de acordo com suas características pessoais.

Acredite: ser bem remunerado, ganhar dinheiro, ter uma carreira e um futuro de sucesso, tem como pré-requisito ser feliz, e isso significa escolher um curso para atuar na área que goste!

Ser feliz? Sim! A felicidade é ponto crucial e explico o motivo:

1) A pessoa que trabalha feliz e no que gosta faz o trabalho com mais motivação.
2) Ao trabalhar com motivação a pessoa é mais produtiva.
3) Sendo mais produtiva a pessoa produz mais.
4) Mais produção com o mesmo = mais resultados para a empresa.

Fazendo um paralelo como o mundo do futebol, posso dizer que não adianta querer jogar de atacante, buscando mais visibilidade e um salário maior, se a minha aptidão é atuar como goleiro. Sendo um excelente goleiro, serei feliz, terei uma remuneração compatível com a minha função e agregarei muito valor à minha carreira e à minha equipe.

Portanto, estar feliz realizando seu trabalhando beneficia você, seu time (empregador) e a toda a equipe!

É isto pessoal. Agora, intervalo! Vamos aos vestiários e nos vemos na próxima semana.

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br  

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Importância da habilidade no processo de seleção, formação e detecção de talentos no futebol

Além do aspecto cronológico e maturacional discutidos nesta coluna na semana passada, outro fator determinante de desempenho é a habilidade. Definida como a capacidade de realizar tarefas pré-determinadas com a máxima eficiência possível, no menor tempo e com a maior economia de energia (Knapp, 1977), pode ser dividida em habilidade cognitiva, perceptiva e motora (Bate, 1996). Também pode ser classificada quanto à organização das tarefas (discreta, seriada ou contínua), previsibilidade do ambiente (aberta ou fechada) e grupamento muscular envolvido (grosseira ou fina) (Magill, 2000).

Pela grande variabilidade de ações exigidas no futebol, dificilmente conseguiremos definir qual delas é mais predominante, porém, não há dúvidas de que o fator cognitivo seja talvez o mais importante para o sucesso do jogador.

Para ilustrar a importância da habilidade cognitiva, vamos imaginar um jogador que consiga a perfeição nos gestos em ambiente controlado, porém não tem capacidade de definir com a máxima eficiência a melhor opção em cada situação durante o jogo. Ou então aquele que executa o gesto perfeitamente, mas para isso demora o dobro do tempo necessário ou permitido pelo adversário em uma situação de jogo. Em ambos os casos, a eficiência da habilidade motora não implicará no sucesso em se jogar futebol.

Para piorar, no processo de formação de jogadores, em que a habilidade geral não é treinada de forma correta, pode ocorrer um circulo vicioso de o jogador não aprender a técnica em condição de jogo por não conseguir desenvolver sua habilidade cognitiva e não desenvolver sua habilidade cognitiva porque aprendeu o gesto (habilidade motora) fora da condição de jogo.

Para que isso não corra, é fundamental que os clubes com propósito de formar jogadores completos consigam quantificar e qualificar cada uma destas habilidades. Entre as alternativas para este fim, os testes elaborados por McMorris e Graydon (1996), McMorris e Beazeley (1997), McMorris e Graydon (1997), Williams e David (1998) para mensurar a habilidade de percepção e antecipação são boas opções. Para avaliação das capacidades psicomotoras, as alternativas podem ser a utilização dos testes de Helsen e Pauwels (1992), Helsen e Pauwels (1993) e de McMorris et al. (2000) e por fim a habilidade específica do futebol pode ser mensurada pela aplicação dos testes de Ali et al. (2007), Ali et al. (2008), Rampinini et al. (2007) e Zeederberg et al. (1996).
 

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Nestes testes, quanto mais deficiências forem encontradas precocemente, maiores serão as chances de corrigir o jogador ainda jovem. Com isso, este poderá aprender uma variedade de recursos cognitivos e explorar de forma ótima suas capacidades físicas, técnicas e táticas.

