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Casillas não caiu

Aos 18 anos, Iker virou titular do clube do coração.

Desde aquele ano, 1999, é o terceiro atleta que mais atuou pelo decacampeão europeu – os últimos três títulos com ele no elenco, e com atuação colossal na conquista de 2002.

Campeão do mundo pela Espanha em 2010. Bi europeu em 2008 e 2012.

Tudo de ótimo que se pode esperar em um goleiro. Tudo de maravilhoso que o torcedor quer ver em alguém que veste a sua camisa como se fosse nem a segunda ou a primeira pele.

Mas a única.

Tão bom é que, mesmo falhando na decisão da Liga dos Campeões de 2014, a equipe ainda buscou o empate no final que, depois, virou goleada contra o bravo Atlético de Madrid.

Tão regular é que, mesmo tendo atuado mal na temporada que passou, ainda merece o respeito dos rivais, da bola, e da história.

Mas não de todos os torcedores merengues, que o vaiaram impiedosamente depois de mais uma falha decisiva – como também fez péssima Copa do Mundo, como toda a Espanha. No primeiro gol da vitória do Atlético, no Santiago Bernabéu, pela terceira rodada do Espanhol, Casillas não cortou a bola que chegou à cabeça do colchonero Tiago. Mais um gol defensável tomado por um ícone como Iker.

Mas as vaias a ele foram indefensáveis.

O torcedor que agora quer arrancar as guantes (“luvas”) dele da meta madridista não se aguentou e pegou pesado com a lenda da meta merengue.

Fosse Casillas mais um, e não apenas um dos melhores camisas um de todos os tempos e de todos os clubes, o goleiro do Real Madrid abusaria do primeiro verbete do Manual de Sobrevivência de Craques & Bagres do Futebol:

– Eu não preciso provar nada para ninguém.

E não precisaria provar e dizer o goleiro campeão da Copa do Rei por duas vezes, campeão da Espanha por cinco vezes, três vezes da Europa e uma do mundo com a camisa do colosso madrileno.

Mas Casillas é dos poucos que têm a humildade de fazer em vez de falar.

Sabe que o torcedor pode ser ingrato. Injusto. Esquecido. Tudo.

Casillas não se perde pela boca:

– O público é soberano. Se acham que devem vaiar, é preciso respeitar, enfrentar o problema e seguir trabalhando. O torcedor está no direito dele. Eu tenho de responder jogando o meu futebol.

É isso.

Que outros sejam como Casillas jogando. E também pensando, falando. Ou ficando quietos.

Respondendo pela bola, não pela boca. 

 

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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Fracionar ou agregar?

Existe muita crítica e, por vezes, até lendas urbanas, em torno da maior rede de televisão do país, a Globo. Algumas mais perversas, outras com algum indício para se iniciar um bom debate… O que é certo é que a capacidade que o grupo de mídia adquiriu ao longo dos anos no aspecto comercial é de se analisar, estudar e pensar em formas de adaptação para outros negócios.

Remeto desta vez a notícia que diz que a “Globo vende futebol por R$ 1,3 bi e fatura mais que Record em um ano” (http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/mercado/globo-vende-futebol-por-r-1-3-bi-e-fatura-mais-que-record-em-um-ano-4842), em reportagem que mostra que a emissora conseguiu fechar o pacote comercial do futebol para 2015 com um aumento de 21% de seu valor em relação a 2014.

Sim, em um ano em que o futebol brasileiro foi colocado em cheque, os clubes não vêm conseguindo fazer bons acordos comerciais com empresas privadas (para patrocínio direto) e a economia não está das melhores, além das audiências na televisão, a Globo conseguiu ampliar os investimentos corporativos de maneira significativa.

A explicação deste “fenômeno”, aparentemente, está no título desta coluna: vejam que, pela referida reportagem, a Globo não vende as “partes” de maneira separada, ou seja, não vende para cada empresa as competições de forma dissociada uma da outra. Vende sim a “Plataforma Futebol”.

