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Tratamento do torcedor: abismo entre o Brasil e os EUA

O torcedor brasileiro está acostumado com a falta de respeito e o descaso dos organizadores de eventos esportivos. A sensação de abandono é ainda maior quando comparado com outros países.

Na última semana foram, divulgados os números da audiência da TV americana e o futebol americano figura como líder absoluto. Além disso, como já dito aqui, quatro ligas americanas figuram entre as cinco mais valiosas do mundo.

A Revista Forbes divulgou ranking com os eventos esportivos mais valorizados e o Superbowl supera os Jogos Olímpicos e a Copa do Mundo de Futebol. O Campeonato Universitário de Basquetebol dos Estados Unidos figura entre os dez primeiros.

Esses números são mais incríveis quando constatamos que tratam-se de esportes praticamente exclusivos dos estadunidenses e que são consumidos majoritariamente pelo mercado interno, como o caso do futebol americano, do hóquei, da Nascar, do lacrosse e do beisebol.

Dentre as mais diversas razões para este sucesso, uma diz respeito ao tratamento dos espectadores destes eventos. O norte-americano trata o torcedor como um consumidor, o enxerga como o alvo do evento.

As ligas possuem lojas exclusivas para a venda de produtos de seus licenciados. A NBA, por exemplo, possui um restaurante temático entre os parques “Universal Studios” e “Islands of Adventure”, em Orlando. O New York Yankees (beisebol) possui dezenas de lojas em Manhanttan, incluindo uma na 5ª Avenida.

Há duas semanas estive em uma partida da NBA entre Orlando Magic e Toronto Raptors (onde joga o Leandrinho) no Anway Center, ginásio com capacidade para vinte mil pessoas, localizado no downtown de Orlando. A organização e a impecabilidade das instalações impressionam.

Os ingressos foram adquiridos com antecedência pela “internet”. Há valores diferentes de acordo com a localização do assento. Os preços variavam entre 22 e 400 dólares. Ao lado do ginásio um imenso estacionamento permitiu que rapidamente estivéssemos no hall de entrada que foi superado sem filas e/ou atropelos.

Na entrada fomos recebidos por gentis agentes de segurança para revista e, em seguida, por recepcionistas que entregaram uma livreto intitulado “gameday”, com as informações sobre a partida.

No hall de entrada as “cheerleaders” sorridentes posavam para fotografias com os torcedores e ao fundo uma imensa escada rolante dava acesso aos corredores internos.

Sem nenhuma fila e após apresentar minha identidade, comprei uma cerveja em uma das diversas opções disponíveis (inclusive redes conhecidas de “fast-food”).

Ao me dirigir ao meu assento, um educado funcionário me indicou exatamente o número de minha cadeira. Ao me sentar, a suntuosidade do ginásio chamou atenção. Um imenso telão centralizado no teto dava o tom e os diversos letreiros eletrônicos entre os anéis da arquibancada davam um ar futurista.

Chamou-me a atenção o fato de as arquibancadas estarem vazias. No entanto, faltando cinco minutos para o início da partida, o ginásio lotou. Tal fato se deu em razão de os torcedores terem a tranquilidade de dirigirem-se ao seu assento somente para assistir ao evento, uma vez que o seu lugar comprado é respeitado.

Nos intervalos dos “quartos”, o narrador oficial interagia com a torcida utilizando músicas e imagens no telão. Enfim, um programa que no Brasil é tido como masculino se transforma em uma atração para toda a família.

Ao final, sem qualquer atropelo, nos corredores havia pequenas lojas com produtos do Orlando Magic.

Importante mencionar a situação das instalações sanitárias. Dignas de “Shopping Centers”, os banheiros possuíam som ambiente da narração da partida.

“In loco” foi possível entender os motivos de tamanho sucesso. Perdendo ou ganhando, o torcedor sai da arena esportiva feliz pela festa, pelo conforto. Não há sofrimento.

Diante de tudo isso se percebe o abismo que há entre o desenvolvimento do esporte nos EUA e no Brasil.

Os torcedores brasileiros submetem-se a filas intermináveis para comprar ingressos, para comprar bebidas, para utilizar banheiros. Tudo sem levar em consideração a precariedade das instalações.

Muitas vezes, o torcedor quer adquirir produtos de seu time do coração, mas há poucas lojas oficiais e as que existem deixam a desejar no que diz respeito às opções.

