Categorias
Sem categoria

O engenheiro Fernando Santos: o ser e o tempo

Não, não vou ocupar-me do Ser e Tempo de Martin Heidegger (1889-1976). Nem, para tanto, reconheço em mim competência tamanha. Mas parece-me filosófica a questão: para saber de desporto (e portanto de futebol) o que é preciso saber? Qual o saber radical (ou o decisivo e fundamental) onde assenta o conhecimento do futebol? Uma pergunta ainda, com a mesma intenção: qual a essência do futebol? Sem o dizer, o engenheiro Fernando Santos, atual treinador da seleção portuguesa de futebol, ensinou-nos, com inflexível e austera firmeza: é o ser humano, é o “agente do futebol”, designadamente o praticante. E, por isso, foi a este nível que se centraram as suas preocupações, logo que o nomearam selecionador. E o Ricardo Carvalho e o Tiago e o Danny e o Cédric e o William Carvalho integraram o “onze” em que mostrou mais acreditar. O Ricardo Quaresma, um dos melhores jogadores portugueses, também foi convocado e também jogou. No próprio dia do Dinamarca-Portugal, Fernando Santos dizia ao jornal A Bola: “Quem decide no campo são os jogadores, eu estou cá fora”. De facto, para quem viu o jogo (eu vi pela televisão) ficou demonstrado que a tática quatro-quatro-dois-losango (que por vezes se transformou em quatro-três-três) resultou em plenitude, mas foi a classe de Ricardo Carvalho e de Ricardo Quaresma e o gênio de Cristiano Ronaldo (e a honestidade de todos eles) a “causa das causas” da vitória memorável, em Copenhague. Venho assinalando, há um bom par de anos já, que não há remates, há homens (e mulheres) que rematam; não há defesas, há homens (e mulheres) que defendem; não há fintas, há homens (e mulheres) que fintam – se eu não compreender antes os homens (e as mulheres) que rematam e defendem e fintam, não entenderei nunca nem os remates, nem as defesas, nem as fintas. O Cristiano Ronaldo, após o Dinamarca-Portugal, sem pormenores engenhosos, desassombradamente afirmou: “Já tinha saudades de jogar com o Ricardo Quaresma”. E sorridente acrescentou: “É que eu já sei como ele centra, eu sabia o percurso da bola e assim fiz o golo. Eu conheço-o bem”.

O desporto não é apenas uma teoria, nem tão-só uma doutrina – o desporto é uma vida! Uma equipa, como uma família, mostra-se nos mais pequenos trechos de fraterna amizade, entre os jogadores, e no respeito pelas ordens do treinador que se aceita como conselheiro ou guia. Uma equipa, ou se movimenta, estrutura, enobrece, como uma família, ou o 4x3x3, ou o 4x4x2, ou o 3x5x2, ou o 4x2x3x1, surgem acorrentados a erros e fragilidades sem conta. Juan Mata, jogador do Manchester United, ao El País, de 2014/10/20, assegurou com palavras solenes: “Van Gaal es honesto. Es más importante ser una buena persona que un buen técnico”. Ao Juan Mata apresentam-no os jornais como um rapaz rebelde e livre, pagando, com frequência, as consequências das suas atitudes, do seu desprezo pelas fórmulas feitas, da sua falta de respeito pelas consagrações indevidas. Mas, segundo o jornalista que o entrevistou, é um leitor habitual de bons livros. Talvez, por isso, e instruído pela lição diária dos factos, a sua plena crença na necessidade de o treinador ser pessoa de admirável lucidez e honestidade… antes do mais! O desporto de alta competição tende, hoje, a reduzir-se à racionalidade técnica e tática, à rentabilidade econômica (o futebol é um negócio) e a uma retórica de salivoso e anacrônico clubismo. Ora, e a dignidade incontornável do homem, como pessoa, presente em cada um dos elementos que constituem um departamento de futebol? E não é por aqui que deve começar o treino do futebolista de alta competição? Para que serve a ética no treino e na competição? Concorre ela a uma performance mais plena? O Juan Mata na mesma entrevista não esconde a admiração que sente pelo treinador Van Gaal: “ Gosta muito de falar connosco e perguntar-nos que opinião temos dos exercícios que fazemos nos treinos. Por vezes, fala de Guardiola e dos conselhos que lhe dava. Van Gaal tem prazer em ouvir os jogadores, principalmente quando eles procuram soluções que podem beneficiar o grupo”.