Talvez quando as variáveis determinantes da habilidade geral tiverem o mesmo grau de importância dado para as capacidades físicas na maioria dos clubes, um número muito maior de jogadores qualificados seja revelado.

Mas para que isso ocorra da melhor forma possível será fundamental a capacitação de profissionais que não só analisem estes dados de forma adequada, mas também consigam propor exercícios que possibilitem o máximo desenvolvimento possível de todas as habilidades e capacidades de que um jogador de futebol necessita.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

 

Referências bibliográficas

Ali A, Foskett F, Gant N. Validation of a soccer skill test for use with female players. Int J Sports Med 2008: 29: 191-197.Bate D. Soccer skills practice. In: Reilly T, ed. Science and soccer. London: E & FN Spon, 1996: 227-241.

Ali A, Williams C, Hulse MA, Strudwick A, Reddin J, Howarth L, Eldred JE, Hirst M, McGregor SJ. Reliability and validity of two tests of soccer skill. J Sports Sci 2007a: 25: 1461-1470.

Helsen WF, Pauwels JM. A cognitive approach to visual search in sport. In: Brogan D, Carr K, eds. Visual search II. London: Taylor and Francis, 1992:177-184.

Helsen WF, Pauwels JM. The relationship between expertise and visual information processing in sport. In: Starkes JL, Allard F, eds. Cognitive issues in motor expertise. Amsterdam: Elsevier, 1993: 109-134.

Knapp B. Skill in sport: the attainment of proficiency. London: Routledge, 1977: 1-6.

Magill, R. Aprendizagem motora: conceitos e aplicações, 5ª ed., Edgar Blucher, 2000.

McMorris T, Beazeley A. Performance of experienced and inexperienced soccer players on soccer specific tests of recall, visual search and decision making. J Hum Movement Stud 1997: 33: 1-13.

McMorris T, Graydon J. Effect of exercise on the decision-making performance of experienced and inexperienced soccer players. Res Q Exer Sport 1996: 67: 109-114.

McMorris T, Graydon J. Effect of exercise on cognitive performance in soccer-specific tests. J Sports Sci 1997: 15: 459-468.

McMorris T, Sproule J, Draper S, Child R. Performance of a psychomotor skill following rest, exercise at the plasma epinephrine threshold and maximal intensity exercise. Percept Motor Skills 2000: 91: 553-562.

Rampinini E, Bishop D, Marcora SM, Bravo DF, Sassil R, Impellizzeri FM. Validity of simple field tests as indicators of match-related physical performance in top-level professional soccer players. Int J Sports Med 2007: 28: 228-235.

Williams AM, Davids K. Visual search strategy, selective attention, and expertise in soccer. Res Q Exerc Sport 1998: 69: 111-128.

Zeederberg C, Leach L, Lambert EV, Noakes TD, Dennis SC, Hawley JA. The effect of carbohydrate ingestion on the motor skill proficiency of soccer players. Int J Sports Nut 1996: 6: 348 – 355.

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Naming rights

O assunto do momento voltou a ser “naming rights”. Agora, com olhos bem abertos sobre as novas arenas que estão sendo construídas para a Copa do Mundo de Futebol em 2014. E novamente as análises redundam sobre “ah, a televisão não fala o nome correto, então não dá certo”.

Este tipo de comentário soa como uma desculpa para não querer patrocinar – ou, talvez, pela dificuldade imensa das entidades em montar um projeto sustentável e de longo prazo para que os patrocinadores percebam retorno sobre o investimento.

Em um primeiro momento, o que se percebe é que a relação entre empresa patrocinadora e a entidade que recebe o patrocínio vai além da visão reduzida de proporcionar unicamente visibilidade na TV. O patrocínio esportivo vai muito além disto.

Neste sentido, a exploração comercial dos “naming rights” pode ser trabalhada como uma plataforma de exposição de produtos, apresentação de know-how, centros de hospitalidade, fortalecimento da relação com os consumidores, apresentar-se como uma marca forte perante o público em geral e daí por diante.

