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O inglês Chelsea FC, do suíço/italiano treinador Roberto Di Matteo

O ano está chegando ao fim (como sempre, tudo passa rápido demais), e na reta final do Campeonato Brasileiro de Futebol 2012, começa a ganhar mais espaço na mídia, de maneira geral, o Mundial de Clubes Fifa que acontece em dezembro.

Apesar de, no ano de 2011, dedicar parte da minha atenção a observação e análise das equipes do Real Madrid e do FC Barcelona, já em 2012, desde as semifinais da Champions League 11/12, direcionei o olhar também para o time inglês do Chelsea FC (e como já disse aqui mesmo outrora, sugiro – com relação ao futebol europeu – que além de Chelsea FC, FC Barcelona e Real Madrid, não percamos a chance de acompanhar a Juventus, da Itália).

Como o Chelsea FC é a equipe europeia no Mundial de Clubes, resolvi nesta semana escrever um pouco sobre ela (ainda que, por enquanto, superficialmente), especialmente sobre aspectos ligados à ocupação de espaço no campo de jogo.

Partindo da observação de jogos disputados pela equipe inglesa na Uefa Champions League 12/13, e dos relatórios disponibilizados pela própria entidade que rege o futebol no Velho Continente, sobre fluxo de passes, distâncias percorridas e posicionamentos médios efetivos dos jogadores nas partidas, destacarei dois apontamentos importantes:
1)A equipe inglesa tem adotado comportamentos (operacionais, estruturais, etc.) de jogo diferentes daqueles observados no Campeonato Inglês da temporada passada e também nas fases finais da Champions League 11/12, quando foi campeã.

2)Diferentemente do 1-4-3-3 que, por algum tempo, caracterizou o Chelsea FC, agora o 1-4-2-3-1 do treinador italiano (cidadão italiano nascido na Suíça) Roberto Di Matteo parece possibilitar aos jogadores e à equipe maior dinamismo e mobilidade ofensiva.

Com relação ao primeiro apontamento, talvez o aspecto mais importante se refira ao fato de que, antes, a equipe inglesa, com ou sem bola, pouco tentava o protagonismo do jogo.

Jogava mais em reação do que em ação (exceto claro, nas transições ofensivas) – mesmo contra adversários mais fracos.

Tanto para ocupar o espaço, quanto para definir regras de ação, era a constante “espera ativa” (diferente da “espera passiva”), a marca mais registrada da equipe.

Isso não significa, e nunca significou, que o time inglês não conseguia ter controle de alguns dos seus jogos, mas o fazia, muitas e muitas vezes, em resposta direta à maneira de jogar dos seus adversários.

Talvez esse aspecto do comportamento de jogo do Chelsea FC se explique pelo fato de o atual treinador (o italiano Roberto Di Matteo) ter assumido a equipe bem no meio da Champions League 11/12, em uma situação complicada, em que as chances de que ela ficasse fora da competição eram demasiadamente grandes.

Então, tendo que “trocar o pneu com o ônibus andando”, pode o italiano ter optado pelo que parecia ser mais eficiente para o momento da equipe – e agora com um título importante conquistado e tempo para trabalhar, sem perder a essência do que fez vencedor o Chelsea FC, poder modelar o time inglês com novos conteúdos.

Com relação ao segundo apontamento, antes de qualquer coisa, o mais importante é salientar que, ainda que a estruturação matriz do espaço se pareça com a de um 1-4-3-3, as dinâmicas de jogo e as interações sistêmicas entre os jogadores evidenciam uma estruturação do espaço típica do 1-4-2-3-1.

Vejamos a figura:

No 1-4-2-3-1, a movimentação e ocupação do espaço dos três jogadores da “linha de 3” (linha do meio campo) é altamente dependente de cada um deles entre si (setas de cor azul-escuro). E ainda que as ações dos jogadores dessa linha também se relacionem com as ações dos jogadores da “linha de 2” e do atacante centralizado (e também com a linha de defesa e goleiro), a força de relação e interdependência entre esses três jogadores é maior do que a deles, em conjunto, com a da “linha de 2” ou com o atacante a frente (setas cinzas).

No caso específico do Chelsea FC, nos jogos observados, dos três jogadores da “linha de 3”, aquele que joga centralizado tem mostrado maior interação sistêmica com o atacante a sua frente (seta amarela), do que a interação desse mesmo atacante com os jogadores da “linha de 3” que jogam em suas extremidades (setas cinzas).

Na época do 1-4-3-3, as interações sistêmicas eram mais fortes entre os jogadores que formavam o triângulo do meio-campo (entre si), e mais à frente a interação entre os jogadores da própria linha de ataque (como mostra a figura que segue).

Claro que essa mudança, aparentemente pequena, não explica totalmente a melhora significativa das dinâmicas ofensivas do time inglês.

De qualquer forma, o 1-4-2-3-1 tem permitido especialmente três coisas, que antes no 1-4-3-3 o Chelsea tinha um pouco de dificuldade:

1)Como os jogadores da “linha de 3” têm como uma forte referência a manutenção da própria linha, os jogadores que jogam nas extremidades dela não se movimentam a partir das ações dos jogadores laterais das equipes adversárias (apesar de gerenciá-los zonalmente). Isso dá vantagens posicionais nas transições ofensivas, na media que circunstancialmente possibilita a presença de um ou dois jogadores nas costas dos adversários de meio-campo (formando quase que um 1-4-4-1-1 para defender). De certa forma, isso tem possibilitado à equipe muito mais passes médios e curtos, do que passes longos nos jogos.

2)Nas transições defensivas, além de um balanço defensivo espontaneamente mais bem desenhado (em função do 1-4-2-3-1), consegue ter mais jogadores na faixa central do campo de jogo para fazer o ataque a bola e tentar recuperá-la ainda no setor de ofensivo (muito diferente das antigas longas recomposições para trás da linha da bola como regra de ação principal), antes de ter efetivamente que recuar os jogadores ao campo de defesa. Recuperando a bola mais ao ataque, consegue trabalhar um pouco mais em equilíbrio ofensivo.

3)Com a “linha de 3” no meio-campo, os jogadores da extremidade da linha podem ser atacantes, meias ou até volantes, sem que a essência da estruturação do espaço se altere. Com isso, diferentes dinâmicas auto-organizativas surgem para confundir os adversários defensivamente.

Bom, por ora, é isso.

Mais à frente, em oura oportunidade e em novos textos, explorarei com mais detalhes e profundidade a equipe inglesa.

Então, obrigado, e até a próxima…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br