Ao agregar tudo o que há de comunicação ligada ao futebol a um seleto grupo de empresas, naturalmente que o público irá melhor identificar as marcas e, consequentemente, estas marcas estarão mais dispostas a fazer maiores investimentos.

Esta premissa faz todo sentido. É lógico que não podemos olhar para a questão de maneira simplista. Existem tantas outras variáveis que devem ser analisadas. Mas é um ponto de inflexão importante: a tendência de fracionamento de visibilidade é a de pulverização e consequente redução dos investimentos.

Vale muito para a estruturação dos Planos Comerciais que as entidades esportivas estão planejando para serem realizados em 2015. Ainda há tempo para construir algo bem mais consistente!!!

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Ecossistema

Participei, pela segunda vez, como jurado, do IE Venture Day em São Paulo, na semana que passou.

Escrevo sobre o tema, pela segunda vez, por entender que se trata de tema absolutamente atual para o futebol brasileiro.

Segunda vez porque já o havia abordado em 2012, quando da primeira oportunidade que tive de participar da iniciativa inovadora.

O evento é organizado pelo Instituto de Empresa, escola de negócios sediada em Madrid, que se notabilizou como uma das melhores do mundo – e a melhor da Europa – nos cursos de pós-graduação em Empreendedorismo.

O Venture Day funciona, basicamente, num dia inteiro de programação que conta com palestras, debates entre especialistas, apresentação de cases e, coroando o evento, os “pitches”.

Os “pitches” são as apresentações de trabalhos de conclusão de curso dos alunos do MBA em Gestão Empreendedora, para o público, para investidores e para um grupo seleto de jurados, que devem avaliar quais são os melhores projetos para empresas “startups” (em fase inicial de desenvolvimento).

Cada uma das 11 apresentações dispunha de 3 minutos para seduzir os jurados, que avaliamos os projetos segundo 6 critérios, para, ao final, premiar-se as 3 melhores startups.

Uma das coisas que me chamaram a atenção foi a utilização da expressão, em inglês, “ecosystem”. Na tradução direta, ecossistema.

A intenção do uso, pelos palestrantes e pelos debatedores, era voltada à analise dos fatores, positivos e negativos, que influenciam o empreendedorismo no Brasil e o desenvolvimento de startups.

Logicamente, o emaranhado tributário, as dificuldades de infraestrutura e logística, a burocracia excessiva e a política econômica em conjuntura recessiva fizeram parte da cartilha das dificuldades.

Ao mesmo tempo em que as obviedades do Brasil como um país que não é recomendado para amadores foram evidenciadas, o que prevalece é o ecossistema empreendedor: energia de sobra para inovar; desafiar a si mesmo; articular pessoas e ideias num ambiente ora competitivo, ora colaborativo; reunir a juventude, que arrisca e vai errar muito, com a experiência dos investidores, que arriscam e já erraram muito, para encontrar caminhos para o desenvolvimento de negócios.

Não à toa que o MBA do IE alcançou o posto de um dos melhores do mundo. Tanto o corpo docente quanto o grupo de alunos é multicultural. Professores australianos, americanos, espanhóis, ingleses, brasileiros, misturam-se a 85% de alunos, de mais de 75 nacionalidades, na composição das turmas.

O próprio IE é um case de sucesso no empreendedorismo: sua fundação se deu como um projeto startup. Com isso, carrega no DNA institucional essa energia transformadora permanente.

E o nosso futebol ainda se preocupa em discutir se vale a pena contratar técnicos estrangeiros pros clubes ou pra seleção brasileira? Como se fosse o único dos problemas estruturais.

Sempre exportamos nosso futebol pelos pés dos jogadores. Aprimorávamos a matéria-prima por um breve tempo e, logo depois, os talentos iam para a Europa alcançar a excelência. Voltavam ao país já consagrados e aposentados, sem necessariamente criar ciclo de desenvolvimento no Brasil.

Agora que a indústria do futebol poderia ter interesse em investir no Brasil, encontra um mercado com excesso de insegurança jurídica, de burocracia, de má-gestão institucional, de corrupção, de visão curta.

Creio que temos que melhorar nosso ecossistema.

