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O tempo de jogo e a formação do elenco

A formação de uma equipe para a disputa de uma competição ou temporada basicamente é feita da seguinte maneira:

• Detecção dos atletas remanescentes da temporada anterior;
• Promoção de atletas das categorias de base do clube;
• Contratações diversas (de jogadores de “peso”, de carências, de indicados por empresários, de indicados pela comissão ou de indicados pela diretoria).

Com o elenco formado, a expectativa administrativa é que a relação custo x benefício obtida para cada atleta seja favorável. Um controle de competição que pode servir como uma ferramenta para o desenvolvimento da referida relação é o Controle de Tempo de Jogo.

Nele, o departamento administrativo do clube tem dados interessantes para cruzar com as demais informações de cada jogador e, dessa forma, ser mais assertivo em decisões futuras relativas à formação do elenco.

No Controle de Tempo de Jogo, diversas classificações podem ser feitas por quem gerencia a planilha. Como sugestão, quatro classificações são estabelecidas de acordo com o percentual jogado referente ao tempo total da competição. São elas:

• De 0% a 25% – Participação pequena;
• De 25% a 50% – Participação média;
• De 50% a 75% – Participação alta;
• Acima de 75% – Participação muito alta.

No clube que trabalho atualmente, mais de 76% da competição já foi disputada, o que permite uma análise prévia dos dados. Dos 32 integrantes do elenco, a quantidade de atletas para cada uma das classificações segue indicada abaixo:

• Participação pequena – 15 atletas (46,8%);
• Participação média – 8 atletas (25%);
• Participação alta – 4 atletas (12,5%);
• Participação muito alta – 5 atletas (15,6%).

Para efeito de comparação, abaixo os dados de uma equipe sub-17 no ano 2011, com 34 atletas:

• Participação pequena – 19 atletas (55,8%);
• Participação média – 4 atletas (11,7%);
• Participação alta – 5 atletas (14,7%);
• Participação muito alta – 6 atletas (17,6%).

Como último exemplo, o Controle do Tempo de Jogo de uma equipe sub-15 no ano de 2010, com 29 atletas:

• Participação pequena – 15 atletas (51,7%);
• Participação média – 1 atleta (3,4%);
• Participação alta – 7 atletas (24,1%);
• Participação muito alta – 6 atletas (20,6%).

Estes dados interpretados isoladamente possibilitam algumas análises. Entre elas, que grande parte do elenco tem uma atuação inferior a ¼ da competição. Dado pobre se não for cruzado com outras informações.

Então, para um cruzamento que proporcione informações importantes à diretoria, mais uma sugestão é apresentada: a partir da quantidade de jogadores para cada classificação do Tempo de Jogo, a definição técnico-administrativa da expectativa de desempenho para cada atleta. Voltando para o elenco profissional que trabalho, na quarta divisão do futebol paulista (sub-23 com limite de três jogadores acima dos 23 anos, por jogo), os dados técnicos são os seguintes:

Dos 15 atletas com pequena participação:

• Oito atletas têm entre 18 e 19 anos e era sabido que o tempo de participação na competição seria bem reduzido. Desses oito atletas, cinco não atuaram, dois atuaram tempos insignificantes e um atuou por 262 minutos;
• Três atletas têm 20 anos, ou seja, idade de juniores. Desses, dois atletas têm potencial e estão se adaptando a filosofia de trabalho e um atleta operou de uma lesão crônica;
• Três atletas têm 21 anos. Com esta idade, podem jogar por mais dois anos esta divisão. Dos três atletas, dois são reservas imediatos de jogadores de linha que, hoje, compõem a “espinha dorsal do elenco” (cinco atletas com participação muito alta) e um é reserva imediato do goleiro. Os três atletas já atuaram por 297, 485 e 370 minutos;
• Um atleta tem 26 anos. Atleta acima da idade limite e contratado ao longo da competição para suprir uma carência da equipe. Há 11 jogos na competição, desde que foi contratado atuou por 401 minutos.