O Estatuto do Torcedor traz uma série de dispositivos que, caso cumpridos, aproximariam o consumidor brasileiro da realidade dos grandes centros.

Ouço muito que o Estatuto do Torcedor é uma utopia. Ora, se hoje o homem cruza os céus é porque um dia alguém acreditou que podíamos voar.

Assim, para que o torcedor brasileiro seja respeitado é necessário que tenha conhecimento de seus direitos e, tendo o conhecimento, que os exija administrativa e judicialmente.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Férias no futebol: o que fazer na pré-temporada após as festas de fim de ano?

O Natal e o ano novo comemorados pelos cristãos são duas festas bem tradicionais especialmente nos países ocidentais.

Associadas às férias de muitos jogadores, as chamadas festas de fim de ano são um tempo para descanso, para se repensar no que passou e para projetar o que virá.

Em função das confraternizações sempre regadas a bebida e comida, quase sempre as pessoas acabam ganhando peso e essa situação não é diferente para muitos atletas.

Após as festas, vem então a chamada “pré-temporada” que, em função do calendário e do planejamento de cada clube, pode durar de 15 a 45 dias com até dois períodos de treino por dia.

Além do peso ideal de cada jogador, busca-se também atingir melhorias das capacidades motoras necessárias para o futebol entre elas flexibilidade, velocidade, força, potência, resistência muscular localizada e resistência aeróbica.

Para atingir tais objetivos dentro de um prazo estipulado, a escolha das tarefas a serem realizadas e o controle apurado da carga de treino são fundamentais. Para tanto, medidas de marcadores de dano muscular, avaliações da aptidão física e do comportamento dos padrões enzimáticos e metabólicos podem ser utilizados com o intuito de evitar a execução de esforços exagerados.

Mas, por necessitar de técnicas apuradas, medidas invasivas, mão de obra especializada e grande dispêndio financeiro, muitos destes métodos se tornam impraticáveis para a grande maioria dos clubes. Resta a estes, então, buscar alternativas mais simplificadas e menos dispendiosas.

A frequência cardíaca (FC), por exemplo, além de ser estudada desde a década de 50 e possuir um padrão comportamental pré-estabelecido para diferentes tarefas, é uma das variáveis fisiológicas mais simples e baratas de se obter e pode ser utilizada para este fim.

Utilizando a frequência cardíaca, um estudo realizado pelo grupo do Prof. Impellizeri verificou a distribuição da intensidade do treinamento para desenvolvimento da aptidão aeróbica.

O estudo foi publicado na primeira edição de 2011 do Journal of Strengh and Conditioning Research e verificou durante seis semanas da pré-temporada a distribuição da carga de treinamento aeróbico e seus respectivos efeitos na aptidão de 14 jogadores.

Os atletas foram submetidos a um teste em esteira pré e pós intervenção onde foram verificadas a velocidade e a frequência cardíaca das intensidades equivalentes ao primeiro e ao segundo limiar de lactato (2 e 4 mMol, respectivamente).

Com os resultados do teste pré-treino, os pesquisadores determinaram três domínios de intensidade: baixa (> 2mMol de lactato); média (entre 2 e 4 mMol de lactato) e intensa (< 4 mMol de lacato) e após análise de 504 sessões de treinamento verificou-se que do tempo total de treino aeróbico 73 ± 2.5% foi caracterizado com baixa intensidade, 19 ± 2.8% com moderada e apenas 8 ± 1.4% com intensidade alta.

Embora a baixa intensidade tenha predominado, tanto a velocidade referente ao primeiro quanto ao segundo limiar foram superiores no pós-treino do que pré (5% e 7%, respectivamente – p<0,01). Apesar disso, apenas as atividades realizadas com alta intensidade (> 90% da FCmáx) obtiveram correlação com a melhora da aptidão (r = 0.84, p < 0.001; para o primeiro limiar e r = 0.65, p = 0.001 para o segundo limiar).

Apesar de algumas limitações do estudo como, por exemplo, a utilização das concentrações fixas de lactato, e a realização do teste em esteira, estes resultados indicam que a medida da FC é útil para monitoração do treinamento para desenvolvimento da aptidão aeróbica e que nem sempre o volume da tarefa é quem determina melhora do desempenho.

O estudo também nos faz pensar que ao contrário do que muitos imaginam a pré-temporada nem sempre é caracterizada por tarefas exaustivas com predomínio de exercícios intensos, mas é claro que isso poderá variar de clube para clube.

