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Despachando Kevin

– Próximo! Nome e idade.

– Beltrán, Kevin. 14.

O agente celestial olha por sobre os óculos. O caso do menino boliviano já era notícia no Céu.

– Meu filho… Vou te confessar, bem baixinho: Tem horas aqui em cima que nem nós entendemos o que o Chefe pretende com isso. Eu adoraria dizer algo para você que te confortasse, explicasse melhor… Mas não sei. Só posso te falar que, com tanta gente lá embaixo que eu não vejo a hora de despachar, fico estarrecido quando vem alguém como você pro meu departamento…

– Não tem aqueles que nem vão subir pro Céu?

– Tem, né. Mas alguns casos a gente gosta de ter uma conversinha aqui em cima. Só para despachá-los lá pro tacho do… Ops, dá justa causa por aqui falar o nome.

– Mas, então. O que eu fiz para estar aqui?

– Nada, filho. Nada. Mas nosso Chefe trabalha muitas vezes assim. É só ler O Livro. São várias histórias que ele conta e ensina. Pena que os homens não aprendem. Vamos ver agora.

– Eu precisava ter morrido?

– Claro que não. Pelo que vi do seu caso, nosso Chefe ficou desde 1960 protegendo gente nos estádios sul-americanos. Era para ter muitos outros por aqui. Mas só agora ele resolveu dar um toque nas pessoas. Para ver se as autoridades tomam jeito. Para ver se os organizadores conseguem evitar que arsenais entrem nos estádios. Para ver se os torcedores aprendem a fazer festa. A respeitar.

– Mas por que eu?

– Eu não sei. Só espero que as pessoas saibam que alguma coisa precisa ser feita. Ainda que muitos inocentes paguem por esse crime. Que não foi acidente. Não se brinca com fogo. Gente que vai pagar barato – ou deixar de pagar caro por um ingresso – por algo que não se discute. Nem com advogado.

– Foi o menino mesmo que fez isso?

– Não sei. Aqui realmente adotamos a presunção de inocência. Embora, lá no Brasil, estão criando também a presunção da culpa. É muito difícil a gente entender o mundo lá debaixo. Mas deve ter sido. Não acho que alguém diga que é culpado sem ter culpa.

– O que vocês podem fazer para a minha família?

– Confortá-los. Abençoá-los. Independente da fé. Ou mesmo que a tenham perdido com o amor que veio para cá. Só espero que lá no mundo o clube cujo torcedor foi irresponsável (independente da idade) pague alguma coisa à sua família. A renda do jogo de volta deveria ser inteira para os seus pais. É o preço mínimo por algo que não tem preço. Mesmo que não tenha público no estádio, é necessário que se tenha vontade pública de fazer algo para a sua família.

– Não quero que ninguém sofra como os meus pais. Não quero vingança. Só justiça. Ou que outros não morram como eu. Por nada. Por mais que o San José fosse tudo para mim, não era para isso que vivi. Não é por isso que morri.

– Filho, há muitos anos trabalho aqui. Quase todo mundo que chega à minha mesa fala a mesma coisa. Não era a hora, não estava preparado, tinha ainda tanta coisa a fazer… Entendo cada caso. Mas você, meu filho, devo confessar. Ainda vou entender os desígnios e a vontade do Chefe.

– Mas você não disse que é uma lição para os homens?

– Eu acredito Nele. Mas não nos filhos Dele. Vai passar toda essa comoção. As autoridades vão falar grosso. Alguns vão pagar contas que não são deles. Adversários vão querer sangue e os pontos. Inimigos vão querer tudo e de tudo como justiceiros sem piedade. Mas quem mais queria o que realmente importa não terá o calor do seu abraço, filho.

– Eu sei.

– Pena que poucos parecem saber disso, filho. Por eles devemos também orar. É o que nos resta.

– É… [longo silêncio]. Então, meus documentos estão aqui, senhor.

– Pode passar, filho. O paraíso é aqui. Não precisa de papelada. Nem provas.

 

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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Violência

A morte do torcedor boliviano Kevin Espada no jogo entre San José e Corinthians na semana passada repercutiu imensamente nos meios de comunicação a partir de um debate sobre punições, acusados, culpados, violência e assim por diante.

O caso, na realidade, está um pouco mais na origem, que é a cultura da violência do futebol sulamericano. Não que isso seja uma particularidade nossa – até porque assistimos em diversas partes do mundo casos similares, com alguma frequência, de grandes tumultos entre torcedores de diferentes agremiações.