Dos oito atletas com participação média:

• Cinco atletas têm 20 anos. Desses, esperava-se maior atuação de um atleta, porém, por não ter se adaptado ao Modelo de Jogo perdeu a condição de titular. Dois são titulares atualmente e ganharam a posição ao longo da competição e os outros dois são reservas imediatos (um já foi titular) de um das meias e de um dos zagueiros. Dois atletas tem grande potencial de negociação, ou então, de ser parte da “espinha dorsal” na competição da próxima temporada;
• Dois atletas têm 21 anos. Atletas que sabidamente seriam suplentes. Atualmente, um deles tem condição de brigar pela titularidade. Conforme mencionado, ainda podem jogar por mais dois anos essa divisão;
• Um atleta com 39 anos. Atleta de prestígio local e próximo de encerrar a carreira no clube em que foi projetado para o cenário nacional. Está fazendo sua última temporada e, pela idade elevada, era sabido que seu tempo de atuação seria reduzido. Atuou por 630 minutos.

Dos quatro atletas com participação alta:

• Dois atletas têm 20 anos e ambos possuem grande potencial de negociação. O percentual de participação de um está bem próximo da classificação “muito alta”. O outro atingiu a condição de titular na 8ª rodada e é o artilheiro da equipe;
• Um atleta tem 21 anos e também possui grande potencial de negociação. Por opção tática tem sido frequentemente substituído, o que o exclui do grupo com maior participação;
• Um atleta de 23 anos. Idade limite para jogar a competição e sua permanência está diretamente relacionada ao acesso. Como estava disputando outra competição, assumiu a titularidade quando chegou, após a 5ª rodada.

E, para finalizar, dos cinco atletas com participação muito alta:

• Quatro atletas têm 21anos. Desses, um tem grande potencial de negociação e os outros três podem compor a equipe base da temporada seguinte. Esperava-se a regularidade de desempenho destes atletas;
• Um atleta tem 23 anos. Joga esta competição como titular pelo 4º ano consecutivo (2009-2012), é o capitão da equipe e também era esperada esta regularidade. Sua permanência, porém, também está relacionada ao acesso à série A-3.

Como pode ser observado, somente alguns detalhes escaparam do planejamento inicialmente traçado. Resumidamente, da grande parte do elenco que não tem atuado, muitos são jovens com períodos de 2 a 5 anos para jogarem somente essa divisão caso o acesso não ocorra em 2012. Além disso, mesmo os jogadores titulares (salvo os atletas em idade-limite) poderão jogar esta divisão nas próximas temporadas. Sem contar o bom número de atletas do elenco com potencial de negociação.

Enfim, como tudo no futebol, a formação de um elenco é complexa e exige um bom número de decisões acertadas para ser mais uma das variáveis que apontam a favor do resultado positivo. É uma pena que muitas vezes essas decisões são banalizadas por “achismos”, opiniões sem embasamento e falta de critérios.

Os resultados desses equívocos todos nós sabemos: elencos “inchados”, caros, péssima relação custo x benefício para muitos jogadores em virtude dos altos salários para pouco tempo de atuação e, consequentemente, a mazela que atinge a grande maioria dos clubes brasileiros: as dívidas trabalhistas.

Parafraseando o executivo Ferran Soriano, ex-FC Barcelona e recém-contratado pelo Manchester City:  “a bola não entra por acaso”…

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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A tragédia de Hillsborough: lição dos ingleses para o mundo

Nesta semana, o governo inglês divulgou relatórios oficiais referentes à tragédia ocorrida em 15 de abril de 1989, em Hillsborough, em uma partida entre Liverpool e Notthingham Forest e que culminou com a morte de 96 pessoas esmagadas e pisoteadas.

Os documentos apontam que uma série de erros operacionais contribuiu para a extensão e gravidade da tragédia. Houve tentativas de se colocar a culpa nos torcedores e esta transferência de responsabilidades tornou os espectadores extremamente vulneráveis.