Senão vem mais 7 a 1 por aí…
 

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O novo mundo de Ronaldinho Gaúcho

Pensar no futuro é sempre um desafio, e esse desafio é ainda maior se o tal futuro em questão envolver um cenário em que você está inserido. São poucas as pessoas que conseguem projetar com acuidade a evolução de suas realidades, e esse é um dos motivos para as decisões que envolvem futuro profissional serem tão complicadas. Deixar a empresa em que você trabalha pode ser uma decisão simples, mas abre uma infinidade de caminhos. Escolher entre eles é também escolher para onde levar a própria vida.

O trabalho, afinal, não é a vida de ninguém. No entanto, a vida profissional é uma seara fundamental para qualquer um – seja por ambição, criação de laços com outras pessoas ou apenas por desenvolvimento pessoal – e exerce influência direta em outros âmbitos.

Tenha em mente os dois conceitos tratados nos parágrafos acima (a dificuldade para projetar o futuro e a relevância da vida profissional) e pense: o que você busca na carreira? Você trabalha apenas para acumular dinheiro, prioriza experiências ou quer aprimorar seu talento, por exemplo? Nenhuma das respostas é errada.

Agora tente transportar essa lógica para a carreira de um jogador de futebol. É justo condenar alguém que prefere ganhar dinheiro? É certo rotular ou diminuir um atleta que abre mão de desafios em nome de experiências pessoais?

Toda essa discussão precisa ser considerada antes de qualquer análise sobre Ronaldinho Gaúcho. Principalmente porque há poucas informações concretas sobre as motivações profissionais do meia-atacante – talvez por preservação da imagem ou talvez até por falta de percepção dele sobre o que está acontecendo.

Ronaldinho Gaúcho foi eleito pela Fifa o melhor jogador do mundo em 2004 e 2005. Viveu um período incontestável – no primeiro semestre de 2006, não era raro encontrar quem dissesse que ele estava a uma Copa do Mundo de entrar no panteão de Pelé e Garrincha. E depois, o que aconteceu com a carreira dele?

Num primeiro momento, Ronaldinho Gaúcho fracassou na Copa de 2006. O jogador do Barcelona era um dos ícones daquela seleção de quem se esperava encantamento, mas as marcas indeléveis do time foram a falta de compromisso, o sobrepeso e a bagunça na concentração em Weggis (Suíça) antes do Mundial.

Depois, Ronaldinho simbolizou também uma derrocada no Barcelona. O time catalão caiu a ponto de romper com o modelo vigente e abrir mão de nomes badalados como Deco, Eto’o e o próprio brasileiro. A criação do time que encantou o mundo nos anos seguintes passou por essas saídas.

Ronaldinho passou anos no Milan e um período conturbado no Flamengo após ter deixado a Catalunha. Só foi reencontrar o protagonismo no Atlético-MG, time em que foi um dos artífices da campanha vitoriosa na Copa Libertadores de 2013.

No Atlético-MG, contudo, o período de bonança de Ronaldinho também não foi longevo. O segundo semestre de 2013 já não foi tão eficiente quanto o primeiro, e a temporada 2014 começou mal. O período do meia-atacante no clube acabou de forma melancólica – desentendimento com o técnico Levir Culpi e rescisão de contrato em julho.

Em 2006, Ronaldinho estava a alguns passos da imortalidade. O que motivou a mudança de desempenho dele nos anos seguintes? Foi apenas uma queda técnica ou houve uma decisão profissional? Ele escolheu novos caminhos porque ficou sem espaço nos clubes anteriores ou ficou sem espaço nos clubes anteriores por ter escolhido novos caminhos?

A questão é que a saída do Atlético-MG abriu novamente o mercado para Ronaldinho. O brasileiro podia ter usado diferentes argumentos para escolher um novo caminho, e o rumo que ele escolheu foi assinar um contrato com o Gallos Blancos de Querétaro, time que está longe de ser uma das potências no México.

E por que essa transferência, em meio a tantas outras, merece uma discussão um pouco mais aprofundada? Ronaldinho pode ter tido diferentes motivos para escolher o Querétaro. Pode ter feito isso por dinheiro, por vontade de viver no México ou por ter gostado do plano do clube para os próximos meses.