Por aqui, permanece algo evidente pelo modelo arcaico de gestão, tanto dos ambientes onde são disputados os jogos, quando se cria um clima que permeia o limiar da guerra, quanto pela benevolência dos dirigentes com as torcidas organizadas, que só é quebrada quando ocorrem tragédias como esta de Oruro.

A grande diferença, talvez, seja o clima de guerra e violência que se instala a cada jogo. Isso é caracterizado pelo armamento pesado dos policiais até a estrutura dos estádios, onde muitos torcedores ficam quase que enjaulados em pequenos espaços.

Enfim, o relato não serve para justificar a atitude dos torcedores corintianos, tampouco isentá-los de culpa. Qualquer punição, se bem aplicada, servirá como medida educativa para que esta e outras torcidas se respeitem mais. E que as nossas organizações do futebol trabalhem, acima de tudo, medidas preventivas mais eficazes…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O papel do espectador no esporte

Sou apaixonado por ligas esportivas dos Estados Unidos. Mais do que isso, sou apaixonado por como os norte-americanos tratam o esporte. No entanto, há um aspecto em que eu considero frustrante a experiência que eles promovem: o público.

As ligas dos Estados Unidos são o exemplo mais burilado de como o espectador de esporte deve ser abordado. Quem frequenta arenas do país, independentemente da modalidade, é visto como um consumidor. Há uma combinação extremamente competente de conforto, serviços e produtos. Ah, e de emoção no jogo, o que é fundamental para fomentar a relação do público com o restante.

Contudo, o modelo norte-americano freia o que adiciona muito à experiência de outros pontos do planeta: a emoção da plateia. Não que os espectadores sejam menos fanáticos ou menos dedicados a seus times nos Estados Unidos, mas a relação, ao menos durante o jogo, é menos emocional.

E para quem nasceu em um país tão passional quanto o Brasil, a emoção do público é um elemento fundamental para qualquer esporte. É um elemento indissociável do modelo que sempre nos foi impingido como ideal.

O problema é que todo comportamento extremamente passional oferece riscos. A ausência de comedimento está sempre a um passo de extrapolar qualquer limite.

Pense em quantas vezes você teve uma atitude extrema em um momento de emoção aflorada. Pense em quantas dessas atitudes extremas, como choro, gritos ou brigas com o vizinho de janela, foram relacionadas ao esporte.

Quando esse comportamento é individual, o risco é bem menor. Em grupo, sobretudo quando o que une é justamente o sentimento pelo jogo, a tendência é que as reações sejam exacerbadas.

Porque o esporte proporciona união entre pessoas que têm paixões similares. Isso, é claro, gera sensação de pertencimento. E em nome do pertencimento surgem demonstrações de compromisso, como rituais, uniformes e gírias coletivas.

Controlar grupos é sempre uma tarefa complicada. Durante anos, a China coibiu qualquer tipo de manifestação popular – o esporte, inclusive – por medo de isso servir como mote para agrupamentos contrários ao poder. Sobre isso, veja um filme chamado "A onda" ("Die Welle", no original), dirigido por Dennis Gansel.

O longa-metragem alemão relata uma experiência vivida em uma escola. Um professor faz um experimento com alunos sobre manipulação de massas e surgimento de ditaduras, e o plano começa com a formação de um grupo uniforme.

O esporte, notadamente o futebol, vive um dilema muito parecido. Fomentar a existência de grupos associados a um time acrescenta emoção e devoção ao jogo, mas também facilita manipulação e atos extremos.

A manipulação de massas, evidentemente, é terra prolífica para todo tipo de crime organizado. É por isso que precisamos ter cuidado extremo com qualquer tipo de generalização nessa seara.

Torcidas organizadas, escolas de samba e outros agrupamentos populares são tradicionalmente associados ao crime. Muitas dessas instituições são realmente loteadas entre grupos de bandidos. E nem assim são formadas apenas por bandidos.

Conheço pessoas ilibadas que fazem parte do cotidiano de escolas de samba e de torcidas organizadas. E que convivem com bandidos, mas não são influenciadas por isso. O que os aproxima é apenas o amor pela instituição.

Todo esse preâmbulo é necessário para discutir a participação do público em eventos esportivos. Sem generalizar ou usar o rumo fácil de padronizar comportamentos de pessoas tão diferentes.

Em primeiro lugar: existe uma relação promíscua entre torcidas organizadas e times de futebol. Isso é claro. Entretanto, se o comportamento passional do público é tão importante para o espetáculo e se essa festa é um elemento importante para a composição do cenário, não cabe à instituição zelar por isso? Se não, por que é comum em outras modalidades a figura do animador de plateia?