A reflexão filosófica acordou tarde para o Desporto, que era uma Atividade Física e quanto mais física mais desatinada. Após esta melancólica conclusão, a Filosofia não poderia ocupar-se do Desporto. Até que (e agora, desde os gregos, dou um salto de séculos) o Desporto passou a estudar-se de um modo unificado onde entravam dialeticamente, integrando a mesma totalidade, aspetos epistemológicos, éticos, estéticos, tecnocientíficos, sociais, políticos, culturais. E então a Filosofia descobriu que o Desporto era uma Atividade, mais do que Física, Humana e sentiu que não podia ficar indiferente à humanidade que o Desporto é. E temas como ciência, consciência, competição, motricidade, solidariedade, liberdade, utopia, desejo são problemas filosóficos porque são desportivos e são problemas desportivos porque são filosóficos. E na escola hegelo-marxista, na fenomenologia, em Nietzsche, em Ortega y Gasset, em Wittgenstein, em Huizinga, em Arnold Gehlen, em Adorno, em Marcuse, em Hannah Arendt, em Habermas encontramos juízos esclarecedores acerca do corpo, do jogo, do desporto, do espetáculo, da competição. E do discurso, da comunicação. N’A Condição Humana (Relógio d’Água, Lisboa, 2001), Hannah Arendt observa: “Nenhuma outra atividade humana precisa tanto do discurso como a ação” (p. 41). O ser do Desporto é o Homem! Numa competição ou num treino, quando se pergunta: o que aconteceu? É pelo Homem que se pergunta…

O que venho de escrever, nas suas linhas essenciais o engenheiro Fernando Santos conhece, assim como os que têm a paciência de ler-me. Entre as dezenas de jogadores profissionais de futebol, que já conheci, mesmo os de mais larga audiência, nenhum me mostrou desagrado, pelo seu atual (ou antigo) treinador, por razões de ordem tática. Os fatores decisivos da sua antipatia residiam na prepotência, na canhestra comunicação, na teimosia, na incapacidade de liderar e organizar. Numa grande equipa de futebol, hoje, liderança, ética e humanismo convergem. A crise, portanto, não é normalmente de ordem tática. Por isso, eu confio no engenheiro Fernando Santos, como treinador e líder da seleção portuguesa. No meu modesto entender deverá nascer, no futebol, uma perspetiva paradigmática nova, onde o que o define não tem apenas e só uma natureza científica. A transcendência (a superação) é o sentido da vida e portanto do desporto. E no ato da transcendência não há ciência tão-só, há vontade e esperança e fé – há a convicção profunda de que o Homem e o Desporto são tarefas a realizar! Só quando o Futebol for um modo de desfatalizar a História, o futebol poderá desenvolver-se, numa ordem imprevisível e nova. Por isso, repito, eu confio no
engenheiro Fernando Santos, como treinador e líder seleção portuguesa de futebol.  

Categorias
Conteúdo Udof>UdoF na Mídia

Profissionais da base do Internacional participam de qualificação na Universidade do Futebol

Trata-se do “Educar pelo Futebol: Meu Time é Nota 10”, curso que visa capacitar os gestores para conscientizar a garotada em relação aos riscos e oportunidades da profissão. 17/11/2014
Confira o texto na íntegra

Categorias
Sem categoria

Qual o seu posicionamento estratégico em relação à evolução do jogo?

Para falar de futebol, muitas vezes, recorremos a alguns conteúdos teóricos que, sob um olhar superficial, não tem relação direta com a modalidade. Por exemplo, para quem não tem o hábito de analisar este esporte a partir de uma perspectiva sistêmica, durante uma leitura sobre a teoria dos sistemas dinâmicos, pode passar despercebida a sua relação e aplicabilidade com o confronto de sistemas que é o jogo de futebol.

Na coluna desta semana, o conceito teórico que embasa a reflexão proposta advém da área de gestão, mais precisamente da área de Tecnologia da Informação (TI), e do posicionamento estratégico das organizações quanto às inovações tecnológicas. Assim como no exemplo supracitado, o posicionamento estratégico das empresas, aparentemente, não possui nenhuma relação com os clubes e treinadores de futebol. Mas será que não mesmo?

De acordo com um modelo conceitual, uma determinada empresa pode assumir quatro diferentes posicionamentos estratégicos sobre sua postura de desenvolvimento de inovação tecnológica. São eles: líder, seguidor rápido, seguidor lento e não seguidor.