Se concordarmos que o “naming rights” só serve para visibilidade, também temos que falar que de nada adianta patrocinar esportes como Vela, Judô ou outros que não aparecem com tanta frequência na mídia. E isso não é verdade: a Vela permite fazer inúmeras relações do esporte com a natureza; o Judô, por sua vez, ensina lições de disciplina importantes que podem ser trabalhadas internamente no meio empresarial.

Fiquei em dois exemplos básicos para reafirmar: os objetivos de um investimento para dar nome a uma instalação esportiva vão muito além da sua menção em meios de comunicação social. Esta relação é clássica e notória em casos nos EUA e na Europa.

No Velho Continente, mais precisamente na Alemanha, uma dezena de clubes da 2ª divisão do futebol local tem seus estádios batizados com nomes de empresas – isso prova que não é só a visibilidade que move investimentos desta natureza, e sim o fortalecimento da marca e a presença dela no esporte mais popular do mundo.

Para finalizar, reafirmo: deixemos de ver o copo “meio vazio” para enxergá-lo “meio cheio” para, desta maneira, ampliarmos nossos horizontes e percepções sobre as inúmeras oportunidades que o patrocínio esportivo pode proporcionar. E o “naming rights” aí se inclui também.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br  

Leia mais:
Sobre naming rights
O esporte como gerador de negócios para as instituições financeiras no Brasil
Claudio Borges, analista comercial do Manchester City FC 
 
 

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Santos 3 x 0 Peñarol – Decisão da Libertadores-62

O Santos só uma vez jogou completo na Libertadores-62. Na finalíssima, em Núñez, cancha do River Plate. Só na terceira partida contra o Peñarol Pelé jogou. Bastou. Dois gols Dele, um de Coutinho que a arbitragem deu para Caetano, contra, e o Santos fez a América pela primeira vez. 3 x 0 no Peñarol então bicampeão sul-americano, e campeão do mundo em 1961.


 

PRIMEIRA BATALHA – No primeiro jogo, no Centenário, em 28 de julho de 1962, o Santos vencera por 2 a 1, de virada. Lima era o lateral-direito da defesa que sofreu o primeiro gol do equatoriano Spencer (ainda o maior artilheiro da história da Libertadores), aos 18 minutos. Mais não sofreu no jogo de ida. Porque a dupla de zaga Mauro e Calvet manteve o padrão. O primeiro, de futebol refinado que valeu o apelido de Marta Rocha pela elegância comparável a da Miss Brasil 1954, limpou a área santista com a categoria habitual, mas também jogando duro quando preciso contra o excelente ataque carbonero. Do lado esquerdo defensivo, Calvet cobria o lateral Dalmo e pouco concedeu à velocidade, malícia e qualidade do rival. Com gols de Coutinho, o Santos venceu em Montevidéu, de virada, por 2 a 1. E sem Pelé. Mas com Pagão. Desses que fazem qualquer um acreditar em todos os Santos naquele período mágico.

SEGUNDA BATALHA – Na volta, na Vila Belmiro, bastava o empate, em 2 de agosto. Ainda sem Pelé, recuperando-se da mesma lesão que o tirara da Copa-62. Spencer abriu o placar uruguaio, aos 15 minutos, depois de driblar dois santistas. Dorval empatou aos 27, em grande jogada individual. Mengálvio virou o placar, aos 35, num chute longo, no ângulo de Maidana. No segundo tempo, o Santos seguiu em cima, perdeu duas grandes chances, até levar o empate, aos 3. Spencer, mais uma vez. Gilmar reclamou que o meia uruguaio Sasía havia jogado terra nos olhos dele no momento do cruzamento de Joya. O árbitro chileno Carlos Robles nada marcou no lance usual do armador uruguaio. Na confusão, uma garrafa atingiu o bandeirinha Domingo Massaro.