A questão é que as motivações profissionais podem ter origem pessoal, mas não podem desconsiderar que todo profissional é um produto. Ao decidir assinar contrato com o Querétaro, Ronaldinho criou efeitos imediatos para o valor de mercado que ele possui.

Toda decisão profissional precisa considerar isso também. Qual é o potencial do mercado mexicano? Ele tem abertura para um personagem como Ronaldinho Gaúcho? O Querétaro é a melhor forma de um jogador como ele ganhar espaço no país?

Ronaldinho pode ter tido excelentes razões para escolher o Querétaro. O ponto é: era esse o melhor caminho para a carreira dele? A decisão fez bem ou mal para o valor de marca do brasileiro?

Toda a condução da negociação deixa isso no ar. Ronaldinho pode ganhar muito dinheiro jogando no México, mas ganhar muito dinheiro nem sempre é a resposta para uma decisão profissional.

E quem tem um trabalho de gestão de carreira no futebol brasileiro? Que jogador toma decisões absolutamente baseadas em efeitos de mercado e imagem?

Se fosse assim, será que teríamos tantos jogadores no futebol ucraniano ou no futebol russo? Teríamos tantos jogadores em times grandes da Europa?

Pensar na carreira de um atleta é um desafio complicado, e nem sempre os parâmetros são simples. Muitas vezes, a vontade de um atleta pode não ser o desempenho esportivo. Ronaldinho Gaúcho abriu um mundo novo ao escolher defender o Querétaro. Mas era esse o mundo que ele queria? 

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Redução na pena de Petros: sinal amarelo

Nesta quinta-feira, o Pleno do STJD da CBF julgou recurso aviado pelo Corinthians contra decisão da Comissão Disciplinar que havia condenado o atleta Petros a suspensão por 180 dias em virtude de agressão ao árbitro e reduziu a pena para três jogos.

Segundo o STJD, a pena prevista no Código Brasileiro de Justiça Desportiva é demasiadamente pesada para o caso em comento, especialmente se considerando que a manutenção da decisão da Comissão Disciplinar impediria o atleta de exercer sua atividade laboral. Além ressaltou-se que o espírito da norma seria punir agressão com vias de fato e não situações de jogo.

Realmente, a punição prevista pelo CBJD parte de uma pena mínima de 180 dias para qualquer agressão,o que, em casos como o do meia Petros há exagerado rigor.

Por outro lado, trata-se de norma que deve ser aplicada pelo STJD, ainda que os auditores entendam ser injusta. Ora, ao julgador não cabe analisar se a lei é justa, mas, aplicá-la ao caso concreto, portanto, se houve agressão, a pena aplicável é a do art. 254-A.

Outrossim, o “caso Petros” acende a luz amarela e explicita a necessidade de uma profunda revisão no Código Brasileiro de Justiça Desportiva, já que as pessoas e entidades jurisdicionadas por ele não se reconhecem na norma, o que reflete grave crise de legitimidade do texto legal.

Para tanto, o Conselho Nacional dos Esportes deve convocar representantes dos clubes, dos atletas, das federações, da arbitragem, da OAB, bem como estudiosos do Direito Desportivo a fim de que um amplo debate possa evitar que o julgador tenha que lançar mão de “saídas heróicas” para adequar a lei à realidade.

Assim, muito mais do que uma questão pontual sobre o atleta Petros, o caso em questão deve servir de mote para repensarmos os rumos da Justiça Desportica Brasileira. 

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Sem medo das mudanças

A mudança faz parte do universo do futebol! Não existem mais mares calmos e estáveis nos quais atletas podem navegar em paz sem passar por turbulências eventuais. Muitas vezes essas turbulências são nada mais do que processos de mudanças que permeiam a vida de todos os envolvidos no futebol e como sabemos que as mudanças muitas vezes causam medo, como o atleta pode lidar melhor com isso?