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br
 

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Agassi e a formação

Em tempos de Copa São Paulo de Futebol Junior, me pus a ler uma autobiografia, do ex-tenista Andre Agassi. Não sou muito afeito à leitura de autobiografias, uma vez que elas retratam, naturalmente, uma história única, que via de regra não se reproduz estatisticamente na população. Contudo, esta foi marcante.

Inclusive na época de seu lançamento, anos atrás, quando Agassi declara abertamente ter detestado jogar tênis ao longo de toda a sua vida. Surpreende e intriga, pois vai no sentido contrário a muita coisa que estudamos sobre formação e desempenho de atletas de alta performance – como um atleta, que foi número 1 do mundo, está no rol dos melhores tenistas de todos os tempos, pôde ter odiado fazer o que fez por tanto tempo?

Surpreende, mas se explica, pelas palavras do próprio Agassi: a especialização precoce, vinda desde a infância, quando seu pai o obrigava a bater centenas de bolas diariamente e depois, em uma escola preparatória de tênis altamente tecnicista.

Todo o enredo da sua vida leva-o a revolta, depressão, uso de drogas, álcool, agressividade e tantos outros estereótipos que marcaram a trajetória polêmica de Agassi como tenista.

Enfim, é uma leitura que vale muito a pena para refletirmos sobre algumas atitudes que temos na formação de atletas do futebol e também no julgamento (ou condenação pública) de ídolos da modalidade ante desvios de conduta social que são publicados nos meios de comunicação social.

No primeiro, para termos a real clareza se o que está sendo proposto para a formação de jogadores e cidadãos é condizente com os anseios daquele indivíduo ou passa pela satisfação de desejos próprios: treinadores, pais, dirigentes etc.

Da mesma maneira, o comportamento social de atletas é o resultado do ambiente em que ele foi criado, sendo que a análise fria de fatos podem não refletir exatamente o contexto e os porquês de seu comportamento.

Como dito no início do texto: “em tempos de Copa São Paulo de Futebol Junior”, vale a pena pararmos para pensar sobre a reprodução de desejos próprios em terceiros…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br
 

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Jogo de Damas

Neste breve período de férias merecidas, um dos livros ao qual dediquei meu ócio criativo intitula-se “Jogo de Damas”, de David Coimbra.

O escritor é também editor de esportes do Jornal Zero Hora, de Porto Alegre.

Além disso, faz as vezes de cronista do veículo, com textos que me chamavam a atenção por entrelaçar a relação dos homens com as mulheres ao futebol.

No livro, Coimbra faz um apanhado de personagens femininas, desde a Grécia Antiga até nosso século XX, referindo-se à vida destas célebres mulheres como dínamos do processo civilizatório na história da humanidade.

O autor entende que, antes do protagonismo feminino – embora relegado aos bastidores dos palácios e casas reais, ou nas alcovas efervescentes dos amantes – o mundo estava jogado ao homem e sua selvageria, ao caos, à confusão, ao desejo de conquistas e acúmulo de riquezas.

Com efeito, ao dissecar estes episódios históricos abordados no livro, o autor evidencia como as mulheres dominaram o ímpeto dos homens e suas consequências em prol de nossa evolução.

E, como não poderia deixar de mencionar o futebol, assevera:

“Bem que tentamos nos adaptar à civilização. O esporte é a prova cabal das nossas boas intenções. O esporte nada mais é do que uma regressão à Era de Ouro pré-civilização. Um esporte coletivo, como o futebol, dá ao homem a satisfação atávica de lutar em grupo por um objetivo comum. Antes, o time cercava o mamute: três ou quatro atraíam o monstro para uma clareira, outros seis guarneciam os flancos, mais sete ou oito artilheiros muniam-se de lanças pontudas para feri-lo de morte. Um perfeito trabalho de equipe para a derrota do adversário. O futebol.”

Messalina, Mata-Hari, Lou Salomé, Cleópatra, Lucrécia Borgia, dentre outras mulheres, são objeto de textos bem-humorados e astutos para descrever como, e forma ardilosa, sutil, inteligente ou firme estas musas domaram seus homens.

Portanto, para reconhecer a devida importância às mulheres em nossas vidas e também no futebol, alguns fatos recentes relevantes:

1.Sereias da Vila: apesar da suscitada dificuldade financeira alegada pelo Santos para por fim à equipe, apelo para que a CBF crie uma liga econômica e esportivamente sustentável, visando a expansão e consolidação da modalidade no Brasil.