Dada a saída depois de longa paralisação, Sasía virou o jogo. Mais reclamação santista. Desta vez, de suposta falta em Calvet. Quando o jogo recomeçou, Pagão empatou, aos 22. Antes mesmo de dar 45 minutos, Robles terminou o jogo com festa de campeão para o Santos. 3 x 3. O resultado que o time brasileiro precisava.

Pagão empata virtualmente o segundo jogo. 3 x 3. Um gol que valeu num jogo que não valia mais
 

Na prática, havia sido 3 x 3, e o título para o time paulista. No papel, porém, a história era outra. Na súmula entregue no dia seguinte, Robles relatou a baixaria, invasões, ameaças e agressões e afirmou que encerrara o jogo com 3 x 2 para os uruguaios. Temendo o fim do planeta na Vila com a suspensão da partida, além do encerramento da própria vida (ele foi ameaçado e agredido nas confusões), Robles fingiu dar prosseguimento a um jogo já acabado pela violência. O gol de Pagão aconteceu no final de mentirinha. o Santos, oficialmente, perdera o jogo que vencera.

A FINALÍSSIMA – Haveria o terceiro jogo, então, em campo neutro. O Santos não queria. Mas teve de aceitar. Ainda conseguiu adiá-lo para o fim de agosto, dia 30. Com arbitragem europeia (o holandês Leo Horn). Decisão em Buenos Aires. Se a maioria era argentina na arquibancada, só houve o Santos em campo.

O Peñarol manteve o ótimo time no 4-2-4 do treinador húngaro Béla Guttman, campeão europeu pelo Benfica, em 1961, e paulista em 1957, pelo São Paulo. Um dos pais do 4-2-4 que o Brasil adotaria na Suécia, em 1958, com seu auxiliar-técnico no São Paulo, Vicente Feola, comandando a Seleção brasileira na primeira conquista mundial. O time carbonero tinha Maidana na meta, o paraguaio Lezcano e mais Cano, Edgardo González e Néstor Gonçálvez na zaga. No meio, Caetano e Matosas, com Pedro Rocha, Sasía, Spencer e Joya no ataque poderoso blindado por boa marcação santista, e mais uma excelente atuação de Gilmar.

O goleiro bimundial pelo Brasil (e, depois, pelo próprio Santos, em 1962-63), fez pelo duas defesas de Gilmar nos 90 minutos ensolarados em Núñez. O volante multímodo Lima mais uma vez quebrou o galho como lateral-direito e não deixou o ponta peruano Joya fazer ainda mais nome em cima dele.


 

Também no 4-2-4, o treinador Lula armava o Santos com Gilmar; Lima, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Pelé, Coutinho e Pepe. Com a bola marrom, os laterais pouco avançavam. Porque bastavam e sobravam pontas como Dorval e Pepe, que driblavam e cruzavam. E, no caso de Pepe, o maior artilheiro terráqueo do Santos, as faltas da intermediária eram batidas em gol. Pelo menos duas vezes tentou no primeiro tempo de domínio santista. Conquistado com o golaço de Coutinho, que recebeu pela esquerda, passou como quis pela zaga rival e bateu de canhota, cruzado. Caetano tentou salvar e acabou mandando para o fundo da rede.

Com a vantagem conquistada aos 9 minutos, o Santos até cedeu terreno. Mas bastava o recuo de Dorval e Pepe na recomposição defensiva para dar espaço ao letal contragolpe armado por Pelé e Coutinho, bem municiados por Zito e Mengálvio, que jogavam, não deixavam jogar e ainda ditavam o ritmo daquelas impressionantes camisas brancas em Buenos Aires.

Mas foi no segundo tempo que a intensa movimentação de Pelé e Coutinho, autores de tabelinhas espetaculares, acabou por demolir o rival. Pelé, aos 3 do segundo tempo, limpou na entrada da área e bateu sem chances para o ótimo Maidana. Ainda faria um lance sensacional, desde o campo santista, até dar a bola para Coutinho chutar para grande defesa do goleiro qiue depois jogaria no Palmeiras.