O que acontece é que os times, em busca de apoio e dedicação dos torcedores, oferecem benesses às organizadas. Em troca, abrem espaço para a participação desses grupos no cotidiano da instituição. No fim, o que se tem é uma extensa cadeia de troca de favores e apoio político.

O esporte não pode prescindir de torcidas passionais. Por outro lado, é fundamental que o torcedor seja tratado como um consumidor submetido à lógica dos Estados Unidos: conforto, serviço e produto.

Esse é o dilema que o esporte internacional precisa resolver. Fora do Brasil, é cada vez mais clara a escolha do segundo caminho. Com um tíquete médio mais alto, espectadores têm uma experiência bem diferente na relação com o jogo. Isso gera o que muitos chamam de "torcida de teatro".

Um modelo híbrido e mais competente é visto na Alemanha, país em que há setores específicos nos estádios para torcedores organizados ou extremistas. Atualmente, a Bundelisga tem a melhor média de público entre as grandes ligas do planeta.

Parte do tratamento adequado é garantir a segurança do espectador. E garantir a segurança não é encher o estádio de agentes repressores ou despreparados. É fundamental criar procedimentos para controle de público e gestão de multidões.

Regulamentar a relação com as torcidas e estabelecer padrões de conforto e segurança são preceitos fundamentais na construção de uma nova experiência em estádios de futebol. O Brasil terá 14 novas arenas nos próximos anos, mas o concreto não será suficiente para impor essa mudança.

Na última semana, em Oruro, o adolescente Kevin Douglas Beltrán Espada morreu no jogo entre San Jose e Corinthians, válido pela Copa Bridgestone Libertadores. Ele estava na torcida do time boliviano, mas foi atingido no olho direito por um sinalizador.

A tragédia podia servir como mote para uma discussão estrutural e densa sobre a interação do futebol sul-americano com quem o consome. O que tem acontecido, porém, é um misto de clubismo e sensacionalismo.

De uma forma geral, a imprensa brasileira parece mais interessada em apontar culpados e determinar punições. Pouco se fala em mudar comportamentos e procedimentos.

Até o momento, ninguém tem convicção de quem foi o autor do disparo. Ainda que um garoto corintiano de 17 anos tenha confessado, faltam provas para determinar se a versão dele procede.

Apurar quem fez o disparo e aplicar punições, nesse caso, são ações paliativas. Elas podem ajudar a amenizar a tristeza de quem chora pelo garoto, mas não vão impedir a repetição de incidentes.

Entender isso e colocar as coisas em perspectiva são passos fundamentais para qualquer cobertura eficiente do que aconteceu em Oruro. Apurar a morte de Kevin é vital, mas é necessário enten
der o problema para evitar que outras tragédias assim aconteçam.

O futebol sul-americano precisa discutir urgentemente uma série de aspectos de sua estrutura. A relação com o público talvez seja o maior deles.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Renunciar

Renunciar é o ato de abrir mão de algo ou de alguém. Renegar, rejeitar, recusar, desistir.

A mais recente e célebre renúncia é a do Papa Bento XVI, por inesperada que foi. Quando uma decisão como esta ocorre repentinamente, as razões pelas quais se chegou a ela costumam causar curiosidade e perplexidade.

Os motivos podem ser de ordem pessoal, íntima, ou provocados, objetivamente, por determinadas situações em que a alma inquieta ou pressionada precisa decidir-se por qual caminho prosseguir.

Bento XVI – ou Joseph Ratzinger? – deve ter iniciado o processo interno de decisão há alguns meses. Ao mesmo tempo, já imaginou as consequências que isso provocaria na Igreja Católica.

E, de tudo o que li e do pouco que se sabe até agora, antes que se escolha o novo Papa e a calmaria volte à Santa Sé, achei muito pertinente a abordagem que afirma que Bento XVI estaria renunciando para salvar a Igreja.

Sim, salvar a Igreja. Cortando na própria carne – renunciando – o Papa daria uma prova contundente de que algo não vai como o planejado por ele, bem como serviria de reflexão e convocação para que muitos de seus pares, sob suspeita de envolvimento em escândalos de desvio de dinheiro, pedofilia e intrigas de poder também renunciassem.

Com isso, o caminho para uma verdadeira expiação dos pecados da própria Igreja estaria pavimentado e ele, o Papa, seria o bode a expiá-los.

Não sem, antes, conduzir a transição do seu papado, nos bastidores do Vaticano, segundo sua visão de como deve ser administrado quando de sua saída.

As instituições que não estiverem preocupadas em evoluir, constantemente, podem se ver soterradas pela hierarquia e conjuntos de princípios, regras e procedimentos burocráticos que apenas favorecerão àquelas pessoas que almejam o poder. E que, no mais das vezes, quando ali chegam tem com propósito permanecer.