2.Holanda: o Ajax sofrera punição para jogar com portões fechados e sem público, diante de uma invasão de seu campo ocorrida em 21/12. Solicitou que a pena seja convertida em deixar apenas mulheres e crianças assistirem ao jogo. Isso foi inspirado em algo que ocorreu na

3.Turquia: no ano passado, essa pena alternativa levou 41 mil mulheres e crianças ao jogo do Fenerbahce. A segurança foi feita apenas por policias mulheres, e nenhuma ocorrência foi registrada.
David Coimbra, com humor inteligente, convoca as mulheres para assumirem postos de liderança no lugar dos homens, antes que o mundo acabe:

“Mas, se não acabar, se a mulher conseguir dar um jeito neste projeto mal enjambrado que é a Civilização, bem, aí as coisas vão enfim acontecer do jeito que tem de acontecer: a mulher vai comandar famílias, empresas, cidades e nações, enquanto a nós, homens, caberão as funções típicas de seres mal-adaptados ao mundo feminino, de sonhadores inatos, de românticos atávicos, como nós, e então nós nos dedicaremos aos esportes, à música, à poesia, à literatura, às artes plásticas, à culinária, a todas essas atividades criativas que não prescindem do espírito selvagem do homem.”

Como seria o futebol se fosse gerido com mais tempero feminino?

Existiria? Ou o mundo acabaria antes de isso acontecer?

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br
 

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Que venha a pré-temporada: treino físico x treino tático

Depois das peladas de final de ano, festas e merecidas férias, chega o momento da volta e com ela a temida pré-temporada.

Neste momento, o objetivo geral é colocar os jogadores em forma e prepará-los para o período competitivo, certo?

Sabemos que não é bem assim em grande parte de nossas equipes, inclusive as de base…

No futebol, temos um “micro período” de preparação antes do período competitivo, que se estende por quase todo o ano. Sendo assim, o que podemos fazer nesse curto espaço de tempo antes das competições?

Como vocês bem sabem, o objetivo da coluna não é trazer conteúdos prontos nem receitas de bolo, então para começar bem o ano, vamos refletir sobre as afirmações do atual treinador do Real Madrid, José Mourinho, sobre o período preparatório no livro “Mourinho: Porquê tantas vitórias?”:

“As semanas preparatórias incidem, de forma sistemática, na organização táctica, sempre com o objetivo de estruturar e elevar o desempenho colectivo. As preocupações técnicas, físicas e psicológicas (como a concentração, por exemplo) surgem por arrastamento e como conseqüência da especificidade do nosso modelo de operacionalização”

Esse trecho reflete o pensamento da Periodização Tática, onde a tática (como o nome já sugere) é o norte para a estruturação do processo de treino; sendo assim, as demais componentes do jogo se desenvolvem, paralelamente e subjugadas à tática. Mas será que não teremos problemas com isso?

Será que colocar a tática acima das demais vertentes do jogo não é o mesmo que colocar a técnica sobre as demais?

Voltemos para a pré-temporada…

Através das palavras de José Mourinho, podemos observar que desde o início da temporada o objetivo é o desenvolvimento do Modelo de Jogo da equipe. Aparentemente, não há uma preocupação prioritária com o desenvolvimento das capacidades biomotoras dos atletas.

Devo, então, idealizar meu modelo e desenvolvê-lo desde o primeiro dia de trabalho, correto?

Mas isso é viável, hoje, no futebol brasileiro?

Tudo o que é feito na preparação física de nossos atletas deve ser deixado de lado?

Penso que a preparação física é importante para se jogar futebol, assim como a pré-temporada, contudo a mesma deve ser subjugada não à tática, mas ao jogo.

Desse modo, a preparação física deverá ser desenvolvida de maneira especificamente fractal, e a preparação agirá diretamente na performance de jogo dos atletas.

A pré-temporada deve ser vista como um momento de preparação geral de jogo em que todas as componentes devem ser desenvolvidas relativamente de maneira ótima.

Mas e a Periodização Tática?

Colocar a tática sobre as demais componentes do jogo é como subjugar as demais componentes do jogo à técnica ou ao físico.

As partes fractais do jogo devem se desenvolver tendo o jogo como norte e não uma ou outra parte fractal, mas deixemos essa discussão para um outro momento…

Por hora, agradeço ao Rodrigo Azevedo Leitão pela Periodização Complexa de Jogo.

Nossa pré-temporada de colunas já começou com muitas perguntas, mas as respostas virão com o tempo!