As empresas líderes são aquelas que sempre criam uma nova solução tecnológica para aquilo que vem sendo feito. A inovação é um diferencial competitivo e parte importante da missão da organização é quebrar paradigmas.

As seguidoras rápidas, estrategicamente, não investem a ponto de serem inovadoras, porém, estão sempre atentas ao que o mercado está fazendo e, principalmente, acompanhando os principais concorrentes. De olho nos melhores, é possível com menor risco e custo de investimento acompanhá-los no desenvolvimento de seus produtos.

Já as empresas seguidoras lentas acompanham as mudanças ao seu redor, porém, por algum motivo (financeiro, ideológico, estrutural, objetivos) não participam destas transformações num primeiro momento. Como o próprio nome sugere, o desenvolvimento tecnológico ocorre de maneira gradual.

E, por último, as organizações não seguidoras. Tem noção do que o meio quer, porém, estão tão especializadas numa fatia específica (cada vez menor) do mercado que preferem continuar fazendo como acham (ou aprenderam) que deve ser feito. Inovação “passa longe” destas empresas, porém, engana-se quem pensa que de uma hora para outra irão fechar as portas.

E qual a relação da inovação tecnológica das empresas com a evolução do jogo de futebol? Substitua a empresa pelas palavras clube ou treinador, inovação tecnológica por tendências do jogo e releia os cinco parágrafos anteriores!

A evolução do jogo é indiscutível. Quando observamos jogos de 40, 30, 20 ou 10 anos atrás e os comparamos com os grandes jogos do futebol mundial praticados na atualidade, parecem, inclusive, outra modalidade. Tal evolução global do jogo tem sido mensurada por analistas, estudiosos e empresas especializadas e traduzida em informações capazes de ilustrar detalhadamente cada um dos milhares de acontecimentos de uma partida.

Periodicamente, surgem novas tendências no futebol mundial de ponta: tiki-taka, contra-ataques cada vez mais velozes, goleiros mais adiantados, linhas defensivas de 5 jogadores, recuperações imediatas após a perda da posse de bola, saídas ofensivas com linha de 3, zonas pressionantes com ajustes individuais circunstanciais, bolas paradas curtas, etc.

Assim como no contexto empresarial, para cada um dos posicionamentos estratégicos, não existe melhor ou pior postura. Depende, exclusivamente, de cada empresa e do papel que ela pretende assumir no mercado. Obviamente, para cada papel assumido, uma consequência sistêmica será obtida.

Para concluir, voltando para o futebol: você sabe qual o posicionamento estratégico do seu clube? E o seu?

Aguardo sua resposta. 

Categorias
Sem categoria

Cotas de ingressos

Nesta quarta, Atlético-MG e Cruzeiro protagonizaram a finalíssima da Copa do Brasil. Nos bastidores, presenciou-se acalorado debate entre as diretorias de Atlético e Cruzeiro sobre a divisão de ingressos para os clássicos que definirão o campeão da Copa do Brasil.

Essa divisão é prevista no artigo 86 do Regulamento Geral das Competições da CBF (texto normativo que rege todas as competições organizadas pela entidade) que confere ao clube visitante o direito de adquirir a quantidade máxima de ingressos correspondente a 10% da capacidade do estádio.

A norma fala em “quantidade máxima” e, possibilita a possibilidade de quantidade menor quando houver houver manifestação dos órgãos de segurança.

Dessa forma, no caso concreto, havendo entendimento por parte da Polícia Militar de que a segurança dos torcedores do Cruzeiro no Independência seria viável com sua alocação em setor com capacidade inferior aos 10%, não ocorre descumprimento legal.

Vale destacar que o parágrafo segundo, do artigo 86, RGC, prevê a possibilidade de haver acordo entre os clubes estabelecendo quantidade superior de ingressos, inclusive, na ocorrência de reciprocidade, ou seja, seria juridicamente possível haver as finais com torcidas iguais.

O Cruzeiro não exerceu o o seu direito de ter 10% de seus torcedores no Independência. Apesar disso, o Atlético não é obrigado a seguir o mesmo caminho e terá o direito à sua cota.

Na próxima semana, em reunião a ser realizada na federação Mineira de Futebol, os clubes definirão os detalhes logísticos para a finalíssima que tem tudo para ser ainda mais eletrizante que a primeira partida. 