O conservadorismo extremo da Igreja serviu para acobertar séculos de desmandos e escândalos, sob um pretenso purismo de intenções, não necessariamente de ações. Assim, quando os rejeitos vêm à tona, vem com a força do peso daquilo que havia submergido.

O futebol brasileiro bem que carece de algumas renúncias. Mas elas não ocorrem facilmente, embora existam grandes e graves indicadores para que alguns mandatários as fizessem.

Tem gente que rouba medalha, faz "gato" de energia elétrica, aumenta salários indiscriminadamente. Outros desviam dinheiro privado, público, superfaturam serviços contratados dos seus amigos.

Gente que vai ao estádio com o propósito de delinquir, de extravasar a violência latente. Alguns que promovem negociatas envolvidas em transferências de jogadores.

Se o povo brasileiro renunciar a esse futebol carregado de vícios, a história tem chance de mudar. Senão, muita coisa ainda vai pro fundo, pra ficar escondida e não incomodar.

Até que um dia volta, e volta com força pra escancarar e cobrar a conta do passado.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A formação dos goleiros e os momentos do jogo

Com a evolução do jogo de futebol e sua compreensão a partir das teorias da complexidade, admite-se que a contribuição de cada jogador (unidade funcional) para o bom desempenho da equipe (sistema complexo) seja dada pela totalidade (ofensiva, defensiva e transições) que compõe o jogo.

Desta forma, tem-se como pré-requisito a participação efetiva de todos em cada um dos momentos do jogo, respeitando, obviamente, as particularidades de cada modelo, o conceito de que o todo deve ser maior que a soma de suas partes e as regras de ação referentes a cada uma das funções no campo de jogo.

Como no futebol brasileiro, para muitos, a compreensão/intervenção sistêmica está longe de ser atingida, as implicações no jogo resultam num desempenho coletivo aquém do apresentado pelas equipes-referência do futebol mundial.

Se considerarmos as equipes que buscam o controle do jogo com a troca de passes enquanto progridem o mais rápido possível ao gol adversário e que as mudanças do futebol profissional dependem do que é feito hoje nas categorias de base, precisaremos, com urgência, readequar os treinamentos dos goleiros nos centros de formação espalhados pelo país.

Pelo que se tem observado na maioria dos clubes, a preocupação em relação aos goleiros se dá, exacerbadamente (muitas vezes exclusivamente), no momento defensivo. Porém, a mencionada evolução do futebol pede goleiros completos, inteligentes e participativos nos demais momentos do jogo.

Para saber como estão as preocupações da comissão técnica quanto à formação e ao treinamento dos goleiros, abaixo, algumas perguntas:

Em qual local o seu goleiro fica quando sua equipe está em posse no campo de ataque?

O seu goleiro usa bem os pés?

Das reposições que seu goleiro faz no jogo, quantas a equipe se mantém com a posse de bola?

Quantas reposições são feitas no campo de ataque?

Quantas reposições são feitas no campo de defesa?

Quanto tempo o goleiro demora para fazer a reposição?

Quantas coberturas defensivas o goleiro realiza por jogo?

O goleiro escolhe a melhor opção para fazer a reposição?

Quando a equipe está no campo de defesa sem opção de passe ofensivo, o goleiro abre linha de passe adequadamente para ser uma opção na circulação da posse de bola?

Se você é treinador e não está atento a nenhuma destas questões, provavelmente sua equipe irá se desfazer da posse de bola quando a mesma estiver com o seu goleiro ou, no máximo, irá brigar pela "segunda bola".

Se você é treinador de goleiros e para você estas questões são pouco importantes, provavelmente você faz parte do grupo que se preocupa somente com o momento defensivo do jogo.

Se você é preparador físico ou auxiliar técnico, é evidente que para cada erro a equipe terá que correr mais até recuperar a posse de bola. Tal fato precisa ser registrado.

Se não modificarmos a maneira que interpretamos o jogo, continuaremos formando goleiros com gestual técnico perfeito, potentes, com boa velocidade de reação e com boa tomada de decisão para ações defensivas. No entanto, teremos que estar cientes que ignoraremos a inteireza do jogo.

Com uma visão sistêmica, entenderemos as funções do goleiro sob o viés coletivo, onde o sucesso de sua ação de jogo individual dependerá, por exemplo, da rápida mudança de atitude dos laterais para facilitar a reposição, do bom posicionamento do zagueiro para facilitar circulação ou da pressão de espaço e tempo dos meias e atacantes na região em que se encontra a bola para facilitar a cobertura defensiva no chutão do adversário.

