Os jogos da Copa do Mundo FIFA de futebol no Brasil estão bastante atrativos.
Mesmo para confrontos que poderiam remeter a ideia de que seriam “partidas desinteressantes”, sempre há algo para se destacar sobre o jogo.
Aos meus olhos, claro, o grande número de gols também tem chamado a atenção.
Mas o que dizer da, no geral, boa ocupação dos espaços do campo por parte de jogadores e equipes?
O que dizer da evidente demonstração coletiva das equipes, expressando suas regras de ação para jogar, seus planos de jogo, seus modelos, suas identidades?
E as inúmeras representações da potencialização da aparente soma complexa de 11 jogadores que tem resultado taticamente em 12, 13, 14 ou sei lá, 15 (o todo realmente maior do que a soma das partes) – quando se olhássemos rapidamente talvez não tivessem potencial para chegar a 9 ou 10?
Essa riqueza/beleza dos jogos, ainda que não seja nada de novo, dá margem para inúmeros assuntos e debates. E vários deles prenderiam verdadeiramente nossa atenção.
Então, na sequência das colunas sobre a Copa não posso deixar de abordar temas como “as nacionalidades dos treinadores das seleções da Copa – e a influência disso no futebol apresentado pelas seleções”, “a queda da seleção da Espanha” – defendendo a ideia de que, não é que o futebol/estilo espanhol não funciona mais (funciona sim!), o fato é que a Espanha não trouxe seu estilo à tona para os jogos (onde debateremos o “efeito Guardiola”), ou ainda o “quanto os aspectos ambientais tem interferido em ocorrências técnico-táticas de jogo (nos gols?)”; os “treinos em caixa de areia (pode?)”, ou ainda “os erros táticos admissíveis e não admissíveis, que seleções em Copa do Mundo podem e não podem cometer”.
São muitas as ideias!
Hoje porém, vou tentar abordar brevemente um tema recorrente nos debates com os amigos no Café dos Notáveis nesse tempo de Copa: as Seleções da Holanda e do Chile.
Comecemos pela Seleção do Chile.
Antes de mais nada, devo destacar que o treinador do Chile (Jorge Sampaoli) é um dos três treinadores nascidos na Argentina, que comandam Seleções na Copa – e apesar de ser o mais “badalado” dos três, especialmente pelo atual momento (classificação antecipada e vitória do Chile sobre a Espanha) penso que dentre eles, José Pekerman (outro argentino), treinador da Seleção da Colômbia ainda é o melhor.
Jorge Sampaoli, que passou a chamar a atenção após seu excelente trabalho na equipe da Universidad de Chile teve também boa passagem pela equipe do Emelec do Equador.
Antes disso, foram mais dificuldades do que sucessos, muitas derrotas e tropeços – que de alguma forma contribuíram para um salto em sua carreira profissional.
Sampaoli na Seleção do Chile, deu sequência ao 1-4-3-3 de Bielsa (treinador anterior do selecionado chileno) no que se refere principalmente a ocupação dos espaços.
No que diz respeito às regras de ação dos jogadores, no gosto pelo protagonismo com bola, e no ritmo de jogo, deu sequência ao seu próprio 1-4-3-3 da Universidad de Chile (a mesma Universidad que goleou o Flamengo, no Rio de Janeiro, por 4 a zero na Copa Sul Americana 2011) – 1-4-3-3, que já naquela época, de maneira versátil, se transformava no 1-3-4-3 (com um volante, um meia e um falso atacante).
Com bola, a Seleção do Chile é envolvente. Tem gosto pelo jogo apoiado, com passes curtos e rápidos (e não por acaso é uma das equipes que mais passam a bola na Copa do Mundo do Brasil).
Isso não é um trabalho de agora. Vem desde Bielsa no seu comando.
Sem bola, a equipe chilena, ainda que possa não parecer (porque sofreu apenas um gol nas duas primeiras rodadas), é frágil (nas eliminatórias para a Copa, sofreu 25 gols em 16 jogos). Tem cometido erros primários para fechar a circulação de bola adversária, marcado mal as diagonais e permitido que os seus adversários finalizem muito contra sua meta defensiva.
Por isso, mesmo com o futebol que vem encantando, e mesmo com o “pressing” em bloco alto muito organizado, que especialmente no início das partidas tem “encurralado” os adversários, a seleção chilena poderá sofrer do mesmo problema que a Universidad de Chile, do treinador Sampaoli sofria quando não conseguia ter a posse da bola sob o seu controle.