Categorias
Sem categoria

A música como recurso para performance e o controle emocional

Muitos atletas que buscam alta performance podem se utilizar de um recurso presente em todas as culturas do mundo: a música! Isso mesmo, a música!

Quantos de nós já não dissemos que não vivemos sem música ou que a música alegra nossa vida. E aquele ditado, “quem canta os males espanta”? Quem já não ouviu falar?

Pois bem, a música tem o poder de acalmar, estimular a memória, aliviar as dores e ajudar no exercício físico. Escutar uma determinada música pode trazer muitos benefícios para a saúde, corpo e mente dos atletas. E tem mais, sabiam que ela tem sido usada, inclusive, por médicos e terapeutas como tratamento?

Atualmente, tem sido abordada a capacidade de cura da música, funcionando como um verdadeiro remédio para vários problemas da vida cotidiana como apontam a pediatra Ana Escobar e a musicoterapeuta Marly Chagas.

A razão da tudo isso acontecer é devido a música ativar o centro de prazer do cérebro, assim como fazer sexo e ou comer um chocolate, por exemplo. Ela promove a liberação de dopamina e causa uma sensação de bem-estar.

Ainda conforme estes profissionais, os benefícios mais comuns da música para a saúde estão:

• Induz o ser humano ao movimento
• Melhora a comunicação, contribuindo para uma melhor organização das ideias
• Cria vínculos emocionais
• Ameniza a dor, pois contribui para a mudança de foco e distrai quanto a dor ou ao problema que se estabeleceu
• Acalma, ajudando a combater o estresse
• Fortalece a memória, criando novos caminhos no cérebro
• Promove o autoconhecimento, estimulando a imaginação das pessoas e com isso a descoberta de sensações e sentimentos

Para termos um exemplo relacionado entre a realização de exercícios físicos e a música, Costas Karageorghis, consultor de psicologia do esporte da Universidade de Brunel, na Inglaterra, aponta os efeitos da música quando se está praticando atividade física. Ela pode influenciar o humor, elevando potencialmente os seus aspectos positivos, como a energia, entusiasmo e felicidade, e reduzindo a depressão, tensão, fadiga, raiva e confusão. Além disso, a música pode ser usada para definir o ritmo do indivíduo, como ele cita no caso do etíope Haile Gebrselassie, que conquistou o ouro nos 10 mil metros dos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000. O último efeito, segundo Karageorghis, é o de que a musicalidade pode superar o cansaço e controlar a emoção durante uma competição.

Pelo comentado acima, já estamos mais do no momento de usar e abusar da música de maneira intencional e planejada para melhorar o desempenho geral de nossos atletas e um bom Coach Esportivo deve estar muito atento a utilização deste grande aliado ao alto rendimento na prática esportiva.

Até a próxima! 

Categorias
Sem categoria

O raciocínio descontextualizado dos dirigentes do futebol

A época de eleições em clubes do futebol brasileiro é a melhor maneira de se analisar e de se compreender como pensam alguns dirigentes ou candidatos a cartolas. E o resultado é quase que invariavelmente assustador. Aliás, é um indicador claro de como distorcemos completamente a função dos clubes e a visão do esporte enquanto negócio, além de evidenciar temas totalmente anacrônicos.

Seja de forma explícita ou mesmo nas entrelinhas do discurso, vê-se com clareza que a forma e as temáticas abordadas servem para reforçar o viés antiprofissional das entidades de prática do esporte, apesar da tentativa de se defender o contrário.

Li recentemente, por exemplo, uma crítica de um candidato a presidente de um grande clube brasileiro aos atletas que ganhavam mais de R$ 100 mil por mês e estavam lutando para jogar menos partidas durante a semana. Ora, divagava ele, “trabalham apenas duas vezes por semana e ainda querem trabalhar menos?”.

Ao ler o referido comentário, fico tentando imaginar uma sala de reuniões para convencer o tal dirigente de que é importante ter uma equipe multidisciplinar de trabalho, como fisioterapeuta, fisiologista, analista de desempenho, preparador físico, médico etc. para melhorar a performance dos atletas. A resposta talvez seria algo como: “cada jogador que contrate um para si. Afinal, ganham o suficiente para poder investir em sua carreira”.

