Não gosto de mudar nome de logradouro. Especialmente quando batizado com nome de gente.
Vinícius de Morais merecia todas as esquinas e cantos do Rio. Mas Montenegro é sobrenome. É gente. Não precisava mudar o nome da rua. Para homenagear um ícone não precisa “desomenagear” uma pessoa. Vale até para ditador que dá nome a minhocão, ponte, rede de esgoto, o que for.
Meu pai já virou túnel na Imigrantes, escola do SESI na Tambaú natal, espaço cultural no Rio de Janeiro, rua em Campos do Jordão (que tinha nome de flor), e tinha um projeto que quase foi levado à Câmara Municipal de São Paulo para que a Turiaçu (onde fica o clube e o estádio do Palmeiras) se chamasse rua Joelmir Beting.
Agradeci imensamente ao carinho e atenção do vereador paulustano Laércio Benko. Mas antes de meu pai tem tanto palestrino e palmeirense que merece a homenagem que não sei nem por onde começar. Para não dizer que Turiaçu, em tupi, significa “campeão do século”.
Enfim, falando sério, sou contra mudar os nomes dos logradouros. O direito ao nome é sagrado.
(E, se quiser vendê-lo, a história é outra. É naming right, outros direitos e deveres já aqui bastante falados).
Mas tem um novo estádio no Rio. Ou um novo nome que, de tão clássico, é verbete de enciclopédia. Melhor: é a própria.
Oficialmente é o Olímpico João Havelange, pronto em 2007 muito mais caro que o orçado, fechado para reformas em 2013 por problema bizarro e discutível, e, agora, parcialmente reaberto por quem está tomando conta dele: o Botafogo.
O nome oficial é mais oficial que nome. Mas está lá. Que lá fique.
Engenhão é o popular, ainda que não seja tão popular assim.
Mas o nome de rebatismo é o que merece pegar.
Arena Nilton Santos.
Inaugurada com goleada de 4 a 0 sobre o Bonsucesso. Um time muito longe do Fogão que foi de Nilton de 1948 a 1964. Mas que venceu um Bonsucesso que havia vencido o time de Nilton no primeiro confronto, em maio de 1948, por 2 a 1.
Outros tempos, outros templos.
Mas o Nilton que dá nome ao Engenhão-Havelange é o que deveria ficar. Eterno como Nilton Santos. É lei. Nilton. É eterno. Santos.
Com todo respeito ao ex-presidente da CBD de 1958 a 1974 (tricampeão mundial), com todo respeito ao presidente da Fifa (1974 a 1998), e nenhuma admiração por muitas das denúncias, o estádio municipal arrendado pelo Botafogo já merecia homenagear o filho da Ilha do Governador desde sempre.
Outros grandes craques cariocas poderiam dar nome ao estádio do Pan e da Olimpíada. Zico, para ficar em um só.
Mas Nilton, que sempre foi Botafogo na carreira iniciada tarde (22 anos), é o nome que não se discute para ser a casa do Botafogo. Como desde 2000 é estádio em Palmas.
Nilton que não era Botafogo até virar o maior, em 1948.
Nilton que no fim de 1947 foi treinar nas Laranjeiras, mas ficou sem graça de ver a pompa da sede do Fluminense naquele noite de treino. De ver as roupas caras de Ademir de Menezes e Rodrigues Tatu nos salões tricolores contrastadas com a roupa do homem simples da Ilha.
Santos preferiu seguir para o Largo do Machado ali perto, comer um sanduíche com média, pegar várias conduções e voltar para a Ilha do Governador e para as peladas, de onde meses depois seguiria para não sair mais de General Severiano. E, de lá, para o Maracanã, em 1950, Rasunda, em Estocolmo, em 1958, Nacional de Santiago, em 1962, e para o panteão do futebol mundial desde então. (LEIA MAIS A RESPEITO NO IMPERDÍVEL “O VELHO E A BOLA”, de MANECO MULLER (Maquinária Editora).
Motivos não faltam agora para chamar o estádio de Nilton Santos.
Deveria ser sempre. Como é o Rei Pelé de Maceió. O Mané Garrincha de Brasília.
Como virou Ferenc Puskas, em Budapeste.
Como virou o Giuseppe Meazza, em Milão.
Como ainda não são mais estádios pelo mundo batizados em homenagem a quem tanto construiu cada história de amor. Muitos deles têm nomes de grandes cartolas de grandes fortunas que os construíram. E que seriam ainda maiores e mais ricos se dessem às obras de pompa e muitas vezes arrogância nomes dessa gente simples que compôs a história do futebol do time.
Sempre o real motivo para a construção de colossos de cimento amado.
Ainda são poucos estádios com nomes de mitos entre tantos craques raros e caros.
Mas os poucos mais que merecem. Como o Nilton da Ilha do Governador. Aquele que inspirou a pena botafoguense do acreano Armando Nogueira:
“Tu, em campo, parecias tantos, e no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos”.
Já são dois estádios agora os tantos cantos de Nilton.