Se pensarmos a respeito, podemos compreender que viver, por si só, já é sinônimo de mudanças. Com os atletas, isso é mais do que comum do que imaginamos, pois são inúmeras as situações diferentes vivenciadas por eles. Muitas vezes essas mudanças podem acontecer por iniciativa do próprio atleta (conseguir jogar num grande clube do exterior por exemplo) ou por motivos externos (troca de treinador por exemplo).

Em ambos os casos, os atletas são impactados e eles precisam ser flexíveis e até mesmo buscar correções de rota!

Uma ferramenta valiosa para lidar com as mudanças é a “Matriz de Gestão de Mudança”, um exercício pertinente e eficaz para avaliarmos a necessidade de promover algumas mudanças de comportamento e com isso poder traçar uma estratégia eficiente para conseguir mudar. Aqui o processo de coaching se enquadra e foca-se plenamente na esfera concreta do "como fazer" a mudança.

Podemos exemplificar a utilização da ferramenta da seguinte forma:

Imagine o atleta com possuindo em sua mente uma META que deseja intensamente atingir, neste ponto ele faz reflexões e como resultado de algumas sessões de coaching ele consegue listar uma série de ações e comportamentos que o aproximam verdadeiramente de sua meta, as quais irá plotar na matriz juntamente com outras atividades que ele faz atualmente em sua vida cotidiana, conforme os seguintes critérios.

• No primeiro quadrante, tudo aquilo que ele FAZ e GOSTA, lhe dá prazer.

• No segundo quadrante, todas ações que ele FAZ mas NÃO GOSTA.

• No terceiro quadrante, tudo que ele NÃO FAZ mas que ele GOSTA.

• No quarto quadrante, finalmente, tudo aquilo que ele NÃO FAZ e NÃO GOSTA.

 Feito isso, acompanha-se o atleta para elaborar um plano de ação para endereçar as questões dos 4 quadrantes, conforme a seguir:

1. As ações do primeiro quadro são para manter estas atividades; elaborar planos de manutenção são muito importantes.

2. As ações do segundo quadro são para transformar ou eliminar essas atividades, de maneira que elas se tornem mais prazerosas ou eficientes.

3. As ações do terceiro quadro representam aquelas que ele necessita mas não faz. Neste ponto muitos atletas podem precisar de ajuda para realizar uma revisão sobre como administram seu tempo e rever as prioridades das ações do seu cotidiano.

4. Finalmente, no último quadro, verificar como algumas dessas atividades podem ser transformadas ou adaptadas para serem feitas também, de acordo com sua importância.

A utilização desta ferramenta é muito eficaz num processo de coaching e seus benefícios na prática são muito grandes para os atletas! Desta forma, podemos usar e abusar do uso da Matriz de Gestão de Mudança no meio do futebol.

Até a próxima!

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Gestão dos clubes e suas peculiaridades

O texto de hoje é para destacar especialmente um outro texto. Publicado no Blog do Juca Kfouri e escrito com brilhantismo por José Francisco Manssur (http://blogdojuca.uol.com.br/2014/09/o-trabalho-remunerado-e-a-hipocrisia-dos-nossos-resistentes-clubes-associacoes/?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter) com o título “O trabalho remunerado e a hipocrisia dos nossos resistentes clubes-associações”. Trata-se de um artigo que merece ser lido, relido e estudado por todos aqueles que desejam trabalhar com gestão do esporte ou mesmo para aqueles que já estão há algum tempo neste mercado.

Corrobora também com muitos dos argumentos já listados, de forma separada, em alguns artigos escritos por mim neste espaço da Universidade do Futebol. O que se vê é que a imprensa e a opinião pública de um modo geral não conseguem separar e discernir as dificuldades e os antagonismos da gestão dos clubes de futebol no Brasil.

A hipocrisia, que muito bem foi tratada por Manssur, é a síntese do que se tem hoje. E, como o termo “profissionalização” se tornou popular para qualquer pessoa que trabalha no meio, ele também vem carreado de uma série de problemas de origem, que tem feito com que as entidades esportivas caminhem para trás.

Não basta colocar uma pessoa remunerada e dizer que isso é profissionalização. A estrutura organizacional e os processos de tomadas de decisão precisam mudar sensivelmente.