Um excelente ano para todos nós!

Até a próxima!

Para interagir com o autor: bruno@universidadedofutebol.com.br 

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A relação entre os princípios operacionais e os meios táticos – parte II

Olá a todos!

Definitivamente, a bola (a vida e o tempo) não para! Menos de um mês após o péssimo desempenho do Santos na final do Mundial de Clubes no Japão, as calorosas manifestações a respeito do ocorrido, além das possíveis soluções para que daqui a um ano a história seja diferente, já se esfriaram.

Neste período, novos gols e notícias contribuem para o esquecimento do dia em que o futebol brasileiro “não viu a cor da bola”.

Como membro integrante deste futebol brasileiro, porém, sem sofrer da mazela do esquecimento, minha breve pausa para as comemorações de fim de ano já deu espaço para novos estudos. Afinal, para um dia chegar “lá” (sim, na final do Mundial de Clubes), não vejo outra solução que não seja a de debruçar numa busca diária por conhecimento e autoconhecimento (competências bem diferentes) no que se refere à capacitação teórica-prática para intervenção na modalidade.

Antes de me aprofundar no tema semanal, abro espaço para um comentário em relação à publicação da semana anterior, em que recebi alguns e-mails mencionando a alta complexidade da atividade em questão e sobre a dificuldade de aplicá-las em atletas em formação. A resposta individual aos leitores já foi devidamente realizada, no entanto, resolvi mencionar também neste espaço por julgar como um questionamento feito por outros leitores.

De fato, a atividade apresenta um excessivo número de regras e complexidade para ser aplicada de uma única vez em atletas sem experiência prévia. Mas, para atletas com histórico em treinamento por meio de jogos, que tenham referências coletivas comuns, facilidade para a compreensão da lógica do jogo elaborado e numa equipe em que este jogo seja um facilitador para o aperfeiçoamento do momento ofensivo (previamente estabelecido e conhecido pelos jogadores), jogar este jogo é perfeitamente possível.

Se vocês se lembrarem, quando redigi o Jogo 1, mencionei a importância de quaisquer atividades que viessem a ser publicadas serem desenvolvidas respeitando um importante princípio metodológico da Periodização Tática: a progressão complexa. Portanto, para criar uma atividade mais ou menos complexa, conheça o nível da sua equipe!

Aproveito também para responder as inquietações de outros leitores: não sigo ou copio livros de jogos e/ou atividades prontas. Recorro a elas eventualmente para que me surjam ideias e me apoio firmemente nas leituras de Frade, Bayer, Garganta, Leitão, Scaglia, Gomes, Greco, Weineck, Bompa (sim, também leio sobre treinamento físico) e nos membros da Comissão Técnica com quem trabalho para elaborar os treinos.

Escolhi publicar um jogo “difícil” para mostrar ao leitor um mundo de possibilidades. E neste mundo de possibilidades, não se esqueça de desenvolver os jogos que façam sentido ao seu Modelo e a Lógica do Jogo de Futebol.

Lógica que, para cumpri-la, fazer gols será indispensável. E para auxiliá-lo nesta tarefa, apresento uma tabela de relação entre os meios táticos ofensivos e os princípios operacionais ofensivos:

Se o objetivo da fase defensiva é a recuperação da posse de bola, o objetivo da organização ofensiva a todo o momento deve ser o de fazer o gol. E da mesma forma que para recuperar a posse, muitas vezes, a melhor forma de fazê-la é orientar funcionalmente a equipe (lembre-se que ela é uma unidade complexa) para outro comportamento, na ação ofensiva, para desfazer-se dela, ou seja, finalizar, orientações hierárquicas anteriores deverão ocorrer.

Amplitude não faz gol! Entretanto, Dani Alves e Tiago Alcântara abriram caminhos no meio-campo santista ao “prenderem” Danilo e Léo nas faixas laterais do campo.

Mobilidade e Desmarcação podem ser trabalhadas num tradicional jogo de “Passa 10” e que fará simplesmente sua equipe “andar em círculo”. A Mobilidade e Desmarcação (as mesmas do “Passa 10”, mas diferentes) do trio Xavi, Iniesta e Fábregas permitiam a aproximação do alvo na confusa marcação santista através da manutenção da posse.

Demais relações podem ser estabelecidas para todos os outros meios táticos. Como podem perceber, não sofro da mazela do esquecimento.