O Santos merecia mais um gol contra ótimo adversário, porém batido e abatido. Faltando um minuto, Ele recebeu de Coutinho, desde a linha de fundo, ajeitou a bola e venceu muralha uruguaia postada na linha de meta. Nem com toda a banda oriental dentro da área havia como parar aquelas camisas brancas que se abraçavam no gramado invado pelos fotógrafos, como no mês anterior o Brasil fizera a festa bicampeã mundial em Chile.

Estava aberto o caminho para a conquista bimundial santista. E contra um gigante bicampeão sul-americano, vencido sem dó quando o Santos, mais uma vez, só jogou futebol. E não tudo que alguns torcedores jogaram no gramado da Vila, na segunda partida.


 

O CAMPEÃO – Um Santos iluminado. De 16 de dezembro de 1961, quando faturou o bi paulista 60-61, até 16 de novembro de 1963, quando venceu o Milan por 1 a 0, no Maracanã, e conquistou o bi mundial, o Santos disputou nove títulos. E venceu todos eles:

Campeão paulista e da Taça Brasil de 1961.

Campeão paulista e da Taça Brasil de 1962.

Campeão da Libertadores e do Mundial de 1962.

Campeão da Libertadores e do Mundial de 1963.

Campeão do Rio-São Paulo de 1963 (não disputou o de 1962).

Campeão de tudo e de todos. E nem sempre com Pelé em campo.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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Ao superar barreiras tecnológicas, é necessário definir rumos

Olá, amigos!

Nesta semana, em uma palestra, levantamos a discussão sobre a resistência de alguns profissionais no meio do futebol em relação à tecnologia. Quando mencionei que hoje já conseguimos vislumbrar melhoras, alguns colegas questionaram e disseram que não concordavam. Respeito a opinião deles e trago a discussão para o debate ampliado com o leitor da Universidade do Futebol.

Sempre critico a resistência dos profissionais do meio – o amigo que me acompanha nos textos há algum tempo pode comprovar. Porém, temos que ser sinceros: já observamos alguns movimentos, ainda que tímidos, em prol dessa atualização tecnológica. Termo esse que utilizamos em textos anteriores para situar uma dimensão na formação do profissional do futebol que consiste em estar atualizado face às inovações, bem como a seus possíveis benefícios.

Depois de alguns exemplos trocados, como o mais antigo “Datacenter”, iniciado no Sport Club Internacional pelo professor João Paulo Medina, já há significativos anos, chegamos ao esforço do Corinthians em organizar esse departamento, assim como outros clubes que têm trabalhado nessa perspectiva.

Isso já nos dá indício de que algum movimento tem sido feito em caminho do uso tecnológico a favor do futebol.

Mas ainda que seja animador ver esses primeiros passos, podemos fazer uma analogia simples e superficial com os primeiros passos de uma criança – eles ainda não são firmes nem coordenados, e tampouco maduros o suficiente para que possam se transformar em velozes e eficazes corridas.

Falta uma cultura tecnológica no futebol, que deve ser a próxima barreira a ser transpassada por aqueles que gostam e trabalham sob a perspectiva da tecnologia no futebol.

Se há três anos discutimos a necessidade de se quebrar as barreiras da resistência no futebol, é momento agora de pensarmos também no delineamento da cultura tecnológica. Não que tenhamos superado a primeira, nem de longe, mas não podemos esperar ela se solidificar e ficar 100% superada (quando falar de tecnologia no futebol seja “chover no molhado”), porque, do contrário, estaríamos indo contra os princípios modernos desse fenômeno, que é velocidade e inovações em ritmos frenéticos.

Desta forma, é importante que a gente consiga continuar na marcha de romper as barreiras que ainda existem, mas que aos poucos já vêm sendo superadas, e já começar a dar rumos para o que virá.