O futebol brasileiro precisa debater melhor o seu modelo de governança. E não se trata aqui de propor soluções mirabolantes, sem levar em conta toda a cultura associativa que é característica desta indústria. A proposta encontrar pontos de sinergia que alinhe o modelo e a cadeia de negócios da modalidade com a tipologia destas organizações. Só assim conseguiremos sair da inércia… 

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O poder da palavra

Patrícia Moreira é torcedora do Grêmio. No dia 28 de agosto de 2014, foi ao estádio de seu time, em Porto Alegre, para acompanhar a derrota para o Santos por 2 a 0 em duelo válido pela Copa do Brasil. Foi flagrada pelo canal fechado “ESPN Brasil” chamando o goleiro santista Aranha, que é negro, de “macaco”. A partir disso, tudo que ela disse ou fez foi resumido a um rótulo: Patrícia Moreira virou “a torcedora racista”.

Em tempo: Patrícia Moreira cometeu ofensa racista, sim, e isso é crime. Crime grave. Ainda que ela tenha negado isso e que tenha dito que o intuito era apenas provocar Aranha, o fato é que ela usou a cor da pele do jogador do Santos para tentar diminui-lo. Isso é deplorável e inaceitável, e é bom deixar isso muito claro.

Logo depois do episódio, Patrícia foi afastada do trabalho no Centro Médico e Odontológico da Polícia Militar – ela era funcionária de uma empresa terceirizada e prestava serviços de auxiliar de odontologia. Além disso, a casa da família da torcedora chegou a ser apedrejada.

Aranha registrou boletim de ocorrência na 4ª Delegacia de Polícia. No dia 5 de setembro, acompanhada de um advogado, Patrícia concedeu entrevista coletiva para falar sobre o caso. Pediu desculpas ao goleiro e ao clube do coração.

“A Patrícia já sofreu ameaças. Só não vem sofrendo mais ameaças porque saiu de redes sociais e saiu de casa. Ela perdeu a vida que levava”, disse o advogado Alexandre Rossato.

Mais uma vez: as imagens são muito claras, e Patrícia cometeu um crime. O ponto em discussão não é esse, e tampouco a gravidade do fato. A questão aqui é que existe um inquérito, e a torcedora vai responder na Justiça por tudo que fez. Aranha falou sobre o caso no último sábado (06) e disse que perdoa a gremista. Então, por que ela precisa ser resumida a um rótulo (racista) e condenada por isso?

Outro exemplo vem da política. A edição desta semana da revista “Veja” tem reportagem sobre Paulo Roberto Costa, ex-diretor de refino e abastecimento da Petrobras. Segundo a publicação, ele teria afirmado em depoimentos à Polícia Federal que três governadores, seis senadores, um ministro e pelo menos 25 deputados federais foram beneficiados por propinas oriundos de contratos da estatal.

Foi o suficiente para o caso ser tratado como “escândalo”. Em redes sociais – no Twitter, principalmente –, o caso foi chamado de “mensalão 2” e “marca indelével para a administração federal”. Principalmente porque atingiu a maior empresa estatal do país.

Parênteses, mais uma vez: se Paulo Roberto Costa tiver feito exatamente essa denúncia, trata-se de algo muito grave. E algo grave precisa ser investigado até virar de fato um escândalo, assim, de forma peremptória.

Até agora, contudo, o que existe é uma reportagem sobre uma denúncia. Ou uma denúncia composta por nomes e detalhes sobre esquema de fraude. Ainda que os indícios sejam consistentes, eles não provam nada.

O uso de rótulos e de reducionismos mostra o quanto nós precisamos amadurecer. Patrícia Moreira não “é racista”, ainda que tenha cometido uma ofensa racista. Ninguém “é ladrão”, ainda que tenha desviado dinheiro ou roubado algo. Rótulos não ajudam e não dão complexidade a nenhuma discussão.