O fato é que premissas básicas, que são minimamente estudadas em qualquer faculdade de educação física, como a compreensão de que um atleta de futebol é como um artista e, portanto, ele não pode ser nunca visto apenas como um custo e sim como investimento e, por conseguinte, gerador de outras receitas futuras se bem escolhido e trabalhado dentro de um grupo de atletas, parece não fazer parte da agenda daqueles que se declaram “entendidos de futebol” e se julgam “verdadeiros revolucionários do mundo da bola”.

Aliás, falar que é empresário de qualquer ramo de negócio parece ser a porta de entrada para demonstrar que conhece de gestão e, portanto, o habilita a gerir um clube de futebol. No final das contas, não se compreende a atividade específica ligada a gestão do esporte e, por conseguinte, não se é possível perceber qualquer evolução positiva da indústria do futebol.

Ao contrário, parece que damos alguns passos atrás em cada processo eleitoral de clubes. Ao invés de se debater objetivamente o potencial de negócios que determinado clube pode ter e as nuances da gestão do esporte que se aplicam para cada caso, reiteramos uma visão claramente retrógrada e completamente incompatível com o momento. Resta sonhar com dias melhores… 

Categorias
Sem categoria

Conta-gotas

Triste, mas verdadeiro. O Brasil é, em muitos casos, o país da piada pronta, como costuma defender o brilhante colunista José Simão.

Neste fim de semana, a CBF protagonizou mais uma de suas jogadas de marketing sem consistência, planejamento e, sobretudo, legitimidade.

A entidade de administração do futebol brasileiro havia anunciado, em seu site, que apoiaria o Ministério da Saúde na campanha de vacinação contra o sarampo e a paralisia infantil.

Para isso, publicou um texto e imagens em seu site, como noticiado pelo portal Máquina do Esporte, afirmando que o personagem “Zé Gotinha” entraria em campo, pois ele era o verdadeiro “craque do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil” e marcaria “um gol de placa”, “fazendo diferença nas partidas mais importantes de nossas vidas”.

Entretanto, o que se viu antes, durante e depois dos jogos oficiais? Nada. Perdeu-se uma valiosa oportunidade de se planejar uma comunicação consistente e de mobilização para todo o país em torno de uma causa social de grande relevância, bem como de se institucionalizar esta prática no seio da CBF, avançado sobre a superfície do mero marketing oportunista.

Seria também uma forma inteligente de relacionamento da CBF, dos clubes e do futebol brasileiro, enquanto instituição, para se aproximar das famílias, em especial das crianças e das mulheres, com a devida legitimidade inerente à importância da causa em questão.

A CBF já demonstrara visão limitada há algumas semanas, uma vez que afirmava que os investimentos na CONSTRUÇÃO de Centros de Treinamento espalhados pelo país dariam conta de atender aos propósitos do “Fundo de Legado da Copa”.

A FIFA, pois bem, acabou com especulações e determinou que os USD 100 milhões serão investidos na promoção do desenvolvimento para além da infraestrutura, futebol feminino e de base, assim como programas sociais e de saúde para comunidades carentes, focando especialmente nos 15 estados que não ofereceram Sedes para a Copa do Mundo.

E o mais importante: o financiamento, o monitoramento e o controle serão de responsabilidade da FIFA. As propostas e a implementação dos projetos serão de responsabilidade da CBF, com base em planos específicos enviados para a FIFA e aprovados pela mesma. Seguindo os regulamentos da FIFA, todos os fundos oferecidos dentro do projeto serão submetidos a uma auditoria anual central, realizada pela KPMG.

Ou seja, espera-se que o controle rigoroso da FIFA – de mesma natureza e intensidade que demonstrara ao cobrar do país a entrega da Copa do Mundo – evite a sangria deste fundo naquilo que de mais comum pode ocorrer, que são as obras.

Obras são o caminho escolhido para desvios, superfaturamentos e a falsa sensação de que se está “fazendo a diferença” para transformar e desenvolver a sociedade.

Nesse caso, o mais importante é a criação de projetos e programas regulares, com indicadores, metas e resultados quantitativos e qualitativos, cujo objeto seja relevante e possa integrar profissionais experientes e engajar as comunidades e a elas entregar boas práticas sociais transformadoras.

O problema é que, apesar do cofre e da chave estarem sob os cuidados da FIFA, quem controla a cancela de quais projetos serão aprovados e como serão executados ficará a cargo e critério da CBF.

Portanto, a falta de visão de longo prazo e a sede de poder de longo prazo sugerem que a gestão desse fundo será feita, por aqui, a conta-gotas, pois é melhor manter todo mundo no soro do que promover a cura do nosso futebol.