Ademais, a polícia inglesa perdeu o controle da situação e demorou a perceber e compreender que o desespero das pessoas que forçaram as grades da beira do campo se dava porque estavam sendo esmagadas e protegiam as suas vidas. Apesar disso, parte da polícia, ao invés de auxiliar os torcedores, formou um cordão de isolamento no meio do campo.

O estopim do tumulto se deu porque os torcedores do Liverpool com ingressos comprados não conseguiram entrar no estádio e, com o início da partida, houve empurra-empurra do lado de fora e um dos portões foi aberto.

Neste momento, a multidão dirigiu-se à ala central onde não havia mais lugares (deveria ter sido conduzida às laterais) e os torcedores que estavam junto ao alambrado foram esmagados.

A referida tragédia levou as autoridades inglesas a darem maior atenção à segurança nos estádios de futebol. Assim, empreendeu-se então uma verdadeira cruzada para a solução do problema.

Em 1990, um inquérito oficial do governo, o relatório Taylor, determinou grandes transformações nos estádios daquele país. Por causa desse relatório e dos efeitos da tragédia, os estádios ingleses eliminaram as “gerais”, onde os torcedores ficavam de pé.

A partir dos anos 90, todos os campos da Inglaterra passaram a ter apenas cadeiras numeradas. As grades foram removidas e os torcedores voltaram a acompanhar as partidas sem qualquer separação para o gramado.

Os torcedores arruaceiros passaram a ser severamente punidos. Os preços dos ingressos subiram e as catracas e portões receberam dispositivos de segurança.

Câmeras de vídeo foram instaladas em todas as arquibancadas, com monitoramento permanente pela polícia. Houve reforma ( e até reconstrução) dos estádios, que se tornaram mais seguros e confortáveis.

As intervenções surtiram efeito no controle da violência e no resultado desportivo e financeiro dos clubes ingleses que, organizados em uma liga independente, assumiram o comando de seus campeonatos. Renegociaram os direitos de televisão e ganharam muito dinheiro.

Diante do exposto, os ingleses utilizaram a tragédia como mote para reestruturar seu futebol e torná-lo um dos mais seguros e rentáveis do mundo, dando aos demais países uma lição de superação, organização e competência.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Futebol de várzea

O futebol, no Brasil, surgiu com o futebol de várzea, quando os campos ainda não eram regulamentados nem tinham algumas regras, como escanteio ou tiro de meta. Jogado geralmente em terra batida, eles se localizavam às margens do rio Tietê, por isso campo de várzea.

Foi a origem de muitos clubes famosos hoje e, é importante para a história e para a essência do futebol atual, saber do passado do futebol brasileiro e manter suas peculiaridades.

Hoje, o campo de terra batida está sendo extinto e substituído pelo futebol society e por gramas sintéticas. Não sou contra este tipo de equipamento, mas é legal manter um pouco da história, um pouco de tradição.

Quase todos os campos pensam em desenvolvimento tentando buscar esse futebol mais industrializado. Os campos de grama artificial, padronizados, tiram um pouco o espírito de raça e determinação que formam o caráter de muitos jogadores de periferia – local onde hoje está a maioria dos campos de terra.

O futebol de várzea é repleto de particularidades, de identidade, originalidade e cada um da sua forma, conforme seu terreno, suas condições financeiras e conforme a personalidade do time que joga ali.

Podemos imaginar vários tipos de bolas, marcações, campos, uniformes (com camisa e sem camisa, por exemplo), traves.

Surgiu disso, por exemplo, o Estrelas da Várzea, um estudo que busca ver formas engraçadas e particulares desses campos, com formatos extremamente fora dos padrões e medidas convencionais (retângulos de 90m-120m por 45m-90m), projeto do jornalista José Ricardo Yoshiga Souza.