Dizer que a torcedora “é racista” é extremamente restritivo. Trata-se de uma pessoa comum, que tem arroubos e que comete erros. Isso não é uma defesa de Patrícia Moreira, mas da complexidade. Se quisermos tirar algo de episódios como o que ela protagonizou, precisamos urgentemente ultrapassar conceitos tão definitivos e tão rasos.

O pior é que usamos esse raciocínio com muita frequência. Um jogador é volante ou é atacante, e a posição que consta na ficha cadastral é o que determina se um técnico é ousado ou conservador ao colocá-lo em campo. Um julgamento sobre o treinador parte de um julgamento sobre o atleta. O rótulo do rótulo.

O esporte é uma seara em que muitas pessoas têm acesso às informações. Dados circulam entre empresários, jogadores, dirigentes, treinadores e funcionários de clubes, por exemplo. É relativamente fácil ouvir denúncias e histórias totalmente absurdas sobre qualquer assunto.

Pense em quantas teorias da conspiração surgiram desde 1998, quando Ronaldo passou mal antes da decisão da Copa do Mundo. Pense em quantas vezes você ouviu alguém dizer que um campeonato foi “armado”, “comprado” ou “arranjado”. Afinal, quantas dessas histórias se provaram?

Em contrapartida, informações têm grande valor. Ainda que não sejam comprovadas, denúncias sobre uma empresa afetam diretamente o valor de suas ações. Essa lógica é menos clara no esporte, mas exemplos mostram a capacidade que esse ambiente tem de impingir rótulos.

Já citei esse exemplo anteriormente, mas acho que nunca é demais: em 1994, a Escola Base, em São Paulo, foi fechada porque pais de alunos acusaram proprietários de abuso sexual de alunos que tinham quatro anos. A vida dessas pessoas foi destruída, e depois foi provado que a denúncia era falsa.

O caso da Escola Base é um dos mais emblemáticos da história do Brasil. Trata-se de algo que recebeu enorme cobertura da mídia, e os proprietários da instituição foram julgados pelo público muito antes de serem inocentados pela Justiça. É algo que eu sempre uso como exemplo e como aviso. Como jornalista, não quero que ninguém seja “a minha Escola Base”.

Muitas vezes não damos conta, mas a palavra tem enorme poder. Muitas vezes não damos conta, mas temos uma tendência ao julgamento. Isso vem desde os primórdios da humanidade, e é um ranço que ainda não conseguimos extirpar.

Para evoluirmos como sociedade – e como analistas de esporte, por consequência –, é necessário que deixemos para trás os rótulos. Precisamos superar as histórias esquematizadas de bandido e mocinho e entender que pessoas são complexas. Pessoas cometem erros – alguns mais graves, outros menos –, e nós não podemos classificá-las por isso. Ainda mais quando nem os erros são confirmados. 

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O que é do Jogo e também deveria ser do Treino

O jogo de futebol, na perspectiva da complexidade, é caracterizado por alguns elementos que o definem enquanto um sistema. São eles: as milhares interações entre os seus integrantes, a presença permanente da auto-organização, a visão de globalidade, chamada pelos portugueses de inteireza inquebrantável (em que cada fração do sistema/jogo não pode ser analisada desvinculada do todo), e, por último, a sua funcionalidade/objetivo.

Neste contexto, o confronto de sistemas tem sido minuciosamente estudado e as informações obtidas podem contribuir na construção de um olhar mais apurado sobre as situações-problema (física-técnica-tática-psicológica) que emergem quando na prática do jogo.

Metabolismo predominante, característica dos deslocamentos, distância total percorrida, quantidade de saltos, número de mudanças de direção, quantidade, predomínio e características das ações técnicas, tempo de posse de bola, esquemas táticos, princípios táticos e conduta psicológica são algumas das informações identificáveis através da atuação de uma equipe interdisciplinar e de um departamento de análise de desempenho.

Após cada jogo, uma avaliação detalhada pode ser realizada e no cruzamento destas informações, estarão os comportamentos de jogo (físico-técnico-tático-psicológicos) que potencializaram o êxito ou o fracasso.