Seria interessantíssimo para a Copa e para o futebol que o Chile fosse longe no Mundial do Brasil… Mas tenho lá minhas dúvidas…
Agora a Holanda.
A seleção holandesa, outra “sensação” da Copa FIFA 2014 tem sido uma equipe muito interessante para observação.
Além de ter bons jogadores que são protagonistas e decisivos em seus clubes, de ter o artilheiro das eliminatórias europeias (van Persie), tem no seu comando um dos mais experientes e mais respeitados treinadores holandeses: Louis van Gaal.
As equipes de Louis van Gaal historicamente são muito competitivas.
Também gostam de protagonizar o jogo, de brigar pela bola, de alternar o ritmo das jogadas… mas acima de tudo de serem estratégicas. E isso normalmente acaba trazendo vantagens, especialmente por permitir a elas maior adaptabilidade aos seus jogos e adversários.
Nas eliminatórias para a Copa do Mundo tiveram uma das melhores defesas. Não perderam nenhum jogo. Jogaram a grande maioria do tempo no 1-4-3-3 (poucas vezes no 1-4-4-2).
Precisou se reinventar na preparação para a Copa, e mesmo sem grande “minutagem” nos jogos para colocar à prova, apostou no 1-5-3-2 variando para o 1-3-4-1-2 (ou 1-3-4-3).
Nos dois primeiros jogos da Copa do Mundo Fifa 2014 utilizou por mais tempo em campo (apesar da desconfiança da imprensa e torcida holandesa) o 1-3-4-1-2.
Não tem conseguido repetir o mesmo futebol de controle das eliminatórias da Copa (na partida contra a Austrália, pela 2ª rodada da competição, perdeu as “rédeas” do jogo algumas vezes), mas tem sido avassaladora quando ataca.
Faz mais passes em progressão do que a equipe do Chile e chega na grande área ofensiva com mais facilidade – o que garante a Seleção da Holanda maior número de finalizações também.
Chile e Holanda são duas Seleções que valem a observação.
Claro, não se pode afirmar que uma delas, ou até mesmo que as duas cheguem longe na Copa. O fato é que com antecedência se classificaram para a 2ª fase da competição.
E independente do resultad
o do confronto entre elas, o certo é que cada uma, com sua proposta mostrou nas duas primeiras rodadas, muita qualidade técnica-organizacional.
Uma delas vai enfrentar o Brasil.
Se for o Chile, vale para a Seleção brasileira observar os jogos dos chilenos, das eliminatórias – e se quiser entender a fundo o que se passa na cabeça do treinador Jorge Sampaoli, resgatar jogos decisivos da Universidad de Chile quando ele era o comandante da equipe.
Se for a Holanda, estou certo de que vale concentração total naquilo que Louis van Gaal vem fazendo desde os últimos jogos de preparação para a Copa, além é claro, dos três jogos da primeira fase da competição.
Sobre o confronto entre Chile e Holanda, que ocorre um dia após a publicação desse texto (portanto escrevo sem saber sobre o jogo), alguns palpites:
a)Se o Chile jogar no 1-4-3-3, com um falso atacante de centro, imagino que o confronto apresente mais assimetrias espaciais para equilibrar o setor de meio campo das equipes, tanto se a Holanda jogar no 1-4-3-3, quanto se for no 1-3-4-1-2 (1-5-3-2 que se transforma em 1-3-4-3).
b)Se o Chile jogar no 1-3-4-3, haverá assimetrias espaciais para equilibrar o setor de meio campo por parte das duas equipes caso a Holanda jogue no 1-3-4-1-2. Caso a Holanda desenhe seu 1-4-3-3, é provável que mesmo com os ajustes assimétricos por parte do Chile para organizar o espaço de jogo, o selecionado holandês leve vantagem numérica, especialmente na faixa central do campo de jogo.
Então, se Jorge Sampaoli não preparar nenhuma surpresa, e se o modo de operação chileno for o mesmo apresentado nas partidas anteriores, sob o ponto de vista da referência primária de ocupação do espaço para dar orientação aos jogadores, parece ser “estratégia dominante” para a Holanda iniciar a partida no 1-4-3-3.
É claro, existem outras inúmeras referências que devem ser observadas para entender o confronto entre as duas Seleções – e as vantagens e desvantagens que cada uma delas pode ter.
Mas aí, que venham as surpresas! Que seja um grande jogo, e que vença o melhor!