Se um dia chegaremos “lá”? A vida e o tempo dirão! Enquanto isso, façamos o que nos cabe…

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
A relação entre os princípios operacionais e os meios táticos

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Investimento no consumidor dos esportes: temos muito que aprender

Aproveitando o merecido descanso de fim de ano, tive a oportunidade de conhecer as lojas oficiais da NBA, da NHL e da NFL. Assisti, tambem, à uma partida da NBA e estive no Madison Square Garden para um jogo de hóquei. Nestas situações, percebi o quanto temos que aprender quanto ao tratamento do esporte como um negócio. Essas experiências serão detalhadas na próxima coluna.

Nesta oportunidade, gostaria de retornar em um ponto que já tenho mencionado em palestras e em artigos. Trata-se do investimento no torcedor como um negócio.

Destarte, o futebol movimenta milhões, criando outros tantos empregos e transformando todos habitantes e adeptos do planeta em potenciais consumidores. O adepto de futebol tem direitos que devem ser respeitados, sobretudo levando em consideração que o futebol deve sua magnitude às imensas multidões. Desta forma, os clubes, tendo em vista um investimento futuro, devem adequar as suas estruturas e iniciativas aos anseios e necessidades dos adeptos.

A criação de excelentes condições para os torcedores traz resultados financeiros e desportivos, como se constata nas inúmeras iniciativas da “Premier League” inglesa, do Barcelona e, no Brasil, do Internacional. O adepto, cada vez mais exigente, irracional e apaixonado, capaz de distorcer a realidade pelo seu clube, deve ser tratado como protagonista.

Os cinco principais direitos do adepto como investimento futuro:

[1] As competições devem possuir regulamentos transparentes e critérios técnicos, bem como arbitragem justa e independente.

[2] Os bilhetes devem ser vendidos de forma organizada, sendo garantida a celeridade, eficiência e segurança na venda. A mesma deve ser feita em diversos locais e por diversos meios (ex. internet).

[3] Os estádios devem ser acessíveis por transportes públicos, devendo possuir como infraestrutura: estacionamento, restaurantes, WCs, etc. Tudo, com acessos amplos, facilitando a entrada dos adeptos, além de assegurar acessibilidade aos deficientes.

[4] O torcedor tem direito de receber informações claras por recepcionistas, ou funcionários do clube, bem como o direito de acomodar-se num assento confortável e numerado. A numeração deve corresponder à do ingresso.

[5] Finalmente, a segurança deve ser garantida no interior e exterior dos estádios. A mesma deve estar presente durante, antes e após as partidas, com policiamento visível, monitorização por câmaras e limitação do acesso a adeptos sem ingresso.

Estas medidas trarão, além de benefícios aos torcedores, uma fidelidade ao clube, aos eventos e aos seus participantes. Adeptos bem tratados são sinônimo de estádios e cofres cheios, independentemente dos resultados desportivos, da venda de bilhetes, de direitos de TV, ou de produtos licenciados. Percebe-se o resultado do respeito aos direitos do adepto pelas receitas da “Premier League” inglesa, a terceira mais rentável do mundo (atrás das norte-americanas MLB – Beisebol – e NFL – futebol americano).

Os jogos da Liga Inglesa têm em média uma ocupação de 91%, independentemente da classificação do clube, e em alguns casos, como o Manchester United, 100%. Esta fidelidade coloca nove clubes ingleses entre os 25 mais ricos do mundo, dois entre os 10 mais valiosos nas diversas modalidades e três entre os seis com maiores patrocínios.

O respeito pelos adeptos conduz ao resultado desportivo, como se apreende de exemplos como o Barcelona, que é o atual campeão do Espanhol, da Copa e da Supercopa da Espanha, da Uefa Champions League e do Mundial de Clubes; e o Internacional, que conquistou a Libertadores da América e o Mundial de Clubes em 2006, a Copa Sul-Americana em 2007, tendo sido, em 2009, vice-campeão Brasileiro e da Copa do Brasil.

Assim, mais do que atender aos direitos da imensa comunidade de adeptos, a atenção aos seus anseios corresponde a um investimento com retorno financeiro, de visibilidade e em títulos.

Os Estados Unidos mostram, como ninguém, a forma de se organizar um evento esportivo, com atenção ao público e com retorno milionário e vitorioso exteriorizado pela valorização do seu desporto e, também, pelo imenso número de medalhas olímpicas e títulos mundiais.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br
 

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Controle da carga de treinamento aplicado ao futebol

O corpo humano é controlado pelo sistema nervoso que é divido anatomicamente em sistema nervoso central e periférico e funcionalmente é dividido em sensorial, somático ou autonômico. O sistema sensorial capta as informações, o somático é responsável por nossas ações voluntárias e o autonômico regula nossas funções sem nossa consciência.