Na semana que vem, a conta-gotas, abordarei exemplos positivos de Inglaterra e Alemanha no que concerne à Responsabilidade Social Corporativa no futebol.
 

Categorias
Sem categoria

Atlético-MG e Cruzeiro na final: aspectos jurídicos

Mal terminou a noite história do futebol mineiro com a classificação de Atlético-MG e Cruzeiro para as finais da Copa do Brasil, começaram a surgir rumores sobre os locais das decisões e se haveria torcida única.

A questão da torcida única envolve a aplicação do artigo 17 do Estatuto do Torcedor, segundo o qual o torcedor tem o direito à existência de planos de ação referentes a segurança, transporte e demais fatores que digam respeito ao evento esportivo.

Diante disso, clubes, CBF, FMF e o Poder Público se reunirão a fim de avaliar a viabilidade da coexistência das torcidas de forma segura e viável.

Por outro lado, o Regulamento Geral das Competições assegura cota de ingressos para o clube mandante e o Estatuto do Torcedor garante ao torcedor, o direito de acesso aos eventos desportivos.

Além dos riscos de violência, outra grande questão, no que diz respeito aos jogos de torcida única é a sensação da busca por uma solução mais simples e mais restritiva aos direitos dos torcedores ao invés de serem implementadas medidas que, de fato, combatam o problema da violência.

Considerando os casos recentes de violência nos clássicos mineiros, os clubes e as autoridades envolvidas terão que ser bastante criteriosos.

No que diz respeito ao local da partida, nem o Regulamento Geral das Competições, nem o Regulamento da Copa do Brasil impedem que a partida ocorra no Independência. Portanto, esta decisão é exclusiva do Atlético.

Interessante observar que a escolha do local da partida pode ter uma influência marcante no resultado final, eis que, segundo o Regulamento da Copa do Brasil (art. 13), em caso de partidas entre dois clubes da mesma cidade e disputadas em mesmo estádio, não existe o critério de gols fora de casa para desempate.

Assim, se Atlético e Cruzeiro se enfrentarem em duas partidas no Mineirão, será campeão aquele que marcar mais pontos, ou que tiver o melhor saldo de gols, independente do mando de campo.

Doutro giro, se houver uma partida no Independência e outra no Mineirão, os gols de Cruzeiro no Independência ou do Atlético no Mineirão poderão definir o campeão da segunda maior competição do país. 

Categorias
Sem categoria

Como promover o bem-estar na transição de carreira

As transições numa carreira esportiva são fatos ou momentos que todo atleta irá passar ou vivenciar, isto porque essas fases são inerentes à vida de qualquer um de nós e precisamos compreender como gerenciar nossas emoções e termos plena consciência sobre nossos pensamentos em situações como esta.

Para isso, torna-se importante que todo atleta em fase de transição para uma nova carreira, reconheça que uma nova etapa de vida se inicia e com ela talvez sejam exigidos novos comportamentos e atitudes por parte deste indivíduo.

Como sabemos, nossos hábitos pessoais e estilo de vida impactam diretamente a nossa saúde física e mental e justamente por este motivo, muitos atletas ao chegarem ao momento da transição para uma nova carreira não conseguemmanterem-se saudáveis e com isso acabam por sentir dificuldades em avançar numa nova direção profissional ou minimamente para manter sua saúde física e mental em seu melhor estado.

Pelo exposto acima podemos ter em mente que uma boa forma de se iniciar um trabalho de coaching com atletas em momentos como este é contribuirmos com a promoção de mudanças comportamentais que podem se mostrar efetivas na prevenção de doenças associadas a maus hábitos adquiridos.

Compartilho com vocês uma ferramenta que contribui muito nesse trabalho, o Pentáculo do Bem Estar (PBE) de Nahhas (2003). O Pentáculo do Bem-estar (PBE) é uma demonstração gráfica dos resultados obtidos através de um questionário do perfil do estilo de vida individual, que inclui características nutricionais, nível de estresse, atividade física habitual, relacionamento social e comportamentos preventivos, com intuito de facilitar a visualização dos temas abordados.