Como você treina o seu goleiro?

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Conmebol inaugura era da disciplina

Durante uma partida de futebol, catimba, jogadas violentas, confusões entre torcidas e problemas de acessos aos vestiários e estádios são ingredientes comuns, especialmente no futebol sul-americano.

Entretanto, nas competições promovidas pela Conmebol até o ano passado não havia um Tribunal ou Código Disciplinar, diferentemente do que ocorre no futebol brasileiro que possui Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e um Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD).

Assim, com o objetivo de trazer maior disciplina às competições sul-americanas, este ano foi criado o Código de Disciplina da Conmebol, em casos de distúrbios nos jogos ou problemas extracampo.

Elaborado ao longo de 2012, o documento é o embasamento legislativo do Tribunal de Disciplina e da Câmara de Apelações, órgãos judiciais recém-criados que entraram em janeiro. Estes tribunais são formados por um advogado de cada um dos dez países membros da Conmebol, distribuídos em cinco para cada câmara, e responsáveis por disciplinar as competições.

Na Conmebol, não há a figura da procuradoria, responsável pelas denúncias. Os clubes que se sentirem lesados poderão entrar com um comunicado formal, através da federação de seu país, para instaurar o procedimento.

Presidido pelo brasileiro Caio César Rocha, o Tribunal de Disciplina compõe-se, ainda, o uruguaio Adrián Leiza (vice-presidente), o chileno Carlos Tapia Aravena, o colombiano Orlando Morales e o boliviano Alberto Lozada. A sua função é fazer o julgamento em primeira instância, analisar os lances violentos, as expulsões e os problemas extracampo dentro de um prazo de até 48 horas.

Os julgamentos ocorrem a portas fechadas e não precisam ser presenciais, e tudo se dá por escrito.

A Câmara de Apelações tem o equatoriano Guillermo Saltos como presidente e é composta ainda pelo peruano Miguel Morales Lavaud (vice-presidente), o argentino Alejandro Marón, o venezuelano Carlos Manuel Terán e o paraguaio Eduardo Gross Brown.

Trata-se de órgão de segunda instância que julgará apenas os casos mais complexos, como doping, corrupção ou casos de penas de maior gravidade, seja pela sanção imposta ou pela infração. Ele não tem tanta preocupação com a questão do tempo e, eventualmente, poderá conceder efeitos suspensivos.

Com a formação da Justiça Desportiva no âmbito da Conmebol, a expectativa é que o "fair play" e a disciplina tornem-se constantes nas competições sul-americanas.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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A história se repete

Há uma máxima entre muitos historiadores que dão conta que a história é cíclica, seguindo processos repetidos ao longo do tempo. Talvez, das poucas coisas que mudam drasticamente a história são as evoluções tecnológicas, cujo tema não é o foco deste texto.

A breve reflexão histórica tem a ver com o comportamento, tanto das grandes estrelas do futebol (ou do esporte) quanto das entidades esportivas em seu modo de gestão. Em ambos, assistimos constantemente casos fortuitos, de erros repetidos, que prejudicam suas respectivas imagens ou trajetória profissional.

Dos atletas, fatos como os de Jobson, Adriano e Bruno (para ficar apenas com atletas brasileiros do futebol) se reproduziram em espelho após Garrincha, Reinaldo e Paulo César Caju, sem a devida compreensão e aprendizagem sobre as consequências de uma vida desregrada na sociedade que afetam a evolução de suas carreiras e pós-carreira.

Seria isso evitável sob a ótica da sociedade ou a “organização futebol” ou a “organização esportiva” poderia adotar medidas profiláticas para que tais fatos não se sobressaiam ante a natureza real da sua prática?

No que se refere às entidades esportivas, será que elas estão devidamente preparadas para tratar com cuidado de questões de ordem pessoal dos atletas? E quais poderiam ser os reais benefícios de medidas que induzam um melhor comportamento de todos os agentes envolvidos neste meio?

A verdade é que os desvios comportamentais são inerentes da condição humana. Em organizações mais evoluídas, como a NBA, ocorrem periodicamente casos de desvios de conduta por parte dos atletas, possuindo, uma resposta e uma atitude mais clara e precisa da entidade para a manutenção de sua imagem corporativa.

O risco de atitudes como a que assistimos de Oscar Pistorius na semana passada, a ponto de manchar a sua idolatria nacional e mundial, além de arrastar todo um segmento que vinha se desenvolvendo em um sentido exponencial e positivo por conta dele para um grande ponto de interrogação pode ser minimizado por estratégias de gestão de crises pelas entidades que o cercam. E isso não é diferente na indústria do futebol.