À medida que os estímulos (internos ou internos) interagem entre si, o organismo se ajusta frente a cada situação para garantir a sobrevivência.

A elevação da frequência cardíaca e da respiração durante a prática de exercício físico são exemplos dessas respostas assim como a produção de hormônios, a sudorese, o sono, etc.

No treinamento esportivo, uma das formas de controlar a carga ocorre pela monitoração da frequência cardíaca em conjunto com escalas de percepções subjetivas de esforço. Em modalidades intermitentes como o futebol, apesar de algumas limitações, essas ferramentas têm sido utilizadas com frequência e auxiliam bastante na preparação dos atletas.

Pelo fato de o sistema nervoso autônomo se estressar frente a estímulos físicos e mentais, além da condição física, também é possível verificar o nível de estresse que cada jogador se encontra.

Mas como saber o momento de dar descanso ou um novo estímulo para cada atleta?

Recentemente, a monitoração do controle autonômico surgiu como alternativa para verificar se o atleta está recuperado e pode receber uma nova carga de estímulo ou se ele ainda necessita de um período de descanso maior.

Com um eletrocardiograma ou um frequencímetro que permita o registro do intervalo de tempo entre cada batimento cardíaco, existe a possibilidade de se realizar alguns cálculos que expressam a variabilidade da frequência cardíaca e consequentemente verificar a modulação autonômica de cada sujeito.

No geral, se a condição de estresse é alta, espera-se maior participação da atividade simpática. Se a condição de estresse é baixa, então a modulação da atividade parassimpática é quem deverá predominar

De forma bem simplista é como se nosso corpo funcionasse sobre uma gangorra. Num dos lados da gangorra temos o sistema nervoso parassimpático (ativado em condição de calmaria) e do outro o simpático (ativado em condição de estresse).

Em condições normais esses dois sistemas deixam a gangorra em equilíbrio e no caso de um sistema pesar mais do que o outro esse desequilíbrio pode significar problemas.
Imagine, por exemplo, um atleta que se estressa em uma condição de treino e se recupera bem rápido e outro que se estressa igualmente, porém demora muito tempo para se recuperar. Nesse caso, se a mesma carga de treino for ministrada para ambos, obviamente que eles terão respostas diferentes ao ponto de um poder melhorar muito sua condição, enquanto o outro poderá até correr riscos de saúde ou de lesão.

Para que isso não ocorra, a monitoração do controle autonômico cardiovascular pode servir como parâmetro de controle de carga interna e consequentemente evitar que os atletas entrem, por exemplo, em supertreinamento.

Apesar da complexidade do assunto, espero que sua gangorra esteja perfeitamente equilibrada já que esse também é um bom indicativo de saúde cardiovascular.

Até a próxima!

Para interagir com o autor: cavinato@universidadedofutebol.com.br

Para saber mais:

Bricout VA, Dechenaud S, Favre-Juvin A. Analyses of heart rate variability in young soccer players: the effects of sport activity. Auton Neurosci. 2010 Apr 19;154(1-2):112-6.

Buchheit M, Mendez-Villanueva A, Quod MJ, Poulos N, Bourdon P. Determinants of the variability of heart rate measures during a competitive period in young soccer players. Eur J Appl Physiol. 2010 Jul;109(5):869-78.

Yu S, Katoh T, Makino H, Mimuno S, Sato S. Age and heart rate variability after soccer games. Res Sports Med. 2010 Oct;18(4):263-9.

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Futebol alemão – capítulo 2

Conforme prometido no final de 2011, estamos fazendo uma breve análise do desenvolvimento do futebol alemão à luz de reportagem publicada na edição de outubro da revista Sport Business International. O alcance de um patamar de sucesso pode estar centrado na profissionalização e na governança da liga e dos clubes.

E isso começou quando os clubes, orientados pela liga, passaram a adotar uma gestão que acompanhou os rumores daquilo que se tornou o “Fair Play Financeiro”, proposta pela Uefa e que será exigido para todos os clubes europeus a partir da próxima temporada, em uma tentativa de melhor regular a questão financeira dos mesmos.