Acima, campo no bairro Capão Redondo, em São Paulo, onde o sentido do campo, além de ter medidas bem menores, ainda tem o sentido do retângulo invertido, com as traves dispostas nas laterais maiores. Abaixo, campo no encontro da avenida Radial Leste com a avenida Aricanduva, onde um dos escanteios é modificado por conta da via existente.

Sempre considerei fundamental registrar e levantar dados de como era a estrutura do futebol antigamente e não somente falar sobre os estádios contemporâneos e mega arenas tecnológicas.

São estudos como este que me alimentam a vontade de iniciar uma pesquisa mais a fundo a respeito da história e das relações desse futebol com a formação do brasileiro e com influências sociais.

O projeto Estrelas da Várzea tem página no Facebook, no qual cada um pode indicar campos com formas e soluções bizarras e inusitadas. Visite a galeria.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br

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O investimento planejado no esporte: uma visão a longo prazo

O esporte é considerado uma plataforma completa de comunicação e interatividade. Comunica entretendo, a emoção é sua matéria-prima, e sua imprevisibilidade cria um ambiente de expectativas/emoções em torno da competição, prova e/ou partida a ser disputada. Ou seja, o esporte é um atalho para a marca na construção do pilar emocional.

Os objetivos do patrocínio esportivo permeiam desde a simples visibilidade e transmissão de valores, até o alcance de novos mercados, relacionamento, responsabilidade social, endomarketing, pesquisa e desenvolvimento, entre outros. Desta forma, a empresa que deseja investir no esporte precisa, antes de tudo, ter os objetivos bem claros em uma visão a longo prazo.

Com os objetivos assim definidos, é necessário selecionar as propriedades esportivas que tenham associação com o DNA da marca e, posteriormente, criar um planejamento de marketing integrado a longo prazo. Construir a imagem da marca no esporte requer atitudes consistentes, adequação da mensagem e, sobretudo, continuidade.

Os principais pilares para o investimento saudável no esporte são:

•Diagnóstico da Marca
•Plano de Ação (Estratégico e Tático)
•Ativação/Implementação
•Mensuração/Acompanhamento dos Resultados

Em uma ação de patrocínio esporte, mais do que a empresa se comunicar como patrocinadora, é necessário usar as ações para reforçar os valores da marca. É preciso criar uma associação verdadeira com o DNA da marca que seja ao mesmo tempo relevante para o consumidor/público-alvo, sempre pensando no legado deixado pela marca.

Por fim, é extremamente importante monitorar os resultados e mensurar o retorno de todas as ações executadas do planejamento de marketing esportivo para, eventualmente, melhor direcionar e orientar as ações.

*Victor Lima é graduado em Ciência do Esporte pela UEL, e MBA em Gestão e Marketing Esportivo pela Trevisan Escola Superior de Negócios. Atualmente, é Co-Líder do Núcleo Futebol na BSB – Brunoro Sport Business.

Ele irá substituir Geraldo Campestrini nas próximas duas semanas na Universidade do Futebol, em virtude das férias do colunista.
 

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Conteúdo Udof>UdoF na Mídia

Renê Simões fala sobre a parceria do SPFC com a Universidade do Futebol

Confira abaixo o vídeo publicado em 10/9/2012

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Formação de jogadores de futebol: as ações e as consequências

Recentemente estive com um treinador de categorias de base de um clube argentino. Ele passou 15 dias no Brasil acompanhando jogos e treinos de categorias menores, desde o sub-11 até o sub-20.

Ele considerou muito proveitosa a experiência e falou-me um pouco sobre o trabalho que realizava na Argentina.

Em uma das conversas, apontou-me algo sobre a dinâmica de jogo, que (segundo ele) caracterizava bem a diferença do futebol praticado em seu país (pelos jogadores em formação) e do praticado pelos jovens jogadores no Brasil.