 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

 

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Quem conta a história

Jacques Lacan, um dos maiores teóricos da comunicação, certa vez usou o seguinte exemplo para explicar a relevância do tema: "Uma cadeira está em uma sala, mas a percepção sobre isso só acontece a partir do momento em que alguém diz isso".

De uma forma extrema, é como se o elemento só existisse porque alguém o nota. Quem conta a história é tão importante quanto o fato.

Não são raros os exemplos de livros e filmes que se tornaram clássicos a despeito de terem tramas rasas. Muitas vezes, o que define a qualidade de uma história é como ela é contada.

Em um exemplo mais cotidiano, para facilitar o entendimento, é como uma piada. A brincadeira pode até ser sem graça, mas um bom intérprete dá a ela um ritmo e um formato interessantes. Nas mãos de um contador ruim, porém, até uma anedota muito divertida pode perder o élan.

Não vi ao vivo o jogo do São Paulo no último fim de semana. Horas depois, li relatos de portais e redes sociais sobre a vitória da equipe tricolor. Pincei expressões como "frango histórico" e "erro bizarro" para descrever a falha de Rogério Ceni no primeiro gol do Ituano.

A falha de Ceni foi expressiva, e isso é claro. No entanto, quando assisti ao lance, não notei nada de "histórico". O esporte, assim como a vida, é uma enorme sucessão de erros.

Temos uma tendência, sobretudo no Brasil, para o rótulo. O esporte mimetiza isso, e o herói de um fim de semana pode ser questionado na partida – ou até no lance – seguinte.

Em dezembro, quando foi eleito pela Fifa o melhor em campo na decisão do Mundial de clubes, Cássio foi alçado ao patamar de herói. Em 90 minutos, tornou-se um goleiro de talento acima da média e de futuro certo na seleção.

Acabou o ano, e Cássio perdeu o início da temporada 2013 por estar no departamento médico. Voltou à meta do Corinthians contra o São Caetano, e falhou feio no segundo jogo, contra o Palmeiras, no último fim de semana. O camisa 12 tentou cortar um cruzamento de Wesley, mas errou a bola e socou o ar. Atrás dele, Vinícius marcou de cabeça o segundo gol alviverde no empate por 2 a 2.

Os 90 minutos contra o Chelsea não são suficientes para julgar Cássio. Os 90 minutos contra o Palmeiras, tampouco. Análises açodadas podem pespegar em atletas algumas características extremamente injustas.

Pense em quantos jogadores de futebol foram "queimados" por um lance ou por um jogo ruim. Muitos deles mudaram de clube e reagiram. Outros sucumbiram ao julgamento popular.

Sempre que vejo julgamentos apressados, lembro de um exemplo extremo. Em 1994, um colégio foi fechado em São Paulo. Proprietários e uma professora foram acusados de abusar sexualmente de alunos de quatro anos. A mídia e o público julgaram prontamente, e a escola Base foi transformada em antro de tudo ruim.

A vida dos envolvidos no caso foi totalmente estraçalhada. E depois, a Justiça mostrou que todos eram inocentes. Mas quem vai restaurar o abalo causado pelo julgamento público a que eles foram submetidos anteriormente?

Na madrugada de quinta-feira, o sul-africano Oscar Pistorius foi preso. Ele é o principal suspeito de ter assassinado a namorada, Reeva Stenkamp, que trabalhava como modelo e levou quatro tiros na mansão do atleta.

O caso levou a fabricante de material esportivo Nike a interromper uma campanha que era protagonizada por Pistorius. Contudo, a empresa emitiu comunicado oficial para dizer que o contrato com o atleta não será rompido até que a Justiça conclua as investigações.

O mesmo tom cauteloso foi adotado pela BT, empresa de telecomunicações que também patrocina Pistorius. Em nota à imprensa, a companhia pediu calma antes de definir o que será da parceria com o atleta.

As posturas de Nike e BT são exemplos de como a comunicação deve se portar diante de um escândalo. Manter associação com o atleta pode até causar algum problema para as empresas se ele for condenado, mas deixá-lo agora seria fazer um julgamento extremamente precipitado.

É claro que o caso de Pistorius é extremo e que extrapola os limites do esporte. Mas se a cautela é um caminho evidente nessa situação, por que não usamos a mesma parcimônia em análises cotidianas sobre o esporte?

Se fôssemos mais comedidos, evitaríamos a criação de heróis inconsistentes. E isso vale para mídia, clubes, entidades e empresas.

