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Montagem e desmontagem de grupos

Como treinadores criamos crenças pessoais e individuais que nos fazem ter maior ou menor sensibilidade na avaliação, análise, contratação, evolução, involução ou dispensa dos jogadores. É natural que essas crenças inibem ou estimulam emoções, sonhos e expectativas diariamente nos jogadores que convivemos onde passamos.

No futebol, há questões que são de praxe em todos os contextos, apesar de algumas diferenças processuais. Apesar de muitas coisas acontecerem pelos estímulos serem diferentes de uma realidade para a outra, numa ordem cronológica, desde a chegada do jogador ao clube, seus treinamentos, sua titularidade, seu crescimento formativo, seu entendimento da filosofia de jogo, sua subida para o profissional depois de anos na base, sua dispensa ou venda, nada acontece de muito diferente nesse ciclo natural visível para o jogador. Mas essa estrada para alguns tem muitos buracos e curvas traiçoeiras.

E, nisso tudo, o que não se pode negligenciar, é que apesar de alguns processos serem mais claros que outros no nível de conceituação macro, a individualidade de cada ser humano, de cada treinador, faz perceber de forma diferente o jogador e especialmente o futebol. Isso influencia positiva ou negativamente na montagem de um grupo, na continuidade de um jogador ou na dispensa. Logicamente, as convicções influenciam um panorama de escolhas por mais que algumas interferências possam acontecer.

Definir grupos, montar grupos e dispensar jogadores não é uma tarefa tão fácil como parece. Muitos erros acontecem. A natureza complexa do jogador e do jogo faz isso calhar sem aviso prévio. Por mais que as preferências declaradas pelos perfis de jogadores evidenciem a ordem e a interação pretendida pelos treinadores, o dia a dia dos comportamentos, atitudes, resultados, conquistas e a qualidade evolutiva influenciam na efetividade das escolhas; pois o jogo é um jogo de escolhas e de verdades individuais nos bastidores que também posteriormente serão vistas dando certo ou não no grande jogo. E cada montagem de grupo carrega essas verdades individuais.

Bielsa, com suas crenças, idealista, na sua roda de imprensa no Lille da França, por meio de sua sagacidade filosófica, entrou nesse tema de forma brilhante:

Expressar respeito ao jogador é dizer-lhe claramente se tem possibilidades reais de ser útil dentro de um projeto. Eu nunca faço avaliações do nível dos jogadores. Quando elejo e tomo decisões, as decisões tomo em função se um jogador vai poder ser útil para o desenvolvimento de minhas ideias, as ideias que quero transmitir a equipe. Para um jogador parece ser incomodo inicialmente não ser/fazer parte da equipe, mas é muito pior incluí-lo no grupo sabendo que não vai ter oportunidades. Eu observei toda temporada passada e elegi os jogadores que me pareceram harmonizar com o que eu vou propor, com o desenvolvimento do que eu vou propor. Mas de nenhuma maneira eu me expresso sobre o valor do jogador que não considero. Muito menos quando os jogadores têm uma história no passado pelo clube tão importante. Temos a obrigação, temos que decidir, de eleger. Eleger significa descartar e incorporar.  Descartar um jogador ou não considerar um jogador não é uma expressão sobre seu valor, senão a necessidade que alguém imagina para sua equipe. E, manter um futebolista se alguém não o considera necessário, é muito sofrido para todos. Isso é uma explicação sincera e que tem lógica. Isso não quer dizer que eu tenha elegido bem. Eu quando elejo sei que corro muito risco de acertar e de me equivocar. Não pensem que todas minhas decisões são certas. O que sei é que faço todos os esforços que estão ao meu alcance para tratar de não equivocar-me. Mas sempre tenho dúvida se a decisão foi acertada ou não.” 

Bielsa dignificada a nossa profissão.

Abraços a todos e até a próxima quarta!