Caso não comecemos um desenvolvimento desenfreado de recursos, não nos adequaremos às reais necessidades dos profissionais do futebol. É como se um clube desenvolvesse internamente recursos que só servem para ele (ainda que isso pareça benéfico) naquele momento e com aquele profissional. Em outro clube, acontece a mesma coisa, e assim seguimos uma propagação de recursos e usos diferenciados que podem acabar por não apresentar resultados significativos, e no futebol sabemos o quanto o resultado é importante…

Assim, além dessas barreiras, os profissionais que já estão se ambientando com a tecnologia no seu cotidiano devem se posicionar como colaboradores para que novas ferramentas sejam eficazes e não simplesmente desenvolvidas com a marca e chancela de fulano e ciclano, e sim pelo bem da ciência do futebol, tendo sempre como premissa que a tecnologia faz o que colocamos nela, segundo nossas competências, e através delas (competências) é que o que os recursos nos trazem e serão transformados em intervenção.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br

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O direito de mentir

“Repetir uma mesma escalação em três dos quatro jogos que fizemos até agora é algo muito bom. Ainda não tenho todos os jogadores disponíveis, mas manter uma sequência ajuda a dar uma consistência para o grupo”.

A frase foi replicada nos jornais, sites, rádios e TVs na sexta de tarde e no sábado pela manhã. Seu autor é Paulo César Carpegiani, treinador do São Paulo, antecipando o duelo que teria contra o Grêmio, pelo Campeonato Brasileiro.

Baseados nas declarações do treinador são-paulino, os jornalistas já anteciparam a formação tática da equipe paulista e o fato de Carpegiani ter mantido a equipe, mesmo com algumas críticas de torcedores e comentaristas pelo jeito mais “fechado” de o São Paulo jogar com a formação no meio-campo tendo quatro jogadores mais afeitos à marcação.

Bom, mas aí veio o jogo… E, depois dos 3 a 1 do São Paulo sobre o Grêmio, com uma ótima atuação de Marlos, o “titular-surpresa” de Carpegiani, veio a entrevista coletiva para a imprensa.

“Eu menti. Já tinha planejado jogar com o time daquela forma, mas não poderia antecipar isso”, afirmou o treinador são-paulino.

Introdução aos Aspectos Táticos do Futebol: conheça o curso online da Universidade do Futebol clicando aqui.

 

O “nó tático” de Carpegiani não foi só dentro de campo, sobre Renato Gaúcho, que claramente montou um time baseado naquele São Paulo que três dias antes havia jogado, e sofrido, contra o Atlético-MG. Todos os jornalistas que acompanham o cotidiano do clube paulista sentiram-se um pouco derrotados depois do jogo, meio zonzos pelo drible desconcertante que levaram.

Mas Carpegiani se aproveita de um fato que é muito corriqueiro no cotidiano dos clubes de futebol. Jornalista adora ir a treino, mas raramente passa o tempo todo acompanhando o exercício dos atletas. Ok, muitas vezes temos diversas funções a cumprir, outras preocupações para fazer para o jornal, a internet, a rádio ou a TV.

O problema é que muitas vezes o repórter não entende que a cobertura de um treino não pode se limitar às entrevistas que são realizadas depois dele. É fundamental usar uma característica que está na essência do jornalismo, que é a capacidade de o repórter observar o ambiente em que se encontra e reproduzir uma história a partir dele.

Carpegiani tem todo o direito de mentir. Principalmente quando a informação que ele boicotou a mídia era estratégica para obter o resultado de que precisava. É muito provável também que o São Paulo não tenha chegado a treinar com a formação usada em jogo, mas aí está o grande segredo dos treinadores: conhecer os seus atletas e saber como tirar o melhor proveito deles, mesmo sem nunca ter treinado dessa maneira.

Ao jornalista, além do direito de perguntar, está o dever de observar. Talvez, dessa forma, as mentiras sejam pegas “de calças curtas”, como se dizia no passado. Afinal, essa é a essência da apuração jornalística. Não se ater às declarações, sabendo que o entrevistado pode usar as palavras apenas em benefício próprio.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br