Há um conto de Julio Cortázar no livro "Todos os fogos o fogo" em que os personagens alteram constantemente, às vezes em um mesmo parágrafo, o comando da narrativa. Cada um relata os fatos de um modo, e a sobreposição forma a história.

Na vida, infelizmente, são raros os momentos em que mais de uma pessoa conta uma versão sobre um fato. "A história é contada pelos vencedores", diz o aforismo.

Quem trabalha com comunicação precisa ter a exata dimensão do que isso representa. Singelezas no texto ou na postura podem mudar radicalmente o rumo de uma história.

Tive um professor que era radical ao projetar o futuro ideal para a comunicação. Ele não acreditava em imparcialidade, e por isso achava que um caminho viável era o caminho radicalmente oposto.

No esporte, por exemplo, o professor defendia a adoção de relatos tendenciosos e direcionados. Eles seriam cruzados com os dados dos leitores ou espectadores – um torcedor do Flamengo teria uma visão sobre o clássico do último domingo, mas o adepto do Botafogo veria uma versão radicalmente diferente.

Não sei se esse é o futuro para a comunicação, mas considero o caminho mais honesto. A publicação que defende abertamente um candidato é mais verdadeira na cobertura política, ainda que seja parcial.

Tenho amigos que só leem relatos de jogos nos sites oficiais dos times de seus corações. Assim, evitam ficar nervosos com análises falsamente imparciais.

O problema é encontrar o limite para esse conteúdo parcial. O site da Ponte Preta é um caso de quem extrapolou. No último domingo, a página replicou piada de redes sociais e disse que Neymar havia sido expulso no jogo contra a equipe de Campinas apenas para poder ver a participação da namorada em um programa de TV. Foi uma tentativa de fazer graça, ok, mas é o tipo de provocação desnecessária e desmedida.

Quem conta influencia a história. Não há como ser de outra forma. No esporte, que vive de heróis e vilões, é fundamental que os cronistas saibam conduzir dicotomias e resolver conflitos, mas que não busquem saídas definitivas. As certezas são tão volúveis quanto ameaçadoras.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Você não conhece Bo

Seria possível alguém ser tão bom em dois esportes simultaneamente? E ainda, em nível profissional de atuação? Como se, por exemplo, no Brasil, um atleta de vôlei jogar de centroavante ou zagueiro num clube da Série A do futebol?

Você deve se perguntar se isso já existiu alguma vez, em algum lugar do mundo. Eu também tive esta reação: duvidar, até com certo riso de ironia, se isso seria possível em um mundo de limitações ao talento, particularmente em tempos de competitividade acirrada.

Pois saiba que esta história existe e o personagem ainda vive para incontáveis horas de reflexão, deleite e perplexidade. Vincent "Bo" Jackson foi um garoto-prodígio dos EUA. Desde adolescente, era um fenômeno no atletismo do colégio na mesma proporção em que rebatia bolas no beisebol e corria centenas de jardas no futebol americano.

Sua trajetória está muito bem retratada no documentário da ESPN Films intitulado You don’t know Bo (Você não conhece Bo).

 

Dentre seus feitos, foi o único até hoje a figurar em All-Star Game de dois esportes diferentes nos EUA; ganhou o troféu Heisman como melhor jogador universitário do país e o recorde de 100 m em menor tempo no futebol americano.

Intercalava sua atuação entre temporada de beisebol e de futebol americano, mantendo o mesmo nível físico e técnico. Foi um dos primeiros garotos-propaganda da Nike, ao estrelar uma campanha famosíssima que brincava com o fato de que Bo sabia fazer tudo (Bo knows), além de estrelar videogames.

Sua carreira foi prejudicada e dirigida ao final após uma grave lesão no quadril, quando estava no auge e tudo indicava que iria quebrar muitos recordes. Talento puro, pois os treinadores e ele mesmo diziam que não precisava treinar, ou somente muito pouco, para absorver os fundamentos dos dois esportes.

Hoje, outro ícone do esporte mundial, Michael Jordan, completa 50 anos de idade. Todos os números e feitos de Jordan são superlativos e inesquecíveis.

Jordan, de fato, também desfrutava de um talento inato. Porém, ao contrário de Bo, alguns episódios de insucesso em sua infância e juventude forjaram sua obsessão pela dedicação, treinamento, persistência e convicção que errar era preciso.

Sim, errar era preciso, pois isso o fez buscar sempre a evolução. Seu irmão mais velho era também o mais talentoso em casa. Isso lhe impulsionava a treinar mais para não ficar atrás. Suas mais irmãs estudavam mais do que ele.