A utilização do Pentáculo pode trazer clareza e transparência ao atleta sobre quais os aspectos de sua vida abordados na ferramenta (Nutrição, Atividade Física, Comportamento Preventivo, Relacionamento Social e Controle do Estresse) estão promovendo bem-estar em sua vida e quais estão abaixo do aceitável para ele. Os pontos que não estejam desenvolvidos são claramente alvos de novos planos de ação que gerarão mudanças de comportamento afim de elevar a percepção real de bem estar na vida dele, com isso facilita-se uma evolução em direção ao melhor do seu estado global enquanto ser humano. Aí sim, a partir deste ponto de trabalho inicial e de sua melhoria em relação ao bem-estar, podemos atuar em outros pontos da vida do atleta que estejam mais relacionados a busca por uma nova direção de carreira.

Até a próxima.

Categorias
Sem categoria

Por que é tão difícil planejar o futuro do futebol?

Há uma questão muito latente no mundo do futebol que evidencia a dificuldade de vermos o desenvolvimento deste mercado por meio de uma curva com crescimento exponencial: todos querem deixar uma marca e construir a própria história dentro do clube.

Esse conceito é, em partes, resultado do formato de constituição dos clubes, que é feito por meio de ciclos, geralmente atrelados às eleições presidenciais e também aos campeonatos – a característica das disputas acaba por gerar, ironicamente, um vício na forma de gerir uma entidade esportiva, que é totalmente diferente do modelo que se percebe no meio corporativo.

Como cada dirigente quer deixar sua marca na história do clube, ao novo presidente não interessa formar jogadores para o futuro ou estar entre os 10 primeiros do campeonato deste ano para ficar entre os 5 nos anos subsequentes e, de alguma maneira, conquistar títulos por força de um processo natural de gestão, ou seja, uma consequência do bom trabalho.

Ao dirigente, o que vale, é ser vitorioso, pois dali a 2 ou 4 anos estará fora da gestão do clube e, portanto, não interessa o passivo que deixou para seus sucessores. Interessa, pois, o resultado esportivo.

Por tal constatação é que o desenvolvimento dos clubes é cíclico, em formato de espiral, e não linear para cima e para a frente!!! A cada novo mandato se tem uma nova forma de aprender a gestão, sempre tendo como pauta a conquista da próxima competição, com a falsa alegação de “que a torcida vive de vitórias” ou “do contrário, o clube irá acabar”. Por isso há estagnação e, às vezes, até retrocesso: cada um quer construir a história do seu jeito, sem tentar aprender lições do passado.

A boa dose de individualidade misturada com a prepotência e o orgulho pessoal impedem que os clubes construam bases sólidas de planejamento para uma ou mais décadas. E o pior: muitos dos que entram nos clubes acham que entendem de futebol, uma vez que acreditam acumular alguma expertise do lado de fora, olhando a todos os jogos e noticiários, sem ao menos ter estudado a fundo a matéria – é o vício do “espectador experiente”.

Essa é a razão pela qual o futebol brasileiro permanece aquém de muitos mercados globais. E continuaremos a ver esse retrocesso ao longo de alguns anos se não modificarmos drasticamente as estruturas de poder dentro destas instituições. O Prof. Dr. Gustavo Pires assim nos ensina:

“A ordem desportiva institucionalizada já não consegue acompanhar o ambiente de mudança acelerada dos nossos dias (…) O desporto, de uma maneira geral, está envolto em um processo de desagregação acelerada que faz com que toda a sua estrutura se esteja a modificar rapidamente, sem que os próprios protagonistas compreendam com que lógica e em que sentido. Nesta conformidade, podemos dizer que, no quadro da sociedade atual, as transformações se processam, na maioria das vezes, a uma velocidade maior do que a capacidade de análise que as organizações e as suas lideranças revelam ser capazes de processar. Em consequência, limitam-se a correr atrás dos acontecimentos”.

Não existe segredo: o conceito de se formar atletas, fidelizar torcedores para que se atraia investimentos de patrocinadores pela força da marca, além de poder gerar melhores dividendos com mídia e licenciamento está consagrado mundo afora. A consolidação destes fatores leva tempo e o trabalho deve ser bem feito de forma constante e perene, com resultados alcançados no médio-longo prazo.

Precisamos pensar em um modelo que atenda a angústia dos dirigentes em deixar sua marca com a necessidade da organização em se planejar e construir algo positivo para o futuro. Do contrário, continuaremos a “chover no molhado” quando falarmos em planejamento, projetos, processos (…) para o atual quadro de dirigentes e o atual modelo de constituição dos clubes.