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O raciocínio descontextualizado dos dirigentes do futebol

A época de eleições em clubes do futebol brasileiro é a melhor maneira de se analisar e de se compreender como pensam alguns dirigentes ou candidatos a cartolas. E o resultado é quase que invariavelmente assustador. Aliás, é um indicador claro de como distorcemos completamente a função dos clubes e a visão do esporte enquanto negócio, além de evidenciar temas totalmente anacrônicos.

Seja de forma explícita ou mesmo nas entrelinhas do discurso, vê-se com clareza que a forma e as temáticas abordadas servem para reforçar o viés antiprofissional das entidades de prática do esporte, apesar da tentativa de se defender o contrário.

Li recentemente, por exemplo, uma crítica de um candidato a presidente de um grande clube brasileiro aos atletas que ganhavam mais de R$ 100 mil por mês e estavam lutando para jogar menos partidas durante a semana. Ora, divagava ele, “trabalham apenas duas vezes por semana e ainda querem trabalhar menos?”.

Ao ler o referido comentário, fico tentando imaginar uma sala de reuniões para convencer o tal dirigente de que é importante ter uma equipe multidisciplinar de trabalho, como fisioterapeuta, fisiologista, analista de desempenho, preparador físico, médico etc. para melhorar a performance dos atletas. A resposta talvez seria algo como: “cada jogador que contrate um para si. Afinal, ganham o suficiente para poder investir em sua carreira”.

O fato é que premissas básicas, que são minimamente estudadas em qualquer faculdade de educação física, como a compreensão de que um atleta de futebol é como um artista e, portanto, ele não pode ser nunca visto apenas como um custo e sim como investimento e, por conseguinte, gerador de outras receitas futuras se bem escolhido e trabalhado dentro de um grupo de atletas, parece não fazer parte da agenda daqueles que se declaram “entendidos de futebol” e se julgam “verdadeiros revolucionários do mundo da bola”.

Aliás, falar que é empresário de qualquer ramo de negócio parece ser a porta de entrada para demonstrar que conhece de gestão e, portanto, o habilita a gerir um clube de futebol. No final das contas, não se compreende a atividade específica ligada a gestão do esporte e, por conseguinte, não se é possível perceber qualquer evolução positiva da indústria do futebol.

Ao contrário, parece que damos alguns passos atrás em cada processo eleitoral de clubes. Ao invés de se debater objetivamente o potencial de negócios que determinado clube pode ter e as nuances da gestão do esporte que se aplicam para cada caso, reiteramos uma visão claramente retrógrada e completamente incompatível com o momento. Resta sonhar com dias melhores…