O que mais lhe chamou a atenção foi o fato de que, enquanto na Argentina, as equipes procuravam circular mais a bola, até encontrar situações de 2 vs 1 ofensivo, no Brasil, jogadores desfilavam um jogo de progressão ao ataque quase que constante, buscando invariavelmente situações de 1 vs 1.

Pois bem.

É de certa forma aceitável dizer que, tanto ao senso comum quanto aos profissionais especializados em futebol, o “talento individual” dos jogadores (chavão futebolístico) é o que decide os jogos.

Eu não quero, aqui, discordar. Não, não é o caso. O que pretendo é chamar a atenção para o fato de que há implicações importantes para o processo (principalmente para o final dele), que estão diretamente relacionadas com o tipo de dinâmica de jogo, propostas para (e por) equipes e jogadores nas categorias de base.

Em outras palavras, estou dizendo que um jogo de progressão ao ataque, com busca pelo 1 vs 1, ao longo dos anos, formará jogadores adaptados a responder de determinada maneira aos problemas que venham surgir no jogo.

Essa maneira, é um resultado final diferente daquele encontrado, após anos de jogo de circulação de posse da bola na busca de situações de 2 vs 1 ofensivo.

Quais serão as respostas finais mais particulares aos jogadores imersos nesta, ou naquela dinâmica, é difícil saber com exatidão.

O fato é que precisamos entender quais as implicações para a formação de um jogador que vai se tornar profissional, de determinada organização, modelo, filosofia ou cultura de jogo.

E se o “talento individual” resolve jogos, poderá ele, estar a se referir, por exemplo, a habilidade de um jogador de individualmente, “partir para dentro”, driblar e resolver o problema do jogo (fazer o gol); ou poderá, talvez, remeter-nos à ideia de que se refere a sua excepcional leitura de jogo para conseguir colocar seu companheiro de time em uma condição altamente favorável (por exemplo de 2 vs 1 ofensivo).

Independente do que seja o “talento individual que decide o jogo”, se não entendermos bem qual tipo de jogador queremos formar e qual a identidade do nosso brasileiro futebol, como poderemos propor dinâmicas de treino e de jogo que sejam favoráveis para isso no curto, no médio e no longo prazo?

Olhemos, por exemplo, para o basquetebol. Enquanto por anos o mundo jogava um jogo de marcação à zona, o que fazia a NBA (Associação Nacional de Basquetebol dos Estados Unidos)?
A NBA exigia, de maneira regulamentada, marcação individual. E o que isso trouxe para a dinâmica de jogo e para as ações dos jogadores?

Ofensivamente, trouxe desmarques, fintas espetaculares, dribles de corpo e belas “enterradas”. Defensivamente, ataques agressivos a bola e “tocos”.

O basquete jogado nos EUA desenhou-se então de maneira bem diferente daquele praticado pelos outros países no mundo (e da mesma forma aconteceu com o tipo de jogador presente nas equipes norte-americanas).

No futebol de base no Brasil, por alguns anos, a grande “moda” foi o jogo dos chutões. Depois, os “chutões” no 1-3-5-2. Mais à frente a marcação à zona, e mais recentemente as linhas de 4 (com o 1-4-2-3-1 prevalecendo).

Nada contra qualquer uma das “modas”.

Mais uma vez saliento que precisamos entender as implicações finais daquilo que hoje é proposto na dinâmica (na organização, no modelo, na filosofia, etc.) de jogo, para a formação do jogador que queremos ter representando o futebol brasileiro (nas equipes profissionais e consequentemente na seleção nacional).

“Planejar errado, é planejar o fracasso” (José Mourinho).

O “processo” é um caminho que, se for errado, nos faz, mesmo andando para frente, ficarmos mais distantes do horizonte almejado.

Desconhecer a força resultante de nossas ações é fortalecer a inércia!

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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A culpa é sua, treinador!

Caros treinadores,

é bastante comum no futebol brasileiro que os motivos para suas derrotas sejam os mais variados possíveis que não as suas próprias falhas.