O que os clubes alemães fizeram foi antecipar-se à mudança. Sabendo que o modelo anterior seria insustentável no longo prazo, nada mais natural do que perceber esta transição e se adaptar a ela gradativamente, ao invés de abruptamente, como serão obrigados a fazer os clubes e ligas de outros países.

O resultado começa a aparecer no médio-longo prazo e agora passa a ser um modelo a ser seguido. O simples registro vale como uma lamentação ao ver que nenhum clube no Brasil ou a principal organizadora das competições nacionais são capazes de lançar e adotar uma forma de gestão com olhar para o futuro e não olhando para o retrovisor.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br
 

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Tecnologia para monitorar comportamento fora do campo: será necessário?

Olá, amigos!

Que este ano que se inicia possa trazer grandes frutos e conquistas a todos e que possamos seguir neste espaço a debater sempre com seriedade, conhecimento, trocando nossas experiências acerca de diversos temas que nos despertam as curiosidades relacionadas ao universo do futebol. Um grande 2012 a todos!

No texto desta semana, trago para discussão um aplicativo divulgado recentemente para que qualquer usuário possa se motivar e fiscalizar a prática de exercícios. É o GymPact.

Nesse aplicativo, a pessoa vincula o GPS às metas estabelecidas de sua presença a locais específicos para a prática de atividades físicas. Assim, se ela se ausenta num dia programado, o aplicativo debita um valor em dinheiro da conta da pessoa; se a pessoa freqüenta, ela recebe como prêmio.

“O usuário só pode se cadastrar fornecendo um cartão de crédito, e o GPS é usado o tempo todo para saber se você realmente está na academia. Se você falta à aula, o aplicativo tira US$10 de sua conta e coloca no “bolo”. É desse bolo – o bolo dos perdedores, aqueles que não foram à academia e ainda perderam o troco – que também sai o pagamento caso o pacto seja mantido. Os pactos são feitos semanalmente – bom para aqueles com ritmos bem inconstantes”.

É interessante e inusitada a proposta, porém quando recebi a indicação desta reportagem, enviaram-me junto o seguinte questionamento:

“Será que não vale a pena os clubes investirem nisso para que seus jogadores sejam mais controlados principalmente no período de férias?”.
 


 

Entendo a preocupação, dados os frequentes deslizes de muitos atletas quanto aos cuidados com suas condições físicas. Temos que deixar claro que o período de férias é importante na lógica do treinamento, já que se trata de um período transitório que deve ser respeitado. E complementamos ainda que tais deslizes não se dão só no período de férias – é possível observar tais fatos em pleno decorrer da temporada competitiva.

Acredito sempre que a tecnologia contribua com os processos desportivos, porém temos de separar bem, e sobretudo definir, o que é feito como imposição do que é feito com clareza e discernimento.

Assim como no futebol brasileiro muitos pregam que é impossível culturalmente liberar os atletas das concentrações (veja coluna em que debatemos o tema), pelo mesmo motivo se justificaria tal recurso tecnológico de fiscalização do atleta.

Seria possível se desenvolver diferentes níveis de controle, desde a presença ou não no local indicado, até mensurações de atividades realizadas, ou não. Ainda que alguns sejam criativos o bastante para burlar qualquer forma de controle, seja tecnológicou ou mesmo a famosa cartilha dos técnicos mais tradicionais, concordamos que poderia surtir algum efeito.

Entretanto, da mesma forma que defendo a tecnologia no esporte, defendo também o desenvolvimento de pessoas mais inteligentes (com o risco do termo não ser o mais adequado) nos quesitos de compreensão do grande campus esportivo (termo oriundo dos estudos de Bourdieu). Falamos tanto em formar atletas inteligentes, modelagem de jogo, capacitação dos profissionais do futebol, atualização tecnológica, enfim, em diferentes níveis discutimos uma valoração dos aspectos voltados a inteligência no futebol.

É nesse ponto que acredito a tecnologia deve ser pensada, para facilitar o controle de treinos, mensurações, diagnósticos e planejamentos. Mas à medida que se torna um instrumento de punição, de controle, de aposta na má fé, reforça-se cada vez mais o caráter descompromissado de quem já tem essa intenção.

A punição, na minha opinião, para o atleta que não adota uma postura profissional hoje, não é fiscalizar o que faz ou que não faz, e sim analisar o quanto isso afeta ou não seu desempenho em campo. A partir disso, tomam-se as medidas contratuais cabíveis, renegando o passar a mão na cabeça ou a bronca ao atleta.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br