No colégio, foi cortado do time. Na faculdade, seu colega de quarto foi escolhido o jogador do ano – embora ele discordasse. Nem entrou na lista de prováveis promessas da universidade.

Em 14 temporadas na NBA fez a história se lembrar dele como o melhor de todos. Porque, em todo treino, levava todos do grupo ao limite, inspirando-lhes vontade de competir e avançar.

"Um dia você pode olhar e me ver jogando aos 50. Não riam. Nunca diga nunca. Porque limite, assim como medos, frequentemente são apenas ilusões", afirmou Jordan.

E como diz Jorge Valdano, um dos fatores mais importantes para o talento evoluir é que se lhe dê e se lhe tenha confiança. Seja para Bo ou para Jordan.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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O peso das derrotas

Caros leitores,

Trabalhar no futebol é conviver diariamente com a instabilidade profissional. Seja por questões políticas, administrativas ou técnicas, motivos (???) não faltam para que ocorram trocas constantes nas milhares de comissões técnicas espalhadas pelo país. Como sabemos, um motivo em particular potencializa tal instabilidade: as derrotas.

E é sobre elas que discorrerei esta semana.

Sentar, refletir e escrever quando os resultados são favoráveis é muito mais simples. As ideias surgem com fluidez, os argumentos não faltam e as vitórias (para muitos, somente elas) respaldam cada parágrafo que vai sendo produzido.

Se na última temporada a equipe em que trabalho foi derrotada somente por três vezes em vinte e oito jogos, no cenário atual, após quatro partidas, os três resultados negativos consecutivos (3×0; 3×4 e 3×2) já se equivalem aos reveses de 2012.

Tais resultados negativos causaram reações diversas em todos (imprensa, diretoria, atletas, comissão técnica, torcida). Da insegurança dos jogadores à revolta da imprensa que já questionou a permanência do treinador, o momento pede que a derrota seja bem gerida. Para uma boa gestão do fracasso temporário, analisar TODO o ambiente e tentar ser preciso nos procedimentos até o jogo seguinte é fundamental.

Durante a análise do ambiente, muitas reflexões vêm à mente sobre o que fazer diante das derrotas. Eis algumas delas:

Será momento de mudar a maneira que o trabalho é conduzido? Será momento de achar culpados e transferir as responsabilidades do resultado negativo? Será momento de rebater as críticas que temos recebido? O momento pede (tentativas de) substituições significativas no Modelo de Jogo? O momento pede mudanças de jogadores? O momento pede cobranças excessivas aos jogadores? O momento pede contratações?

Além destas, inúmeras outras perguntas certamente renderiam horas e horas de discussão. Como no futebol não há muito tempo para conversa, após um bom diálogo com o treinador, iniciamos os trabalhos da semana cientes de nossas funções na tentativa de revertermos o quadro atual.

É uma semana de pressão, que deve ser amenizada pela comissão para que os jogadores não transportem esta carga para o jogo de domingo. É uma semana de muito trabalho, nem mais, nem menos que nas semanas anteriores, “apenas” muito trabalho. Semana de um maior número de intervenções, de reforços positivos, de feedbacks.

Semana em que a crise não pode ser instalada, a cobrança deve incentivar a melhora e que a vontade de vencer potencializada no ambiente de treino não se confunda com desespero ou desorganização.

É também uma semana de ouvir os jogadores, escutar o que estão pensando, como estão se sentindo e como estão lidando com a adversidade. Ouvir sugestões de melhorias para o desenvolvimento do trabalho pode deixá-los confortáveis para desempenharem o seu melhor.

Você que trabalha com futebol profissional provavelmente já deve ter passado por situações, sentimentos e sensações semelhantes. Como você se comportou? Para você que almeja trabalhar, prepare-se, pois lidar com as derrotas, mais cedo ou mais tarde, será inevitável.

A partir do dia 17/02 todos saberão se os primeiros passos para a reabilitação foram dados. Se sim, estejam certos de que um grande peso (o das derrotas) terá saído das costas de todos. Se não, vamos erguer a cabeça e continuar buscando soluções cientes de que fizemos o melhor que poderíamos.

Encerro afirmando que o que escrevi referente à maneira de enfrentar/interpretar as derrotas advém de opiniões formadas por experiências profissionais e pessoais diversas. Leituras, relacionamentos, acertos, erros, práticas, vivências, estudos, formam a totalidade que é a minha existência, expressa, neste caso, na minha atuação profissional.

Que as minhas opiniões não sejam consideradas uma verdade absoluta e que as derrotas nos sirvam, no mínimo, de aprendizado.

Até a próxima semana!
 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br