Ao adotarem este comportamento, nas coletivas e entrevistas pós-jogo (no caso daqueles com maior visibilidade, é claro), utilizam como desculpa a falta de reforços, os erros de arbitragem, a falta que fizeram os lesionados, o pouco tempo no cargo, o cansaço devido ao acúmulo de jogos ou até uma inexplicável má fase.

São poucos os que focam nos reais problemas de sua equipe (RPE). Os que o fazem, geralmente, limitam-se a questões mais superficiais.

Ao atribuir o “peso” principal do resultado negativo aos fatores externos, os RPEs passam despercebidos. Logo, no dinâmico mundo atual, o jogo seguinte, após uma vitória ou demissão, acaba por encerrar o tema que permitiria horas de enriquecedoras discussões sobre futebol.

A sorte de vocês, caros treinadores, é que a mídia especializada ainda não está preparada para ser um dos vértices da evolução do futebol brasileiro. Com isso, jogo a jogo, coletiva a coletiva, limitam-se a induzir as respostas prontas dos jogadores e treinadores. Afinal, respostas prontas são as soluções para perguntas repetitivas.

O movimento necessário de evolução do futebol brasileiro passa, indispensavelmente, por uma maior compreensão do jogo de futebol por parte dos formadores de opinião. Com melhor capacitação, seriam mais exigentes e inteligentes em suas perguntas e, consequentemente, “forçariam” respostas mais complexas.

No entanto, quantos profissionais da imprensa estão preparados para questionar a opção de um treinador marcar por zona ou individualmente em bolas paradas?

Quantos seriam capazes de perguntar por que o goleiro não participa ativamente do modelo de jogo quando a equipe sobe o bloco e ele deixa de se posicionar caso seja necessário uma cobertura defensiva?

Quem será o primeiro a questionar uma resposta superficial de um treinador que em determinado jogo afirma não ter conseguido manter a posse de bola mesmo que apresente como transição ofensiva predominante uma retirada vertical do setor de recuperação com passes longos que inviabilizam a posterior circulação?

Ou então, quem irá instigar os treinadores que há tempos os meias dos grandes clubes europeus têm a ocupação do espaço como referência para marcação e não somente a bola e o adversário mais próximo (como ainda fazem muitas das nossas equipes)?

Pois é, enquanto boa parcela da mídia contribuir para a estagnação do futebol brasileiro, questões como as más leituras de jogo com ações coletivas distintas para o mesmo problema, limitações setoriais que impedem o cumprimento da lógica do jogo, substituições não condizentes com as necessidades do sistema-equipe, deficiências circunstanciais da unidade complexa (e não somatória de onze jogadores) que têm ocorrido frequentemente ou quaisquer outras questões mais abrangentes envolvendo o jogo não serão abordadas e os RPEs ficarão guardados para resolução nos treinamentos.

Resolução possível somente se os treinadores souberem quais são os RPEs. Você sabe quais são os seus?

E para a palavra “treinadores”, leia-se também todo e qualquer assistente envolvido na comissão técnica. Preparadores físicos costumam olhar somente se sua equipe está suportando fisicamente o jogo, treinadores de goleiros, se houve falha individual do seu jogador no(s) gol(s) sofrido(s) e o auxiliar, muitas vezes, se isenta de culpa (mesmo que internamente), pois não é o treinador principal.

Saibam que a culpa também é de vocês! A expressão (e a ação) “treinador adjunto” é a ideal para modificar a atrasada configuração das comissões técnicas brasileiras.

Independentemente da evolução da mídia, que poderia ampliar a visão dos milhões de brasileiros apaixonados por futebol que clamam por um bom espetáculo, os treinadores que conseguirem gerenciar os RPEs tenderão a se aproximar das vitórias.

E, se no caso das derrotas a culpa é exclusivamente do treinador e de sua comissão, no caso das vitórias o mérito deve ser, também exclusivamente, dos jogadores.