Para exemplificar, justificando um mau resultado, poderá ser identificado que a equipe gerou poucas situações de superioridade ou igualdade numérica em setores importantes do terreno de jogo e que seu meio-campo efetuou poucos passes que promoveram desequilíbrio ao adversário. Como outro exemplo, agora para explicar uma vitória, pode ser confirmado que a equipe neutralizou as transições ofensivas adversárias e que venceu a maioria das disputas de segunda bola.

Como cada jogo é irreversível, logo, único, as particularidades e nuances que “contarão a história” do que foi uma determinada partida tende a ser bem diferente de outra. Porém, apesar de cada jogo conter a sua história, aqueles estudos minuciosos (recentes ou não) têm apontado padrões do jogo que se repetem, como:

• as inevitáveis perdas da posse de bola
• predomínio da ação técnica de passe
• em posse, cada passe adicional diminui a chance de gol
• menor possibilidade de gol da equipe que dá mais lançamentos longos
• maior possibilidade de vitória da equipe que perde menos a bola
• a maior chance de vitória de quem finaliza certo mais vezes
• a não alteração dos padrões técnicos em função do esquema tático (plataforma de jogo)
• a média de finalizações no alvo
• o predomínio de gols em jogadas com até 5 passes
• o local de maior incidência de gols
• a média de gols de um jogo

Tais padrões se repetem, pois são características inerentes ao jogo e sua lógica. Estas ricas e, atualmente, simples informações devem orientar a semana de treino pelo viés da especificidade. Como o jogo de futebol é um sistema caótico, soma-se aos padrões a necessidade de preparar-se para o imprevisível.

Afinal, aquilo que é do Jogo também deveria ser do Treino. Num ambiente em que a gestão da perda da posse de bola, a assertividade do passe em situações de oposição e a busca pela finalização específica após a manutenção da posse de bola pelo menor tempo possível fossem cenários predominantes, quase exclusivos.

Qual a sua opinião? Abraços e até a próxima semana. 

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Racismo elimina Grêmio da Copa do Brasil

Na última semana, o mundo do futebol acompanhou de forma estupefata as manifestações racistas de parte da torcida gremista.

Nesta quarta-feira, em primeira instância e por unanimidade, o STJD puniu o clube gaúcho com a desclassificação da Copa do Brasil.

Além disso, os torcedores identificados foram condenados com proibição de frequentar estádios de futebol por 720 dias. Sem dúvidas, o caso exigia célere e severa punição.

Entretanto, chama a atenção a casualidade da decisão, eis que o Grêmio já havia perdido a partida em casa por dois gols de diferença e a eliminação na Copa do Brasil não traz nenhuma influência para o calendário do clube gaúcho em 2014 e 2015.

Será que se tais atos tivessem sido perpetrados no Campeonato Brasileiro, o Grêmio seria eliminado e, consequentemente rebaixado e, ainda, ficaria o resto do ano sem jogos a cumprir?

Quando a torcida peruana do Real Garcilaso cometeu atos semelhantes contra o jogador Tinga, do Cruzeiro, na primeira rodada da Copa Libertadores, o Tribunal Arbitral da Conmebol não teve pulso para aplicar a pena mais severa.

Naquela oportunidade, a entidade máxima do futebol sul-americano aplicou uma multa de US$ 12 mil (o equivalente a R$ 28 mil) ao clube peruano.

Sem dúvidas, trata-se de Tribunais diferentes, mas acende-se a luz amarela da dúvida.

Acerca das punições aplicadas aos torcedores, o STJD agiu de acordo com o parágrafo segundo do artigo 243-G, do CBJD.

Vale destacar que a impossibilidade de acesso do torcedor que entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos está prevista no art. 13-A do Estatuto do Torcedor.

Doutro giro, os torcedores não participaram da relação processual e não tiveram chance de defesa, donde se pode entender ter havido violação ao princípio constitucional da ampla defesa. A isso se soma o fato de ser questionável a competência legal da Justiça Desportiva para punir torcedores.

De toda sorte, o STJD agiu de maneira acertada e, sem dúvidas, esta decisão entrará para a história da Justiça Desportiva Brasileira.

E que sirva de exemplo!!!