Coisas da dura profissão de treinador de futebol!

Obs: Por enquanto, os RPEs têm passado despercebidos inclusive para os dirigentes. Outro vértice da evolução do nosso futebol e tema para uma outra coluna.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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A violência nos estádios e o projeto de lei 3462/12

Tramita na Câmara o projeto de lei 3462/12, do deputado André Moura (PSC-SE), que obriga as torcidas organizadas a realizarem o recadastramento de seus integrantes duas vezes por ano (janeiro e agosto), sob pena de não poderem utilizar camisas, faixas, instrumentos musicais e outros adereços em dias de eventos esportivos e nas imediações dos estádios. A referida proposta altera o Estatuto do Torcedor (lei 10.671/2003) que exige o cadastramento dos integrantes.

A proposta traz outras mudanças como criar área específica reservada para portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida, equivalente a 0,5% da capacidade total do estádio ou ginásio esportivo; disponibilização de ambulância e técnico de enfermagem para eventos com menos de 10 mil expectadores; manutenção de central técnica com monitoramento por câmaras do público presente em todos os estádios e a abertura de portões para acesso do público por no mínimo duas horas antes do evento.

Observa-se que se buscam medidas já superadas em outros países. Destarte, no final da década de 80, após o Relatório Taylor, a Inglaterra constatou que o cadastramento de torcedores não constituiria medida eficaz contra a violência nos estádios de futebol.

No que tange à área para deficientes, ambulâncias e monitoramento por câmeras para estádios com qualquer capacidade, há de se analisar o risco destas medidas inflacionarem os eventos esportivos e inviabilizarem a existência de clubes menores.

Ademais, há de se aplicar o princípio da proporcionalidade, ou seja, trata-se de exigência exagerada, tendo-se em vista os pouquíssimos casos de violência em estádios com menos de 10 mil torcedores. Ressalte-se que, quanto menor o número de espectadores, menor a violência e mais fácil controlá-la.

Por fim, com relação aos deficientes, há uma lei federal conhecida como Lei de Acessibilidade que regulamenta o acesso aos locais de eventos públicos.

Destarte, conforme já aferido pelo Relatório Taylor em 1989, o caminho a ser seguido é de se dividir responsabilidades, humanizar e respeitar o torcedor.

Neste sentido, medidas como melhora da infraestrutura dos estádios, criação de unidades policiais especializadas, investimentos em programas sociais, educacionais e pedagógicos surtiriam mais efeito e poderiam ceifar definitivamente a violência dos nossos estádios de futebol.

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Preocupação pós-Copa

Muito já se foi discutido sobre os possíveis elefantes brancos, mas acredito que não sejam somente os estádios novos a serem esquecidos após o evento.

Pelo contrário, acredito que estes terão mais visibilidade, mais interesse de empresas. Já alguns estádios, como o Pacaembu, podem sofrer com a falta de jogos, já que os grandes times já terão as suas casas.

Especificamente sobre o Pacaembu, penso o que será dele após a Copa. O Corinthians terá sua casa em Itaquera, assim como Palmeiras, Portuguesa e São Paulo já têm. Santos, Bragantino jogam em suas cidades. Em termos de partidas de Série A, o que podemos considerar? Nada.

Shows costumam ser a alternativa mais comum para estádios que precisam de receita para se sustentar. Mas, o Pacaembu está inserido em um bairro exclusivamente residencial, o que complicaria muito contar com esta fonte de receita. Muitos eventos já tiveram reclamações dos moradores, pelo excesso de barulho em certos horários e isso inclui grandes eventos como até a vinda do Papa que hoje são puro espetáculo musical com orações entremeadas.

Mas temos o Museu do Futebol! Pena que ele é independente do estádio. Ele pertence à Fundação Roberto Marinho, tem seus gastos independentes, inclusive geradores, energia, etc. É, então, uma opção a menos para se aproveitar no estádio. Contudo, qual é a solução?

Talvez a reforma do estádio, com a colocação de uma cobertura (como já foi estudado para um possível Pacaembu na Copa 2014), abra algumas possibilidades, já que ajudaria na proteção sonora para a vizinhança.

Talvez até mudanças paisagísticas pudessem suavizar o entorno dos ruídos de eventos. Embora a região já seja arborizada, novas vegetações e estudos podem trazer certa melhora no conforto.

Série B? É possível, assim como uso público do estádio, eventos de futebol com ações solidárias com maior frequência. Ainda é possível tentar trazer eventos como os jogos de Zinedine Zidane, com vários atletas jogando por diversão com verba revertida a um instituto de caridade.


Acima, proposta de cobertura para o Pacaembu para a Copa antes da escolha de Itaquera

Assim como qualquer outro estádio, é preciso desenvolver um estudo do que é necessário para a região, para o futebol brasileiro. O que falta? Centro de treinamento, treinamento de base? Escola de futebol? Como um campo, com tanta história, pode ser usado e por quem? Pelo governo?

Pode ser repassado a algum clube para descobrir novos talentos?
Precisamos do uso frequente, o que pode complementar? Uso acadêmico? Temos uma faculdade conhecida e de alto padrão nas suas proximidades com muitas exposições sendo realizadas sempre.

Podemos estender essas exposições? Trabalhar em parceria? Permitir que a universidade utilizasse o estádio para treinos dos alunos?

É complexo, é demorado, mas tem de ser feito.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br

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Otimismo, pessimismo e realidade

Conceitualmente, o significado de cada uma das palavras que formam o título da coluna desta semana está enraizado na percepção das pessoas sobre o seu modo de vida e o ambiente ao qual esta está envolvida, somado principalmente ao histórico de cada indivíduo, para assuntos de diversas naturezas.

Para a nossa “realidade”, do “país do futebol”, que receberá a Copa do Mundo daqui dois anos, temos dois caminhos muito claros: achar que tudo vai dar errado ou, obviamente, acreditar que muita coisa dará certo. Para os dois cenários, podemos contribuir decisivamente, bastando assumir uma das posições.

E é aí que leio e ouço constantemente comentários sobre uma suposta tragédia anunciada de o Brasil realizar megaeventos. E isso acontece com frequência no meio do esporte, de pessoas que minimamente deveriam se informar para simplesmente tentar defender o segmento de trabalho que escolheram… trabalhar.

É fácil imaginar que se continuarmos repetindo um modelo arcaico de gestão do esporte e de discurso antiquado a respeito do fenômeno esportivo, o tsunami Copa do Mundo passará e deixará tudo como estava antes.

O pessimismo exagerado de algumas pessoas apenas tem reflexo em um antigo conceito de resistência à mudança, bastante comum em quem tem dificuldade em procurar algo novo.

Quando falamos de otimismo, devemos falar de realizações. De enfrentar o novo com novas ideias. De transformar velhos conceitos em conceitos inovadores, que possam gerar mais valias positivas para o segmento como um todo.

Acreditar, por exemplo, que as novas arenas podem ser o pilar para uma mudança radical em tudo aquilo que conhecemos hoje a respeito do marketing esportivo: partindo desde um tratamento diferenciado ao cliente (torcedor) até um melhor relacionamento com patrocinadores, passando por criar um cenário muito mais atraente para os veículos de mídia.

Enfim, o relato é uma reflexão para que passemos a olhar mais para o que há de bom por vir, sendo necessário que a gente trabalhe insistentemente para que perspectivas transformadoras contribuam para o desenvolvimento do futebol no país do futebol.

 

Obs.: o colunista Geraldo Campestrini fará uma breve pausa de três semanas. Nas próximas colunas, teremos a participação do Especialista em Gestão e Marketing Esportivo e Bacharel em Ciência do Esporte, Victor Lima, que apresentará novos temas e discussões para o ambiente da Universidade do Futebol.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br